Homossexualidade No Brasil

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Homossexualidade no Brasil: Luiz

Mott
Luiz Mott – (1946)
• Bacharel em Ciências Sociais pela USP, mestrado em Etnologia
por Sorbonne (França) e doutorado em Antropologia, pela
Unicamp.
• Professor titular aposentado do Departamento de
Antropologia da Universidade Federal da Bahia.
• Ativista do movimento por direitos LGBTQIA+
• É fundador do Grupo Gay da Bahia.
• Prêmio Felipa de Souza - International Gay and Lesbian Human
Rights Commission; Medalha da Ordem do Rio Branco ; e
Ordem do Mérito Cultural (MEC).
• https://luizmottblog.wordpress.com/homossexualidade/
Livros
• Relativos ao ativismo gay
• Epidemic of Hate: Violation of Human Rights of Gay Men, Lesbians and Transvestites in Brazil (1996)
• Homofobia: A violação dos direitos humanos dos gays, lésbicas e travestis (São Francisco: IGLHRC, 1997)
• Desviados em questão: Tipologia dos homossexuais da cidade de Salvador (1987)
• Homossexuais da Bahia: Dicionário Biográfico (1999)
• Manual de Coleta de informações, sistematização e mobilização política contra crimes homofóbicos (2000)
• Violação dos direitos humanos e assassinatos de homossexuais no Brasil (2000)
• Causa Mortis: Homofobia. Salvador (2001)
• Crônicas de um gay assumido (Rio de Janeiro: Record, 2003)

• História e antropologia
• Piauí Colonial (Teresina: Secretaria de Cultura, 1985)
• O lesbianismo no Brasil (Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987)
• Escravidão, Homossexualidade e Demonologia (São Paulo: Ícone, 1988)
• Sexo Proibido: Virgens, Gays e Escravos nas garras da Inquisição (Campinas: Papirus, 1989)
• Rosa Egipcíaca: uma santa africana no Brasil (Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1993)
• Sergipe colonial e imperial (Aracaju: Edufs, 2008)
• Bahia: Inquisição e sociedade (Salvador: Edufba, 2010)[2]
• A comida baiana: Cardápios de um prisioneiro ilustre (1763) (Salvador: Edufba, 2016). Em coautoria com
Jeferson Bacelar.
Homossexual – o termo
• Defesa do uso do termo homossexual e crítica
àqueles que querem substituí-lo por
homoerótico ou simplesmente aboli-lo.
• O termo, além de universal e histórico, reúne
todas as aspirações dos defensores dos
direitos de cidadania deste segmento social.
Homossexual – o termo
• Dois são os argumentos usados contra o uso
da palavra homossexual: 1o] que foi um termo
inventado pelos médicos com o objetivo de
patologizar a prática do amor entre pessoas
do mesmo sexo; 2o] que qualquer rotulação
sexual é uma camisa de forças contra as
ilimitadas nuances da sexualidade humana.
Homossexual– o termo
• 1º ]O inventor do termo homossexual e homossexualismo
não era um médico e sim um jornalista e advogado húngaro,
Karol Maria Kertbeny, que escreveu este conceito pela
primeira vez nos jornais em l869 para lutar contra o
parágrafo 175 do Código Penal Alemão, que condenava os
praticantes do amor do mesmo sexo à prisão com trabalhos
forçados.
• Para se proteger e conferir maior respeitabilidade a defesa
desta minoria discriminada, Kertbeny usou o pseudônimo de
Dr. Benkert, embora nunca tivesse sido médico. Aí está o erro
de Foucault e de quantos criticam o termo homossexual
como sendo uma invenção da classe médica.
Homossexual – o termo
• 2º ] O ser humano necessita de rótulos para se situar no mundo –
homem/mulher; branco/negro; adulto/criança; ateu/religioso;
casado/solteiro, etc, etc. Rótulos ou classificações ajudam-nos a
afirmar nossa identidade pessoal, facilitam nosso processo de
socialização e a nos defender contra eventuais opositores.
• Os critérios de classificação ou rotulação é que podem ser
discutíveis, sobretudo se são impostos pelos donos do poder a fim
de manter a dominação. Os nazistas pretenderam ser “raça
superior” e os não arianos, “raça inferior”. Rótulos abomináveis
pois baseados em mentiras e visando a opressão. Não ocorre o
mesmo com os termos homossexual, gay e lésbica, que foram
inventados e aprovados pelos próprios interessados, os
homossexuais.
Homoerótico – o termo
• Quanto ao termo homoerótico – proposto por alguns como
substituto do homossexual: este conceito, foi inventado por um
médico, também húngaro, Dr. Ferenczi e divulgado no Brasil – e
apenas aqui, por outro médico oficialmente heterossexual, Dr.
Jurandir Freire Costa.
• Militantes gays entraram nesta canoa furada de dois médicos que
reduzem a homossexualidade tão somente a momentâneos de
atos eróticos – se para milhões de seres humanos que amam
predominantemente ou exclusivamente do mesmo sexo, ser gay ou
lésbica é muito mais do que transar com o mesmo sexo –
implicando numa identidade, afirmação, estilo de vida e projeto
civilizatório alternativo, que podemos chamar de cultura
homossexual.
Mitos do erotismo e sexualidade gay
• Tese: a sexualidade e o erotismo dos gays não
é tudo aquilo que os héteros imaginam:
• Um primeiro mito é que todo gay tem dentro
de si uma mulher acorrentada. Puro equívoco:
a grande maioria dos homossexuais estão
satisfeitos em ser homens, gostam de seu
corpo, não aspiram em tornar-se nem travesti
nem mulher.
Mitos do erotismo e sexualidade gay
• Um segundo mito muito divulgado é que todo
homossexual é um viciado em sexo, um
sexófilo insaciável. Outros veem o gay como
sinônimo de profissional do sexo, sempre
disponível e à procura de clientes. Entretanto,
pesquisas realizadas pelo grupo gay da Bahia
mostram que gays passam meses sem manter
relações sexuais.
Mitos do erotismo e sexualidade gay
• Terceiro mito: homossexualidade seria sinônimo de
cópula anal. Tão arraigada está no imaginário
popular esta idéia, que desde a Idade Média os
cristão passaram a associar “sodomia” a
“homossexualidade”, rotulando os gays de
“sodomitas”, isto é, amantes da penetração anal.
Há héteros (homens e mulheres) que praticam
penetração anal com seus parceiros e há gays que
não a praticam. Portanto, homossexualidade é
uma coisa, “analidade” é outra.
Mitos do erotismo e sexualidade gay
• Quarto mito: os gays são potencialmente perigosos
molestadores de crianças. Sobretudo na Inglaterra
e Estados Unidos, este preconceito é tão forte que a
legislação impedia aos homossexuais ensinarem em
escolas infanto-juvenis e muitos pais manifestando-
se abertamente contra a presença de professores
gays nos estabelecimentos de ensino. Pesquisas
bastante sérias e exaustivas realizadas comprovam
o contrário: são os heterossexuais que mais abusam
sexualmente de crianças e adolescentes.
Mitos do erotismo e sexualidade gay
• Quinto mito: os homossexuais são transmissores da “peste
gay”. Teve “cientista” que chegou a declarar que o HIV era
um vírus gay. Outros imaginaram que havia uma
predisposição orgânica do gay para se contaminar pelo vírus
da imunodeficiência humana. Há fortes evidências entre os
mais respeitáveis cientistas que comprovam o oposto: que
a Aids surgiu entre populações heterossexuais; nada
predispõe organicamente o gay para ser contaminado pelo
HIV; os homossexuais foram acidentalmente a população
mais atingida, mas igualmente o grupo que melhor tem
respondido à prevenção da “epidemia do século XX”,
inclusive os inventores do “safe sex”.
Homofobia e identidade
• Contam-se nos dedos os políticos, intelectuais de
primeiro escalão, líderes religiosos, esportistas célebres
e mesmo artistas vips, que embora muitos deles sejam
reconhecidos pela opinião pública como praticantes do
“amor que não ousa dizer o nome”, atreveram
posicionar-se positivamente vis-a-vis a homossexualidade
ou se assumir gay ou lésbica.
• A quase totalidade dos enrustidos continuam a praticar
o jogo hipócrita do “eu finjo que não sou e você finge
que não sabe que eu sou, não tocamos no assunto e tudo
continua como está…”
Homofobia e identidade
• A principal responsável pelo enrustimento da quase
totalidade dos amantes do mesmo sexo é a homofobia – o
medo e ódio da homossexualidade.
• Homofobia internalizada pelos próprios homossexuais,
que desenvolvem um medo irracional de serem vítimas da
homofobia global, que ainda vê e trata gays e lésbicas
como marginais, doentes ou imorais.
• Isso está em flagrante contradição aos ensinamentos das
mais variadas áreas das Ciências Naturais e Sociais, que
garantem ser a homossexualidade tão natural e normal
quanto a heterossexualidade e a bissexualidade.
Homofobia e identidade
• A falta de modelos positivos de homossexuais bem sucedidos,
tranquilos com sua própria orientação sexual, reconhecidos e
exitosos como profissionais competentes em suas respectivas
áreas, é um dos principais motivos que explica a baixa
autoestima, o subdesenvolvimento da identidade e o medo de
assumir e afirmar a própria homossexualidade.
• As minorias sociais – sejam negros, índios, judeus, mulheres,
proletários, deficientes físicos, etc – precisam de ícones que
sintetizem no imaginário destes oprimidos, a fé e esperança
que é possível ser membro de uma grupo discriminado e ao
mesmo tempo, tornar-se, se não um herói, quando menos
atingir a cidadania plena.
Homofobia e identidade
• Para um grupo social cuja expressão do que de
mais preza o ser humano, o amor, foi considerado
nos últimos quatro milênios como abominável e
nefando pecado, além de crime hediondo
merecedor da pena de morte na fogueira ou nos
campos de concentração– tal preconceito e
estigma dão a chave para se entender os excessos
da violência anti-homossexual que faz do Brasil o
campeão mundial de assassinatos de gays,
travestis e lésbicas.
Homofobia e identidade
• É a crueldade da homofobia que vêm impedindo que os amantes do
mesmo sexo desenvolvam sua consciência, identidade, autoestima e
afirmação homossexual. Dentre todas as minorias sociais do Brasil, os
homossexuais são as principais vítimas da violência e a
homossexualidade continua sendo o maior tabu do Ocidente.
• Enquanto jovens negros, judeus, deficientes físicos, etc, aprendem com
seus pais como enfrentar o preconceito e a discriminação, ensinando-
os a desenvolver sua autoestima enquanto membros de uma minoria,
com os jovens gays, lésbicas, travestis e transexuais a realidade é
cruelmente oposta: quando a família desconfia ou descobre que seu
filho é homossexual, o tratamento recebido pelo jovem vai do insulto,
castigo e agressão física, aos tratamentos compulsórios de “cura”,
incluindo expulsão de casa e até a execução sumária.
Homofobia e identidade
• Esta guerra doméstica, nas escolas e em todas esferas da
sociedade explica que a taxa de suicídio entre adolescentes
homossexuais é três vezes superior à média.
• Apesar dos homossexuais estarem presentes em todas as
esferas e grupos sociais, inclusive no seio de outras minorias,
a imagem dos gays perpetuada pela mídia, sobretudo pela
televisão, reforça a ideia do homossexual efeminado,
palhacinho, medroso e fútil. As pouquíssimas vezes que em
alguma novela tentou-se mostrar gays e lésbicas menos
estereotipados e mais afinados com a realidade/normalidade
contemporânea, prontamente houve pressão dos setores
mais conservadores e ação da censura.
Homossexualidade e anarquismo
• Três hipóteses etno-históricas ajudam-nos a
entender tantos séculos de perseguição contra
os homossexuais – pistas que servirão de ponte
para mostrarmos que existem muitas
convergências e identidades entre a
Homossexualidade e o Anarquismo:
1. critério de engate e formação de novos pares;
2. dissociação do sexo da reprodução; e
3. quebra das barreiras de classe, idade e raça.
Critério de engate e formação de novos pares

• Os gays elegeram como critério de engate e


formação de novos pares, a atração física, o
amor romântico e a identificação
interpessoal – enquanto as uniões entre
homens e mulheres eram autoritariamente
determinadas pelos interesses e aliança de
famílias, menosprezando e negando aquelas
liberdades, aniquilando a vontade do futuro
casal.
Dissociação do sexo da reprodução
• Os donos do poder rotularam o amor unissexual de
pecado contra a natureza, cópula de satanás e ameaça
de extinção da espécie humana… Hoje ainda, a Igreja e
os setores mais conservadores de nossa sociedade
entram em pânico com a questão, não só chamando a
união homossexual de “porcaria” e “cachorrada”, mas
sobretudo acusando os defensores dos direitos
LGBTQIA+ de grave ameaça à família e ao casamento
heterossexual – o que confirma nossa ilação da
fragilidade e insegurança dos heterossexuais mais
belicosos.
Quebra das barreiras de classe, idade e
raça.
• A endogamia (casamento dentro do próprio grupo) foi a forma
encontrada por muitas sociedades para controlar e reprimir a
livre escolha de parceiros e impedir a mistura social. De acordo
com este dogma, o homem deve sempre ser maior e mais
velho que a mulher; a fêmea branca não pode juntar-se com
macho de cor; não dá certo a união de nobre com gente da
plebe; etc, etc. Como o matrimônio tradicional visa manter o
patrimônio e a pureza (racial, étnica, econômica) das famílias,
as uniões sexuais entre desiguais sempre foram mal vistas,
proibidas e castigadas. Como a relação entre homossexuais é
estéril, não gera descendentes, não há porque os gays brancos
reprimirem seus arroubos de democracia racial.
Homossexualidade e anarquismo
• É por tais razões – entre outras – que entendemos
que homossexuais e anarquistas foram e
continuam sendo perseguidos pelos donos do
poder civil, religioso e militar, posto que ambos
professam a profunda convicção de que
historicamente, todas as formas de governo
interferem injustamente na liberdade individual –
seja na esfera sócio-política, seja na libidinal e na
própria imposição rígida e excludente de papéis de
gênero e de divisão sexual do trabalho.
Homossexualidade e anarquismo
• Neste sentido, com o surgimento da filosofia-política libertária,
os gays mais conscientes e os anarquistas mais tranquilos quanto
a sua sexualidade, passaram a lutar de mãos dadas contra o
mesmo inimigo comum – a opressão burguesa e machista,
incapaz de conviver com a dissidência e abrir espaço para uma
convivência mais harmônica e menos competitiva entre os
homens. E mais: o Anarquismo, enquanto filosofia e movimento
político, ofereceu legitimação e reforço intelectual à cidadania
dos homossexuais, entendendo a homofobia como uma violência
e discriminação a mais do sistema tradicional, de tal modo que a
história registra a presença de muitos homossexuais que
participaram ativamente das lutas libertárias lado a lado com
militantes anarquistas.

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