A Recepcao Do Sonorismo Polones Por Part
A Recepcao Do Sonorismo Polones Por Part
A Recepcao Do Sonorismo Polones Por Part
MESTRADO EM MÚSICA
CURITIBA
2012
SEMITHA HELOISA MATOS CEVALLOS
Curitiba
2012
Cevallos, Semitha Heloisa Matos
A recepção do sonorismo polonês por parte dos
compositores brasileiros / Semitha Heloisa Matos Cevallos.
– Curitiba, 2011.
67f. : il.
CDD 780.981
TERMO DE APROVAÇÃO
Tese aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre no Curso de
Pós-Graduação em Música, Departamento de Artes da Universidade Federal do
Paraná, pela seguinte banda examinadora:
Sonorismo é um estilo musical que surgiu na Polônia no final dos anos 1950 e causou
uma mudança fundamental nos valores da hierarquia musical: no lugar da melodia,
harmonia, metro e ritmo, o som tornou-se o agente principal. As experiências do
sonorismo levaram a descobertas da riqueza de novos valores sonoros. Muitos
compositores brasileiros foram influenciados pelo sonorismo, mas este é um assunto
que ainda carece de estudo, pois de acordo com as pesquisas há somente um artigo
escrito sobre o tema. As principais fontes para esta dissertação foram as entrevistas
com Edino Krieger, Marlos Nobre e Harry Crowl. Eles proveram novos dados sobre o
tema, possibilitando a conclusão de como os compositores brasileiros entraram em
contato com o estilo e de como começaram a utilizá-lo em suas próprias obras.
ABSTRACT
Sonorism is a musical style that appeared in Poland in the end of 50s. That ensued a
fundamental change to the hierarchy of musical values: in place of melody, harmony,
meter and rhythm, sound became the main agent. The experiences of sonorism, led to
the discovery of new sound values´s richness. There are many Brazilian composers
that were influenced by the sonorism, but there is still a lack of studies about this
subject, according to the research there is just one article written about. The main
sources of this work were the interviews with Edino Krieger, Marlos Nobre and Harry
Crowl. They provided new data about the theme and just after that it was possible to
conclude how the Brazilian composers got to know the style and how they started to
use it in theirs own output.
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................9
2 O QUE É SONORISMO POLONÊS?....................................................................13
2.1 REAÇÃO AO SERIALISMO.....................................................................................18
2.2 ARTICULAÇÃO........................................................................................................19
2.3 TEXTURAS..............................................................................................................20
2.4 NOTAÇÃO MUSICAL..............................................................................................22
2.5 UMA VISÃO GERAL DO ESTILO...........................................................................22
3 A RECEPÇÃO DO SONORISMO POLONÊS POR PARTE DOS
COMPOSITORES BRASILEIROS..........................................................................24
3.1 AS HIPÓTESES UTILIZADAS NAS ENTREVISTAS..............................................24
3.1.1 Atividade pedagógica de Koellreutter e Ernest Widmer......................................25
3.1.2 Contato direto com o sonorismo pela passagem dos compositores pela
Europa...........................................................................................................................27
3.1.3 A passagem de Penderecki pelo Brasil.................................................................29
3.1.4 A Rádio MEC.........................................................................................................31
3.2 ENTREVISTAS........................................................................................................33
3.2.1 Edino Krieger........................................................................................................33
3.2.2 Marlos Nobre........................................................................................................35
3.3 O GRUPO DE COMPOSITORES DA BAHIA E O USO DAS TÉCNICAS
SONORISTAS................................................................................................................39
4 ANÁLISE DAS OBRAS..........................................................................................43
4.1 EDINO KRIEGER – Canticum Naturale (1972)....................................................43
4.1.1 Primeira parte - Diálogo dos pássaros..................................................................45
4.1.2 Segunda parte – Monólogo das Águas.................................................................48
4.2 MARLOS NOBRE – Mosaico (1970)......................................................................51
4.2.1 Primeira parte – Densidades................................................................................52
4.2.2 Segunda parte – Ciclos.........................................................................................54
4.2.3 Terceira parte – Jogos..........................................................................................56
4.3 ALMEIDA PRADO – Am ém (1975)........................................................................58
5 CONCLUSÃO...........................................................................................................63
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................65
9
1 INTRODUÇÃO
1
LUCAS, Marcos. A música polonesa dos anos 60-70 e sua influência na música brasileira.
Br a s ilia n a , Rio de Janeiro, v.6, p. 2 -11, setembro, 2000.
2
Ibidem. p. 6
10
Chomi ski (1906 - 1994) em 1956, sendo posteriormente empregado por ele e outros
musicólogos alemães e poloneses. Foram realizados estudos sobre o estilo nos anos
1960 – 1970, tendo ficado restritos aos meios acadêmicos daqueles países não
chegando ao conhecimento dos estudiosos de música na América Latina, pois se
algumas correntes de vanguarda dos anos pós–guerra duraram décadas em grandes
centros internacionais como Darmstadt e Paris, o sonorismo foi um fenômeno estrito
do ponto de vista geográfico e histórico, ocorrido na Polônia no começo dos anos
1960. A música que caracteriza esse estilo era amplamente difundida no Brasil, obras
de Penderecki, Górecki, Szalonek, Baird e Bacewicz. Contudo, o termo sonorismo não
era conhecido no meio acadêmico brasileiro.
O presente trabalho está dividido em três capítulos. O primeiro deles apresenta
o sonorismo como o estilo que rompe com as técnicas contemporâneas do ocidente
de então e cujo resultado sonoro era produto de exercícios de lógica. Este
rompimento com a composição contemporânea iniciou uma vanguarda e atraiu os
olhares do mundo musical para aquele país. Era uma nova proposta no que se referia
à construção da obra, em primeiro plano apareciam como meio de expressão
elementos de textura, timbre, articulação, volume, dinâmica, cor, altura. A própria
palavra usada para dar nome ao estilo — sonorism o — já descreve a importância do
som para os compositores poloneses, para quem ele não é somente o produto de
processos composicionais, mas a razão de ser da obra. Posteriormente será realizada
uma análise dos termos escola polonesa e sonorism o, para melhor entendimento do
que os compositores brasileiros entendiam como “música vinda da Polônia”. O
capítulo será concluído com a descrição das características do estilo.
O segundo capítulo trata da recepção do sonorismo no Brasil. A geração de
compositores brasileiros de música erudita que estiveram em formação a partir dos
anos 1950, começaram a se estabelecer nos anos 1960-1970. Eles acompanharam e
fizeram parte de importantes acontecimentos musicais no Brasil, como: a vinda de
Koellreutter ao país, os debates musicais envolvendo o Grupo Música Viva, a morte
de Villa-Lobos, a continuação da linha nacionalista por Camargo Guarnieri e Guerra-
Peixe, entre outros. Além disso, puderam estar em contato direto com outros países
da América Latina, Europa e Estados Unidos participando em Festivais e Congressos
Internacionais, com bolsas de estudos, onde tiveram a oportunidade de se aperfeiçoar
com os melhores professores de composição e com importantes compositores da cena
mundial. As obras de música culta que vemos surgir nesta época utilizam igualmente
a temática e a rítmica brasileira, mas não de forma nacionalista, pois os compositores
11
Estas podem ter sido introduzidas no Brasil por diversas vias prováveis,
como:
3
LUCAS, Marcos. A música polonesa dos anos 60-70 e sua influência na música brasileira.
Brasiliana, Rio de Janeiro, v.6, p. 2 -11, setembro, 2000. p. 6.
12
4
DAHLHAUS, Carl. Foundations of Music History. New York: Cambrigde University Press, 1997.
p. 23. Tradução nossa.
5
Em agosto de 1949 o Ministro da Cultura da Polônia, Włodzimierz Sokorski (1908 – 1999), reuniu
músicos, compositores e musicólogos na cidade polonesa de Łagów Lubulski para a Conferência dos
Músicos Poloneses. Era o começo do desenvolvimento da política cultural soviética de Zdhanov (1896
– 1948) na Polônia, apresentada 18 meses antes em Moscou.
14
6
MIRKA, Danuta. The Sonoristic Structuralism of Krzysztof Penderecki. Katowice: Music
Academy of Katowice, 1997. p. 5, Tradução nossa.
15
A questão é muitas vezes a mim colocada e sempre respondo que não há tal
coisa como uma escola polonesa, pois os compositores em atividade hoje
estudaram com professores diferentes, não havia um único professor que
houvesse fundado uma escola... é uma coincidência que um grande número
de compositores tenha surgido na Polônia nesse momento histórico. Uma
razão provável é que a musa esteve calada por muito tempo em nosso país.
Não temos uma tradição tão rica como os alemães, os italianos ou franceses.
Ainda não estamos esgotados, somos mais jovens em música do que outras
nações. Naturalmente isso não se aplica a todos os aspectos da nossa cultura,
afinal, uma das primeiras universidades foi fundada em Cracóvia. Entretanto
nossa veia musical ainda não foi exaurida, nós ainda guardamos um
“frescor” – e é esse frescor que une os compositores poloneses que, por outro
lado, tem personalidades muito diferentes.7
7
LUCAS, Marcos. A música polonesa dos anos 60-70 e sua influência na música brasileira.
Brasiliana, Rio de Janeiro, v.6, p. 5, setembro, 2000.
16
definido com mais precisão – sonorismo. Józef Chomi ski um dos musicólogos mais
importantes dos anos pós-guerra, vinha pesquisando e escrevendo sobre a
sonoridade na música européia, em 1956 publicou um estudo sobre o som em si, que
traria novas idéias especialmente para a música do século XX. A partir dos anos 50 a
música polonesa estava ainda emergindo da estagnação em que se encontrava. Então,
o termo sonorismo, não tinha relevância para as composições polonesas daquela
época. Ele pretendia iniciar uma discussão sobre a música desde Claude Debussy
(1862 – 1918) a Igor Stravinsky (1882 – 1971) até a Klangfarben da Segunda Escola
de Viena. Sua intenção era fazer uma abordagem musical não pelos parâmetros
tradicionais e aspectos técnicos da composição, mas pelas qualidades puramente
sonoras geradas por esses meios. Doze anos depois, publicou o primeiro estudo da
nova música polonesa, aplicando sua teoria a uma ampla gama de compositores
contemporâneos: de Baird e Lutosławski a Górecki, Penderecki e Bogusław Schaeffer
(1929).
Chomi ski emprega termos como “técnica sonorística”, “sonorística musical”,
“instrumentos sonorísticos” e “estruturas sonorísticas”, mais do que o termo geral
sonorism o que surgiria posteriormente. O musicólogo identificou quatro áreas de
pesquisa: a) tecnologia sonora b) regulação temporal, c) estruturas verticais e
horizontais, d) transformação de som e forma. A coordenação dessas cinco áreas,
equivaliam à “regulação sonorística”, segundo Chomi ski.
Outro estudo sobre o fenômeno foi realizado pelo musicólogo polonês Tadeusz
Zieli ski (1931). Este catalogou obras que possuem características do sonorism o,
porém não fez menção do termo. Nenhum dos dois musicólogos realizou uma síntese
teórica detalhada e, inclusive, alguns historiadores poloneses ignoram o tema por
completo em seus trabalhos. Posteriormente o termo sonorismo deixou de ser
utilizado como estilo.
A musicóloga polonesa, Danuta Mirka, retomou o tema e publicou em 1997 um
estudo de sete das principais obras do chamado período sonorista de Penderecki,
entre 1959 e 1962. Ela comenta em seu prefácio que sentiu a necessidade de escrever
essa obra quando, assistente na Academia de Música em Katowice, pediu aos
estudantes para analisar peças do compositor polonês e o resultado foram descrições
vagas de um período que eles consideravam de experimentação e não como a
primeira fase artística e criativa do compositor polonês. Mirka utiliza esquemas
gráficos, estruturas linguísticas e a teoria dos conjuntos para identificar sistemas que
envolvem timbre, articulação e pares binários de oposições entre notas, dinâmica e
17
2.2 ARTICULAÇÃO
2.3 TEXTURAS
pois constrói clusters com semitons e quartos de tons e causa movimentos variando a
amplitude para maior ou menor intervalos dos extremos. Ele desenvolve clusters que
começam com uma nota, abrem-se, expandindo para formar o cluster e voltam à nota
inicial. (Exemplo 2)
Krzysztof Penderecki não foi o único a compor no estilo. Obras como, Estudos
(1961) de Baird, Genesis (1962-3) de Górecki, Herbsttag (1960), Riff62 e Generique
(1963) e Ditongos (1964) de Kilar, Equivalenze sonore (1959) e Pequena Sinfonia:
Escultura (1960) fazem parte do sonorism o. Contudo, é a obra de Penderecki que
teve projeção internacional, sendo a mais tocada e conhecida desse período. A
recepção das primeiras obras de Penderecki estabeleceu o que era entendido como
sonorism o, muitas vezes compreendido como um estilo destituído de interesse
intelectual e organização formal. Danuta Mirka comenta que
8
MIRKA, Danuta. The Sonoristic Structuralism of Krzysztof Penderecki. Katowice: Music
Academy of Katowice, 1997. p.16. Tradução nossa.
24
Os fatos, informações e dados obtidos nas entrevistas foram cruciais para este
estudo, pois confirmaram algumas das hipóteses e corrigiram as que não eram
procedentes.
9
KATER, Carlos. Música Viva e H.J.Koellreutter:movimentos em direção à modernidade.
São Paulo: Musa, 2001. p 45.
26
amplamente utilizado pelos compositores poloneses nos anos 1960. Por uma questão
cronológica, Koellreutter não poderia ter introduzido o sonorism o no Brasil, até
mesmo o dodecafonismo era uma técnica nova para Koellreutter, segundo Krieger,
que comentou em entrevista que foi Santoro quem instigou o professor à pesquisa da
técnica serial.
3. 1. 2 Contato direto com o sonorismo pela passagem dos compositores pela Europa
11
KATER, Carlos. Música Viva e H.J.Koellreutter:movimentos em direção à modernidade.
São Paulo: Musa, 2001. p 196.
28
Koellreutter e Guarnieri era uma realidade presente na cena musical brasileira. Edino
Krieger estudou com Koellreutter; Marlos Nobre com Koellreutter e Guarnieri;
Almeida Prado com Guarnieri; Lindembergue Cardoso estava fora desse eixo, tendo
estudado com Ernst Widmer.
Edino Krieger recebeu uma bolsa em 1948 para estudar nos Estados Unidos
em Berkshire com Aaron Copland, com quem trabalhou principalmente
orquestração. Ainda nos Estados Unidos teve aulas com Peter Menin (1923 - 1983),
discípulo de Nadia Boulanger, que seguia uma linha neoclássica. Em 1952 foi para
Londres continuar sua formação com Lennox Berkeley (1903 - 1989). Como é
possível perceber, Edino Krieger esteve no exterior nos anos 1950 em um período
anterior ao aparecimento do sonorismo no país. Krieger, em entrevista, comentou ter
ouvido pela primeira vez uma gravação da obra Threnody de Penderecki nos anos
1960 quando estava no Brasil.
Marlos Nobre, que recebeu uma bolsa da Rockfeller Foundation em 1963 para
estudar em Buenos Aires, considera que esta tenha sido a grande abertura de sua vida
por ter tido aulas com Ginastera e Messiaen no Instituto Torcuato di Tella. O
compositor ao comparar as experiências de aluno com Koellreutter e com Guarnieri
às que teve com Ginastera, comentou que o professor argentino não discutia estilo,
não impunha nada ao aluno. Ginastera trabalhava questões técnicas de composição
aconselhando os alunos e não impondo algum estilo. Marlos Nobre ouviu a música de
Penderecki ainda em Buenos Aires e a obra Ukrim akrinkrin (1964) já apresenta uma
notação com certa influência da grafia musical polonesa. Posteriormente, viajou à
Europa em 1966. Esteve na Tchekoslováquia representando o Brasil no Festival
Prim avera de Praga, onde ouviu os Jogos Venezianos de Lutosławski dirigidos pelo
próprio compositor. Esteve na Polônia onde entrou em contato com Górecki do qual
recebeu mais informações sobre a música polonesa. Esteve na Alemanha Oriental
participando de um Simpósio, onde comprou muitas partituras dos compositores
poloneses. Ainda esteve em Paris na Tribuna Internacional de Compositores da
UNESCO apresentando a obra Ukrim akrinkrin.
Almeida Prado comentou sobre a dificuldade de encontrar uma alternativa
para a escola de linha nacionalista formada em torno de Guarnieri. Ao ter uma obra
rejeitada o compositor, decide deixar as aulas.
12
ENCONTROS/DESENCONTROS. Encontro de pesquisadores e músicos da XI Bienal de Música
Brasileira Contemporânea. Organizado por Carole Gubernikoff. Rio de Janeiro: Funarte, Uni-Rio,
1996. p. 53-4.
30
Foi com o prêmio em dinheiro pelo primeiro lugar com a obra Pequenos
Funerais Cantantes em 1969, que Almeida Prado pôde estudar com Nadia Boulanger
e Olivier Messiaen na França. Fato que foi decisivo para a carreira deste compositor
que certamente é uma das figuras mais importantes da música brasileira da segunda
metade do século XX.
Os Festivais foram igualmente importantes para que os compositores
conhecessem as obras uns dos outros. O Grupo da Bahia que até então se encontrava
isolado do eixo Rio – São Paulo esteve presente no Festival apresentando suas obras.
Almeida Prado demonstrou sua admiração pelas misturas musicais realizadas pelo
grupo bahiano.
13
CENTRO CULTURAL PRÓ-MÚSICA. Disponível em
www.promusica.org.br/jornal/190/entrevista.php. Acesso em 23/05/2011.
14
ENCONTROS/DESENCONTROS. Encontro de pesquisadores e músicos da XI Bienal de Música
Brasileira Contemporânea. Organizado por Carole Gubernikoff. Rio de Janeiro: Funarte, Uni-Rio,
1996. p 60.
31
Edino Krieger constituiu um júri internacional, por haver premiação e por ser
a primeira vez que se fazia um Festival como aquele no Brasil. Para a primeira edição
foi convidado um júri internacional do qual Penderecki fazia parte.
O crítico musical do jornal Correio da Manhã, Eurico Nogueria França,
escreveu sobre a presença do compositor polonês no Festival.
15
FRANÇA, Eurico Nogueira. Correio da Manhã. Rio de Janeiro. 27/05/1969.
32
Nós tínhamos um programa da Rádio MEC, chamado Música Viva, que era
organizado pelo Grupo Música Viva. Produzido por nós, cada semana uma
pessoa organizava. Ou era eu, Koellreutter, Cláudio Santoro, Eunice
Katunda. Muito frequentemente apresentávamos Lutosławski, fazíamos
comentários. Penderecki. Górecki. O quarteto de cordas de Grażyna
Bacewicz. Enfim, nós apresentávamos o que havia disponível aqui de música
contemporânea que conseguíamos através de Embaixadas. A princípio era
muito difícil de conseguir por que era um tipo de música que interessava a
uma pequena parcela do público. Então, apresentávamos semanalmente
essas gravações nos programa Música Viva da Rádio MEC. Nós recebíamos
na rádio também os discos com os programas do Festival Outono de
Varsóvia, que é uma coisa admirável, pois depois de um concerto a música já
era gravada e estava à disposição. 16
3.2 ENTREVISTAS
16
Em entrevista concedida à autora em 11/02/2011.
17
Em entrevista concedida à autora em 10/02/2011.
33
O compositor Edino Krieger iniciou seus estudos ainda em Brusque com seu
pai. Aos 14 anos de idade realizou um concerto em Florianópolis onde recebeu uma
bolsa para continuar seus estudos de música no Rio de Janeiro no Conservatório
Brasileiro de Música. Através da trajetória do compositor é possível perceber as
posturas ideológicas, políticas e musicais envolvendo Koellreutter e Guarnieri.
Em 1955 eu recebi uma bolsa para estudar em Londres, mas eles não davam
passagem. Então eu fiquei sabendo de uma delegação brasileira que ia para o
Festival da Juventude em Varsóvia. Eu me informei, eu era muito amigo do
Jorge Amado, do Arnaldo Estrela, esses artistas, o pessoal da esquerda
cultural brasileira. O Jorge me disse que haveria um Festival em Varsóvia,
que a passagem era bem baratinha, era um navio francês. A delegação iria
viajar na terceira classe, no porão, mas em compensação a passagem era
baratíssima. Fomos até a França, onde pegamos um trem e viajamos três
18
Em entrevista concedida à autora em 11/02/2011.
34
19
Em entrevista concedida à autora em 11/02/2011.
35
dólares. Almeida Prado passou vários anos em Paris com esse prêmio. Ele
dizia que tinha três opções, que iria comprar um pequeno apartamento para
ele, um carro zero kilômetro, ou iria para a Europa estudar. E ele optou pela
terceira hipótese e realmente foi uma experiência definitiva para a música
dele. Estudar com Messiaen que foi a maior influência dele. 20
A trajetória de Edino Krieger ainda apresenta mais uma ligação com a Polônia,
pois recebeu uma Condecoração do Governo Polonês através de um amigo polonês, o
violinista Jerzy Milewski.
22
Em entrevista concedida à autora em 10/02/2011.
37
umas das únicas saídas para a música contemporânea. Marlos Nobre é enfático ao
afirmar que Darmstadt e o serialismo afastaram o público da música contemporânea.
23
MARLOS NOBRE. Disponível em: www.marlosnobre.sites.uol.com.br. Acesso em 29/05/2011.
38
Não entrei em contato com Penderecki por que ele era júri, mas vou te contar
um segredo. Ele deixou o voto dele por escrito e se mandou. Para quem?
Para o Concerto Breve. Claro que quem ganhou foi o meu querido Almeida
Prado. Com os Pequenos Funerais Cantantes. Eu escrevi o Concerto Breve
na época que Armstrong foi para a lua, eu pensei, já que esse cara meteu o pé
na lua, tudo é possível. Então eu escrevi o final do concerto breve, que é só
cluster. O Almeida Prado foi lá em casa, quando eu toquei para ele, ele
enlouqueceu. Pediu para usar, o que vemos hoje nas cartas celestes. A
primeira Carta Celeste foi inspirada no Concerto breve. Ele ganhou o
primeiro prêmio e eu ganhei o segundo. Foi um escândalo. Estavam
presentes Mignone, Guerra-Peixe, aquela coisa mais tradicional. Foi uma
festa, o público aplaudiu por 12 minutos, mais do que a duração da obra, eu
tenho o disco original. Esses festivais no Rio de Janeiro, pareciam o
Maracanã. Uma coisa impossível hoje. Então, o Penderecki sumiu, deixou o
voto para o Concerto Breve, ele me conhecia, eu tinha encontrado com ele na
Polônia em 66, mas ele não falou comigo. Em 1970 nos encontramos em
Buenos Aires, foi quando tocou Mosaico no Teatro Colón e ele estava lá. Ele
disse “que obra, você ganhou?”. Não. Você não deveria ter saído eu disse
para ele, você deveria ter ficado lá, teria sido diferente, por que bateria o pé,
por que ele é um homem respeitado. Ele disse que não ficou por que tinha
outros compromissos. 25
Marlos Nobre atuou não somente como compositor, mas também como
24
Em entrevista concedida à autora em 10/02/2011.
25
Em entrevista concedida à autora em 10/02/2011.
39
26
GOMES, Wellington. Grupo de Compositores da Bahia: Estratégias Orquestrais. 148p. Tese
de Doutorado (Doutorado em Música) – Escola de Música da Universidade Federal da Bahia, Bahia,
2002, pg 6.
40
As pessoas pensam que fomos influenciados pela escrita polonesa, mas era
uma coincidência muito grande. Encontram-se algumas obras nossas
anteriores a 1968 usando notações semelhantes, não iguais, mas com alguma
semelhança, ao que nós chamávamos de notação proporcional,
prolongamento...28
27
GOMES, Wellington. Grupo de Compositores da Bahia: Estratégias Orquestrais. 148p. Tese
de Doutorado (Doutorado em Música) – Escola de Música da Universidade Federal da Bahia, Bahia,
2002, pg.6
28
Em entrevista concedida à autora em 02/06/2012.
29
Idem.
41
30
Em entrevista concedida à autora em 02/06/2012.
31
GOMES, Wellington. Grupo de Compositores da Bahia: Estratégias Orquestrais. 148p. Tese
de Doutorado (Doutorado em Música) – Escola de Música da Universidade Federal da Bahia, Bahia,
2002. p. 51
32
GOMES, Wellington. Grupo de Compositores da Bahia: Estratégias Orquestrais. 148p. Tese
42
33
KRIEGER, Edino. Canticum Naturale. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Música – Banco de
Partituras de Música Brasileira, 2000. p. 1. Orquestra.
444
na q
qual é posssível enco
ontrar os m
mesmos elementos utilizados pelos com
mpositoress
polo
oneses.
Exemplo 3 – E. Krieger:
K aturale. (“M
Cannticum Na Monólogo das Águass”) Divisi a
7, a 6 e a 5.
Assim como
c nas bulas
b bras como Anaklasis, Polim orpphia e Dim
de ob m ensões doo
Tem
m po e do Silêncio
S de Pendereck
ki, a comp
posição de Krieger u
utiliza símb
bolos para
a
efeittos sonoro
os como: repetir o grupo dee notas o m ais ráp
ápido posssív el; som
m
supeeragudo inndeterm in
nado; vibrrato lento com osccilação daa afinação
o; oscilatoo
lentííssim o com
m rebaixam afinação. (E
m ento da af Exemplo 4)
4
O sabiá é interpretado pela flauta (marcação 20) e seu canto tem polarização
na nota lá. (Exemplo 9)
Os motivos curtos que representam cada pássaro remetem à obra de grandes
compositores do início do século XX como Bártok (Ao ar livre) e Stravinski
(Sagração da Prim avera), justamente pelo uso dos modos. Os pássaros e alguns
animais aparecem como personagens independentes que não interagem entre si, pois
não dialogam, nem se utilizam do material temático uns dos outros. Este é um
processo comumente utilizado por Stravinski, que em suas obras utilizava-se de três
ou mais temas independentes ao mesmo tempo. O movimento não tem forma
definida. O que ocorre é uma ambientação tipicamente sonorista, um pano de fundo
47
Esta série é composta quase que em sua totalidade de sétimas maiores, cada
nota tocada no vibrafone é dobrada por algum instrumento de madeira, que segura a
nota da série criando um bloco sonoro. A partir de então todo o material sonoro
aparece junto, com a série dodecafônica nas madeiras, os acordes de quarta nos
metais e o motivo em fusas nas violas e violoncelos. O compositor desenvolve este
material, até que no compasso 34 a segunda parte (B) se inicia com uma polarização
completa em cima da nota mi, nas trompas, no trombone baixo, na tuba, na harpa, no
piano, na celesta e no sino.
No primeiro movimento, “Diálogo dos pássaros”, Krieger utiliza-se da lenda do
uirapuru. Na segunda parte, há a entrada de uma voz humana que pode ser entendida
como a representação da lenda de Iara, rainha das águas. A partir da entrada deste
canto a música assume um caráter completamente modal, polarizado na nota mi, que
aparece ora em modo lídio, ora em modo mixolídio (a mistura de modos típica da
música nordestina). A melodia é acompanhada por um ostinato da nota mi em vários
instrumentos: na harpa, no xilofone, na tuba, no grave do piano em oitavas e no
contrabaixo. A nota mi é constante e esta seção termina com uma cadência em mi
mixolídio (exemplo 14).
A partir de então (B) a massa sonora é ainda mais densa, pois todos os grupos
orquestrais estão tocando, com especial atenção para a percussão. Há uma cadência
de tímpano em fá sustenido, uma sonoridade (grave) característica dos compositores
sonoristas. A cadência de percussão leva ao terceiro e último ponto culminante deste
movimento. A partir de então o pano de fundo que estava nos metais e nas trompas,
passa a ser realizado pelas cordas enquanto as madeiras e os metais realizam
entradas rítmicas em grupos distintos, acompanhados pela percussão (Exemplo 19).
O compositor começa a diluir o material sonoro até chegar a um pianíssimo nas
cordas. A nota lá 5 no agudo da flauta é o elemento de transição para o movimento
seguinte.
cordas.
A música composta por Almeida Prado após sua chegada a Paris em 1969
será bem diferente da precedente. A constante busca de novas sonoridades e
de nova estruturação formal, a influência da moderna música européia
(especialmente da escola polonesa), que é assimilada e se incorpora à
linguagem do compositor, levam Almeida Prado a criar obra que mostra-se
perfeitamente pessoal, sem necessidade de emprego de recursos aceitos
como sinais de modernidade. 34
34
NEVES, José Maria. Música Contemporânea Brasileira. Rio de Janeiro: Contra Capa Ltda,
2008.
59
Na segunda aparição os clusters nos registros agudos vem com trilos e o coral
termina em um acorde de sol maior. A terceira aparição é talvez o trecho mais
sonorista da obra com glissandos irregulares nos registros agudos das cordas
(Exemplo 26).
Exemplo 26 – A. Prado: Am ém .
Esses efeitos não são algo herdado dos seus estudos com Nadia Boulanger ou
60
5 CONCLUSÃO
63
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Artigos
LUCAS, Marcos. A música polonesa dos anos 60-70 e sua influência na música
brasileira. Brasiliana, Rio de Janeiro, v.6, p. 2 -11, setembro 2000.
Entrevistas
Jornais
Livros
TARUSKIN, Richard. Music in the Late Twentieth Century. New York: Oxford
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VON ESCHEN, Penny. Satchmo Blows up the World. United States of America:
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Partituras
NOBRE, Marlos. Mosaico. Rio de Janeiro: Marlos Nobre Edition, 2011. Orquestra.
Teses e Dissertações