31.7.06

Eça de Queirós... Portugal Perdido


Portugal está perdido.
O país perdeu a inteligência e a consciência moral.
Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada.
Os carácteres corrompidos.
A prática da vida tem por única direcção a conveniência.
Não há princípio que não seja desmentido.
Não há instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita.
Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.
Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.
Alguns agiotas felizes exploram.
A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.
O povo está na miséria.
Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.
O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.
Diz-se por toda a parte, o país está perdido.

Eça de Queirós
Lisboa, 1871

(Este texto foi-me endereçado via e-mail, por um grande amigo sempre atento.)

Quanto à imagem... entendam-na livremente, é "apenas" uma foto minha.

Ai Eça se imaginasses como estás tão presente, mesmo na distância do tempo!

19.7.06

Alpedrinha - O Prometido é Devido

Recebi, no meu humilde Blog, um comentário de um desconhecido, ao que parece alguém de Alpedrinha preocupado com o património arquitectónico da Vila, mas que ainda assim prefere identificar-se através de um pseudónimo, que não reproduzo por razões de vocabulário a que o meu blog não está habituado, nem quero habituar.
Respondi ao dito comentador, educadamente, pelo respeito que tenho por Alpedrinha, e comprometi-me a inteirar-me do assunto logo que possível - cá estou a cumprir!

No passado fim de semana estive em Alpedrinha e pude fotografar novamente a Capela de Stº António, para se poder facilmente comparar.

As fotos estão datadas. Não precisam por isso de mais legenda.


A Capela de Stº António foi pintada, ao que apurei, apenas o exterior, e contra factos não há argumentos: há uma pequena faixa, bem visível na foto, que foi indevidamente pintada de branco; não é gritante, mas é um facto incontornável.
Se se tratar de cal, o tempo vai reparar o erro, porque a cal vai cair naturalmente do granito, se estivermos a falar de tinta, nada mais fácil, é só limpar... há máquinas adequadas para tal procedimento, sem qualquer problema de maior.
Esteticamente prefiro a pintura original, a da foto mais antiga, mas um erro não é mais do que isso, e neste caso facilmente reparável. Quem teve a iniciativa louvável de pintar, melhorando assim o aspecto do monumento, terá com toda a certeza também a capacidade de reconhecer o lapso e emendá-lo, senão, como digo anteriormente, o nosso amigo tempo encarregar-se-á de o emendar.... Antes isto do que terem rebocado com cimento ou algum acto mais irreversível, o que não é o caso.
Errar é humano, vamos crucificar alguém por isso??? Quem é que nunca errou???
Já vi, pelo país e fora dele, erros mais crassos e irreversíveis do que este. E se fosse verdadeiramente chocante talvez fosse a primeira a apontar o dedo...
Foto de Agosto de 2004

Foto de Julho de 2006
Mas as fotos mostram mais do que isso, já gora, aproveito o novo artigo.
O monumento em frente parece que está a ser recuperado e melhorado. Faltam as grades de ferro, que a falta de civismo quase destruiu... Vamos ver se depois da obra acabada há brio e não se destrói o que é de todos.
Neste mesmo largo pude constatar, mas nem me atrevi a fotografar, como foi destruída propriedade privada, com um veículo automóvel, falo de uma parte de um "gradeamento" em tijoleira, que foi derrubado e ali ficou sem que alguém assumisse o incidente...
O proprietário terá que reparar o erro de alguém muito pouco honesto, e nem sei como, pois aquela tijoleira já nem deve ser fabricada, o que implica tirar toda a tojoleira e colocar outra nova, ou um gradeamento de outro material adequado (vai pagar o inocente, não o culpado, o que não me parece nada justo).
Por agora termino, cumpri o prometido e até avancei mais do que tinha planeado.

18.7.06

Viagem Oriente-Alpedrinha

O PREÇO DO PROGRESSO

No fim de semana passado (7-8-9-de Julho) fui a Alpedrinha, mas de comboio.
Não fazia esta viagem de comboio há mais de 13 ou 14 anos...
Desde que se tem carro deixamos de andar de transportes públicos não é?
Bem, tinha saudades de voltar a fazer esta viagem, gozar a paisagem, ir sentada sem as preocupações do excesso de velocidade, das ultrapassagens, dos acidentes aqui e ali, das filas intermináveis para sair de Lisboa, ou voltar, na 2ª Circular, principalmente. Tinha saudades do Tejo paralelo à linha, a acompanhar-nos, do Castelo de Almourol, das Portas de Ródão, das estações típicas, de me levantar e poder ir até à janela sentir o ventinho na face, ir ao WC quando me apetecesse...
Fiz este percurso milhares de vezes, e não estou a exagerar!!!!
Vim de Alpedrinha com o 12º ano (obtido na escola Secundária do Fundão), para a Faculdade (ainda não tinha 18 anos)... e com a vantagem de ser filha de ferroviário as viagens que antes eram apenas de visita à família que vive em Lisboa, ou de férias, mas que eram muitas por serem "económicas" (a maioria gratuitas, até um limite de KM anual), passaram então a ser muito mais frequentes, durante quatro anos de licenciatura, mais dois de profissionalizaçao, fim-de-semana sim, fim-de-semana-não lá fazia eu esta viagem, na altura cinco ou seis horas, quando não eram mais, para chegar a Queluz (à casa da minha tia Graça onde vivia).
Bem, estava eu então nas saudades que tinha de voltar a gozar a viagem de comboio, o sossego dessas viagens, onde se lia, estudava, dormia, naqueles compartimentos de porta de correr, ou nas carruagens infindáveis, onde se misturavam odores de queijo, vinho, suor, fruta, e eu sei lá que mais... bagagem de toda a gama e feitio, as caixas de cartão e de madeira com fruta, as malas, as mochilas, os cestos, as cestas, os garrafões...
Era ali que encontrávamos, às vezes, os mesmos companheiros de viagem, e se conversava de tudo e mais alguma coisa!!! Porque o tempo sobrava...
Entravam e saíam magalas nas estações do costume, fardados, orgulhosos da sua posição, barulhentos, com idas ao bar constantes, para mais uma "bjeca".
E eu fui até ao Oriente, julgando que ia matar saudades da viagem Stª Apolónia-Alpedrinha dos meus tempos de adolescente!!!
Fui de máquina digital em riste, para registar novamente, neste novo formato, as paisagens que trazia na memória...
Mas o progresso trouxe-me uma realidade bem diferente!
Um comboio eléctrico, com um interior moderno, totalmente diferente da memória guardada, com ar condicionado, sem hipótese de abrir uma janela, quanto mais a porta!!!! Sem possibilidade de fumar um cigarrito, porque é proíbido, e desilusão das desilusões.... como tirar fotos?????????? E onde estava o espaço para a bagagem??? Umas mini-prateleiras, com fundo em vidro, onde dificilmente cabe o saco do farnel!!!

Lamentei a desilusão, fui toda a viagem a "curtir" as saudades das outras viagens de "baú" e as fotos que tirei são uma frustração sem tamanho!!!
Pois se não pude abrir uma janela.... como resolver o problema do reflexo do vidro??? Nem sem flash!!!
Deixo aqui algumas fotos da minha desilusão, o preço do progresso.....