ARQUITETURA E CONSTRUÇÃO
COM ANDAIMES1
Felipe de Paula Campolina2
Tito Flávio Rodrigues de Aguiar3
Ernani Carlos de Araújo4
DOI: 10.5752/P.2316-1752.2017v25n36p244
Resumo
244
Com as evoluções operadas ao longo dos anos, associadas
a inúmeras experimentações de ordem prática, os andaimes vêm se tornando cada vez mais atraentes devido à
grande flexibilidade que proporcionam. O nível tecnológico
em que se encontram atualmente permite vislumbrar novas possibilidades de uso, como, por exemplo, a aplicação
desses componentes para solução estrutural de edificações. Por meio de uma pesquisa exploratória, este artigo
1. Este artigo toma por base uma investigação feita por Felipe de Paula Campolina no
Mestrado Profissional em Construções Metálicas (MECOM) da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), sob a orientação do Prof. Dr. Tito Flávio Rodrigues de Aguiar e coorientação do Prof. Dr. Ernani Carlos de Araújo.
2. Arquiteto e urbanista pela Universidade FUMEC e mestrando do MECOM, Escola de
Minas, UFOP. E-mail:
[email protected]
3. Arquiteto e Urbanista e Doutor em História pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG). Professor adjunto do Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DEARQ), Escola de Minas, UFOP. E-mail:
[email protected]
4. Engenheiro civil pela UFOP, Mestre e Doutor em Engenharia Civil pela Universidade de
São Paulo. Professor associado do Departamento de Engenharia Civil (DECIV), Escola de
Minas, UFOP. E-mail:
[email protected]
Cadernos de Arquitetura e Urbanismo v.25, n.36, 1º sem. 2018
aborda os principais sistemas utilizados nesse novo contexto e apresenta exemplos práticos da produção contemporânea do gênero, avaliando e destacando suas principais
características. Percebe-se que esse tipo de estrutura pode
ser muito eficiente em alguns casos, e que sua relação custo-benefício pode variar muito, dependendo das soluções
de projeto adotadas.
Palavras-chave: Andaimes. Aço. Sistema construtivo. Inovação. Flexibilidade.
245
ARCHITECTURE AND CONSTRUCTION WITH
SCAFFOLDING
ARQUITECTURA Y CONSTRUCCIÓN CON ANDAMIOS
Abstract
Resumen
With all the developments acquired over the last
100 years, by decades of continuous research,
along with numerous practical experiments, these
components are becoming increasingly attractive
due to the great flexibility they provide to us. The
technological level that they have already achieved
allows us to experiment new ways of use, different
from what we are used to see. This article intends
to approach practical examples of the main characteristics of the contemporary production of buildings that have been using conventional scaffolding
as a primary structure, evaluating and highlighting
their main characteristics, as well presenting the
most used types of scaffold systems in this new
context. It can be seen that this type of structure
can be very efficient in some cases, and that its
cost-benefit ratio can vary widely depending on the
design solutions adopted.
Los andamios, como se conocen hoy, son fabricados con una finalidad aparentemente única, sirviendo como construcciones auxiliares provisionales
en los canteros de obras. Con todos los desarrollos adquiridos en los últimos 100 años, junto con
numerosos experimentos prácticos, estos componentes son cada vez más atractivos debido a la
gran flexibilidad que nos brindan. El nivel tecnológico que este sistema ya ha alcanzado nos permite
experimentar nuevas formas de uso, además de lo
que estamos acostumbrados a ver. Se percibe que
este tipo de estructura puede ser muy eficiente en
algunos casos, y que su relación costo / beneficio
puede variar mucho dependiendo de las soluciones
de proyecto adoptadas.
Keywords: Scaffolding. Steel. Construction system. Flexibility.
Palabras-claves: Andamios. Acero. Sistema de
construcción. Flexibilidad.
Introdução
A questão a ser abordada neste artigo diz respeito à evolução do uso dos tradicionais andaimes disponíveis no mer-
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cado e à criação de espaços arquitetônicos temporários e/
ou permanentes em situações nas quais esse componente esteja predominantemente inserido no contexto. Com
a premissa de investigar e difundir esse uso diferenciado
do andaime, a intenção é contribuir para um melhor entendimento desses componentes, conhecendo algumas das
técnicas de conexão que fazem parte dessa tecnologia,
bem como exemplos de aplicações, mostrando práticas de
projeto e construção com esse sistema.
247
Segundo boas práticas da técnica, o andaime deve ser uma
estrutura que pode ser montada e desmontada sem dificuldades, preferencialmente sem o auxílio de máquinas. O
ideal é que o peso de cada componente não exceda 25 kgf
(250 N), para poder ser transportado e manuseado facilmente por apenas uma pessoa. Considerando isso e após
o aperfeiçoamento decorrente do cálculo e das experiências práticas, a indústria tem geralmente adotado como
peça básica dos andaimes o tubo de aço com diâmetro de
48,3 mm e parede com espessura de 3,2 mm, com massa
aproximadamente equivalente a 3,6 kgf (36 N) por metro
linear. Com essas dimensões, pode-se considerar que um
tubo de aço com seis metros de comprimento, que, de
acordo com o padrão da indústria, é o comprimento máximo adotado, pesaria aproximadamente 22 kgf (220 N),
estando dentro dos limites ideais de manuseabilidade (RAMOS FILHO, 2012).
Ao lidar com esse tipo de estrutura, a primeira grande questão é a escolha de qual andaime utilizar. Conforme mostrado, o sistema ideal deve ser leve e flexível para ser erguido
de maneira rápida e inteligente. Porém, existem diversos
tipos de andaimes com essas características e tal escolha
pode não ser uma tarefa simples. De maneira geral, não
existe regra pré-definida, tudo dependerá de condicionantes específicos em cada situação, tanto no âmbito execu-
248
tivo quanto no econômico. Na prática, em quase todos os
casos, contratantes e construtores tendem a escolher o
método mais barato disponível, desde que o andaime cumpra os requisitos de segurança e, ao mesmo tempo, se encaixe no escopo de trabalho (MARKS, 2016).
Tipos mais utilizados para uma arquitetura
com andaimes
Neste artigo serão apresentados os dois sistemas de andaimes metálicos mais utilizados para elaborar obras arquitetônicas utilizando andaimes como elementos estruturais:
o tubo e braçadeira e o multidirecional, destacando seus
métodos de conexões e componentes essenciais.
Tubo e braçadeira, do original inglês tube and clamp, é
o pioneiro dos andaimes metálicos. Desenvolvido no início do século XX, ainda é amplamente utilizado em várias
regiões do mundo, principalmente no Reino Unido, onde
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foi criado e onde seu uso permanece forte há mais de 100
anos. Segundo Viunov (2011), é o sistema mais versátil do
mercado, constituído basicamente por tubos e braçadeiras
metálicas, além de dezenas de componentes e acessórios complementares. Pode ser montado com inúmeras
variações volumétricas, sendo extremamente flexível em
qualquer plano espacial. A grande vantagem desse sistema, além do baixo custo inicial, é a liberdade modular que
se pode obter ao posicionar as braçadeiras livremente em
qualquer ponto do tubo. Isso permite a criação de pisos em
qualquer nível e, ao mesmo tempo, a criação de vãos com
qualquer modulação desejada, desde que compatíveis com
a resistência dos tubos e com os carregamentos previstos.
Esse sistema certamente é o que possui menores restrições para uso estrutural e é o único em que um mesmo
elemento (o tubo) é utilizado em todos os eixos espaciais
(MARKS, 2016). E, pode-se dizer, é muito mais fácil fazer
ajustes de projeto em campo com o andaime de tubo e
braçadeira do que com qualquer outro sistema. Devido a
essa flexibilidade, é o preferido para trabalhar com volumetrias curvas e irregulares, como cúpulas e abóbodas, por
exemplo.
249
250
Esse sistema é configurado a partir de um tubo metálico
com 48,3 mm de diâmetro por 3,2 mm de espessura, que é
empregado nos três elementos estruturais básicos: o poste, que se inicia a partir do solo ou de qualquer outra base
rígida; a travessa, que une dois postes e serve de apoio
para as plataformas de piso; e a longarina, que é inserida
logo abaixo da travessa, conectando os postes longitudinalmente. Nesse sistema, respeitar a correta posição desses
elementos horizontais é uma questão de segurança, pois,
caso a braçadeira responsável por sustentar o piso falhe ou
deslize, ainda encontrará suporte na longarina posicionada
logo abaixo (VIUNOV, 2011). Em alguns casos, no lugar do
tubo padrão, a longarina pode ser substituída por uma treliça metálica para suportar vãos ou cargas maiores (figura
1: a, b).
Figura 1a | Componentes estruturais básicos de uma estrutura de andaime formada
pelo sistema tubo e braçadeira. Fonte: https://ridleys.org, adaptado pelo autor.
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251
Figura 1b | Detalhe dos componentes estruturais básicos de uma estrutura de andaime
formada pelo sistema tubo e braçadeira. Fonte: https://ridleys.org, adaptado pelo autor.
252
Os três elementos estruturais básicos podem ser acoplados por braçadeiras fixas (figura 2a), que promovem uma
união a 90º, formando assim um módulo básico que pode
ser repetido sucessivamente nos planos horizontais e verticais para construir um andaime do tamanho e da forma
que se desejar. Para dar a rigidez necessária à estrutura,
são utilizadas diagonais, que são requisitadas principalmente no sentido longitudinal, em que a estrutura possui menor estabilidade. Esses elementos são feitos geralmente
com o tubo de mesmo diâmetro externo (48,3 mm) e são
conectados aos postes por meio de braçadeiras giratórias
(figura 2b), ajustadas até 360º, permitindo pivotar o tubo
livremente, de modo a unir os elementos em qualquer ângulo desejado. Apesar de não ser usual conectar dois tubos
paralelamente, pode se utilizar também uma braçadeira paralela (fixa), que é mais resistente. Ao instalar uma diagonal, deve-se tomar o cuidado para manter a menor excentricidade possível, principalmente em situações com vários
cruzamentos de tubo em um mesmo nó. É possível também conectar um tubo ao outro para ampliar o seu comprimento por meio de uma braçadeira de choque, chamada
luva (figura 2c). Essas luvas não podem receber cargas de
tração e a recomendação é fazê-las próximo ao nó, em uma
distância máxima de 30 cm. É possível também empregar
conjuntamente tubos com diferentes diâmetros, sendo então necessário utilizar braçadeiras de redução, que existem
em variados tamanhos (RAMOS FILHO, 2012).
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Figura 2 | Tipos de conectores mais comuns: (a) braçadeira fixa, (b) braçadeira giratória,
(c) luva. Fonte: Rohr, catálogo tubular, ano 2008.
A utilização desse sistema de andaimes demanda atenção
especial às suas conexões, que possuem capacidade de
carga relativamente reduzida se comparada aos outros sistemas, pois a transmissão dos esforços entre os tubos é
feita por meio de atrito. A qualidade do material e as técnicas de fabricação das braçadeiras têm grande influência na
capacidade estrutural. Em média, a braçadeira fixa é fabricada para suportar até 8,0 kN de carga e a giratória até 6,0
kN (RAMOS FILHO, 2012).
Pode-se dizer também que o sistema tubo e braçadeira é
o que exige melhor técnica do montador, por isso não é o
mais indicado para principiantes. A flexibilidade que o sis-
254
tema oferece expõe o profissional a frequentes situações
passíveis de erro, podendo tornar o processo de montagem mais demorado e oneroso. A montagem requer o auxílio de ao menos um ajudante, além de ferramentas auxiliares para aparafusar braçadeiras e aprumar corretamente
os componentes. Como nesse sistema tubo e braçadeira
utilizam-se componentes praticamente iguais, grande parte
do tempo de planejamento e de montagem de andaimes
pode ser consumida na organização dos tubos de acordo
com os comprimentos, fator que deve ser considerado
com cuidado.
O chamado sistema Multidirecional, introduzido no mercado há cerca de 50 anos, vem sendo predominante nos
países mais desenvolvidos. Após décadas de aprimoramentos, pode ser considerado o sistema mais eficiente
para a maioria dos usos, sendo capaz de minimizar atrasos
e custos trabalhistas. Por isso vem tornando-se o modelo
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preferido pelos profissionais da área. Do termo original inglês modular system scaffolds, o primeiro exemplar do andaime multidirecional revolucionou a forma de montagem
dessas estruturas, trazendo uma série de novos princípios
e conceitos que ainda permanecem atuais. Nesse modelo,
os dispositivos de conexões são previamente soldados nos
postes de aço, formando esperas mais resistentes que as
braçadeiras, tornando o poste apto a receber outros componentes, como travessas, longarinas e diagonais. Esses
componentes, por sua vez, possuem suas extremidades
adaptadas, com um sistema de estribos e pinças com
chavetas autobasculantes que eliminam a necessidade de
parafusos e porcas, dispensando o uso de ferramentas auxiliares durante a montagem.
O grande diferencial do sistema multidirecional é a capacidade de garantir a chamada "montagem lógica" da estrutura, sem riscos de distorções causadas por desalinhamentos eventuais. "Nesse termo, entende-se um tipo de
construção que possibilita somente um único procedimento de montagem evitando erros de execução, garantindo os
ângulos certos e não necessita de ferramentas especiais"
(RAMOS FILHO, 2012, p. 157).
255
O sistema modular multidirecional é constituído basicamente por três componentes básicos. O poste é um perfil
tubular metálico equipado com dispositivos fixos, que recebem as conexões dos demais elementos. Esses pontos de
conexões são fixados por meio de solda, realizada em fábrica, e espaçados em intervalos equidistantes, geralmente a
cada 50 cm. Os conectores podem possuir formatos variados, tais como estribo, roseta, copo, entre outros, variando
de acordo com o princípio de acoplamento adotado. Essas
conexões multidirecionais possuem alta rigidez nas juntas,
que o permite suportar mais cargas e, também, atingir alturas maiores com mais segurança. Os limites máximos
de cargas variam de acordo com cada fabricante, sendo
256
imprescindível solicitar o manual do produto ao fabricante
ao se projetar qualquer tipo de estrutura com andaime multidirecional.
A travessa e a longarina, componentes horizontais do sistema multidirecional, são dispostas no sentido transversal e
longitudinal, respectivamente. Ao contrário do sistema de
braçadeiras, o processo de conexão do andaime multidirecional permite que esses dois elementos fiquem alinhados
no mesmo nível, evitando excentricidades indesejáveis na
estrutura. Por outro lado, esses componentes possuem
tamanhos fixos, pré-estabelecidos pelos fabricantes, que
muitas vezes podem ser incompatíveis com as demandas
de projeto, principalmente quando se busca montar estru-
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turas atípicas. Por fim, a diagonal, componente com dimensões fixas pré-estabelecidas pelos fabricantes, assim como
os elementos horizontais, também restringe a aplicação do
sistema a determinadas modulações (figura 3).
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Figura 3 | Componentes básicos de uma estrutura formada pelo sistema multidirecional.
Fonte: Imagem elaborada pelo autor.
A maioria dos componentes do sistema multidirecional é fabricada com tubos de aço estrutural de alta resistência com
diâmetro externo de 48,3 mm por 3,2 mm de espessura,
tornando-o plenamente compatível com o andaime de tubo
e braçadeira convencional (figura 4: a, b). Essa combinação
entre dois sistemas é uma alternativa que potencializa as
capacidades do andaime multidirecional, pois, além de fornecer um reforço estrutural extra, abre maior leque de soluções volumétricas possíveis de serem alcançadas. Sem
esse recurso, projetar estruturas com volumetrias atípicas
exclusivamente com elementos do sistema multidirecional
pode ser extremamente difícil.
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Figura 4a | Andaime multidirecional, trecho utilizando apenas componentes do sistema.
Fonte: DETAIL 10/2013 - Temporary Structures (HELBIG, JUNGJOHANN e OPPE).
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Figura 4b | Andaime multidirecional, trecho associado com o sistema de tubo e braçadeira. Fonte: DETAIL 10/2013 - Temporary Structures (HELBIG, JUNGJOHANN e OPPE).
Antes de qualquer decisão, é interessante sempre consultar a gama de dimensionamento dos três componentes
principais do sistema multidirecional. Os fabricantes que
oferecem uma maior variedade de medidas permitem ao
projetista alcançar maior número de soluções volumétricas
sem haver necessidade de associar o sistema multidirecional com outro tipo de andaime.
Utilizando exclusivamente andaimes multidirecionais, é
possível preparar mão de obra para a montagem dos componentes com pouco tempo de treinamento prático. Comparado a outros sistemas que não aplicam o conceito de
259
montagem lógica, os componentes do andaime multidirecional são montados segundo princípios simples e eficientes, que fazem da sua montagem um processo rápido
e fácil. Em geral, para erguer uma estrutura básica, esse
sistema requer um número de peças significantemente menor por metro, se comparado a outros sistemas de
andaimes. Considerando os processos de planejamento e
projeto, desde que estabelecidos corretamente, o andaime
multidirecional pode ser montado em qualquer superfície
com 30% a 50% a mais de rapidez do que o sistema de
tubo e braçadeira, e pode reduzir o peso global da estrutura
em até 25% (MARKS, 2016).
260
Do ponto de vista econômico, o investimento inicial para
aquisição de um andaime multidirecional é certamente
mais alto do que o de outros sistemas. Consequentemente, seu aluguel também se torna mais oneroso. No entanto, os custos adicionais nesse investimento inicial podem
ser mais do que compensados ao longo do tempo por meio
da economia com material e mão de obra (MARKS, 2016).
Existem diversos modelos de andaimes multidirecionais.
Alguns dos principais tipos disponíveis e suas peculiaridades serão abordados a seguir. Dentre os diversos formatos
dos conectores multidirecionais existentes, destaca-se o
modelo de roseta, também conhecido como ringlock. Esse
modelo possui o nó central de conexão em formato de dis-
co perfurado, permitindo acoplar simultaneamente até oito
componentes, de forma que todos os membros horizontais e diagonais possam ser instalados em torno do poste.
Esse recurso pode ser muito prático para a construção de
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volumetrias circulares. Nos modelos atuais, geralmente se
encontram oito perfurações no disco, sendo quatro delas
propositalmente mais estreitas para instalar os componentes horizontais em ângulos de 90º da maneira mais precisa
possível. As outras quatro aberturas existentes são mais
largas, permitindo ajustes mais livres, em ângulos múltiplos de 15º. Nota-se no detalhe a seguir que esses ajustes
só poderão acontecer quando não houver nenhum elemento adjacente instalado, caso contrário o ângulo será invariavelmente 45º. Os desenhos desses dispositivos variam
de acordo com cada fabricante, sendo possível encontrar
modelos em que os furos possuem configurações diferentes (figura 5).
Nesse modelo, o tubo dos elementos horizontais e diagonais possui as extremidades adaptadas em forma de
cunha, com uma chaveta especial que bloqueia a ligação ao
se deslizar sobre as perfurações do disco (figura 6). Após
conectar as extremidades do tubo aos anéis, é necessário
apenas um golpe simples de martelo sobre essa peça para
deixar a conexão estruturalmente rígida. O mesmo processo é realizado para a desmontagem, porém no sentido inverso.
261
262
Figura 5 | Detalhe dos ângulos e conexões possíveis da roseta do sistema Plettac Contur (acima) e variações dos desenhos de alguns dos principais fabricantes (abaixo).
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos catálogos dos respectivos fabricantes.
Figura 6 | Ringlock: detalhe da extremidade do tubo horizontal, com a chaveta de auto
bloqueio. Fonte: http://www.catari.pt
Procurando compreender o uso do andaime como solução construtiva, serão apresentados a seguir exemplos de
obras arquitetônicas realizadas com a incorporação dos sistemas aqui apresentados, ou seja, da aplicação de andai-
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mes como elementos estruturais. Nessa abordagem, destacam-se as principais características e métodos utilizados,
refletindo sobre as lacunas existentes para esses sistemas
se consolidarem como método alternativo de construção e
discutindo o papel do arquiteto nesses processos.
Repensando a função dos andaimes
Uma das vantagens de trabalhar com os andaimes é a flexibilidade projetual que o sistema pode oferecer; mesmo
com o uso quase que exclusivamente de barras ortogonais,
há a liberdade de criação de um número ilimitado de configurações espaciais, desde um grid tridimensional simples
a volumetrias amórficas e balanços em várias escalas. Sua
adaptabilidade é uma forte característica, podendo ser utilizada em diferentes apropriações, basta explorar a criatividade. Essas utilizações vão desde pequenos módulos
a grandes pavilhões, passando por residências, escolas,
escritórios, comércios, restaurantes, hotéis, alojamentos,
entre outras infinidades de uso.
Segundo Robert Kronenburg (2007), arquitetura flexível
consiste em construções que são projetadas para respon-
263
der facilmente a mudanças ao longo de sua vida útil. Os
benefícios desse conceito são consideráveis, pois podem
permanecer em uso por mais tempo, uma vez que se adequam melhor à sua finalidade, atendendo à experiência e
à intervenção do usuário. Aproveitar uma inovação técnica
dessa natureza pode ser ainda econômica e ecologicamente mais viável.
Conforme as pesquisas continuam avançando, os sistemas
de andaime vão se tornando mais eficientes e com maior
variedade de opções disponíveis no mercado, contudo
essas otimizações são quase sempre focadas para o uso
tradicional, atendendo principalmente ao campo da cons-
264
trução civil e industrial, em que se concentra a maior demanda. De qualquer maneira, é interessante pensar como
toda essa tecnologia já desenvolvida possibilita a criação de
segmentos alternativos e outros tipos de espaços flexíveis
de forma descomplicada. E por mais que pareça simples,
é importante conhecer os conceitos a fundo para usá-los
com propriedade desde a concepção inicial. Além disso, o
sistema de andaime ainda não é muito ajustado para esse
uso alternativo, seja temporário ou permanente; as soluções e os detalhamentos complementares de fechamento
e cobertura passam a ser um escopo muito complexo no
contexto geral.
É nesse momento que a função da arquitetura começa a
fazer mais sentido, tornando-se extremamente necessária. Sabendo lidar bem com a concepção estrutural e as
limitações de cada sistema, o papel do arquiteto vai muito
além do objetivo de erguer a estrutura: seu trabalho supera
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a simples montagem de componentes, à medida em que
consegue manipular de forma integrada todo o ambiente
funcional para propiciar a melhor sensação e a utilização
possível aos ocupantes e contempladores da forma e do
espaço. A arquitetura deve estar consciente de seu entorno, precisa saber das implicações do impacto sobre uma
área e de seu contexto geral. Essa compreensão dos sentidos de uso e ocupação é o que distingue a arquitetura da
construção comum (MOURNING, 2016).
265
Um exemplo interessante para introduzir essa discussão
sobre as novas potencialidades do andaime é o projeto
Pump up the blue house, idealizado em 2007 pelo designer
Hervé Paraponaris. É uma espécie de transição entre o
uso convencional e o alternativo do andaime, uma vez que
se aplica o sistema de forma semelhante ao canteiro de
obras, porém com uma finalidade diferente. Segundo Paul
O’Neill (2009), o propósito desse projeto foi trazer de volta
os andaimes para o exterior da casa, localizada em um novo
distrito urbano de Amsterdam, com o intuito de aumentar
as dimensões do espaço durante um período temporário.
Com a inserção do andaime, além da estrutura refletir o
processo contínuo de construção que o próprio bairro se
encontrava, praticamente dobrava a área útil do edifício,
criando os espaços extras necessários para atender à demanda imediata de abrigar um centro de eventos no local,
com shows, reuniões, exposições e performances durante
seis meses. Ao final desse período, toda estrutura pode ser
desmontada, devolvendo o aspecto original da edificação
(figura 7).
Na maioria das vezes, esses espaços são erguidos para
perdurarem apenas um determinado tempo, seja dias ou
até mesmo anos. Essa condição de efemeridade acaba ofe-
266
recendo uma liberdade extra para o projetista, que deve
se beneficiar dessas condições excepcionais para explorar
novas espacialidades e formas de ocupação. É importante saber condicionar o projeto utilizando a legislação a seu
favor, enxergando o leque de opções que se abre ao ter a
possibilidade de ser temporário, removível ou portátil.
O simples fato de não se apossar do espaço, podendo devolvê-lo sem marcas, preservando a sua forma nativa após
o uso, muitas vezes vem acompanhado de benefícios,
como, por exemplo, a permissão de ocupar locais proibidos
para as edificações convencionais. No cenário ideal, uma
edificação que venha a funcionar muito bem, mesmo que
inicialmente pensada para ser temporária, pode chegar ao
ponto de tornar-se definitiva espontaneamente.
Cadernos de Arquitetura e Urbanismo v.25, n.36, 1º sem. 2018
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Figura 07 | Pump up the blue house, 2007- Andaime multidirecional acoplado à edificação convencional para acréscimo temporário de área útil. Ao final do período de uso,
a edificação retoma sua forma original. Fonte: http://www.jeanneworks.net/projects/
the_blue_house/
A seguir, serão mostradas duas obras feitas com tipos diferentes de andaimes, que vão além do exemplo anterior,
em que o andaime passa de coadjuvante a protagonista da
obra, indo além de um mero suporte auxiliar para se tornar
a estrutura principal da edificação.
Exemplo 1- Pavilhão-Escola Hamlet: Essa edificação
passa inicialmente por duas fases bem distintas. Em um
primeiro momento, teve seu protótipo instalado temporariamente no Museu de Arte Moderna de Louisiana, na Dinamarca, como parte da mostra África: Arquitetura, Cultura
e Identidade, que ficou em cartaz de junho a outubro de
2015. Além de abrigar conteúdos da exposição, esse pe-
268
ríodo de quatro meses serviu como teste para avaliar o desempenho geral dessa edificação antes de ser desmontada
e exportada para o seu destino final. Em um segundo momento, a estrutura foi remontada no continente africano,
onde passou a abrigar uma escola com aproximadamente
150 m² de área útil, capaz de atender até 600 alunos de
uma região carente do Quênia.
Mesmo com a implantação final sendo permanente, a edificação também precisava ser suficientemente flexível para
ser desmontada e transportada de maneira eficiente. Com
esse desafio, o arquiteto espanhol Jose Selgas, um dos
responsáveis pelo projeto, teve como premissa o uso de
materiais leves e duráveis, sobretudo de baixo custo. Após
várias investigações, optou-se por um sistema construtivo
pouco convencional, resolvido à base de andaimes de tubo
e braçadeira associado a outros materiais de baixo custo,
como telhas de policarbonato e chapas de OSB. Além de
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receber uma nova função, os tubos metálicos tradicionais
ganharam uma nova pintura, conferindo um aspecto mais
elegante para esse material (figura 8).
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Figura 8a | Pavilhão-Escola Hamlet, 2015- Edificação permanente, sistema construtivo a partir de estrutura de andaime tubo e braçadeira. Fonte: http://www.archdaily.
com/782058
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Figura 8b | Pavilhão-Escola Hamlet, 2015- Edificação permanente, sistema construtivo a partir de estrutura de andaime tubo e braçadeira. Fonte: http://www.archdaily.
com/782058
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O espaço, resolvido em dois pavimentos, é composto por
quatro blocos principais que abrigam as salas de aula. Cada
módulo possui 4,64 metros de comprimento, 2,20 metros
de largura e 5,61 metros de altura máxima, sendo inteiramente estruturado por andaimes de tubos e braçadeiras.
Nessa concepção estrutural, a modulação dos postes segue um princípio semelhante ao sistema construtivo Light
Steel Framing, criando uma espécie de gaiola em torno do
espaço. Nesse caso, todas as extremidades foram reforçadas com postes duplos para distribuir melhor as cargas, visto que as braçadeiras são menos resistentes que o encaixe
multidirecional. Interessante perceber que essa modulação
tipo framing não segue para o segundo pavimento, onde a
estrutura fica exposta a cargas menores. Em seguida foram
inseridas diagonais em todas as laterais e fundos dos módulos, completando o travamento vertical. A estrutura da
cobertura foi modulada com tubos, espaçados 80 cm em
média, que avançam sobre a projeção da sala até se curvar
sobre o solo, formando uma grande varanda (figura 9).
Por fim, os quatro blocos, dispostos lado a lado de forma
irregular, são unificados por essa grande cobertura, criando
um volume único que demonstra a potencialidade espacial
do tubo e braçadeira. Internamente, recipientes plásticos
cheios de água foram assentados na base dessa cobertura,
ancorando o prédio ao chão e também servindo como bancos, dispostos ao redor da grande varanda (figura 10: a, b).
271
272
Figura 9 | Sequência de montagem do módulo mostrando, (a) o andaime aplicado como
um sistema tipo framing, (b) os travamentos verticais e (c) o avanço da cobertura.
Fonte: http://arqa.com/en/architecture/kibera-hamlets-school.html, adaptado pelo autor.
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Figura 10a | Sequência de 1 a 3, mostrando a disposição dos módulos independentes,
que são posteriormente unificados pela cobertura. Fonte: http://www.louisiana.dk
274
Figura 10b | Execução dos módulos com estrutura de andaimes.
Fonte: http://www.louisiana.dk
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Figura 10c | Os tubos organizados antes do início da montagem e detalhe da solução de
ancoragem com galões de água. Fonte: http://www.louisiana.dk
Se comparado ao sistema multidirecional, esse tipo de andaime é infinitamente mais flexível na hora de projetar, uma
vez que quase não possui restrições dimensionais, além de
ser mais econômico financeiramente. Segundo o autor do
projeto, essa edificação, que, além do andaime, utilizou somente materiais simples, teve o custo final aproximado de
R$110.000 (£25.000), valor que representa algo em torno
de R$750 / m².
Exemplo 2- Pousada Baubrasil (Studio Andaime): Localizada nos arredores de Tiradentes, em Minas Gerais, a
pousada Baubrasil é um empreendimento que reúne um
conjunto de habitações contemporâneas, oferecidas como
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opção de hospedagem aos visitantes que frequentam a região. São edificações executadas com diferentes métodos
de construção rápida, tais como Light Steel Framing, CLT
(Cross Laminated Timber), container e andaime.
Nesse projeto (figura 1: a, b), idealizado em 2013 pelo proprietário, foi utilizado o andaime multidirecional como sistema construtivo, sendo um exemplo prático que demonstra a flexibilidade desse material, que também pode ser
implantado de forma permanente e em qualquer situação
de topografia. Segundo o proprietário, durante o processo
de montagem, foram gastas quatro semanas, trabalhando
com uma equipe formada por quatro pessoas. A casa tem
um pavimento e possui aproximadamente 65 m² de área
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interna, além de 15 m² de varanda externa, sendo totalmente estruturada por andaimes do tipo multidirecional de
roseta (ringlock), fornecidos pela fabricante alemã Layher.
Além da estrutura, a empresa forneceu os painéis de fechamento lateral, que podem ser conectados diretamente nas
rosetas dos postes, realizando as vedações com chapas de
policarbonato ou vidro.
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Figura 11a | Edificação permanente executada com estrutura de andaime multidirecional, implantada em um terreno acidentado. Fonte: Acervo do autor.
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Figura 11b | Edificação permanente executada com estrutura de andaime multidirecional, implantada em um terreno acidentado. Fonte: Acervo do autor.
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O espaço interno é uma grande área com 921 cm por 723
cm de extensão, configurado a partir da repetição de um
módulo-base com 307 cm de lado, e travados com diagonais verticais nas extremidades. Entre os módulos, há um
espaçamento central de 109 cm de largura, dimensões procedentes das travessas do sistema. Externamente o módulo possui alturas que variam entre 350 cm a 650 cm, devido
à forte inclinação natural do terreno, superior a 40%. Na
varanda, a modulação utilizada foi de 307 cm por 257 cm,
sendo finalizada com uma escada feita de componentes
próprios do sistema (figura 12: a, b, c).
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Figura 12a | Interior da edificação.
Fonte: http://www.studioveneziano.com.br/
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Figura 12b | Planta e elevação lateral da edificação, mostrando os módulos utilizados.
Fonte: http://www.studioveneziano.com.br/
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Figura 12c | Exterior da edificação.
Fonte: http://www.studioveneziano.com.br/
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O piso interno e a cobertura foram estruturados com vigas
H205 (figura 13: a, c), material leve e resistente, que geralmente são utilizadas para serviços de escoramento, e se
adaptam muito bem ao sistema de andaime. Com 20 cm
de altura, essas vigas vencem um vão máximo de 307 cm,
correspondente ao módulo-base. No piso ficam dispostas
transversalmente a cada 40 cm, e, por meio de um calço de
madeira adaptado, ficam apoiadas diretamente em travessas reforçadas, feitas com a viga ponte do andaime multidirecional. Dessa forma, cria-se uma base para receber
uma laje seca, feita com placas estruturais de OSB 18 mm
sobre a viga de madeira. Acima dessas placas, foi instalado
o piso final, feito com chapas de compensado plastificado
na cor preta.
A cobertura possui duas águas e uma calha central, ficando
sustentada por vigas H20 dispostas no sentido longitudinal
da casa. Na extremidade, essas vigas estão apoiadas em
forcados, instalados na parte superior do poste por meio de
braçadeiras, e servem de suporte para fixar as telhas termoacústicas, na inclinação adequada ao escoamento das
águas pluviais (figura 13: b, c). Internamente a divisão dos
ambientes foi resolvida com caixotes de CLT, conferindo à
estrutura um peso extra e deixando-a mais rígida e travada, de modo a evitar oscilações e vibrações (figura 13d). A
5. H20 é uma viga de madeira com perfil I que possui elevada capacidade de carga e
momento de inércia, sendo leve, de grande maneabilidade e estável (CG SISTEMAS).
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fundação foi concebida de forma simples, utilizando estacas de eucalipto tratado, sem nenhum uso de concreto. Ao
total são 20 estacas cravadas no solo, criando uma base
sólida capaz de apoiar as sapatas ajustáveis para iniciar a
montagem do andaime (figura13e). Apesar de permanente,
essa construção é totalmente desmontável, inclusive a sua
fundação é totalmente reversível, podendo ser extraída e
reutilizada em outro local sem deixar marcas no terreno.
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Figura 13a | Calço de madeira adaptado entre a viga ponte e as vigas H20. Fonte: Acervo do autor e http://www.studioveneziano.com.br/
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Figura 12b | Cobertura com duas águas com calha central.
Fonte: Acervo do autor e http://www.studioveneziano.com.br/
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Figura 12c | Forcado metálico com a viga H20 que apoia as telhas sanduíche.
Fonte: Acervo do autor e http://www.studioveneziano.com.br/
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Figura 12d | Caixotes de CLT utilizados na divisão dos ambientes.
Fonte: Acervo do autor e http://www.studioveneziano.com.br/
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Figura 12e | Fundação com estaca de eucalipto.
Fonte: Acervo do autor e http://www.studioveneziano.com.br/
Além dos componentes principais do sistema, foram utilizadas plataformas metálicas de encaixe nos pisos externos
e na parte central da cobertura, e painéis de vedação lateral, fornecidos pelo próprio fabricante do sistema de andaime. Segundo o proprietário, essa edificação teve o custo
final aproximado de R$250.000, correspondendo um valor
próximo a R$3.000/m².
Considerações finais
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Na última década, foi perceptível a presença de um movimento crescente no uso diferenciado do andaime, de
modo que eles vêm se tornando cada vez mais populares
entre os arquitetos e designers, principalmente para criação de espaços públicos temporários. Com essa tendência em alta, juntamente com o desenvolvimento de novos
componentes, é possível esperar um crescimento ainda
maior do uso e experimentação desse material, tanto para
as edificações temporárias quanto para edificações permanentes, de forma que, em um futuro próximo, os andaimes
possam se consolidar como um tipo de sistema construtivo
mais difundido.
O grande desafio para os arquitetos é resolver uma boa
integração entre os componentes-padrões do andaime e
os outros elementos construtivos, principalmente os fechamentos, esquadrias e cobertura, que ainda são pouco
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desenvolvidos pela indústria, pelo fato de ainda não existir
demanda de consumo suficiente para viabilizar uma pesquisa e produção desses elementos.
Também fica constatado que o grande trunfo do andaime,
como solução construtiva, é a sua flexibilidade em geral.
O sistema foi criado para ser montado e desmontado de
forma mais eficiente que outros métodos construtivos. Se
esse conceito não for importante para projeto, a escolha
pelo andaime como estrutura principal pode não se sustentar. Além disso, há também a opção por conceituar o
produto como autoconstrução ou por enfatizar o aspecto
industrial que essas estruturas proporcionam.
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E, por fim, percebe-se uma tendência imediata em pensar que o andaime é obrigatoriamente um material barato,
quando na verdade há uma diversidade tão grande de qualidade, modelos e soluções disponíveis, que torna possível
atuar em várias faixas de preços. As estruturas de andaimes possuem um campo vasto para estudos e desenvolvimento de projetos futuros, tanto em termos arquitetônicos, que exploram as novas aplicações quanto em termos
tecnológicos que aperfeiçoam o produto para o canteiro de
obras e criam novos componentes complementares para o
sistema. O cenário ideal para esses estudos é um ambiente multidisciplinar, em que a arquitetura e a engenharia caminhem juntas, chegando a ser complementares e quase
coincidentes nas buscas de resultados.
Referências
CG SISTEMAS. Vigas de escoramentos H20, Suzano (São Paulo). CG
SISTEMAS. Disponível em: <http://cgsistemas.ind.br/>. Acesso em:
20 nov. 2017.
HELBIG, T.; JUNGJOHANN, H.; OPPE, M. The return of modular
construction - the adaptation of scaffolding to form the load-bearing
structures of buildings. Detail, Munique, n. 10, p. 1127-1134, 2013.
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knowledge. 1ª. ed. [S.l.]: Page Publishing, 2016.
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<https://goo.gl/eh9m3A>. Acesso em: nov. 2017.
RAMOS FILHO, J. D. M. Andaimes - Tecnologia europeia.
Florianópolis: Insular, 2012.
VIUNOV, V. Comparison of scaffolding systems in Finland and in
Russia. Saimaa University of Applied Sciences: Lappeenranta, 2011.
Recebido em: 10/04/2018
Aprovado em: 23/05/2018