ARA0434 - AULA 3 e 4
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ALIMENTAÇÃO
CULTURA E AS
CONCEPÇÕES DE CULTURA
ALIMENTAR
ALIMENTAÇÃO E
CULTURA
Objetivos
Comida de festas
Comida de domingo
IMAGINÁRI
REAL SIMBÓLICO
O
ASPECTO REAL DE UM
ALIMENTO
Refere-se ao alimento em si, in natura, ao
alimento natural. Podemos dizer que é o
aspecto mais próximo ao que chamamos de
natureza. Falar de aspecto real de um
alimento é entende-lo na sua dimensão
biológica, seus componentes físico-
químicos.
Se falamos de uma maçã, o aspecto real dela é a
maçã em si, entendida a partir das características
físico-químicas e sensoriais (cor, aroma, textura,
sabor) que a compõem.
Se quisermos estabelecer uma conexão entre a
dimensão real do alimento e a Nutrição, podemos
dizer que o valor real de um alimento é atribuído
pelo nutricionista quando este se atém sobre
os micros e macronutrientes de um alimento, suas
contagens calóricas, proteicas e de vitaminas.
É claro que a dimensão real de um
alimento ou qualquer outra coisa é de
suma importância, pois corresponde à
constituição concreta de uma determinada
coisa. Entretanto o que estamos propondo
é o reconhecimento da existência de outras
dimensões que agem com simultâneo
impacto e importância sobre diferentes
aspectos em nossa sociedade.
A Antropologia é ciência
que se propõe a fazer uma
conexão entre natureza e
cultura.
ASPECTO SIMBÓLICO DE UM
ALIMENTO
Nem só da dimensão real se compõem um alimento.
Existem diversos valores simbólicos que
são culturalmente atribuídos a um alimento.
Pegando ainda o exemplo da maçã, há um valor
simbólico sobre ela, assim como sobre a maioria das
frutas, que conversa muito com a área da Nutrição, o
valor de um alimento saudável. Nesse
sentido, dizer que um alimento é saudável é
imprimir nele um valor simbólico.
Diversos valores simbólicos podem ser atribuídos
sobre diferentes objetos em nossa vida. Um outro
exemplo, ainda tomando a maçã como exemplo,
podemos pensar que se essa maçã é vendida numa
embalagem mais sofisticada, harmonicamente
arrumada na prateleira ou se está disposta na gôndola
de qualquer maneira, diferentes valores simbólicos
vão incidir sobre ela, relacionados a um alimento de
maior ou menor qualidade.
O que queremos chamar a atenção é que, em
qualquer sociedade, um alimento nunca é só um
produto “biologicamente ingerível”, mas é também a
soma dos valores simbólicos atribuídos a ele, que
fazem com que ele se torne ou não culturalmente
comestível, além de conferirem a esse alimento
categorias diversas, que definem os valores desse
alimento para cada grupo social.
A escolha do que será considerado “comida ” e do
como, quando e por que comer tal alimento, é
relacionada com o arbitrário cultural e com uma
classificação estabelecida culturalmente. A cultura
não apenas indica o que é e o que não é comida,
estabelecendo prescrições (o que deve ser ingerido e
quando) e proibições (fortes interdições como os
tabus), como estabelece distinções entre o que é
considerado “bom” e o que é considerado “ruim ”,
“forte”, “fraco”, ying e yang, conforme
classificações e hierarquias culturalmente definidas.
MARIA EUNICE MACIEL -
2001
ASPECTOS IMAGINÁRIOS DA
ALIMENTAÇÃO
Vimos que um alimento é, primeiramente, uma substância
biologicamente ingerível, constituída por elementos físicos,
químicos e compostos nutricionais, o que constitui seu aspecto
real. Constatamos também que, além dessa dimensão real, há
aspectos simbólicos que incidem sobre um alimento, conferindo a
eles valores socioculturais que determinam se este alimento é
culturalmente comestível, ou seja, qual sua relevância, qualidade e
funções dentro de um grupo social.
Falaremos agora de uma outra dimensão atribuída aos alimentos,
os aspectos imaginários. Os aspectos imaginários são construções
inventadas e culturalmente validadas sobre um determinado objeto.
Esses constructos podem se referir a todo
tipo de coisa. Lembra da maçã do exemplo
anterior?
Pois bem, se essa maçã, caísse no chão,
independentemente do nível de esterilização desse
chão, é muito provável que você já não sentisse o
mesmo desejo de comê-la. Isso porque temos em
nossa sociedade construções sociais sobre higiene e
pureza que se relacionam diretamente com as
construções imaginárias que fazemos em
determinadas situações.
“O homem nutre-se também de imaginário
e de significados, partilhando
representações coletivas. Se é possível
avaliar o valor nutritivo do alimento (um
combustível a ser liberado como energia e
sustentar o corpo) o ato alimentar implica
também em um valor simbólico, o que
complexifica a questão, pois requer um
outro tipo de abordagem.”
FISHLER, 2001, p. 20.
Essas construções não são estáticas,
variam ao longo do tempo, de
sociedade para sociedade e, muitas
vezes, entre grupos sociais de uma
mesma sociedade. Algumas delas têm
comprovação científica, mas outras só
transitam no campo da crença e tabu
social.
No Brasil, durante muito tempo, os industrializados
foram associados a alimentos mais saudáveis pelo
seus baixos níveis de contaminação. No entanto,
atualmente, são associados a produtos artificiais, por
perderem a relação com o fazer manual da cozinha.
Tudo isso são aspectos imaginários que incidem
sobre os produtos.
Assim como os aspectos simbólicos, os aspectos
imaginários também são mutáveis, intangíveis, mas,
assim como os aspectos reais, configuram-se como
elementos importantes para uma compreensão mais
completa e complexa do alimento, da alimentação e
das interações deles com a sociedade humana.
“Desvendando mistérios,
misturando o mundo virtual ao
real, o imaginário sobre o comer
vai se modificando e fortalecendo
a visão científica do ato de se
alimentar.”
SANTOS, 2008, p.37.
Diante disso, podemos dizer que existe uma
diferença entre o que é alimento e o que é comida.
Roberto Da Matta (1987, p.21-22). defende a ideia
de que:
Alimento
Comida