JLLjhmMbcLpzMV7dqJkrkCg
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http://doi.org/10.1590/1807-0310/2023v35e277145
Dossiê
PSICOLOGIA SOCIAL E ANTIRRACISMO:
compromisso social e político por um outro Brasil
RESUMO: Desafiadas a pensar como a branquitude se coloca como categoria de análise para a psicologia social,
duas pesquisadoras brancas tomam como pergunta disparadora de pesquisa: De que forma a branquitude se constitui
como modo de subjetivação? A fim deslocar quaisquer supostas neutralidade e universalidade, ainda presentes no
campo da psicologia social, o objetivo do estudo foi o de produzir efeitos de visibilidade nos processos de subjetivação
racistas contemporâneos. O percurso cartográfico foi movimentado pelo recurso à produção de narrativas poéticas, a
partir de vivências desde um lugar racializado das pesquisadoras. Esta estratégia metodológica buscou problematizar a
branquitude engendrada às tecnologias de subjetivação. Ao final, o estudo destaca a universalidade, a invisibilidade e os
pactos narcísicos entre as dimensões do racismo, que sinalizam a urgência de refletirmos acerca destas posições para a
invenção de práticas antirracistas a comporem o porvir da psicologia.
PALAVRAS-CHAVE: Racismo; Branquitude; Colonialidade; Narrativas; Achille Mbembe.
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RESUMEN: Desafiado a pensar sobre cómo la blanquitud es una categoría de análisis para la psicología social, un par
de investigadoras blancas formulan la siguiente pregunta de investigación: ¿Cómo se constituye la blanquitud como
modo de subjetivación? Para desplazar cualquier supuesta neutralidad y universalidad, aún presente en el campo de
la psicología social, el objetivo del estudio fue producir efectos de visibilidad en los procesos de subjetivación racistas
contemporáneos. El recorrido cartográfico fue impulsado por el uso de la producción de narrativas poéticas, basadas en
las experiencias de los investigadores desde un lugar racializado. Esta estrategia metodológica buscó problematizar la
blanquitud engendrada por las tecnologías de subjetivación. Al final, el estudio destaca la universalidad, la invisibilidad
y los pactos narcisistas entre las dimensiones del racismo, que señalan la urgencia de reflexionar sobre estas posiciones
para la invención de prácticas antirracistas que formen el futuro de la psicología.
PALABRAS CLAVE: Racismo; Blanquitud; Colonialidad; Narrativas; Achille Mbembe.
ABSTRACT: Challenged to think about how whiteness is a category of analysis for social psychology, two white
researchers take the following research question as the trigger: How whiteness is constituted as a mode of subjectivation?
In order to displace any supposed neutrality and universality, still present in the field of social psychology, the aim of
the study was to produce visibility effects in contemporary racist subjectivation processes. The cartographic journey
was driven by the use of the production of poetic narratives, based on the researchers’ experiences from a racialized
place. This methodological strategy sought to problematize the whiteness engendered by subjectivation technologies.
In the end, the study highlights the universality, invisibility, and narcissistic pacts between the dimensions of racism,
which signal the urgency of reflecting on these positions for the invention of anti-racist practices to form the future
of psychology.
KEYWORDS: Racism; Whiteness; Coloniality; Narratives; Achille Mbembe.
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Quem conta histórias? Um ser invisível que fala de algum lugar sem estar em
nenhum? E quais são suas possibilidades de enunciação? As questões que expomos estão
posicionadas tradicionalmente em relação à vida acadêmica quando aprendemos que, ao
pesquisar, não podemos usar os pronomes “eu”, menos ainda “nós”, ou qualquer outra coisa
que denote pessoalidade. Tais interrogações passam a ressoar novamente ao encontrar
algumas das críticas oriundas de diversos movimentos que contestam o paradigma
científico e eurocêntrico, principalmente nas suas pretensões de neutralidade, objetividade
e universalidade. Em nossos posicionamentos frente à produção de conhecimento no
campo da psicologia social, os quais se assentam nos estudos críticos da branquitude,
na filosofia da diferença e no pensamento crítico decolonial, assumimos a convergência
de problematizações que aludem ao ato de pesquisar e ao lugar do pesquisador. Esses
questionamentos são relativos às condições de enunciação, ao lugar que o pesquisador
ocupa no sistema-mundo patriarcal, capitalista, colonial e moderno. A crítica produzida
pelos estudos decoloniais às ciências ocidentais pousa naquilo que a academia, em suas
intenções de estabelecer um marco zero, suposto ponto de partida de todos os saberes,
remeteria a uma “objetividade” e uma “neutralidade”, produzindo a invisibilidade do lócus
de enunciação de quem e de onde se fala (Grosfoguel, 2007).
A crítica feita pelo pensamento decolonial às referidas pretensões fundantes das ciências
(inclusive no campo da psicologia), aliada às críticas ao positivismo inscritas na esteira de
modalidades de pesquisa que problematizam a relação pesquisador e ato de pesquisar,
sedimentaram o propósito desta pesquisa, que toma os estudos sobre a branquitude como
fio condutor. Nesse sentindo, cabe destacar a contribuição do institucionalista René Lourau
(1993) que, ao forjar o conceito-ferramenta da análise de implicações, alerta que o cientista
infere os seus próprios valores da sua prática científica, tornando noções de “objetividade”
e “neutralidade” insustentáveis na prática de pesquisa científica.
Alinhada às compreensões do autor institucionalista, a pesquisa que dá origem ao
artigo aqui apresentado apostou na produção de narrativas baseadas em experiências
e memórias como estratégia metodológica, buscando visibilizar e problematizar a
branquitude engendrada às tecnologias de subjetivação contemporâneas. O investimento
no método da narrativa que se dá entre memórias e experiências como estratégia ética,
estética e política convocou o encontro entre a escrita e a dimensão sensível, o qual,
consequentemente, profana resquícios de neutralidade e assepsia que outrora foram tão
caros à produção científica e acadêmica. Levamos a escrita ao mergulho com todos os afetos
que atravessavam nossos corpos, deslocando o cânone/colonizador em nós para abri-lo
ao contágio com o mundo e à criação de outros possíveis. Tratou-se de enfrentar tudo
o que embrutece a escrita. Logo, os personagens das narrativas emergem dos encontros
que marcam a problematização de posicionalidade enquanto pertencente à branquitude
em que uma ficção “fia mundos onde a confiança ultrapassa a fidedignidade sem perder a
realidade” (Costa, 2014, p. 553).
Por consequência, acreditamos na potência desestabilizadora de tal problematização,
naquilo que concerne às posições tradicionalmente auto idênticas, incorpóreas,
transcendentes, universais que permeiam a experiência subjetiva de ser branco em
uma sociedade colonial e racista. A marcação de posicionalidade articulou-se direta e
estrategicamente aos nossos objetivos: fazer-se ver para contestar o que perversamente
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A branquitude é entendida como uma posição em que sujeitos que ocupam essa
posição foram sistematicamente privilegiados no que diz respeito ao acesso a
recursos materiais e simbólicos, gerados inicialmente pelo colonialismo e pelo
imperialismo, e que se mantêm e são preservados na contemporaneidade.
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Ao analisar o conceito de branquitude, entende-se que ele vem a nomear um dos efeitos
produzidos historicamente em sociedades hierarquizadas racialmente pela intervenção
colonizadora (Bento, 2003; Jesus, 2017; Nascimento, 2016). A partir da espoliação de
territórios e da imposição racial e hierárquica do colonizador europeu, Achille Mbembe
(2018) sinaliza que no pensamento europeu, a concepção de sujeito constitui-se através de
seu próprio espelho, a partir de si mesmo. Na contrapartida dessa autoficção, negro e raça
passam a operar como sinônimos no imaginário de sociedades europeias. Tal lógica, frente
ao diferente de si, estabelece uma série de perturbações que vão aparecendo nos discursos
modernos sobre o homem (inclusive nos parâmetros de “humanismo” e “humanidade”)
constituindo-se como um complexo nuclear em que o conhecimento moderno emerge. Daí
se origina não apenas um projeto moderno de conhecimento no início do século XVIII,
mas também condições para a constituição de um projeto de governo.
Pesquisadora/es brasileira/os comprometida/os com esse debate apontam que os
Estados Unidos se constituem como pioneiros nos estudos sobre branquitude na década de
1990, e designam a área como critical whiteness studies. Os estudos críticos da branquitude,
naquele contexto, davam conta de estabelecer seu foco no centro do que constituía a
noção de raça. Os olhares deslocaram-se dos “outros” racializados e passaram a visibilizar
quem, até então, ficou isento de análises críticas: os sujeitos brancos. Os estudos sobre
branquitude reúnem, hoje, os Estados Unidos, Inglaterra, África do Sul, Austrália e Brasil
como os principais países dedicados a esse debate (Cardoso, 2010; Schucman, 2014).
Segundo Luciana Alves (2010), foi recorrente o foco dos estudos das relações raciais
sobre o “outro”, assim entendidos os sujeitos negros, deixando de lado a problematização
daquele que depende, em grande medida, da diferença para constituir-se fora dela. De
acordo com Maria Aparecida Bento (2003), o apagamento dos sujeitos brancos sobre as
suas condições e lócus de enunciação é histórico:
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Segundo Schucman (2012), o intuito dos trabalhos sobre branquitude é o de fazer com
que ela se confronte com a própria ausência nos estudos sobre relações raciais. Ausência
esta que fortaleceu, durante muito tempo, a noção de que só quem tem raça é o negro. Bento
(2003) traz o aspecto sobre essa ausência de análise sobre o branco, aparecendo apenas
como modelo universal de humanidade, que causaria desejo e inveja em não-brancos, esses
últimos encarados como não humanos.
Lourenço Cardoso (2008) explica que, muito antes desse conceito emergir, já existiam
intelectuais ocupados em pensar a problemática da responsabilização de sujeitos brancos
no quadro de desigualdades raciais, tanto no Brasil quanto em outros contextos com
histórico de feridas decorrentes da colonização europeia. Priscila da Silva (2017) e Cardoso
(2010) trazem W. E. B. Du Bois, Frantz Fanon, Albert Memmi, Steve Biko e, já em 1957,
o brasileiro Alberto Guerreiro Ramos como precursores dos estudos sobre branquitude.
Assim, ressaltam que, ainda que situados em diferentes países, tais intelectuais investiam
um olhar sobre os efeitos da colonização e do racismo incidentes não somente sobre corpos
negros, mas, sobretudo, sobre corpos brancos.
O conceito de branquitude, portanto, vem produzindo problematizações acerca
da ficção de sujeito universal estabelecida pela modernidade como uma noção tão bem
conhecida e naturalizada. Como consequência, o debate garante a visibilidade sobre os
jogos de forças presentes nos modos de constituição de si e do mundo, entrando em
evidência não apenas a desnaturalização de verdades, mas, sobretudo, as possibilidades de
criação e de ruptura a partir de tais lógicas.
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O fio condutor que nos leva às memórias, personagens e lugares, certamente é: onde
pisam os pés? Ao pensarmos no ponto de partida para a escrita, Conceição Evaristo
também muito inspira a contar memórias ficcionando-as. Para Evaristo, todas as histórias
são inventadas, “mesmo as reais quando são contadas.” (Evaristo, 2016, p. 7). Inspirando
uma escrita a partir de corpo e memórias, encontramos na autora um modo de fiar
mundos, assumindo o que circunda uma posição corpo-política e seus efeitos sociais, de
modo que as memórias acabam por traçar narrativas de uma vivência em função de tais
posições. Na artesania deste estudo, o encontro com Evaristo produziu questões que nos
ajudaram a pensar na marcação de nossos corpos brancos em uma estratégia metodológica,
epistêmica e política. É justamente a experiência vivida e coletiva que alimenta os modos
de “escreviver”, termo cunhado por Conceição para designar uma escrita implicada.
Por meio de narrativas advindas de corpo e memória apostamos que elas pudessem
exprimir elementos da constituição desse lugar racial branco contemporâneo, produzindo
subjetividades e insuflando, com elas, diferentes expressões de racismo. A estratégia de
texto utilizada na pesquisa foi a construção de personagens inventados, mas construídos a
partir de recortes realísticos. Inspiradas na proposição de Jessé Souza (2018) em seu estudo
acerca da “Classe Média no Espelho”, foram construídas quatro personagens que partem
de uma ideia concreta – experiências vividas pela primeira autora, pessoas encontradas,
relatos vivos de sujeitos escutados ou retirados da literatura – apesar do fato de que tudo
o que consta nestas narrativas “tenha sido efetivamente relatado por alguém, nenhum
desses tipos existiu de fato enquanto indivíduo singular” (Souza, 2018, p. 21).
Na construção de narrativas advindas de experiências, portanto, como é o caso desta
pesquisa, o real não triunfa sobre o falso. Segundo Luís Artur Costa (2014, p. 553): “O
sentido é a alforria da narrativa perante as ancoragens do juízo. No entanto, tal leveza
diante do falso e do verdadeiro não faz dessas narrativas algo menos verdadeiro: há a
realidade dos sentidos afirmados”. Por conseguinte, a narrativa é uma realidade em si,
produzindo mundos. A invenção das personagens coloca em jogo uma série de operações
de visibilidade e enunciação acerca do que se quis problematizar nesta narrativa: a
branquitude.
Quem está a contar histórias? É a pergunta que segue ressoando. A fim de desdobrá-
la, seguimos com um recorte da pesquisa que este artigo sintetiza, composto por uma das
personagens criadas a partir das experimentações localizadas no contexto acadêmico de
formação em psicologia no sul do Brasil.
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As vozes se enfurecem.
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– Não se pode ter tudo o que se quer. A vida é assim, ela frustra a gente.
– Eu acho que vocês não entenderam. Se ela fosse branca, ela poderia ser. Acho
que foi isso o que as colegas queriam dizer. Mas isso não quer dizer que ela nunca
mais será feliz na vida.
– Eu não vejo cor nas pessoas, então acho que é só uma questão de que as colegas
da menina fossem melhores que ela e por isso foram escolhidas nessa brincadeira.
E eu falo isso porque realmente não vejo cor nas pessoas, somos todos iguais.
Prova disso é que minha irmã namora um homem negro há cinco anos e ele
sempre é bem recebido lá em casa.
– Acho que não podemos ser radicais. Na verdade, ela entende que não pode ser
paquita e vai fazer outra coisa. Esqueceram que ela começa a tirar fotos depois de
entender que não pode ser paquita?
– Acho que a personagem é muito mais bem resolvida do que a gente aqui fazendo
essa discussão.
– Há muito tempo, os gays não podiam sair na rua e demonstrar afeto. Hoje as
coisas estão muito melhores. Assim como as mulheres, existe uma grande luta
contra a violência doméstica, contra o machismo. Hoje, os homens estão mais
sensíveis porque estamos conseguindo desconstruir o machismo que também os
prejudica. E as coisas mudaram tanto que até a empregada da família negra, no
curta-metragem, era branca.
– Eu acho que nos anos oitenta tinha uma valorização das pessoas brancas, loiras
e de olhos azuis. E era bem excludente esse negócio de ser paquita. Eu, por
exemplo, também não poderia ser, ainda que seja branca, tenho o cabelo preto.
– É engraçado a gente estar falando disso, quando não temos nenhuma colega
negra para fazer essa discussão.
– Quem?
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Para o racista, ver um negro e não ver que ele não está lá; que ele não existe;
que ele não é outra coisa senão o ponto de fixação patológica de uma ausência de
relação. É necessário, portanto, considerar a raça como algo que se situa tanto
aquém quanto além do ser. (p. 69)
Essa cegueira encontra eco na situação colonial, sendo um desdobramento dela sobre
os modos de subjetivação contemporâneos. Cardoso (2014) debate que a cegueira da
branquitude depende do lugar que o branco colonizador designa para si na cena colonial.
Ressalta que tal lugar é atravessado por um forte investimento narcísico. O branco
colonizador estaria em um lugar “naturalmente” superior em relação ao colonizado. Essa
noção é criada com o intuito de ser assimilada pelo colonizado como um dado natural,
cabendo a ele conformar-se (Cardoso, 2014; Memmi, 2007). Desse modo, a perspectiva
colonizadora esvazia a construção histórico-cultural-econômica do antagonismo
colonizador-colonizado. O retrato do colonizador, portanto, seria o de “um ser narcísico,
enamorado pela sua própria imagem” (Cardoso, 2014, p. 35).
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Notas finais
A análise dos processos de subjetivação fez-se relevante para nossas reflexões acerca
da branquitude, na medida em que tais processos “são como uma linha de montagem
subjetiva disseminada por todo o corpo social” (Guattari & Rolnik, 2017, p. 54) que
articulam dispositivos de saber-poder servindo como mecanismos de manutenção de
modos de subjetivação coloniais.
Mergulhadas em um silêncio estranho, as palavras do pesquisador Lourenço Cardoso,
em sua tese, desassossegam-nos: “O que leva o acadêmico branco a pesquisar o negro e
esquecer-se de si?” (Cardoso, 2014, p. 17). Como aprendemos com Maria Aparecida Bento,
o branco não quer discutir o legado da escravidão. Nega-se o efeito que o colonialismo
tem sobre nosso tempo e nossos corpos. Nesse sentido, o percurso de pesquisa procurou
responder à demanda urgente em contemplar a lacuna presente na produção de
conhecimento no campo da Psicologia Social, posicionando-nos contra a perpetuação de
silêncios produzidos historicamente pela branquitude, reafirmando o compromisso com a
luta antirracista.
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Nota
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ISSN 1807-0310 15
PROBLEMATIZAÇÕES ÉTICAS, ESTÉTICAS E POLÍTICAS ...
Submissão: 30/07/2023
Histórico Revisão: 02/10/2023
Aceite: 02/10/2023
ISSN 1807-0310 16