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2022 – AULA 2 - MEIOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITO

DA LIDE E SUAS REGRAS

São os conceitos utilizados durante todo o estudo do processo civil e que servem de base
para as medias alternativas de solução de litigio:

LIDE:

É o conflito de interesses, qualificado pela existência de uma pretensão resistida. Se uma


pessoa pretende o bem da vida (material ou imaterial) e encontra resistência relevante em
outra pessoa, sobre o Poder Judiciário, a princípio, pode, pela atuação do processo,
solucionar a questão. Entretanto, nem toda lide é o interesse do Judiciário, mas somente
aquelas em que não foi possível a solução amistosa.

Na convivência social não raramente nos deparamos com o surgimento de conflitos entre
os cidadãos, os quais quase sempre são resolvidos pelo consenso das partes.

Só quando inviável se mostra a solução amistosa e havendo risco de dano efetivo a uma
das partes em litígio é que surge a necessidade da intervenção da jurisdição estatal, Daí
o uso da expressão “qualificado pela pretensão resistida”, no conceito referido.

Modernamente, diante da dificuldade real de o Poder Judiciário resolver todas as


demandas a ele apresentadas, dentro de um prazo razoável, há nítido estímulo legislativo
e doutrinário para a busca de formas alternativas de composição de litígios, como a
conciliação, a mediação e a arbitragem.

OS ELEMENTOS INTEGRANTES DESSE INSTRUMENTO DE EXERCÍCIO DO PODER


ESTATAL SÃO:

A (jurisdição)

O procedimento (materialização do processo) e

A relação jurídica processual contraditória (desenvolvida entre o juiz e as partes).

EDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM NO CONTEXTO LIDE:

Da mediação e conciliação:

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Na mediação e na conciliação sempre haverá a lide previamente, a opção em resolver a


lide por mediação e conciliação pré-processual ou endoprocessual é que será novidade.

Já no que se refere a arbitragem, podemos dizer que pode se prever com lide ou antes da
lide se instalar.
A flexibilidade é a mola mestra do procedimento arbitral.

Da arbitragem:

As partes têm ampla liberdade para estabelecer regras de desenvolvimento da arbitragem


e convencionar o procedimento a ser seguido, inclusive o da própria instituição arbitral
escolhida.

O que é uma cláusula arbitral?


A cláusula arbitral está regulamentada no art. 4º da Lei de Arbitragem, e também é
conhecida por cláusula compromissória. Referida cláusula é um acordo entre as partes
que, em um contrato, decidem submeter-se à arbitragem caso venham a ocorrer algum
conflito naquele acordo.

O que é o termo de compromisso arbitral?


Por sua vez, o compromisso arbitral é tido por ser um acordo entre as partes, as quais
submetem à arbitragem um conflito já existente. Portanto, nesse caso, apenas após a
ocorrência do fato que gerou o litígio é que as partes decidem utilizar-se da arbitragem
como forma de resolução de conflito.

Na arbitragem devem ser respeitados os:

Os princípios do contraditório, da igualdade das partes, da imparcialidade do árbitro e de


seu livre convencimento.

Em razão da peculiaridade do sistema arbitral, não é correto invocar o Código de Processo


Civil “como se este fosse o repositório último das regras aplicáveis”. Como dito, o
procedimento arbitral deve ser guiado pelas regras da convenção de arbitragem, que

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podem ser estipuladas livremente pelas partes ou previstas no regulamento da instituição


arbitral escolhida.

Mesmo quando se tratar de regras de entidades arbitrais, as partes, eventualmente,


podem ter espaço para negociar alguma questão específica (por exemplo, aumento do
prazo para prolação da sentença arbitral).

Não se recomenda que as partes façam um pout-pourri1 de regras de diferentes entidades


arbitrais ou escolham determinada instituição, valendo-se, porém, de regras de outra, pois
isso pode gerar instabilidades e incompatibilidades. Por exemplo, o Regulamento de
Arbitragem da CCI - CORTE INTERNACIONAL DE ARBITRAGEM DA CÂMARA DE
COMÉRCIO INTERNACIONAL que prevê o exame prévio da sentença arbitral pela Corte
Internacional de Arbitragem, sendo que muitas instituições arbitrais não têm um órgão
análogo interno.

Em relação as arbitragens ad hoc2, pode ser tormentosa a definição do procedimento,


razão pela qual as partes, sobretudo em conflitos complexos, não costumam eleger esse
tipo de arbitragem.

Vale lembrar que, não havendo previsão específica na convenção arbitral ou no


regulamento da entidade arbitral, cabe ao árbitro decidir eventuais controvérsias sobre o
procedimento.

É importante ressaltar que em alguns casos a própria legislação veda a utilização


da arbitragem como forma de resolução de conflito, podemos citar como exemplos,
o artigo 51, VII do Código de Defesa do Consumidor (Cláudia fale sobre a

1
Pot-pourri é uma expressão francesa que, na nossa língua, diz respeito à mistura ou à combinação
de elementos que são diferentes entre si.

2 A arbitragem ad hoc é aquela conduzida de acordo com as regras definidas pelas


partes ou estabelecidas pelo tribunal arbitral. ... Isso possibilitará uma situação na qual
as partes e o tribunal poderão definir as regras aplicáveis, poupando dinheiro e tempo na
elaboração de regras especiais
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jurisprudência desse tema) e o artigo 852 do Código Civil, que dispõe


respectivamente:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas


contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem;

Art. 852. É vedado compromisso para solução de questões de


estado, de direito pessoal de família e de outras que não tenham
caráter estritamente patrimonial.

Obs.: o art. 1 º § 1o da Lei 9.307/97 co da redação da lei 13,.129/2015


leciona:

Art. 1º As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da


arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais
disponíveis.

§ 1o A administração pública direta e indireta poderá utilizar-se


da arbitragem para dirimir conflitos relativos a direitos
patrimoniais disponíveis. (Incluído pela Lei nº 13.129,
de 2015) (Vigência).

A última premissa que podemos retirar da simples leitura do artigo 1º da Lei de Arbitragem,
é que a adoção deste procedimento é facultativo, ou seja, depende de pactuação e
escolha das partes envolvidas na relação contratual.

MODELOS DE ARBITRAGEM

O procedimento arbitral pode seguir dois modelos, os quais serão abordados a seguir,
demonstrando-se as características da arbitragem ad hoc e institucional.

ARBITRAGEM “AD HOC”

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A arbitragem ad hoc é aquela conduzida de acordo com as regras definidas pelas partes
ou estabelecidas pelo tribunal arbitral.

As partes que compõem uma arbitragem ad hoc podem estabelecer suas próprias regras
quanto ao procedimento a ser seguido pelo tribunal arbitral, desde que permitam o
equilíbrio entre as partes, respeitando o princípio da equidade.

No entanto, observa-se que as partes poderão estabelecer que o procedimento arbitral


será conduzido de acordo com um conjunto de regras, por exemplo, pelas da UNCITRAL 3.
Isso possibilitará uma situação na qual as partes e o tribunal poderão definir as regras
aplicáveis, poupando dinheiro e tempo na elaboração de regras especiais.

Todavia, em se tratando de um caso de grande importância, principalmente quando


envolver um Estado ou alguma entidade estatal, pode ser válida uma negociação a fim de
estabelecer regras especiais, as quais abrangerão as circunstâncias concretas que
envolvem as partes e o caso controvertido.

Uma vantagem clara do modelo ad hoc é o fato de as partes terem o poder de moldar a
arbitragem de acordo com as suas vontades e desejos, de forma a atender melhor os fatos
que envolvem o litígio em particular. Ressalta-se, contudo, que é de fundamental
importância a cooperação entre as partes para que haja sucesso na elaboração das
regras].

Dessa forma, a maior flexibilidade proporcionada por uma arbitragem ad hoc é a


possibilidade de que diversas arbitragens envolvendo Estados sejam realizadas dentro
destes moldes.
A principal desvantagem envolvendo uma arbitragem ad hoc é a sua dependência à
cooperação entre as partes e seus advogados.

ARBITRAGEM INSTITUCIONAL

3
A Comissão das Nações Unidas para o Direito Comercial Internacional (UNCITRAL) é um órgão
subsidiário da Assembleia Geral.

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A arbitragem institucional é a arbitragem administrada por uma instituição arbitral


especializada.

Há diversas instituições especializadas, sendo que as mais conhecidas são:


International Chamber of Commerce (ICC); t
he International Center for Dispute Resolutuion (ICDR),
divisão internacional da American Arbitration Association (AAA); t
he International Center for Settlement of Investment Disputes (ICSID);
London Court of International Arbitration (LCIA); e
Corte Permanente de Arbitragem de Haia.
Há também Câmaras de Comércio com grande reputação, tais como as de
Estocolmo, Suíça e Viena.

As regras das instituições arbitrais supramencionadas tendem a seguir o mesmo padrão,


sendo formuladas para arbitragens que serão realizadas pela própria instituição.
Enfatiza-se que, normalmente, as regras são aceitas pelas partes quando são
incorporadas ao contrato principal por meio de uma cláusula compromissória.

A International Chamber of Commerce (ICC), em português, Câmara de Comércio


Internacional (CCI), por exemplo, estabelece como modelo para uma cláusula
compromissória.

Dentre as vantagens de uma arbitragem institucional está o fato de que as regras


estabelecidas pela instância arbitral provaram funcionar bem na prática. Isto porque essas
regras são submetidas a revisões periódicas, realizadas por especialistas em arbitragem
internacional, que estão em sintonia com o desenvolvimento da lei e da prática arbitral.

Normalmente, as regras adotadas pelas instâncias arbitrais estão definidas dentro de


pequenos livros, chamados ‘livretos’, que, na verdade, são os seus regulamentos.
Portanto, quando as partes concordam em se submeter a uma arbitragem para solucionar
um futuro litígio de acordo com as regras da instituição arbitral, literalmente incorporam-
nas à sua convenção de arbitragem.

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Essa incorporação automática do regulamento, como as regras a serem seguidas durante


o procedimento arbitral, é uma das principais vantagens da arbitragem institucional.

Outro benefício trazido pela arbitragem institucional é o fato de as instituições fornecerem


mão de obra especializada, ou seja, pessoal treinado. A função dessas pessoas
compreende o processo de escolha dos árbitros, os adiantamentos quanto às despesas
dos árbitros, a garantia de respeito aos prazos, bem como a possibilidade de que a
arbitragem ocorra da forma mais harmoniosa possível.

Mais uma vantagem é a revisão realizada pela instância arbitral sobre a sentença, antes
que seja enviada às partes. Ou seja, trata-se de um controle de qualidade realizado pela
instância arbitral.

A necessidade de seguir determinadas etapas do processo arbitral, assim como a juntada


de documentos desnecessários, acabam por conduzir a certo atraso na solução do
conflito. Por outro lado, os prazos impostos pelas regras institucionais são muitas vezes
excessivamente curtos.

Quanto à questão envolvendo o tempo, Martin Hunter pondera a respeito da participação


de um Estado ou de alguma entidade estatal no procedimento:

No Brasil, ressalta-se a existência do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio


Brasil–Canadá (CCBC).

O Corpo de Árbitros do Centro de Arbitragem da CCBC é composto por árbitros


renomados, dotados de capacidade técnica e de reputação ilibada.

O Centro de Arbitragem da CCBC pode processar arbitragens através de árbitros que


sejam, ou não, membros do seu Corpo de Árbitros. Ademais, observa-se que, na
existência de um Tribunal Arbitral, o presidente será membro do Corpo de Árbitros.

A sede do Centro de Arbitragem da CCBC está localizada em São Paulo.

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PROCESSO:

É o instrumento colocado à disposição dos cidadãos para solução de seus conflitos de


interesses e pelo qual o Estado exerce a jurisdição. Tal solução e exercício são
desenvolvidos com base em regras legais previamente fixadas e buscam mediante a
aplicação do direito material ao caso concreto, a entrega do bem da vida, a pacificação
social e a realização da Justiça.

Na arbitram: também haverá processo mesmo que paraestatal!

Na mediação e conciliação: só haverá processo se for situação endoprocessual.

POR OBVIO, QUE EM SE OPTANDO POR ARBITRAGEM TAMBÉM HAVERÁ


PROCESSO EM QUE O JUIZ DO CASO CONCRETO SERÁ O ARBITRO OU
ÁRBITROS

Art. 13. Pode ser árbitro qualquer pessoa capaz e que tenha a confiança das partes.

§ 1º As partes nomearão um ou mais árbitros, sempre em número ímpar, podendo


nomear, também, os respectivos suplentes.

§ 2º Quando as partes nomearem árbitros em número par, estes estão autorizados,


desde logo, a nomear mais um árbitro. Não havendo acordo, requererão as partes
ao órgão do Poder Judiciário a que tocaria, originariamente, o julgamento da causa
a nomeação do árbitro, aplicável, no que couber, o procedimento previsto no art. 7º
desta Lei.

§ 3º As partes poderão, de comum acordo, estabelecer o processo de escolha dos


árbitros, ou adotar as regras de um órgão arbitral institucional ou entidade
especializada.

§ 4o As partes, de comum acordo, poderão afastar a aplicação de dispositivo do


regulamento do órgão arbitral institucional ou entidade especializada que limite a
escolha do árbitro único, coárbitro ou presidente do tribunal à respectiva lista de
árbitros, autorizado o controle da escolha pelos órgãos competentes da instituição,
sendo que, nos casos de impasse e arbitragem multiparte, deverá ser observado o
que dispuser o regulamento aplicável. (Redação dada pela Lei nº
13.129, de 2015) (Vigência)

§ 5º O árbitro ou o presidente do tribunal designará, se julgar conveniente, um


secretário, que poderá ser um dos árbitros.

§ 6º No desempenho de sua função, o árbitro deverá proceder com imparcialidade,


independência, competência, diligência e discrição.

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§ 7º Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral determinar às partes o adiantamento de


verbas para despesas e diligências que julgar necessárias.

PROCEDIMENTO:

É a forma como o processo se exterioriza materialmente o mundo jurídico.

É por meio do procedimento que o processo age. Basicamente consiste numa sequência
de atos que devem culminar com a declaração do Judiciário sobre quem tem o direito
material (bem da vida) na lide submetida à sua apreciação.

Essa sequencia deve observar, obrigatoriamente, a dialética processual que


consiste em:

Facultar e garantir às partes a efetiva participação durante seu desenvolvimento (tese do


autor e antítese do réu), além da utilização de todos os recursos legais inerentes à defesa
dos interessas de cada litigante, tudo para que possam influir de forma efetiva na formação
do convencimento do julgador (síntese).

Nosso ordenamento jurídico prevê uma formula geral de solução de conflitos, nominada
procedimento comum, a ser adotado sempre que o direito material em litígio não
demandar regras específicas para solução. Mas ante a diversidade das relações jurídicas
substanciais surgidas entre as partes, torna-se inviável a adoção absoluta dessa regra
única.

A busca de melhor efetividade do processo fez surgir a especialização de alguns


procedimentos, assumindo, estes, modos diversos de agir, cada vez que o direito material
a ser amparado seja diferenciado. (procedimentos especiais).

PRETENSÃO:

É a exigência, o pedido ou a postulação que a parte deduz perante o juiz, ao arbitro ou a


mediação e conciliação e etc...

Fato é que vencida a fase da justiça com as próprias mãos, é obrigação do titular do direito
violado provocar o exercício da jurisdição estatal. Por meio do processo poderá ele buscar
uma sentença que reconheça o direito alegado e sujeite o réu ao seu cumprimento.

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Igualmente, por meio de autotutela, transação, mediação, conciliação, e, arbitragem.

No processo judicial se desenvolvem duas pretensões distintas do autor:

A. A primeira é a deduzida EM FACE a parte adversa, correspondendo à exigência de


subordinação ao seu interesse, com a consequente entrega do bem da vida que se
alega violado. Essa pretensão encontra embasamento nas regras gerais de conduta
do direito material.

B. Aquele que se diz violado num direito material passou a ter um direito subjetivo
CONTRA o Estado-juiz, consistente em obter uma tutela jurídica que afaste a violação
por ele suportada. Logo, ao autor da demanda judicial também formula uma pretensão
contra o agente que exerce a jurisdição, a qual consiste justamente em obter um
provimento jurisdicional que obrigue o réu à entrega do direito material violado.

Essa pretensão também existe na mediação e conciliação endoprocessual e na


arbitragem pois segundo a lei 9.307/96 (alterada pela lei 13.129/2015) o arbitro é juiz
de fato e de direito – art. 18).

DIREITO DE AÇÃO

DEMANDA E RELAÇÃO JURÍDICA SUBSTANCIAL DEDUZIDA EM JUÍZO:

O denominado direito de ação é garantido pela CR/1988 no inciso XXXV, do art. 5º,
embora não o revele expressamente, é esta a interpretação amplamente vencedora na
doutrina e na jurisprudência.

Qualquer lei que iniba a provocação do Estado-juiz para prestar tutela jurisdicional é, por
isso mesmo, irremediavelmente inconstitucional, agressora ao “modelo constitucional do
processo civil”.4

Sendo a jurisdição inerte, é disponibilizado um direito público (exercido contra o Estado,

4 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil. Teoria geral do direito
processual civil, 1. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 342.

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contra o Estado-juiz) e abstrato (como analisaremos adiante) de romper essa inércia,


provocando o Judiciário.

O direito de ação é abstrato, materializando-se em concreto por meio da demanda. Em


toda demanda há, pelo menos, a afirmação de uma relação jurídica por parte do autor.
Observe-se que é uma relação jurídica afirmada, eis que pode não existir.

É por isso que na praxe forense é comum falar que o autor ajuíza uma ação em face do
réu e não contra ele.

A ação é dirigida contra o Estado e é o Estado que, reconhecendo a existência do direito


que se afirma existente – e basta isso para o rompimento da inércia da jurisdição – , impõe
o resultado de sua atuação, ou seja, a tutela jurisdicional perante o réu, em face dele. 5

Com a propositura da demanda, nasce o processo e a relação jurídica afirmada ou


reduzida. Liebman já afirmava que o processo é a certeza dos meios e a incerteza
dos resultados. A rigor, o processo serve como mecanismo para construir um resultado,
eis que já sabido o resultado, não haveria necessidade de processo.

Cumpre, por fim, ressaltar que a ação não pode ser entendida somente como o
rompimento da inércia, com a apresentação da inicial, mas deve ser visualizada ao longo
de todo o processo, seja pelo autor, seja pelo réu, ou por um terceiro interveniente, sendo
um direito dinâmico.

CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES

Há inúmeras classificações que podem ser dadas às ações, como:


1) Reais ou pessoais;
2) Mobiliárias ou imobiliárias;
3) Reipersecutória;

5 Idem, p. 345.

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4) Necessária;
5) De acordo com o tipo de tutela pretendida: conhecimento, execução e cautelar;
6) Dúplices.

1) Reais ou pessoais;
As ações Reais ou pessoais;
A ação real tem como objeto do pedido feito pelo autor a tutela de direito real. A expressão
“direito real” tem origem no latim jus in re cujo significado é direito sobre a coisa.

Assim, aquele que possui direito sobre uma coisa, móvel ou imóvel, é o legitimado para a
propositura da ação real. Como assevera Maria Helena Diniz, “compete sua promoção
àquele que é o titular do direito real contra quem não o quer reconhecer, detendo
injustamente a coisa sobre a qual recai aquele direito”.

A expressão “DIREITO REAL” É DIREITO SOBRE A COISA. Exemplos: usucapião,


reconhecimento de um usufruto, uso ou habitação, ação hipotecária, ação rreivindicatória
(proprietário não possuidor contra o possuidor não proprietário), bem como, interditos
possessórios (reintegração de posse, para o caso de esbulho possessório, a manutenção
de posse, relativa à turbação da posse, e o interdito proibitório, quando houver ameaça
de retirada da posse).
A expressão “DIREITO PESSOAL” É DIREITO SOBRE AS OBRIGAÇÕES, também
chamado de DIREITO PESSOAL, conjunto de normas que regem as relações
jurídicas de ordem patrimonial, onde um sujeito tem o dever de prestar e o outro
tem o direito de exigir essa prestação, ou seja, um deve fazer algo e o outro deve
receber esse algo.....

Os direitos reais estão elencados no artigo 1.225 do Código Civil brasileiro, a saber:
I - a propriedade;
II - a superfície;
III - as servidões;
IV - o usufruto;
V - o uso;
VI - a habitação;
VII - o direito do promitente comprador do imóvel;
VIII - o penhor;
IX - a hipoteca;
X - a anticrese;

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XI - a concessão de uso especial para fins de moradia;


XII - a concessão de direito real de uso.

Embora não conste no rol do referido artigo, a propriedade fiduciária também constitui
direito real. Na modalidade de bem móvel, a propriedade fiduciária está regulada no
Decreto-Lei nº 911/69. Quando recai sobre bens imóveis, a regulamentação é a contida
na Lei Federal 9.514/97.

A ação pessoal ou reipersecutória visa relacionar se existe alguma ação em nome do


proprietário atual do imóvel, decorrente de uma obrigação acordada e não honrada pelo
devedor, que repercutiu sobre o imóvel tomando-o do proprietário, e entregando-o a um
terceiro.

A ação reipersecutória, por sua vez, objetiva que o autor retorne ao seu patrimônio o que
lhe pertence, mas se encontra em poder de terceiro ou na esfera patrimonial do réu que
não cumpriu uma obrigação contratual. Em linguagem acessível, é a ação que persegue
uma coisa em decorrência de relação obrigacional não honrada pelo devedor.

A melhor definição é abordada pelo registrador Sérgio Jacomino, em citação do


professor Aureliano de Gusmão, o qual considera ações pessoais reipersecutórias
as que, “derivando de uma obrigação, têm uma direção real, recaindo sobre uma
cousa certa (rem sequuntur) podendo ser propostas ou contra a pessoa obrigada
ou contra o possuidor da cousa”.

Obs:

“No que diz respeito aos limites de atuação da arbitragem, o artigo 1º da lei nº
9.307/96 preceitua que as “pessoas capazes de contratar poderão valer-se da
arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis.”

A “capacidade” mencionada para contratar é a civil. Nesse aspecto, a previsão


é visivelmente combinada com a mencionada constante do artigo 851 do CC.

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Art. 851. É admitido compromisso, judicial ou extrajudicial, para resolver


litígios entre pessoas que podem contratar.

A limitação da utilização do instituto é quanto ao tipo de litígio, pois ele é


inaplicável a dissídios que não tenham natureza patrimonial, no que é seguido
pela previsão do artigo 852 do CC que estabelece:

Art. 852. É vedado compromisso para solução de questões de estado, de


direito pessoal de família e de outras que não tenham caráter estritamente
patrimonial.

Anteriormente ao conflito, as partes poderão estabelecer, para o caso de seu


eventual surgimento, que o mesmo seja resolvido por arbitragem. Tal
estabelecimento se dará através da “cláusula compromissária”, cujo conceito
está expresso no artigo 4º da lei nº 9.307/96:
Art. 4º. A cláusula compromissária é a convenção através da qual as partes em
um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam
vir a surgir relativamente a tal contrato.

Tal estipulação vincula as partes, em função da autonomia da vontade e do


princípio geral do direito pacta sunt servanda, podendo ser exigido
judicialmente o cumprimento do estipulado (no caso, a submissão do conflito
– outrora previsto e agora existente – ao juízo arbitral).

Surgindo um real conflito, os litigantes celebram compromisso arbitral,


entendido este como “a convenção através da qual as partes submetem um
litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser judicial ou
extrajudicial.” (art. 9º)
Tanto a cláusula compromissária quanto o compromisso arbitral propriamente dito,
enquadram-se, como visto, na previsão legal de compromisso, sendo-lhes
aplicável, por óbvio, a sua disciplina.
Os árbitros, apenas de naturalmente privados, terão características
semelhantes (impedimentos, suspeições e etc.) às do julgador estatal.
Os arts. 19 a 22 tratam do procedimento arbitral strictu sensu, o qual, pode ser
regulado pelas próprias partes ou, na ausência de estipulação expressa, ter
sua disciplina delegada ao árbitro ou ao tribunal arbitral institucional.
Já os arts. 23 e 33 se referem à sentença arbitral propriamente dita, que, como
verificado no artigo 18, é irrecorrível no mérito, não havendo necessidade de
homologação pelo Judiciário.
A sentença arbitral, outrossim, cujos requisitos e elementos estão previstos
nos artigos 24 a 29, tem realmente a força de uma sentença judicial, sendo,

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por força de lei, título executivo “judicial”, tendo em vista a referência à


sentença arbitral no inciso VI do artigo 515 do CPC.”[1]

2) Mobiliárias ou imobiliárias;
SÃO IMOBILIÁRIAS AS AÇÕES que garantem os direitos reais sobre imóveis, inclusive
o penhor agrícola.
SÃO AÇÕES MOBILIÁRIAS AS AÇÕES que garantem os direitos reais sobre objetos
móveis e as que asseguram os direitos de obrigações.
Segundo os arts. 44, I e 48, I e II, respectivamente, do Código Civil:

3) Ação reipersecutória
(Art. 790, I, do CPC/2015) é toda ação em que se busca uma coisa (res), ou seja, em que
se persegue algo podendo ser real (por exemplo, uma reivindicatória de um bem imóvel)
ou pessoal (por exemplo, a ação de despejo).

4) Ação necessária
Aquela pela qual se afirma um direito que só pode ser exercido perante o Judiciário, como
uma ação anulatória, rescisória, falência, interdição etc., as quais geram processos
necessários, em que o interesse de agir dispensa demonstração, sendo in re ipsa. 3

5) De acordo com o tipo de tutela pretendida: Ação de conhecimento


É a que visa certificar um direito.

5) De acordo com o tipo de tutela pretendida: Ação de execução


Busca efetivar o direito e, por fim,

5) De acordo com o tipo de tutela pretendida: Procedimento cautelar (não é mais


processo cautelar – do antigo CPC/73),

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Sendo objeto de um procedimento acessório, a tutela cautelar tem como característica


marcante a sumariedade, que se revela tanto no aspecto material, como no aspecto
formal.

No aspecto formal: diz respeito ao fato de o procedimento cautelar ter um rito mais curto
do que o previsto para o procedimento comum.
No aspecto material: Naquele, significa ser a tutela cautelar concedida via cognição
sumária, por ser a cognição exauriente incompatível com a sua urgência. Disso decorre a
ideia da tutela cautelar como espécie de tutela provisória, como explica Leonardo Greco
(GRECO, 2016):

“Para a devida compreensão da matéria, impõem-se explicar a noção de tutela provisória,


abrangendo a tutela da urgência, cautelar e antecipada, e a tutela da evidência. A ideia
de provisoriedade, difundida por Piero Calamandrei, a respeito das providências
cautelares, é uma consequência da cognição não exaustiva, não permitindo que o
provimento judicial tutele definitivamente a situação jurídica por ele resguardada. Tutela
provisória é aquela que, em razão da sua natural limitação cognitiva, não é apta a prover
definitivamente sobre o interesse no qual incide e que, portanto, sem prejuízo da sua
imediata eficácia, a qualquer momento, poderá ser modificada ou vir a ser objeto de um
provimento definitivo em um procedimento de cognição exaustiva”. 6

Como tutela provisória de urgência, a tutela cautelar, ao lado da tutela antecipada exige a
demonstração da presença dos famosos fumus boni iuris e periculum in mora. Tendo em
comum o fato de poderem ser concedidas liminarmente, sem prévia oitiva da parte
adversa (art. 300, § 2º c/c 9º, parágrafo único, inciso I), e ensejam a responsabilidade por
dano processual e pelos prejuízos causados pela efetivação da tutela, nos casos do art.
302 (quando beneficiado pela tutela obtém sentença desfavorável ou não procede à
citação tempestiva do requerido no caso de concessão liminar, e nos casos de cessação
da eficácia da medida, bem como no reconhecimento de prescrição ou decadência).

6
GRECO, Leonardo. Instituições de Processo Civil – Processo de Conhecimento. Rio de Janeiro:
Forense, 2016. p. 359.
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Não obstante as semelhanças com a tutela antecipada, a tutela cautelar possui finalidade
peculiar. Enquanto a tutela antecipada objetiva satisfazer faticamente o direito da parte,
garantindo a utilidade do processo (ex: liberação imediata de um medicamento), a tutela
cautelar busca assegurar uma futura satisfação do direito (ex: sequestro de bens, que não
se justifica por si só).

É como ensina Pontes de Miranda: “a tutela cautelar garante para satisfazer e a tutela
antecipada satisfaz para garantir” (PONTES DE MIRANDA, 1974). 7

Para Neves “a característica especial de instrumentalidade no processo cautelar se deve


justamente a que este não serve de instrumento para a obtenção do bem da vida, mas
sim para tornar possível tal obtenção” (NEVES, 2016). 8

A instrumentalidade do processo cautelar é hipotética, uma vez que não


necessariamente o beneficiado pela tutela cautelar será o vencedor do processo
principal, como ressalta o notável Barbosa Moreira:“Por que hipotética? Porque a
medida cautelar é concedida para a hipótese de que aquele que a pleiteia eventualmente
tenha razão; isto é, o juiz diante de um requerimento de providência cautelar, admite a
premissa de que o desfecho do pleito principal possa revelar a existência efetiva do direito
afirmado pelo requerente” 9.

Além dessa hipótese, Neves lembra outra: quando o beneficiado pela concessão de
medida cautelar antecedente, em processo cautelar não convertido em principal, obtém a
10
satisfação voluntária do direito alegado pelo autor (NEVES, 2016). Isso evitará a
formulação de um pedido principal, corroborando que a instrumentalidade do processo
cautelar é de fato hipotética.

7
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários ao Código de Processo Civil, v. 12.
Rio de Janeiro: Forense, 1974. p. 14-15.
8
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. Salvador: JusPodivm,
2016. p. 470
9
BARBOSA MOREIRA, José Carlos apud CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito
Processual Civil. vol. III. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003. p. 22.
10
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Ob. citada, p. 470-471.
17
18

Na vigência do CPC/73 o processo cautelar, ao lado dos processos de conhecimento, de


execução e dos especiais, sempre representou uma modalidade autônoma de processo
no ordenamento jurídico brasileiro. No Livro III do antigo código eram regulamentados, de
forma pormenorizada, diversos procedimentos cautelares específicos, tais como o arresto,
o sequestro, a busca e apreensão, e o arrolamento de bens. ssa autonomia do processo
cautelar em relação ao principal era verificada tanto antes da instauração do processo
principal (processo cautelar preparatório ou antecedente) como durante (processo
cautelar incidental ou incidente). E apesar de naquela época já defendesse autorizada
doutrina a possibilidade de o pedido cautelar incidental ser feito nos mesmos autos do
11
processo principal (FUX, 2004) o entendimento tradicional pregava que a atividade
desenvolvida pelo juiz na tutela cautelar, consistente em avaliar a necessidade de se
assegurar o resultado útil do processo principal, era tão específica a ponto de justificar um
processo autônomo.

Porém, com o tempo, a autonomia entre tipos processuais foi sendo relativizada e
substituída pela ideia do sincretismo processual, cujo conceito é bem explicado
pelo ilustre professor Carreira Alvim (ALVIM, 2004):

“O sincretismo processual traduz uma tendência do direito processual, de


combinar fórmulas e procedimentos, de modo a possibilitar a obtenção de
mais de uma tutela jurisdicional, simpliciter et de plano (de forma simples e
de imediato), no bojo de um mesmo processo, com o que, além de evitar a
proliferação de processos, simplifica (e humaniza) a prestação jurisdicional”
12.

A título de exemplo tivemos a reforma feita pela Lei 11.232/05 que, ao alterar o CPC/73
para instituir o rito do cumprimento de sentença, fez cair por terra o dogma de uma
necessária autonomia entre os processos de conhecimento e de execução. Antes disso,
a Lei 10.444/02 alterou o CPC/73 permitindo ao juiz deferir a medida cautelar em caráter
incidental quando entendesse que a tutela antecipada requerida, na verdade, tinha
natureza cautelar e preenchia os respectivos requisitos, o que acabou ficando conhecido

11
FUX, Luiz. Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 73.
12
ALVIM, José Eduardo Carreira. Alterações do Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Impetus,
2004. p.40.
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19

como princípio da fungibilidade da tutela provisória. De lá para cá a prática forense revelou


que, inequivocamente, tais modificações contribuíram para efetividade da tutela
jurisdicional.

O CPC/15 bebeu da mesma fonte e deu mais um significativo passo em prol do


sincretismo processual: O art. 308, § 1o do novo codex permite expressamente que o
pedido principal do processo seja formulado conjuntamente com o pedido de tutela
cautelar e “sendo possível essa cumulação inicial dos dois pedidos, também se admite a
cumulação superveniente” (NEVES, 2016). 13 Portanto, é “indiscutível o fim do processo
cautelar incidental” (NEVES, 2016) 14 .

Com relação ao processo cautelar antecedente, o caput do art. 308 previu a


possibilidade de o processo cautelar ser convertido em processo principal, vejamos
A nova regra determina que a medida cautelar seja requerida no mesmo processo em
que pleiteada a tutela final, pondo fim à dicotomia processo acessório-principal no âmbito
da tutela cautelar. O sincretismo processual foi então ampliado, pois poderá haver num
mesmo processo cognição, cumprimento de sentença e medidas provisórias cautelares.

Cumpre ressalvar, por fim, a posição de Neves, aparentemente minoritária, de que não
teria havido o fim do processo cautelar antecedente, mas apenas sua mitigação. O referido
autor parte da premissa de que a conversão do processo cautelar em principal só seria
possível diante da sua concessão liminar seguida da efetivação tempestiva da tutela. Para
Neves, quando o autor não consegue sua tutela cautelar antecedente de forma liminar, ou
quando a tutela cautelar é concedida, mas não é efetivada no prazo legal, o procedimento
seguiria regulado pelos arts. 305 a 307 e terminaria com uma sentença cautelar
autônoma. 15

Porém, como será demonstrado, a maior parte da doutrina se posiciona no sentido de que
o procedimento previsto nos arts. 305 a 307 dá origem a uma decisão interlocutória, de
forma que o procedimento terá sequência e poderá ser convertido em principal.

13
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Ob. citada, p. 468.
14
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Ob. citada, p. 468.
15
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Ob. citada, p. 468.
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20

“Desse modo, são dois momentos de postulação: “o primeiro, fundado em elementos


– alegação e prova – quiçá menos consistentes, ajustados a uma cognição superficial,
adequada ao momento de urgência; e um relativo à ‘tutela final’ ou ‘principal’.”
(YARSHELL, 2016) 16

O CPC/15 avançou, tendo harmonizado os dois elementos postulatórios (cautelar e


“principal”) em consonância com a evolução da doutrina do sincretismo processual. A nova
sistemática deve ser celebrada, pois certamente contribuirá para a simplificação e
eficiência da tutela jurisdicional.

Nesse sentido, Haroldo Lourenço leciona que vivemos a era dos processos
multifuncionais, não havendo uma pureza de funções, ou seja, as ações não servem
apenas ao conhecimento, à execução ou ao acautelamento, buscando-se “tudo ao mesmo
tempo”, por meio das ações sincréticas ou processos sine intervallo, que servem a
mais de um propósito. O sincretismo processual, que é a possibilidade de o processo
servir a mais de um propósito, é um fenômeno contemporâneo e irreversível.

6) No que se refere a demandas dúplices A doutrina afirma que é aquela em que tanto
o autor como o réu pode formular pedido em seu favor, em que simultaneidade da posição
de autor e réu assumida pelos litigantes decorre da pretensão deduzida em juízo.
Imaginemos uma ação demarcatória dos limites de uma propriedade, na qual a discussão
irá possibilitar a tutela de um bem da vida a ambas as partes, independentemente de suas
posições processuais de autor ou réu, sendo desnecessário que o réu formule pedido de
fixação dos limites aquém ou além do que foi deduzido pelo autor, e esta improcedência
do pedido do autor corresponderá ao atendimento da pretensão do réu. A decisão judicial
resolverá a crise instaurada necessariamente a favor do autor ou do réu, obtendo este não
apenas a eficácia declaratória da inexistência da pretensão pleiteada pelo autor, mas
provimento jurisdicional idêntico àquele inicialmente buscado

Toda sentença de improcedência traz em si a declaração de que a pretensão pleiteada

16
YARSHELL, Flávio Luiz. A Tutela Provisória Cautelar e Antecipada no Novo CPC: Grandes
Mudanças? Disponível na internet: <http://www.cartaforense.com.br/conteudo/ colunas/a-tutela-
provisoria-cautelar-e-antecipada-no-novo-cpc-grandes-mudancas-x/16521> Acesso em: 20/12/2016.

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pelo autor na demanda não existe, o que equivale a uma tutela declaratória negativa; no
entanto, nas ações dúplices, a improcedência implica conclusão lógica de que o titular do
direito pleiteado pelo autor é, na verdade, do réu. 4

SOBRE A NOMENCLATURA “AÇÃO DÚPLICE” HÁ, DOUTRINARIAMENTE, DUAS


ACEPÇÕES:

Processual: é toda aquela em que se admite um contra-ataque interno à contestação,


por exemplo, em um pedido contraposto, como nos Juizados Especiais Cíveis, nas ações
possessórias (art. 556 do CPC/2015), ações renovatórias de locação comercial (art. 74 da
Lei 8.245/91) e na ação de exigir contas (art. 550 do CPC/2015). Cumpre registrar que
com o CPC/2015 a reconvenção passou a ser realizada na contestação, semelhante ao
pedido contraposto (art. 343 do CPC/2015).

Material: é aquela que veicula um direito, cuja contestação do réu serve, a um só tempo,
como defesa e ataque, ou seja, a contestação é também um ataque. Sendo hipótese de
ação materialmente dúplice, não há opção ao réu, pois ao contestar, automaticamente, já
se está atacando, ressalvada a hipótese de reconvenção com pretensão distinta à da ação
principal. 5

OS EXEMPLOS DE AÇÕES MATERIALMENTE DÚPLICES SÃO OS MAIS DIVERSOS:

a) ação de oferecimento de alimentos (o filho, ao se defender, já está afirmando que a


oferta é pequena e, sendo acolhido o pedido do autor, não obstante este ser o vencedor,
o réu é que executará o julgado. Enfim, as posições de autor e réu se misturam);

b) consignação em pagamento: com o ajuizamento, o autor se diz devedor; com a


contestação, o credor-réu, afirmando ser a quantia insuficiente, já está atacando;

c) ação de desapropriação: o ente público oferece o valor “X” e o expropriado,


contestando, afirma que o valor é de “X + 300”, por exemplo.

TODA AÇÃO MERAMENTE DECLARATÓRIA É DÚPLICE EM SENTIDO MATERIAL,

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Exemplo, de uma ação para declarar a inexistência de um contrato, julgada esta


improcedente, pode-se afirmar que o contrato existe, sem um pedido declaratório explícito
pelo réu em sua contestação.

A improcedência de uma ADIn – em que se conclui que a lei é constitucional; o mesmo


fenômeno ocorre com a propositura de uma ADC – se julgada improcedente, a conclusão
a que se chega é a de inconstitucionalidade da lei.

Nas possessórias, o CPC afirma que o réu pode pretender a proteção possessória e a
indenização, na mesma contestação. Assim, tal ação é dúplice em ambos os sentidos –
em sentido processual, ao permitir o pedido de indenização, bem como em sentido
material, no que diz respeito à proteção possessória. A indenização tem que ser postulada,
devido à inércia do Judiciário.

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