Porquê?
Porque toca no cerne da questão, e porque, ao que julgo saber, a Guida não é professora, mas tem uma visão muito esclarecida deste nosso país à beira-mar plantado, e atinge algumas das feridas que este novo regime de avaliação dos professores (ainda em discussão, mas provavelmente quase aprovado pelo "SIM, Srª Ministra!") tem de perverso e totalmente maqueavélico (aqui já sou eu, professora a afirmar).
Se a Srª Ministra conhecesse a realidade das escolas, nomeadamente a heterogeneidade, não tinha o desplante de apresentar propostas desta índole! E depois não assumem que são medidas puramente economicistas!!!
Passo a citar:
«Suponhamos que eu ainda não teria visto, ouvido ou lido a mais pequena notícia sobre a proposta “luminosa” da Ministra da Educação. Suponhamos que nunca teria sido encarregada de educação e, como tal, nunca conheci professores dentro da escola, nunca participei em reuniões de turma, nunca soube o que era ser aluno hoje. Enfim, suponhamos que, mesmo que a premissas anteriores fossem falsas, achava que pai/mãe ou filho-aluno estão plenamente conscientes dos seus respectivos papéis na comunidade escolar, perfeitamente integrados na mesma, em completa comunhão de conceitos de ensino e educação com os docentes. Assim mesmo, ou por isso mesmo, não posso evitar que a pele se me arrepanhe ao saber da insistência da dita ministra.Ora bem, na realidade tive contactos diversos e ao longo de anos com esse pequeno grande mundo em que decorre o crescimento de uma criança ou adolescente. Durante quase duas décadas vi o que (alguns) pais exigiam da escola e dos professores e até que ponto eram permissivos com os próprios filhos. A criança é turbulenta e desacata toda a aula? Coitadinho, ele tem muita energia, sabe... O adolescente agride verbal ou fisicamente o professor? São as companhias, a gente está em casa [ou no trabalho] e não sabe o que eles fazem cá fora... O rendimento escolar é baixo? Pois, os professores hoje já não ensinam como antigamente...Vai daí, a criança, o adolescente ou o jovem, eram/são desresponsabilizados dos seus maus comportamentos, fraco aproveitamento, absentismo, etc., porque há sempre uma desculpa a favor deles.Não quero sequer referir a adequação, ou a sua falta, dos programas escolares às necessidades reais deste país. Tão pouco me passa pela cabeça abordar as sucessivas e discutíveis reformas educativas. Para tal me falta o necessário saber e remeto-me à minha modesta posição [mas da posição de cidadã atenta e interveniente não faço tenção de me desviar]. No entanto, é sabido que pais e mães, por motivos frequentemente alheios á sua vontade, cada vez mais afastam dos filhos a atenção que lhes é devida [pano para outras mangas...].Coloca-se na “escola” (tal e qual, no abstracto) a responsabilidade da orientação total de um filho. Muitos vão à reunião de pais com a directora de turma apenas para saber como irão ser as notas do fim do período, sem tentar sequer aprofundar um debate em parâmetros mais alargados [assisti a este tipo de atitude vezes sem conta]. Ao fim de um par de horas nestes entremezes, o/a professor/a, cansado, dá por terminado o encontro, quantas vezes com a sensação de frustração e tempo perdido! E pronto. Daí a uns tempos, sem virar o disco toca-se o mesmo.
Em traços largos, toscos, inevitavelmente pessoais e, como tal, limitados, foi esta a visão que me ficou da intervenção dos pais na escola. Dos pais, não. De uma boa parte dos pais. E é (também) desses que a senhora ministra espera a suma profundidade de discernimento para dela fazer depender a carreira profissional dos professores. Estará ela à espera que estes se tornem máquinas comandadas à distância, respondendo a tudo e a nada “sim, senhor-encarregado-de-educação”?»
Entretanto, coloquei no Blog da Guida o seguinte comentário:
Primeiro: Parabéns pelo artigo.Sim Guida, infelizmente fazes um retrato bem real da situação, infelizmente porque todos preferiríamos que assim não fosse, mas é!
1º poucos são os pais que vão às escolas e sabem desempenhar minimamente a sua função de encarregados de educação! (o vulgar é demitirem-se desse papel e os professores terem que ser também pais);
2º a grande maioria nem sabe rigorosamente nada do que se passa com os seus filhos ao longo do ano lectivo, nem ao nível disciplinar nem de aproveitamento ou capacidades (a não ser que surja um problema grave);
3º os pais podem conhecer o Director de Turma, mas não conhecem cada professor, de cada disciplina e se conhecerem algo é totalmente manipulado pelo aluno;
4º vulgarmente o professor é bom se dá boas classificações, é mau se não dá ao filhinho uma "nota" para passar!
É com esta subjectividade, com esta falta de realismo que querem avaliar os professores? Há bons e maus professores, como em qualquer profissão, é um facto, mas os pais, que competência têm para avaliar? Um professor teve que aprender a avaliar! Como é que vai ser avaliado por alguém que não tem essas competências? E sabes que mais? Pelo que li da proposta o professor também vai ser avaliado em função dos bons ou maus resultados que os alunos obtêm! Quer dizer, se o aluno não trabalha, não progride, porque é insolente e preguiçoso, o professor é que é penalizado! Mesmo que tenha feito o pino para o motivar!Uma avaliação perversa, direi eu... mas sou suspeita, porque como sabes até sou professora.Mas muito mais haveria dizer/criticar sobre este novo modelo de avaliação...
Um beijinho
P.S. Já regressei ao trabalho.Fui recebida com beijos e abraços por parte de muitos alunos, inclusivé alguns que nunca tiveram sequer uma positiva ao longo do ano, mas são boas pessoas, mesmo sendo péssimos alunos, e isso é mais importante para mim!
E acrescento para quem não sabe: até o abandono escolar na turma em que leccionamos vai contar! Se um aluno decide abandonar a escola porque reconhece que não tem capacidades, ou para mudar de tipo de ensino, ou para trabalhar, ou por qualquer outro motivo, a culpa é do professor, pois devia amarrá-lo à cadeira...
E a avaliação de Bom que alguns professores já conquistaram, por mérito próprio, não vai contar para nada!
Nem cargos desempenhados na escola interessam!
O que está em causa caros amigos, é que o professor não progrida na carreira porque isso fica muito caro ao Estado!
Podemos até ser Muito Bons, mas se o Governo disser que só há lugar para 5 Bons em cada escola, se houver aí 20 Bons professores, os Conselhos Executivos que aparem a batata quente!
Que ambiente de trabalho vamos ter, no futuro, nas escolas? Que relações vamos manter com os Executivos? Se nos aproximamos somos interesseiros, se nos afastamos podemos ser penalizados!!!
O Presidente do Conselho Executivo tem que, cada vez mais, ser um enorme saco de boxe!
E mais não digo...
Não vá a Srª Ministra roubar-me mais tempo de serviço do que aquele que já roubou este ano e, quem sabe, tanta falta me pode vir a fazer!!!