Análise Ergonômica Do Trabalho AET: Prof. Dra. Cristina Do Carmo Lucio Berrehil El Kattel

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Análise Ergonômica do Trabalho AET

Prof. Dra. Cristina do Carmo Lucio Berrehil el Kattel


A AET objetiva ampliar a eficiência do sistema homem x meio
construído e a qualidade de vida do trabalhador.

A AET consiste em um método sistemático de análise das condições de trabalho


dividido em etapas, que partem de um planejamento geral, podendo chegar até
o projeto do no posto de trabalho ou tarefas e a verificação de sua eficiência,
conforto e segurança.

Não precisam ser realizadas todas as etapas. Muitas vezes o trabalho do


Ergonomista não envolve o projeto do novo posto de trabalho, terminando com
a realização de laudo ergonômicos, pareceres ou recomendações.
Para realizar uma AET é necessário um certo conhecimento de todos os
fatores humanos que influenciam o desempenho do homem no
trabalho, como a antropometria, posturas e movimentos, o processo de
percepção e cognição humanos, dentre outros.

Também é importante fazer uma ampla varredura dos aspectos do


trabalho, como ele é realizado, quais as condições de risco do ambiente,
como é organizado processo produtivo dentro da empresa, etc.
Apreciação Ergonômica 1
Fase exploratória, de PLANEJAMENTO, onde serão IDENTIFICADOS e
mapeados os problemas ergonômicos que existem no trabalho. É necessário
fazer um reconhecimento da natureza dos problemas que existem no
1
ambiente de trabalho para poder planejar uma abordagem.

Inicia-se pela caracterização do sistema homem x ambiente construído:

• Identificar quem é o trabalhador


• Que tarefas desempenha
• Como é o posto de trabalho
• Como é o fluxo de trabalho
• Como é a comunicação e a hierarquia
• Ferramentas utilizadas
• Mobiliários utilizados
Realizar análise preliminar dos problemas encontrados, visando descobrir
qual a natureza dos problemas para poder planejar as etapas futuras, ex.: 1
• Se forem observados problemas posturais, será necessária uma abordagem
com métodos biomecânicos ou verificação antropométrica

• Quando há muitos erros numa tarefa, talvez seja necessário verificar a


interface, usar métodos cognitivos, verificar se a carga de trabalho está
excessiva, como é realizado o processo de treinamento e capacitação, etc.
CLASSE DE POSSÍVEIS PROBLEMAS DO TRABALHO E SUA CARACTERIZAÇÃO 1

Posturas prejudiciais resultante de inadequações do capo de visão /


tomada de informações, do envoltório acional / alcances, do
INTERFACIAIS posicionamento de componentes comunicacionais, com prejuízos
para os sistemas musculas e esquelético.

Arranjos físicos incongruentes de painéis de informações e de


comandos, que acarretam dificuldades de tomada de informações e
INSTRUMENTAIS de acionamentos, em face de inconsistências de navegação e de
exploração visual, com prejuízos para a memorização e para a
aprendizagem.
CLASSE DE POSSÍVEIS PROBLEMAS DO TRABALHO E SUA CARACTERIZAÇÃO 1

Deficiências na detecção, discriminação e identificação de


informações, em telas, painéis, mostradores e placas de sinalização,
INFORMACIONAIS / VISUAIS resultantes da má visibilidade, legibilidade e compreensibilidade de
signos visuais, com prejuízos para a percepção e para a tomada de
decisões.

Constrangimentos biomecânicos no ataque acional a comandos e


empunhaduras; ângulos, movimentação e aceleração, que agravam
ACIONAIS as lesões por traumas repetitivos.
Manuais ou Pediosos
Dimensões, conformação e acabamento, que prejudicam a
apreensão e acarretam pressões localizadas e calos.
CLASSE DE POSSÍVEIS PROBLEMAS DO TRABALHO E SUA CARACTERIZAÇÃO 1

Falta de dispositivos de comunicação à distância.


COMUNICACIONAIS Ruídos na transmissão de informações sonoras ou gestuais.
Orais ou Gestuais
Má audibilidade das mensagens radiofônicas e/ou telefônicas.

Dificuldade de decodificação, aprendizagem, memorização em face


de inconsistências lógicas e de navegação dos subsistemas
COGNITIVOS comunicacionais e dialogais resultam perturbações para a seleção de
informações, para as estratégias cognoscitivas, para a resolução de
problemas e para a tomada de decisões.
CLASSE DE POSSÍVEIS PROBLEMAS DO TRABALHO E SUA CARACTERIZAÇÃO 1

Dificuldades no diálogo computadorizado, provocadas pela


navegação, pelo encadeamento e pela apresentação de informações
INTERACIONAIS em telas de programas.

Problemas de utilidade (realização da tarefa), usabilidade (diálogo) e


amigabilidade (apresentação das telas) de interfaces informatizadas.

Excesso de peso, distância do curso da carga, frequência de


movimentação dos objetos a levantar ou transportar.
MOVIMENTACIONAIS
Desrespeito aos limites recomendados de movimentação manual de
materiais, com riscos para os sistemas musculas e esquelético
CLASSE DE POSSÍVEIS PROBLEMAS DO TRABALHO E SUA CARACTERIZAÇÃO 1

Excesso de caminhamentos e deambulações.


DE DESLOCAMENTO Grandes distâncias a serem percorridas para a realização das
atividades da tarefa.

Despreocupação com a independência e a autonomia dos usuários


com deficiência, dos idosos e das crianças, considerando locomação
e acessos, nas ruas e edificações e nos sistemas de transporte.
DE ACESSIBILIDADE
Má acessibilidade, espaços inadequados para movimentação de
cadeiras de rodas, falta de apoios para utilização de equipamentos.
CLASSE DE POSSÍVEIS PROBLEMAS DO TRABALHO E SUA CARACTERIZAÇÃO 1
Deficiência na circulação dos usuários no espaço da cidade;

URBANÍSTICOS Ausência de pontos e/ou marcos de referência que auxiliem a


circulação e orientação dos usuários no espaço urbano.

Falta de áreas públicas de lazer e integração.

Deficiência de fluxo, circulação, isolamento, má aeração, insolação,


iluminação natural, isolamento acústico, térmico, radioativo, em
ESPACIAIS / ARQUITETURAIS função dos materiais de acabamento empregados.
DE INTERIORES
Falta de otimização luminosa, da cor, da ambiência gráfica, do
paisagismo.
CLASSE DE POSSÍVEIS PROBLEMAS DO TRABALHO E SUA CARACTERIZAÇÃO 1

FISCO-AMBIENTAIS Temperatura, ruído, iluminação, vibração, radiação, acima ou abaixo


dos níveis recomendados nas normas regulamentadoras.

QUÍMICO-AMBIENTAIS Partículas, elementos tóxicos e aerodispersoides em concentração no


ar acima dos limites permitidos.

BIOLÓFICOS Falta de higiene e assepsia, o que permite a proliferação de germes


patogênicos (bactérias e vírus), fungos e outros micro-organismos.

NATURAIS Exposição às intempéries.


Exposição excessiva ao sol.
CLASSE DE POSSÍVEIS PROBLEMAS DO TRABALHO E SUA CARACTERIZAÇÃO 1

Comprometem os requisitos securitários que envolvem a segurança


do trabalho, em casa e no ambiente.

Falta de dispositivos de proteção das máquinas precariedade do solo,


de andaimes, rampas e escadas.
ACIDENTÁRIOS
Manutenção insuficiente.

Deficiência de rotinas e equipamentos para emergências e incêndios.


Atendimento às normas de colocação e sinalização de extintores de
incêndio.
CLASSE DE POSSÍVEIS PROBLEMAS DO TRABALHO E SUA CARACTERIZAÇÃO 1

Ritmo intenso, repetitividade e monotonia.


OPERACIONAIS
Pressão de prazos de produção e de controles.

Parcelamento taylorizado do trabalho, falta de objetivação,


ORGANIZACIONAIS responsabilidade, autonomia e participação.
CLASSE DE POSSÍVEIS PROBLEMAS DO TRABALHO E SUA CARACTERIZAÇÃO 1

Inexistência de uma gestão participativa, desconsiderando opiniões e


sugestões dos funcionários.

GERENCIAIS Centralização de decisões, excesso de níveis hierárquicos, falta de


transparência nas comunicações das decisões, prioridades e
estratégias.

Falta de política de cargos e salários coerente.


CLASSE DE POSSÍVEIS PROBLEMAS DO TRABALHO E SUA CARACTERIZAÇÃO 1

Desconsideração das atividades concretas da tarefa durante o


treinamento.
INSTRUCIONAIS
Manuais de instrução confusos que privilegiam a lógica de
funcionamento em detrimento das estratégicas de utilização.

Conflitos entre indivíduos e grupos sociais.

Dificuldades de comunicações e interações interpessoais.


PSICOSSOCIAIS
Falta de opções de repouso, alimentação, descontração e lazer no
ambiente de trabalho.
O mesmo processo deve ser repetido para todos os postos de trabalho do
setor ou da empresa, além de também ser observada uma visão geral sob os
enfoques organizacionais e de risco ambiental.
1
O resultado dessa primeira etapa é um panorama geral dos problemas
encontrados no sistema homem x ambiente construído e na estratégia de
abordagem.

Os problemas devem ser hierarquizados de acordo com a nível de


periculosidade para o ser humano e de urgência para intervenção.

O planejamento de diagnose também pode ser acompanhado de sugestões de


melhorias.
Diagnose Ergonômica 2
Os problemas identificados na etapa anterior são avaliados mais
detalhadamente. 2
Pode ser realizada uma abordagem macroergonômica ou análise da tarefa,
com medições, gravações em vídeo, observações, entrevistas, uso de
protocolos de pesquisa específico etc.

É adequado o uso de alguns métodos e abordagens para conseguir


resultados mais abrangentes e próximos da realidade.
Algumas possíveis abordagens são: 2

A macroergonomia investiga a adequação organizacional de empresas


ao gerenciamento de novas tecnologias de produção e métodos de
organização do trabalho.
No desempenho do trabalho estão envolvidas diversas variáveis
ANÁLISE organizacionais, tais como o enriquecimento do cargo, o ritmo e a carga
MACROERGONÔMICA de trabalho, com forte influência sobre a segurança, a saúde e a
produtividade dos trabalhadores (HENDRICK, 2001).
São abarcados todos os elementos do trabalho de forma conjunta, com
especial atenção às relações de trabalho, à participação dos
trabalhadores e à qualidade de vida do trabalho.
2

É uma das abordagens principais da diagnose ergonômica.


Se inicia definindo-se o que é realizado na tarefa e o porquê, ou seja,
ANÁLISE DA TAREFA qual é o objetivo da realização dessas ações.

Em seguida parte-se para o detalhamento da tarefa, em que é


discriminado o sistema homem-máquina.
2
A observação e registro são os meios diretos de coletar informação sobre a interface.

A qualidade da observação depende muito dos procedimentos de registro (fotografias,


filmagens, anotações) e de análise dos dados (métodos, técnicas, checklists).

A observação deve ser realizada durante cada ciclo da jornada de trabalho, assim, em
trabalhos mais repetitivos, é possível compreender a tarefa mais rapidamente, enquanto
trabalhos muito variáveis demandam mais tempo de observação.

É importante que a presença do observador não interfira no desempenho do trabalhador,


para que não altere seu comportamento (RAZZA et al., 2010).
2
Levantamento de todas as condições de risco do ambiente no qual o
trabalhador está inserido.

Essa análise é realizada com instrumentos específicos que permitem


aferir cada aspecto do ambiente, considerando: iluminação (luxímetros),
temperatura e umidade (termohigrômetro), ventilação (anemômetro),
ANÁLISE DO AMBIENTE ruído (decibelímetro), etc.

Além da aferição e verificação com as normas regulamentadoras,


verificar como as condições do ambiente de trabalho podem agravar os
problemas inerentes à atividade, incluindo a realização de movimentos,
ritmo de trabalho, comunicação entre os funcionários, compreensão de
informações, dentre outros (MORAES, MONT’ALVÃO, 2010).
2

Um dos melhores meios de se conseguir informações sobre o trabalho é


PERFIL E VOZ DOS perguntando a opinião do trabalhador.
TRABALHADORES As duas formas mais tradicionais de se obter essas respostas é por meio
de entrevistas e questionários.
2

As entrevistas têm muitas formas, variando de não estruturadas (discussão livre, uma
conversa entre o pesquisador e o usuário) à estruturada (questionário oral, com perguntas
preestabelecidas que são lidas para o usuário).

A entrevista é adequada para destacar fatores que vão além da interação direta com o
produto, como a adequação de manuais e outras formas de apoio, bem como o
comportamento do usuário.

Como desvantagem, leva um tempo maior a ser realizada que os questionários,


especialmente para grandes amostras e a presença do pesquisador pode mascarar os
resultados (RAZZA et al., 2010).
2

Os questionários consistem em formulários impressos com uma quantidade adequada de


questões abertas e/ou fechadas relacionadas à usabilidade do produto ou ao comportamento
do usuário.

A linguagem deve ser simples e de fácil compreensão e as alternativas devem cobrir uma
variedade adequada de respostas.

A maior vantagem dos questionários padronizados é a garantia de validade e confiabilidade,


ao contrário dos questionários personalizados, mais adequados à avaliação de um produto
específico (RAZZA et al., 2010).
2

Compreende uma síntese dos problemas observados, com


hierarquização dos problemas, sugestões de melhorias e uma conclusão.
DIAGNÓSTICO
ERGONÔMICO É a partir do diagnóstico ergonômico que será conduzido o projeto de
readaptação do trabalho, do ambiente, das tarefas ou dos postos de
trabalho.
2
Tentar resolver todos os problemas do trabalho ao mesmo tempo é uma tarefa difícil e pouco
eficaz.

Decidir qual o é problema mais grave e que precisa ser lidado com mais urgência pode ser
também uma tarefa difícil quando o ergonomista tem que lidar com diversos problemas
complexos.

Pode-se usar os critérios de gravidade e urgência de intervenção para conseguir elaborar a


hierarquia dos problemas.
2
Uma técnica chamada GUT (gravidade, urgência e tendência) pode auxiliar o avaliador a
estabelecer as prioridades.

Nesta técnica, cada problema identificado é avaliado quanto à gravidade (impactos do


problema, efeitos que pode causar), urgência (relacionado também ao tempo disponível para
solucioná-lo) e tendência de agravo (se o problema pode aumentar ou diminuir com o
tempo) (MORAES; MONT’ALVÃO, 2010).

O avaliador atribui uma nota de 1 a 5 para cada critério (1 casos menos graves, não urgentes
ou que se resolvam sozinhos, e 5 problemas extremamente graves, que precisam de solução
imediata e que irão piorar rapidamente), podendo também fazer essas perguntas para o
trabalhadores, para se ter uma visão a partir dos funcionários.
Os valores de cada critério devem ser multiplicados para se obter o score final

2
(GxUxT). A tabela a seguir mostra os valores da tabela GUT.

A elaboração do diagnóstico ergonômico encerra a fase da diagnose, podendo-se partir


para a intervenção.
Projetação, Avaliação, Validação ou Testes 3
3

Realizam-se alterações no trabalho para adequá-lo às características físicas e cognitivas do


trabalhador.

Dependendo do tipo de problema identificado, poderá envolver substituição de máquinas


ou manutenção, projeto do posto de trabalho, reorganização das tarefas, mudanças no
fluxo de trabalho, nas instruções, treinamento, no tipo e fluxo de informações, etc.

Todos os aspectos com problemas deverão ser modificados nesta etapa (IIDA, 2005).
3

Devem ser consideradas todas as normas de segurança para não cair em erros de projeto
que não existiam anteriormente.

Uma das normas que especialmente devem ser consideradas é a NR-17, a norma
regulamentadora de ergonomia, que visa garantir o máximo de conforto, segurança e
desempenho do trabalhador.
3

AVALIAÇÃO, VALIDAÇÃO OU TESTES são muito importantes, pois tratam de voltar ao


projeto implantado ou em fase de implantação para se verificar sua adequabilidade.

Podem ser usados modelos de testes ou sistemas de avaliação que permitam verificar se
os problemas serão corrigidos adequadamente, podendo também incluir a participação de
trabalhadores na concepção das propostas de reorganização (IIDA, 2005; MORAES,
MONT’ALVÃO, 2010).
Detalhamento e Otimização 4
Revisão e a finalização do projeto 4
Devem ser verificadas, além das necessidades do trabalho, também a
viabilidade de implantação, os prazos para a finalização do projeto, as metas
e objetivos da empresa, projeção para os próximos anos e especificação
detalhada.
EXEMPLOS DE AET

Posto de Trabalho do Dentista


O posto de trabalho do dentista é definido pelo consultório odontológico, o
mobiliário, cadeira odontológica, uma vasta gama de equipamentos e o
ambiente (cores, luz ambiente, luz direcionada, condicionador de ar etc.).
Exige concentração e precisão com grande repetitividade de movimentos,
posturas inadequadas por tempo prolongado, como rotação do tronco,
flexão da cabeça, manutenção dos membros superiores suspensos, etc.
De acordo com a ANVISA, são considerados como riscos ocupacionais:

Físicos: ruído, vibração, radiação (ionizante e não ionizante), iluminação deficiente ou


excessiva, umidade e outros. Causadores: caneta de alta rotação, compressor de ar,
equipamento de RX, equipamento de laser, fotopolimerizador, autoclave, condicionador de
ar etc.

Químicos: poeiras, névoas, vapores, gases, metais pesados (mercúrio), produtos químicos
em geral e outros. Causadores: amalgamadores, desinfetantes químicos e os gases
medicinais (óxido nitroso e outros).

Ergonômicos: postura incorreta, ausência de um profissional auxiliar e/ou técnico, falta de


capacitação do pessoal auxiliar, atenção e responsabilidade constantes, ausência de
planejamento, ritmo excessivo, atos repetitivos, entre outros.
De acordo com a ANVISA, são considerados como riscos ocupacionais:

Mecânicos ou de acidente: espaço físico subdimensionado, arranjo físico inadequado,


instrumental com defeito ou impróprio para o procedimento, perigo de incêndio ou
explosão; edificação com defeitos; improvisações na instalação da rede hidráulica e elétrica;
ausência de EPI e outros.

Biológicos: exposições ocupacionais a materiais biológicos potencialmente contaminados,


como sangue ou outros fluídos orgânicos.

Restrição de conforto: sanitário em número insuficiente e falta de produtos de higiene


pessoal, como sabonete líquido e toalha descartável nos lavatórios, ausência de água
potável para consumo, não fornecimento de uniformes, ausência de ambientes arejados
para lazer e confortáveis para descanso, ausência de vestiários com armários para a guarda
de pertences, falta de local apropriado para lanches ou refeições, falta de proteção
contra chuva, entre outros.
Vamos estudar um caso de uma AET que ficou mais focada aos aspectos
ambientais do trabalho e nas posturas do trabalhador.

Bormio et al. (2011) realizaram avaliação ergonômica de


consultórios odontológicos nas Unidades Básicas de Saúde
dos municípios de São José dos Campos/SP e Bauru/ SP.

Utilizaram Análise Pós-Ocupação, técnica empregada para


avaliar o ambiente de trabalho de forma ampla,
considerando os aspectos de conforto ambiental,
estrutural, socioeconômico, funcional, etc. (ORNSTEIN;
ROMERO, 1992).

As variáveis empregadas nessa avaliação estão


apresentadas no quadro a seguir.
Os problemas biomecânicos foram avaliadas por Questionário Nórdico. Na etapa da
diagnose ergonômica, os métodos de avaliação do trabalho foram:

• Perfil e voz do operador: foram realizadas entrevistas e a aplicação do Questionário


Nórdico.

• Análise da tarefa: foram realizados registros fotográficos do ambiente e dos


trabalhadores realizando suas atividades, além de observações do pesquisador.

• Análise do ambiente: foram realizadas medições dos fatores físico-ambientais e os


resultados confrontados com as especificações das NRs.
RESULTADOS

Os dentistas apresentaram problemas posturais relacionados à coluna cervical, torácica,


lombar, movimentos estáticos da coluna e das pernas, movimentos repetitivos dos
membros superiores.

Como os profissionais investigados têm pouco tempo de profissão, foram diagnosticadas


doenças ocupacionais instaladas, mas que podem ocorrer caso essas posturas se agravem
com um ritmo de trabalho mais intenso.

As condições ambientais foram consideradas regulares, dando especial destaque para o


ruído, que chegou a 81 dB, quando as ferramentas estão acionadas.

A NR-9 e a NBR 10152 apontam que o limite máximo de ruído para a atividade do dentista
não deve ultrapassar 68dB. Assim, recomenda-se a substituição das brocas e ferramentas
por modelos mais novos e silenciosos.
EXEMPLOS DE AET

Posto de Trabalho do Operador de Caixa de Supermercado


Posto de trabalho complexo, que envolve inúmeras atividades de natureza distintas
ocorrendo ao mesmo tempo, com diversos riscos ocupacionais, como a repetitividade,
monotonia, posturas estáticas, problemas interfaciais da relação homem-máquina, etc.
Alguns fatores devem ser considerados:

• Registro de mercadorias: grande parte do trabalho implica no registro de mercadorias,


um movimento repetitivo e muitas vezes associado a altas cargas. A maior parte ocorre
por leitor ótico, por vezes é necessária a digitação manual do código, aumentando a
cobrança por agilidade. A repetitividade associada com altas cargas impõe um sério risco
aos membros superiores, em especial aos ombros.

• Tecnologia e informatização: muitos possuem falhas de usabilidade, tornando-os pouco


práticos. Além do registro de mercadorias, o trabalhador deve também realizar a
cobrança da conta, escolher tipo de pagamento, detalhar entrega quando houver, e
fornecer comprovante. Como esses processos devem ser realizados repetidamente,
pequenas falhas no sistema causam muito estresse no operador, que pode aumentar
quando é pressionado por clientes apressados.
• Postura de trabalho: em geral estática e prolongada para a coluna e membros inferiores e
repetitiva para os membros superiores. Em boa parte dos casos, existe uma cadeira para o
caixa sentar-se, mas é relativamente difícil realizar o trabalho sentado, pelo tamanho da
esteira e o peso das mercadorias. Quanto há muitos clientes, o caixa permanece a maior
parte do tempo em pé, o que resulta no surgimento mais rápido da fadiga.

• Jornada de trabalho: o fluxo de clientes em um supermercado é variável e flutuante,


havendo maior concentração no fim de semana; portanto, é comum em alguns
supermercados apresentar uma jornada de trabalho maior nos fins de semana para
atender a demanda.
• Atendimento ao cliente: a principal complicação relacionada ao atendimento ao cliente é
a pressão por um trabalho eficiente e rápido, pois todos desejam que a passagem de
compras pelo caixa seja o mais rápida possível, assim, poucos clientes são tolerantes ao
erro e isso também é muitas vezes ressaltado pelos gerentes e fiscais de caixa, que
impõem um ritmo de trabalho e níveis de estresses altos ao operador. A pressão das filas
também não deve ser desconsiderada, pois implica em uma associação de maior
velocidade de atendimento com um grande aumento do volume de trabalho.
RESULTADOS DE ESTUDOS DE CASO

Diversos estudos foram realizados para avaliar as condições de trabalho de


caixas de supermercado, sob diversos aspectos. Serão apresentados alguns
resultados da diagnose ergonômica.
Melo Júnior e Rodrigues (2005) realizaram diagnose com 72 funcionários do caixa de
um supermercado em João Pessoa/PA com enfoque nos membros superiores dos
trabalhadores, procurando identificar lesões, incidência de dores ou reclamações dos
funcionários. Identificaram relatos de dor ou desconforto nos dedos, mãos, pulso,
braço, ombro, pescoço.

Alguns trabalhadores já foram afastados mais de uma vez por conta de problemas nos
membros superiores, ficando em média de 7 a 10 dias sem trabalhar.

Alguns reclamaram de problemas nos membros superiores há bastante tempo, que vão
se agravando com o passar dos anos.

Esses resultados são muito preocupantes devido a sua alta incidência, especialmente
se considerar que o tipo de lesão causado nos membros superiores são relativos ao
esforço cumulativo, levando ao surgimento de DORTs. Isso tudo é mais agravado
considerando que são ainda jovens, com média de idade de 24,8 anos.
Trelha et al. (2007) se concentraram em avaliar as condições dimensionais do posto de
trabalho de uma rede de supermercados de Londrina/PR e suas consequências para as
posturas e movimentos dos trabalhadores.

Para a diagnose ergonômica, realizaram medições das dimensões do posto de trabalho,


incluindo a esteira, computador, leitor, cadeira, espaço de circulação, dentre outros. As
posturas foram gravadas em vídeo. O trabalho é desenvolvido em posição estática, associada
a movimentos de rotação, inclinação lateral e anterior de tronco para alcance e
empacotamento de mercadorias, para ativação do painel de controle e para retirada do
comprovante de compra, o que é bastante prejudicial ao sistema osteomuscular.

O espaço de trabalho não é adequado para a movimentação e conforto, e que os funcionários


mais altos são mais prejudicados quanto ao espaço e à postura. Também observaram
posturas extremas do pescoço, especialmente quando tinham que acionar o caixa para
verificação de dados da tela ou abertura da gaveta de dinheiro, e sobrecarga no ombro pelo
manuseio de cargas pesadas, como sacos de arroz ou garrafas de bebida.
Assim, podemos ver que o trabalho dos caixas de supermercado pode ser bastante penoso ao
trabalhador e merece ser avaliado sobre todos os aspectos de uma AET.

Também é importante considerar que os métodos e resultados desse estudo de caso podem
ser facilmente utilizados para investigar outras atividades semelhantes, podendo ampliar o
conhecimento das condições de trabalho a lojistas, balconistas, dentre outros.
Fim!

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