Foi por acaso, a partir deste post do João Caetano, que descobri esta discussão muito interessante sobre o futuro do sistema americano de saúde na National Public Radio, envolvendo empresários, médicos, académicos, etc. Não é segredo que já há algumas décadas que os norte-americanos tentam encontrar uma solução para um sistema cada vez mais caro (já ultrapassou os 16% do PIB) (e incapaz de proteger uma parte muito significativa da população (46,6 milhões segundo dados de 2005, ou seja, 16% da população - sem dúvida aquela que mais precisaria de cuidados de saúde), já para não falar da cobertura incipiente de muitos. Para além dos 46 milhões acima referidos, estima-se que 37 milhões estão sem seguro largos durante períodos de tempo (dado que os seguros estão tipicamente attached aos empregos, quando se perde o emprego perde-se também o seguro de saúde), já para não falar daqueles que estão underinsured, uma vez que seguro de que dispõem é altamente limitado nos serviços e medicamentos que cobre.
Uma discussão academicamente séria e politicamente desapaixonada pode ser encontrada no último livro do sociólogo David Mechanic, The Truth About Health Care: Why Reform Is Not Working in America (Rutgers University Press, 2006, 228p.), que trabalha há mais de 30 anos estas questões nos EUA.
O imbróglio em que os EUA se meteram por achar que a saúde é um bem - e, por consequência, os seus cuidados uma mercadoria - como qualquer outro(a) está à vista de todos, mesmo dos empresários que se queixam de aumentos anuais impraticáveis nos seguros que pagam pelos seus trabalhadores, e que, no limite, prejudicam as empresas norte-americanas na competição internacional (agora estão preocupados, não é?) - muitas vezes contra países que resolveram esse problema através de sistemas públicos universais ou variantes público-privado, que cobrem todos sem excepção, garantindo níveis aceitáveis de qualidade, eficiência e equidade a um custo bastante razoável. Já várias vozes na economia política e na sociologia económica (por exemplo, Neil Fligstein no seu The Architecture of Markets (Princeton University Press, 2002, 288 p.)) haviam apontado para que, na Europa, o facto dos sistemas de saúde serem públicos ou mistos, apesar de pesarem mais nos impostos, acabem por sair, no cômputo geral, mais baratos, oferecendo uma importante vantagem comparativa às economias europeias. Muitos empresários americanos parecem estar a chegar agora a essa conclusão pela prática.