Papers by Aderivaldo Ramos de Santana
Revista Ciência Hoje, 2024
O tráfico transatlântico de africanos escravizados, um dos capítulos mais condenáveis da história... more O tráfico transatlântico de africanos escravizados, um dos capítulos mais condenáveis da história da humanidade, teve consequências devastadoras não apenas para as vítimas humanas, mas também para os ecossistemas marinhos. Um breve mergulho nas águas turvas do passado permite compreender como as cruéis travessias realizadas pelos navios escravagistas alteraram o comportamento dos tubarões, animais temidos pelos capturados.
Afro-Ásia, 2018
Este artigo reconstrói a trajetória de vida do comerciante ijebu Osifekunde, com base nos documen... more Este artigo reconstrói a trajetória de vida do comerciante ijebu Osifekunde, com base nos documentos encontrados nos arquivos brasileiros e franceses, utilizando a metodologia da micro-história, com ênfase na redução de escala, que possibilitou relacionar diversos registros a partir de nomes. O texto está dividido em três momentos: uma parte dedicada ao contexto africano, relacionando-o com a história do tráfico de escravos, principalmente entre os anos 1820 e 1830, pano de fundo que possibilita entender as circunstâncias de sua captura; uma segunda, que se concentra na trajetória pessoal de seu segundo proprietário; e uma última parte, subdivida em duas, em que se demonstra como Osifekunde se tornou um homem livre na França e de que maneira o seu retorno ao Brasil fazia parte de sua estratégia de negociação para garantir a liberdade e obter melhores condições de trabalho.Palavras-chave: Biografia - África - escravidão - liberdade - Pernambuco oitocentista. This article reconstruc...
Afro-Ásia, Jun 19, 2022
Teixeira Cavalcanti enviou uma correspondência ao presidente da província de Pernambuco, Joaquim ... more Teixeira Cavalcanti enviou uma correspondência ao presidente da província de Pernambuco, Joaquim José Pinheiro de Vasconcelos, informando-o que "na noite de 21 de janeiro", a polícia portuária apreendeu uma escuna, com bandeira francesa perto do porto de Goiana, a 65 km ao norte da cidade do Recife. Suspeito de realizar o tráfico transatlântico de escravizados para o Brasil, o Clementina, um navio de apenas 81 toneladas, veio de Calabar (na atual Nigéria) com uma tripulação de nove marinheiros, três passageiros espanhóis e 175 africanos. 1 A apreensão de um navio negreiro de uma * O presente artigo é resultado parcial de pesquisa independente, sem financiamento público. Essa é uma versão escrita de duas apresentações, sendo a primeira delas no colóquio "La Normandie et les colonies: une histoire et un patrimoine en partage", realizado nos dias 7 e 8 de março de 2019. Em setembro de 2020, uma segunda apresentação dessa pesquisa foi apresentada durante a jornada "170 anos da abolição do tráfico de africanos escravizados para o Brasil", organizada pela Rede de Historiadorxs Negrxs, do dia 31 de agosto ao dia 4 de setembro de 2020. Agradeço os comentários dos colegas durante as apresentações, em especial a leitura atenciosa de Roquinaldo Ferreira, por apontar soluções e por suas sugestões bibliográficas. 1 De acordo com o depoimento do comandante do Clementina, o tenente Joseph Fournilliet, a escuna chegou na barra de Goiana com 179 africanos e não 188 como consta no ofício do governo. Cf. "Affaire du marin Fournilliet", Gazette des Tribunaux, journal des jurisprudence et des débats judiciaires,
around 1900" s'est plongé au coeur des migrations transatlantiques entre 1860 et 1930 à l'échelle... more around 1900" s'est plongé au coeur des migrations transatlantiques entre 1860 et 1930 à l'échelle mondiale. Il a mis en lumière une nouvelle dynamique de ces mouvements migratoires, en mettant particulièrement l'accent sur la mobilité des migrants et le phénomène des migrations de retour. De plus, les présentations ont fait émerger sur une vision novatrice de l'Atlantique comme un espace de mouvement partagé, atténuant les frontières raciales traditionnelles qui existaient dans l'historiographie des mouvements migratoires atlantiques.
Dicionário das relações étnico-raciais contemporâneas, 2023
Revista Afro-Ásia, 2022
O presente artigo analisa o processo da escuna francesa Clementina, apreendida no dia 21 de janei... more O presente artigo analisa o processo da escuna francesa Clementina, apreendida no dia 21 de janeiro de 1831, com 175 africanos escravizados, suspeita de realizar o tráfico transatlântico para o Brasil. O objetivo geral desse artigo é elaborar um estudo de caso, tendo como fontes primárias a correspondência intercambiada entre o consulado francês no Recife e o governo da Província de Pernambuco, assim como as sentenças prolatadas no Brasil e na França, inserindo nossa análise no contexto do debate que antecede a primeira lei antitráfico de 7 de novembro de 1831 e seus desdobramentos. Em particular, buscamos entender como a apreensão da Clementina pode ser reveladora de uma conjuntura social característica, da qual inferimos, ao mesmo tempo, a participação dos traficantes estabelecidos no Recife e suas estratégias para perpetuarem a ilegalidade do contrabando de seres humanos, bem como compreender o papel desse governo no combate a este infame comércio.
Afro-Ásia, 2022
Às vezes te sinto como avó, outras vezes te sinto como mãe. Quando te sinto como neto me sinto co... more Às vezes te sinto como avó, outras vezes te sinto como mãe. Quando te sinto como neto me sinto como sou. Quando te sinto como filho não estou me sentindo bem eu, estou me sentindo aquele que arrancaram de dentro de ti. À Africa-Oliveira Silveira O s textos reunidos neste dossiê derivam da jornada "A Abolição do Tráfico Transatlântico de Africanos Escravizados: os 170 Anos da Lei Euzébio de Queirós", evento online promovido pela Rede de Historiadoras Negras e Historiadores Negros (RHN), entre 31 de agosto
Amerika, 2012
Social exclusion, ethnical prejudices or racial taboos, influence the access to prestigious Frenc... more Social exclusion, ethnical prejudices or racial taboos, influence the access to prestigious French Universities « les grandes ecoles » and Brazilian Universities. How to promote universal access and consolidate the way to Democracy ? For 10 years, experience has shown that politics implemented in higher education do not necessary fit with existing realities : how to adjust educational politics to French & Brazilian social & cultural realities ? This paper analyses the 10 years’ implementation of the French model, based on a positive discrimination approach, and the Brazilian model, based on the affirmative action, which is the system most famous in the world.
Esboços: histórias em contextos globais
Um estadista brasileiro que, no inicio do século XIX, deduz o curso do rio Níger a partir do inte... more Um estadista brasileiro que, no inicio do século XIX, deduz o curso do rio Níger a partir do interrogatório que realizou com alguns escravos africanos no Brasil; um naturalista que, seguindo o mesmo método, pretendeu fazer uma síntese de tudo o que se conhecia sobre a África centro-ocidental, utilizando como seus informantes, africanos haussas escravizados em Salvador da Bahia; um homem de “ciência” que, durante a Corte de Louis-Philippe, realizou um estudo sobre o reino Iorubá, recorrendo as informações de um africano ijebu, que havia sido escravo no Brasil e residia em Paris na condição de homem livre. Esses são alguns exemplos de uma história da África elaborada a partir de relato de africanos escravizados. O presente artigo pretende demonstrar de que maneira, durante a primeira metade do século XIX, a utilização de informantes africanos como fontes orais, por parte das sociedades científicas, tiveram um papel de extrema importância na produção de conhecimento sobre o interior do...
Esboços: histórias em contextos globais
Um estadista brasileiro que, no inicio do século XIX, deduz o curso do rio Níger a partir do inte... more Um estadista brasileiro que, no inicio do século XIX, deduz o curso do rio Níger a partir do interrogatório que realizou com alguns escravos africanos no Brasil; um naturalista que, seguindo o mesmo método, pretendeu fazer uma síntese de tudo o que se conhecia sobre a África centro-ocidental, utilizando como seus informantes, africanos haussas escravizados em Salvador da Bahia; um homem de “ciência” que, durante a Corte de Louis-Philippe, realizou um estudo sobre o reino Iorubá, recorrendo as informações de um africano ijebu, que havia sido escravo no Brasil e residia em Paris na condição de homem livre. Esses são alguns exemplos de uma história da África elaborada a partir de relato de africanos escravizados. O presente artigo pretende demonstrar de que maneira, durante a primeira metade do século XIX, a utilização de informantes africanos como fontes orais, por parte das sociedades científicas, tiveram um papel de extrema importância na produção de conhecimento sobre o interior do...
Revista Afro-Ásia , 2018
Resumo
Este artigo reconstrói a trajetória de vida do comerciante ijebu Osifekunde, com base nos... more Resumo
Este artigo reconstrói a trajetória de vida do comerciante ijebu Osifekunde, com base nos documentos encontrados nos arquivos brasileiros e franceses, utilizando a metodologia da micro-história, com ênfase na redução de escala, que possibilitou relacionar diversos registros a partir de nomes. O texto está dividido em três momentos: uma parte dedicada ao contexto africano, relacionando-o com a história do tráfico de escravos, principalmente entre os anos 1820 e 1830, pano de fundo que possibilita entender as circunstâncias de sua captura; uma segunda, que se concentra na trajetória pessoal de seu segundo proprietário; e uma última parte, subdivida em duas, em que se demonstra como Osifekunde se tornou um homem livre na França e de que maneira o seu retorno ao Brasil fazia parte de sua estratégia de negociação para garantir a liberdade e obter melhores condições de trabalho.
Palavras-chave: Biografia - África - escravidão - liberdade - Pernambuco oitocentista.
Abstract
This article reconstructs the life trajectory of the Ijebu man named Osifekunde, based on documents found in Brazilian and French archives, using micro-history methodology, with an enphasis on scale reduction, which made it possible to link personal names in several different records. The article is divided in three parts: one dedicated to the African context, relating it to the history of the slave trade, mainly between 1820 and 1830, making it possible to understand the circumstances of his capture; a second part concentrates in the life trajextory of his first owner; and a last part, divided in two, in which it is shown how Osifekunte became a free man in France and how his return to Brazil was part and parcel of a negotiation strategy to garantee his freedom and obtain better work conditions.
Keywords: Biography - Africa - freedom - 19th-Century Pernambuco
Dans le cadre du festival "Brésil en mouvements" qui a eu lieu à Paris du 14 au 18 octobre 2015, ... more Dans le cadre du festival "Brésil en mouvements" qui a eu lieu à Paris du 14 au 18 octobre 2015, l'historien Aderivaldo Ramos de Santana a animé un débat autour des "Noirs au Brésil" suite aux projections des films: Quilombo da Família Silva (réalisateur Sérgio Valentim) et Porto da Pequena África (réalisatrice Claudia Mattos).
Em 1820, Osifekunde foi capturado pelos piratas Ijos, próximo a cidade de Omaku (na atual Nigéria... more Em 1820, Osifekunde foi capturado pelos piratas Ijos, próximo a cidade de Omaku (na atual Nigéria) e vendido a um negreiro brasileiro que o embarcou do porto de Bobi (no golfo do Biafra) para o porto do Rio de Janeiro. Ele viveu 17 anos como escravo no Brasil e provavelmente testemunhou as transformações pelas quais passou a antiga colônia portuguesa antes de se tornar Império, na primeira metade do século XIX. Durante o tempo em que foi escravo Osifekunde teve um segundo proprietário, o negociante Francês chamado Jean-Baptiste Navarre, que o levou para Paris em 1837. Posto que não havia escravidão na metrópole francesa, Osifekunde se tornou livre de pleno direito. Ele permaneceu quatro anos em Paris, onde trabalhou como domestico em algumas residências particulares e também num hotel. O azar fez dele um informante importante para Marie-Armand D’Avezac Pascal, vice-presidente da Sociedade de Etnologia e membro de tantas outras sociedades cientificas. Esse etnólogo aproveitando-se dos conhecimentos de seu informante, escreveu um dos estudos mais importante sobre a língua e a cultura Ioruba publicado em 1845, intitulado “Notice sur le pays et le peuple des Yèbous en Afrique.” No inicio do século XIX os informantes foram essenciais para naturalistas, etnólogos e geógrafos, homens de ciência que competiam em busca de conhecimento sobre o mundo ainda não explorado, em nosso caso o continente africano. O historiador contemporâneo pode a partir dos documentos publicados por essas sociedades científicas, confrontando-os com outras fontes tais como os arquivos judicias, encontrar informações importante sobre os africanos levados como escravos para o Brasil, tais como origem, língua, religião, compondo uma biografia coletiva, assim compreender melhor a presença e a importância desses individuos para a formação do sociedade brasileira.
Todo ser humano é um espelho de sua época, mas algumas trajetórias parecem ter sido talhadas par... more Todo ser humano é um espelho de sua época, mas algumas trajetórias parecem ter sido talhadas para servir de síntese de importantes aspectos da história coletiva. Assim foi a vida de Osifekunde.
Nascido em 1793 na cidade de Makum, do reino Ijebu, no sul da atual Nigéria, Osifekunde era descendente de uma família aristocrática. Seu avô, Ochi-Wo, foi cunhado e superintendente de finanças do rei Ochi-Gade. Seu pai, Ade-Sounlu, foi um importante comerciante, profissão que transmitiu aos filhos em inúmeras viagens mercantes em território ioruba. A mãe, Egght Adê, primeira das sete esposas de Ade-Sounlu, era também uma aparentada do rei.
No final do século XVIII, os guerreiros ijebus resistiram ao domínio do poderoso Império Oió, que se expandia para o sul após reduzir a vassalos a maioria dos seus vizinhos, inclusive os daomeanos. Com o declínio desse império, na primeira metade do século XIX, o território iorubano atravessou um período de guerras e constantes transformações políticas. O reino Ijebu, no entanto, manteve-se inabalado: entre 1820 e 1825 aliou-se a alguns refugiados de Oió, anteriormente seus inimigos, e com os guerreiros da cidade de Ifé para conquistar o controle de um importante centro comercial,o mercado de Apomu, ponto de encontro de mercadejantes de várias regiões. Também obtiveram o domínio das rotas e das atividades comerciais que ligavam o interior do continente africano com o litoral, particularmente com a cidade de Lagos. Os ijebus comercializavam diretamente com os europeus, para quem vendiam escravos e tecidos, os chamados panos da costa.
En 1820, Osifekunde fut capturé au cours d’une embuscade par des pirates Ijos près de l’Omaku, da... more En 1820, Osifekunde fut capturé au cours d’une embuscade par des pirates Ijos près de l’Omaku, dans l’actuel Nigéria, avant d’être vendu à un négrier brésilien qui l’envoya du port de Bobi (dans le golfe du Biafra) à celui de Rio de Janeiro où il vécut 17 ans comme esclave domestique. Dans cette nouvelle vie, il a probablement été témoin, sans le percevoir pleinement, du passage de la colonie à l'Empire du Brésil, des transformations politiques et des mouvements de contestation sociale qui ont été à l'origine des émeutes civiles de la première moitié du XIXème siècle. Entre temps, il est devenu propriété d’un négociant français qui l’amènera à Paris en 1837. Par le simple fait d’être en France, il devient libre de plein droit. Resté quatre ans à Paris, il travaille comme domestique dans un hôtel garni et dans une maison à Neuilly-sur-Seine. Le hasard fait bientôt de lui un informateur de choix pour M. Marie-Armand D’Avezac Pascal, le vice-président de la société d'Ethnologie et membre de celle de Géographie. Ce dernier a écrit dans le cadre de son étude ethnologique, historique et géographique intitulée "Notice sur le pays et le peuple des Yèbous en Afrique” qui sera publiée en 1845. Les informateurs sont nécessaires aux naturalistes, ethnologues et géographes dont les sociétés savantes se disputent les travaux tout au long du XIXe siècle. l’historien peut trouver dans les documents publiés par ces sociétés savantes des informations sur l’origine des Africains au Brésil et des récits d’esclaves que les archives judiciaires ne permettent pas toujours de les identifier.
Un homme d'Etat brésilien qui, au XIXème siècle, déduit le cours du Niger à partir des interrogat... more Un homme d'Etat brésilien qui, au XIXème siècle, déduit le cours du Niger à partir des interrogatoires qu'il recueille auprès d'esclaves à Salvador de Bahia ; un entomologiste qui, suivant la même méthode, cherche à faire une synthèse de tout ce qui est connu sur l'Afrique Centrale en 1850 et à savoir s'il existe bien des hommes à queue dans les montagnes du Bornou, nous montre sur le vif ses pauvres informateurs eux aussi esclaves à Salvador de Bahia ; un savant bien en cour sous Louis-Philippe qui a recours à un noir d'origine Ijebu que les circonstances font séjourner à Paris pour en déduire ses « Notices du pays et le peuple Yèbous », ce sont là trois exemples d'une histoire élaborée à partir de gens « d'en bas ». C'est aussi l'une des entrées de notre travail de recherches en histoire sociale. Méthodologiquement nous cherchons à comprendre comment les différentes manières d'utiliser les témoignages oraux ainsi que les dialogues croissants, au XIXème siècle, entre l'anthropologie et la géographie ont exercé une influence sur l'histoire.
Conférence réalisé le 11 mars 2015 à la Faculté des Affaires Internationales - Université du Havre.
Le Brésil a été le dernier pays du monde occidental à abolir l’esclavage en 1888. C’est aussi le ... more Le Brésil a été le dernier pays du monde occidental à abolir l’esclavage en 1888. C’est aussi le pays d’Amérique qui a reçu le plus d’esclaves noirs, avec environ 5,5 millions d’Africains déportés entre le XVIe siècle et 1850, soit 40 % de la totalité des déportés. De nombreuses révoltes ont eu lieu débouchant sur la création de communautés d’esclaves en fuite : les quilombos.
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Papers by Aderivaldo Ramos de Santana
Este artigo reconstrói a trajetória de vida do comerciante ijebu Osifekunde, com base nos documentos encontrados nos arquivos brasileiros e franceses, utilizando a metodologia da micro-história, com ênfase na redução de escala, que possibilitou relacionar diversos registros a partir de nomes. O texto está dividido em três momentos: uma parte dedicada ao contexto africano, relacionando-o com a história do tráfico de escravos, principalmente entre os anos 1820 e 1830, pano de fundo que possibilita entender as circunstâncias de sua captura; uma segunda, que se concentra na trajetória pessoal de seu segundo proprietário; e uma última parte, subdivida em duas, em que se demonstra como Osifekunde se tornou um homem livre na França e de que maneira o seu retorno ao Brasil fazia parte de sua estratégia de negociação para garantir a liberdade e obter melhores condições de trabalho.
Palavras-chave: Biografia - África - escravidão - liberdade - Pernambuco oitocentista.
Abstract
This article reconstructs the life trajectory of the Ijebu man named Osifekunde, based on documents found in Brazilian and French archives, using micro-history methodology, with an enphasis on scale reduction, which made it possible to link personal names in several different records. The article is divided in three parts: one dedicated to the African context, relating it to the history of the slave trade, mainly between 1820 and 1830, making it possible to understand the circumstances of his capture; a second part concentrates in the life trajextory of his first owner; and a last part, divided in two, in which it is shown how Osifekunte became a free man in France and how his return to Brazil was part and parcel of a negotiation strategy to garantee his freedom and obtain better work conditions.
Keywords: Biography - Africa - freedom - 19th-Century Pernambuco
Nascido em 1793 na cidade de Makum, do reino Ijebu, no sul da atual Nigéria, Osifekunde era descendente de uma família aristocrática. Seu avô, Ochi-Wo, foi cunhado e superintendente de finanças do rei Ochi-Gade. Seu pai, Ade-Sounlu, foi um importante comerciante, profissão que transmitiu aos filhos em inúmeras viagens mercantes em território ioruba. A mãe, Egght Adê, primeira das sete esposas de Ade-Sounlu, era também uma aparentada do rei.
No final do século XVIII, os guerreiros ijebus resistiram ao domínio do poderoso Império Oió, que se expandia para o sul após reduzir a vassalos a maioria dos seus vizinhos, inclusive os daomeanos. Com o declínio desse império, na primeira metade do século XIX, o território iorubano atravessou um período de guerras e constantes transformações políticas. O reino Ijebu, no entanto, manteve-se inabalado: entre 1820 e 1825 aliou-se a alguns refugiados de Oió, anteriormente seus inimigos, e com os guerreiros da cidade de Ifé para conquistar o controle de um importante centro comercial,o mercado de Apomu, ponto de encontro de mercadejantes de várias regiões. Também obtiveram o domínio das rotas e das atividades comerciais que ligavam o interior do continente africano com o litoral, particularmente com a cidade de Lagos. Os ijebus comercializavam diretamente com os europeus, para quem vendiam escravos e tecidos, os chamados panos da costa.
Este artigo reconstrói a trajetória de vida do comerciante ijebu Osifekunde, com base nos documentos encontrados nos arquivos brasileiros e franceses, utilizando a metodologia da micro-história, com ênfase na redução de escala, que possibilitou relacionar diversos registros a partir de nomes. O texto está dividido em três momentos: uma parte dedicada ao contexto africano, relacionando-o com a história do tráfico de escravos, principalmente entre os anos 1820 e 1830, pano de fundo que possibilita entender as circunstâncias de sua captura; uma segunda, que se concentra na trajetória pessoal de seu segundo proprietário; e uma última parte, subdivida em duas, em que se demonstra como Osifekunde se tornou um homem livre na França e de que maneira o seu retorno ao Brasil fazia parte de sua estratégia de negociação para garantir a liberdade e obter melhores condições de trabalho.
Palavras-chave: Biografia - África - escravidão - liberdade - Pernambuco oitocentista.
Abstract
This article reconstructs the life trajectory of the Ijebu man named Osifekunde, based on documents found in Brazilian and French archives, using micro-history methodology, with an enphasis on scale reduction, which made it possible to link personal names in several different records. The article is divided in three parts: one dedicated to the African context, relating it to the history of the slave trade, mainly between 1820 and 1830, making it possible to understand the circumstances of his capture; a second part concentrates in the life trajextory of his first owner; and a last part, divided in two, in which it is shown how Osifekunte became a free man in France and how his return to Brazil was part and parcel of a negotiation strategy to garantee his freedom and obtain better work conditions.
Keywords: Biography - Africa - freedom - 19th-Century Pernambuco
Nascido em 1793 na cidade de Makum, do reino Ijebu, no sul da atual Nigéria, Osifekunde era descendente de uma família aristocrática. Seu avô, Ochi-Wo, foi cunhado e superintendente de finanças do rei Ochi-Gade. Seu pai, Ade-Sounlu, foi um importante comerciante, profissão que transmitiu aos filhos em inúmeras viagens mercantes em território ioruba. A mãe, Egght Adê, primeira das sete esposas de Ade-Sounlu, era também uma aparentada do rei.
No final do século XVIII, os guerreiros ijebus resistiram ao domínio do poderoso Império Oió, que se expandia para o sul após reduzir a vassalos a maioria dos seus vizinhos, inclusive os daomeanos. Com o declínio desse império, na primeira metade do século XIX, o território iorubano atravessou um período de guerras e constantes transformações políticas. O reino Ijebu, no entanto, manteve-se inabalado: entre 1820 e 1825 aliou-se a alguns refugiados de Oió, anteriormente seus inimigos, e com os guerreiros da cidade de Ifé para conquistar o controle de um importante centro comercial,o mercado de Apomu, ponto de encontro de mercadejantes de várias regiões. Também obtiveram o domínio das rotas e das atividades comerciais que ligavam o interior do continente africano com o litoral, particularmente com a cidade de Lagos. Os ijebus comercializavam diretamente com os europeus, para quem vendiam escravos e tecidos, os chamados panos da costa.
mobilité des migrants et le phénomène des migrations de retour. De plus, les présentations ont fait émerger sur une vision novatrice de l'Atlantique comme un espace de mouvement partagé, atténuant les frontières raciales traditionnelles qui existaient dans l’historiographie des mouvements migratoires atlantiques.
Histoire sociale des populations noires en France.
Jeudi 9h - 12 h, Maison de la Recherche, Paris 8
Depuis plusieurs années, des travaux étudient les formes de racialisation subies, ou revendiquées par certains groupes dans la société française, en particulier par les populations noires. Ils invitent également à analyser les usages sociaux de la notion de race – entendue comme un fait social et non biologique – en France et ils interrogent de façon générale la place à accorder à la « question raciale » dans l’historiographie française. Quelle histoire sociale des populations noires ces travaux permettent-ils de construire ? Dans quelle mesure, la catégorie « populations noires » est-elle pertinente et que peut-elle apporter ? Sur le plan empirique, force est de constater que les groupes susceptibles de s’inscrire dans cette catégorie sont plus ou moins bien connus. Comment dépasser la réduction de cette catégorie à des élites sociales ou militantes souvent bien étroites ? Une place privilégiée sera faite en 2019-2020 aux usages de cette histoire : savants, artistiques, militants,etc., qui se sont multipliés en France depuis quelques années.
Le séminaire est ouvert aux étudiants de master auxquels une validation reposant sur un travail personnel sera proposée, aux doctorants et aux chercheurs.
More recent studies on slave biographies trace out personal itinerary of the captives and their steps to regain their freedom. Among these researches, we would like to emphasize at least three: James Sweet’s study on Domingos Alves, the one by João José Reis, Flavio Gomes, Marcus de Carvalho’s work on José Maria Rufino, known as Alufá Rufino, as well as the study of Rebecca Scott and Jean Hébrard on the family of Rosalie Tinchard. These historians caught different situations of enslavement, and the strategies used by the slaves in order to live « free of their person and property». The reconstruction of the slaves’ paths in life demonstrates their humanity and restores their dignity. We take this methodology as an exemple for accomplishing our doctoral study. However, the quantitative history will not be ignored, as it represents an important piece of information that allowed us to proceed with our study by basing it on the already available stock of knowledge on Trans-Atlantic slave trade and on the slavery in Bazil. Hence, we try to combine the quantitative method with the other approaches, such as microhistory for instance, in order to complete Osifekunde’s biographical
« sketch », beginning with his origins in Ijebu (South-Western part of Yorubaland in the modern Nigeria).
In 1820, at the age of 22, Osifekunde was captured by slave traffickers on the Slave Coast (Bight of Benin). He was then sold to a slave trader who sent him from the port of Bobi (Bight of Biafra) to the port of Rio de Janeiro. He lived for 17 years in Brazil as a house slave. During this new life, he probably witnessed, not completely realizing it, the transition from the colony to the Empire of Brazil, the political transformation and social protest movements that were inspired by civil riots of the first half of the 19th century. In the meantime, he became a property of a French merchant, Jean-Baptiste Navarre, who brought him to Paris. By virtue of the fact that he was in France, he gained his freedom. He stayed in Paris for four years, where he worked as a houseman in a hotel and in a house in Sablonville (Neuilly-sur-Seine). Afterwards, in 1841 he went back to Brazil where, according to Marie-Armand Pascal d’Avezac, he was “recaptured in chains in Rio de Janeiro”. Osifekunde met d’Avezac during his first years in Paris, later becominga key informant for a paper entitled “Histoire sommaire du nègre Ochi-Fêkouè Dê (Osifekunde), natif de Yébou (Ijebu), baptisé au Brésil sous le nom de Joaquim, et connu à Paris sous celui de Joseph,” included as part of d’Avezac’s ethnological, historical and geographic study entitled “Notice sur le pays et le peuple des Yébous en Afrique” published in 1845. Everything we know about Osifekunde’s life is described in d’Avezac’s book, which has often beenquoted by historians and scholars of West Africa in the XIXth century. This document represents the foundations of our research work, that offers some points of interpretation on Osifekunde’s enslavement, on the social context while he was a slave in Brazil, and on his freedom in France. We have also - verified the arguments regarding his return journey and the whole set of the found documents has allowed us to confirm the period of his stay in France. By taking the biography of Osifekunde as a guiding thread of our thesis, we intend to demonstrate, inter alia, how the “scholars” of the XVIIIth century and especially those of the XIXth century were using the testimonies of the slaves and of the freed Africans in order to get a precise idea of the Africa’s from-the-inside, the way of life of its inhabitants and its trade. We consider the Osifekunde’s story as a source for history of slavery. He was an Atlantic figure, a “cultural Centaur,” an African who sought to adapt among Brazilians and Europeans. Was a slave in Brazil, where he had a son, lived and worked as a free man in France, where he served as an object of historical and anthropological studies. Through its trajectory of life, we can understand issues like slavery of the African elite, the period of civil wars in West Africa, cultural identity, domesticity and manumission, among other important topics.
1839, le géographe Marie-Armand d’Avezac, qui publiera un ouvrage sur le peuple Ijebu, donnant ainsi une voix à Osifekunde. Parallèlement, Napoléon Gabriel Bez et Marie Deshayes, libraires à Recife, cachent derrière la vente de livres leur implication dans le trafic d’esclaves entre Benguela et Recife. Une connexion fascinante se dévoile : Bez, autrefois commis de Jean-Baptiste Navarre, l’ancien maître d’Osifekunde, l’aurait probablement rencontré au Brésil. Ces destins croisés révèlent comment les livres et le commerce d’esclaves s’entremêlent dans les paradoxes de l’esclavage et de la liberté au XIXe siècle.
Napoléon Gabriel Bez, born in Embrun in 1811, came to Brazil in the 1830s with his French wife, Marie Deshayes. They established the Bez Deshayes & Cie bookstore in Recife, initially focused on cultural exchange through books but later expanding into the illegal slave trade. Their operations spanned Angola, Cape Verde, and northeastern Brazil in the 1840s and 1850s, exposing intricate networks transporting African captives to South America during the abolition era.
This research employs microhistory, social history, and Atlantic history methodologies to study individuals involved in the Brazilian slave trade. It also pioneers the analysis of women's roles in the transatlantic slave trade, highlighting key figures like Maria de Jesus in Loanda's port and Marie Deshayes involved in the internal slave trade from Recife to Rio de Janeiro.
Through microhistory, global history, and connected history, this project enhances our understanding of the transatlantic slave trade. It delves into individual cases, revealing critical nuances within the global narrative. Global and connected historical perspectives provide a framework for comprehending complex interactions among transatlantic societies and their actors.
This research illuminates the dark world of clandestine slave trading, emphasizing the intricate dynamics of the trade, cultural exchange, and the often-neglected roles of women in this somber chapter of history.
Projection suivie d’une rencontre : 127 ans après l’abolition de l’esclavage, le Brésil est-il vraiment devenu le pays du métissage ? Alors que l’émancipation des afro-descendants, la valorisation de leur culture et leur représentativité pose encore question, comment analyser leur place actuelle dans la société brésilienne ?
Rencontre avec la réalisatrice Claudia Mattos et Aderivaldo Ramos de Santana (Historien/Université Paris 4).
Each image of Kilombo is a rescue of African religiousness, full of symbols, understood only by those who have spent long periods of time in Brazil. In fact, the book of Maria Daniel Balcazar is a tribute to the millions of enslaved Africans, their struggles and achievements, and is a careful, documented work immortalizing African customs and traditions. It includes images that reflect the importance of oral history, the communicative strength of an ancestral heritage, and capture the fury of life in addition to the action.
In contemplating these photographs, it is possible to forget - for a few moments - institutional racism, an inheritance of slavery, which so badly afflicts Brazilian society. In contemplating these images, conflicts are ignored and the beauty of the side by side existence between the sacred and the profane is admired."