Ordenar a Vida
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Ordenar a Vida
As adições são como conselhos práticos para a liturgia interior da oração pessoal. Assim
como a liturgia externa possui gestos e símbolos — como a procissão de entrada, o uso
de cruzes, incenso e hinos —, a liturgia interior é vivida na alma, no coração, em
oração. Como disse um padre certa vez, as adições são conselhos para tornar a oração
pessoal mais frutuosa.
Santo Inácio destaca que esses conselhos devem ser seguidos sempre com o desejo do
bem, com o desejo do "mais" — aquilo que mais glorifica e serve a Deus. São
orientações práticas tanto para quem faz os exercícios quanto para quem os ministra,
ajudando na oração e na busca do que se deseja.
As Dez Adições
Essa preparação consiste em, na noite anterior, ler o texto que será meditado no dia
seguinte. Por exemplo, se o Evangelho do dia será o foco da meditação, lê-lo e refletir
brevemente sobre ele antes de dormir. Além disso, já deitado, dedicar um minuto ou
alguns segundos para pensar na matéria da oração.
Embora isso possa parecer um detalhe pequeno, Inácio sabia que nosso inconsciente e
subconsciente continuam trabalhando enquanto dormimos. É como quando uma criança
assiste a um filme de guerra antes de dormir e, durante a noite, tem sonhos agitados
sobre as cenas que viu. Esse mesmo princípio pode ser usado positivamente: quando
lemos algo significativo antes de repousar — como um texto espiritual ou uma lição de
uma língua estrangeira —, nosso inconsciente ajuda a consolidar esses conteúdos
enquanto dormimos.
Conclusão
Já aconteceu com você, ao adormecer pensando em algo que viu na televisão, acordar
no meio da madrugada ou pela manhã e ser essa mesma imagem o primeiro pensamento
que vem à mente? Por exemplo, se você adormece pensando em uma cena vista no
museu, ao acordar, essa será a primeira lembrança. Isso também pode ocorrer em
relação à oração: se ao dormir pensamos no sacrário, ao despertar, ele será o
pensamento predominante.
Por isso, Santo Inácio sugere uma preparação remota para a oração, que é essencial.
Se alguém adormece preocupado com problemas econômicos, familiares ou algo que o
angustie, ao acordar, esses pensamentos logo voltam. Para evitar isso e direcionar a
mente para Deus, é importante preparar a oração na noite anterior.
Essa preparação pode incluir a leitura do texto que será meditado no dia seguinte,
mesmo que de forma breve, e a tomada de notas. Anotar palavras ou atitudes marcantes
do texto bíblico, por exemplo, pode ser feito em um caderno espiritual. Isso ajuda a
focar e organizar os pensamentos para o dia seguinte.
Hoje, muitas pessoas utilizam recursos tecnológicos para ajudar nesse processo. Ouvir
áudios, leituras espirituais ou músicas suaves antes de dormir pode embalar a mente e
preparar o espírito para a oração. Esses materiais podem ser revisitados durante o dia,
no caminho para o trabalho ou no metrô, ajudando a consolidar o conteúdo no coração.
Quando iniciei minha vida religiosa, lembro-me de que dedicávamos um quarto de hora
todas as noites para preparar as intenções do dia seguinte. Esse momento de reflexão
incluía a leitura do texto, anotações e oração, que ajudavam a manter o foco na
espiritualidade.
A segunda adição sugerida por Santo Inácio é o ato de entrar na presença de Deus
antes de começar a oração. Aproveite momentos do dia, como uma viagem de carro ou
de metrô, para fazer isso. É um ato de fé: reconhecer que Deus está presente, mesmo
sem vê-lo, e dialogar com Ele – seja com o Pai, com Jesus, com o Espírito Santo ou
com Nossa Senhora.
Esse ato nos ajuda a tomar consciência de que Deus está conosco e a buscar a luz e a
graça para que a oração seja frutuosa. Ao iniciar a oração, é bom pedir ao Espírito Santo
que nos ajude a silenciar o interior, a concentrar e a nos abrir à escuta de Deus.
Leia novamente o texto bíblico com calma e atenção. Entrar em oração é como entrar
em uma casa: é preciso cuidado, preparação, limpar os pés no capacho e, só então,
cruzar a porta. Esse gesto simbólico representa o silêncio interior e o recolhimento
necessários para que a oração não seja superficial.
Entrar na presença de Deus com reverência e cuidado transforma a oração em um
momento de profundo encontro, onde podemos nos recolher e nos abrir à graça divina.
Por exemplo, ao rezar o terço, não comece imediatamente com o primeiro mistério.
Antes, faça um momento de silêncio, converse com Deus, disponha o coração e somente
depois inicie o terço. O ambiente espiritual precisa ser criado com cuidado e atenção.
Estrutura da Oração
1. Entrada: Antes de começar, reserve um tempo para se preparar. Leia o texto da oração ou o
Evangelho com calma, meditando sobre as palavras e buscando entrar na presença de Deus
como quem adentra uma casa, com respeito e atenção.
2. Durante a oração: Esteja atento ao tempo e ao estado interior. Perceba os momentos em que
se sente mais consolado ou desolado. Reflita sobre o que o tocou mais profundamente: um
versículo, um pensamento ou a posição do corpo.
3. Avaliação: Ao finalizar, faça uma retrospectiva. Pergunte-se: Como comecei? Consegui
alcançar o silêncio interior? Em que momento senti a presença de Deus mais intensamente?
Essa avaliação ajuda a identificar pontos a melhorar na oração seguinte e a crescer
espiritualmente.
Conclusão
Este processo pode parecer desafiador no início, mas, com prática e perseverança, torna-
se um hábito proveitoso e enriquecedor para a vida espiritual.
A ambição na vida espiritual não está apenas na ação de Deus em nós, mas também na
nossa colaboração com essa ação. Isso se reflete em pequenos detalhes que Santo Inácio
coloca em suas orientações para nos ajudar a progredir na oração e no recolhimento.
Santo Inácio propõe três edições específicas que tratam de detalhes aparentemente
simples, mas que fazem grande diferença na oração e no estado interior.
Conclusão
Essas orientações nos mostram que a oração não depende apenas da disposição
espiritual, mas também de fatores externos e físicos. Adequar o ambiente, ajustar o
estado interior e cuidar do corpo são ações que colaboram com a graça de Deus,
permitindo-nos rezar com maior profundidade e eficácia. Esses pequenos detalhes,
aparentemente simples, são fundamentais para o progresso na vida espiritual e no
relacionamento com Deus.
Claro que o estado de oração pode ser encontrado em qualquer lugar, mesmo em um
ambiente de barulho. A presença de Deus está conosco onde quer que estejamos, seja
numa máquina que está a funcionar, no metro durante uma viagem, ou até mesmo em
meio ao caos cotidiano. No entanto, é verdade que, no silêncio, podemos descobrir e
aprofundar nossa experiência de Deus de maneira mais clara. O silêncio da natureza, em
nosso quarto, diante de uma bela paisagem ou ao apreciar a maravilha do oceano, tudo
isso pode nos ajudar a alcançar o recolhimento necessário para o coração.
Esses pequenos detalhes e conselhos dados por Santo Inácio são preciosos para nos
ajudar a manter o foco na oração pessoal. Ele nos ensina que o silêncio não é algo
exclusivo dos lugares tranquilos; Deus também está presente no barulho. No entanto,
certos ambientes podem facilitar mais a nossa concentração, como um espaço mais
silencioso, onde podemos nos conectar com Deus de forma mais profunda.
O objetivo não é ter uma preocupação doentia ou obsessiva, mas um desejo sincero de
buscar Deus. O mais importante é que, através da oração e do silêncio interior, podemos
discernir a vontade de Deus para nossas vidas. Seja na penitência, na oração ou na vida
familiar, devemos buscar os meios que Deus quer para nós e permitir que sua graça nos
guie.
Que a bênção de Deus Todo-Poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo, desça sobre vós e
permaneça convosco, agora e sempre. Amém. Tenham uma boa semana, praticando no
dia a dia as maravilhas que o grande mestre, Santo Inácio, nos ensinou.