Calor e Temperatura No Ensino de Termoquimica
Calor e Temperatura No Ensino de Termoquimica
Calor e Temperatura No Ensino de Termoquimica
A seo O aluno em foco traz resultados de pesquisas sobre idias informais dos estudantes, sugerindo formas de levar essas idias em considerao no ensinoaprendizagem de conceitos cientficos. Este artigo discute as concepes dos estudantes sobre calor e temperatura, sugerindo quatro atividades para explicit-las e favorecer a construo dos conceitos cientficos correspondentes, que so bsicos para a aprendizagem de conceitos mais avanados de termoqumica.
30
principais caractersticas das concepes cotidianas de calor e temperatura e sugerir atividades que favoream sua explicitao pelos alunos, de modo que eles possam perceber a relao entre essas concepes e os conceitos cientficos de mesmo nome. Consideramos invivel querer extinguir as concepes cotidianas dos alunos sobre calor, temperatura, ensino de termoqumica, concepes alternativas calor e temperatura, enraizadas que esto na linguagem cotidiana, dada a existncia de um grande nmero de mbora seja um conceito bsico situaes a que essas concepes so outros. para o entendimento da aplicadas com sucesso. Afinal, mesmo O estudo, no ensino mdio, das maioria dos fenmenos de inos cientistas entendem perfeitamente transformaes envolvidas nesses teresse da cincia, no simples o que se quer dizer com uma expresprocessos, normalmente sob o nome de definir energia. A definio clssica so como agasatermoqumica, envolve o a capacidade de realizar trabalho lho bem quente. uso de alguns conceitos A literatura descreve est relacionada ao uso das primeiras Do ponto de vista energia, calor, tempetrs caractersticas mquinas trmicas, nas quais a enercientfico, sabe-se ratura que j estamos principais das gia qumica de combustveis como a que o agasalho acostumados a usar no concepes de calor e madeira era usada para a produo de no quente, mas nosso dia-a-dia. Essas temperatura vapor, que as movimentava. apenas um bom palavras, no entanto, no apresentadas por Praticamente todas as formas de isolante trmico. tm o mesmo significado estudantes, que esto energia que conhecemos dependem, Seria, no entanto, na cincia e na linguagem intimamente direta ou indiretamente, da energia desconcertante comum. Isso tem sido relacionadas forma luminosa que recebemos do sol. A chegar a uma loja causa de dificuldades no como nos fotossntese o processo fundamen pedir ao vendeensino de qumica, pois na expressamos sobre tal pelo qual as plantas usam energia dor um agasalho maioria da vezes o profesesses fenmenos na solar para transformar gs carbnico feito de um matesor trabalha conceitos vida cotidiana: e gua em alimentos e combustveis. rial que seja um mais avanados como O calor uma Nosso corpo depende da energia dos bom isolante trcalor de reao, lei de substncia alimentos para executar suas funes mico e impea Hess etc., sem uma Existem dois tipos de vitais. Mesmo a energia usada nos meu corpo de troreviso dos conceitos calor: o quente e o transportes e na produo da maioria car calor com o mais bsicos. O resultado, frio dos materiais provm de combustveis ambiente. muitas vezes, um fsseis, que em ltima anlise originaPortanto, deamlgama indiferenciado O calor diretamente ram-se tambm por fotossntese. A pendemos das de conceitos cientficos e proporcional obteno de tanta energia para consuconcepes sobre cotidianos, sem que o temperatura mo humano tem causado muitos procalor e temperatualuno consiga perceber blemas ambientais a poluio nas ra expressas na claramente os limites e contextos de grandes cidades, o aumento do efeito linguagem cotidiana para comunicar e aplicao de um e de outro. estufa e a chuva cida, entre tantos sobreviver no nosso dia-a-dia. Em lugar Neste artigo pretende-se discutir as
N 7, MAIO 1998
de tentar suprimi-las, seria melhor oferecer aos alunos condies para tomar conscincia de sua existncia e saber diferenci-las dos conceitos cientficos. A proposta de ensino que orienta esse artigo prev, portanto, o alargamento do perfil conceitual do aluno, que incorporar novos significados cientficos que passaro a conviver com os significados cotidianos.
por trs da idia de que um corpo pode conter calor, ou seja, de que calor e frio so atributos dos materiais. Essa idia j foi aceita por muitos cientistas no passado, que consideravam que todos os corpos possuam em seu interior uma substncia fluida invisvel e de massa desprezvel que denominavam calrico. Um corpo de maior temperatura possua mais calrico do que um corpo de menor temperatura. Idias informais e cientficas Lavoisier (1743-1794), por exemplo, sobre calor e temperatura listava o calrico como uma das substncias elementares. Hoje sabeA literatura descreve trs caractemos que uma substncia pode armarsticas principais das concepes de zenar energia, mas no contm calor. calor e temperatura apresentadas por A teoria do calrico pensado como estudantes, que esto intimamente substncia foi abandonada em favor relacionadas forma como nos exda teoria do calor pensado como pressamos sobre esses fenmenos na energia, principalmente por no poder vida cotidiana: explicar o aquecimento de objetos de O calor uma substncia. outra maneira que no por meio de Existem dois tipos de calor: o uma fonte de calor por exemplo, por quente e o frio. atrito. Benjamin Thompson (1753 O calor diretamente proporcio1814), engenheiro americano exilado nal temperatura. na Inglaterra e conde do Sacro Imprio A primeira idia, de que o calor Romano que adotou o ttulo de Conde uma substncia, combinada com a Rumford em homenagem ao local nos segunda, de que existem dois tipos de Estados Unidos de onde provinha sua calor, resulta em que o calor e o frio esposa (hoje Concord), introduziu a sejam pensados como atributos de idia de que casubstncias e materiais. De lor era energia e acordo com essas idias, A idia de que o calor no substncia um corpo quente possui diretamente em 1798, ao atricalor enquanto um corpo proporcional buir o aquecifrio possui frio. Afinal, estatemperatura tem sua mento de peas mos acostumados a dizer origem na maneira metlicas, quanque colocamos uma pedra como lidamos com do perfuradas, de gelo numa bebida para calor na vida energia mecesfriar essa bebida. Essa cotidiana. As nica empregada maneira de dizer sugere expresses faz muito em sua perfuraque o gelo transfere frio calor, calor humano o. para a bebida. Na cincia, etc. so exemplos de A idia de ao contrrio do que ocorre como essa idia est que o calor dina vida cotidiana, no arraigada na retamente proadmitimos a existncia de linguagem cotidiana. porcional temdois processos de transfeAfinal, s falamos que peratura tem sua rncia de energia o do faz muito calor origem na macalor e o do frio , mas quando a temperatura neira como lidaapenas de um, o do calor. est alta. Essas idias mos com calor Isso significa que a bebida fazem com que os na vida cotidiaesfria porque transfere conceitos de calor e na. As expresenergia para a pedra de temperatura sejam ses faz muito gelo at que todo o sistema muitas vezes calor, calor huesteja a uma mesma temconsiderados idnticos mano etc. so peratura. exemplos de como essa idia est O calor, sendo uma forma de arraigada na linguagem. Afinal, s energia, no uma substncia. A idia dizemos que faz muito calor quando de que o calor uma substncia est
QUMICA NOVA NA ESCOLA
a temperatura est alta. Essas idias fazem com que os conceitos de calor e temperatura sejam muitas vezes considerados idnticos. O conceito de temperatura, do ponto de vista cientfico, deriva da observao de que energia pode fluir de um corpo para outro quando eles esto em contato. A temperatura a propriedade que nos diz a direo do fluxo de energia. Assim, se a energia flui de um corpo A para um corpo B, podemos dizer que A est a uma temperatura maior do que B. Essa maneira de definir a temperatura tambm estabelece a relao entre calor e temperatura. O calor, como fluxo de energia, sempre passa de um sistema a uma temperatura maior para um outro a uma temperatura menor, quando os dois esto em contato. Deve-se destacar que s h fluxo de energia e, portanto, calor, quando h diferena de temperatura. O calor , dessa maneira, diretamente proporcional diferena de temperatura entre os dois sistemas entre os quais est havendo a transferncia de calor, e no temperatura de qualquer dos sistemas.
31
32
da pessoa) cuja temperatura se quer conhecer. O objetivo dessa atividade entender o funcionamento dos termmetros e discutir a idia de equilbrio trmico. Por que podemos afirmar que um termmetro mede a temperatura de um corpo? Com base nas observaes feitas nessa primeira atividade, possvel notar que, por causa de um detalhe na sua fabricao, o termmetro clnico pode ser retirado do corpo da pessoa para efetuar a leitura, enquanto o termmetro de laboratrio deve, durante a leitura, permanecer em contato com o sistema no qual estamos efetuando a medida. De qualquer forma, s podemos afirmar que a temperatura lida no termmetro a mesma temperatura do sistema porque houve uma transferncia de energia do sistema para o termmetro, quando o primeiro est a uma temperatura mais alta, e do termmetro para o sistema na situao inversa. Por que ocorre essa transferncia? Porque dois corpos, objetos ou sistemas em contato tendem a igualar suas temperaturas e atingir o equilbrio trmico, havendo a transferncia de energia sempre do corpo, objeto ou sistema maior temperatura para aquele menor temperatura. Esse princpio, que est por trs do funcionamento dos termmetros, conhecido como lei zero da termodinmica. Outra maneira de formul-lo : se um sistema A est em equilbrio trmico com um sistema B, e B est em equilbrio trmico com C, ento C tambm est em equilbrio trmico com A. Esse princpio j contm algo que estranho nossa viso cotidiana dos fenmenos envolvendo calor e temperatura. O estranho a idia de que a transferncia de calor sempre ocorre do corpo maior temperatura para o corpo menor temperatura, no havendo portanto dois processos de transferncia de energia, mas apenas um, o do calor. Para completar essa atividade, pode-se discutir com os alunos por que certos sistemas por exemplo, o corpo humano, uma vela e um ferro de passar roupa no seguem o princpio do equilbrio trmico, por serem fontes de calor.
Essa diferena de comportamento entre a madeira e o metal pode ser explicada em termos de calor especO objetivo dessa atividade entenfico, que uma propriedade que ajuda der a diferena entre a sensao de a entender uma srie de fenmenos quente e frio e o conceito de temcotidianos, como o motivo por que as peratura. Usamos nosso corpo como panelas de metal esquentam mais rapium termmetro em vrias situaes. As damente dos que as de barro ou pedra. mes sabem avaliar se o leite da O valor do calor especfico de cada mamadeira do beb est na temperamaterial apresenta pequenas variaes tura ideal pingando algumas gotas no com a temperatura. No entanto, podedorso das mos. De maneira sememos considerar esses valores constanlhante, elas sabem avaliar se seu filho tes para as situaes sugeridas neste est febril ou no colocando a palma artigo. da mo sobre a testa da criana. O calor especfico pode ser definido No entanto, essas sensaes como a quantidade de calor que um muitas vezes podem nos iludir. Nessa grama de determinado material deve atividade, sugere-se que os alunos ganhar ou perder para que sua temtoquem dois blocos um de madeira peratura varie em um grau Celsius. Um e outro de alumnio e tentem avaliar, material que possua alto calor especpelo toque, suas temperaturas. Esses fico aquece e tambm esfria blocos devem conter um orifcio para muito mais lentamente do que um que possa ser introduzido um termmaterial de baixo calor especfico. O metro. Aps a avaliao da tempecalor especfico dos metais baixo ratura pelo tato, os alunos devero quando comparado a materiais como introduzir um termmetro nos orifcios argila ou pedra, usados na fabricao de cada um dos blocos e anotar a temde panelas. Isso significa que, consiperatura. A constatao de que a derando panelas de mesma massa, temperatura dos dois blocos a mesnecessrio fornecer menos calor para ma, apesar de o bloco de alumnio o metal do que para a argila para fazer parecer mais frio, causa certo espanto com que ele atinja a temperatura de e alguma dificuldade para cozimento. Da os alunos. Usamos nosso corpo mesma forma, a A concluso mais imporcomo um termmetro panela de metal tante dessa atividade que em vrias situaes. vai esfriar mais nem sempre a sensao de As mes sabem avaliar rapidamente, quente e frio corresponde a se o leite da pois a quantiuma diferena real de temmamadeira do beb dade de calor peratura. No caso estudado, est na temperatura que ela deve ceo que ocorre que a mo ideal pingando der ao ambiente est numa temperatura algumas gotas no para esfriar maior que a temperatura dorso das mos. De bem menor que dos blocos. Quando a mo maneira semelhante, no caso, por uma fonte de calor elas sabem avaliar se exemplo, da artoca os blocos, h uma seu filho est febril ou gila. modificao na temperatura no colocando a palma No caso da dos blocos. Nessa situao, da mo sobre a testa atividade com nosso corpo estava em uma da criana. os blocos, potemperatura maior que a No entanto, essas deramos explitemperatura ambiente, que sensaes muitas car a diferena tambm a temperatura vezes podem nos iludir entre as sensados blocos. Nesse caso, es provocahouve transferncia de energia do das pela madeira e pelo metal tambm nosso corpo para os blocos. A tempeem termos de calor especfico. Como ratura do metal se modifica mais o calor especfico do metal menor, rapidamente do que a da madeira, o ele sofre uma variao de temperatura que provoca a sensao de que o memaior do que a da madeira ao entrar tal est mais frio do que a madeira. em contato com nossa mo, atingindo
N 7, MAIO 1998
mais rapidamente a temperatura de nosso corpo. Essa rpida variao de temperatura do metal nos d a sensao de frio. Essas situaes so importantes para evidenciar a grande diferena que existe entre nossas noes cotidianas de calor e a noo cientfica. Enquanto nas primeiras o calor e o frio so tratados como atributos dos materiais, a noo cientfica estabelece que o calor depende da relao entre dois sistemas. Assim, no tem sentido, do ponto de vista da cincia, falar do calor de um corpo ou de um sistema, j que s existir calor quando existir diferena de temperatura entre dois sistemas ou entre duas partes de um mesmo sistema. Para completar essa atividade, poderia ser solicitado ao aluno que respondesse a algumas perguntas usando valores tabelados de calor especfico. Considerando, por exemplo, que o calor especfico da gua, em cal g-1 C-1, igual a 1,0 e que o do ar, nas mesmas unidades, aproximadamente 0,24, possvel explicar por que a gua de uma piscina, no vero, geralmente mais fria que o ar durante o dia e mais quente durante a noite.
uma implicao importante para o ou perdido. Em seguida, solicita-se ao entendimento de calor e temperatura aluno que calcule, usando a expresso do ponto de vista cientfico. Em Q = m c T, a quantidade de calor primeiro lugar, s h perdida pelo sistema calor quando h difecontendo gua temOs alunos rena de temperatura, peratura mais elevada normalmente ficam pois o calor o proe a quantidade de surpresos com o fato cesso de transferncia calor ganha pelo sisde que a gua no de energia de um sistema contendo gua entra em ebulio tema a uma tempera temperatura mais dentro do tubo de tura mais alta para baixa, quando essas ensaio, mesmo tendo outro a uma temperaduas quantidades de atingido a temperatura tura mais baixa. Alm gua so misturadas. necessria para tal. disso, a quantidade de Deve-se usar a mesNesse caso, no h calor transferida proma massa de gua fluxo de calor entre a porcional diferena para todos os sistegua do bquer e a de temperatura e no mas (50 mL) e anotar gua do tubo de temperatura, o que a temperatura dos ensaio, pois estando implica que pode hadois sistemas imediaos dois sistemas tamente antes de misver mais calor sendo mesma temperatura, o transferido entre sistetur-los. valor de T entre eles mas a baixas temperaO clculo das igual a zero turas do que entre dois quantidades de calor sistemas a temperatuganho e perdido indiras mais altas. Isso ocorrer se a difecar que houve maior troca de calor rena de temperatura entre os sisteentre os sistemas que estavam a uma mas a baixa temperatura for maior do temperatura mais baixa, pois a diferenque entre os sistemas a temperatura a de temperatura entre eles (20 e mais alta, desde que as massas consi40 C, aproximadamente) maior que deradas sejam as mesmas. entre os sistemas a temperaturas mais A necessidade de comparar massas elevadas (60 e 70 C, aproximadameniguais quando se quer comparar o calor te). Esse dado normalmente contraria envolvido nos processos importante a expectativa dos alunos de que a uma porque a quantidade de calor necestemperatura maior corresponde maior sria para elevar a temperatura de um quantidade de calor. Deve-se chamar corpo em uma certa quantidade dea ateno para o fato de que os valores pende do calor especfico do material do calor ganho e perdido deveriam ser de que feito o corpo e da massa do iguais, mas esse resultado no corpo. Quanto maior o calor especfico obtido devido s perdas de calor para do material, mais calor necessrio o frasco de vidro e para o ambiente. para aquecer o corpo. O mesmo se Pode-se discutir com os alunos formas pode dizer em relao massa do de melhorar esse resultado por corpo: quanto maior a massa, mais caexemplo, considerando a quantidade lor necessrio para aquecer o corpo. de calor ganha pelo vidro do bquer e Isso fornece uma explicao razovel isolando os bqueres com isopor ou para certos fatos que observamos no mesmo com jornal. nosso dia-a-dia. Na prtica, sabemos Por meio dessa atividade, fica evique uma panela de alumnio aquece dente como os conceitos cientficos de muito mais rapidamente do que uma calor e temperatura so diferentes dos panela de ferro, quando colocadas em nossos conceitos cotidianos. Na vida trempes de fogo aproximadamente cotidiana associamos calor diretameniguais. No entanto, o calor especfico te temperatura, considerando que a do alumnio (0,22 cal g-1 C-1) maior uma temperatura mais alta corresponde uma quantidade maior de calor. que o do ferro (0,11 cal g-1 C-1,). Se possvel verificar, por meio da Atividade considerssemos somente o calor 3, que o conceito cientfico de calor especfico, seria de se esperar que a relaciona-se com a diferena de tempanela de ferro aquecesse mais peratura entre dois sistemas. Isso tem rapidamente. No entanto, se
33
34
compararmos panelas de ferro e de alumnio de mesmo tamanho, constataremos que a panela de alumnio muito mais leve. Logo, embora o calor especfico do ferro seja menor, a massa de ferro a ser aquecida muito maior, o que torna o alumnio mais vantajoso sob esse aspecto. Esse conjunto de informaes est, de certa forma, sintetizado na frmula matemtica que usamos para calcular a transferncia de calor: Q = m c T. Ou seja, a quantidade de calor que um corpo pode receber depende da diferena de temperatura entre o corpo e a fonte de calor (no caso de aquecimento do corpo), do calor especfico do material de que feito o corpo e de sua massa. O conceito cientfico de calor , portanto, bem diferente da concepo cotidiana, que associa calor temperatura e considera que quanto maior a temperatura, mais calor um corpo ou sistema tem. Do ponto de vista cientfico, um corpo no possui calor. Ele armazena energia interna que pode ser transferida sob a forma de calor desde que haja contato com um corpo a uma temperatura menor. A transferncia de calor sempre ocorre do sistema de maior temperatura para o de menor. Essa idia tambm contraria a forma de pensar cotidiana, que admite que um corpo quente pode transferir calor e um corpo frio pode transferir frio.
presos com o fato de que a gua no entra em ebulio dentro do tubo de ensaio, mesmo tendo atingido a temperatura necessria para tal. Nesse caso, no h fluxo de calor entre a gua do bquer e a gua do tubo de ensaio, pois estando os dois sistemas mesma temperatura, o valor de T entre eles igual a zero. Como no h fluxo de calor, no est sendo fornecida a energia necessria para romper as interaes intermoleculares (as ligaes de hidrognio) entre as molculas de gua, condio necessria para que a gua entre em ebulio. Essa quantidade de energia necessria para que 1 g de gua entre em ebulio chamada calor de vaporizao da gua. Essa atividade oferece oportunidade para que se reforce a idia de que s h calor quando h diferena de temperatura, alm de permitir a discusso dos porqus da velha prtica cotidiana de se usar o banho-maria para aquecer bebidas como o caf. Alm disso, possvel introduzir a discusso sobre o calor envolvido em processos como mudanas de estado e reaes qumicas.
dessas molculas, ons ou tomos. Em outras palavras, pode-se considerar que a temperatura expressa o maior ou menor grau de agitao trmica das molculas de um corpo. Quanto maior a temperatura, maior ser a agitao trmica dessas molculas. Esse modelo pode ser usado tambm para explicar a transmisso de calor por conduo trmica. Quando uma fonte quente entra em contato com uma panela de alumnio, por exemplo, ela aumenta a agitao trmica e portanto a energia cintica dos tomos da superfcie do metal em contato com a fonte. Por meio de sucessivas colises, parte da energia cintica dos tomos da regio aquecida transferida para os tomos da regio vizinha e assim sucessivamente, at atingir todos os tomos da panela. Nesse processo, o calor transmitido de tomo para tomo sem que os mesmos sofram deslocamento ao longo do metal. Em outras palavras, a energia transferida sem que haja transporte de matria. De forma semelhante, a panela transmite o calor para os alimentos no seu interior. O fluxo de calor continuar enquanto existir uma diferena de temperatura. A discusso desses conceitos bsicos de calor e temperatura, por meio de atividades que procuram explicitar as concepes dos estudantes e auxiliar na construo dos conceitos cientficos, parece-nos fundamental para evitar que os estudantes aprendam toda uma gama de conceitos mais avanados, como calor de reao, lei de Hess, etc. sobre uma base frgil em que conceitos cientficos ficam amalgamados com concepes cotidianas.
Eduardo Fleury Mortimer, bacharel e licenciado em qumica pela UFMG e doutor em educao pela USP, professor da Faculdade de Educao da UFMG. Luiz Otvio F. Amaral, bacharel e licenciado em quimica e doutorando em educacao na Unicamp, professor do departamento de qumica do Instituto de Cincias Exatas da UFMG.
N 7, MAIO 1998