Se bem se lembram, estava eu a no postanço nocturno, quando recebi a notícia da morte de Jacko.
Retomo agora.
Hoje, (ou seja, há dois dias), excepcionalmente em casa à hora do almoço, vi uns minutos de telejornal que são uma parábola do meu dia a dia, seguido de um trailler da sub-economia nacional.
Passo a explicar, como agora se diz, ajeitando o falante as nádegas na cadeira.
Vi um directo de Porrais (?!), concelho de Murça, onde a seca da Oliveira, desculpem, oliveira é preocupante. E a jornalista perguntava ao agricultor desdentado e com barba de três quinze dias:
— Vejo que, para já, a ramagem está seca. Pode afectar toda a árvore?
(Não vê nada. Já tinham tudo combinado, para não obrigar o homem com notórias dificuldades de dicção a ter que falar e nós a aguentarmos por mais de uma frase os seus olhos piscos e desanimados).
Resposta filosófica do olivicultor transmontano:
—Mas ainda há esperança na poda.
É exactamente o que me acontece! Eu, Oliveira, tenho estado a sofrer uma enorme e prolongada seca que já me está a chamuscar as folhas e só há esperança na poda. Com ou sem “h”. A seguir ao "p", obviamente.
Isto sim, é que é uma parábola! Mais certeira do que as da Bíblia. De qualquer modo, das da Bíblia não se percebe patavina — e anda a humanidade em guerras exegéticas e matanças de inocentes há mais de 2000 anos por causa dos apontamentos com as soluções que Cristo e os amigos deviam cá ter deixado. É sempre assim, há quem não empreste os apontamentos ao pessoal que, só por mero acaso, chegou atrasado, o que é uma porra (já que falamos de Porrais).
Para completar a seca das oliveiras, temos a polémica dos azeites. Há hipótese de o governo autorizar a mistura do azeite com óleo o que irá fazer correr muita água. Mais ainda: anuncia-se o regresso, pasmem!, do GALHETEIRO! Mas já se percebeu, pelo estudo sociológico de cinco minutos apresentado, que também a questão galheteiro vai dar azo a encarniçadas (ou oleosas) hostilidades.
Quer dizer, não só vamos assistir a prós e contras entre azeiteiros e governantes com os azeites, como vamos passar a ter, para além dos restaurantes para fumadores e para não fumadores, restaurantes de galheteiro ou de garrafinha de azeite. Está o caldo entornado.
Eu não vejo é distinção oficial entre restaurantes com ou sem televisão. E sobre esta matéria, como dizem os políticos quando estão irritados e querem disfarçar, sobre esta matéria, repito, eu até tinha uma proposta levemente nazi, mas fica para a próxima.
Voltando ao telejornal.
Ainda eu não tinha recuperado o fôlego de tanta revelação em tão curto espaço de tempo, eis-nos numa reportagem sobre imigrantes explorados.
Diz-nos a repórter expedita (e já vão ver quanto o é) que o Alentejo está a ser invadido por um novo tipo de imigração, diz-nos a repórter expedita: tailandeses. Nada menos que 400. Imaginem 400 tailandeses por esse Alentejo fora! Não se pode romper! Ainda por cima, não falam português, nem inglês, nem francês, nenhuma língua cristã. Nem quero pensar na confusão que não irá por aquele ali. Se calhar é melhor este verão pensarmos em chegar ao All-espera um bocadinho-garve de avião. Ou por mar.
Mas meus amigos, como diria o contador de histórias Saraiva, esta reportagem já tinha começado mal. A jornalista (que deve ter tido um estágio trinta vezes mais curto do que o vinho que bebi há uns posts atrás) abordara a pessoa errada. Perguntou ela a uma moça com ar muito fresco, apanhada a remexer vagamente na terra:
— Há quanto tempo trabalha aqui?
— Una, diz a loira espetando o indicador.
— Um mês?
— No. Una, insistia a imigrante.
— Uma semana?
— No. Una.
— Um dia?
— Si.
Má escolha. Rápida mudança de entrevistado.
Uma reportagem depois, fiquei a saber que a aposta agrícola deverá ser no mirtilo. Este fruto silvestre dá um trabalhão, porque é pequenino e caprichoso: não pode ser apanhado com muito calor nem com muito frio, tem que ser de manhã muito cedo ou de noite um bocado tarde, acho que para o mirtilo a perspectiva cronológica é indiferente, mas tem que ser no Verão, evitando as orvalhadas de S. João, etc, etc, enfim, é um fruto de trato pessoal muito difícil e com grandes carências afectivas. Como eu o compreendo! Se já gostava de mirtilos, agora passarei a comê-los com redobrada empatia.
Embora seja vendido a 40 euros o kilo, o difícil mirtilo dá muito pouco dinheiro a quem o cultiva, cabendo os chorudos lucros de mais de 1000% aos intermediários, diz uma moça escorreita e reivindicativa da Mirtilusa de Sever do Vouga. É o costume. Poderia aqui dar outros exemplos do género, mas alguns, como as trufas, são consideradas drogas duras e depois posso ter chatices.
O problema com o mirtilo é não sermos nós a fazer a distribuição (é como as editoras com os livros) para além de em Portugal sermos pouco mirtilófilos. Mas, como diz o filósofo supracitado, ainda há esperança na poda. E assim, começa a haver uns chefs portugueses modernos que apostam em tartes, recheios, foie gras, sushi e por ai adiante, tudo com mirtilos.
Definitivamente, urge ir buscar os tailandeses ao Alentejo e fazer cooperativas de mirtilo em Sever do Vouga, com romenos e polacos a fazerem a distribuição europeia, enquanto, simultaneamente, traçamos um plano quinquenal que imponha a nouvelle cuisine mirtilosa nas cantinas das nossas escolas.
Os nossos telejornais são uma lição de vida. E devida.
Retomo agora.
Hoje, (ou seja, há dois dias), excepcionalmente em casa à hora do almoço, vi uns minutos de telejornal que são uma parábola do meu dia a dia, seguido de um trailler da sub-economia nacional.
Passo a explicar, como agora se diz, ajeitando o falante as nádegas na cadeira.
Vi um directo de Porrais (?!), concelho de Murça, onde a seca da Oliveira, desculpem, oliveira é preocupante. E a jornalista perguntava ao agricultor desdentado e com barba de três quinze dias:
— Vejo que, para já, a ramagem está seca. Pode afectar toda a árvore?
(Não vê nada. Já tinham tudo combinado, para não obrigar o homem com notórias dificuldades de dicção a ter que falar e nós a aguentarmos por mais de uma frase os seus olhos piscos e desanimados).
Resposta filosófica do olivicultor transmontano:
—Mas ainda há esperança na poda.
É exactamente o que me acontece! Eu, Oliveira, tenho estado a sofrer uma enorme e prolongada seca que já me está a chamuscar as folhas e só há esperança na poda. Com ou sem “h”. A seguir ao "p", obviamente.
Isto sim, é que é uma parábola! Mais certeira do que as da Bíblia. De qualquer modo, das da Bíblia não se percebe patavina — e anda a humanidade em guerras exegéticas e matanças de inocentes há mais de 2000 anos por causa dos apontamentos com as soluções que Cristo e os amigos deviam cá ter deixado. É sempre assim, há quem não empreste os apontamentos ao pessoal que, só por mero acaso, chegou atrasado, o que é uma porra (já que falamos de Porrais).
Para completar a seca das oliveiras, temos a polémica dos azeites. Há hipótese de o governo autorizar a mistura do azeite com óleo o que irá fazer correr muita água. Mais ainda: anuncia-se o regresso, pasmem!, do GALHETEIRO! Mas já se percebeu, pelo estudo sociológico de cinco minutos apresentado, que também a questão galheteiro vai dar azo a encarniçadas (ou oleosas) hostilidades.
Quer dizer, não só vamos assistir a prós e contras entre azeiteiros e governantes com os azeites, como vamos passar a ter, para além dos restaurantes para fumadores e para não fumadores, restaurantes de galheteiro ou de garrafinha de azeite. Está o caldo entornado.
Eu não vejo é distinção oficial entre restaurantes com ou sem televisão. E sobre esta matéria, como dizem os políticos quando estão irritados e querem disfarçar, sobre esta matéria, repito, eu até tinha uma proposta levemente nazi, mas fica para a próxima.
Voltando ao telejornal.
Ainda eu não tinha recuperado o fôlego de tanta revelação em tão curto espaço de tempo, eis-nos numa reportagem sobre imigrantes explorados.
Diz-nos a repórter expedita (e já vão ver quanto o é) que o Alentejo está a ser invadido por um novo tipo de imigração, diz-nos a repórter expedita: tailandeses. Nada menos que 400. Imaginem 400 tailandeses por esse Alentejo fora! Não se pode romper! Ainda por cima, não falam português, nem inglês, nem francês, nenhuma língua cristã. Nem quero pensar na confusão que não irá por aquele ali. Se calhar é melhor este verão pensarmos em chegar ao All-espera um bocadinho-garve de avião. Ou por mar.
Mas meus amigos, como diria o contador de histórias Saraiva, esta reportagem já tinha começado mal. A jornalista (que deve ter tido um estágio trinta vezes mais curto do que o vinho que bebi há uns posts atrás) abordara a pessoa errada. Perguntou ela a uma moça com ar muito fresco, apanhada a remexer vagamente na terra:
— Há quanto tempo trabalha aqui?
— Una, diz a loira espetando o indicador.
— Um mês?
— No. Una, insistia a imigrante.
— Uma semana?
— No. Una.
— Um dia?
— Si.
Má escolha. Rápida mudança de entrevistado.
Uma reportagem depois, fiquei a saber que a aposta agrícola deverá ser no mirtilo. Este fruto silvestre dá um trabalhão, porque é pequenino e caprichoso: não pode ser apanhado com muito calor nem com muito frio, tem que ser de manhã muito cedo ou de noite um bocado tarde, acho que para o mirtilo a perspectiva cronológica é indiferente, mas tem que ser no Verão, evitando as orvalhadas de S. João, etc, etc, enfim, é um fruto de trato pessoal muito difícil e com grandes carências afectivas. Como eu o compreendo! Se já gostava de mirtilos, agora passarei a comê-los com redobrada empatia.
Embora seja vendido a 40 euros o kilo, o difícil mirtilo dá muito pouco dinheiro a quem o cultiva, cabendo os chorudos lucros de mais de 1000% aos intermediários, diz uma moça escorreita e reivindicativa da Mirtilusa de Sever do Vouga. É o costume. Poderia aqui dar outros exemplos do género, mas alguns, como as trufas, são consideradas drogas duras e depois posso ter chatices.
O problema com o mirtilo é não sermos nós a fazer a distribuição (é como as editoras com os livros) para além de em Portugal sermos pouco mirtilófilos. Mas, como diz o filósofo supracitado, ainda há esperança na poda. E assim, começa a haver uns chefs portugueses modernos que apostam em tartes, recheios, foie gras, sushi e por ai adiante, tudo com mirtilos.
Definitivamente, urge ir buscar os tailandeses ao Alentejo e fazer cooperativas de mirtilo em Sever do Vouga, com romenos e polacos a fazerem a distribuição europeia, enquanto, simultaneamente, traçamos um plano quinquenal que imponha a nouvelle cuisine mirtilosa nas cantinas das nossas escolas.
Os nossos telejornais são uma lição de vida. E devida.