Potências Da Alma
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Santo Tomás de Aquino
São Tomás de Aquino, nasceu na cidade de Roccasecca
(Itália) em 1225 e foi um importante teólogo, filósofo e
padre dominicano do século XIII. Foi declarado santo pelo
papa João XXII em 18 de julho de 1323. É considerado um
dos principais representantes da escolástica (linha
filosófica medieval de base cristã). Foi o fundador da
escola tomista de filosofia e teologia.
“A mosca que pousa no mel não pode voar; a alma que fica presa ao sabor do
prazer, sente-se impedida em sua liberdade e contemplação.”
“Meus são os Céus e minha é a Terra, meus são os homens, e os justos são
meus; e meus os pecadores. Os Anjos são meus, e a Mãe de Deus, todas as
coisas são minhas. O próprio Deus é meu e para mim, pois Cristo é meu e
tudo para mim.” (Sobre a Eucaristia)
“Não faça coisa alguma, nem diga palavra alguma que Cristo não faria ou não
diria se encontrasse as mesmas circunstâncias.”
Psicologia tomista
Deus é o criador da alma, mas isso não significa que ela seja parte ou
induzida do ser de Deus. Assim, ainda que não seja necessária a criação da
alma se disposta a matéria, já que Deus pode não criá-la, mesmo que se
disponha a matéria, será condição para a infusão instantânea da alma no
corpo, a disposição simultânea do corpo. E é pautado nisso que aplicará a
teoria da animação simultânea na concepção dos demais homens. O
Aquinate estabelece, retomando a tese de Agostinho que a alma “Deus a
cria infundindo e a infunde criando no corpo”.
Natureza da alma
A alma humana é de natureza espiritual, isto é, não é
induzida ou tirada da matéria (traducianismo). A alma de
natureza espiritual, como a intelectiva, é superior em ser,
dignidade, nobreza e perfeição à alma de natureza corporal,
como a vegetativa e a sensitiva. Por isso, a alma de natureza
espiritual é imaterial, incorruptível e imortal. A alma humana
– que é simultaneamente sensitiva e nutritiva – é criada por
Deus no final do processo da geração humana, depois da
corrupção da última forma substancial pré-existente na
matéria do sêmen dos pais, que é a forma de corporeidade.
Ciclo da vida humana consciente
As potências humanas se conjugam entre si de modo a propiciar ao homem
os atos necessários à vida que lhe é própria, ou seja, racional e consciente de
si mesma. Cada potência tem, portanto, o seu papel peculiar. A doutrina
tomista projeta uma luz especialmente esclarecedora sobre o assunto, em
particular sobre aquelas que ela chama de potências apetitivas.
Para entender bem qual a sua natureza e o seu papel, convém recordar,
ainda que rapidamente, a noção de ciclo da vida consciente que se
depreende do ensinamento tomista. Sobre ele o Padre Robert Edward
Brennan, O. P. (1960), tece considerações que poderiam ser resumidas nos
seguintes termos:
Ciclo da vida humana consciente
O ser humano é levado pelas faculdades com que foi dotado a procurar,
primeiramente, conhecer a realidade que o rodeia. Conhecendo-a, propende para
aquilo que lhe parece conveniente. E propendendo, põe-se em ação de modo a
obter aquilo que desejou, ou a evitar o que rejeitou.
Na etapa inicial ele põe em movimento suas faculdades cognoscitivas (que tem
habilidade de conhecer). Seus sentidos presentativos, ou externos (visão, audição,
olfato, etc.), captam o objeto e o apresentam aos sentidos representativos, ou
internos (sentido comum, imaginação, memória e cogitativa). Estes últimos o
transformarão numa imagem, da qual o intelecto extrairá as singularidades para
formar uma idéia abstrata. Voltando à imagem mental, o intelecto considerará as
características peculiares do objeto, obtendo, dessa maneira, o conhecimento de
sua singularidade.
Ciclo da vida humana consciente
Na fase seguinte, suas potências apetitivas, tanto a natural quanto as
sensitivas e a racional, o levarão a desejar ou rejeitar o objeto, como
veremos mais detalhadamente logo adiante. E na que se lhe sucede, sua
potência locomotora o induzirá a mover-se e agir em coerência com seu
entendimento, seus apetites e sua vontade.
Esse encadeamento aparentemente complexo nada mais é do que o que
ocorre com cada um, a cada momento. Quando vemos, por exemplo, um
prato saboroso disposto para nossa refeição numa mesa, desejamo-lo
instintiva e racionalmente, movemo-nos até ele e comemo-lo. Nada mais
trivial.
Ciclo da vida humana consciente
O ciclo da vida consciente pode, portanto, ser esquematizado, com base em São Tomás:
- CONHECER
- Faculdades cognoscitivas:
- sentidos presentativos (ou externos)
- sentidos representativos (ou internos)
- conhecimento racional
- PROPENDER
- Faculdades apetitivas:
1) natural (comum a todos os seres vivos);
2) sensitiva (comum aos animais): apetite concupiscível e irascível;
3) intelectiva (comum aos Anjos e homens): decisões voluntárias que procedem do conhecimento
racional
- AGIR
Faculdade locomotora: ação, comportamento
Ciclo da vida humana consciente
O mesmo sucede com os atos do apetite irascível, ou as reações de emergência, segundo certos
autores modernos (cf. BRENNAN, 1969). Assim, por exemplo, um estímulo favorável de difícil
obtenção poderá produzir a esperança, quando levasse o apetite irascível a uma inclinação afetiva
para este bem árduo. Já um estímulo desfavorável difícil de evitar poderia produzir o medo,
quando produzisse a emoção correspondente à consciência de um mal do qual não se pode fugir.
Paixões da alma
O Padre Brennan (1969) chama a atenção para o fato de que, segundo São Tomás, a cada paixão
corresponde uma antagônica (amor-ódio; desejo-aversão; esperança-desespero, etc.), exceto no
caso da cólera (ou ira), pois esta se originaria da posse afetiva de um mal árduo ou difícil de evitar,
e não existiria uma emoção específica oriunda da posse afetiva de um bem árduo, uma vez que a
posse do bem, seja árduo ou não, de si já provocaria a alegria, ou o gozo. Por essa razão, uma
pessoa que acaba de ser agredida fisicamente pode sentir cólera. Mas essa mesma pessoa sentirá
alegria ao ser aprovada num exame, tenha sido este difícil ou não. Embora a intensidade da alegria
possa ser maior ou menor, o gênero de emoção permanece o mesmo.
Outro ponto assinalado pelo Padre Brennan (1969) e digno de nota é que, segundo o Aquinate, não
há paixão na alma do homem que não esteja fundada em algum tipo de amor. Com efeito, São
Tomás mostra que a razão disso é que toda outra paixão ou implica num movimento em direção a
um objeto ou no descanso nele. E isto provém de certa conaturalidade ou proporção que pertence
à natureza do amor. Portanto, diz ele, é impossível que alguma outra paixão seja universalmente
causa de todo amor, podendo acontecer, contudo, que uma outra paixão seja causa de um
determinado amor, assim como um bem é causa de outro.
Paixões da alma
Em suma: O padrão de orientação da vontade
na escolha é a inteligência e não os instintos e
as paixões. Estando o homem pré-determinado
a escolher o que deseja enquanto desorientado
pelo instinto e pelas paixões, se torna mais
escravo da escolha pré-determinada. Torna-se
menos livre ao escolher.
Potências apetitivas
Apetite intelectivo: - a vontade - é um apetite superior ao apetite
sensitivo, não havendo nela nem concupiscível, nem irascível; é a
inclinação natural do intelecto para algo. A vontade não é uma
potência superior ao intelecto, pois o objeto próprio do intelecto é
mais nobre e está nele mesmo, como quando se diz que a
verdade e a falsidade a que consideram o intelecto estão na
mente, enquanto o objeto próprio da vontade está na coisa, como
quando se diz que o bem e o mal, a que tendem a vontade, estão
nas coisas. A vontade é inferior ao intelecto e, inclusive,
depende dos princípios do intelecto para executar a sua ação, mas
isso não significa que a vontade mesma não possa mover o
intelecto.
Potências apetitivas
livre arbítrio - é uma potência apetitiva-cognoscitiva que faculta o homem julgar os
objetos do apetite sensitivo (sensibilidade) e do apetite intelectivo (vontade),
segundo o que deles conhece, cujo julgamento não resulta de um instinto natural,
senão de certa comparação da razão frente à orientação de certas apreensões
sensíveis e inteligíveis; e é necessário que o homem julgue livremente, pois isso é
uma exigência natural do ser racional; o livre arbítrio não é senão a própria potência
apetitiva do intelecto, pois assim como o intelecto está para a razão, tratando-se da
apreensão intelectiva, da mesma maneira, tratando-se do apetite intelectivo, a
vontade está para o livre-arbítrio, que nada mais é do que a potência de escolha.
Assim, o intelecto tem por um lado a potência de raciocinar (razão), enquanto vai de
um conhecimento a outro e, por outro lado, tem a potência de querer (vontade),
enquanto isso é um simples desejo e tem a potência de eleger (liberdade), enquanto
deseja alguma coisa por causa de outra que se quer conseguir.
Resumo das potências
A intelectiva possui duas potências – a razão, que ordena à verdade, e a vontade, que é o apetite do
intelecto e se ordena ao bem. A sensitiva também possui duas potências – a concupiscível, que move a
alma para a busca de bens sensíveis e evita os males sensíveis, e a irascível, que move a alma para a busca
de bens sensíveis difíceis e evita os males sensíveis difíceis de evitar. A potência sensitiva age mediante os
órgãos dos sentidos. A potência intelectiva, inclusive e sobretudo a vontade (apetite do intelecto) utiliza a
potência sensitiva como ferramenta do seu operar. Com os movimentos do apetite sensitivo, que são as
paixões da alma, sobretudo a consolação, a potência intelectiva passa a operar. A inteligência (razão)
discernindo e julgando (livre arbítrio), e a vontade (apetite intelectivo) buscando ou evitando um
determinado bem temporal, natural, sensível, moral, sobrenatural ou espiritual. Mas cabe ressaltar que
quando falamos de apetite na doutrina são-joanina estamos falando do “conjunto apetitivo” do ser
humano (alma e corpo), tão bem elucidado por Santo Tomás. Resumindo, os apetites sensitivos e as
paixões, sobretudo a consolação, ativam o apetite intelectivo, a vontade, da potência intelectiva, após
passar pelo crivo do intelecto, da razão, também da potência intelectiva da alma humana. Daí podermos
dizer que, quando São João da Cruz fala de apetite refere-se à atividade racional e voluntária (com o
concurso da alma e suas potências e do corpo e seus sentidos) de desejar e de buscar possuir
desordenadamente (inerente à natureza humana decaída pelo Pecado Original) algum bem temporal,
natural, sensível, moral, sobrenatural ou espiritual.
A vida interior
No dia do nosso Batismo, Jesus nasceu, verdadeiramente,
dentro de nós, “o Reino de Deus está no meio (dentro) de
vós” (Lc. 17, 21). Para encontrarmos Jesus, o Verbo, a
Palavra, o Reino de Deus dentro de nós, no nosso íntimo,
no nosso interior, precisamos iniciar um belo e profundo
caminho de interiorização, renúncia e santificação. Nosso
Mestre São João da Cruz aponta o sentido que deve tomar
a nossa caminhada rumo ao encontro com o Verbo, o
Espírito Santo, a Santíssima Trindade, em nosso interior.
A vida interior
As virtudes teologais, Fé, Esperança e Caridade, com o nosso “fiat”
(faça-se), purificam e possuem, plenamente, as faculdades de
nossa alma. A Fé purifica a nossa inteligência, a Esperança purifica
a memória e a Caridade purifica a nossa vontade. Sendo a Vontade
aquela que dá o sim, o “fiat”, ao Amor de Deus, é esta que
devemos, mortificar, deixar ser mortificada pela Graça e direcionar
para Deus que está dentro de nós, usando-a para fechar as
“janelas da alma” (os sentidos) renunciando, corajosamente, à
paixão do gozo desordenado posto nos bens (nas coisas e nas
criaturas) em geral.
A vida interior
As virtudes teologais, Fé, Esperança e Caridade, com o nosso “fiat”
(faça-se), purificam e possuem, plenamente, as faculdades de
nossa alma. A Fé purifica a nossa inteligência, a Esperança purifica
a memória e a Caridade purifica a nossa vontade. Sendo a Vontade
aquela que dá o sim, o “fiat”, ao Amor de Deus, é esta que
devemos, mortificar, deixar ser mortificada pela Graça e direcionar
para Deus que está dentro de nós, usando-a para fechar as
“janelas da alma” (os sentidos) renunciando, corajosamente, à
paixão do gozo desordenado posto nos bens (nas coisas e nas
criaturas) em geral.
A vida interior
Bens temporais - riquezas, posições, ofícios e outras honras exteriores; casamentos, parentes,
filhos etc;
Bens naturais - beleza, graça, boa aparência e todos os outros dotes corporais; também quanto à
alma: o bom entendimento, a discrição, e todas as demais qualidades pertencentes à razão;
Bens sensíveis - tudo o que cai sob o domínio da visão, audição, olfato, paladar e tato, e que
serve para formar os raciocínios interiores imaginários; em uma palavra, tudo o que pertence aos
sentidos corporais interiores e exteriores;
Bens morais - as virtudes morais e os hábitos resultantes de seus atos, o exercício das obras de
misericórdia, a observância das leis divinas e humanas; em resumo, tudo o que, ordinariamente,
ocupa a atividade de um caráter inclinado à virtude;
Bens sobrenaturais - as graças e os dons concedidos pelo Senhor, superiores à habilidade e
poder natural, chamados gratia gratis datae ‑ dons gratuitos);
Bens espirituais - todos aqueles cuja moção nos ajuda e dirige às coisas divinas, ou favorecem o
trato da alma com Deus e as comunicações de Deus à alma.
A vida interior
A vida interior consiste, então, em entrar em nós mesmos pela mortificação dos
sentidos e das faculdades da alma, através da vida de oração interior-contemplativa,
com a finalidade de encontrarmos, no centro de nosso ser, o Reino de Deus, Jesus
Cristo, o Amado de nossas almas. Foi o que Santo Agostinho descobriu, dizendo que
o Amado de sua alma, que ele buscava fora dela, na verdade estava dentro de seu
ser, no âmago de sua alma.
Pela renúncia aos prazeres, à satisfação dos apetites sensitivos (a sensibilidade), aos
nossos pensamentos e vontades próprios, alheios aos de Deus, deixemos o Deus-
Amor possuir-nos plenamente, pois Ele quer dirigir, governar, amorosa e
suavemente, a nossa vida, a nossa alma, o nosso ser, para que da união com Ele,
ainda aqui na terra, que se dá no íntimo de nosso ser, transborde uma torrente de
amor para o mundo exterior a regar, abundantemente, as nossas relações familiares,
sociais e caritativas.
A vida interior
O Reino de Deus, aqui na terra, começa dentro de nós, na nossa individualidade, e
continua fora de nós, transbordando no coletivo humano, no estabelecimento de
um convívio fraterno, humano, ceio de Paz, Amor e Alegria, na Comunidade-Família
humana.
Desta forma a oração conduz à perfeição, à santidade de vida, que não consiste senão na plena
conformidade de amor com a vontade de Deus e a plena conformidade a Ele. Já de seguida, vamos ver
qual o meio para esta conformidade de amor. Para Santa Teresa todo o caminho da oração e todo o
edifício espiritual assenta no amor, na caridade. Santa Teresa compreende profundamente o preceito do
amor a Deus e ao próximo. Repete este preceito ao longo de todos os seus escritos, e esta formulação do
preceito da caridade sintetiza-o admiravelmente nas Moradas: “A perfeição verdadeira é amor de Deus e
do próximo, e com quanto mais perfeição guardarmos estes dois mandamentos, mais perfeitas seremos”
(M I, 2,17). E ainda: “Aqui só estas duas coisas nos pede o Senhor: amor de Sua Majestade e do próximo, é
o que devemos trabalhar. Guardando-as com perfeição, fazemos a Sua vontade, e assim estaremos unidas
com Ele” (M V, 3,7). Para ela, a união com Deus caracteriza-se pelo cumprimento da vontade de Deus e
este cumprimento da vontade de Deus, traduz-se para a Santa em serviço de amor ao próximo.
A substância da oração perfeita
E continua a dar-nos critérios mais precisos: “O sinal mais certo que
há, a meu parecer, para ver se guardamos estas duas coisas (amor à
Majestade Divina e ao próximo), é guardar bem a do amor ao
próximo; porque, se amamos a Deus não se pode saber, embora
haja grandes indícios para entender que O amamos, mas o amor do
próximo, sim. E estai certas que, quanto mais neste vos virdes
aproveitadas, mais o estais no amor de Deus; porque é tão grande o
que Sua Majestade nos tem, que em paga do que temos ao
próximo, fará crescer o que temos a Sua Majestade por mil
maneiras. Disto não posso eu duvidar” (M V, 3,8).
Mística e ascese
A via mística inicia-se no homem com a noite do espírito, onde do escuro do espírito só se
contempla a luz do Espírito Santo. O ápice da mística consiste na contemplação, pelo auxílio
da graça infusa. Embora o Espírito possa causar esta iluminação de ordem sobrenatural sem
supor a prévia purificação do espírito, ordinariamente aquela se segue a esta, pois, como já se
disse, assim como o corpo naturalmente ordena-se à alma, a ascética naturalmente orienta-se
para a mística. Por isso, a graça supõe o exercício pleno da natureza humana, sobretudo da
razão e das faculdades que lhe são subordinadas.
A ascese é assegurada fundamentalmente pela abstinência, fundamento de muitas outras virtudes: jejum,
castidade, penitência, mortificação, abstendo-se até das coisas místicas lícitas para entregar-se mais livremente
ao serviço de Deus. Enfim, a ascese é a prática de purificação da alma, mediante a renúncia dos bens
exteriores. Isso não seria possível sem a disciplina do corpo, com relação aos prazeres. Esta reta ordenação da
alma pelo corpo ao verdadeiro bem se dá porque a inteligência iluminada pela graça discerne a verdade e
influencia a vontade fortalecendo-a quanto ao fim a ser almejado, ao mesmo tempo em que evita o mal e
orienta e corrige os exageros das paixões. Como se trata de um gradativo crescimento espiritual, aqueles que
possuem o grau principiante da caridade, se enquadram na via ascética, onde procuram a purificação, progridem
na caridade e demais virtudes, culminando com o recebimento de outros dons.