domingo, 29 de abril de 2012


Nota Discordante

Porque razão sorri a Natureza à minha volta? 

Reparem na discordância... 

É como um grito de revolta 
que se solta 
por aí fora... 

... e não encontra obstáculo para o eco... 

Fernando Namora

sexta-feira, 20 de abril de 2012


A Tua Boca

A tua boca. A tua boca. 
Oh, também a tua boca. 
Um túnel para a minha noite. 
Um poço para a minha sede. 

Os fios dormentes de água 
que a tua língua solta num grito cor-de-rosa 
e a minha língua sorve e canta 
e os meus dentes mordem derramando a seiva 
da tua primavera sem palavras 
o poema inquieto e livre que a tua boca oferece 
à minha boca. 

As loucas bebedeiras de ternura 
por essa viagem até ao sangue. 
Os beijos como fogueiras. 
As línguas como rosas. 

Oh, a tua boca para a minha boca. 

Joaquim Pessoa

quarta-feira, 4 de abril de 2012


Quando não te Vejo Perco o Siso

Formosura do Céu a nós descida, 
Que nenhum coração deixas isento, 
Satisfazendo a todo pensamento, 
Sem que sejas de algum bem entendida; 

Qual língua pode haver tão atrevida, 
Que tenha de louvar-te atrevimento, 
Pois a parte melhor do entendimento, 
No menos que em ti há se vê perdida? 

Se em teu valor contemplo a menor parte, 
Vendo que abre na terra um paraíso, 
Logo o engenho me falta, o espírito míngua. 

Mas o que mais me impede inda louvar-te, 
É que quando te vejo perco a língua, 
E quando não te vejo perco o siso. 

Luís Vaz de Camões