E se o presidente do Benfica pensasse assim:
- Jesus está esgotado. Já não vai conseguir acrescentar nada e, como tem um estilo de grande desgaste para os plantéis, o mais provável era voltar a gerir mal a equipa. Para quê, então, investir numa equipa liderada por alguém que a vai acabar por consumir, mais do que aproveitá-la, que continua a pensar que o elemento fundamental dessa equipa é ele próprio e que age de acordo com esse convencimento?
Jesus poderá ter um efeito nocivo para uma equipa potencialmente melhor, em todos os aspectos, do que a deste ano. Em vez de potenciar o rendimento dos jogadores, será um anti-corpo, pois toda a gente está em condições de evoluir menos ele – o elemento fundamental, recorde-se. Jesus pode mesmo fazer diminuir uma equipa que está numa etapa de crescimento, se não conseguir acompanhá-la – algo que, dada a sua aparente dificuldade em aprender ou em mudar de métodos, é o mais provável.
O problema do Benfica não é os jogadores, é o estilo. Com estes ou com outros jogadores, melhores, ou mesmo com estes jogadores, melhores, e outros, a equipa voltará a falhar porque o tipo de jogo (unidimensional) que o treinador criou e continua a alimentar é um tipo de jogo inapto para criar soluções, quer ofensivas quer defensivas, nos momentos das decisões. Torna-se irrelevante, neste caso, se os jogadores são melhores ou não, porque o uso que se lhes dá continuará a ser desapropriado. É como passar de uma espingarda para uma metralhadora num combate contra um tanque, quando o que é preciso é um único míssil anti-tanque – uma arma especializada, para a qual o treinador não tem maõzinhas.
- Gastar dinheiro, neste clima de desconfiança, e perante a actual conjectura, seria uma loucura. Vale mais prolongar as negociações televisivas, fazer um ano de transição económica, à espera de um mercado melhor, investir menos na equipa, guardar munições para outras batalhas, até porque é impossível que os adversários também se reforcem como gostariam, pelas mesmas razões. Se o Benfica arrisca e perde pode comprometer as suas finanças durante anos.
- O concorrente (o Porto) encontra-se numa fase de transição, de que a contratação de um novo treinador será o passo mais importante. O que faz com que esta seja a altura certa para jogar na antecipação, aproveitar a vantagem enquanto ela existe, e avançar para a contratação de um novo técnico, o melhor que esteja disponível. O mercado de treinadores com qualidade suficiente para treinar Benfica e Porto é limitado, e assegurar o melhor disponível é não só uma vantagem estratégica como um golpe nos planos do adversário. O segredo para se ser o melhor é ter os melhores, e os melhores treinadores são poucos. O Porto, neste momento, está agarrado a um pepino, mas rapidamente deixa de estar, a não ser que o benfica jogue na antecipação.
- A espinha dorsal da equipa já mostrou que chega para ficar em segundo mas não tem qualidade suficiente para ser melhor que a do Porto. Nesse caso, esta é a altura para, juntamente com a troca de treinador, deixar sair Aimar, vender Javi Garcia e Cardozo (e Gaitán, claro), manter Luisão e Maxi, remodelar o estilo de jogo – algo que não pode ser feito enquanto Aimar e Cardozo estiverem no plantel, por exemplo – e aproveitar a evolução dos outros jogadores, que terão tudo a ganhar se passarem a jogar num registo diferente, mais colectivo, mais inteligente, menos impetuoso, mais competitivo, e tentar subir de bitola, arriscando mais em vez de jogar na continuidade.
Com férias completas, com um estágio de pré-época inteiro para trabalhar, sem um inicio de época com pré-eliminatórias decisivas na Champions, que não deixam espaço para trabalhar a equipa mas quase apenas para preparar os jogos, com o adversário em reestruturação, perdendo Hulk, Álvaro Pereira, Rolando e mais que venham, esta é a altura certa para apostar na evolução, e não apenas de esperar que ela acabe por aparecer. O futebol é acção, não é expectativa, e tem de se provocar a mudança. Sem iniciativa, nada acontece.