Antonio Leandro Barros
Pós-doutorando em História da Arte pela Unifesp, bolsista FAPESP, com projeto sobre as relações entre Astrologia e História da Arte a partir de Aby Wabrurg e Fernando Pessoa. Membro do Grupo de Pesquisa "Warburg e Renascimentos".
Interessado na noção de "expressão" em favor de uma História da Arte transversal a vários campos do saber: artes, letras, história, filosofia, sociologia, antropologia, religiosidades, psicologia, meio ambiente, política, etc.
Doutor em História pela Unicamp com tese sobre a história da arte em Plínio, o Velho, como interlocutora de questões contemporâneas da História da Arte. Mestre em História da Arte e bacharel em Artes pela UERJ.
Supervisors: Prof. Dr. Cassio da Silva Fernandes
Interessado na noção de "expressão" em favor de uma História da Arte transversal a vários campos do saber: artes, letras, história, filosofia, sociologia, antropologia, religiosidades, psicologia, meio ambiente, política, etc.
Doutor em História pela Unicamp com tese sobre a história da arte em Plínio, o Velho, como interlocutora de questões contemporâneas da História da Arte. Mestre em História da Arte e bacharel em Artes pela UERJ.
Supervisors: Prof. Dr. Cassio da Silva Fernandes
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Papers by Antonio Leandro Barros
Palavras-chave: Aby Warburg; Fernando Pessoa; Astrologia; Expressão.
Abstract
This article presents a dialectic between the historiographical production of Aby Warburg and a poetic production of Fernando Pessoa based on an unusual theme: the diligent study of astrology in the midst of their artistic research. Furthermore, both consider changing the parameter of aestheticism and representation in favour of the study of art as a science of expression. It is therefore of interest here to reassess the concrete relevance of astrology, with its celestial, terrestrial and, above all, graphic landscapes for this epistemological turn.
Keywords: Aby Warburg; Fernando Pessoa; Astrology; Expression.
Resumen
Este artículo presenta una dialéctica entre la producción historiográfica de Aby Warburg y la producción poética de Fernando Pessoa a partir de un tema inusual que los une: el estudio diligente de la astrología en medio de su investigación artística. Además, ambos plantean cambiar el parámetro del esteticismo y la representación a favor del estudio del arte como ciencia de la expresión. Interesa, pues, aquí revalorizar la relevancia concreta de la astrología, con sus paisajes celestes, terrestres y, sobre todo, gráficos para este giro epistemológico.
Palabras-clave: Aby Warburg; Fernando Pessoa; Astrología; Expresíon.
não apenas das representações de lugares em si mesmos, mas sobretudo
a experiência de orientação, deslocamento e posicionamento. Uma
rede de espacialidade tanto objetiva quanto afetiva, fundamental para
a própria consciência do ser. O que levou Robert Tally a parafrasear
Descartes: “Mapeio, logo sou.” Paralelamente, estudiosos de literatura
como Giambattista Vico, Erich Auerbach e Bruno Snell posicionaram
Homero e seus poemas como os pontos iniciais do desenvolvimento
do modo de pensar ocidental, dessa forma específica de consciência
do ser. Ao mesmo tempo, o ponto mais afastado e o ponto original.
Assim, neste artigo, propomos então dois movimentos. O primeiro,
na introdução, é relacionar as duas correntes críticas mencionadas
a partir das próprias questões espaciais que encontramos na Ilíada
e na Odisseia, mas também da questão cartográfica que perpassa a
chamada Questão Homérica: o debate sobre a existência ou não do
Homero histórico. O segundo é propriamente o esforço do artigo: uma vez elaborada uma rede de espacialidade que envolve Homero e seus
poemas, passamos a percorrer a efetiva cartografia que as diferentes
escolas de filosofia antiga acabaram por diagramar nas suas relações
com Homero. Heráclito sugere espantar o poeta aos golpes, Xenófanes
parece que o perseguia pelos caminhos, Platão o teria expulsado de sua
cidade ideal, ao passo que Aristóteles lhe teria devolvido a recepção,
com os epicuristas Homero foi acomodado numa vila, e, finalmente,
com os estoicos, ele foi estimulado à circulação cosmopolita.
historiográfica anticapitalista.
O que interessa a esta comunicação, em específico, é que, para tal, Vico deliberada e insistentemente confronta-se contra as escolas helenísticas que buscaram reverter totalmente a transcendência. Em particular, ele acusa os estóicos de terem elaborado seu sistema filosófico como uma “cadeia surda”. Sendo assim, em observação ao tema deste XII EHA, a proposta é pensar essa crítica de Vico à luz das recentes descobertas arqueológicas que reascendem o exame dos debates de teoria artística na antiguidade. Nos referimos ao tratado “Sobre a Poesia”, de Philodemus de Gadara, só encontrado dez anos após a morte de Vico. Nele se relatam os argumentos e confrontos das antigas escolas de filosofia quanto às questões de arte entre o tempo de Aristóteles e de Horácio. Nesse sentido, propomos indicar o que agora se sabe sobre esse debate, com ênfase na teoria desenvolvida pelo estoico Crates de Mallus. Ele também elaborou uma teoria bastante inovadora para a época, contrariando às regulações artísticas e resignificando o problema do juízo técnico do conteúdo: paradoxalmente, o ouvido seria o que determinaria o julgamento de um bom poema, porém não de acordo com a sua composição, mas considerando um som outro, “que sobrevêm” desde o poema, e que seria algo como um princípio imanente deste.
Por fim, para além desta pequena revisão do estado do debate na antiguidade e da apreciação mais completa da teoria de Crates, interessa pensar esses dois pontos de vista crítico-histórico, de Crates e de Vico, em relação ao trabalho de outro estoico: o silêncio e a surdez na mais antiga história da arte ocidental conhecida, os últimos livros da História Natural, de Plínio, o Velho.
O presente artigo, em paralelo ao argumento wildiano, vem buscar reflexos dessa “nação de críticos de arte” em autores helenos que não tiverem relação íntima ou interesse especial pelas produções artísticas de seus tempos. Essa comunicação apresenta como objetos de estudo duas
obras: o Corpus hippocratium, conjunto textual atribuído a Hipócrates de Cós, e a Oneirokritica, compêndio de Artemidoro de Daldis mais conhecido pelo título latinizado de “A Interpretação dos Sonhos”. O interesse em tais obras decorre das afirmações de seus respectivos autores de que suas atividades também seriam “artes”, ou seja, a “arte da medicina” e a “arte da leitura dos sonhos”.
Palavras-chave: Aby Warburg; Fernando Pessoa; Astrologia; Expressão.
Abstract
This article presents a dialectic between the historiographical production of Aby Warburg and a poetic production of Fernando Pessoa based on an unusual theme: the diligent study of astrology in the midst of their artistic research. Furthermore, both consider changing the parameter of aestheticism and representation in favour of the study of art as a science of expression. It is therefore of interest here to reassess the concrete relevance of astrology, with its celestial, terrestrial and, above all, graphic landscapes for this epistemological turn.
Keywords: Aby Warburg; Fernando Pessoa; Astrology; Expression.
Resumen
Este artículo presenta una dialéctica entre la producción historiográfica de Aby Warburg y la producción poética de Fernando Pessoa a partir de un tema inusual que los une: el estudio diligente de la astrología en medio de su investigación artística. Además, ambos plantean cambiar el parámetro del esteticismo y la representación a favor del estudio del arte como ciencia de la expresión. Interesa, pues, aquí revalorizar la relevancia concreta de la astrología, con sus paisajes celestes, terrestres y, sobre todo, gráficos para este giro epistemológico.
Palabras-clave: Aby Warburg; Fernando Pessoa; Astrología; Expresíon.
não apenas das representações de lugares em si mesmos, mas sobretudo
a experiência de orientação, deslocamento e posicionamento. Uma
rede de espacialidade tanto objetiva quanto afetiva, fundamental para
a própria consciência do ser. O que levou Robert Tally a parafrasear
Descartes: “Mapeio, logo sou.” Paralelamente, estudiosos de literatura
como Giambattista Vico, Erich Auerbach e Bruno Snell posicionaram
Homero e seus poemas como os pontos iniciais do desenvolvimento
do modo de pensar ocidental, dessa forma específica de consciência
do ser. Ao mesmo tempo, o ponto mais afastado e o ponto original.
Assim, neste artigo, propomos então dois movimentos. O primeiro,
na introdução, é relacionar as duas correntes críticas mencionadas
a partir das próprias questões espaciais que encontramos na Ilíada
e na Odisseia, mas também da questão cartográfica que perpassa a
chamada Questão Homérica: o debate sobre a existência ou não do
Homero histórico. O segundo é propriamente o esforço do artigo: uma vez elaborada uma rede de espacialidade que envolve Homero e seus
poemas, passamos a percorrer a efetiva cartografia que as diferentes
escolas de filosofia antiga acabaram por diagramar nas suas relações
com Homero. Heráclito sugere espantar o poeta aos golpes, Xenófanes
parece que o perseguia pelos caminhos, Platão o teria expulsado de sua
cidade ideal, ao passo que Aristóteles lhe teria devolvido a recepção,
com os epicuristas Homero foi acomodado numa vila, e, finalmente,
com os estoicos, ele foi estimulado à circulação cosmopolita.
historiográfica anticapitalista.
O que interessa a esta comunicação, em específico, é que, para tal, Vico deliberada e insistentemente confronta-se contra as escolas helenísticas que buscaram reverter totalmente a transcendência. Em particular, ele acusa os estóicos de terem elaborado seu sistema filosófico como uma “cadeia surda”. Sendo assim, em observação ao tema deste XII EHA, a proposta é pensar essa crítica de Vico à luz das recentes descobertas arqueológicas que reascendem o exame dos debates de teoria artística na antiguidade. Nos referimos ao tratado “Sobre a Poesia”, de Philodemus de Gadara, só encontrado dez anos após a morte de Vico. Nele se relatam os argumentos e confrontos das antigas escolas de filosofia quanto às questões de arte entre o tempo de Aristóteles e de Horácio. Nesse sentido, propomos indicar o que agora se sabe sobre esse debate, com ênfase na teoria desenvolvida pelo estoico Crates de Mallus. Ele também elaborou uma teoria bastante inovadora para a época, contrariando às regulações artísticas e resignificando o problema do juízo técnico do conteúdo: paradoxalmente, o ouvido seria o que determinaria o julgamento de um bom poema, porém não de acordo com a sua composição, mas considerando um som outro, “que sobrevêm” desde o poema, e que seria algo como um princípio imanente deste.
Por fim, para além desta pequena revisão do estado do debate na antiguidade e da apreciação mais completa da teoria de Crates, interessa pensar esses dois pontos de vista crítico-histórico, de Crates e de Vico, em relação ao trabalho de outro estoico: o silêncio e a surdez na mais antiga história da arte ocidental conhecida, os últimos livros da História Natural, de Plínio, o Velho.
O presente artigo, em paralelo ao argumento wildiano, vem buscar reflexos dessa “nação de críticos de arte” em autores helenos que não tiverem relação íntima ou interesse especial pelas produções artísticas de seus tempos. Essa comunicação apresenta como objetos de estudo duas
obras: o Corpus hippocratium, conjunto textual atribuído a Hipócrates de Cós, e a Oneirokritica, compêndio de Artemidoro de Daldis mais conhecido pelo título latinizado de “A Interpretação dos Sonhos”. O interesse em tais obras decorre das afirmações de seus respectivos autores de que suas atividades também seriam “artes”, ou seja, a “arte da medicina” e a “arte da leitura dos sonhos”.
da Arte e formação da subjetividade moderna, ou o “momento cartesiano” de que falava Foucault. É nesse sentido que, através das ressignificações de Hadot e Foucault para a filosofia antiga, propusemos revisitar as formulações de arte na Antiguidade. Questionando se não haveria uma “estética” da techne antes da arte, isto é, das obras no tempo da subjetivação antes do tempo da subjetividade e enquanto processo em vez de objeto. E, evidentemente, nos interessava sobretudo investigar a relevância das anedotas da H.N. em meio a essa possibilidade. De modo que nesse sentido apresentamos, por fim, uma outra interlocução possível a partir das leituras de um Plínio como personalidade literária e de outras evocações plinianas da parte de Diderot comentando as pinturas de Chardin. O que nos importa nesse capítulo é levantar a noção de não-visto (ou seja nem o visível nem o invisível) como elemento crítico dessa dupla questão, e relacioná-lo a um problema de superfície artística reconhecível e passível de fundamentação na H.N.
Na primeira parte nos pareceu importante a possibilidade de se reconhecer uma construção crítica, ao menos similar à dos estoicos mais célebres, na própria composição da enciclopédia. Trata-se do mapeamento dos elementos que configuram a estrutura desse anedotar artístico passando o olhar para além do cânone do Livro 35 e indo até os limites dos livros de mineralogia. Em “O Labirinto da Superfície” nos concentramos na noção de "claritas" e nas suas correspondências e
consequências críticas, percorrendo diferentes comentários ao longo dos últimos livros da H.N. bem como registrando suas repercussões e fortuna crítica ao longo do tempo. Sobretudo, nos interessava a figura do “espelho distorcivo” que Plínio apresenta – revertendo os termos propostos no platonismo. E, em comparação com a física da Natureza Providente e artística da H.N., nos importava indicar essa "claritas" como efeito artístico de superfície.
Na segunda parte, enfim, nos dedicamos inteiramente à análise e comentários das anedotas pictóricas do Livro 35 conforme esses efeitos de superfície. Por óbvio, não revisitamos todas elas, mas sem nenhum exagero é possível dizer que introduzimos ou circunscrevemos não só as principais como um bom número do total. Em “A História da Superfície” analisamos alguns conjuntos de anedotas nos concentrando também nas
implicações textuais desses conjuntos a fim de vincular suas questões artísticas com a questão crítica da superfície estoica e pliniana. Mesmo não nos interessando propriamente pela lógica de identificações formais paralelas, nesse longo percurso nos esforçamos por oferecer a apresentação mais clara e completa possível mencionando as análises das anedotas junto aos registros de nossas pesquisas de campo com as obras de arte antiga. Em meio a isso nos permitimos duas elaborações: reavaliar o sentido da epistemologia da H.N. em seus processos de codificação e decodificação, e pôr em teste pela arte da pintura a definição estoica (conforme Posidônio) da própria superfície.
Na última parte do Capítulo 3, "O Vazio da Superfície" completamos essa historiografia de superfície analisando as anedotas que insistentemente restam do lado de fora do cânone pliniano: a das obras feitas por mulheres. A nós parecia simplesmente natural que uma história da arte ela mesma relegada e descartada mantivesse como em segredo suas verdadeiras âncoras ou mesmo heroínas não dentre os nomes luminosos, pomposos e afamados, mas dentre aquelas que também seguiram esquecidas, depreciadas e feitas “naturalmente” descartáveis da produção artística. Nesse sentido, e através de intervenções cruciais feministas e contra a subalternidade, buscamos nessas anedotas o sentido mais profundo do que a própria história da pintura antiga poderia nos oferecer: a explanação do anedotar que a compõe estruturalmente, e a “imagem” da personalidade artística ou literária do próprio Plínio, o Velho. Trata-se, em suma, menos de ler o texto de Plínio por uma chave outra, estoica, e mais de problematizar essa chave pelo texto a H.N.
Da maneira como melhor pudemos, no último capítulo ainda apresentamos como o estado atual da História da Arte deve ser capaz de estabelecer novos parâmetros de releitura do conjunto das anedotas de Plínio, e como também uma releitura dessas mesmas anedotas
pode ser capaz de estabelecer novas possibilidades para o atual estado da História da Arte. Na sua primeira parte revisitamos o problema da formação da nossa disciplina segundo a perspectiva do seu fim, conforme o trabalho de Hans Belting (O Fim da História da Arte). Ao
fazê-lo ressaltando o descarte da H.N., indicamos que para essa disciplina se constituir como uma epistemologia fechada (um juízo acadêmico) ela precisou manter do lado de fora, necessariamente, toda epistemologia aberta e principalmente a da história da arte da H.N. Daí
o sentido último não só da Paradoxografia que intitula a tese, mas também de “História Natural da História da Arte”.