Os Princípios Do Treinamento Esportivo
Os Princípios Do Treinamento Esportivo
Os Princípios Do Treinamento Esportivo
Los principios del entrenamiento esportivo: conceptos, definiciones, usos y una posible nueva mirada The principles of sport training: concepts, definitions, possible aplications and a possible new vision
Mestrando em Cincia da Motricidade Humana - Universidade Castelo Branco - PROCIMH LABESPORTE Ricardo Martins Porto Lussac Especialista em Psicomotricidade UCAM [email protected] Graduado em Educao Fsica UNESA (Brasil) Scio-Diretor, Coordenador Tcnico e Professor da Academia da Usina, Rio de Janeiro, RJ Resumo Este artigo analisou os Princpios do Treinamento Esportivo, utilizando Manoel Tubino como pressuposto terico. Desta forma, atravs de uma reviso bibliogrfica, verificamos outro princpio adicionado por Estlio Dantas aos cinco iniciais de Tubino, e mais dois adicionados por Marcelo Gomes da Costa. Abordamos a inter-relao entre os princpios e foi constatada a sua importncia no Treinamento Esportivo. Foi proposto neste estudo a ampliao da discusso sobre a compreenso destes princpios, incluindo aspectos ainda pouco explorados, como o emocional, o ambiental, entre outros, que poderiam contribuir para um olhar plural, alm do pragmatismo de um programa focado somente no aspecto fisiolgico do treinamento, propiciando o debate sobre os conceitos e utilizaes dos princpios que norteiam os treinamentos em diferentes e novas modalidades. Unitermos: Princpios do treinamento esportivo. Treinamento esportivo. Educao Fsica. Abstract This article analyses the principles of sport training using Manoel Tubino as a theoretic base. Through a bibliographical review another principle, added by Estlio Dantas to the initial five of Tubino, was verified, as well as two more added by Marcelo Gomes da Costa. The interrelation between the principles was approached and their importance in the sport training was established. This study also proposes the broadening of the discussion about the comprehension of these concepts, including aspects still little explored, as the emotional and the environmental, among others, which could contribute to a plural vision, beyond the pragmatism of a program focused only in the physiological aspect of training, starting the debate about the concepts and usages of the principles which guide training in different and new sports. Keywords: Principles of sport training. Sport training. Physical Education. Resumen Este artculo analizaba los principios del entrenamiento de deportivo, usando a Manoel Tubino como referente terico. De esta manera, con una revisin bibliogrfica, verificamos otro principio agregado para Estlio Dantas a las cinco iniciales de Tubino, y ms dos agregados para Marcelo Gomes da Costa. Analizamos la interrelacin entre los principios y confirmamos su importancia en el entrenamiento de deportivo. Se propone en este estudio ampliar el debate sobre la comprensin de estos principios incluyendo aspectos todava poco desarrollados como el emocional, el medio ambiente, entre otros, que podran aportar a una mirada plural, ms all del pragmatismo de un programa centrado solamente en el aspecto fisiolgico del entrenamiento, propiciando el discusin sobre los conceptos y las aplicaciones de los principios que orientan los entrenamientos en diferentes y en nuevas modalidades. Palabras clave: Principios del entrenamiento deportivo. Entrenamiento deportivo. Educacin Fsica. http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Ao 13 - N 121 - Junio de 2008
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Introduo
Este trabalho teve o objetivo de abordar os Princpios do Treinamento Esportivo, seus conceitos e definies, e possveis aplicaes sob novas perspectivas. A pesquisa foi realizada atravs de uma reviso de literatura e anlise de contedo. Sobre o modelo de estudo, a pesquisa pode ser tipificada como uma pesquisa descritiva, qualitativa, sendo a anlise de contedo seu o procedimento e caracterstica principal, pautada na reviso de literatura sobre
os Princpios do Treinamento Esportivo. A pesquisa assume a caracterstica de uma pesquisa indireta, documental, atravs do mtodo bibliogrfico (MATTOS, 2004). Como pressuposto terico na pesquisa os principais autores utilizados foram Manoel Tubino, Estlio Dantas e Marcelo Gomes da Costa, e a prpria reviso de literatura foi definida como a delimitao do estudo. Os princpios do treinamento esportivo: conceitos, definies, possveis aplicaes e novos olhares Para Tubino os cinco princpios do Treinamento Esportivo so: O Princpio da Individualidade Biolgica, O Princpio da Adaptao, O Princpio da Sobrecarga, O Princpio da Continuidade, O Princpio da Interdependncia Volume-Intensidade (TUBINO, 1984). Segundo Tubino: Antes de passar ao estudo de cada princpio, importante enfatizar que os 5 princpios se interrelacionam em todas as suas aplicaes. (ibidem, 1984, p. 99). Estlio Dantas atualizando o elenco dos cinco princpios preconizados por Tubino, incluiu mais um: O Princpio da Especificidade (DANTAS, 1995), que veremos aps a abordagem dos cinco primeiros. Aps estes seis primeiros princpios veremos mais dois princpios levantados por Marcelo Gomes da Costa: O Princpio da Variabilidade e O Princpio da Sade, totalizando oito princpios. Ao final trataremos da inter-relao entre os Princpios. 1. O Princpio da Individualidade Biolgica De acordo com Tubino, chama-se individualidade biolgica o fenmeno que explica a variabilidade entre elementos da mesma espcie, o que faz que com que no existam pessoas iguais entre si. (TUBINO, 1984, p. 100). Cada ser humano possui uma estrutura e formao fsica e psquica prpria, neste sentido, o treinamento individual tem melhores resultados, pois obedeceria as caractersticas e necessidades do indivduo. Grupos homogneos tambm facilitam o treinamento desportivo. Cabe ao treinador verificar as potencialidades, necessidades e fraquezas de seu atleta para o treinamento ter um real desenvolvimento. H vrios meios para isso, alm da experincia do treinador, que conta muito, os testes especficos so primordiais. Segundo Benda & Greco, uma das Capacidades do Rendimento Esportivo a Capacidade Biotipolgica, que est dividida em Capacidade constitucional Fentipo e Capacidade constitucional Gentipo: O gentipo o responsvel pelo potencial do atleta. Isso inclui fatores como composio corporal, bitipo, altura mxima esperada, fora mxima possvel e percentual de fibras musculares dos diferentes tipos, dentre outros. O fentipo responsvel pelo potencial ou pela evoluo das capacidades envolvidas no gentipo. Neste se inclui tanto o desenvolvimento da capacidade de adaptao ao esforo e das habilidades esportivas como tambm a extenso da capacidade de aprendizagem do indivduo. (BENDA & GRECO, 2001, p. 34). Segundo Dantas: O indivduo dever ser sempre considerado como a juno do gentipo e do fentipo, dando origem ao somatrio das especificidades que o caracterizaro. (DANTAS, 1995, p. 39), deve-se entender o gentipo como a carga gentica transmitida pessoa e que determinar preponderantemente diversos fatores (ibidem, 1995, p. 39) e, os potenciais so
determinados geneticamente, e que as capacidades ou habilidades expressas so decorrentes do fentipo. (ibidem, 1995, p. 39). Para este autor, o campeo seria aquele que nasceu com um dom da natureza e que, aproveitando totalmente esse dom, o desenvolve atravs de um perfeito treinamento (ibidem, 1995, p. 40). Nos Jogos PanAmericanos de 2007 verificamos em entrevistas de atletas brasileiros considerados fenmenos pela mdia, um discurso que os bons resultados obtidos no eram frutos somente de umDom, e sim de muito esforo, trabalho, treinamento, incentivos financeiros e tcnicos. Elevando a importncia dos fatores ambientais, do fentipo do atleta, conseqentemente, elevamos a importncia do treinador, do profissional de Educao Fsica e sua interveno para o sucesso do atleta, de um campeo. No cabe aqui discutir fatos histricos ligados s tentativas de manipulaes das caractersticas genticas, do gentipo de atletas, atravs, principalmente, dos ideais da Eugenia no decorrer do sculo XX. Mas sempre ir caber em qualquer lugar o alerta em relao s tentativas de manipulao e violao do corpo, da integridade e dos direitos de todo o homem. 2. O Princpio da Adaptao Podemos dizer que a adaptao um dos princpios da natureza. No fosse a capacidade de adaptao, que se mostra de diferentes modos e intensidades, vrias espcies de vida no teriam sobrevivido ou conseguido sobreviver por longos tempos e em diferentes ambientes. O prprio homem conseguiu prevalecer no planeta, como espcie, devido sua capacidade de adaptao. De acordo com Weineck, a adaptao a lei mais universal e importante da vida. Adaptaes biolgicas apresentam-se como mudanas funcionais e estruturais em quase todos os sistemas. Sob adaptaes biolgicas no esporte , entendem-se as alteraes dos rgos e sistemas funcionais, que aparecem em decorrncia das atividades psicofsicas e esportivas (WEINECK, 1991): Na biologia, compreende-se adaptao fundamentalmente como uma reorganizao orgnica e funcional do organismo, frente a exigncias internas e externas; adaptao a reflexo orgnica, adoo interna de exigncias. Ela ocorre regularmente e est dirigida melhor realizao das sobrecargas que induz. Ela representa a condio interna de uma capacidade melhorada de funcionamento e existente em todos os nveis hierrquicos do corpo. Adaptao e capacidade de adaptao pertencem evoluo e so uma caracterstica importante da vida. Adaptaes so reversveis e precisam constantemente ser revalidadas (Israel 1983, 141). (ibidem, 1991, p. 22). Weineck diz que, no esporte, devido aos mltiplos fatores de influncia, raramente o gentipo completamente transformado em fentipo, mesmo com o treinamento mais duro. Para este autor, fases de maior adaptabilidade, encontram-se em diferentes perodos para os fatores de desempenho de coordenao e condicionados, so designadas fases sensitivas . A zona limite destas fases sensitivas, isto , o perodo em que justamente ainda possvel uma melhor expresso das caractersticas, geralmente chamada de perodo crtico (ibidem, 1991).
Capacidade de adaptao ou adaptabilidade o nome que se d diferente assimilao dos estmulos, frente mesma qualidade e quantidade de exerccios ou carga de treinamento. Ela pode ser atribuda correlao organismo/ambiente, sob o ponto de vista da predisposio hereditria e sua expresso (gentica) (Grtler 1982, 35). (ibidem, 1991, p. 23). Para Tubino, este princpio do Treinamento Esportivo est intimamente ligado ao fenmeno do stress. As investigaes sobre o stress tiveram incio em 1920 com Cnon e Hussay, tendo uma grande nfase no perodo entre 1950 e 1970, onde praticamente surgiu uma literatura cientfica bsica sobre este fenmeno (TUBINO, 1984). Segundo Tubino: Definindo-se Homeostase, de acordo com CANNON, como o equilbrio estvel do organismo humano em relao ao meio ambiente, e sabendo-se que esta estabilidade modificase por qualquer alterao ambiental, isto , para cada estmulo h uma resposta, e, ainda, entendendo-se por estmulos o calor, os exerccios fsicos, as emoes, as infeces, etc., conclui-se, com base num grande nmero de experincias e observaes de diversos autores, que em relao ao organismo humano: a. b. c. d. estmulos dbeis => no acarretam conseqncias; estmulos mdios => apenas excitam; estmulos mdios para fortes => provocam adaptaes; estmulos muito fortes => causam danos. (ibidem, 1984, p. 101).
Segundo Dantas, o conceito de Homeostase, que necessrio para compreender este princpio, : Homeostase o estado de equilbrio instvel mantido entre os sistemas constitutivos do organismo vivo, e o existente entre este e o meio ambiente. (DANTAS, 1995, p. 40). Para este autor, a homeostase pode ser rompida por fatores internos, geralmente oriundos do crtex cerebral, ou externos, como: calor, frio, situaes inusitadas, provocando emoes e, variao da presso, esforo fsico, traumatismo, etc. Dantas diz que, sempre que a homeostase perturbada, o organismo dispara um mecanismo compensatrio que procura restabelecer o equilbrio, quer dizer, todo estmulo provoca reao no organismo acarretando uma resposta adequada (ibidem, 1995). Neste sentido, o organismo, buscando o equilbrio constante, estaria sempre em um estado constante de equilibrao. Tubino pensa que, quando o organismo estimulado, imediatamente aparecem mecanismos de compensao para responder a um aumento de necessidades fisiolgicas. Assim, constatase que existe uma relao entre a adaptao de estmulos de treinamento e o fenmeno de stress, o que explicado pelo princpio cientfico da adaptao. A definio dada ao stress por Tubino a seguinte: Stress ou Sndrome de Adaptao Geral (SAG), segundo SELYE (1956) a reao do organismo aos estmulos que provocam adaptaes ou danos ao mesmo, sendo que esses estmulos so denominados agentes stressores ou stressantes. (TUBINO, 1984, p. 102). A sndrome de adaptao geral (SAG) dividida em trs fases, at que o agente stressante na sua ao atinja o limite da capacidade fisiolgica de compensao do organismo: 1 Fase: Reao de alarme; 2 Fase: Fase da resistncia (adaptao) e; 3 Fase: Fase da exausto (ibidem, 1984).
Para este autor, na fase de reao de alarme, os mecanismos auxiliares so mobilizados para manter vida, a fim de que a reao no se dissemine. caracterizada pelo desconforto, e est dividida em duas partes choque e contrachoque: sendo o choque a resposta inicial do organismo a estmulos aos quais no est adaptado, provocando a diminuio da presso sangunea, enquanto o contrachoque ocasiona uma inverso de situao, isto , ocorre um aumento da presso sangunea. (ibidem, 1984, p. 102). A fase da resistncia a fase da adaptao, a qual obtida pelo desenvolvimento adequado dos canais especficos de defesa, sendo esta etapa caracterizada pela dor e pela ao do organismo resistindo ao agente stressante inicial, sendo a fase que realmente mais interessa ao treinamento desportivo. A fase da exausto aquela em que as reaes se disseminam, em conseqncia da saturao dos canais apropriados de defesa, apresentando como caracterstica a presena do colapso, podendo chegar at a morte (ibidem, 1984). Tubino ainda menciona que, ELER observou 3 tipos de stress, de acordo com a origem dos estmulos stressantes (ibidem, 1984, p. 103), so eles: o stress fsico, o stress bioqumico e, o stressmental. De acordo com Tubino, importante a utilizao correta do princpio de adaptao, onde se deve haver cuidado na aplicao das cargas de treinamento, agentes stressantes. Mas no s de modo pragmtico devemos enxergar o Princpio da Adaptao. Acredito que em termos de treinamento, o critrio adaptao pode ser estendido a vrios outros fatores alm do treinamento fisiolgico propriamente dito. Um bom exemplo so as capacidades de adaptaes emocionais, ambientais, entre outras, alm da comum capacidade do treinador ou professor se adaptar, s vezes com um jeitinho brasileiro , s pssimas condies de trabalho ou dificuldades encontradas em condies sociais desfavorecidas. O treinador ou professor deve ter em mente que preciso seadaptar atitude de adaptao, uma atitude consciente e crtica, pois, com a velocidade da dinmica das mudanas hodiernas e a possvel e quase certa acelerao que deve vir adiante em tempos futuros, a capacidade de adaptao ser cada vez mais necessria e requisitada. 3. O Princpio da Sobrecarga De acordo com Dantas: Imediatamente aps a aplicao de uma carga de trabalho, h uma recuperao do organismo, visando restabelecer a homeostase (DANTAS, 1995, p. 43). O aproveitamento do fenmeno da assimilao compensatria ou supercompensao, que permite a aplicao progressiva do princpio da sobrecarga, pode, ainda, ser severamente comprometido por uma incorreta disposio do tempo de aplicao das cargas. O equilbrio entre carga aplicada e tempo de recuperao que garantir a existncia da supercompensao de forma permanente. (ibidem, 1995, p. 44). Segundo Tubino, o momento exato em que se produz adaptao aos agentes stressantes (estmulos), , sem dvida, um dos pontos mais discutveis do Treinamento Esportivo. Existem
pontos de vista que estabelecem a adaptao durante intervalos intermedirios dos treinos, enquanto que outras pesquisas defendem a tese da adaptao aps o ltimo intervalo da sesso de treino (TUBINO, 1984). Tubino comenta que: Segundo HEGEDUS (1969), os diferentes estmulos produzem diversos desgastes, que so repostos aps o trmino do trabalho, e nisso podemos reconhecer a primeira reao de adaptao, pois o organismo capaz de restituir sozinho as energias perdidas pelos diversos desgastes, e ainda preparar-se para uma carga de trabalho mais forte, chamando-se este fenmeno de assimilao compensatria. Assim, sabe-se que no s so reconduzidas as energias perdidas como tambm so criadas maiores reservas de energia de trabalho. A primeira fase, isto , a que recompes as energias perdidas, chama-se perodo de restaurao, o qual permite a chegada a um mesmo nvel de energia anterior ao estmulo. A segunda fase chamada de perodo de restaurao ampliada, aps o qual o organismo possuir uma maior fonte de energia para novos estmulos (ibidem, 1984, p. 105 e 106). Para Tubino, estmulos mais fortes devem sempre ser aplicados por ocasio do final da assimilao compensatria, justamente na maior amplitude do perodo de restaurao ampliada para que seja elevado o limite de adaptao do atleta. Este o princpio da sobrecarga, tambm chamado princpio da progresso gradual, e ser sempre fundamental para qualquer processo de evoluo desportiva. Tubino (1984) cita algumas indicaes de aplicao do Princpio da Sobrecarga, referenciado nas variveis: Volume (Quantidade) e Intensidade (Qualidade); em vrios Tipos de Treinamento, como: Contnuo, Intervalado, em Circuito, de Musculao, de Flexibilidade e Agilidade, e Tcnico. O qu o professor ou o treinador deve ter o bom senso ao definir a sobrecarga que vai trabalhar com o seu aluno ou atleta, observando todos os outros Princpios do Treinamento Esportivo, sempre respeitando as necessidades e anseios do atleta e, principalmente, os limites ticos do treinamento. 4. O Princpio da Continuidade Este princpio est intimamente ligado ao da adaptao, pois a continuidade ao longo do tempo primordial para o organismo, progressivamente, se adaptar. Compartilho com Tubino, a idia de que a condio atltica s pode ser conseguida aps alguns anos seguidos de treinamento e, existe uma influncia bastante significativa das preparaes anteriores em qualquer esquema de treinamento em andamento. Para Tubino (1984), estas duas premissas explicam o chamado Princpio da Continuidade. Pode-se acrescentar que este princpio compreender sempre no treinamento em curso uma sistematizao de trabalho que no permita uma quebra de continuidade, isto , que o mesmo apresente uma interveno compacta de todas as variveis interatuantes. Em outras palavras, considerando um tempo maior, o princpio da continuidade aquela diretriz que no permite interrupes durante esse perodo. (ibidem, 1984, p. 110). A continuidade de treinamento evita que o treinador subtraia etapas importantes na formao atltica de um esportista. Em geral um atleta que tem um alto desempenho, com
certeza teve uma continuidade ao longo de sua preparao, treinamento e tambm do aprendizado do esporte praticado. A continuidade importante inclusive no treinamento amador e no lazer, e no somente no aspecto fisiolgico, mas tambm, como por exemplo, no aspecto psicolgico e entre outros aspectos cujos fatores podem interferir na prtica esportiva. 5. O Princpio da Interdependncia Volume-Intensidade Este princpio est intimamente ligado ao da sobrecarga, pois o aumento das cargas de trabalho um dos fatores que melhora a performance. Este aumento ocorrer por conta do volume e devido intensidade. Para Tubino (1984), pode-se afirmar que os xitos de atletas de alto rendimento, independente da especializao esportiva, esto referenciados a uma grande quantidade (volume) e uma alta qualificao (intensidade) no trabalho, sendo que, estas duas variveis (volume e intensidade) devero sempre estar adequadas as fases de treinamento, seguindo uma orientao de interdependncia entre si. Ainda segundo Tubino: Na maioria das vezes, o aumento dos estmulos de uma dessas duas variveis acompanhado da diminuio da abordagem em treinamento da outra (ibidem, 1984, 110). Nem sempre as variveis volume e intensidade esto claramente explcitas ao treinador para que este possa definir um treinamento ou ao baseado na relao entre estas. Portanto, utilizando o bom senso, na dvida nunca se deve arriscar ou colocar o atleta ou praticante em risco. Um bom treinador consegue enxergar com maior clareza a relao de interdependncia entre volume e intensidade de um treinamento ou ao de atividade. 6. O Princpio da Especificidade De acordo com Dantas (1995), a partir do conceito de treinamento total, quando todo o trabalho de preparao passou a ser feito de forma sistmica, integrada e voltada para objetivos claramente enunciados, a orientao do treinamento por meio de mtodos de trabalho veio, paulatinamente, perdendo a razo de ser. Hoje em dia, nos grandes centros desportivos, esta forma de orientao do treinamento foi totalmente abandonada em proveito da designao da forma de trabalho pela qualidade fsica que se pretende atingir. Associandose este conceito preocupao em adequar o treinamento do segmento corporal ao do sistema energtico e ao gesto esportivo, utilizados na performance, ter-se- o surgimento de um sexto princpio esportivo: o princpio da especificidade, que vem se somar aos j existentes. Podemos dizer que este princpio sempre esteve intrnseco em todo o treinamento esportivo, desde o mais rstico nas prticas utilitrias, mas t-lo como princpio norteador e como um dos parmetros que devem ser levados em considerao essencial ao estudo e planejamento crtico e consciente nos treinamentos contemporneos. O princpio da especificidade aquele que impe, como ponto essencial, que o treinamento deve ser montado sobre os requisitos especficos da performance desportiva, em termos de qualidade fsica interveniente, sistema energtico preponderante, segmento corporal e coordenaes psicomotoras utilizados (ibidem, 1995, p. 50). Segundo Dantas, ao se estudar o princpio da especificidade, de imediato sobressai um fator determinante, que o princpio da individualidade biolgica, estabelecendo limites individuais a esta capacidade de transferncia. O princpio da especificidade ir se refletir em duas amplas
categorias de fundamentos fisiolgicos: os aspectos metablicos e os aspectos neuromusculares. Para Dantas, O princpio da especificidade preconiza, ... que se deve, alm de treinar o sistema energtico e o crdio-respiratrio dentro dos parmetros da prova que se ir realizar, faz-lo com o mesmo tipo de atividade de performance. (ibidem, 1995, p. 50): Isto serve, cada vez mais, para firmar na conscincia do treinador que o treino, principalmente na fase prxima competio, deve ser estritamente especfico, e que a realizao de atividades diferentes das executadas durante a performance com a finalidade de preparao fsica, se justifica se for feita para evitar a inibio reativa (ou saturao de aprendizagem). (ibidem, 1995, p. 50). De acordo com Dantas (1995), o segundo componente dos aspectos neuromusculares controlado, principalmente pelo sistema nervoso central ao nvel de crebro, bulbo e medula espinhal e pressupe que todos os gestos esportivos, realizados durante a performance, j estejam perfeitamente aprendidos de forma a permitir que, durante a performance, no se tenha que criar coordenaes neuromusculares novas, mas to somente lembrar-se de um movimento j assimilado e execut-lo. A psicologia da aprendizagem ensina que o conhecimento, ou movimento, uma vez aprendido fica armazenado no neocrtex sob forma de engrama, que consiste num determinado padro de ligao entre os neurnios. O engrama, que sempre utilizado, fica cada vez mais ntido e forte ao passo que aquele que no utilizado se enfraquece e pode at se extinguir. Se um gesto esportivo for repetido com constncia, seu engrama ficar to forte a ponto de permitir a execuo do gesto de forma reflexa, atravs de uma rpida comparao, pelo bulbo, entre as reaes neuromusculares e o engrama. Este aspecto est ligado a mielinizao das fibras nervosas e velocidade de conduo dos impulsos, e caracterizao dos tipos de movimentos. Finalizando, Dantas (1995) nos diz que, o aprimoramento da habilidade tcnica e a execuo de todos os movimentos possveis durante o treinamento, visando a aquisio e reforo dos engramas requeridos pelo esporte considerado, tomaro tanto mais tempo quanto mais complexo ele for em termos neuromotores. Ento, se a especificidade do movimento, e conseqentemente da modalidade esportiva, est atrelada memria do gesto motor, de seu treinamento, podemos dizer que o Princpio da Especificidade est ligado diretamente aos gestos especficos de uma determinada modalidade e o treinamento utilizado para o aprendizado e o desenvolvimentos destes respectivos gestos especficos. 7. O Princpio da Variabilidade Tambm denominado de Princpio da Generalidade, encontra-se fundamentado na idia do Treinamento Total, ou seja, no desenvolvimento global, o mais completo possvel, do indivduo. Para isso deve-se utilizar das mais variadas formas de treinamento (GOMES da COSTA, 1996). Segundo Marcelo Gomes da Costa: Quanto maior for a diversificao desses estmulos obvio que estes devem estar em conformidade com todos os conceitos de segurana e eficincia que regem a atividade maiores sero as possibilidades de se atingir uma melhor performance. (ibidem, 1996, p. 357).
A ateno a este princpio diminui a possibilidade do aparecimento de um Plateu no treinamento, ou mesmo o aparecimento de fatores desestimulantes, agindo de forma contrria, atuando na motivao e o mais importante, na possibilidade de possibilitar o surgimento de novas tcnicas de treinamento, de estratgia, tticas, entre outras, inclusive de novos gestos especficos, que sob um determinado ponto de viso, sob um treinamento no varivel, no seria possvel ser identificado ou ter aparecido. Um dos alicerces deste princpio a criatividade, tanto do atleta, quanto do treinador. 8. O Princpio da Sade Segundo Gomes da Costa (1996), esse princpio encontra-se diretamente ligado ao prprio objetivo maior de uma atividade fsica utilitria que vise sade do indivduo: Assim, no s a Ginstica Localizada em si e suas atividades complementares possuem grande importncia. Tambm os setores de apoio da Academia, como o Departamento Mdico, a Avaliao Funcional e o Departamento Nutricional assumem relevante funo no sentido de orientar todo o trabalho, visando a aquisio e a manuteno dessa Sade. (ibidem, 1996, p. 358). Baseado na citao acima posso colocar que este princpio est fundamentado na interdisciplinaridade. No entanto, nem sempre o Princpio da Sade tem sido o principal norteador, ou mesmo um dos princpios norteadores. Em prticas de atividades fsicas hodiernas, verificamos no somente aquelas ligadas aquisio e manuteno da sade do praticante, mas tambm aquelas de alta performance, que podem trazer malefcios devido ao compromisso com o alto rendimento e resultados, e ainda, as atividades que no tm compromisso algum com o aspecto sade. Atualmente pessoas colocam a vida em risco em esportes extremamente radicais, quando tentam ultrapassar os limites fsicos. Portanto, cabe perguntar: os treinamentos destas atividades estariam sob o Princpio da Sade? De certo modo, em relao ao preparo para a execuo da atividade sim, pois, necessrio um certo nvel de condicionamento e sade para tais prticas, e tambm, pelo fato dos praticantes estarem fazendo algo que gostam, que importante para a vida delas e lhes d prazer. A correlao entre este princpio e outras perspectivas do esporte um ponto interessante para ampliar os estudos. 9. A inter-relao dos Princpios De acordo com Gomes da Costa (1996), se faz lgico e transparente que essas leis no existem apenas por existir. Cada princpio, considerado individualmente, possui seu valor e funo prprios, entretanto, a integrao entre esses princpios adquire inestimvel importncia. Aqui acontece aquela historinha de que o todo sempre maior do que a soma de suas partes. (ibidem, 1996, p. 358). Assim cada Princpio assume uma importncia maior, um papel mais destacado quando associado aos outros princpios, segundo este autor, que ainda comenta: Apesar dessa importante correlao, os Princpios da Adaptao, da Sobrecarga, da Continuidade e da Interdependncia Volume-Intensidade que vo no s dar corpo como orientar toda a aplicao prtica do treinamento, ou seja, so os verdadeiros responsveis pela
arrumao de todo o processo de treinamento, traduzida na forma dos micro, meso e macrociclos de trabalho. (ibidem, 1996, p. 358). Podemos certamente concluir que somente com o conhecimento de todos os princpios possvel realizar um treinamento ideal e eficaz. Provavelmente a excelncia em treinamento deve estar acompanhada do profundo saber de todos os princpios aqui comentados, alm de mais outros tantos tpicos do treinamento esportivo. Mas o saber profundo destes princpios e dos mais outros tantos conhecimentos no o nico fator determinante para a excelncia em treinamento. A excelncia s ser atingida se houver a inter-relao perfeita entre todos estes saberes e respectivas aplicaes, e uma constante reformulao desta inter-relao, pois, este conceito de reformulao est embutido nos prprios princpios. Resultados e concluso Verificamos que existem oitos Princpios de Treinamento Esportivo, quando utilizado o pressuposto terico inicial de Manoel Tubino para o Treinamento Esportivo. Estlio Dantas adicionou mais um princpio e Marcelo Gomes da Costa mais outros dois, aos cinco primeiros princpios propostos por Tubino. Foi constatada a inter-relao entre todos os princpios e a importncia destes para o Treinamento Esportivo. Talvez com uma maior compreenso destes princpios, incluindo aspectos ainda pouco explorados, como o emocional, ambiental, social, cultural, entre outros, possam contribuir para um olhar plural, alm do pragmatismo de um programa focado somente no aspecto fisiolgico do treinamento. Observamos que os professores ou treinadores devem se apoiar no bom senso para efetivar qualquer treinamento e ampliar a discusso sobre os conceitos e utilizaes dos princpios que norteiam os treinamentos em diferentes modalidades. Referncias bibliogrficas y BENDA, Rodolfo Novellino & GRECO, Pablo Juan. Iniciao Esportiva Universal: Da aprendizagem motora ao treinamento tcnico. Belo horizonte, MG: Editora UFMG, 2001. DANTAS, Estlio H. M. A Prtica da Preparao Fsica. 3 edio. Rio de Janeiro: Shape, 1995. GOMES DA COSTA, Marcelo. Ginstica Localizada. Rio de Janeiro: Editora Sprint, 1996. LUSSAC, Ricardo Martins Porto (Mestre Teco). Desenvolvimento psicomotor fundamentado na prtica da capoeira e baseado na experincia e vivncia de um mestre da capoeiragem graduado em educao fsica. Universidade Cndido Mendes, Ps-Graduao Lato Sensu , Projeto A vez do Mestre. Rio de Janeiro: 2004. MATTOS, Mauro Gomes de; ROSSETO JNIOR, Jos; BLECHER, Shelly. Teoria e prtica da metodologia da pesquisa em educao fsica: construindo seu trabalho acadmico: monografia, artigo cientfico e projeto de ao. So Paulo: Phorte, 2004. TUBINO, Manoel Jos Gomes. Metodologia cientfica do treinamento desportivo. 3 edio. So Paulo: Ibrasa, 1984. WEINECK, Jrgen. Manual de Treinamento Esportivo. 2 edio. So Paulo: Editora Manole, 1989. _________, Jrgen. Biologia do Esporte. So Paulo: Editora Manole, 1991.
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