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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DEOLINDA

RODRIGUES

DEPARTAMENTO DE DIREITO

APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO

Sala: A 12

Turno: Diurno

Curso: Direito
Grupo nº 3

Sebastião Raimundo António

Hélvia Helena Mbengui

Pedro Raimundo Nhanga

Teresa Pedro

Denise Fernandes

Joel Vieira

Sandro Bala

Trabalho apresentado na cadeira de Introdução ao Estudo do Direito ministrada pelo Dr.


Baptista Benjamin Moço.

Luanda, 2024
INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa discorrer sobre a aplicação no tempo. A lei, como fonte
formal do direito, se projeta n o espaço e no tempo, sendo a primeira dimensão relativa
ao Estado que exerce sua soberania e a segunda limitada pelos termos inicial e final da
norma jurídica. Quando se refere à dimensão temporal se usa a locução eficácia da lei
no tempo pois a norma quase sempre é eficaz até que seja derrogada porquanto se
tornando antiquada sobrevém outra que a revoga. Todavia por vezes sucede que a lei
antiga cria relações jurídicas cuja permanência se impõe, surgindo o conflito sobre a
aplicabilidade de cada qual dos sistemas, cabendo ao legislador fixar se tais situações
devam ser regidas pela lei nova ou mesmo o desfazimento completo com a aplicação
retroativa da nova norma.

Para solucionar tais conflitos se deve recorrer aos princípios da irretroatividade


das Leis e do respeito ao Direito Adquirido, devendo o jurista no exame da diferença
entre Direito Adquirido e Expectativa de Direito, nas noções dos Direitos de Aquisição
Complexa e no binômio Direito Adquirido e Ordem Pública. É, pois, indispensável o
estabelecimento de parâmetros e de um critério técnico para propiciar aos juristas o
exame da matéria de forma científica. No Direito pátrio inexiste uma ciência a respeito
de um tema tão palpitante, mas há possibilidade de que se reúnam critérios doutrinários
para dirimir as dúvidas, sendo necessário que se atinja ao estágio almejado para evitar a
perpetuação de dúvidas que impeçam a estabilidade nas relações jurídicas com reflexos
na paz social.

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2. APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO

O jurista Limongi França, que estudou profundamente a matéria, entende que se


torna necessário estabelecer u m a estrutura doutrinária sobre a matéria c o m base na
própria doutrina nacional, associada às nossas tradições e as peculiaridades próprias d o
nosso país i m p õ e m soluções próprias e não alienígenas, porquanto somente as
primeiras podem conduzirá segurança e estabilidade jurídica interveniente. A
irretroatividade das Leis e o Direito Adquirido nos sistemas estrangeiros deve ser
examinada tendo e m vista que o Direito Arcaico, o Direito Romano e o Direito
Intermédio são as raízes do Direito Luso-Brasileiro e também face à influência mútua
das diversas doutrinas estrangeiras e formas de legislação, que fizeram o direito
estrangeiro ser aceito entre nós a ponto de se integrar a nosso direito no que tange ao te
m a sob exame.

A importância da fase embrionária é fundamental pois o instituto do direito


adquirido constou do Direito Mesopotâmico (3.000 a.C.), nos Direitos Hindu, Hebraico,
Chinês, Grego, no Direito Romano e m todas suas fases, no Direito Intermédio e nos
Códigos Medievais. A fase científica do Direito Adquirido se iniciou c o m a Exegese e
a Escola Histórica porquanto ao longo dos milênios se delineou o desenvolvimento d o
estado de fato até se alcançar o estado de direito e, consequentemente, a fixação dos
limites temporais da lei antiga e m relação à lei nova e a noção de que em princípio a n
o r m a antecedente e m princípio não pode ser derrogada por u m novo sistema o
Direito Romano há perfeita definição no Princípio da Irretroatividade das Leis, onde se
estabelecem que nos negotia finita não há se falar e m retroatividade e no Código de
Justiniano também houve tentativa de criação de um sistema, surgindo no Direito
Medieval a noção de efeito imediato e, na mesma fase como Direito Canônico e os Pós-
Glosadores veio a noção do Jus Ouaesitum.

Esta última ideia se desenvolveu nos séculos XVI a XVIII e propiciou o


surgimento da fase científica no século seguinte, de início c o m a Consolidação do
Direito Adquirido como Doutrina Clássica, após como a tentativa de alterações por
critérios mais completos e, por último o retorno à Doutrina Clássica que finalmente
acabou prevalecendo. A maioria das Constituições apenas adotava o princípio da
irretroatividade e m matéria penal, sendo exceção a Constituição Americana, apesar de

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escaparem à regra algumas legislações substantivas como a da Costa Rica e d a Noruega
e, também, a Lei Magna Portuguesa de 29.4.1826 e, tendo o Código Espanhol d e 1988
fixado que as leis não teriam efeito retroativo caso não houvesse disposição e m
contrário, foi enorme a influência deste diploma legal nos sistemas hispano-americanos.

Merlin foi u m dos juristas cuja obra exerceu grande influência no século XIX,
inclusive no Direito Brasileiro (Projeto Felício dos Santos) e sua doutrina, e m linhas
gerais, fixou o seguinte:

1. O princípio geral é de que as leis não podem retroagir.


2. Há casos e m que podem retroagir:
a) Quando revigoram leis preexistentes (efeito repristinatório expresso);
b) Quando considerações de ordem política levam o legislador a retroagir e m
matéria de direito privado;
c) Quando o legislador dispõe expressamente no sentido da retroatividade.

A regra, todavia, é a de que a lei não pode retroagir e, deste m o d o cabe definir o
que é retroatividade.

A retroatividade ocorre nas seguintes hipóteses:

1) Quando a lei atinge o passado e o altera-,


2) Quando tal mutação constitua prejuízo direto às pessoas, sujeitas à tutela da
relação jurídica sob a égide da lei antiga. Tal prejuízo só ocorre quando da
supressão de direitos adquiridos.

Merlin define direito adquirido como “aqueles que entraram no nosso


patrimônio, que dele fazem parte, e que não podem ser tirados por aquele de quem o
obtivemos". Pontua o autor que os direitos distinguem-se das faculdades, estas podendo
ser conferidas pela lei ou pelos indivíduos. Quando estas já tenham sido exercidas e o
seu objeto já tenha sido incorporado ao patrimônio individual. Aduz que "o legislador
não constata quando confere uma faculdade, permite, mas não se obriga; conserva,
pois, sempre, o direito de retirar a permissãd’. Também define a expectativa de direito
como a “esperança, advinda de um fato passado ou de um estado atual de coisas, de
gozar de um direito lorsqu’il s’ouvrira".

Classifica Merlinduas formas de expectativa, a primeira oriunda da


vontade individual ou de u m a lei revogável e a segunda exemplificada pelo resultado

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de u m contrato ou de testamento cujo autor já morreu, fixando o entendimento que
nestes casos está fora do alcance de leis posteriores, ainda que dependa de condição. Tal
entendimento doutrinário merece críticas quanto ao conceito de expectativa de direito
eis que alinha paralelamente situações onde o direito adquirido se manifesta c o m as e
m que ocorre me r a expectativa.

A obra de Gabba

Após o trabalho de grandes juristas italianos, sobretudo a obra de Pacificio


Mazzoni, o ponto alto das doutrinas se deu c o m a obra de Gabba “Teoria delia
Retroativitá delle Leggi" (1® volume e m 1891; 2® em 1897 e 3® e m 1898).

No primeiro volume (Prolegomeni) se encontram as linhas fundamentais,


resultado de estudos de Direito Romano, Direito Canônico e Direito Comparado, se
sedimentando a doutrina e m que "as leis não devem retroagii "e que "a razão e o
verdadeiro limite da retroatividade das leis consistem unicamente no respeito ao
Direito Adqulridd'.

As dificuldades que o autor encontra para erigir a teoria são a complexidade dos
institutos jurídicos e a indeterminação do significado de muitas expressões técnicas.
Gabba concorda em que a teoria sobre a matéria não pode apresentar princípios
absolutos, mas que se deve buscar a fixação de princípios gerais de aplicação aos casos
concretos, variáveis de acordo com as circunstâncias eventuais. Ensina o autor que os
direitos adquiridos que quaisquer espécies de leis novas devem respeitar, se situam no
amplo espectro da ciência jurídica, não se circunscrevendo à qualquer área do direito.
Após criticar os autores mais eminentes, se embasa na seguinte conceituação de
Savigny.

"Direito adquirido é todo direito fundado num fato jurídico realizado, mas que
ainda se faz valer". Segue o raciocínio contrapondo tal definição às "faculdades
abstratas" e às meras “expectativas", esclarecendo que a noção de direitos adquiridos
não abrange aqueles consumados mas "aqueles direitos que foram adquiridos, mas não
foram ainda efetuados ou consumados".

Seu próprio conceito é o que se segue:

“É adquirido todo direito que —

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a) é consequência de um fato idôneo a produzi-lo, em virtude da lei do tempo no
qual o fato foi consumado, embora a ocasião de fazê-lo valer não tenha se apresentado
antes da atuação de uma lei nova sobre o mesmo; e que —

b) nos termos d a lei sob cujo império de entabulou o fato do qual se origina,
entrou imediatamente a fazer parte do patrimônio de q u e m o adquiriu".

Assinala que a expressão fato abrange fatos e relações jurídicas, que se referiu a
fato consumado pois se a origem (do fato) "não seja tão perfeita como quereria a lei do
tempo, esta lei não pode ter uma eficácia que a lei posterior deva respeitar" e que
quando fala e m fazer parte do património procurou aclarar que o direito adquirido não
se confunde com "as meras possibilidades ou abstratas faculdades jurídicas, nem as
simples expectativas".

Sua análise do direito adquirido gira e m torno de três noções:

1) De direito concreto ou subjetivo;


2) De direito c o m o elemento do patrimônio;
3) Dos fatos aquisitivos.

A primeira ideia se explica no seguinte:

A afirmação da existência de um direito pressupõe a existência de um


fato (direito subjetivo) e de uma lei (direito objetivo) que do fato faça provir u m direito.
Sem o fato, portanto, a lei constitui mera possibilidade, sendo certo que o direito
concreto deve se fundamentar na lei vigente.

Quanto à segunda ideia de que o direito é elemento do patrimônio, deve haver


distinção entre os que não têm caráter patrimonial, c o m o a tutela e a menoridade, que
representam ser a possibilidade. No que tange à terceira ideia, dos fatos aquisitivos,
devem observar os seguintes requisitos:

1) que sejam completos;

2) que tenham sido implementados e m tem p o idôneo;

3) que o agente tenha capacidade prevista legalmente;

4) que as formalidades legais tenham sido observadas, sob pena de nulidade.

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Os fatos aquisitivos podem ser simples, ou seja, quando se consumam
instantaneamente, sem sucessividade e complexos, como o usucapião que pressupõe a
prática de vários atos dentro de u m lapso temporal, ou no caso da sucessão
testamentária quando há o testamento de u m lado e a aceitação do herdeiro de outro e,
finalmente, quando ao ato deva se incorporar evento cuja verificação está fora do poder
do pretenso detentor, como as transmissões unilaterais sob condição.

Cabe indagar dentro deste contexto se a lei nova se projeta às partes ainda
inatingidas pelo fato aquisitivo complexo, advertindo Gabba não ser possível fixar
critério absoluto pois apenas c o m alguns casos o direito e m decurso se verifica,
ficando a consumação sujeita à presença ou não de característica idônea, entendido c o
m o tal que o fato não verificado seja infalível, que o que falta para aperfeiçoar a
transmissão não dependa de quem tenha o interesse contrariado pelo fato e que a
aquisição que se transmude e m complementação do fato tenha a sua raiz e m u m
direito anteriormente adquirido.

Afora tais situações, o que se tem é uma mera expectativa de direito. No final de
sua obra Gabba examina a extensão do direito adquirido sob os ângulos dos efeitos e
consequências, as formas e m o d o s de execução e de garantias do m e s m o e a
duração no tempo.

O Excelso Pretório se baseou na inexistência de direito adquirido. Esta decisão é


consoante a teoria de Gabba eis que o direito foi negado e m virtude de não
implementada a condição subordinada ao lapso temporal.

A obra de Paul Roubler.

Sua doutrina foi exposta e m várias obras, sendo as principais “Distinction d e


l'Effet Rétroactiv et de Effet Immédiat de la Loi", da “Revu e Trimestrielle", de 1928,
na obra "Le Conflit des Lois dans les Temps ”, publicada em 1929 e 1933 e revista e
aumentada em 1960 sob o título "Le Droit Transitoire” e finalmente no trabalho "Droits
Subjectifs” e "Situation Juridique”, de 1963. Roubier também elaborou o Anteprojeto
sobre o Conflito de Leis no Tempo, apresentado à Comissão de Reforma do Código
Civil da França, em 1949.

Sua teoria se embasa nos seguintes princípios:

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1. " A base fundamental da ciência do conflito das leis no tempo é a distinção
entre o efeito retroativo e o efeito imediato da lei."

2. “O efeito retroativo é a aplicação no passado; o efeito é imediato, a aplicação


no presente...

Se a lei pretende aplicar-se a fatos realizados ela é retroativa; se pretende aplicar-


se a situações em curso é preciso estabelecer uma separação entre as partes anteriores e
a data da mudança da legislação que não poderiam ser atingidas sem retroatividade, e as
partes posteriores, para as quais a lei nova, se lhes deve aplicar, não terá jamais senão
efeito imediato; enfim, à face dos fatos futuros é claro que a lei não pode, jamais, ser
retroativa."

3. " Em certas matérias, c o m o nos contratos e m curso, a regra é a sobrevivência


da lei antiga."

4. " O intérprete só pode conceder efeito retroativo face à lei expressa. E m caso
da existência de u m decreto concedendo efeito retroativo, deverá ser anulado por
violação de lei (art. 2® do Código Civil Francês). Se tal espécie de norma previr a
aplicação imediata, o comando deve prevalecer.”

5. “Para distinguir efeito retroativo do efeito imediato deve ser entendida a noção
de situação jurídica (por exemplo, de proprietário, de comprador, d e herdeiro, etc....)
que e não se realizam de imediato, m a s se desenvolvem no tempo. Deste modo a lei
pode atingir partes anteriores (efeito retroativo) ou partes posteriores (efeito imediato).

A situação jurídica tem a fase dinâmica, que corresponde à etapa de constituição


(ou extinção) ou a estática, último estágio e m que os efeitos se produzem."

6. A lei pode objetivar a regulação de condições de constituição (ou extinção) e,


assim sendo, s e m retroatividade não podem apreciar a eficácia de fato pretérito.

7. Quando se tratar de lei objetivando a fixação no presente dos efeitos de u m a


situação jurídica, a situação anterior é regida pela lei antiga.

Aplicação da Lei no Tempo no Direito Penal Angolano

Quanto a aplicação da lei no tempo o Código Civil Angolano (CCA), no seu


Artigo 12.º nº1 dispõe que “a lei só dispõe para o futuro, ainda que lhe seja atribuída
eficácia retroativa, presume-se que ficam ressalvados os efeitos já produzidos pelos

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factos que a lei se destina a regular. Face aos dispostos no artigo já referenciado, fica
claro que no direito civil a lei só dispõe para o futuro, isto é, a Lei não se aplica a factos
anteriores à sua vigência.

Quanto a aplicação do Código Penal angolano (CPA) no tempo, não havendo


normas transitórias a esse respeito, a lei 38/20 de 11 de Novembro, que o aprova, o
exercício faz-se por recurso à interpretação do art.º2.º do C.P.A.

Antes, porém, importa referir que, pela sua natureza de direito de última ratio,
susceptível de limitar o direito fundamental à liberdade, deve-se ter em conta, princípios
gerais da aplicação da lei no tempo. Desde logo, o princípio da não retroactividade da
lei, segundo o qual a lei só dispõe para o futuro, isto é, a Lei não se aplica a factos
anteriores à sua vigência.

No Direito Penal, o princípio da não-retroactividade da lei corolário da princípio


da Legalidade, cristalizado na expressão “nullum criminem sine lege” ganha especial
relevância com a sua consagração constitucional, quando se estabelece que: “Ninguém
pode ser condenado por crime senão em virtude de lei anterior que declare punível a
acção ou omissão, nem sofrer medida de segurança cujos pressupostos não estejam
fixados em lei anterior” artigo 65.º, n.º 2, da CRA. No sentido inverso, a lei penal não
pode, de igual modo, pretender regular factos ocorridos depois de cessar a sua vigência,
consubstanciando com isso o princípio da não-ultractividade da Lei penal.

Todavia, e novamente pela natureza intrínseca do direito penal no que diz respeito
à limitação da liberdade, admite-se, em certos casos, a aplicação retractiva da lei penal
que funcione in bonan parte, isto é, tratando-se de normas incriminadoras e
sancionatórias, o princípio que impera é o da retroactividade da lei penal, sempre que a
lei antiga se mostrar mais favorável ao agente do crime.

Ora, o CPA acolhe e densifica os princípios acima referidos nos seus artigos 1.º e
2.º, numa clara afirmação da sua importância em todo direito penal substantivo. Assim e
para o caso em análise, importa trazer aqui o que dispõem o artigo 2.º do CPA:

“ 1. As penas e medidas de segurança são determinadas pela lei vigente ao tempo


da prática do facto ou da verificação dos pressupostos de que dependem.

2. Sem prejuízo do disposto no n.º 4, sempre que as disposições penais vigentes


no momento da prática do facto forem diferentes das estabelecidas em leis anteriores,

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aplica-se o regime que concretamente se mostrar mais favorável ao agente. Se tiver
havido condenação, ainda que transita em julgado, cessam a execução e os seus efeitos
penais logo que a parte da pena se encontrar cumprida atinja o limite máximo da pena
prevista
na lei posterior. (Negritado Nosso).

3. Quando o facto deixar de ser crime por força da lei posterior, a sentença
condenatória, ainda que transitada em julgado, não se executa ou, se já tiver começado a
ser executada, cessa imediatamente todos os seus efeitos.

4. O facto praticado durante a vigência de uma lei que vigore apenas por
um período determinado, ou para vigorar durante um período de emergência é julgado
nos termos da lei, salvo se a lei posterior dispuser de forma diferente.

Por outro lado, faz-se necessário analisar as soluções preconizadas na matéria de


sucessão de leis no Código de Processo Penal, também ele novo, introduzido no
ordenamento jurídico angolano pela lei 39/20, de 11 de Novembro, com início de
vigência de 90 dias após a sua publicação. A questão coloca-se nos termos que no
Código Penal, sendo que a Lei que aprova o Código de Processo Penal angolano, não
dispõe de normas transitórias, remetendo a regulação da aplicação da lei processual no
tempo à
normatividade constante do art.º 4.º do C.P.P.A.

Se em relação a lei penal a problemática da sua aplicação no tempo se


circunscreve à questão de saber qual lei vigorava no momento da prática do facto
punível – e num momento posterior a opção pela lei mais favorável ao agente, para a
sua aplicação em concreto, – na lei processual penal, pela própria natureza do processo
– entendido como o conjunto expedientes e práticas destinadas à averiguação e prova de
condutas humanas que preencham alguns tipos previstos na lei e de que foram os
autores e que termina com uma decisão, onde se define o direito aplicável à situação e
se inflige, se for caso disso, uma sanção penal aos respectivos infractores, verifica-se
um encadear de actos praticados e a praticar durante um período de tempo mais ou
menos longo, sendo que a definição da lei aplicável traz consigo outros desafios.

Desde logo, e talvez o maior, a harmonização da prática de actos processuais,


quando o processo tiver iniciado na vigência de uma lei e surgir lei nova que altera

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formas de processo, modelos de prática de actos, prazos e até mesmo garantias
processuais.

A princípio, o que ficou dito relativamente ao princípio da proibição da


retroactividade da lei penal vale, de igual modo, para o direito processual
penal. Porém, a justificação da aplicação retroactivamente da lei penal mais
favorável ao agente já não é aqui acolhida, na medida em que o direito penal
substantivo tipifica as condutas proibidas e comina sanções à violação dos comandos
tipificados, ao passo que, o direito processual penal, porque instrumental, visa
simplesmente tornar concreta a realização da justiça penal, definindo a tramitação
processual para o efeito, pelo que, regra geral, não há aplicação retroactiva da lei penal.
Entretanto, subsistindo, por assim dizer, uma zona de tensão entre duas leis penais que
se sucedem na pendência de um processo-crime, o CPPA, no seu artigo 4.º, dispõe o
seguinte:

“ 1. A lei processual penal é de aplicação imediata, mantendo os actos


praticados no domínio da lei anterior a sua inteira validade.

2. A lei processual não se aplica aos processos que tiverem início na


vigência da lei anterior, se a sua aplicação imediata determinar:

a) O agravamento da situação processual do arguido, em particular, a


diminuição dos seus direitos de defesa;

b) A contradição ou quebra de harmonia e de unidade entre os actos do


processo regulados pela lei anterior e os regulados pela lei vigente. (Negritado
Nosso).

Assim, resulta da análise das disposições do art.º 4.º do C.P.P.A. que, embora a
regra seja a da proibição da retroactividade da lei processual penal, as excepções das
alíneas a) e b), do n.º 2, do já referido artigo, obrigam a aplicação da lei antiga, isto é, a
aplicação da lei revogada.

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CONCLUSÃO

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Bibliografia

"A Irretroatrividade das Leis e o Direito Adquirido", França R., Limongi,Revista


dos Tribunais.

"Teoria Geral do Direito Civil", Bevilaqua, Clóvis,Ed. Francisco Alves.

“Instituições de Direito do Trabalho", Süssekind, Arnaldo; Maranhão, Délio, Ed.


LTr.

“Da Retroatividade d a Lei", Cardozo, José Eduardo Martins,Revista dos


Tribunais.

Código Penal Angolano, Imprensa Nacional.

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