Wednesday, June 20, 2007
Jay-Jay Johanson
Amanhã, quinta-feira, toca no grande auditório do CCB o Jay-Jay Johanson, que regressa a Portugal para apresentar o seu novo álbum "Long Term Psysical Effects Are
Not Yet Known" (2007), que podem ouvir na íntegra na playlist aqui em cima.
Tuesday, June 19, 2007
Estado "social-democrata" vs. "corporativo"
Substituam "França" por "Portugal" na maioria dos locais e tirem algumas conclusões. Traduzido do livro de que falei aqui (p.56-7).
«Em França, a esquerda recusa a ideia que há desigualdade entre os empregos públicos e os empregos privados. A ideia de que a sobreprotecção de uns produz desigualdades em detrimento dos segundos é refutada em nome da recusa do nivelamento por baixo. Na Dinamarca, tal dicotomia é considerada como inaceitável porque profundamente injusta. Uma das características do modelo dinamarquês é de assentar sobre o princípio da continuidade das condições de emprego e de trabalho entre o sector público e o sector privado. Não apenas a função pública é mais limitada (4% dos assalariados contra 30% em França), mas tudo é feito para aproximar o funcionamento da função pública do do sector privado (...) Para além disso, a correspondência entre a função e o estatuto (...) não existe no sistema dinamarquês, onde apenas uma reduzida minoria de funcionários beneficia de um emprego protegido. A ideia de que o Estado deve dispor de um grupo de funcionários amplo e protegidos para assegurar as suas funções centrais é totalmente estranho à cultura política de um país onde a grandeza do Estado não faz qualquer sentido. Porque não queremos renunciar aos estatutos, mas dado que não estamos em condições de os generalizar, em França, os trabalhadores que beneficiam de um estatuto e outros que a ele não têm acesso são capazes de exercer a mesma função. Este tipo de situação seria simplesmente inaceitável num país escandinavo, dado que isso simbolisaria a desigualdade construída não pelo mercado mas pelo Estado. A regra é por isso aquela do contrato único para todos os empregos, incluindo os públicos. (...) O modelo dinamarquês (...) é ao mesmo tempo muito liberal e muito protector, sendo que o conteúdo desta protecção é muito diferente daquele que atribuimos em França. [Na Dinamarca] protege-se para facilitar e mudança e não para a conter.»
Nota: na Dinamarca, as desigualdades sócio-económicas e escolares são mais baixas, o desemprego mais reduzido, o imposto sobre o rendimento muito mais elevado, os níveis de protecção social mais altos, os indicadores de desenvolvimento social e de capital social superiores, e o PIB per capita mais elevado do que em França.
«Em França, a esquerda recusa a ideia que há desigualdade entre os empregos públicos e os empregos privados. A ideia de que a sobreprotecção de uns produz desigualdades em detrimento dos segundos é refutada em nome da recusa do nivelamento por baixo. Na Dinamarca, tal dicotomia é considerada como inaceitável porque profundamente injusta. Uma das características do modelo dinamarquês é de assentar sobre o princípio da continuidade das condições de emprego e de trabalho entre o sector público e o sector privado. Não apenas a função pública é mais limitada (4% dos assalariados contra 30% em França), mas tudo é feito para aproximar o funcionamento da função pública do do sector privado (...) Para além disso, a correspondência entre a função e o estatuto (...) não existe no sistema dinamarquês, onde apenas uma reduzida minoria de funcionários beneficia de um emprego protegido. A ideia de que o Estado deve dispor de um grupo de funcionários amplo e protegidos para assegurar as suas funções centrais é totalmente estranho à cultura política de um país onde a grandeza do Estado não faz qualquer sentido. Porque não queremos renunciar aos estatutos, mas dado que não estamos em condições de os generalizar, em França, os trabalhadores que beneficiam de um estatuto e outros que a ele não têm acesso são capazes de exercer a mesma função. Este tipo de situação seria simplesmente inaceitável num país escandinavo, dado que isso simbolisaria a desigualdade construída não pelo mercado mas pelo Estado. A regra é por isso aquela do contrato único para todos os empregos, incluindo os públicos. (...) O modelo dinamarquês (...) é ao mesmo tempo muito liberal e muito protector, sendo que o conteúdo desta protecção é muito diferente daquele que atribuimos em França. [Na Dinamarca] protege-se para facilitar e mudança e não para a conter.»
Nota: na Dinamarca, as desigualdades sócio-económicas e escolares são mais baixas, o desemprego mais reduzido, o imposto sobre o rendimento muito mais elevado, os níveis de protecção social mais altos, os indicadores de desenvolvimento social e de capital social superiores, e o PIB per capita mais elevado do que em França.
Monday, June 18, 2007
Le Capitalisme d'Héritiers
E eis que pelo correio nos chega um daqueles (pequenos) livros que valem dezenas de outros. Escrito sobre a sociedade francesa, Le Capitalisme d'Héritiers tem inúmeras reflexões que se aplicariam também à portuguesa e ao seu capitalismo, às suas relações laborais, ao seu sindicalismo e patronato, e aos bloqueios aos processos de modernização e inovação. A introdução deste pequeno livro está disponível aqui, no sítio da République des Idées, claro, a cuja excelente colecção o livro pertence. A obra do economista Thomas Philippon é uma resposta directa a um, senão o grande tema e slogan de Sarkozy na campanha das eleições presidenciais francesas de Maio: "a crise do valor trabalho". Philippon mostra que Ségolène estava globalmente correcta na análise do problema - mas também por aqui se vê como a candidata socialista não soube defender as suas ideias de forma verdadeiramente eficaz, coerente e poderosa.
Nos próximos dias talvez ande aqui um pouco à volta das reflexões de Philippon. De qualquer forma, com mais este livro, a République des Idées mostra de onde virá a verdadeira oposição intelectual a Sarkozy nos próximos anos. Oposição séria, realista, não-sectária, capaz de apoiar um projecto de esquerda de governo, que faça realmente a diferença em França. E para fazer a diferença é preciso ganhar eleições - e para ganhar eleições é preciso saber auscultar de forma muito competente o que se passa na sociedade. Se a esquerda francesa tem acumulado derrotas atrás de derrotas é porque não percebeu que muitas coisas mudaram no último quarto de século e não soube redefinir objectivos.
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Saturday, June 16, 2007
Friday, June 15, 2007
«So, at 12, I knew that the point of being human was to spend one's life fighting social injustice»
O Ivan encontrou na net um dos textos mais giros do Richard Rorty reunidos no Philosophy and Social Hope que aqui mencionei há dias, intitulado "Trotsky and the Wild Orchids", e escrito em 1992. Merece bem ser lido.
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Thursday, June 14, 2007
Wednesday, June 13, 2007
Nota sobre Rorty
Infelizmente estou com pouco tempo, porque gostava de escrever algo mais longo e sustentado sobre Richard Rorty. Há poucos livros dele traduzidos para português - com destaque para o Contingência, Ironia e Solidariedade, da Presença, que é uma bela obra -, mas, do ponto de vista político, falta traduzir as duas que melhor porventura retratam a mensagem política da sua filosofia: Philosophy and Social Hope (1999, Penguin Books), que é uma colectânea de excelentes ensaios, e Achieving Our Country (1999, Harvard University Press), que é um livro cheio de energia sobre o estado actual e o que devia ser/fazer a esquerda americana, em particular a de inclinações académicas, e sobretudo aquela mais seduzidas pelas coisas do pós-modernismo. Apesar da sua admiração filosófica por autores como Wittgenstein, Heidegger, Foucault ou Derrida - politicamente conservadores ou radicais, mas com poucos political brains -, e apesar de algumas das suas teses se prestarem a uma apropriação idealista e pós-moderna (convenhamos que uma filosofia que se constrói em torno da apologia da contínua "redescrição" do nosso "vocabulário" corre esse risco), Rorty era um homem da esquerda, mais preocupado com o que acontecia aos trabalhadores norte-americanos no último quartel do século XX do que com grandes delírios "heideggero-derrideanos". Se há algo a fazer no futuro, é sublinhar a política - democrática, social-democrata, preocupada com o que há de prioritário na vida humana - que decorre da sua filosofia e separá-la daquela que foi praticada (ou imaginada) por alguns dos autores com que Rorty gostava de se associar.
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Tuesday, June 12, 2007
Monday, June 11, 2007
Fórum Sociológico
Saiu mais um número duplo da revista Fórum Sociológico, o nº15/16 (do Institut de Estudos e Divulgação Sociológica da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa), com um dossiê dedicado às "Realidades e Contextos Profissionais", organizado por José Resende e Luís Rodrigues. O índice pode ser encontrado aqui (e os números anteriores aqui).
Deste número dupla consta uma recensão minha, onde apresento e discuto o livro do sociólogo François Dubet, L'école des chances: Qu'est-ce qu'une école juste? (2004, Seuil, La république des idées).
Sunday, June 10, 2007
"La gauche doit sortir du pessimisme social"
Enquanto a UMP de Sarkozy se preparar hoje para obter mais uma verdadeira landslide eleitorial, a esquerda devia ler as reflexões do politólogo Zaki Laïdi numa entrevista de hoje no Le Monde. E, já agora, o livro que assina com outro politólogo, Gérard Grunberg, intitulado Sortir du pessimisme social : Essai sur l'identité de la gauche (Paris, Hachette, 2007).
Saturday, June 9, 2007
Seattle antes de Seattle
Seattle'91, para alguns, é mais marcante que Seattle'99, o simbólico ano dos protestos contra a Organização Mundial do Comércio. O motivo é simples e escreve-se com duas palavras: Pearl Jam, banda que dá um fantástico impulso ao movimento grunge - género cujas letras e música são feitas dessa explosiva mistura de revolta, dor e solidão - em 1991 com esse genial álbum que é "Ten". Houve um tempo, há cerca de 15 anos, que 'Alive', 'Jeremy' e 'Black' faziam parte do meu stapple musical quotidiano. Depois, aos poucos, fui perdendo o rasto à banda, não sem um amargo sabor a self-betrayal.
Hoje à noite os Pearl Jam actuaram em Lisboa no "Alive Festival", que decorre até domingo no Passeio Marítimo de Algés, naquela que foi, se não estou em erro, a sua 4ª presença em Portugal. Como nunca os tinha visto ao vivo, resolvi cometer uma pequena loucura: pagar 45 euros, atirar o trabalho que tinha que fazer para a longa madrugada, esperar várias horas em pé, aturar as macacadas dos inenarráveis Blasted Mechanism e dos barulhentos e insuportáveis Linkin Park antes de poder ouvir Eddie Vedder e companhia, pouco antes da meia-noite. O ataque de nostalgia não compensou o ataque de amnésia, nem o consequente ataque de inveja quando reparei que a maioria dos miúdos, ao contrário de mim, sabia todas as letras de cor.
Não faz mal. Paguei uma dívida que tinha para com a minha adolescência. E, felizmente, a letra de 'Black', essa música capaz lançar qualquer um na mais miserável espiral de demência, não havia esquecido:
Hey...oooh...
Sheets of empty canvas
Untouched sheets of clay
Were laid spread out before me
As her body once did
All five horizons
Revolved around her soul
As the earth to the sun
Now the air
I tasted and breathed
Has taken a turn
Ooh and all I taught her was everything
Ooh I know she gave me all that she wore
And now my bitter hands
Chafe beneath the clouds
Of what was everything
Oh the pictures have
All been washed in black
Tattooed everything
I take a walk outside
I'm surrounded by
Some kids at play
I can feel their laughter
So why do I sear
Oh, and twisted thoughts that spin
Round my head I'm spinning
Oh, I'm spinning
How quick the sun can, drop away...
And now my bitter hands
Cradle broken glass
Of what was everything
All the pictures had
All been washed in black
Tattooed everything
All the love gone bad
Turned my world to black
Tattooed all I see
All that I am
All I'll be
... Yeah Uh huh...uh huh...ooh...
I know someday you'll have a beautiful life
I know you'll be a star
In somebody else's sky
But why
Why
Why can't it be
Why can't it be mine
yeah yeah
we- we belong
we belong together together oooh ooh
we- we belong we belong together oh yeah
Friday, June 8, 2007
Coisas a não esquecer (III)
«[W]ages - I'm talking about real wages - can, in the long run, only be increased if improved methods of production and economic organization create the necessary conditions...To think that the influence of the unions exclusively can decide the wages is as wrong as when the rooster believes that the sun rises because his crowing. If the unions can arrange so that at every point in time, workers will receive what they are entitled to from prodution, then they have fulfilled every reasonble claim».
Palavras de Edvard Johnson, secretário-geral da LO (Landsorganisationen), a poderosa confederação sindical sueca, num congresso da mesma em 1926
Palavras de Edvard Johnson, secretário-geral da LO (Landsorganisationen), a poderosa confederação sindical sueca, num congresso da mesma em 1926
Thursday, June 7, 2007
Wednesday, June 6, 2007
Publicidade
Acabou de sair o número de Junho do Le Monde Diplomatique. A simpático convite do Miguel Chaves, que organiza o dossier "Educação, Emprego e Desigualdades Sociais", escrevi um pequeno texto sobre o problema gravíssimo do abandono escolar precoce nos níveis de ensino básico (em particular no terceiro ciclo) e secundário, intitulado "A insustentável invisibilidade do abandono escolar".
Creio que vai haver um debate lá mais para o fim do mês, espero que seja uma oportunidade para discutir estas coisas em público, o que é sempre mais interessante.
Tuesday, June 5, 2007
O todo e a parte da "facilidade em despedir"
Título da SIC Notícias on-line sobre a intenção do Governo querer "facilitar" os despedimentos por justa causa: Mais facilidade em despedir
Também podiam ter posto: Mais facilidade em contratar. Ou: Mais protecção fora do emprego. Ou: Mais aposta na formação. Isto é importante porque o está em causa - uma relativa aproximação ao dá pelo nome de "flexisegurança" - são mudanças múltiplas no desenho das instituições do mercado de trabalho. Ver as coisas apenas pelo prisma da maior facilidade dos despedimentos é bastante redutor e tendencioso - quanto mais não seja porque, convém não esquecer, Portugal é dos países da Europa com o mercado de trabalho mais regulado e onde os despedimentos são, por lei, mais complicados, em particular nos trabalhadores com contrato sem termo. Já o tinha referido aqui. Depois posso voltar ao assunto, que é sempre mais complicado do que parece, em particular a diferença entre a rigidez da lei e a relativa arbitrariedade na sua aplicação - o que mostra a fragilidade e ilusão de termos leis que contemplam uma forte protecção.
Recupero parte de um post que escrevi em Junho do ano passado no Véu da Ignorância, e que apresentava um gráfico que ajuda a perceber alguns dos dilemas inscritos no desenho de uma política de mercado laboral, em particular o trade off existente entre os a protecção social fora do emprego e a protecção laboral em alguns países na Europa: a maior protecção de um lado tende a variar inversamente com a protecção do outro. Nos países nórdicos opta-se por reforçar o apoio às pessoas no desemprego em detrimento de criação de dificuldades excessivas aos despedimento; nos países do Sul adopta-se a solução inversa. Convém lembrar que é nos países do Norte da Europa que taxas de desemprego são mais baixas e onde as fronteiras entre insiders (empregados) e outsiders (desempregados) são mais ténues.
*Gráfico retirado de um working paper da Columbia University, intitulado "Civic Attitudes and the Design of Labor Market Institutions: Which Countries can Implement the Danish Flexicurity Model?", da autoria dos economistas franceses Yann Algan e Pierre Cahuc.
Monday, June 4, 2007
Lançamento
À hora a que escrevo, está quase a começar o lançamento, no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, do novo livro do Renato Carmo, De Aldeia a Subúrbio. Trinta anos de uma Comunidade Alentejana, publicado pela Imprensa de Ciências Sociais.
Não vou poder estar lá, mas queria deixar ao Renato - com quem tenho o hábito de discutir a sério, por vezes para além das regras da cordialidade, no Peão - um abraço de parabéns pela publicação do que é, pelo que ele me explicou, parte do seu trabalho de doutoramento.
Adenda: faltei ao lançamento, mas não ao jantar, claro! - com escolha a propósito, a Casa do Alentejo.
Sunday, June 3, 2007
É boa ideia, é verdade
António Costa quer estimular uso de bicicletas em Lisboa.
Lisboa não é uma cidade tão plana como Barcelona ou Paris ou Amsterdão ou Edimburgo - cidades onde já tive a oportunidade e sorte de andar de bicicleta -, mas não é preciso muito boa vontade para reconhecer, que em certas áreas da cidade, seria perfeitamente possível procurar implementar - ou aumentar - o uso das bicicletas. Não causaria nenhuma estrondosa revolução no volume do tráfego automóvel nem na qualidade no ar, mas ajudaria um pouco a melhorar a qualidade de vida. Já discuti, com os meus amigos do Peão, esta questão há uns meses, e foram feitas algumas propostas interessantes.
Mas mais importante do que isto é pensar o que fazer para resolver o complicado problema do trânsito. A ideia de uma portagem à entrada de Lisboa, um pouco à semelhança do que foi feito em Londres, seria uma hipótese, mas talvez seja uma penalização excessiva para quem vive fora do seu perímetro. Seja qual for a solução (ou soluções) adoptada(s), a melhoria na qualidade e quantidade nos transportes públicos é absolutamente obrigatória.
É importante perceber o que se passou em Londres (indepentemente do mérito da solução adoptada, conhecida como congestion charge), onde pessoas que estavam mais do que habituadas a usar o carro começaram a mudar, lentamente, os seus hábitos e chegaram, ao fim de algum tempo, à conclusão que não era assim tão difícil abandonar o transporte individual para passar a usar de forma regular os transportes públicos.
E seria também interessante explorar as oportunidades que o que Jeremy Rifkin chama Age of Access pode trazer para a melhoria da qualidade de vida individual e colectiva. Rifkin especula que estamos a entrar numa era em que a posse dos bens está a dar lugar ao seu aluguer: ou seja, não é tanto a propriedade que conta, mas a capacidade de acesso a bens e serviços que orienta(rá) o comportamento do consumidor e estimula(rá) o fornecimento de serviços pelas empresas. Num exemplo adequado ao problema em discussão, seria, assim, cada vez mais fácil, barato e atractivo alugar um carro num esquema flexível, eventualmente partilhando-o com outros, do que comprá-lo para uso individual (e/ou familiar); para isto, em inúmeros países e cidades já existem club-sharing cars.
Serviços deste tipo, feitos à medida dos interesses personalizados de cada um - e que estão absolutamente banalizados no aluguer de filmes, por exemplo, mas que se começam a ver no uso das bicicletas, em algumas cidades, pelo menos (como vi, por exemplo, em Lyon) -, podem servir não apenas para melhorar a qualidade de vida individual e colectiva em inúmeras áreas, mas também, quem sabe, para mudar as mentalidades, talvez no sentido de um "novo colectivismo" ou, pelo menos, de novas práticas cooperantes, talvez em detrimento do tal individualismo possessivo que, sendo em inúneras coisas individualmente racional, pode gerar tantas irracionalidades colectivas.
Lisboa não é uma cidade tão plana como Barcelona ou Paris ou Amsterdão ou Edimburgo - cidades onde já tive a oportunidade e sorte de andar de bicicleta -, mas não é preciso muito boa vontade para reconhecer, que em certas áreas da cidade, seria perfeitamente possível procurar implementar - ou aumentar - o uso das bicicletas. Não causaria nenhuma estrondosa revolução no volume do tráfego automóvel nem na qualidade no ar, mas ajudaria um pouco a melhorar a qualidade de vida. Já discuti, com os meus amigos do Peão, esta questão há uns meses, e foram feitas algumas propostas interessantes.
Mas mais importante do que isto é pensar o que fazer para resolver o complicado problema do trânsito. A ideia de uma portagem à entrada de Lisboa, um pouco à semelhança do que foi feito em Londres, seria uma hipótese, mas talvez seja uma penalização excessiva para quem vive fora do seu perímetro. Seja qual for a solução (ou soluções) adoptada(s), a melhoria na qualidade e quantidade nos transportes públicos é absolutamente obrigatória.
É importante perceber o que se passou em Londres (indepentemente do mérito da solução adoptada, conhecida como congestion charge), onde pessoas que estavam mais do que habituadas a usar o carro começaram a mudar, lentamente, os seus hábitos e chegaram, ao fim de algum tempo, à conclusão que não era assim tão difícil abandonar o transporte individual para passar a usar de forma regular os transportes públicos.
E seria também interessante explorar as oportunidades que o que Jeremy Rifkin chama Age of Access pode trazer para a melhoria da qualidade de vida individual e colectiva. Rifkin especula que estamos a entrar numa era em que a posse dos bens está a dar lugar ao seu aluguer: ou seja, não é tanto a propriedade que conta, mas a capacidade de acesso a bens e serviços que orienta(rá) o comportamento do consumidor e estimula(rá) o fornecimento de serviços pelas empresas. Num exemplo adequado ao problema em discussão, seria, assim, cada vez mais fácil, barato e atractivo alugar um carro num esquema flexível, eventualmente partilhando-o com outros, do que comprá-lo para uso individual (e/ou familiar); para isto, em inúmeros países e cidades já existem club-sharing cars.
Serviços deste tipo, feitos à medida dos interesses personalizados de cada um - e que estão absolutamente banalizados no aluguer de filmes, por exemplo, mas que se começam a ver no uso das bicicletas, em algumas cidades, pelo menos (como vi, por exemplo, em Lyon) -, podem servir não apenas para melhorar a qualidade de vida individual e colectiva em inúmeras áreas, mas também, quem sabe, para mudar as mentalidades, talvez no sentido de um "novo colectivismo" ou, pelo menos, de novas práticas cooperantes, talvez em detrimento do tal individualismo possessivo que, sendo em inúneras coisas individualmente racional, pode gerar tantas irracionalidades colectivas.
Saturday, June 2, 2007
Marcel Proust
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