Diplomacia Mediação e Arbitragem

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AULA 5

DIPLOMACIA, MEDIAÇÃO
E ARBITRAGEM

Profª Vivian Daniele Rocha Gabriel


INTRODUÇÃO

A presente aula tem o objetivo de estudar o instituto da arbitragem


internacional, suas características e sua aplicação. Ademais, será realizada
também a diferenciação entre arbitragem internacional, arbitragem comercial e
arbitragem de investimentos; as últimas consistem em duas outras modalidades
que também utilizam o mecanismo arbitral e que se tornaram frequentes na seara
internacional nas últimas décadas. Por fim, será endereçada brevemente a crise
no órgão de apelação da OMC e como a União Europeia já está solucionando,
por iniciativa própria, esse entrave.

TEMA 1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS

Em termos gerais, a arbitragem consiste em um meio pacífico de solução


de controvérsias entre Estados. Esta pode ser realizada por árbitros livremente
escolhidos pelas partes, por meio de um compromisso arbitral, que estabelece as
normas e procedimentos a serem seguidos e onde as partes contratantes aceitam,
de antemão, a decisão a ser adotada. A decisão expressão e proferida pelos
árbitros poderá ser denominada “laudo” arbitral ou “sentença” arbitral. Embora a
prática brasileira privilegie a segunda nomenclatura, de acordo com a Lei
Brasileira de Arbitragem (Lei n. 9.307/1996), a prática internacional prefere laudo
(Fontoura, 2009, p. 111).
No âmbito do Direito Internacional Público, a arbitragem internacional
encontra-se positivada por meio das Convenções de Haia, de 1899 e de 1907,
relativas às soluções pacíficas de conflitos. Nestas, estabeleceu-se que a
condição para sua aplicação seria versar sobre uma questão jurídica ou cuja
solução poderia ser baseada no direito. Assim, a arbitragem pode ser aplicada a
qualquer controvérsia internacional, de qualquer natureza ou causa (Accioly;
Nascimento e Silva; Casella, 2010, p. 837).
Segundo Accioly, Nascimento e Silva e Casella (2010, p. 837), as principais
características da arbitragem são:

• O acordo de vontades das partes (autonomia da vontade das partes) para


a fixação do objeto do litígio e o pedido de sua solução a um ou mais
árbitros;
• A livre escolha dos árbitros pelas partes;
• A obrigatoriedade ou o caráter mandatório da decisão ou laudo arbitral.
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O acordo de vontades para que se encaminhe a questão para a via arbitral
é realizada pelo compromisso. Este definirá a matéria da controvérsia, o
procedimento, os árbitros e seus poderes, e contém também a promessa formal
de aceitação, respeito e execução da futura sentença arbitral.
A arbitragem, apesar de envolver a intervenção de terceiro na resolução do
conflito, difere-se da mediação, ao passo que a primeira consiste em decisão
indicada às partes, que poderão segui-la ou não e, na arbitragem, a decisão
deverá ser vinculante e definitiva. Assim sendo, grosso modo, o árbitro seria um
juiz, enquanto o mediador um conselheiro (Accioly; Nascimento E Silva; Casella,
2010, p.837).
Além disso, a arbitragem se diferencia também da solução judicial, visto
que não detém árbitros permanentes. Os árbitros são escolhidos caso a caso
pelas partes (em clara aplicação do princípio da autonomia da vontade das partes)
e, em caso de arbitragem institucional (conduzida por instituição arbitral), há uma
lista de árbitros predefinida. Como já mencionado, as decisões arbitrais são
vinculantes, porém, não existe um corpo jurisprudencial definido e vinculante,
podendo as decisões servirem de direcionamento às próximas decisões acerca
da matéria, mas sem que haja o caráter obrigatório ou vinculante para que as
decisões futuras sigam a anteriormente prolatada.
A grande crítica em relação a isso é que a arbitragem pode trazer
instabilidade e falta de previsibilidade ao sistema, por não se saber quais
argumentações esperar das próximas decisões. Além disso, a subjetividade e o
posicionamento de cada árbitro, bastante visível quando se versa sobre questões
envolvendo investimentos, por exemplo, pode neutralizar a imparcialidade do
mecanismo arbitral (valorizado pela comunidade arbitral uma vez que, como não
há corpo fixo de juízes como nos tribunais internacionais, não há entendimentos
consoantes sobre determinada questão). Assim sendo, a grande crítica que se
instala é a de que a arbitragem fomentaria uma série de decisões fragmentadas
acerca de determinada matéria e que poderão ser, até mesmo conflitantes entre
si.
A arbitragem pode ser classificada como:

• Ad hoc, isto é, quando seus elementos são estabelecidos pelas partes da


controvérsia, caso a caso, por meio do compromisso;
• Institucional, quando tratado ou organização internacional institui regras,
procedimentos ou estrutura física para a realização da arbitragem.

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Ressalta-se que a institucionalização dos procedimentos arbitrais,
conforme mencionado, “pode fazer com que a arbitragem se pareça mais com a
solução judicial” (Fontoura, 2009, p.112). Isso, pois, haverá: (a) uma lista
obrigatória de árbitros, disponível pela instituição, em que as partes deverão
escolher os árbitros baseadas nessa relação; (b) determinação da sede física da
arbitragem, previamente estipulada para a realização dos atos processuais e das
próprias audiências; (c) um procedimento previamente estabelecido por meio das
regras institucionais, as quais deverão ser seguidas pelos árbitros (essas regras
variam conforme a instituição, apesar da variação não ser tão grande em termos
substanciais); e (d) proibição ou limitação da arbitragem na escolha do Direito
aplicável, obrigando os árbitros a aplicarem o direito derivado das fontes
internacionais previamente estipuladas, como por exemplo, o tratado que
estabelece o sistema arbitral e o costume internacional (por exemplo, um tratado
sobre fronteiras entre dois países ou um acordo de promoção ou proteção de
investimentos).
Ressalta-se que, na arbitragem raramente são reconhecidos
procedimentos e estruturas de revisão, em que a análise do mérito da questão é
reanalisada por órgão superior e, “quando muito, pode existir um sistema de
anulação, o qual implica a invalidação da decisão resultante de um vício grave,
como quando os árbitros decidem questões que estão fora do consentimento dado
pelas partes” (Fontoura, 2009, p. 113).
No entanto, pode ser que esses elementos de institucionalização apareçam
isolados, como, por exemplo, no caso de haver lista de árbitros, mas se permitir a
escolha do Direito aplicável; ou de maneira incompleta, como quando há um
quadro predefinido de árbitros, mas se reserva às partes o direito de indicarem
árbitros que não constam nessa lista.
Ademais, salienta-se que a arbitragem pode se dar de forma facultativa ou
obrigatória. Isto é, facultativa ou voluntária seria quando é permitida a livre
instituição de um juízo arbitral, por acordo ocasional das partes litigantes. Já a
arbitragem obrigatória ocorre quando, em razão de ajuste prévio entre as partes,
acorda-se que em havendo uma disputa esta será encaminhada a uma solução
arbitral.
A arbitragem para o Direito Internacional Público (aqui se fazendo uma
distinção em relação à arbitragem privada, mesmo em sua acepção internacional,
em que a regra vinculante entre as partes é realizada por meio de contrato e

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cláusula compromissória) pode ser prevista em tratados ou convenções
internacionais, fontes primárias de direito internacional, de duas naturezas: (i)
tratados de arbitragem propriamente dita; (ii) tratados de arbitragem permanente
ou obrigatória, voltados para as controvérsias que poderão surgir futuramente.
Quanto aos últimos, exige-se o complemento de um compromisso arbitral.
Salienta-se que há ainda tratados em que as partes contratantes se
comprometem, por meio de cláusula especial, denominada cláusula
compromissória, a submeter a disputa à arbitragem.
As decisões arbitrais podem ser por equidade (ex aequo et bono), isto é,
“aquela em que as partes indicam aos árbitros que decidam a questão
apresentada sem aplicar, necessariamente, nenhuma norma jurídica” (Fontoura,
2009, p. 114), prevalecendo o bom senso e o sentido de justiça (em oposição à
arbitragem de Direito). Salienta-se que a decisão judicial não poderá ser por
equidade, até mesmo porque é dever dos juízes aplicarem um conjunto positivado
de normas, do qual recebem sua jurisdição e competência. A outra hipótese seria
a de que as decisões podem ser baseadas no direito ou na regra, sendo rule
oriented.
O Brasil já figurou como árbitro em disputas internacionais por várias vezes,
como, por exemplo, na questão do Alabama, entre EUA e Inglaterra, em razão da
Guerra da Secessão Americana ou nas reclamações da França, Itália, Grã-
Bretanha, Alemanha etc. contra o Chile por danos sofridos por nacionais dos
países reclamantes, como consequência de operações de guerra na Bolívia e no
Peru.
No entanto, o Brasil também já recorreu à arbitragem internacional algumas
vezes. Esse é o caso, por exemplo, das controvérsias entre Brasil e Grã-Bretanha,
em razão da prisão no Rio de Janeiro de oficiais da fragata inglesa Forte; da
reclamação da Suécia e da Noruega por abalroamento da barca norueguesa
Queen pelo monitor brasileiro Pará no porto de Assunção; questão entre Brasil e
Argentina acerca do limite de Palmas; questão entre Brasil e França sobre limites
do território do Amapá, na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa; questão de
limites entre Brasil e Grã-Bretanha referente à Guiana; reclamações brasileiras e
bolivianas sobre a questão do Acre e reclamações brasileiras e peruanas em
razão de fatos ocorridos no Alto Juruá e Alto Purus (Accioly; Nascimento e Silva;
Casella, 2010, p. 839).

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Assim sendo, a preferência por um meio mais flexível e com todas as
características já descritas demonstra que, ao escolhê-la em detrimento de um
meio jurisdicional institucionalizado das cortes ou tribunais internacionais, as
partes a têm como mais aprazível aos seus interesses, mesmo que esta não seja
proferida por órgãos pré-constituídos, permanentes e que procedem segundo
mecanismos pré-determinados como os da justiça compulsória especializada
(Dinh; Daillier; Pellet, 2003, p. 880).
Por fim, quanto à escolha do árbitro, em princípio, a escolha é livre e, em
geral, sua designação é realizada no compromisso. Entretanto, não há
impedimento para que “as partes prefiram confiar a designação individual dos
árbitros a uma ou mais pessoas por elas próprias escolhidas para esse fim (um
ou mais chefes de estado, o presidente de um tribunal, uma associação científica,
etc.)” (Accioly; Nascimento e Silva; Casella, 2010, p. 839). O tribunal arbitral
poderá ser composto por um ou vários árbitros, os quais devem ser imparciais e
independentes.

TEMA 2 – ARBITRAGEM NA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS INTERNACIONAIS


ENTRE ESTADOS

Dentre exemplos significativos sobre a utilização da arbitragem como


mecanismo jurisdicional para a solução de controvérsias, salientam-se dois casos
resolvidos sob a jurisdição da Corte Permanente de Arbitragem (CPA). Seria,
portanto, uma arbitragem institucional e com lista de árbitros predefinida.
Inicialmente, os conflitos solucionados pela CPA envolviam somente
Estados. Era comum que a matéria envolvesse, por exemplo, disputas por
territórios, pagamento de indenização ou questões marítimas. Um desses casos
foi o The Island of Palmas Case, de 1928, entre EUA e Holanda acerca de disputa
territorial. De acordo com o Tratado de Paris 1898 entre EUA e Espanha, as
Filipinas passariam ao domínio dos EUA e Palmas está localizada na fronteira
dessa cessão. Em 1906, o governo holandês também requereu o domínio sobre
a ilha. Os EUA chegaram a informar o governo holandês, por vias diplomáticas,
que a soberania da ilha seria americana, entretanto, tiveram como resposta que a
referida ilha estava sob o domínio holandês há 200 anos. A questão foi
encaminhada à arbitragem e o tribunal arbitral, administrado ela CPA, entendeu
que a ilha de Palmas pertencia à Holanda, resolvendo a controvérsia territorial.

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No entanto, a partir de determinado momento, a CPA passou a admitir
também arbitragem entre partes privadas e Estados, mais especificamente,
quanto a investidores e Estados soberanos. Nesse sentido, também a partir do
momento em que particulares começaram a ter acesso à CPA, observa-se que
passa a ser comum a discussão relacionada a outras matérias.
Nesse sentido, cita-se o caso Eurotunnel, de 2003, em que concessionárias
privadas, que cuidam do túnel submerso que liga o Reino Unido ao continente
europeu, Túnel da Mancha, alegavam o descumprimento pelos governos de Reino
Unido e França, dos contratos de concessão assinados. Segundo as
concessionárias, esses governos não atenderam às medidas acordadas para
viabilizar a adequada e rentável administração do túnel para os investidores
privados, causando prejuízos às concessionárias entre 1999 e 2002, e decidiram
levar o litígio à arbitragem.
Ocorre que o Tratado de Canterbury de 1986 envolvia a construção de um
túnel entre a França e o Reino Unido. No entanto, após a França abrir um albergue
para refugiados perto do terminal em que se localiza esse túnel, na região de
Calais, alguns desses refugiados tentaram chegar ao Reino Unido por essa via.
As concessionárias alegam que sofreram perdas e danos devido a essas
incursões, e alegaram que os governos da França e do Reino Unido tinham o
dever de impedir tal movimentação. O governo do Reino Unido, por sua vez, agiu
impondo sanções aos demandantes em relação aos migrantes clandestinos que
obtiveram essa entrada. Os demandantes apresentaram uma ação separada
relacionada à alegada discriminação em favor da companhia de transporte
marítimo SeaFrance por meio do pagamento de subsídios estatais a esta.
Em sua decisão parcial, de 30 de janeiro de 2007, o tribunal decidiu em
favor da alegação da empresa de que os governos do Reino Unido e da França
não cumpriram suas responsabilidades sob o Tratado de Canterbury de 1986, que
rege o funcionamento do Túnel da Mancha. Porém, rejeitou a alegação de
discriminação em relação à SeaFrance. O Tribunal adiou a questão do quantum
para uma fase posterior.

TEMA 3 – ARBITRAGEM COMERCIAL

É possível distinguir o mecanismo arbitral aplicado à resolução de conflitos


internacionais em três espécies: (a) aquela realizada para solucionar conflitos
entre Estados soberanos ou Estados e organizações internacionais ou entre

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organizações internacionais; (b) aquela para dirimir controvérsia entre um Estado
e um ente particular, cuja matéria pode girar, por exemplo, em torno da área do
Direito Internacional dos Investimentos, e aquela realizada (c) entre entes
privados. Essa diferenciação é necessária para que não se incorra em erro
quando da utilização de conceitos, ou mesmo na aplicação de elementos que são
específicos de um tipo de arbitragem a outro.
A arbitragem exclusiva entre particulares remonta ao campo do Direito
Internacional Privado, visto que engloba relações privadas. Sua utilização se
concentra, principalmente, em contratos internacionais, em que muitos desses
contratos passaram a englobar cláusulas de resolução de conflitos arbitrais, como
é o caso dos contratos de construção e infraestrutura, contratos societários,
contratos envolvendo energia, petróleo e gás e, até mesmo, contratos envolvendo
empresas públicas. Ademais, a arbitrabilidade subjetiva, que envolve quem
poderá acionar a arbitragem comercial, prevê que qualquer pessoa física ou
jurídica poderá acioná-la. Além disso, conforme os preceitos básicos da
arbitrabilidade objetiva, esta somente poderá alcançar demandas envolvendo
conflitos patrimoniais disponíveis, ou seja, casos com valor econômico e que
envolvam bens disponíveis pelas partes.
Ocorre que, como pontuam Gabbay, Faleck e Tartuce (2013, p. 80)
“embora no momento da celebração do contrato as partes estejam fechando
negócios e em sintonia, litígios podem surgir depois e as partes precisam eleger
uma forma de resolvê-los”. Essa cláusula poderá, inclusive, conter a opção “med-
arb”, englobando a resolução inicial pela mediação e, se esta falhar, pela
arbitragem. Caso as partes não tenham incluído cláusula compromissória,
poderão, conforme já exposto, encaminhar o litígio à arbitragem por meio de
compromisso arbitral.
Tanto na cláusula compromissória quanto no compromisso arbitral também
serão dispostas as características acima pontuadas, como se a arbitragem será
institucional (centro ou câmara de arbitragem) ou ad hoc, qual será a forma de
indicação dos árbitros, a escolha da lei aplicável ao mérito e ao procedimento e a
sede e o idioma da arbitragem. Segundo Gabbay, Faleck e Tartuce (2013, p. 81)
é importante evitar cláusulas compromissórias vazias, sem especificação da
forma de indicação dos árbitros, visto que sem a indicação dos mesmos e havendo
resistência de uma das partes ao estabelecimento da arbitragem, será necessário
recorrer ao Judiciário para o início da arbitragem.

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Exemplos de cláusula-modelo:
Câmara de Comércio Internacional (CCI): “Todos os litígios emergentes do
presente contrato ou com ele relacionados serão definitivamente resolvidos de
acordo com o Regulamento de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional,
por um ou mais árbitros nomeados nos termos desse Regulamento”.
Centro de Mediação e Arbitragem da Câmara de Comércio Brasil-Canadá
(CAM-CCBC): “Qualquer litígio originário do presente contrato, inclusive quanto à
sua interpretação ou execução, será definitivamente resolvido por arbitragem,
administrada pelo Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio
Brasil-Canadá (CAM-CCBC), de acordo com o seu Regulamento, constituindo-se
o tribunal arbitral de [um/três] árbitros, indicados na forma do citado
Regulamento”.
O Brasil tem se destacado no âmbito internacional, sendo as partes de
nacionalidade brasileira umas da que mais se utilizam desse método de solução
de conflitos em instituições internacionalmente reconhecidas, como é o caso da
CCI. De acordo com a própria houve um aumento significativo nos últimos anos
de casos envolvendo partes brasileiras, sendo o Brasil um dos países com maior
número de casos na CCI, o que significa que a arbitragem comercial já está
incorporada à prática empresarial brasileira, mesmo envolvendo altos custos.

TEMA 4 – ARBITRAGEM DE INVESTIMENTOS

Contemporaneamente, pode-se afirmar que o Direito Internacional Público


já não cuida apenas da arbitragem entre Estados e entre Estados e organizações
internacionais, mas também da arbitragem entre Estado e particular. Esta,
normalmente, tem sido respaldada juridicamente por tratados bilaterais de
investimento (bilateral investment treaties – BITs), os quais preveem cláusula de
resolução de conflitos remetendo eventuais disputas à arbitragem. A jurisdição
mais frequente prevista nesses acordos é a do Centro Internacional para
Resolução de Disputas sobre Investimentos (International Centre for Settlement
of Investment Disputes – ICSID), porém, também se identifica a resolução desses
casos pela CPA ou por câmaras privadas, como a CCI ou a Câmara de Comércio
de Estocolmo.
Nesses casos, figuram como uma das partes os investidores particulares,
físicos ou jurídicos, transfigurados principalmente nas empresas transnacionais, e

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um Estado, que, em teoria, no exercício de sua soberania viola as regras
estabelecidas nos BITs, prejudicando o investidor.
Segundo José Augusto Fontoura Costa (2014, p. 247-270):

[…] a criação de um sistema próprio de arbitragem de investimentos


enfrentou importantes dificuldades em seu início. Em particular, a
absorção das arbitragens de investimento pela sistemática da
arbitragem comercial privada era temida por vários países, que viam em
sua utilização a continuidade do poder colonial e, decerto, de uma visão
capitalista e centrada nas tradições ocidentais.

Criado pela Convenção de Washington de 1965, o ICSID trata-se de um


departamento do Banco Mundial, que pode ser acessado diretamente pelos
investidores interessados, sendo que o Estado de origem renuncia ao exercício
de sua jurisdição nacional. O Banco Mundial teve importante papel para a criação
do Centro, pois, desde os anos 1950, a instituição vinha atuando de forma
multilateral, técnica e independente na conciliação e na resolução de disputas, em
especial, as questões da Companhia de Petróleo Anglo-Iraniana (1951) e do
Canal de Suez (1956). O objetivo principal do ICSID é criar um clima de confiança
mútua entre os Estados e os investidores, incentivando o fluxo de investimentos
privados estrangeiros. Nesse sentido, o Centro coloca suas instalações à
disposição das partes, se envolvendo na parte administrativa e no apoio aos
procedimentos de conciliação.
O artigo 25 da Convenção de Washington estabelece a competência
jurisdicional do ICSID, determinando três critérios para a sua aplicação: ratione
personae, ratione materiae e ratione voluntatis. No que tange ao critério sobre a
pessoa, tal artigo especifica que serão partes legítimas para acionar o ICSID: (i)
os Estados Contratantes e (ii) os nacionais de um Estado Contratante diverso
daquele que integra o outro polo da ação. A Convenção prevê que nacional de um
Estado contratante seria qualquer pessoa física ou jurídica, desde que investidora
e natural de um país distinto daquele que compõe o outro polo da ação.
No caso de a empresa apresentar mais de uma nacionalidade é necessário
que pelo menos uma delas seja de um Estado contratante, desde que diferente
do país constante no outro polo. Caso contrário, sendo a empresa do mesmo
Estado receptor, ela deve apresentar controle estrangeiro para que possa ter
acesso ao Centro, com base no art. 25, inciso 2, alínea “b”, da Convenção
supracitada.

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Quanto à matéria, apresentam-se duas condições fundamentais. Em
primeiro lugar, a controvérsia deve ser jurídica. E, em segundo lugar, o conflito
deve ter surgido diretamente de um investimento.
A limitação às controvérsias jurídicas é importante na medida em que exclui
do âmbito de incidência do Centro os simples conflitos de interesses, bem como
os de mero conteúdo político ou econômico-comercial. Assim, a controvérsia
reside na inobservância de direitos e obrigações, ou em medidas de reparação de
uma violação ocorrida.
Quanto à definição do termo “investimento”, esta inexiste no texto da
Convenção, o que permite maior flexibilidade e adequação à evolução de novas
formas de associação entre Estados e investidores estrangeiros. Normalmente,
as partes definem no escopo do BIT o conceito de investimentos e o que ele
engloba, além de sua aplicação antes ou somente depois da entrada em vigor do
acordo.
Assim sendo, a arbitragem internacional de Direito Internacional Público
abre espaço para o acesso não apenas de Estados, mas também de particulares
privados, para que possam reclamar violações a seus direitos. Ressalta-se que
esses ainda não são reconhecidos como sujeitos de direito internacional, já que
não podem exercer todas as prerrogativas de um sujeito, porém, às empresas
transnacionais já se reconhece o acesso à justiça internacional por meio da
arbitragem de investimentos. Apesar de pesadas críticas a esse sistema, em
função da condenação de vários países condenados no ICSID, em especial a
Argentina, ele ainda permanece em vigor. No entanto, países como Bolívia,
Venezuela e Equador denunciaram a convenção ICSID recentemente, afastando-
se do sistema.
O Brasil, por sua vez, refuta a arbitragem de investimentos, possuindo em
seus acordos de cooperação e facilitação de investimentos (ACFIs) apenas a
modalidade de arbitragem entre Estados.

TEMA 5 – ARBITRAGEM COMO SOLUÇÃO PARA A CRISE NO ÓRGÃO DE


APELAÇÃO DA OMC

Com a elevação do tom do discurso norte-americano, inclusive, sinalizando


a continuação do veto na nomeação de futuros membros do Órgão de Apelação
e a sua saída da Organização em um futuro próximo, alternativas estão sendo

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aventadas para manter-se o nível recursal e uma segunda instância na
Organização Mundial do Comércio (OMC).
A União Europeia tem optado pela solução bilateral. Já firmou acordo com
Canadá e Noruega para a implementação de arbitragem com laudos vinculantes,
para que esta possa ser acionada para analisar contenciosos comerciais
envolvendo violações aos acordos da OMC em nível de apelação. Ressalta-se
que as controvérsias na OMC são restritas a disputas entre Estados.
Essa possibilidade é legítima e está prevista no art. 25 do Entendimento de
Solução de Controvérsias (ESC) da OMC.
Segundo o texto do artigo (MDIC, 1994):

Artigo 25
Arbitragem
1. Um procedimento rápido de arbitragem na OMC como meio
alternativo de solução de controvérsias pode facilitar a resolução de
algumas controvérsias que tenham por objeto questões claramente
definidas por ambas as partes.
2. Salvo disposição em contrário deste Entendimento, o recurso à
arbitragem estará sujeito a acordo mútuo entre as partes, que
acordarão quanto ao procedimento a ser seguido. Os acordos de recurso
a arbitragem deverão ser notificados a todos os Membros com suficiente
antecedência ao efetivo início do processo de arbitragem.
3. Outros Membros poderão ser parte no procedimento de arbitragem
somente com o consentimento das partes que tenham convencionado
recorrer à arbitragem. As partes acordarão submeter-se ao laudo arbitral.
Os laudos arbitrais serão comunicados ao OSC e ao Conselho ou
Comitê dos acordos pertinentes, onde qualquer Membro poderá
questionar qualquer assunto a eles relacionados.

Nesse sentido, é possível para o país que queira apelar, caso o Órgão de
Apelação, de fato, seja paralisado e pare de funcionar por não possuir mais
membros (lembrando que, a partir do dia 11/12/2019, só restará um membro no
Órgão, com o fim do mandato dos outros dois últimos), solicitá-la por meio da
arbitragem. Para o caso estabelecido via acordos bilaterais pela UE, o caminho
escolhido é o de que a lista de árbitros será composta por ex-integrantes do Órgão
de Apelação, sendo escolhidos três árbitros, já com experiência na condução dos
casos.
Essa pode ser uma alternativa plausível para o entrave concernente à
nomeação dos membros do órgão de apelação e que deve ser avaliada pelos
demais membros.

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REFERÊNCIAS

ACCIOLY, H.; NASCIMENTO E SILVA, G. E.; CASELLA, P. B. Manual de Direito


Internacional Público. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

BRASIL. Lei n. 9.307, de 23 de setembro de 1996. Lei Brasileira de Arbitragem.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9307.htm>. Acesso em:
31 jan. 2020.

COSTA, J. A. F. Brasil e arbitragem internacional de investimentos: realidade e


possibilidades. In: RIBEIRO, M. R. de S. (Org.). Direito Internacional dos
Investimentos. Rio de Janeiro: Renovar, 2014. v. 1, p. 247-270.

DINH, N. Q.; DAILLIER, P.; PELLET, A. Direito Internacional Público. Lisboa:


Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.

GABRIEL, V. D. R. A proteção jurídica dos investimentos brasileiros no


exterior. São Paulo: Lex Editora; Aduaneiras, 2017.

GABBAY, D.; FALECK, D.; TARTUCE, F. Meios alternativos de solução de


conflitos. Rio de Janeiro: FGV, 2013.

FONTOURA, J. A. Direito Internacional Público. São Paulo: Saraiva, 2009.

MDIC – Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Entendimento


relativo às normas e procedimentos sobre solução de controvérsias. MDIC, 1994.
Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/arquivos/dwnl_1196686225.doc>.
Acesso em: 31 jan. 2020.

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