Pastoral da Penitência - Documentos da CNBB 06 - Digital
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Pastoral da Penitência - Documentos da CNBB 06 - Digital - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
Pastoral da Penitência
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
1ª edição – 2023
Direção-Geral:
Mons. Jamil Alves de Souza
Autoria:
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
Projeto gráfico, capa e diagramação:
Henrique Billygran Santos de Jesus
978-65-5975-278-2
Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão da CNBB. Todos os direitos reservados ©
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I:
SITUAÇÃO DA PASTORAL DA PENITÊNCIA
1.1. – Processos e tendências na sociedade
1.2. – Processos e tendências na Igreja e nos Sacramentos
1.3. – Processos e tendências na prática penitencial
CAPÍTULO II:
ENFOQUES TEOLÓGICOS
1.1. – O pecado na vida do homem
1.2. – A Reconciliação em Cristo
1.3. – Dimensões do Sacramento da Penitência
CAPÍTULO III:
NOVO MODO DE CELEBRAR A PENITÊNCIA
1.1. – Singularidade
1.2. – Objetivo
1.3. – Novos enfoques do Rito
CAPÍTULO IV:
PERSPECTIVAS PASTORAIS
1.1. – Medidas Gerais
1.2. – Tempos fortes de Penitência na Liturgia
1.3. – Educação para o espírito de penitência
1.4. – Celebração do Sacramento da Penitência
CONCLUSÃO
INTRODUÇÃO
A Igreja, no Concílio Vaticano II, reafirmou a sua solicitude para com o Sacramento da Penitência, determinando o seguinte: O rito e as fórmulas da Penitência sejam revistos de tal modo que expressem mais claramente a natureza e o efeito do Sacramento
(SC 72)¹.
A Sagrada Congregação para o Culto Divino, procurando satisfazer ao preceito conciliar, publicou, a 2 de dezembro de 1973, o novo Rito da Penitência.
A Comissão Nacional de Liturgia vem realizando estudos, dentre os quais um foi publicado sob o título Renovação da Pastoral da Penitência
. (Comunicado Mensal n.236, maio de 1972, p.59-70)². A tradução do novo Rito foi outro trabalho relevante na linha de oferecer à Igreja no Brasil os meios de uma celebração renovada do sacramento da Penitência.
Desta forma, desde há mais tempo, a CNBB vinha preparando o clima para a vinda do novo Rito.
A Assembléia Geral dos Bispos, em Itaici, no mês de novembro de 1974, de posse do Rito da Penitência e de diversos documentos e estudos realizados na Conferência, bem como da experiência pastoral do Sacramento da Penitência no País, votou sobre algumas adaptações e tomou decisões a respeito dos pontos que eram de sua competência (cf. Rito da Penitência n.38)³. Agora, quando o rito é lançado a público e entregue aos sacerdotes e demais agentes pastorais, a CNBB com o objetivo de servir à pastoral dos sacramentos no Brasil vem, mais uma vez, como o fez com a Pastoral dos Sacramentos da Iniciação Cristã, oferecer subsídios pastorais.
CAPÍTULO I:
SITUAÇÃO DA PASTORAL DA PENITÊNCIA
Analisando a realidade, constatamos, entre os fatos sociais, vários processos e certas tendências sócio-históricas que marcam a Sociedade e a Igreja. Algumas destas tendências incidem na prática penitencial.
1.1. – Processos e tendências na sociedade
Entre as mudanças, desequilíbrios, aspirações e questionamentos atuais, provocados pelos processos de industrialização, urbanização, migração e socialização personalizante ou massificante, multiplicados pelo processo de comunicação social, constata-se uma série de tendências, tais como:
● continuidade e possibilidade de individualismo no anonimato das massas;
● busca de autenticidade pela integração em pequenos grupos;
● tentativas de valorização da pessoa como resposta crítica à massificação e à coisificação;
● consciência de um egoísmo de grupos ou classes, provocado pela sociedade de consumo, onde novas formas de egoísmo criam a marginalização crescente, pela qual os ricos ficam mais ricos e os pobres se tornam cada vez mais pobres;
● formação de uma consciência permissiva, a qual, partindo da contestação de normas duma moral cujos valores não mais são percebidos como personalizantes, não reconstrói um quadro de valores autênticos, mas se perde na desintegração individual e social;
● reações positivas de solidariedade, na construção da paz, da fraternidade e do desenvolvimento;
● procura de Deus manifestada na sensibilidade a formas religiosas e místicas de diversas proveniências.
1.2. – Processos e tendências na Igreja e nos Sacramentos
Descobre-se, na Igreja, um processo de encarnação na realidade do mundo atual, provocado em grande parte pelo espírito do Vaticano II. Este processo vai, aos poucos, desenvolvendo nos católicos um sentido crítico que os leva a libertar-se de falsos valores espirituais e morais, com o conseqüente desabrochar do senso de responsabilidade pessoal. Tais processos ajudam a Igreja a salientar o fato de que deve prevalecer o espírito sobre a letra da lei (cf. Rm 7,7; Gl 2,19)⁴.
Verifica-se, assim, uma mudança de mentalidade. As tendências da sociedade atual repercutem sobre tal mudança de mentalidade, desencadeando nos fiéis um questionamento da fé, exigindo deles uma convicção mais sólida desta fé, provocando uma adesão mais pessoal e comprometedora com Cristo, pelo engajamento numa comunidade concreta. Evidentemente, tudo isto atinge a forma de celebração e a pastoral dos sacramentos.
1.3. – Processos e tendências na prática penitencial
Os processos e tendências supramencionados repercutem também sobre a compreensão do sacramento da penitência, criando novas exigências para a sua pastoral e suas formas de celebração. Esta repercussão manifesta-se, sobretudo, nos seguintes pontos:
● na atitude de conversão, como busca cada vez mais explícita de Deus, com crescente consciência eclesial;
● na situação de perplexidade, enquanto conseqüência da época de transição pós- conciliar;
● na atitude tradicionalista, enquanto expressão de formas superadas de evangelização e catequese;
● na diversificação de procedimento dos pastores e demais agentes de pastoral, face às três posições anteriores.
Examinando mais detalhadamente estes pontos de: conversão, perplexidade, tradição e diversificação de procedimento, podemos caracterizar e concretizar mais a visão sobre a situação pastoral da penitência.
1.3.1. – Quanto à atitude de conversão
O tipo de conversão que se verifica é, em grande parte, reflexo da catequese recebida. Notamos elementos positivos e negativos nas atitudes de conversão:
1.3.1.1. – Elementos positivos
● maior maturidade pessoal, quanto ao modo de agir;
● busca de orientação, através do sacramento da penitência;
● mudança de mentalidade, quanto ao sentido de pecado, abrindo perspectivas para uma maior consciência da dimensão social e eclesial do mesmo;
● insatisfação dos fiéis com relação à simples absolvição, quando necessitam de conselho ou de apoio por parte do confessor;
● melhoria do espírito comunitário na vivência sacramental e na celebração eucarística.
1.3.1.2. – Elementos negativos
● conversão encarada como fruto apenas da vontade humana;
● desconhecimento dos valores evangélicos e, até mesmo, dos mandamentos da lei de Deus e da Igreja;
● perda ou falta do sentido de pecado;
● consideração da vida conjugal como setor estritamente privado, que não entra no campo da confissão;
● perda do sentido da renúncia e da ascese cristãs;
● falta de consciência a respeito das situações de pecado existentes nas estruturas da sociedade e da família;
● concepção individualista da salvação.
1.3.2. – Quanto à situação de perplexidade
A perplexidade de muitos fiéis, na prática penitencial, parece provir de quatro grandes conjuntos de fatores: crise da moral, formas diferentes de celebração, inutilidade aparente da confissão, certos esquemas de exame de consciência defasados em relação à situação atual.
1.3.2.1. – Elementos de perplexidade, relacionados com a crise da moral:
● falta de noção clara de pecado;
● em alguns, laxismo (nada é pecado), em outros, rigorismo (tudo é pecado);
● busca do processo de conversão, mas sem saber nem onde nem como;
● mudança de mentalidade moral e social, que provoca o afastamento ou a diminuição de freqüência ao sacramento;
● pecado não mais considerado como ato contrário à moral, mas apenas como problema psicológico;
● consideração de que pecado grave é apenas matar e roubar;
● desvios e abusos de ordem sexual não mais encarados como pecado;
● desconhecimento da realidade batismal, não se percebendo a diferença entre ser cristão e ser pagão;
● tomada de consciência da dimensão cristã do social.
1.3.2.2. – Elementos de perplexidade relacionados com as formas diferentes de celebração:
● aceitação da confissão comunitária, com reservas e ressalvas;
● maneira apressada e massificante com que se fazem certas confissões comunitárias;
● busca de perdão diretamente em Deus com rejeição da mediação eclesial,