Trabalho constitucional sobre racismo

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Comentários sobre trabalho prisional e remição:

trabalho prisional - Distinção entre trabalho forçado e trabalho obrigatório: este último
faz parte da laborterapia inerente à execução da pena do condenado que necessita de
reeducação, e nada melhor do que fazê-lo por intermédio do trabalho; por outro lado, a
Constituição Federal veda a pena de trabalhos forçados (art. 5.º, XLVII, c), o que
significa não poder se exigir do preso o trabalho sob pena de castigos corporais e sem
qualquer benefício ou remuneração. Diz LUIZ VICENTE CERNICCHIARO: “Extinta a
escravatura, não faz sentido o trabalho gratuito, ainda que imposto pelo Estado,
mesmo na execução da sentença criminal. A remuneração do trabalho está
definitivamente assentada. O Direito Penal virou também a página da história. O
Código Criminal do Império estatuía no art. 46: ‘A pena de prisão com trabalho obrigará
os réus a ocuparem-se diariamente no trabalho que lhes for designado dentro do
recinto das prisões, na conformidade das sentenças e dos regulamentos policiais das
mesmas prisões’. A superação do trabalho gratuito caminha paralelamente à rejeição
do confisco de bens”

Trabalho do preso e remição: remição é o resgate da pena pelo trabalho ou estudo,


permitindo-se o abatimento do montante da condenação, periodicamente, desde que
se constate estar o preso em atividade laborativa ou estudando. O trabalho, segundo a
Lei de Execução Penal (art. 31), é obrigatório, mas não forçado. Deve trabalhar o
condenado que almejar conseguir benefícios durante o cumprimento da pena, pois a
sua recusa pode configurar falta grave (art. 51, III, c/c art. 39, V, da Lei de Execução
Penal – 7.210/1984) e, consequentemente, o impedimento à progressão de regime e ao
livramento condicional. O trabalho forçado, vedado constitucionalmente (art. 5.º,
XLVII, c), teria o condão de impelir o sentenciado à atividade laborativa, sob pena de
sofrer outras e mais severas sanções. Logo, a remição é um incentivo à laborterapia.
São requisitos para o reconhecimento da remição: a) três dias de trabalho por um dia
de pena; b) apresentar merecimento, auferido pela inexistência de registro de faltas
graves no seu prontuário; c) cumprir o mínimo de seis horas diárias (máximo de oito),
com descanso aos domingos e feriados. É viável a concessão de horário especial de
trabalho, quando o preso for designado para serviços de conservação e manutenção
do presídio (art. 33, parágrafo único, da Lei de Execução Penal); d) apresentar atestado
de trabalho fornecido pelo presídio, com presunção de veracidade; e) exercício de
trabalho reconhecido pela direção do estabelecimento prisional. Lembre-se o disposto
pela Súmula 562 do STJ: “É possível a remição de parte do tempo de execução da pena
quando o condenado, em regime fechado ou semiaberto, desempenha atividade
laborativa, ainda que extramuros”.

Banco de horas: há quem sustente a inexistência legal do banco de horas, mas ele é
justo e indispensável. A Lei de Execução Penal prevê o trabalho diário do condenado de
seis a oito horas (errou nessa disposição, justamente por deixar o tema em aberto). O
preso que trabalhar seis horas terá um dia computado para fins de remição. Ora, o
preso que trabalhar oito horas não poderá ter simplesmente um dia computado para
fins de remição, pois terá trabalhado duas horas a mais que o outro. Assim sendo,
quanto ao segundo preso, computa-se seis horas do seu trabalho de oito; reserva-se
duas horas, lançando-as no seu banco de horas; computa-se mais um dia de trabalho
(oito horas) do mesmo jeito que o anterior; acresce-se o terceiro dia de trabalho (oito
horas) da mesma maneira. Com isso, esse sentenciado terá trabalhado três dias (seis
horas cada) e mais um dia (soma das duas horas remanescentes de cada um desses
três dias).

Remição e princípio da confiança: o condenado tem não somente a obrigação de


trabalhar, quando cumpre sua pena privativa de liberdade, como possui o direito de
fazê-lo; afinal, trabalhando, consegue o desconto de dias de sua pena. O condenado
não tem a livre disposição do trabalho e da função a exercer dentro do presídio,
aguardando seja designado um posto pela Administração do estabelecimento
prisional. Se a lei prevê um mínimo de seis horas diárias de trabalho, é esta função que
deve ser repassada ao preso. Noutros termos, ele deve trabalhar pelo menos seis
horas por dia, para não ser prejudicado depois, alegando-se o não preenchimento de
requisito objetivo (seis horas mínimas por dia). O STF teve a oportunidade de decidir o
caso de condenado que trabalhou quatro horas por dia e teve a remição negada.
Avaliou sob o prisma do princípio da confiança na Administração, vale dizer, se o que
for determinado, foi cumprido, não pode implicar prejuízo. A solução dada pelo
Pretório Excelso foi justa, mas também poder-se-ia ter calculado quantas horas no
mês ele trabalhou, dividindo por seis esse total e apurando-se o número de dias a cada
seis horas. Jornada diária de 4 (quatro) horas. Cômputo para fins de remição de pena.
Admissibilidade. Jornada atribuída pela própria administração penitenciária.
Inexistência de ato de insubmissão ou de indisciplina do preso. Impossibilidade de se
desprezarem as horas trabalhadas pelo só fato de serem inferiores ao mínimo legal de
6 (seis) horas. Princípio da proteção da confiança. Recurso provido. Ordem de habeas
corpus concedida para que seja considerado, para fins de remição de pena, o total de
horas trabalhadas pelo recorrente em jornada diária inferior a 6 (seis) horas. 1. O direito
à remição pressupõe o efetivo exercício de atividades laborais ou estudantis por parte
do preso, o qual deve comprovar, de modo inequívoco, seu real envolvimento no
processo ressocializador. 2. É obrigatório o cômputo de tempo de trabalho nas
hipóteses em que o sentenciado, por determinação da administração penitenciária,
cumpra jornada inferior ao mínimo legal de 6 (seis) horas, vale dizer, em que essa
jornada não derive de ato insubmissão ou de indisciplina do preso. 3. Os princípios da
segurança jurídica e da proteção da confiança tornam indeclinável o dever estatal de
honrar o compromisso de remir a pena do sentenciado, legítima contraprestação ao
trabalho prestado por ele na forma estipulada pela administração penitenciária, sob
pena de desestímulo ao trabalho e à ressocialização. 4. Recurso provido. Ordem de
habeas corpus concedida para que seja considerado, para fins de remição de pena, o
total de horas trabalhadas pelo recorrente em jornada diária inferior a 6 (seis)

Aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM): a Recomendação do CNJ


44/2013 aponta que a aprovação no ENEM confere ao preso o equivalente a 1.200
horas de estudo, para fins de remição. É de se reconhecer não ser tarefa simples para
quem está preso, logo, algum tipo de prêmio precisaria de fato ocorrer. Nessa ótica, já
decidiu o STJ: “No caso de aprovação da paciente no ENEM (Exame Nacional do Ensino
Médio) configura aproveitamento dos estudos realizados durante a execução da pena,
conforme o art. 126 da LEP

Perda dos dias remidos e falta grave: tratava-se de jurisprudência amplamente


majoritária que o condenado, ao praticar falta grave, perdia todos os dias remidos,
iniciando-se novo cômputo a partir da data da falta. Era a aplicação literal do antigo art.
127 da Lei de Execução Penal: “O condenado que for punido por falta grave perderá o
direito ao tempo remido, começando o novo período a partir da data da infração
disciplinar”. Embora alguns sustassem haver, nesse caso, direito adquirido, ou seja,
uma vez reconhecida a remição de parte da pena, cometida a falta grave, não se
poderia perder o que já foi conquistado, aplicava-se exatamente o disposto no
mencionado art. 127 – afinal, a própria lei estipulava não haver nem direito adquirido,
nem tampouco coisa julgada material em relação ao reconhecimento do benefício.
Desde logo, vale mencionar a existência de Súmula Vinculante do Supremo Tribunal
Federal a respeito: “Súmula 9: O disposto no art. 127 da Lei 7.210/1984 (Lei de
Execução Penal) foi recebido pela ordem constitucional vigente, e não se lhe aplica o
limite temporal previsto no caput do art. 58”. A questão encontra-se, agora, regulada
pela nova redação ao referido art. 127, dada pela Lei 12.433/2011, fixando-se o máximo
de 1/3 (“até 1/3”) para a perda dos dias remidos em caso de falta grave. Em nossa
visão, há erro nessa previsão, pois o tempo de perda deveria ser certo e não subjetivo e
vago. Ao mencionar até um terço, abre-se a possibilidade de haver decretação de um
único dia, para uns, como o montante de um terço (máximo), para outros. Não vemos
justiça nisso.

Momento para a decretação da perda dos dias remidos: deve ocorrer após sindicância
no presídio, garantindo-se ao preso a ampla defesa. Atualmente, não perde o
sentenciado todos os dias remidos, em caso de falta grave, mas somente o montante
de até um terço, devendo o juiz motivar o quantum escolhido.

Fuga e tentativa de fuga para efeito de remição: enquanto a fuga é considerada falta
grave e acarreta a perda dos dias remidos, a tentativa de fuga não faz perder a remição
conseguida, pela inaplicação do disposto no art. 49, parágrafo único, da LEP (“pune-se
a tentativa com a sanção correspondente à falta consumada”), pois não é falta grave –
para fins penais.
Inexistência de oportunidade de trabalho ou estudo no presídio: tem-se apontado não
caber a remição, pois a lei é clara, exigindo o efetivo trabalho ou frequência escolar
para a redenção da pena. Essa seria a solução técnica correta, vedando-se a
denominada reincidência ficta. Porém, no Brasil, acompanhando-se o imenso descaso
dos governantes no tocante aos presídios, preferindo retirar o trabalho do preso,
terceirizando tudo o que é possível, como sustentar tal posição? A política criminal há
de determinar um caminho para o preso que deseja trabalhar ou estudar e não pode
porque o Estado não permite. Aliás, por que o Executivo prefere terceirizar os serviços
de cozinha, lavanderia, limpeza e consertos no presídio, dentre outros? Diz-se ser
medida de economia, mas o cumprimento de pena não deve ser valorado em termos
de gastos reduzidos, pois isso acarreta a frustração da ressocialização dos
condenados, gerando, no futuro, o incremento da criminalidade. Há quem aponte
como erro a decisão judicial que permite a remição do preso pela leitura de um livro
(em alguns casos, sem a conferência de ter sido eficiente o resultado da referida
leitura), mas é uma alternativa para a omissão do Estado, que deveria proporcionar
mecanismos eficientes de trabalho e estudo. Em suma, somos obrigados a alterar
nossa posição para defender a possibilidade de remição, caso a administração
penitenciária não proporcione trabalho ou estudo

Preso provisório e direito à remição: havia, basicamente, duas correntes opostas nesse
tema: a) admitia-se a remição porque o art. 2.º, parágrafo único, da Lei de Execução
Penal determina que o disposto nessa lei seja também aplicado aos presos
provisórios, incluindo, pois, o direito à remição. Por outro lado, aplicava-se o disposto
no art. 31, parágrafo único, da LEP: “Para o preso provisório, o trabalho não é
obrigatório e só poderá ser executado no interior do estabelecimento”; b) não se
admitia a remição porque seria um autêntico bis in idem diante da detração, que já é o
benefício para quem está preso provisoriamente, além do que o art. 126 da LEP diz que
a remição só cabe a condenado. Atualmente, a questão está superada pela edição da
Lei 12.433/2011, deixando claro o direito do preso provisório à remição (art. 126, § 7.º,
LEP). E o fez com justiça, pois já se consagrou o direito à execução provisória da pena,
não tendo cabimento algum se impedir o trabalho do segregado; se ele pode progredir
de regime, por óbvio, pode (e deve) trabalhar para mostrar merecimento.

Remição pelo estudo: após intenso debate doutrinário e jurisprudencial, a Lei


12.433/2011 instituiu a remição pelo estudo voltada a quem cumpre pena em regime
fechado ou semiaberto. Far-se-á à razão de um dia de pena a cada doze horas de
frequência escolar (atividade de ensino fundamental, médio, inclusive
profissionalizante ou superior, bem como requalificação profissional), podendo-se
conjugar com o trabalho (um dia de pena a cada três de trabalho). A Lei 13.163/2015
torna obrigatório o oferecimento do ensino médio nos presídios. Devemos acreditar
que isso será feito, sem se basear no descaso do Executivo com o sistema carcerário.
Afinal, lei por lei, a própria Lei de Execução Penal não é cumprida há anos, conforme o
seu literal ordenamento. Se o preso concluir o ensino fundamental, médio ou superior,
tem direito a um acréscimo de um terço. Permanece a possibilidade de revogar a
remição concedida, em caso de falta grave, mas limitada a um terço, o que também
era uma bandeira defendida pela doutrina majoritária. Acrescentou-se, nitidamente,
que o tempo remido será computado como pena cumprida, para todos os efeitos,
outra posição sustentada doutrinária e jurisprudencialmente. Restou claro, ainda,
caber remição ao preso provisório. Em linhas gerais, a lei trouxe avanços para o
cenário da remição. Alguns pontos, lançados pela novel lei, ficam na obscuridade: a) o
preso impossibilitado de trabalhar ou estudar, por acidente, continua a se beneficiar
da remição (art. 126, § 4.º, LEP). Que tipo de acidente? Se for provocado pelo próprio
preso, vale o desconto do tempo de prisão?; b) o estudo precisa ter algum resultado? A
mera frequência, sem aproveitamento algum, proporciona a remição?; c) o
condenado, em regime aberto e em liberdade condicional, pode remir a pena pelo
estudo (art. 126, § 6.º, LEP) em que amplitude? Quanto ao “acidente”, a questão
deveria ter ficado bem clara, inserindo-se na lei a que tipo se refere e em que moldes.
Do contrário, a abertura pode dar margem a tergiversações. No tocante ao estudo, o
mínimo que se demanda é haver algum resultado, pois somente a frequência não
significa progresso. Nesse cenário, espera-se que o Executivo fiscalize corretamente o
desenvolvimento do estudo do preso, cortando da sala de aula quem ali se encontra
apenas para marcar presença. Por fim, a possibilidade de remir a pena pelo estudo no
regime aberto ou em livramento condicional afronta a lógica, visto ser obrigação do
sentenciado trabalhar honestamente quando estiver inserido nesses sistemas de
cumprimento da pena. Logo, deveria igualmente estudar, se quiser, pois já se encontra
em situação favorável, sem direito à remição. No entanto, a jurisprudência tem sido
tolerante, bastando o atestado de frequência às aulas firmado pela entidade escolar.
Além disso, tem-se admitido, inclusive, o ensino a distância. Nesse sentido: STF:
“Recurso ordinário em habeas corpus. Execução penal. Pretensão de remição de pena
por estudo a distância. Existência de certificado de conclusão do curso. Fiscalização
deficiente do estudo por parte do estabelecimento prisional. Falha do poder público.

Benefícios previdenciários: Nos termos do art. 201 da Constituição Federal, “a


previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo
e de filiação obrigatória, observados os critérios que preservem o equilíbrio financeiro e
atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: (...) IV – salário-família e auxílio-reclusão para
os dependentes dos segurados de baixa renda”. Conforme dispõe o art. 80 da Lei
8.213/1991: “O auxílio-reclusão será devido, nas mesmas condições da pensão por
morte aos dependentes do segurado recolhido à prisão, que não receber remuneração
da empresa nem estiver em gozo de auxílio-doença, de aposentadoria ou de abono de
permanência em serviço. Parágrafo único. O requerimento do auxílio-reclusão deverá
ser instruído com certidão do efetivo recolhimento à prisão, sendo obrigatória, para a
manutenção do benefício, a apresentação de declaração de permanência na condição
de presidiário”.

Remissão: Trata-se do desconto na pena do tempo relativo ao trabalho ou estudo do


condenado, conforme a proporção prevista em lei. É um incentivo para que o
sentenciado desenvolva uma atividade laborterápica ou ingresse em curso de qualquer
nível, aperfeiçoando a sua formação. Constituindo a reeducação uma das finalidades
da pena, não há dúvida de que o trabalho e o estudo são fortes instrumentos para
tanto, impedindo a ociosidade perniciosa no cárcere. Ademais, o trabalho constitui um
dos deveres do preso

A remição somente é viável quando o sentenciado estiver nos regimes fechado e


semiaberto, pois, nessas hipóteses, como regra, deve trabalhar ou estudar no próprio
estabelecimento penitenciário. No regime aberto, não cabe remição pelo trabalho,
pois é obrigação do condenado, como condição para permanecer no mencionado
regime, o exercício de atividade laboral honesta. Entretanto, a Lei 12.433/2011 permitiu
a remição, em regime aberto, pelo estudo, como forma de incentivo ao sentenciado
para tal atividade (art. 126, § 6.º, LEP).

In verbis, dispõe o art. 126 da LEP: “o condenado que cumpre a pena em regime
fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de
execução da pena. § 1.º A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de: I
– 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar – atividade de ensino
fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de
requalificação profissional – divididas, no mínimo, em 3 (três) dias; II – 1 (um) dia de
pena a cada 3 (três) dias de trabalho. § 2.º As atividades de estudo a que se refere o §
1.º deste artigo poderão ser desenvolvidas de forma presencial ou por metodologia de
ensino a distância e deverão ser certificadas pelas autoridades educacionais
competentes dos cursos frequentados. § 3.º Para fins de cumulação dos casos de
remição, as horas diárias de trabalho e de estudo serão definidas de forma a se
compatibilizarem. § 4.º O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no
trabalho ou nos estudos continuará a beneficiar-se com a remição. § 5.º O tempo a
remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3 (um terço) no caso de
conclusão do ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena,
desde que certificada pelo órgão competente do sistema de educação. § 6.º O
condenado que cumpre pena em regime aberto ou semiaberto e o que usufrui
liberdade condicional poderão remir, pela frequência a curso de ensino regular ou de
educação profissional, parte do tempo de execução da pena ou do período de prova,
observado o disposto no inciso I do § 1.º deste artigo. § 7.º O disposto neste artigo
aplica-se às hipóteses de prisão cautelar. § 8.º A remição será declarada pelo juiz da
execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa”.
Lembre-se, com base no § 8.º suprarreferido, que o juiz declara remidos os dias de
pena, conforme o trabalho ou estudo desenvolvido. Antes, porém, deve ouvir o
Ministério Público e a defesa. Na anterior redação da lei, somente o órgão ministerial
era ouvido previamente; com razão, estendeu-se tal direito ao defensor, constituído,
dativo ou público. Privilegia-se, cada vez mais, a atuação da defesa técnica no curso
da execução penal.

Os requisitos para a remição são os seguintes: a) três dias de trabalho ou de estudo, à


razão de, pelo menos, 6 horas de trabalho por dia e, como regra, 4 horas de estudo; b)
atestado de trabalho ou frequência escolar apresentado pela direção do presídio, que
goza de presunção de veracidade; c) exercício de trabalho ou estudo reconhecido pelo
estabelecimento prisional.

Em caso da inexistência de trabalho ou estudo no presídio: se o Estado não


providencia trabalho ou estudo ao preso, falha em seu dever de manter e fazer
funcionar a contento o estabelecimento penitenciário sob seu controle e
administração. Esse vício dá ensejo à propositura do incidente de desvio de execução.
Cabe ao magistrado utilizar o seu poder de fiscalização para obrigar o órgão
competente a tomar as medidas cabíveis a suprir a deficiência. Se, nem mesmo assim
o poder público providenciasse trabalho e/ ou estudo ao preso, defendíamos não ser
possível remir a pena, pois seria a aceitação da remissão ficta. O Judiciário, de um
modo geral, não vem concedendo remição a quem não trabalha ou não estuda,
mesmo que a culpa seja exclusiva do Poder Público. No entanto, os anos passam, a lei
não é cumprida pelos órgãos estatais e a responsabilidade não é do sentenciado.

Portanto, na ótica da política criminal adotada pela Lei de Execução Penal,


incentivando a ressocialização, somos levados a alterar o nosso entendimento. Se o
condenado quer trabalhar ou estudar e o Estado não lhe proporciona nem um nem
outro, deve ter direito à remição a cada três dias em que ficar à disposição da direção
do presídio para tal finalidade. É preciso dar um basta na indiferença do Poder
Executivo em relação à comunidade que não lhe proporciona votos (os condenados).
Aliás, confira-se o disposto na Lei 13.163/2015, que torna obrigatória a oferta de ensino
médio nos presídios. Em decisão promissora, o Superior Tribunal de Justiça, por
unanimidade, reconheceu a viabilidade de computar a remição, mesmo sem ter o
sentenciado efetivamente trabalhado, em decorrência das restrições impostas pela
pandemia da Covid-19. Outras soluções equivalentes poderão ser tomadas no futuro,
pois os órgãos de administração penitenciária deixam de cumprir a lei, omitindo-se em
proporcionar trabalho e/ou estudo ao condenado. Conferir: “Com efeito, entendo que
o princípio da dignidade da pessoa humana conjugado com os princípios da isonomia e
da fraternidade (este último tão bem trabalhado pelo em. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca) não permitem negar aos indivíduos que tiveram seus trabalhos ou estudos
interrompidos pela superveniência da pandemia de Covid-19 o direito de remitir parte
da sua pena tão somente por estarem privados de liberdade. Não se observa nenhum
discrímen legítimo que autorize negar àqueles presos que já trabalhavam ou
estudavam o direito de remitir a pena durante as medidas sanitárias restritivas. (...)
Nada obstante a interpretação restritiva que deve ser conferida ao art. 126, § 4º, da
LEP, os princípios da individualização da pena, da dignidade da pessoa humana, da
isonomia e da fraternidade, ao lado da teoria da derrotabilidade da norma e da
situação excepcionalíssima da pandemia de Covid-19, impõem o cômputo do per

Quanto ao tempo de estudo, prevê-se o período de 12 horas para a obtenção de um dia


de remição da pena. O montante leva em consideração a partilha de 4 horas por dia
(carga horária normal de estudo diário de muitos cursos), o que significa, como se faz
no tocante ao trabalho, três dias de estudo para um dia de pena. Nada impede,
entretanto, outra divisão de carga horária, desde que se atinja 12 horas para remir um
dia de pena. Admitem-se variados graus de estudo, desde o fundamental (estágio
inicial) até o superior (estágio final). Há informes, inclusive, da inauguração de unidade
de ensino superior em estabelecimento penitenciário no Brasil, após a edição da Lei
12.433/2011.

A falta de lugares apropriados para o sentenciado desenvolver atividades laborativas


ou estudar não autoriza a ampliação do significado desses termos, de modo a abranger
ações incompatíveis com o objetivo da remição. Trabalhar e/ou estudar confere ao
condenado a oportunidade de adquirir novas habilidades e aprimorar o seu
conhecimento, permitindo a sua ressocialização com maior facilidade. As atividades
de lazer ou a prática de esportes, embora sejam positivas para o cenário da
reeducação, não podem ser consideradas para efeito de remição.

Ainda no tocante ao tempo de trabalho, deve o condenado desenvolver três dias de


trabalho para obter o desconto de um dia de pena. O dia trabalhado deve ter, no
mínimo, seis horas e, no máximo, oito, com descanso aos domingos e feriados (art. 33,
caput, LEP). Note-se ser o período-base para o dia de trabalho computado para a
remição o montante de seis horas. Se o condenado trabalhar oito, duas horas devem
ficar anotadas8 em sua ficha para posterior utilização, ao formar outras seis horas.
Além disso, é viável o estabelecimento de horário especial de trabalho, conforme as
peculiaridades do caso concreto, como, por exemplo, para serviços de conservação e
manutenção do presídio (art. 33, parágrafo único, LEP). Ilustrando, se o sentenciado
trabalhar em turno de 12 horas num dia, para cuidar da alimentação dos presos, na
cozinha, deve ser considerado o montante de dois dias trabalhados. Naturalmente,
para esse sistema, ele trabalha 12 horas num dia e folga em outro.
É importante mencionar a decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal a respeito da
contagem de tempo para remição, pelo trabalho, em quantidades inferiores a seis
horas: “Recurso ordinário constitucional. Habeas corpus. Execução Penal. Remição
(arts. 33 e 126 da Lei de Execução Penal). Trabalho do preso. Jornada diária de 4
(quatro) horas. Cômputo para fins de remição de pena. Admissibilidade. Jornada
atribuída pela própria administração penitenciária. Inexistência de ato de insubmissão
ou de indisciplina do preso. Impossibilidade de se desprezarem as horas trabalhadas
pelo só fato de serem inferiores ao mínimo legal de 6 (seis) horas. Princípio da proteção
da confiança. Recurso provido. Ordem de habeas corpus concedida para que seja
considerado, para fins de remição de pena, o total de horas trabalhadas pelo
recorrente em jornada diária inferior a 6 (seis) horas. 1. O direito à remição pressupõe o
efetivo exercício de atividades laborais ou estudantis por parte do preso, o qual deve
comprovar, de modo inequívoco, seu real envolvimento no processo ressocializador. 2.
É obrigatório o cômputo de tempo de trabalho nas hipóteses em que o sentenciado,
por determinação da administração penitenciária, cumpra jornada inferior ao mínimo
legal de 6 (seis) horas, vale dizer, em que essa jornada não derive de ato de
insubmissão ou de indisciplina do preso. 3. Os princípios da segurança jurídica e da
proteção da confiança tornam indeclinável o dever estatal de honrar o compromisso
de remir a pena do sentenciado, legítima contraprestação ao trabalho prestado por ele
na forma estipulada pela administração penitenciária, sob pena de desestímulo ao
trabalho e à ressocialização. 4. Recurso provido. Ordem de habeas corpus concedida
para que seja considerado, para fins de remição de pena, o total de horas trabalhadas
pelo recorrente em jornada diária inferior a 6 (seis) horas” (RHC 136.509 – MG, 2.ª T.,
rel. Dias Toffoli, 04.04.2017, v.u.).

Sobre a compatibilidade de carga horária, embora o dispositivo preveja medida óbvia,


pois não teria sentido a cumulação de trabalho e estudo no mesmo horário, nada
melhor do que deixar bem claro. O preso pode remir sua pena pelo trabalho e pelo
estudo, concomitantemente, desde que as horas dedicadas ao trabalho não
coincidam com as horas voltadas ao estudo. Levando-se em conta o mínimo para o
trabalho (6 horas) e para o estudo (4 horas), por dia o sentenciado pode dedicar 10
horas do seu tempo para auferir a remição da pena.

Acidente do trabalho

Preceitua-se a viabilidade de computar a remição, em caso de preso acidentado, ainda


que o sentenciado não trabalhe nem estude. Tal situação ocorreria se o preso sofresse
um acidente, que o impossibilitasse a continuar laborando ou estudando. Deve-se agir
com cautela. Na hipótese de ocorrência de um acidente de trabalho, pode até ser
acolhida a ideia; porém, se qualquer tipo de acidente propiciar o ganho fácil da
remição, o sentenciado pode até mesmo provocar um evento qualquer para levá-lo a
tal situação de inaptidão para o trabalho ou estudo. Enquanto não faz absolutamente
nada, computa-se, concomitantemente, trabalho e estudo.

Sob outro aspecto, pensamos que, no mínimo, deve-se anotar em seu prontuário a
continuidade das mesmas atividades anteriormente desenvolvidas, antes do acidente,
nos termos e horários efetivados. Se o preso não trabalhava ou estudava, uma vez
acidentado, nada terá a computar em favor da remição.

Um ponto relevante a ser considerado é a possibilidade de provocação intencional de


acidente de trabalho, que se registra como falta grave (art. 50, IV, LEP). Ora, se assim
acontecer, parece-nos incabível computar-se a remição, tendo em vista a fonte do
acidente constituir uma falta. Não se deve privilegiar a má-fé.

O contexto da prisão cautelar

No tocante à prisão provisória, durante muito tempo debateu-se na jurisprudência,


antes do advento da Lei 12.433/2011, se o preso cautelar poderia valer-se da remição,
caso exercesse atividade laborativa. Aos poucos, consolidou-se o entendimento
favorável à remição, em especial porque se autorizou a execução provisória da pena.
Ora, sendo cabível até mesmo a progressão de regime – uma situação, em tese, viável
somente aos condenados – com maior razão deveria ser computada a remição.

Atualmente, o disposto no § 7.º do art. 126 da LEP consolidou o entendimento


predominante. Cabe remição ao preso provisório, tanto no campo do trabalho como no
cenário do estudo. Lembremos, no entanto, ser facultativo o trabalho ao preso cautelar
e, do mesmo modo, o estudo.

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