Teoria Geral Dos Recursos 2
Teoria Geral Dos Recursos 2
Teoria Geral Dos Recursos 2
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PRINCÍPIOS RECURSAIS:
Tal princípio, infelizmente, não tem repouso expresso na CF/88. Com efeito, não há
qualquer dispositivo que garanta, de forma explícita, o duplo grau de jurisdição na
Constituição Federal. Contudo, tendo em vista que ela disciplina e estrutura o Poder
Judiciário, dividindo-o em órgãos, inclusive, de segundo grau de jurisdição,
competentes para rever as decisões proferidas em primeiro grau de jurisdição,
implicitamente entende-se pela existência do duplo grau de jurisdição no texto
constitucional. Além disso, o duplo grau de jurisdição está previsto expressamente
no texto da CADH que, como sabemos, possui envergadura constitucional para
algumas vozes, já que faz alusão a direitos humanos.
Não percamos de mira a ideia de que o duplo grau de jurisdição não pode ser limitado
ao direito de recorrer. Para que haja atenção ao princípio, é preciso que a parte
sucumbente possa recorrer; a um outro órgão, ou seja, a órgão diverso daquele que
prolatou a decisão; que o recurso possa examinar todos os pontos da decisão
recorrida (recurso de fundamentação livre e/ou recursos ordinários (admitem reanálise
e matérias de fato e de direito)).
Dentro deste tema, muito relevante a revogação dos artigos 594 e 595 do CPP. Tais
artigos traziam que após uma sentença condenatória, a apelação a ser proposta pelo
réu somente seria admitida caso ele se recolhesse à prisão (art. 594), e tal apelação,
uma vez interposta, somente seria julgada caso o réu se mantivesse preso, ou seja,
não fugisse do cárcere (art. 595). Não custa lembrar que até pouco tempo atrás, o
CPP trazia expressamente, como efeito automático da sentença condenatória, a
expedição de mandado de prisão em desfavor do réu (agora o CPP, implicitamente,
põe a prisão como medida excepcional após a sentença condenatória – art. 387, § 1º,
do CPP). Essa antiga disciplina do CPP era reconhecida como legal pelo STJ (Súmula
09).
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b) Unirrecorribilidade:
Nos ensina que para cada decisão haverá um recurso específico, de modo que não se
admite dois recursos, simultaneamente, questionando a mesma decisão. Embora não
haja previsão expressa acerca deste princípio em nosso ordenamento processual
penal, o art. 593, § 4º, CPP, implicitamente, o homenageia. Segundo esse artigo,
“quando cabível apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda
que somente de parte da decisão se recorra”. As hipóteses que comportam Recurso
em Sentido Estrito estão presentes no art. 581 do CPP. Sabemos que a sentença de
mérito, condenatória ou absolutória, reclama apelação. Imagine, então, a seguinte
situação: em uma sentença condenatória, o Magistrado afasta o pedido de extinção da
punibilidade. Por força da unirrecorribilidade, não se admite apelação da sentença
condenatória e RESE por ter o Magistrado negado a extinção de punibilidade. Haverá
apenas a Apelação, ainda que em seu bojo venham fundamentos que, de regra,
seriam cabíveis no RESE (art. 581, IX, CPP).
Existem, no entanto, uma exceção a tal princípio. É possível que haja Recurso
Especial (STJ) e Recurso Extraordinário (STF) contra o mesmo acórdão de lavra do
TJ. Nessa situação, chamo a atenção para o art. 1031 do NCPC, que disciplina a
tramitação de ambos os recursos, que não ocorrerá concomitantemente, embora
possam ser propostos em conjunto.
c) Fungibilidade:
Tal princípio, previsto expressamente no art. 579 do CPP, ensina que um recurso
pode ser recebido e processado como se fosse outro. Assim, caso a decisão reclame
um recurso, e o recorrente, por lapso, propõe recurso diverso, esse recurso proposto
poderá ser recebido e processado como se o adequado fosse.
Esse princípio não é absoluto. O próprio CPP traz, expressamente, uma limitação a
esse princípio: a má-fé. O que seria essa “má-fé”? Para a doutrina, haveria uma
presunção de má-fé em duas situações: a) não observância do prazo do recurso
adequado. Imagine a situação da decisão reclamar apelação (prazo de 5 dias) e,
após perder o prazo, maneja-se um recurso extraordinário (prazo 15 dias) na intenção
de, através da fungibilidade, o Magistrado receber o RE como se apelação fosse.
Nesse caso, presume-se a má-fé do recorrente; b) erro grosseiro. O princípio da
fungibilidade jamais pode ser aplicado quando houver um erro grosseiro. Assim,
busca-se não homenagear o mau profissional. Erro grosseiro é aquele sobre o qual
não pairam discussões, dúvidas. Desta forma, caso um recurso seja proposto no lugar
de outro, e haja de fato uma dúvida, uma discussão sobre qual dos dois recursos de
fato seria cabível, poderemos falar em fungibilidade. Exemplo seria o recurso a ser
proposto da extinção da punibilidade à época da absolvição sumária (art. 397, IV, do
CPP). Da absolvição sumária cabe apelação, e da extinção da punibilidade cabe
RESE. Percebem? No caso, há dúvida razoável sobre o recurso adequado a ser
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proposto. Não havendo essa dúvida, o princípio não terá lugar. Sobre erro grosseiro,
interessante o Resp 611.877 (STJ).
d) Voluntariedade:
O conceito inicial proposto neste material traz, como característica dos recursos, a
voluntariedade. Ninguém pode ser obrigado a recorrer. Neste ponto, algumas
observações cruciais merecem ser feitas.
A voluntariedade dos recursos está prevista no art. 574 do CPP. Este artigo é de suma
importância para o estudo dos recursos, justamente porque ele traz hipóteses de
reexame necessário (recurso de ofício).
São casos em que o Juiz profere sua decisão, e ao final expressamente descreve que
aquela decisão ficará sujeita ao duplo grau de jurisdição.
O reexame necessário foi muito criticado no advento da CF/88, uma vez que,
entendiam alguns, violava o sistema acusatório (art. 129, I, CF), em que a iniciativa
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processual nunca deveria ficar a cargo do Magistrado. No entanto, os Tribunais
Superiores até os tempos atuais reconhecem a validade e a necessidade do reexame
necessário.
a) Sentença que conceder HC (art. 574, I, CPP): Atenção pois a sentença que
denega HC não é objeto do reexame necessário.
b) Decisão de absolvição sumária (art. 574, II, CPP): A maioria da doutrina
entende por revogada tacitamente essa hipótese. Isso porque o dispositivo legal
nos remete ao art. 411 do CPP, que antes das alterações introduzidas no ano
de 2008 (Lei 11.689) versava sobre a absolvição sumária. Ocorre que o art. 411
do CPP, atualmente, não mais trata de tal instituto. Hoje a absolvição sumária
está disciplinada nos artigos 397 e 415 do CPP.
c) Concessão de reabilitação criminal (art. 746 do CPP).
d) Absolvição ou arquivamento de IP que trata de crime contra a economia
popular ou contra a saúde pública (art. 7º da Lei 1521/51): o crime de tráfico
de drogas, muito embora atente contra a saúde pública, não se enquadra nessa
situação, vez que está previsto em Lei especial (11.343/06), onde não há
qualquer determinação de reexame necessário.
e) Sentença concessiva de MS (art. 14, § 1º, da Lei 12.016/09): tal como na
situação do HC, a sentença que denega o MS não se sujeita ao reexame
necessário.
e) Disponibilidade:
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Permite-se, ao recorrente, desistir dos recursos que propõe. A única observação
dentro deste ponto diz respeito à impossibilidade de o Ministério Público desistir dos
recursos que propõe. Essa previsão está expressamente prevista no art. 576 do CPP.
Um dos mais importantes princípios recursais. Trata da impossibilidade do réu ter sua
situação agravada em recurso exclusivo da defesa. Assim, havendo apenas recurso
da defesa, o juízo superior não pode agravar a situação do réu. Nessa toada, vale a
pena conferir o HC nº 176320 (STJ). Trata-se de um julgado proferido em um caso de
latrocínio. Em erro, possivelmente material, o Magistrado impôs regime aberto em uma
condenação pelo crime de latrocínio, cuja pena foi de 18 anos. O Ministério Público
não recorreu oportunamente da sentença, sendo que apenas o réu recorreu. Já no
Tribunal de Justiça constatou-se o erro grotesco da sentença, e o TJ/AL mudou o
regime de pena para o fechado, prejudicando assim a situação do réu. O STJ,
julgando o mérito do HC, entendeu que no caso a situação do réu não poderia ser
prejudicada com base na non reformatio in pejus.
A non reformatio in pejus encontra guarida implícita no art. 5º, LV, da CF (contraditório
e ampla defesa) e explícita nos artigos 617 e 626 do CPP.
Por non reformatio in pejus indireta temos que, decretada a nulidade processual em
recurso exclusivo da defesa, os atos processuais a serem refeitos não poderão onerar
a situação do acusado. Temos então que a non reformatio in pejus impede que a
situação do réu seja agravada no caminho natural a ser seguido pelo processo, ou
seja, entre a decisão do juízo inferior para a decisão do juízo superior. Por sua vez, a
non reformatio in pejus indireta, embora tenha o mesmo sentido básico, produzirá
efeitos quando houver uma nulidade processual, maculando então o processo de
modo que ele tenha que ser, ainda que parcialmente, refeito. Frise-se, no entanto, que
tais princípios só surtem efeitos em recurso exclusivo da defesa. Obviamente que,
havendo recurso da acusação, a situação do réu poderá ser agravada.
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Não obstante, existe uma situação em que a non reformatio in pejus, ainda que
indireta, não terá vez. Trata-se de situação em que o recurso exclusivo da defesa não
estará resguardado, de modo que poderá haver agravação da situação do réu.
Estamos falando dos julgamentos proferidos pelo Tribunal Popular do Júri.
O art. 593, III, do CPP traz as decisões do Tribunal Popular do Júri que reclamam
recurso de apelação. Embora isso seja estudado com maior propriedade dentro do
recurso de Apelação, notem desde já que a alínea “d” (decisão dos jurados
manifestamente contrária à prova dos autos) traz uma hipótese em que a decisão dos
jurados é cassada pelo Tribunal de Justiça. E, lembrando, os jurados são regidos pela
soberania dos veredictos – art. 5º, XXXVIII, CF/88.
Justamente por isso que o CPP, no § 3º, art. 593, determina que a apelação cujo
fundamento seja o erro na decisão dos jurados terá apenas o condão de desconstituir
o Júri, de modo que o réu será submetido a novo julgamento. Assim, nesta hipótese,
diferentemente das demais, o Tribunal não poderá modificar a decisão, pois se assim
fizesse, estaria violando a soberania dos veredictos. O Tribunal apenas poderá
submeter o réu a novo Júri.
Pois bem. Imaginem então que determinado réu tenha sido condenado à pena de 10
anos de reclusão pela prática de homicídio simples – art. 121 do CPB. Havendo
recurso exclusivo da defesa com base no art. 593, III, “d”, do CPP, o Tribunal, caso
entenda procedente as razões invocadas no recurso, sujeitará o réu a novo Júri. Neste
novo Júri, obviamente, não poderão atuar os jurados que formaram o Conselho de
Sentença no primeiro julgamento. Indaga-se: poderão os jurados do segundo Júri
condenarem o réu por homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I, CPB por exemplo), e o
Juiz poderá impor uma pena, por exemplo, de 14 anos de reclusão?
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haja qualificadora, a pena do delito não poderá ultrapassar a pena outrora aplicada.
De igual teor foi o julgamento do HC 89544 pelo STF.
Atentem-se, apenas, para uma exceção. Há Súmula do STF (nº 713) sustentando que
o julgamento da apelação de decisão do Júri é adstrito aos fundamentos da
interposição, ou seja, não poderá o Juízo superior analisar a favor do réu fundamentos
não sustentados na apelação. Essa posição está sedimentada no AgregHC 162481,
STJ.
g) Dialeticidade:
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PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL (JUÍZO DE PRELIBAÇÃO):
Quando se verifica a presença dos pressupostos, o recurso será conhecido. Isso não
quer dizer que o mérito foi analisado, mas sim que ele será analisado. Oportunamente,
analisando-se o mérito recursal, é que poderemos ter o provimento ou o
improvimento do recurso.
A maioria dos recursos sofrerá dois juízos de prelibação: a primeira, pelo juízo “a quo”,
e a segunda pelo juízo “ad quem”. É óbvio que a análise do Juízo “a quo” não vincula,
em hipótese alguma, a análise por parte do juízo “ad quem”. Há, porém, recursos que
a prelibação será realizada apenas uma vez. Como exemplo cito a carta
testemunhável e os embargos de declaração.
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o recurso. Não houve assim efeito substitutivo, e a decisão do TJ/RR
continua válida. No caso será o TJ/RR o competente para apreciar a revisão
criminal. No entanto, caso o STF tenha conhecido o recurso extraordinário,
poderemos ter duas situações: a) a revisão criminal seja de competência do
próprio STF, quando o motivo que justificou sua propositura seja de ordem
constitucional, já que o recurso extraordinário tem fundamentação vinculada
(ofensa constitucional). Isso porque, obviamente, o efeito substitutivo da
decisão do Supremo só abarca a matéria constitucional que foi objeto do
recurso extraordinário; b) a revisão seja julgada pelo TJ/RR, caso o
fundamento de sua interposição não tenha sido objeto de discussão no
recurso extraordinário. Obviamente que, não tendo a matéria sido discutida
no recurso extraordinário, não houve efeito substitutivo e a decisão do
TJ/RR é que terá valia na situação. Essa inteligência foi vivenciada na
RVCR 319, STJ.
Legitimidade:
Nos termos do art. 577 do CPP, estão legitimados para a proposição de recursos: o
MP, o querelante, e o réu (por seu procurador ou defensor).
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deverá prevalecer a vontade de quem quer recorrer: como vige
no processo penal a no reformatio in pejus, não haverá prejuízo na
propositura do recurso. Esta é a corrente que prevalece atualmente.
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somente lhe sendo facultado razoar o recurso proposto pelo MP. No caso, o recurso
da acusação terá duas razões, sendo uma do MP e outra do assistente. No caso,
importa destacar que o art. 271 do CPP autoriza que o assistente de acusação oferte
razões a qualquer recurso que venha a ser interposto pelo Ministério Público,
mesmo em hipótese para a qual o assistente não esteja legitimado a recorrer.
Ainda sobre o assistente de acusação, importante dizer que a regra geral contemplada
pelo CPP é que ele precisa se habilitar previamente nos autos, para exercer atos que
tem legitimidade. Tal regra é excepcionada no caso de recurso, conquanto o
assistente poderá recorrer, nas hipóteses em que estiver autorizado, ainda que não
esteja habilitado nos autos. Entende-se que, no caso, a peça de interposição vale
como um pedido implícito de habilitação. É preciso, porém, observar que, se o
assistente estiver habilitado nos autos, seus recursos deverão ser propostos nos
mesmos prazos que os legitimados gerais. Assim, por exemplo, estando habilitado nos
autos, caso devida apelar, terá o prazo de 05 dias. Contudo, não estando habilitado,
nas hipóteses legitimas o assistente terá prazo diferenciado para recorrer, ou seja, 15
dias (art. 598, p.único, do CPP). Em qualquer caso, o prazo dele somente começa a
fluir após esgotado o prazo do Ministério Público, porquanto, como dito, detém
legitimidade supletiva.
Relembro o conteúdo visto quando do estudo das prisões, no que se refere à Súmula
nº 208 do STF. É que, quando da aprovação de tal Súmula, o assistente de acusação
não tinha legitimidade para requerer a prisão preventiva. No entanto, com a reforma
do CPP de 2008, o art. 311 passou a autorizar que o assistente requeria a prisão
cautelar. De tal sorte, entende-se que a súmula em evidência está superada.
Por fim, havendo no processo mais de um crime, com vítimas distintas, cada ofendido
poderá recorrer, na qualidade de assistente, do crime que sofreu. Exemplo: em um
acidente de trânsito, três vítimas restaram lesionadas (A, B, e C). Havendo absolvição
do causador, e o Ministério Público não recorrendo, o assistente de acusação “A”
poderá recorrer apenas do crime que sofreu. Caso “B” e “C” não tenham recorrido,
provido o recurso de “A”, o autor restará condenado por apenas um crime, já que os
crimes contra “B” e “C” teriam transitado em julgado.
Interesse:
Nos termos do artigo 577, p. único, do CPP, "não se admitirá recurso da parte que
não tiver interesse na reforma ou modificação da decisão". Em resumo, é pressuposto
recursal que haja sucumbência do recorrente.
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havendo vítima determinada e, por via lógica, que possa buscar a reparação cível, não
haverá interesse do réu em apelar da absolvição, ainda que para alterar o
fundamento. Exemplo: acusado absolvido por crime de porte de arma de fogo, com
base no inciso II do art. 386 do CPP. Não terá interesse em apelar para alterar o
fundamento para o inciso I do mesmo artigo, na medida em que o crime é vago, ou
seja, sem vítima determinada, e por via de consequência, não haverá quem possa
pleitear indenização.
Discute-se ainda se o MP, após pugnar pela absolvição em alegações finais, poderá
recorrer da sentença absolutória buscando a condenação do réu (no caso de ter
mudado o Promotor de Justiça). Duas são as posições:
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de absolvição nas alegações finais, a sentença absolutória contrariaria o
pedido da denúncia, havendo, pois, sucumbência. Esta é a posição que
prevalece.
A nova sistemática processual penal, em que o Juiz deverá fixar o valor mínimo de
indenização – art. 387, IV, do CPP – abriu a possibilidade de haver uma apelação
penal voltada à discussão de matéria exclusivamente civil. Poderão propor tal recurso,
além do réu, a vítima, seja na condição de querelante ou de assistente de acusação.
Também poderá haver recurso do Ministério Público em tal sentido.
Por fim, tem prevalecido o entendimento de que o réu não tem o direito de recorrer da
sentença que extinguiu sua punibilidade, visando ser absolvido. Não concordamos
com tal posição. É que, em determinados casos, o réu poderá buscar a absolvição
para fins de coisa julgada cível, já que a extinção de sua punibilidade não basta para
impedir que a vítima busque a justiça civil para satisfação de sua pretensão.
Cabimento:
A adequação exige que o recorrente se sirva da via recursal correta para atacar a
decisão, entre todas as vias previstas em lei. Como vimos, porém, a adequação não é
de toda inflexível, em razão do que dispõe o art. 579 do CPP – fungibilidade recursal.
Tempestividade:
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Cada recurso possui um prazo legal para que seja proposto. Tais prazos são fatais,
contínuos e peremptórios, ou seja, não são interrompidos por férias, finais de semana
e feriados, nos termos do art. 798 do CPP. Além disso, uma vez perdido o prazo do
recurso, não haverá possibilidade de seu manejo.
Vimos que há recursos que podem ser interpostos pelo réu ou pelo seu defensor. A
apelação da sentença condenatória é uma dessas hipóteses. Por conta disso, por
anos vigorou o entendimento jurisprudencial (HC 74550 STJ) que previa a
necessidade de ambos (réu e defensor) serem intimados da sentença condenatória.
Atualmente, porém, a posição jurisprudencial e doutrinária foi alterada. Assim, o réu
preso deve sim ser intimado da sentença condenatória pessoalmente, e seu defensor
também deverá ser intimado. Já o réu solto, se assistido por advogado constituído,
bastará a intimação deste último. Sendo o defensor dativo ou público, estando solto o
réu, necessária será a sua intimação pessoalmente.
O defensor constituído deverá ser intimado via publicação no órgão oficial (art. 370, §
1º, do CPP), escrito ou eletrônico. O defensor dativo será intimado pessoalmente (art.
370, § 4º, CPP). Em ambos os casos, o prazo recursal para a defesa será normal.
Sendo o defensor público, porém, deverá ser intimado pessoalmente, mas gozará de
prazo em dobro (art. 44, I, LC 80/94).
Não sendo o réu localizado para ser intimado (solto, assistido por defensor dativo ou
público), deverá haver intimação editalícia, com prazo de dilação de 90 dias
(condenação igual ou maior que 01 ano de prisão), ou 60 dias (condenação a qualquer
outra pena). Já o réu preso, como vimos, necessária sua intimação pessoal, e não há
falar em intimação editalícia porquanto estará em local conhecido (presídio).
Para os casos em que a legislação exige a dupla intimação (réu e defensor), ou seja,
réu preso, ou réu solto assistido por defensor dativo ou público, o prazo recursal
começará a fluir da última intimação. O mesmo se diga para o caso de o juiz, por zelo,
decidir pela dupla intimação mesmo estando o réu solto, e assistido por defensor
constituído. É irrelevante a ordem com que as intimações serão feitas.
Não se considera transitada em julgado a sentença que deva ser submetida à dupla
intimação, e que eventualmente seja submetida apenas a uma. Assim, no caso de o
réu estar preso, ou solto, desde que assistido pela defensoria dativa ou pública,
apenas a intimação do defensor, ou apenas a do réu, não trará à sentença o trânsito
em julgado. No caso, não havendo recurso, poderá aquele que não tiver sido intimado
recorrer a qualquer tempo que tomar ciência da sentença.
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Situação que traz insegurança na doutrina é: imagine que haja intimação única, ou
seja, do defensor, em situação que devesse haver a dupla intimação. Após manejo de
recurso, o Tribunal julga o apelo. Como resolver a situação?
Tudo o que fora exposto acima deve ter aplicação em sede de Tribunal de Justiça /
TRF, em caso de acórdão proferido em competência originária. Já no caso de
competência recursal, o entendimento é diverso. Independentemente do status do réu
(preso ou solto), a intimação será feita apenas na pessoa do defensor, via publicação
na imprensa oficial (se constituído), ou pessoalmente (se dativo ou público).
O prazo recursal do Ministério Público também merece ser comentado. O art. 800, §
2º, do CPP, diz que os prazos para o Ministério Público serão contados do termo de
vista, salvo o prazo recursal. Neste caso, o prazo seria a partir da intimação pessoal.
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intimados por meio eletrônico, em portal próprio, dispensando-se a publicação no
órgão oficial, seja este escrito, seja o próprio diário eletrônico. Nesse caso, as
intimações serão consideradas realizadas no dia em que a pessoa a ser intimada
acessar a consulta eletrônica ao conteúdo da intimação, sendo isto certificado nos
autos pelo Cartório. Sendo a consulta realizada em dia não útil, considerar-se-á
realizada a intimação no primeiro dia útil.
Caso o interessado, a quem tiver sido destinada a intimação, não realizar a consulta,
será considerado intimado após o prazo de 10 dias corridos.
Diz o art. 578 do CPP que os recursos serão propostos por petição ou por termo nos
autos. Como já dito, e diferentemente do que ocorre nos recursos cíveis, alguns
recursos criminais tem por característica a possibilidade de as razões serem propostas
em momento distinto da interposição. Assim, essa proposição a que faz referência o
artigo em tela diz respeito à interposição, e não às razões do recurso.
Recurso por petição é aquele interposto na forma escrita, como uma espécie de
requerimento a ser protocolado.
Recurso por termo é aquele interposto de modo oral, a ser reduzido a termo por quem
detém fé pública.
Qualquer recurso pode ser interposto por petição. Porém, apenas alguns podem ser
interpostos por termo nos autos.
Podem ser interpostos por termo nos autos os recursos em que as razões poderão vir
em momento distinto, ou seja: Recurso em Sentido Estrito, Apelação, Agravo em
Execução, e Carta Testemunhável. Além disso, os embargos declaratórios da Lei nº
9.099/95 também podem ser propostos por termo nos autos, com a particularidade de
que as razões devem ser propostas de forma concomitante (art. 83 da Lei nº
9.099/95).
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princípio da indisponibilidade da ação penal pública, e a não apresentação das razões
seria uma espécie de desistência tácita ao recurso, o que não se admitiria – art. 576
do CPP. Além disso, argumenta-se que a não delimitação dos motivos de recorrer
comprometeria a detecção contra o que exatamente a acusação estaria se insurgindo,
assim como dificultaria a apresentação das contrarrazões pela defesa. Uma segunda
corrente sustenta que a ausência de razões do Ministério Público não impede o
conhecimento do recurso. Não seria, assim, essa omissão, uma desistência tácita.
Sustentam que o art. 601 do CPP, tratando da apelação, ensina que “findos os prazos
legais, os autos subirão ao Tribunal com as razões ou sem elas”, não especificando a
condição do apelante. Assim, exigir-se-ia apenas que o Ministério Público delimitasse
os motivos de recorrer na interposição (sob pena de não conhecimento do recurso
pela inépcia).
Há, atualmente, apenas um fato impeditivo: a renúncia. Qualquer das partes pode
renunciar ao direito que possui de propor recursos. Ora, se o Ministério Público não
está obrigado a recorrer, não há qualquer problema em ele renunciar ao direito de
recorrer.
Durante anos vingou um outro fato impeditivo: o artigo 594 do CPP previa que o réu,
para recorrer de sua sentença condenatória, deveria se recolher à prisão. Assim, caso
não se recolhesse à prisão, impedido estaria de recorrer. Tal comando foi
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expressamente revogado pela Lei 11.719/08, muito embora, na doutrina e na
jurisprudência, sua validade tenha sido questionada muito antes. Malgrado não tenha
sido revogado expressamente, o art. 585 do CPP seguiu a mesma falência apontada
para o art. 594.
O Ministério Público não pode desistir dos recursos que manejar – art. 576 do CPP.
Assim, apenas o réu, o querelante, e o assistente de acusação poderão desistir dos
recursos que vierem a propor.
A deserção também é um fato extintivo. Atualmente ela só ocorre pela falta de preparo
– art. 806, § 2º, do CPP.
Destaca-se que antigamente, o artigo 595 do CPP exigia que o réu, para ver seu
recurso contra a sentença condenatória sendo processado, deveria permanecer preso.
Assim, caso fugisse da prisão, seu recurso seria extinto. Tal situação já não mais
existe em nosso ordenamento.
Devolutivo:
Tal efeito é inerente a todos os recursos. Vale dizer que, havendo recurso, uma
situação sobre a qual já houve deliberação judicial voltará à análise do Poder
Judiciário. O importante é compreendermos a extensão da devolução.
Assim, quando o recurso for da acusação, visando agravar a situação do réu, seja ele
proposto pelo MP, pelo querelante, ou pelo assistente, o efeito devolutivo será limitado
aos fundamentos de sua interposição. A Súmula 160 do STF, inclusive, assinala não
ser possível o reconhecimento, pelo Tribunal, de nulidade absoluta contrária ao
acusado, se não for ela ventilada no recurso da acusação (excetuando os casos de
reexame necessário, em que sempre haverá devolução total da matéria).
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Entendimento diverso se dá no que se refere à reformatio in mellius. Como vimos
outrora, em recurso exclusivo da acusação o efeito devolutivo será amplo quando for
para o benefício do réu. Poderá assim o Tribunal reconhecer, a favor do réu,
argumento não debatido na insurgência da acusação.
Quando o recurso for da defesa, a regra é que o efeito devolutivo seja total. Assim,
temas não ventilados no recurso poderão (e não deverão) ser reconhecidos em favor
do acusado. É, pois, faculdade do Tribunal estender a análise para além do que tiver
sido delimitado pela defesa, não sendo demais rememorar o princípio da dialeticidade,
ou seja, há obrigação do recorrente de delimitar, e demonstrar com acuidade as
razões de seu inconformismo. A exceção fica por conta da Súmula nº 713 do STF,
que trata do efeito devolutivo na apelação interposta contra as decisões do Júri, que
será estritamente nos termos da interposição (e não das razões). É uma obrigação
que deve ser atendida por qualquer das partes. Exemplo: interposta a apelação com
base no art. 593, III, “a”, do CPP, não poderá o recorrente, por ocasião das razões,
ampliar sua insatisfação para a alínea “d”, por exemplo.
Suspensivo:
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São duas as correntes:
O art. 421 do CPP faz referência apenas aos recursos ordinários (ou seja,
RESE da pronúncia, apelação contra a impronúncia ou contra a absolvição
sumária, embargos de declaração e embargos infringentes). Com efeito, o
manejo de recurso especial e/ou extraordinário não impede a realização do
julgamento. É a atual posição do STF (HC 129694, em 16/10/18).
Regressivo:
Translativo:
Possui tal efeito o recurso cujo efeito devolutivo é total, absoluto, ou seja, entrega ao
Juízo Superior a análise de toda a matéria debatida nos autos, seja a favor ou contra a
qualquer das partes. Atualmente, apenas o reexame necessário (que para muitos
sequer é recurso) é dotado de tal efeito.
Extensivo:
Malgrado esteja dentro do capítulo destinado aos recursos, esse efeito também tem
lugar nas ações mandamentais do habeas corpus, da revisão criminal, e até mesmo
na correição parcial.
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Ressalte-se, porém, que o efeito extensivo fica condicionado que os fundamentos da
decisão não abordem questão de natureza pessoal do recorrente, visto que, se assim,
for, apenas os demais acusados que experimentem da mesma circunstância subjetiva
gozarão dos efeitos da decisão. Exemplo: “A”, “B” e “C”, respectivamente com 18, 22,
e 19 anos, praticam um crime, e estão sendo processados. Durante recurso manejado
por “A”, o Tribunal entende que o caso está prescrito, já que, quando do crime, “A” era
menor de 21 anos, e por isso o prazo prescricional contra si corre pela metade. No
caso, se “C” estiver nas mesmas condições processuais (objetivas), a decisão poderá
ser estendida a ele, já que “C” também era menor de 21 anos quando do crime. “B”,
no entanto, não experimentará os efeitos da decisão, visto que não se enquadrava nas
mesmas condições pessoais dos outros acusados, porque era maior de 21 anos na
data do crime, e o prazo prescricional contra si correrá por inteiro.
Há, ainda, em sede doutrinária, a exigência de que, para que o efeito extensivo seja
observado, o réu beneficiado pela decisão estendida deve estar no mesmo processo,
e acusado pelo mesmo crime que o recorrente (que obteve a decisão favorável no
Tribunal), em inegável concurso de agentes. Não obstante, o STJ (HC 307617,
julgado em 19/04/16) chegou a se manifestar pela possibilidade de o efeito extensivo
contemplar réu que esteja sendo processado em autos distintos, desde que,
obviamente, pelo mesmo crime.
Destaco ainda a posição de algumas doutrinas, com a qual concordo, que defende a
possibilidade do efeito extensivo em situação que não tenha havido recurso, ou seja,
enquanto os autos ainda estejam no 1º grau de jurisdição, ou mesmo em outro grau,
mas que a decisão favorável dada a um dos réus não tenha sido em recurso.
Exemplo: um dos réus pleiteia nos autos a prescrição, e o Juiz acolhe o pedido,
estendendo, de pronto, os efeitos da decisão ao outro réu nas mesmas condições
processuais e pessoais.
Caso o Tribunal não aplique o efeito extensivo quando for ele devido, poderá o réu
prejudicado propor embargos de declaração, ou mesmo partir para o habeas corpus
ou o mandado de segurança, a depender de o crime conter ou não pena privativa de
liberdade.
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