Quando você chegar (exausto de lida e de comer asfalto), serei pousada no campo, quarto arejado, rede na varanda, chão de ripa, cama aquecida na rima, diária completa na ponta da língua: café da fazenda, comida à lenha, licor, pinga da boa, água da fonte, verdura fresca, compota de fruta, colheitas da própria terra. Entrega orgânica. Serei a roupa de cama limpa, fronha de pano, lençol que não desajeita, aroma de flor de laranjeira, toalha fofa, tina de madeira, luz de lamparina. Lenha. Serei a saudade que crepita na lareira desde a véspera. Moda de viola ao pé da janela. A vela e a flor para o santo que te guia. O coração apurando no barro da panela. Quando você chegar, seu moço, lá de onde nascem as carências, serei sua parlenda. O dedo de prosa à mesa. O corpo (nu) do poema. Fêmea. Valéria Tarelho