Ordenar a Vida

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Ordenar a Vida: Caminhando com Santo Inácio de Loyola

Bem-vindos novamente ao programa Ordenar a Vida: Caminhando com Santo Inácio


de Loyola, um caminho espiritual que nos leva a encontrar Deus e a Sua vontade. É uma
jornada de disposição interior, onde nos detemos para nos encontrar com Deus em
oração e silêncio.

No programa da semana passada, tratamos das anotações e pequenos conselhos que


Santo Inácio coloca no início do livro dos Exercícios Espirituais para nos ajudar a usá-
los de maneira eficaz. Hoje, continuaremos este tema, abordando o que ele chama de
"adições".

As adições são como conselhos práticos para a liturgia interior da oração pessoal. Assim
como a liturgia externa possui gestos e símbolos — como a procissão de entrada, o uso
de cruzes, incenso e hinos —, a liturgia interior é vivida na alma, no coração, em
oração. Como disse um padre certa vez, as adições são conselhos para tornar a oração
pessoal mais frutuosa.

Santo Inácio destaca que esses conselhos devem ser seguidos sempre com o desejo do
bem, com o desejo do "mais" — aquilo que mais glorifica e serve a Deus. São
orientações práticas tanto para quem faz os exercícios quanto para quem os ministra,
ajudando na oração e na busca do que se deseja.

As Dez Adições

Santo Inácio apresenta essas adições no número 73 ao 85 dos Exercícios Espirituais.


São dez pequenas notas que se dividem em conselhos práticos sobre a penitência e sobre
como as adições devem ser adaptadas conforme a caminhada espiritual avança. No
início dos exercícios, elas são aplicadas de uma forma; mais adiante, durante as
semanas, são ajustadas às necessidades do momento.

Preparação para a Oração

A primeira e a segunda adições tratam da preparação para a oração. Santo Inácio,


seguindo a tradição de muitos santos e místicos, sugere que a oração deve ser preparada
com antecedência. Ele propõe uma preparação noturna (praeparatio remota).

Essa preparação consiste em, na noite anterior, ler o texto que será meditado no dia
seguinte. Por exemplo, se o Evangelho do dia será o foco da meditação, lê-lo e refletir
brevemente sobre ele antes de dormir. Além disso, já deitado, dedicar um minuto ou
alguns segundos para pensar na matéria da oração.

Embora isso possa parecer um detalhe pequeno, Inácio sabia que nosso inconsciente e
subconsciente continuam trabalhando enquanto dormimos. É como quando uma criança
assiste a um filme de guerra antes de dormir e, durante a noite, tem sonhos agitados
sobre as cenas que viu. Esse mesmo princípio pode ser usado positivamente: quando
lemos algo significativo antes de repousar — como um texto espiritual ou uma lição de
uma língua estrangeira —, nosso inconsciente ajuda a consolidar esses conteúdos
enquanto dormimos.
Conclusão

As adições, portanto, são orientações preciosas para intensificar a eficácia da oração


pessoal. Elas nos ajudam a criar um ambiente interior favorável para o encontro com
Deus e nos ensinam a viver a liturgia do coração. Que possamos aplicar esses conselhos
de Santo Inácio, sempre buscando o "mais" para maior glória de Deus.

Texto Organizado e Corrigido:

Já aconteceu com você, ao adormecer pensando em algo que viu na televisão, acordar
no meio da madrugada ou pela manhã e ser essa mesma imagem o primeiro pensamento
que vem à mente? Por exemplo, se você adormece pensando em uma cena vista no
museu, ao acordar, essa será a primeira lembrança. Isso também pode ocorrer em
relação à oração: se ao dormir pensamos no sacrário, ao despertar, ele será o
pensamento predominante.

Por isso, Santo Inácio sugere uma preparação remota para a oração, que é essencial.
Se alguém adormece preocupado com problemas econômicos, familiares ou algo que o
angustie, ao acordar, esses pensamentos logo voltam. Para evitar isso e direcionar a
mente para Deus, é importante preparar a oração na noite anterior.

Essa preparação pode incluir a leitura do texto que será meditado no dia seguinte,
mesmo que de forma breve, e a tomada de notas. Anotar palavras ou atitudes marcantes
do texto bíblico, por exemplo, pode ser feito em um caderno espiritual. Isso ajuda a
focar e organizar os pensamentos para o dia seguinte.

Hoje, muitas pessoas utilizam recursos tecnológicos para ajudar nesse processo. Ouvir
áudios, leituras espirituais ou músicas suaves antes de dormir pode embalar a mente e
preparar o espírito para a oração. Esses materiais podem ser revisitados durante o dia,
no caminho para o trabalho ou no metrô, ajudando a consolidar o conteúdo no coração.

Quando iniciei minha vida religiosa, lembro-me de que dedicávamos um quarto de hora
todas as noites para preparar as intenções do dia seguinte. Esse momento de reflexão
incluía a leitura do texto, anotações e oração, que ajudavam a manter o foco na
espiritualidade.

A segunda adição sugerida por Santo Inácio é o ato de entrar na presença de Deus
antes de começar a oração. Aproveite momentos do dia, como uma viagem de carro ou
de metrô, para fazer isso. É um ato de fé: reconhecer que Deus está presente, mesmo
sem vê-lo, e dialogar com Ele – seja com o Pai, com Jesus, com o Espírito Santo ou
com Nossa Senhora.

Esse ato nos ajuda a tomar consciência de que Deus está conosco e a buscar a luz e a
graça para que a oração seja frutuosa. Ao iniciar a oração, é bom pedir ao Espírito Santo
que nos ajude a silenciar o interior, a concentrar e a nos abrir à escuta de Deus.

Leia novamente o texto bíblico com calma e atenção. Entrar em oração é como entrar
em uma casa: é preciso cuidado, preparação, limpar os pés no capacho e, só então,
cruzar a porta. Esse gesto simbólico representa o silêncio interior e o recolhimento
necessários para que a oração não seja superficial.
Entrar na presença de Deus com reverência e cuidado transforma a oração em um
momento de profundo encontro, onde podemos nos recolher e nos abrir à graça divina.

A busca do recolhimento é essencial para a oração. Muitas vezes, as pessoas começam a


rezar sem antes se preparar adequadamente, o que dificulta um encontro verdadeiro com
Deus. Um conselho importante é, antes de iniciar a oração, fazer um ato de fé:
reconhecer a presença de Deus. Não se trata de apenas começar mecanicamente, mas de
entrar verdadeiramente em Sua presença.

Por exemplo, ao rezar o terço, não comece imediatamente com o primeiro mistério.
Antes, faça um momento de silêncio, converse com Deus, disponha o coração e somente
depois inicie o terço. O ambiente espiritual precisa ser criado com cuidado e atenção.

Preparação para a Oração

Uma preparação eficaz envolve passos importantes:

1. Escolha do ambiente: É fundamental estar em um lugar silencioso, livre de distrações


externas, como televisão, música ou notificações de celular. Isso ajuda a criar o silêncio
exterior.
2. Busca do silêncio interior: Mesmo em um ambiente calmo, muitas vezes trazemos
preocupações, problemas e distrações internas. O silêncio interior é um dom de Deus e deve
ser pedido com fé, coragem e determinação. Sem ele, a mente se dispersa, dificultando o
recolhimento necessário para a oração.

Estrutura da Oração

1. Entrada: Antes de começar, reserve um tempo para se preparar. Leia o texto da oração ou o
Evangelho com calma, meditando sobre as palavras e buscando entrar na presença de Deus
como quem adentra uma casa, com respeito e atenção.
2. Durante a oração: Esteja atento ao tempo e ao estado interior. Perceba os momentos em que
se sente mais consolado ou desolado. Reflita sobre o que o tocou mais profundamente: um
versículo, um pensamento ou a posição do corpo.
3. Avaliação: Ao finalizar, faça uma retrospectiva. Pergunte-se: Como comecei? Consegui
alcançar o silêncio interior? Em que momento senti a presença de Deus mais intensamente?
Essa avaliação ajuda a identificar pontos a melhorar na oração seguinte e a crescer
espiritualmente.

Importância da Avaliação e Repetição

A avaliação da oração é essencial para o progresso espiritual. Ela permite identificar os


toques do Espírito Santo e perceber nossas infidelidades. Muitas vezes, pode ser
necessário repetir uma oração para aprofundar melhor a ação de Deus na alma e
compreender as luzes que o Espírito Santo concede.

Conclusão

A oração é um caminho de crescimento espiritual. Não basta simplesmente realizá-la; é


preciso dedicar tempo para se preparar, entrar em silêncio e, ao final, avaliar com
atenção. Assim, é possível progredir na intimidade com Deus e deixar-se conduzir mais
profundamente pela Sua graça.

Este processo pode parecer desafiador no início, mas, com prática e perseverança, torna-
se um hábito proveitoso e enriquecedor para a vida espiritual.

A ambição na vida espiritual não está apenas na ação de Deus em nós, mas também na
nossa colaboração com essa ação. Isso se reflete em pequenos detalhes que Santo Inácio
coloca em suas orientações para nos ajudar a progredir na oração e no recolhimento.

Bloco de Três Edições: Sétima, Oitava e Nona

Santo Inácio propõe três edições específicas que tratam de detalhes aparentemente
simples, mas que fazem grande diferença na oração e no estado interior.

1. Adequação ao Mistério Rezado:


o Na Paixão de Cristo:
Durante a meditação da Paixão, Inácio recomenda evitar excessiva claridade no ambiente e
não se expor a elementos que promovam alegria, como músicas animadas. O objetivo é
sintonizar-se com o sofrimento de Jesus, cultivando um ambiente de recolhimento e
compaixão.
o Na Ressurreição:
Em contraste, ao meditar sobre a Ressurreição, devemos buscar elementos que inspirem
alegria. Pensamentos felizes, músicas que promovam júbilo e até mesmo a luminosidade do
ambiente podem ajudar a entrar no espírito de celebração e gratidão pelo triunfo de Cristo.

2. Consideração com os Outros:


Quando estamos em grupo, seja numa casa ou retiro, é essencial evitar atitudes que
possam distrair os outros. Pequenos gestos, como a maneira de abrir a porta de um
quarto ou caminhar pelo corredor, podem interferir na concentração de quem está ao
lado. Santo Inácio nos convida a ter cuidado e respeito para que o ambiente de oração
permaneça propício a todos.
3. Atenção ao Corpo e ao Ambiente:
Inácio ensina que o corpo é nosso "irmão" e deve ser cuidado durante a oração.
Antigamente, podia-se pensar que apenas a alma era envolvida no ato de rezar, mas ele
ressalta que o corpo também participa. Por isso, é importante criar condições físicas
adequadas:
o Temperatura: Estar em um local muito frio ou desconfortável pode prejudicar a concentração
e o recolhimento.
o Posição física: Escolher uma postura que favoreça a oração é essencial para manter o foco e a
disposição.

Conclusão

Essas orientações nos mostram que a oração não depende apenas da disposição
espiritual, mas também de fatores externos e físicos. Adequar o ambiente, ajustar o
estado interior e cuidar do corpo são ações que colaboram com a graça de Deus,
permitindo-nos rezar com maior profundidade e eficácia. Esses pequenos detalhes,
aparentemente simples, são fundamentais para o progresso na vida espiritual e no
relacionamento com Deus.
Claro que o estado de oração pode ser encontrado em qualquer lugar, mesmo em um
ambiente de barulho. A presença de Deus está conosco onde quer que estejamos, seja
numa máquina que está a funcionar, no metro durante uma viagem, ou até mesmo em
meio ao caos cotidiano. No entanto, é verdade que, no silêncio, podemos descobrir e
aprofundar nossa experiência de Deus de maneira mais clara. O silêncio da natureza, em
nosso quarto, diante de uma bela paisagem ou ao apreciar a maravilha do oceano, tudo
isso pode nos ajudar a alcançar o recolhimento necessário para o coração.

Esses pequenos detalhes e conselhos dados por Santo Inácio são preciosos para nos
ajudar a manter o foco na oração pessoal. Ele nos ensina que o silêncio não é algo
exclusivo dos lugares tranquilos; Deus também está presente no barulho. No entanto,
certos ambientes podem facilitar mais a nossa concentração, como um espaço mais
silencioso, onde podemos nos conectar com Deus de forma mais profunda.

As orientações de Santo Inácio vão se aprofundando à medida que avançamos na


espiritualidade. Quando entramos na terceira semana dos Exercícios Espirituais, que se
foca na Paixão de Cristo, encontramos mais edições e conselhos que nos ajudam a
entrar melhor no mistério de Deus. Por exemplo, ele sugere um ambiente mais fechado,
com menos claridade, para meditar sobre a Paixão, ou usar música que ajude a focar no
mistério de sofrimento e amor de Cristo. Tudo isso contribui para nos aproximarmos do
amor divino e, por meio dessa experiência, nos tornarmos mais convertidos.

O objetivo não é ter uma preocupação doentia ou obsessiva, mas um desejo sincero de
buscar Deus. O mais importante é que, através da oração e do silêncio interior, podemos
discernir a vontade de Deus para nossas vidas. Seja na penitência, na oração ou na vida
familiar, devemos buscar os meios que Deus quer para nós e permitir que sua graça nos
guie.

Se não formos habituados ao silêncio interior, talvez o encontremos apenas em


momentos de maior crise espiritual, mas devemos cultivar essa prática no nosso dia a
dia. Até nas atividades cotidianas, como fazer compras ou subir uma escada, podemos
estar em sintonia com Deus. A dona de casa, ao passar a ferro, pode aproveitar esse
momento para rezar e unir-se a Deus, mesmo em meio às tarefas mais simples. Ela pode
transformar esses momentos em oração, sentindo-se unida ao sacrário e fazendo de cada
ato uma oferenda a Deus.

Este é o caminho do crescimento espiritual e interior. À medida que terminamos o


programa de hoje, peço que recebam a bênção como confirmação da ação de Deus em
nossas vidas. Que, aos poucos, possamos assimilar os ensinamentos de Santo Inácio e
nos aproximar mais de Deus, crescendo na fé e no recolhimento interior.

Que a bênção de Deus Todo-Poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo, desça sobre vós e
permaneça convosco, agora e sempre. Amém. Tenham uma boa semana, praticando no
dia a dia as maravilhas que o grande mestre, Santo Inácio, nos ensinou.

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