"Enquanto existir perguntas e não houver respostas... continuarei a escrever" - Clarice Lispector
sexta-feira, 27 de maio de 2011
Jornalista recebe homenagem em Itabaiana
Fabiana Veloso e sua filha Júlia (foto: Dalmo Oliveira)
A jornalista Fabiana Veloso é uma das homenageadas neste sábado, 28, do Prêmio Leonilla Almeida, na cidade de Itabaiana. A indicação foi feita pela Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba "em reconhecimento às mulheres que tenham um trabalho voltado para a cidadania e pela defesa dos ditames da democracia e direitos humanos".
Veloso é jornalista formada pela UFPB desde de 1996 e atuou por vários anos no fotojornalismo paraibano. Atualmente ela é coordenadora de Comunicação da Associação Brasileira da Radiodifusão Comunitária na Paraíba (ABRAÇO-PB) e coordenadora-geral da Associação Cultural Posse Nova República, na capital paraibana.
Ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Paraíba, Fabiana também atuou em teatro amador e é membro da Associação Brasileira de Documentaristas (ABD) na Paraíba.
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Eduardo Galeano analisa as manifestações dos jovens na Espanha e afirma: "Dois séculos de conquistas estão sendo jogados no lixo"
Em entrevista à Televisão da Catalunha, o escritor uruguaio Eduardo Galeano fala sobre as mobilizações que levaram milhares de jovens para as ruas de diversas cidades espanholas nos últimos dias. "Esse é um dos dramas do nosso tempo. Dois séculos de lutas operárias que conquistaram direitos muito importantes para a classe trabalhadora, estão sendo jogados na lata de lixo por governos que obedecem à uma tecnocracia que se julga eleita pelos deuses para governar o mundo. É uma espécie de governo dos governos, como este senhor que agora parece que se dedica a violar camareiras, mas antes violava países e era aplaudido por isso", diz Galeano, em referência ao abuso sexual praticado pelo presidente do FMI, Frederic Strauss Kan, contra uma camareira do hotel onde ele estava hospedado.
Em entrevista ao programa "Singulars", da Televisão da Catalunha (TV3), o escritor uruguaio Eduardo Galeano falou sobre as manifestações dos últimos dias que levaram milhares de jovens para as ruas de diversas cidades espanholas. Galeano esteve em Madri e pode presenciar ao vivo as mobilizações na Porta do Sol. Senhora das Palavras disponibiliza abaixo a entrevista concedida ao jornalista Jaume Barberà e destacamos alguns trechos da fala de Galeano.
"Há hoje em quase toda a América Latina um problema visível e preocupante que é o divórcio entre os jovens, as novas gerações, e o sistema político, o sistema de partidos vigente. Eu não reduziria a política à atividade dos partidos, por que ela vai muito mais além, mas isso é preocupante mesmo assim".
"Nas últimas eleições chilenas, por exemplo, 2 milhões de jovens não votaram. E não votaram porque não se deram ao trabalho de fazer o registro eleitoral. Suponho que a maioria não fez o registro por que não acredita nisso. E me parece que isso não é culpa dos jovens. Neste sentido, gostei muito de ter presenciado essas manifestações que tive oportunidade de ver na Porta do Sol".
"Um dos lemas que ouvi era 'com causa e sem casa', o que é muito revelador da situação atual. Muitos daqueles jovens ficaram sem casa e sem trabalho. Isso deve ser levado em conta. Esse é um dos dramas do nosso tempo. Dois séculos de lutas operárias que conquistaram direitos muito importantes para a classe trabalhadora, estão sendo jogados na lata de lixo por governos que obedecem à uma tecnocracia que se julga eleita pelos deuses para governar o mundo".
"É uma espécie de governo dos governos, como este senhor que agora parece que se dedica a violar camareiras, mas antes violava países e era aplaudido por isso. É essa estrutura de poder, muitas vezes invisível, que de fato manda. Por isso, quando se consegue aglutinar vozes capazes de dizer 'basta' a primeira coisa a fazer é ouvi-las com respeito, sem desqualificá-las de antemão e saber esperar. Esses jovens não parecem esperar ordens de ninguém. Agem espontaneamente, aliando razão à emoção. Como vai acabar isso? Não sei. Talvez acabe logo, talvez não. Vamos ver".
"O mundo está preso em um sistema de valores que coloca o êxito acima de todas as virtudes. Ele é uma fonte de virtudes. Em troca, condena o fracasso. Perder é o único pecado para o qual, no mundo de hoje, não há redenção. Estamos condenados a ganhar ou ganhar. Os dois homens mais justos da história da humanidade, Sócrates e Jesus, morreram condenados pela Justiça. Os mais justos foram condenados pela Justiça. E nos deixaram coisas muito importantes como amor e coragem".
Em entrevista ao programa "Singulars", da Televisão da Catalunha (TV3), o escritor uruguaio Eduardo Galeano falou sobre as manifestações dos últimos dias que levaram milhares de jovens para as ruas de diversas cidades espanholas. Galeano esteve em Madri e pode presenciar ao vivo as mobilizações na Porta do Sol. Senhora das Palavras disponibiliza abaixo a entrevista concedida ao jornalista Jaume Barberà e destacamos alguns trechos da fala de Galeano.
"Há hoje em quase toda a América Latina um problema visível e preocupante que é o divórcio entre os jovens, as novas gerações, e o sistema político, o sistema de partidos vigente. Eu não reduziria a política à atividade dos partidos, por que ela vai muito mais além, mas isso é preocupante mesmo assim".
"Nas últimas eleições chilenas, por exemplo, 2 milhões de jovens não votaram. E não votaram porque não se deram ao trabalho de fazer o registro eleitoral. Suponho que a maioria não fez o registro por que não acredita nisso. E me parece que isso não é culpa dos jovens. Neste sentido, gostei muito de ter presenciado essas manifestações que tive oportunidade de ver na Porta do Sol".
"Um dos lemas que ouvi era 'com causa e sem casa', o que é muito revelador da situação atual. Muitos daqueles jovens ficaram sem casa e sem trabalho. Isso deve ser levado em conta. Esse é um dos dramas do nosso tempo. Dois séculos de lutas operárias que conquistaram direitos muito importantes para a classe trabalhadora, estão sendo jogados na lata de lixo por governos que obedecem à uma tecnocracia que se julga eleita pelos deuses para governar o mundo".
"É uma espécie de governo dos governos, como este senhor que agora parece que se dedica a violar camareiras, mas antes violava países e era aplaudido por isso. É essa estrutura de poder, muitas vezes invisível, que de fato manda. Por isso, quando se consegue aglutinar vozes capazes de dizer 'basta' a primeira coisa a fazer é ouvi-las com respeito, sem desqualificá-las de antemão e saber esperar. Esses jovens não parecem esperar ordens de ninguém. Agem espontaneamente, aliando razão à emoção. Como vai acabar isso? Não sei. Talvez acabe logo, talvez não. Vamos ver".
"O mundo está preso em um sistema de valores que coloca o êxito acima de todas as virtudes. Ele é uma fonte de virtudes. Em troca, condena o fracasso. Perder é o único pecado para o qual, no mundo de hoje, não há redenção. Estamos condenados a ganhar ou ganhar. Os dois homens mais justos da história da humanidade, Sócrates e Jesus, morreram condenados pela Justiça. Os mais justos foram condenados pela Justiça. E nos deixaram coisas muito importantes como amor e coragem".
A história se repete: defensores da floresta amazônica são executados em emboscada
Hoje, 24 de maio de 2011, foram assassinados nossos companheiros, José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, assentados no Projeto Agroextrativista Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna – PA. Os dois foram emboscados no meio da estrada por pistoleiros, executados com tiros na cabeça, tendo Zé Claúdio a orelha decepada e levada pelos seus assassinos provavelmente como prova do “serviço realizado”.
Camponeses e líderes dos assentados do Projeto Agroextratista, Zé Cláudio e Maria do Espírito Santo (estudante do Curso de Pedagogia do Campo UFPA/FETAGRI/PRONERA), foram o exemplo daquilo que defendiam como projeto coletivo de vida digna e integrada à biodiversidade presente na floresta. Integrantes do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), ONG fundada por Chico Mendes, os dois viviam e produziam de forma sustentável no lote de aproximadamente 20 hectares, onde 80% era de floresta preservada. Com a floresta se relacionavam e sobreviviam do extrativismo de óleos, castanhas e frutos de plantas nativas, como cupuaçu e açaí. No projeto de assentamento vivem aproximadamente 500 famílias.
A denúncia das ameaças de morte de que eram alvo há anos alcançaram o Estado Brasileiro e a sociedade internacional. Elas apontavam seus algozes: madeireiros e carvoeiros, predadores da natureza na Amazônia. Nem por isso, houve proteção de suas vidas e da floresta, razão das lutas de José Cláudio e Maria contra a ação criminosa de exploradores capitalistas na reserva agroextrativista.
Tamanha nossa tristeza! Desmedida nossa revolta! A história se repete! Novamente camponeses que defendem a vida e a construção de uma sociedade mais humana e digna são assassinados covardemente a mando daqueles a quem só importa o lucro: MADEREIROS e FAZENDEIROS QUE DEVASTAM A AMAZÔNIA.
ATÉ QUANDO?
Não bastasse a ameaça ser um martírio a torturar aos poucos mentes e corações revolucionários, ainda temos de presenciar sua concretude brutal?
Não bastasse tanto sangue escorrendo pelas mãos de todos que não se incomodam com a situação que vivemos, ainda precisamos ouvir as autoridades tratando como se o aqui fosse distante?
Não bastasse que nossos homens e mulheres de fibra fossem vistos com restrição, ainda continuaremos abrindo nossas portas para que os corruptos sejam nossos lideres?
Não bastasse tanta dificuldade de fazer acontecer outro projeto de sociedade, ainda assim temos que conviver com a desconfiança de que ele não existe?
Não bastasse que a natureza fosse transformada em recurso, a vida tinha também que ser reduzida a um valor tão ínfimo?
Não bastasse a morte orbitar nosso cotidiano como uma banalidade, ainda temos que conviver com a barbárie?
Mediante a recorrente impunidade nos casos de assassinatos das lideranças camponesas e a não investigação e punição dos crimes praticados pelos grupos econômicos que devastam a Amazônia, RESPONSABILIZAMOS O ESTADO BRASILEIRO – Presidência da República, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente, Polícia Federal, Ministério Público Federal – E COBRAMOS JUSTIÇA!
ESTAMOS EM VÍGILIA!!!
“Aos nossos mortos nenhum minuto de silêncio. Mas toda uma vida de lutas.”
Marabá-PA, 24 de Maio de 2011.
Universidade Federal do Pará/ Coordenação do Campus de Marabá; Curso de Pedagogia do Campo UFPA/FETAGRI/PRONERA; Curso de Licenciatura Plena em Educação do Campo
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST/ Pará
Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura – FETAGRI/Sudeste do Pará
Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar – FETRAF/ Pará
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
Comissão Pastoral da Terra – CPT Marabá
Via Campesina – Pará
Fórum Regional de Educação do Campo do Sul e Sudeste do Pará
Conselho Indigenista Missionário - Cimi
Camponeses e líderes dos assentados do Projeto Agroextratista, Zé Cláudio e Maria do Espírito Santo (estudante do Curso de Pedagogia do Campo UFPA/FETAGRI/PRONERA), foram o exemplo daquilo que defendiam como projeto coletivo de vida digna e integrada à biodiversidade presente na floresta. Integrantes do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), ONG fundada por Chico Mendes, os dois viviam e produziam de forma sustentável no lote de aproximadamente 20 hectares, onde 80% era de floresta preservada. Com a floresta se relacionavam e sobreviviam do extrativismo de óleos, castanhas e frutos de plantas nativas, como cupuaçu e açaí. No projeto de assentamento vivem aproximadamente 500 famílias.
A denúncia das ameaças de morte de que eram alvo há anos alcançaram o Estado Brasileiro e a sociedade internacional. Elas apontavam seus algozes: madeireiros e carvoeiros, predadores da natureza na Amazônia. Nem por isso, houve proteção de suas vidas e da floresta, razão das lutas de José Cláudio e Maria contra a ação criminosa de exploradores capitalistas na reserva agroextrativista.
Tamanha nossa tristeza! Desmedida nossa revolta! A história se repete! Novamente camponeses que defendem a vida e a construção de uma sociedade mais humana e digna são assassinados covardemente a mando daqueles a quem só importa o lucro: MADEREIROS e FAZENDEIROS QUE DEVASTAM A AMAZÔNIA.
ATÉ QUANDO?
Não bastasse a ameaça ser um martírio a torturar aos poucos mentes e corações revolucionários, ainda temos de presenciar sua concretude brutal?
Não bastasse tanto sangue escorrendo pelas mãos de todos que não se incomodam com a situação que vivemos, ainda precisamos ouvir as autoridades tratando como se o aqui fosse distante?
Não bastasse que nossos homens e mulheres de fibra fossem vistos com restrição, ainda continuaremos abrindo nossas portas para que os corruptos sejam nossos lideres?
Não bastasse tanta dificuldade de fazer acontecer outro projeto de sociedade, ainda assim temos que conviver com a desconfiança de que ele não existe?
Não bastasse que a natureza fosse transformada em recurso, a vida tinha também que ser reduzida a um valor tão ínfimo?
Não bastasse a morte orbitar nosso cotidiano como uma banalidade, ainda temos que conviver com a barbárie?
Mediante a recorrente impunidade nos casos de assassinatos das lideranças camponesas e a não investigação e punição dos crimes praticados pelos grupos econômicos que devastam a Amazônia, RESPONSABILIZAMOS O ESTADO BRASILEIRO – Presidência da República, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente, Polícia Federal, Ministério Público Federal – E COBRAMOS JUSTIÇA!
ESTAMOS EM VÍGILIA!!!
“Aos nossos mortos nenhum minuto de silêncio. Mas toda uma vida de lutas.”
Marabá-PA, 24 de Maio de 2011.
Universidade Federal do Pará/ Coordenação do Campus de Marabá; Curso de Pedagogia do Campo UFPA/FETAGRI/PRONERA; Curso de Licenciatura Plena em Educação do Campo
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST/ Pará
Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura – FETAGRI/Sudeste do Pará
Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar – FETRAF/ Pará
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
Comissão Pastoral da Terra – CPT Marabá
Via Campesina – Pará
Fórum Regional de Educação do Campo do Sul e Sudeste do Pará
Conselho Indigenista Missionário - Cimi
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Carta do I Encontro de Blogueiros e Redes Sociais da Paraíba
Numa realidade caracterizada pela excessiva e flagrante concentração dos meios de comunicação em mãos de poucas empresas, de caráter quase familiar, ligadas por uma extensa rede de dependência econômica e financeira com grupos e governos de uma potencia estrangeira, os movimentos sociais brasileiros alertam para o caráter anti-democrático e anti-nacional do enorme poder exercido por estas empresas.
O exercício pleno da liberdade de expressão e comunicação, até agora exercido apenas por uma estrutura oligárquica de propriedade dos meios, ganha impulso novo com a estrutura descentralizada e participativa proporcionada pelas redes digitais.
O fato de um/a cidadã/o comum ser agente de comunicação, publicando sua visão de mundo quase sem intermediários, de maneira relativamente fácil e rica em recursos, inaugura um paradigma oposto ao que permanece vigente e hegemônico no momento.
De forma imprescindível, a comunicação independente alcançou círculos sociais maiores, de forma a oferecer o contraditório ausente na mídia corporativa e tradicional, comprometida com uma mesma e ultrapassada visão unilateral e imperial do mundo e baseada na propriedade exclusiva de pesadas estruturas de impressão, difusão e produção das informações.
A formação gradual de uma rede anti-hegemônica, em favor da comunicação social efetiva e não exclusivamente de interesses empresariais, foi conseqüência natural não só da evolução técnica, mas também política da sociedade.
É como resultado dessa evolução que se dá o I Encontro dos Blogueir@s e Redes Sociais da Paraíba. O blogueir@ deve ter noção do seu papel inovador e revolucionário diante da estrutura oligárquica de concentração dos meios de comunicação, que priva a/o cidadã/o comum da informação objetiva e necessária para a sua vida e visão de mundo.
O blogueir@ consciente é contra a ditadura midiática, a favor da justiça social, da democratização da comunicação e da liberdade de expressão. Neste sentido, o nosso movimento tem um caráter efetivamente plural, amplo, contemplando toda a diversidade dos meios, ferramentas e veículos que operam na rede mundial de computadores.
A blogosfera se articula não apenas pela Internet, mas também em eventos e atos públicos, via campanhas unitárias, plataformas unificadoras, coordenando as suas ações por um novo marco regulatório dos meios de comunicação e por um Brasil mais democrático e justo.
É buscando superar as limitações empresariais e ideológicas em que estão circunscritos os meios estabelecidos que o blogueir@ progressista contribui para a evolução social, oferecendo à sociedade a informação necessária para melhor tomar suas decisões.
Os blogueir@s da Paraíba somam-se a esse movimento nacional a favor do efetivo direito de informação e comunicação de todos os brasileiros e brasileiras, como condição essencial de cidadania.
Para garantir esse direito reivindicamos o acesso popular aos meios, em todas as suas modalidades, de forma especial, o acesso universal à rede mundial de computadores (Internet), pela implementação do Plano Nacional de Banda Larga público.
Por fim, o/as participantes do 1º Encontro de Blogleir@s e Redes Sociais da Paraíba, reafirmam a premente necessidade de implementação, pelos Poderes Executivo e Legislativo deste Estado, do Conselho Estadual de Comunicação Social, conforme o previsto no artigo V da Constituição da Paraíba, e em observação às deliberações da 1º Conferência Nacional de Comunicação (CONFECOM), e sua etapa estadual, como ferramenta indispensável ao progresso da democratização da comunicação também no estado da Paraíba.
João Pessoa, em 20 de maio de 2011.
O exercício pleno da liberdade de expressão e comunicação, até agora exercido apenas por uma estrutura oligárquica de propriedade dos meios, ganha impulso novo com a estrutura descentralizada e participativa proporcionada pelas redes digitais.
O fato de um/a cidadã/o comum ser agente de comunicação, publicando sua visão de mundo quase sem intermediários, de maneira relativamente fácil e rica em recursos, inaugura um paradigma oposto ao que permanece vigente e hegemônico no momento.
De forma imprescindível, a comunicação independente alcançou círculos sociais maiores, de forma a oferecer o contraditório ausente na mídia corporativa e tradicional, comprometida com uma mesma e ultrapassada visão unilateral e imperial do mundo e baseada na propriedade exclusiva de pesadas estruturas de impressão, difusão e produção das informações.
A formação gradual de uma rede anti-hegemônica, em favor da comunicação social efetiva e não exclusivamente de interesses empresariais, foi conseqüência natural não só da evolução técnica, mas também política da sociedade.
É como resultado dessa evolução que se dá o I Encontro dos Blogueir@s e Redes Sociais da Paraíba. O blogueir@ deve ter noção do seu papel inovador e revolucionário diante da estrutura oligárquica de concentração dos meios de comunicação, que priva a/o cidadã/o comum da informação objetiva e necessária para a sua vida e visão de mundo.
O blogueir@ consciente é contra a ditadura midiática, a favor da justiça social, da democratização da comunicação e da liberdade de expressão. Neste sentido, o nosso movimento tem um caráter efetivamente plural, amplo, contemplando toda a diversidade dos meios, ferramentas e veículos que operam na rede mundial de computadores.
A blogosfera se articula não apenas pela Internet, mas também em eventos e atos públicos, via campanhas unitárias, plataformas unificadoras, coordenando as suas ações por um novo marco regulatório dos meios de comunicação e por um Brasil mais democrático e justo.
É buscando superar as limitações empresariais e ideológicas em que estão circunscritos os meios estabelecidos que o blogueir@ progressista contribui para a evolução social, oferecendo à sociedade a informação necessária para melhor tomar suas decisões.
Os blogueir@s da Paraíba somam-se a esse movimento nacional a favor do efetivo direito de informação e comunicação de todos os brasileiros e brasileiras, como condição essencial de cidadania.
Para garantir esse direito reivindicamos o acesso popular aos meios, em todas as suas modalidades, de forma especial, o acesso universal à rede mundial de computadores (Internet), pela implementação do Plano Nacional de Banda Larga público.
Por fim, o/as participantes do 1º Encontro de Blogleir@s e Redes Sociais da Paraíba, reafirmam a premente necessidade de implementação, pelos Poderes Executivo e Legislativo deste Estado, do Conselho Estadual de Comunicação Social, conforme o previsto no artigo V da Constituição da Paraíba, e em observação às deliberações da 1º Conferência Nacional de Comunicação (CONFECOM), e sua etapa estadual, como ferramenta indispensável ao progresso da democratização da comunicação também no estado da Paraíba.
João Pessoa, em 20 de maio de 2011.
terça-feira, 17 de maio de 2011
Crimes contra a humanidade
Por Ana Veloso, Jornalista Amiga da Criança/ANDI, professora da Universidade Católica de Pernambuco, doutoranda em comunicação pela UFPE, integrante do Coletivo Intervozes, empreendedora Ashoka e colaboradora do Centro das Mulheres do Cabo.
“Não quero ter mais sangue morto nas veias…”
Cruzada,Tavinho Moura / Márcio Borges
Após um final de abril atravessado pelo sofrimento da população de Pernambuco, afetada pelas chuvas, alagamentos e deslizamentos, aportamos no mês de maio. Período em que a sociedade brasileira, de modo mais atento, lança seu olhar para os crimes sexuais praticados contra crianças e adolescentes. No dia 18 de maio, o país vai ser sacudido por ações nacionais em torno do enfrentamento ao abuso e à exploração sexual de meninos e meninas. Crimes que revelam a terrível face da barbárie, ainda tão presente em nossos dias.
De acordo com o site http://15segundos.net, uma criança é abusada a cada 15 segundos em todo o mundo. No Brasil, uma criança é violentada sexualmente a cada 8 minutos. O disk 100, da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, do Governo Federal, recebeu, em média, 77 denúncias por dia, em 2010. O Dossiê Mulher, elaborado por pesquisadores do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro aponta que mais da metade do universo de mulheres violentadas sexualmente, na cidade, em 2010, foi composto por crianças e adolescentes com menos de 14 anos.
Os estudos revelam que estamos diante de uma questão de saúde pública e de um problema de segurança que precisa ser enfrentado com políticas estruturadoras para castigar os culpados. A impunidade sempre será cúmplice da violência quando o Estado e a sociedade falham. Devemos nos despir da omissão para agir a cada atentado contra a infância e à adolescência. Quem não denuncia, compactua com a cultura da dominação violenta e covarde contra a população infanto-juvenil.
Em Pernambuco, estaremos aderindo à marcha no dia 18. A Rede Estadual de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual vai comandar várias manifestações. A campanha incidirá sobre o turismo para fins de exploração comercial. Uma parcela da sociedade civil sai às ruas, junto com representantes de órgãos públicos para expor um crime que não cessa de causar horror, revolta e dor. Pensando em colaborar com a causa, estudantes de jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco estão produzindo spots de rádio para sensibilizar o público sobre o problema.
As manifestações querem que a população enxergue, reconheça e não deixe que tais crimes sejam perpetuados. É importante lembrar que o 18 de maio ocorre todos os dias, quando tomamos conhecimento de novos crimes contra a humanidade. Atentados que, infelizmente, ainda são noticiados com objetivos mercadológicos, para atrair a audiência, sob a alegação de que certos veículos de comunicação brasileiros precisam divulgar os casos, mesmo que seja da forma mais sensacionalista possível. Como se a perpetuação da cultura do medo por uma mídia voltada ao espetáculo pudesse resultar em mobilização.
Os meninos e meninas violentados não precisam que sua dor seja cotidianamente exposta, como mercadoria, pelos “meios de incomunicação”. Não devem ser tratados como personagens de um folhetim, nem abandonados à inoperância do Estado e da sociedade. Necessitam viver em liberdade para crescer com seus direitos respeitados como seres em formação, como determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
* Em João Pessoa (PB) o dia 18 de Maio será marcado por manifestações no Parque Solon de Lucena (LAGOA), durante todo o dia.
“Não quero ter mais sangue morto nas veias…”
Cruzada,Tavinho Moura / Márcio Borges
Após um final de abril atravessado pelo sofrimento da população de Pernambuco, afetada pelas chuvas, alagamentos e deslizamentos, aportamos no mês de maio. Período em que a sociedade brasileira, de modo mais atento, lança seu olhar para os crimes sexuais praticados contra crianças e adolescentes. No dia 18 de maio, o país vai ser sacudido por ações nacionais em torno do enfrentamento ao abuso e à exploração sexual de meninos e meninas. Crimes que revelam a terrível face da barbárie, ainda tão presente em nossos dias.
De acordo com o site http://15segundos.net, uma criança é abusada a cada 15 segundos em todo o mundo. No Brasil, uma criança é violentada sexualmente a cada 8 minutos. O disk 100, da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, do Governo Federal, recebeu, em média, 77 denúncias por dia, em 2010. O Dossiê Mulher, elaborado por pesquisadores do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro aponta que mais da metade do universo de mulheres violentadas sexualmente, na cidade, em 2010, foi composto por crianças e adolescentes com menos de 14 anos.
Os estudos revelam que estamos diante de uma questão de saúde pública e de um problema de segurança que precisa ser enfrentado com políticas estruturadoras para castigar os culpados. A impunidade sempre será cúmplice da violência quando o Estado e a sociedade falham. Devemos nos despir da omissão para agir a cada atentado contra a infância e à adolescência. Quem não denuncia, compactua com a cultura da dominação violenta e covarde contra a população infanto-juvenil.
Em Pernambuco, estaremos aderindo à marcha no dia 18. A Rede Estadual de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual vai comandar várias manifestações. A campanha incidirá sobre o turismo para fins de exploração comercial. Uma parcela da sociedade civil sai às ruas, junto com representantes de órgãos públicos para expor um crime que não cessa de causar horror, revolta e dor. Pensando em colaborar com a causa, estudantes de jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco estão produzindo spots de rádio para sensibilizar o público sobre o problema.
As manifestações querem que a população enxergue, reconheça e não deixe que tais crimes sejam perpetuados. É importante lembrar que o 18 de maio ocorre todos os dias, quando tomamos conhecimento de novos crimes contra a humanidade. Atentados que, infelizmente, ainda são noticiados com objetivos mercadológicos, para atrair a audiência, sob a alegação de que certos veículos de comunicação brasileiros precisam divulgar os casos, mesmo que seja da forma mais sensacionalista possível. Como se a perpetuação da cultura do medo por uma mídia voltada ao espetáculo pudesse resultar em mobilização.
Os meninos e meninas violentados não precisam que sua dor seja cotidianamente exposta, como mercadoria, pelos “meios de incomunicação”. Não devem ser tratados como personagens de um folhetim, nem abandonados à inoperância do Estado e da sociedade. Necessitam viver em liberdade para crescer com seus direitos respeitados como seres em formação, como determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
* Em João Pessoa (PB) o dia 18 de Maio será marcado por manifestações no Parque Solon de Lucena (LAGOA), durante todo o dia.
domingo, 15 de maio de 2011
Quem tem medo da loucura? Estudantes de Psicologia da UFPB realizam IV Semana de Luta Antimanicomial
Por Mabel Dias
O Coletivo Canto Geral, formado por estudantes de Psicologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) realiza a partir desta quarta-feira (18) a IV Semana de Luta Antimanicomial. A programação é vastíssima, incluindo rodas de diálogo sobre loucura e arte, a participação da família no tratamento das pessoas que sofrem de transtornos mentais, sociedade e saúde mental, além de lançamento de livros de poesia, ato público, shows e sarau poético.
A proposta do evento é levantar a discussão das várias formas da loucura e de sofrimento psíquico e da importância da saúde mental para a cidade, como o intuito de informar, esclarecer e questionar sobre as práticas que têm sido ferramentas para o tratamento da loucura.
A programação será aberta com o lançamento do livro "Residência Terapêutica: pesquisa e prática nos processos de desinstitucionalização", no dia 18, às 8h30. Em seguida, terá início a primeira roda de diálogo da Semana, “Loucura, Arte e Cidade: as diversas formas de viver a reforma psiquiátrica”, com os facilitadores Paulo Amarante, coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental da Escola Nacional de Saúde Pública, e Flávia Fernando, diretora do Complexo Psiquiátrico Juliano Moreira, local onde serão realizadas boa parte das atividades.
Será lá, no Juliano Moreira, também no dia 18, às 20h, que o poeta Lau Siqueira, vai lançar seu quinto livro de poesias “Sem pele”, com apresentação do Círculo dos Tambores. E nesta semana que se coloca em discussão a luta antimanicomial, a loucura e a política de saúde mental na grande João Pessoa não podia deixar de contar com a presença de Tom Zé, artista que sempre traz em suas apresentações e em sua música a inclusão das pessoas que sofrem de transtornos mentais. O show de Tom Zé será realizado no Ponto de Cem reis, Centro de João Pessoa, a partir das 20h.
Sem dúvida, o coletivo Canto Geral inovou ao pensar esta programação, trazendo à tona temas muito importantes para serem discutidos por usuários, técnicos, familiares e pela sociedade como um todo, assim como nas atividades que compõem a IV Semana de Luta Antimanicomial, tema muito pouco discutido e principalmente praticado em toda sua plenitude. Senhora das Palavras já publicou textos que falam sobre a loucura e a reforma psiquiátrica no Brasil, e que servem de base para debates nesta IV Semana, que são “Como anda a política de saúde mental no Brasil?” e “Estamira e a loucura. Ou o que é a loucura?”
O 18 de maio é a data que marca o Dia da Luta Antimanicomial. Desde 1987, um grupo de profissionais de saúde lançou um movimento nacional centralizado em Bauru (SP), com o lema "Por uma sociedade sem manicômios". O movimento luta pelo cumprimento da Lei 10.216 de 2001, que normatiza a Reforma Psiquiátrica. Em síntese, a reforma representa a implantação de uma rede de serviços substitutivos aos manicômios, como CAPS, Hospitais Dias, entre outros.
Confira a programação completa: http://semanadalutaantimanicomial.blogspot.com/
sábado, 14 de maio de 2011
Meninas representam 53,5% das vítimas de estupro
O Instituto de Segurança Pública (ISP), do Rio de Janeiro, elaborou em março o Dossiê Mulher, com dados sobre a ocorrência de violência contra a mulher no estado, entre os anos de 2009 e 2010.
No ano passado, 2.006 meninas, com menos de 14 anos, foram vítimas de violência sexual no Rio de Janeiro. O número representa 53,5% dos 3.751 casos de estupro de mulheres no período.
Os registros de estupro cresceram 25% entre 2009 e 2010, passando de 4.120 para 4.589
Embora 81,2% das vítimas desse tipo de crime sejam mulheres, 18,8% são crianças e adolescentes do sexo masculino. Do universo de mulheres estupradas, mais da metade é formada por crianças e adolescentes com menos de 14 anos. O dossiê traz ainda dados sobre crimes de lesão corporal dolosa, homicídio doloso (quando há intenção de matar) e ameaça.
Dossiê aponta redução de homicídios dolosos
Apesar do quadro, o presidente do ISP, tenente-coronel da PM Paulo Augusto Souza Teixeira, ressalta que há aspectos positivos. Um aspecto foi a redução de 19,4% nos casos de homicídios dolosos. No ano passado, 299 mulheres foram vítimas desse tipo de crime, 72 casos a menos do que os 371 contabilizados no ano anterior. Do total de vítimas de assassinatos em 2010, 37,4% tinham entre 18 e 34 anos. Cerca de 13,3% das vítimas eram mulheres ou ex-mulheres dos supostos autores dos crimes.
A análise do perfil das vítimas de estupro do sexo feminino indica que 37,6% eram brancas, 43,6% pardas e 11,9% negras. Com relação à faixa etária, 30,3% tinham entre 10 e 14 anos, e 23,2%, entre zero e nove anos de idade. O mapa dos números por batalhão (Aisp) mostra que o município que teve maior aumento percentual nos registros de estupro foi Belford Roxo, com 162%. A cidade registrou 178 casos no ano passado contra 68 em 2009.
Pelo terceiro ano consecutivo, os municípios de Nova Iguaçu, Mesquita, Nilópolis, Belford Roxo e Caxias, na Baixada Fluminense, figuram no topo do ranking de violência contra as mulheres. A ameaça é crime mais comum. No ano passado, houve 49.950 casos, aumento de 6,2% em relação a 2009, quando foram registradas 47.027 ameaças. Em média, 137 mulheres registraram terem sofrido ameaçadas em delegacias do estado, em 2010. A 20º Área Integrada de Segurança Pública (Aisp) - que reúne os municípios de Nova Iguaçu, Mesquita e Nilópolis - ficou em primeiro lugar em número de registros desse tipo de crime.
Uma das responsáveis pela elaboração do dossiê, a capitã PM e analista criminal do ISP, Claudia Moraes, admite que a subnotificação ainda é grande nos casos relacionados à violência contra a mulher. Contudo, Claudia acredita que a aprovação de leis como a Maria da Penha e a tipificação do crime de estupro para casos que antes de 2009 eram tratados como atentado violento ao pudor devem se refletir na diminuição dos casos e, principalmente, no aumento da punição aos agressores.
Em 50,5% dos casos de estupro, as vítimas conheciam os acusados, que são maridos, ex-maridos, pais e padrastos - diz Cláudia Moraes.
*Se você deseja ter acesso ao dossiê Mulher completo, envie email para libertare@yahoo.com.br
No ano passado, 2.006 meninas, com menos de 14 anos, foram vítimas de violência sexual no Rio de Janeiro. O número representa 53,5% dos 3.751 casos de estupro de mulheres no período.
Os registros de estupro cresceram 25% entre 2009 e 2010, passando de 4.120 para 4.589
Embora 81,2% das vítimas desse tipo de crime sejam mulheres, 18,8% são crianças e adolescentes do sexo masculino. Do universo de mulheres estupradas, mais da metade é formada por crianças e adolescentes com menos de 14 anos. O dossiê traz ainda dados sobre crimes de lesão corporal dolosa, homicídio doloso (quando há intenção de matar) e ameaça.
Dossiê aponta redução de homicídios dolosos
Apesar do quadro, o presidente do ISP, tenente-coronel da PM Paulo Augusto Souza Teixeira, ressalta que há aspectos positivos. Um aspecto foi a redução de 19,4% nos casos de homicídios dolosos. No ano passado, 299 mulheres foram vítimas desse tipo de crime, 72 casos a menos do que os 371 contabilizados no ano anterior. Do total de vítimas de assassinatos em 2010, 37,4% tinham entre 18 e 34 anos. Cerca de 13,3% das vítimas eram mulheres ou ex-mulheres dos supostos autores dos crimes.
A análise do perfil das vítimas de estupro do sexo feminino indica que 37,6% eram brancas, 43,6% pardas e 11,9% negras. Com relação à faixa etária, 30,3% tinham entre 10 e 14 anos, e 23,2%, entre zero e nove anos de idade. O mapa dos números por batalhão (Aisp) mostra que o município que teve maior aumento percentual nos registros de estupro foi Belford Roxo, com 162%. A cidade registrou 178 casos no ano passado contra 68 em 2009.
Pelo terceiro ano consecutivo, os municípios de Nova Iguaçu, Mesquita, Nilópolis, Belford Roxo e Caxias, na Baixada Fluminense, figuram no topo do ranking de violência contra as mulheres. A ameaça é crime mais comum. No ano passado, houve 49.950 casos, aumento de 6,2% em relação a 2009, quando foram registradas 47.027 ameaças. Em média, 137 mulheres registraram terem sofrido ameaçadas em delegacias do estado, em 2010. A 20º Área Integrada de Segurança Pública (Aisp) - que reúne os municípios de Nova Iguaçu, Mesquita e Nilópolis - ficou em primeiro lugar em número de registros desse tipo de crime.
Uma das responsáveis pela elaboração do dossiê, a capitã PM e analista criminal do ISP, Claudia Moraes, admite que a subnotificação ainda é grande nos casos relacionados à violência contra a mulher. Contudo, Claudia acredita que a aprovação de leis como a Maria da Penha e a tipificação do crime de estupro para casos que antes de 2009 eram tratados como atentado violento ao pudor devem se refletir na diminuição dos casos e, principalmente, no aumento da punição aos agressores.
Em 50,5% dos casos de estupro, as vítimas conheciam os acusados, que são maridos, ex-maridos, pais e padrastos - diz Cláudia Moraes.
*Se você deseja ter acesso ao dossiê Mulher completo, envie email para libertare@yahoo.com.br
terça-feira, 3 de maio de 2011
Mães, filhos, a culpa
por Lívia Tiede, no Tabnarede
Conta-se na mitologia yorubá que Obaluaiê (orixá das curas) nasceu repleto de pústulas, e, por isso, sua mãe Nanã teria abandonado o recém-nascido a própria sorte numa floresta. O bebê-orixá entretanto, foi encontrado por Iemanjá, que cuidou das feridas e criou o menino, até que ele atingisse idade suficiente para seguir seus próprios desígnios.
Hoje faz uma semana que os veículos de comunicação mostraram as cenas gravadas por uma câmera de segurança em que uma mulher caminha até uma caçamba de entulho e lá deixa um embrulho. O pacote, descoberto por um catador de lixo, continha um bebê de poucos dias de vida. Essa não é a primeira história de abandono de filhos recém-nascidos realizados pelas mães, a exemplo da lenda narrada.
Compartilho outra, nem atual, nem mitológica. Numa tarde qualquer por volta do 1900, um grupo de crianças que saia do colégio nas imediações da Avenida Paulista, avistou uma caixa de papelão que se mexia. Ao aproximarem-se descobriram o frágil corpinho de um bebê. Nos autos policias que se lavraram a partir do falecimento do minúsculo ser, ficou registrado que a vítima era da cor parda. A partir desse fato, algumas pessoas apresentaram-se para testemunhar: tinham categoricamente avistado uma mulher de cor escura largar um pacote na avenida. A comoção popular chegou aos jornais, e esperava-se arduamente pela punição daquela que, tendo o privilégio de parir, não era digna o bastante para manter sua cria. Foram enviados destacamentos aos hospitais da região, e toda mulher negra ou parda que procurasse por socorro clínico devia ser avaliada, para que se houvesse a certeza de que seus problemas não eram oriundos do infortúnio que gerou a morte do rebento abandonado. Não conseguiram, alhures, encontrá-la.
Quando ouvi pela primeira vez a história de Obaluaiê, abandonado pela mãe, coberto de chagas, obviamente me compadeci do indefeso. A senhora de idade que me narrou a lenda, entretanto, emendou sem pestanejar: na minha crença não julgamos as mães que abandonam seus filhos, elas tiveram seus motivos.
Penso que há um motivo para que uma história de abandono de incapaz seja parte constituinte de um mito ligado às raízes da cultura brasileira. É assustador realmente pensar que uma mãe, ao acabar de parir, tenha abandonado o seu filho. Mas é ainda mais aterrorizante pensar nos descaminhos que a levaram a tal “opção”. Como é possível pensarmos em termos de julgamento, e ainda de prévia condenação, sem questionar o que historicamente faz com que essa mácula se repita acintosamente?
Parece que tudo que envolve a vida de um ser indefeso torna-se sagrado, e , de fato, o direito a vida deve ser assim considerado. Mas, será que nessa áurea que envolve o ser puro não deveria estar inclusa também a mãe, como parte indissociável da criação? Porque, que quando a sociedade passa a discutir a crueldade do abandono não chega a óbvia conclusão de que as políticas públicas de saúde exigem revisão urgente para que esta história não se repita? Será que é cruel também discutir o aborto frente à vida que luta numa caçamba? Parece insuportavelmente óbvio que os direitos reprodutivos da mulher perpassam diversas questões tantas vezes já abordadas, mas sempre tratadas por um raso moralismo. Entre a compaixão pelo recém-nascido abandonado e a imputação da monstruosidade à mãe, o que está mais evidente é o total desamparo de uma mulher frente a uma gravidez indesejada.
Há ainda que se considerar que um outro mito acompanha esta discussão. Aquele em que apenas a mulher é responsável pelo recém nascido. Como que para cumprir uma função “anti-machismo” e calar comentários óbvios demais, a principal matéria jornalística sobre o assunto informa: o pai da bebê, que trabalha no mesmo local que a mãe, não tinha sido encontrado pela reportagem. Mas quem realmente o procurou? Antes do abandono na caçamba, houve o abandono de uma grávida com seis filhos. Isso é menos cruel? Que régua nós, cidadãos, usamos para medir tais eventos?
Na mesma matéria sobre o caso da Praia Grande há um “entusiasmo de Salém” pela mãe ter sido encontrada. A mulher afirma que não pode criar mais um filho, porque é mãe de outros seis, e que para sustentá-los ganha salário de R$600. A reportagem alardeia que apenas três desses filhos são menores de idade, mas não nos informa sobre quantos dependem dessa parca renda.
O advogado da mãe afirma que ela está com depressão pós-parto e arrependida. Fica um certo clima de que a “depressão pós-parto” seria uma desculpa esfarrapada para um ato de crueldade premeditado. Mas que mulher no mundo escolheria ter um filho pelo prazer de abandoná-lo? É a mesma discussão de outrora: nenhuma mulher deseja abortar um filho, nem abandoná-lo. Por mais insana que ela seja, isso não é uma escolha. Entretanto, todas as mulheres são constitucionalmente obrigadas a levar adiante uma gravidez indesejada, correndo o risco inclusive de padecer de outros males, como o tormento de se ver só e sem condições de criar um bebê.
As chagas das crianças brasileiras são mais profundas que a caçamba da Praia Grande. Obaluaiê se fez homem e orixá, segundo tal cultura, e traz consolo para os pobres filhos abandonados, mostrando uma história de superação. Mas por ora, temos que superar a insistência em demonizar mulheres alijadas de autonomia sobre seu corpo e que sofrem ausência de direitos.
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/livia-tiede-maes-que-abandonam-os-filhos.html
Conta-se na mitologia yorubá que Obaluaiê (orixá das curas) nasceu repleto de pústulas, e, por isso, sua mãe Nanã teria abandonado o recém-nascido a própria sorte numa floresta. O bebê-orixá entretanto, foi encontrado por Iemanjá, que cuidou das feridas e criou o menino, até que ele atingisse idade suficiente para seguir seus próprios desígnios.
Hoje faz uma semana que os veículos de comunicação mostraram as cenas gravadas por uma câmera de segurança em que uma mulher caminha até uma caçamba de entulho e lá deixa um embrulho. O pacote, descoberto por um catador de lixo, continha um bebê de poucos dias de vida. Essa não é a primeira história de abandono de filhos recém-nascidos realizados pelas mães, a exemplo da lenda narrada.
Compartilho outra, nem atual, nem mitológica. Numa tarde qualquer por volta do 1900, um grupo de crianças que saia do colégio nas imediações da Avenida Paulista, avistou uma caixa de papelão que se mexia. Ao aproximarem-se descobriram o frágil corpinho de um bebê. Nos autos policias que se lavraram a partir do falecimento do minúsculo ser, ficou registrado que a vítima era da cor parda. A partir desse fato, algumas pessoas apresentaram-se para testemunhar: tinham categoricamente avistado uma mulher de cor escura largar um pacote na avenida. A comoção popular chegou aos jornais, e esperava-se arduamente pela punição daquela que, tendo o privilégio de parir, não era digna o bastante para manter sua cria. Foram enviados destacamentos aos hospitais da região, e toda mulher negra ou parda que procurasse por socorro clínico devia ser avaliada, para que se houvesse a certeza de que seus problemas não eram oriundos do infortúnio que gerou a morte do rebento abandonado. Não conseguiram, alhures, encontrá-la.
Quando ouvi pela primeira vez a história de Obaluaiê, abandonado pela mãe, coberto de chagas, obviamente me compadeci do indefeso. A senhora de idade que me narrou a lenda, entretanto, emendou sem pestanejar: na minha crença não julgamos as mães que abandonam seus filhos, elas tiveram seus motivos.
Penso que há um motivo para que uma história de abandono de incapaz seja parte constituinte de um mito ligado às raízes da cultura brasileira. É assustador realmente pensar que uma mãe, ao acabar de parir, tenha abandonado o seu filho. Mas é ainda mais aterrorizante pensar nos descaminhos que a levaram a tal “opção”. Como é possível pensarmos em termos de julgamento, e ainda de prévia condenação, sem questionar o que historicamente faz com que essa mácula se repita acintosamente?
Parece que tudo que envolve a vida de um ser indefeso torna-se sagrado, e , de fato, o direito a vida deve ser assim considerado. Mas, será que nessa áurea que envolve o ser puro não deveria estar inclusa também a mãe, como parte indissociável da criação? Porque, que quando a sociedade passa a discutir a crueldade do abandono não chega a óbvia conclusão de que as políticas públicas de saúde exigem revisão urgente para que esta história não se repita? Será que é cruel também discutir o aborto frente à vida que luta numa caçamba? Parece insuportavelmente óbvio que os direitos reprodutivos da mulher perpassam diversas questões tantas vezes já abordadas, mas sempre tratadas por um raso moralismo. Entre a compaixão pelo recém-nascido abandonado e a imputação da monstruosidade à mãe, o que está mais evidente é o total desamparo de uma mulher frente a uma gravidez indesejada.
Há ainda que se considerar que um outro mito acompanha esta discussão. Aquele em que apenas a mulher é responsável pelo recém nascido. Como que para cumprir uma função “anti-machismo” e calar comentários óbvios demais, a principal matéria jornalística sobre o assunto informa: o pai da bebê, que trabalha no mesmo local que a mãe, não tinha sido encontrado pela reportagem. Mas quem realmente o procurou? Antes do abandono na caçamba, houve o abandono de uma grávida com seis filhos. Isso é menos cruel? Que régua nós, cidadãos, usamos para medir tais eventos?
Na mesma matéria sobre o caso da Praia Grande há um “entusiasmo de Salém” pela mãe ter sido encontrada. A mulher afirma que não pode criar mais um filho, porque é mãe de outros seis, e que para sustentá-los ganha salário de R$600. A reportagem alardeia que apenas três desses filhos são menores de idade, mas não nos informa sobre quantos dependem dessa parca renda.
O advogado da mãe afirma que ela está com depressão pós-parto e arrependida. Fica um certo clima de que a “depressão pós-parto” seria uma desculpa esfarrapada para um ato de crueldade premeditado. Mas que mulher no mundo escolheria ter um filho pelo prazer de abandoná-lo? É a mesma discussão de outrora: nenhuma mulher deseja abortar um filho, nem abandoná-lo. Por mais insana que ela seja, isso não é uma escolha. Entretanto, todas as mulheres são constitucionalmente obrigadas a levar adiante uma gravidez indesejada, correndo o risco inclusive de padecer de outros males, como o tormento de se ver só e sem condições de criar um bebê.
As chagas das crianças brasileiras são mais profundas que a caçamba da Praia Grande. Obaluaiê se fez homem e orixá, segundo tal cultura, e traz consolo para os pobres filhos abandonados, mostrando uma história de superação. Mas por ora, temos que superar a insistência em demonizar mulheres alijadas de autonomia sobre seu corpo e que sofrem ausência de direitos.
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/livia-tiede-maes-que-abandonam-os-filhos.html
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