Teoria Geral Dos Recursos 2

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RECURSOS EM MATÉRIA CRIMINAL

TEORIA GERAL DOS RECURSOS

CONCEITO: Recurso é o instrumento processual voluntário de impugnação de


decisões judiciais, utilizado antes da preclusão / trânsito em julgado, em uma
mesma relação processual, objetivando modificar a decisão impugnada.

Desde já chamamos a atenção para alguns pontos importantes. São eles:

a) voluntariedade: logo mais, dentro de princípios recursais, abordaremos com


mais propriedade tal característica.
b) Antes da preclusão/transito em julgado: em processo penal, o termo recurso
pressupõe a inexistência de coisa julgada. Aqui temos um dos motivos pelos
quais, por exemplo, Habeas Corpus, Mandado de Segurança, e Revisão
Criminal são consideradas ações mandamentais e/ou autônomas. Destarte, não
é imprescindível a coisa julgada para o manejo de HC ou de MS. A revisão
criminal, por sua vez, exige a coisa julgada como requisito.
c) Mesma relação processual: para falarmos em recursos, impõe-se que a peça
processual seja alocada no mesmo caderno processual da decisão ojerizada.
Uma apelação, por exemplo, é interposta dentro dos autos em que fora
prolatada a sentença. Daqui extraímos mais uma diferença capital entre
recursos e ações mandamentais. Note que o Habeas Corpus, por exemplo, não
é interposto dentro dos autos em que consta a decisão questionada.

A ideia de recurso está intimamente ligada ao princípio constitucional do duplo grau


de jurisdição. Tem-se, neste princípio constitucional, o fundamento do direito de
recorrer. Afinal, é evidente que uma segunda análise do contexto fático-jurídico que
conduziu à decisão recorrida minimiza os riscos de uma eventual injustiça.

Fala-se, ainda, em fundamentos político e pessoal ao direito de recorrer: o primeiro


seria a necessidade, dentro do Estado Democrático de Direito, de termos uma
limitação à toda atividade estatal. Assim, é preciso que a decisão judicial possa ser
revista, a fim de minimizar os riscos de desmandos, ou seja, de má-fé. O segundo,
repousa na satisfação pessoal da parte sucumbente de tentar, até onde for possível,
brigar pelo que entende ser justo.

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PRINCÍPIOS RECURSAIS:

São vários os princípios que a doutrina atribui, exclusivamente ou não, à matéria de


recursos. Veremos os mais caros desses princípios:

a) Duplo Grau de Jurisdição:

Tal princípio, infelizmente, não tem repouso expresso na CF/88. Com efeito, não há
qualquer dispositivo que garanta, de forma explícita, o duplo grau de jurisdição na
Constituição Federal. Contudo, tendo em vista que ela disciplina e estrutura o Poder
Judiciário, dividindo-o em órgãos, inclusive, de segundo grau de jurisdição,
competentes para rever as decisões proferidas em primeiro grau de jurisdição,
implicitamente entende-se pela existência do duplo grau de jurisdição no texto
constitucional. Além disso, o duplo grau de jurisdição está previsto expressamente
no texto da CADH que, como sabemos, possui envergadura constitucional para
algumas vozes, já que faz alusão a direitos humanos.

Não percamos de mira a ideia de que o duplo grau de jurisdição não pode ser limitado
ao direito de recorrer. Para que haja atenção ao princípio, é preciso que a parte
sucumbente possa recorrer; a um outro órgão, ou seja, a órgão diverso daquele que
prolatou a decisão; que o recurso possa examinar todos os pontos da decisão
recorrida (recurso de fundamentação livre e/ou recursos ordinários (admitem reanálise
e matérias de fato e de direito)).

Dentro deste tema, muito relevante a revogação dos artigos 594 e 595 do CPP. Tais
artigos traziam que após uma sentença condenatória, a apelação a ser proposta pelo
réu somente seria admitida caso ele se recolhesse à prisão (art. 594), e tal apelação,
uma vez interposta, somente seria julgada caso o réu se mantivesse preso, ou seja,
não fugisse do cárcere (art. 595). Não custa lembrar que até pouco tempo atrás, o
CPP trazia expressamente, como efeito automático da sentença condenatória, a
expedição de mandado de prisão em desfavor do réu (agora o CPP, implicitamente,
põe a prisão como medida excepcional após a sentença condenatória – art. 387, § 1º,
do CPP). Essa antiga disciplina do CPP era reconhecida como legal pelo STJ (Súmula
09).

Tais dispositivos violavam, flagrantemente, um dos mais caros princípios do direito


processual penal: a presunção de inocência. Não obstante, também arranhavam o
princípio do duplo grau de jurisdição, visto que vinculavam a possibilidade de recurso
ao recolhimento/manutenção no cárcere. Diante disso, o STF (HC nº 88420) julgou
inconstitucionais tais artigos do CPP, e em seguida, o STJ revogou materialmente a
Súmula 09, confeccionando a Súmula 347 que vige até os dias atuais. Anos após, o
legislador revogou formalmente os artigos 594 e 595 do CPP, e passou a constar, no
art. 387, § 1º, do CPP, que a apelação independerá de o réu estar ou não na prisão.

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b) Unirrecorribilidade:

Nos ensina que para cada decisão haverá um recurso específico, de modo que não se
admite dois recursos, simultaneamente, questionando a mesma decisão. Embora não
haja previsão expressa acerca deste princípio em nosso ordenamento processual
penal, o art. 593, § 4º, CPP, implicitamente, o homenageia. Segundo esse artigo,
“quando cabível apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda
que somente de parte da decisão se recorra”. As hipóteses que comportam Recurso
em Sentido Estrito estão presentes no art. 581 do CPP. Sabemos que a sentença de
mérito, condenatória ou absolutória, reclama apelação. Imagine, então, a seguinte
situação: em uma sentença condenatória, o Magistrado afasta o pedido de extinção da
punibilidade. Por força da unirrecorribilidade, não se admite apelação da sentença
condenatória e RESE por ter o Magistrado negado a extinção de punibilidade. Haverá
apenas a Apelação, ainda que em seu bojo venham fundamentos que, de regra,
seriam cabíveis no RESE (art. 581, IX, CPP).

Existem, no entanto, uma exceção a tal princípio. É possível que haja Recurso
Especial (STJ) e Recurso Extraordinário (STF) contra o mesmo acórdão de lavra do
TJ. Nessa situação, chamo a atenção para o art. 1031 do NCPC, que disciplina a
tramitação de ambos os recursos, que não ocorrerá concomitantemente, embora
possam ser propostos em conjunto.

c) Fungibilidade:

Tal princípio, previsto expressamente no art. 579 do CPP, ensina que um recurso
pode ser recebido e processado como se fosse outro. Assim, caso a decisão reclame
um recurso, e o recorrente, por lapso, propõe recurso diverso, esse recurso proposto
poderá ser recebido e processado como se o adequado fosse.

Esse princípio não é absoluto. O próprio CPP traz, expressamente, uma limitação a
esse princípio: a má-fé. O que seria essa “má-fé”? Para a doutrina, haveria uma
presunção de má-fé em duas situações: a) não observância do prazo do recurso
adequado. Imagine a situação da decisão reclamar apelação (prazo de 5 dias) e,
após perder o prazo, maneja-se um recurso extraordinário (prazo 15 dias) na intenção
de, através da fungibilidade, o Magistrado receber o RE como se apelação fosse.
Nesse caso, presume-se a má-fé do recorrente; b) erro grosseiro. O princípio da
fungibilidade jamais pode ser aplicado quando houver um erro grosseiro. Assim,
busca-se não homenagear o mau profissional. Erro grosseiro é aquele sobre o qual
não pairam discussões, dúvidas. Desta forma, caso um recurso seja proposto no lugar
de outro, e haja de fato uma dúvida, uma discussão sobre qual dos dois recursos de
fato seria cabível, poderemos falar em fungibilidade. Exemplo seria o recurso a ser
proposto da extinção da punibilidade à época da absolvição sumária (art. 397, IV, do
CPP). Da absolvição sumária cabe apelação, e da extinção da punibilidade cabe
RESE. Percebem? No caso, há dúvida razoável sobre o recurso adequado a ser

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proposto. Não havendo essa dúvida, o princípio não terá lugar. Sobre erro grosseiro,
interessante o Resp 611.877 (STJ).

Observação importante: caso o Magistrado acolha o recurso manejado, com base no


princípio da fungibilidade, ele necessariamente dará a ele o processamento do recurso
que deveria ter sido proposto. Exemplo: a decisão reclama recurso de Apelação, e o
recurso proposto é um RESE. O Magistrado receberá o RESE como se Apelação
fosse, e dará a ele o processamento da Apelação.

Convolação: Diferente do que ocorre na fungibilidade, na convolação o recorrente


maneja o recurso (ou ação mandamental) de forma correta. No entanto, por um ou
outro motivo, o Magistrado transforma o recurso em outro, a fim de beneficiar o
recorrente. Vejamos um exemplo trazido pela doutrina: determinado condenado, com
trânsito em julgado, tem contra si expedido mandado de prisão. Ocorre que uma
nulidade absoluta é vislumbrada no processo que o condenou, e por isso seu
advogado maneja uma revisão criminal. Essa providência está correta, visto que, com
o trânsito em julgado, cabível a revisão. No entanto, como há mandado de prisão
expedido, e a nulidade também dá azo à propositura de HC (art. 648 CPP), poderá o
Magistrado receber a petição de revisão como se HC fosse, visto que o
processamento deste último é muito mais célere. Assim, na convolação,
diferentemente do que ocorre na fungibilidade, o recurso proposto não está
equivocado. Ele apenas é convertido em outro que será melhor para o réu. A título de
exemplo na jurisprudência sobre a convolação, veja o RHC nº 26070, STJ.

d) Voluntariedade:

O conceito inicial proposto neste material traz, como característica dos recursos, a
voluntariedade. Ninguém pode ser obrigado a recorrer. Neste ponto, algumas
observações cruciais merecem ser feitas.

Questão interessante é a obrigatoriedade (ou não) do Defensor Público e do Defensor


Dativo recorrerem em favor de seus assistidos. Algumas doutrinas mais clássicas
trazem ainda que ambos são obrigados a recorrer. No entanto, não é essa a
orientação que prevalece nos Tribunais Superiores. Sobre o tema, STF HC nº 93120,
e STJ HC nº 105845.

A voluntariedade dos recursos está prevista no art. 574 do CPP. Este artigo é de suma
importância para o estudo dos recursos, justamente porque ele traz hipóteses de
reexame necessário (recurso de ofício).

São casos em que o Juiz profere sua decisão, e ao final expressamente descreve que
aquela decisão ficará sujeita ao duplo grau de jurisdição.

O reexame necessário foi muito criticado no advento da CF/88, uma vez que,
entendiam alguns, violava o sistema acusatório (art. 129, I, CF), em que a iniciativa

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processual nunca deveria ficar a cargo do Magistrado. No entanto, os Tribunais
Superiores até os tempos atuais reconhecem a validade e a necessidade do reexame
necessário.

O termo reexame necessário é, atualmente, muito mais adequado e utilizado, do que


o termo recurso de ofício. Isso porque, como salientado, o recurso deve ser voluntário.
A maioria doutrinária tem o reexame necessário como uma condição de eficácia
objetiva da decisão (requisito para o trânsito em julgado). Aliás, essa tese foi
sumulada pelo STF (Súmula 423).

Hipóteses de reexame necessário:

a) Sentença que conceder HC (art. 574, I, CPP): Atenção pois a sentença que
denega HC não é objeto do reexame necessário.
b) Decisão de absolvição sumária (art. 574, II, CPP): A maioria da doutrina
entende por revogada tacitamente essa hipótese. Isso porque o dispositivo legal
nos remete ao art. 411 do CPP, que antes das alterações introduzidas no ano
de 2008 (Lei 11.689) versava sobre a absolvição sumária. Ocorre que o art. 411
do CPP, atualmente, não mais trata de tal instituto. Hoje a absolvição sumária
está disciplinada nos artigos 397 e 415 do CPP.
c) Concessão de reabilitação criminal (art. 746 do CPP).
d) Absolvição ou arquivamento de IP que trata de crime contra a economia
popular ou contra a saúde pública (art. 7º da Lei 1521/51): o crime de tráfico
de drogas, muito embora atente contra a saúde pública, não se enquadra nessa
situação, vez que está previsto em Lei especial (11.343/06), onde não há
qualquer determinação de reexame necessário.
e) Sentença concessiva de MS (art. 14, § 1º, da Lei 12.016/09): tal como na
situação do HC, a sentença que denega o MS não se sujeita ao reexame
necessário.

O reexame necessário impõe a devolução total da matéria para apreciação do Juízo


superior. Essa conclusão pode ser retirada implicitamente da Súmula 160 do STF.
Assim, não há o Tribunal que acolher nulidade contrária ao réu, caso não tenha ela
sido avivada no recurso da acusação, salvo se houver reexame necessário
simultaneamente, quando então o Tribunal poderá deliberar integralmente sobre a
situação dos autos, ainda sobre o que não tenha sido objeto de recurso.

Observação: O reexame necessário justifica-se, apenas, contra decisões de juiz


singular, não sendo possível contra decisões colegiadas (câmaras ou turmas),
mesmo em processos de competência originária dos tribunais.

e) Disponibilidade:

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Permite-se, ao recorrente, desistir dos recursos que propõe. A única observação
dentro deste ponto diz respeito à impossibilidade de o Ministério Público desistir dos
recursos que propõe. Essa previsão está expressamente prevista no art. 576 do CPP.

f) Non reformatio in pejus / efeito prodrômico:

Um dos mais importantes princípios recursais. Trata da impossibilidade do réu ter sua
situação agravada em recurso exclusivo da defesa. Assim, havendo apenas recurso
da defesa, o juízo superior não pode agravar a situação do réu. Nessa toada, vale a
pena conferir o HC nº 176320 (STJ). Trata-se de um julgado proferido em um caso de
latrocínio. Em erro, possivelmente material, o Magistrado impôs regime aberto em uma
condenação pelo crime de latrocínio, cuja pena foi de 18 anos. O Ministério Público
não recorreu oportunamente da sentença, sendo que apenas o réu recorreu. Já no
Tribunal de Justiça constatou-se o erro grotesco da sentença, e o TJ/AL mudou o
regime de pena para o fechado, prejudicando assim a situação do réu. O STJ,
julgando o mérito do HC, entendeu que no caso a situação do réu não poderia ser
prejudicada com base na non reformatio in pejus.

A non reformatio in pejus encontra guarida implícita no art. 5º, LV, da CF (contraditório
e ampla defesa) e explícita nos artigos 617 e 626 do CPP.

Por non reformatio in pejus indireta temos que, decretada a nulidade processual em
recurso exclusivo da defesa, os atos processuais a serem refeitos não poderão onerar
a situação do acusado. Temos então que a non reformatio in pejus impede que a
situação do réu seja agravada no caminho natural a ser seguido pelo processo, ou
seja, entre a decisão do juízo inferior para a decisão do juízo superior. Por sua vez, a
non reformatio in pejus indireta, embora tenha o mesmo sentido básico, produzirá
efeitos quando houver uma nulidade processual, maculando então o processo de
modo que ele tenha que ser, ainda que parcialmente, refeito. Frise-se, no entanto, que
tais princípios só surtem efeitos em recurso exclusivo da defesa. Obviamente que,
havendo recurso da acusação, a situação do réu poderá ser agravada.

Questão recorrente em concursos públicos, e bastante interessante, foi objeto de


julgamento pelo STJ (HC nº 105384). Imagine a seguinte situação: após condenação
em primeiro grau, o réu recorre exclusivamente, e o Tribunal de Justiça Estadual
vislumbra nulidade absoluta em razão da matéria, declinando assim o processo para a
Justiça Federal, onde o processo recomeçará. Indaga-se: poderá haver sentença, na
Justiça Federal, impondo ao réu pena mais grave que aquela imposta antes pelo TJ?
A princípio, pensamos, a resposta é positiva, por tratar-se de nulidade absoluta,
relacionada à matéria julgada. Não parece correto que a decisão de um Juiz
absolutamente incompetente (no caso, a do Juiz estadual), após ser anulada, venha a
vincular o Juiz competente (o Federal). Contudo, com base na non reformatio in pejus
indireta o STJ reconheceu a impossibilidade da pena do réu, na Justiça Federal, ser
mais grave do que aquela imposta pela Justiça Estadual.

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Não obstante, existe uma situação em que a non reformatio in pejus, ainda que
indireta, não terá vez. Trata-se de situação em que o recurso exclusivo da defesa não
estará resguardado, de modo que poderá haver agravação da situação do réu.
Estamos falando dos julgamentos proferidos pelo Tribunal Popular do Júri.

O art. 593, III, do CPP traz as decisões do Tribunal Popular do Júri que reclamam
recurso de apelação. Embora isso seja estudado com maior propriedade dentro do
recurso de Apelação, notem desde já que a alínea “d” (decisão dos jurados
manifestamente contrária à prova dos autos) traz uma hipótese em que a decisão dos
jurados é cassada pelo Tribunal de Justiça. E, lembrando, os jurados são regidos pela
soberania dos veredictos – art. 5º, XXXVIII, CF/88.

Justamente por isso que o CPP, no § 3º, art. 593, determina que a apelação cujo
fundamento seja o erro na decisão dos jurados terá apenas o condão de desconstituir
o Júri, de modo que o réu será submetido a novo julgamento. Assim, nesta hipótese,
diferentemente das demais, o Tribunal não poderá modificar a decisão, pois se assim
fizesse, estaria violando a soberania dos veredictos. O Tribunal apenas poderá
submeter o réu a novo Júri.

Pois bem. Imaginem então que determinado réu tenha sido condenado à pena de 10
anos de reclusão pela prática de homicídio simples – art. 121 do CPB. Havendo
recurso exclusivo da defesa com base no art. 593, III, “d”, do CPP, o Tribunal, caso
entenda procedente as razões invocadas no recurso, sujeitará o réu a novo Júri. Neste
novo Júri, obviamente, não poderão atuar os jurados que formaram o Conselho de
Sentença no primeiro julgamento. Indaga-se: poderão os jurados do segundo Júri
condenarem o réu por homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I, CPB por exemplo), e o
Juiz poderá impor uma pena, por exemplo, de 14 anos de reclusão?

Para uma melhor resposta, precisamos analisar friamente o caso concreto. A


orientação majoritária ensina que, em face da soberania dos veredictos, é
perfeitamente possível que os jurados do novo julgamento impliquem qualificadoras,
causas de aumento de pena, enfim, que agravem a situação do réu em comparação à
votação dos quesitos do júri anulado. Por via reflexa, será permitido ao Juiz impor
pena mais grave do que aquela anteriormente aplicada. Porém, caso os jurados
enfrentem a quesitação tal como os jurados do primeiro julgamento enfrentaram, o
Juiz não poderá impor pena mais grave, pois ele está limitado pela no reformatio in
pejus.

Toda essa problemática pode ser visualizada em julgamentos dos Tribunais


Superiores. Vejam HC nº 73367 no STF e Resp nº 1132728 no STJ. É a posição
majoritária.

Quadra registrar, porém, que o STF tem precedente diverso. Apreciando o HC


165376, em 11/12/18, definiu que a soberania dos veredictos até permite que os
jurados condenem o réu pelo crime de homicídio qualificado. Não obstante, ainda que

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haja qualificadora, a pena do delito não poderá ultrapassar a pena outrora aplicada.
De igual teor foi o julgamento do HC 89544 pelo STF.

Encerrado esse ponto, passemos agora a discorrer sobre a reformatio in mellius.


Trata-se de princípio totalmente antagônico ao da non reformatio in pejus. Reformatio
in mellius é a possibilidade de o Juízo superior melhorar a situação do réu quando
houver recurso exclusivo da acusação. Predomina o entendimento que aceita a
possibilidade de se melhorar a situação do réu em recurso exclusivo da acusação. O
fundamento usado está contido no art. 654, § 2º, do CPP, que admite a concessão de
HC de ofício. Logo, havendo possibilidade de concessão de HC, justificada a melhora
da situação da defesa quando apenas a acusação houver recorrido. Há, entretanto,
corrente minoritária sustentando violação do efeito devolutivo recursal, e assim
posicionando-se contrariamente à reformatio in mellius.

Disse o STJ que “é admitida a reformatio in mellius em sede de recurso exclusivo da


acusação, sendo vedada somente a reformatio in pejus”. (AgRg no Resp 1.186.155,
em 18/05/16)

Aqueles que admitem a reformatio in mellius, pontuam duas situações:

 1) melhorar a situação do réu em recurso exclusivo da acusação;


 2) analisar em prol da defesa argumento não suscitado no recurso
que ela propor.

Atentem-se, apenas, para uma exceção. Há Súmula do STF (nº 713) sustentando que
o julgamento da apelação de decisão do Júri é adstrito aos fundamentos da
interposição, ou seja, não poderá o Juízo superior analisar a favor do réu fundamentos
não sustentados na apelação. Essa posição está sedimentada no AgregHC 162481,
STJ.

g) Dialeticidade:

Dialeticidade é a indicação dos fatos e do direito que levaram o sucumbente a


recorrer. O objetivo é possibilitar a contrariedade por parte do recorrido, bem como
indicar ao Tribunal as limitações da irresignação do recorrente com a decisão
recorrida.

Existem recursos que permitem a interposição em um momento, e o oferecimento de


razões em outro. Assim, vejam que o RESE e a apelação devem ser propostos no
prazo de 05 dias, via de regra (art. 586 e 593 do CPP). No entanto, devem ser
razoados no prazo de 02 dias e 08 dias, respectivamente (art. 588 e 600 do CPP).
CUIDADO: a apelação na Lei 9.099/95 (art. 82) deve ser feita no prazo de 10 dias,
sendo esse prazo único para interposição e oferecimento de razões.

Falaremos melhor sobre o tema dentro dos pressupostos recursais.

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PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL (JUÍZO DE PRELIBAÇÃO):

Todos os recursos, sem exceção, estão sujeitos à chamada prelibação. Trata-se da


análise acerca de alguns pressupostos recursais, de modo que a ausência deles
fulminará o recurso antes mesmo que haja análise do mérito, ou seja, antes mesmo
que se analise a fundamentação que levou o recorrente a manejar a peça recursal.

Quando se verifica a presença dos pressupostos, o recurso será conhecido. Isso não
quer dizer que o mérito foi analisado, mas sim que ele será analisado. Oportunamente,
analisando-se o mérito recursal, é que poderemos ter o provimento ou o
improvimento do recurso.

A maioria dos recursos sofrerá dois juízos de prelibação: a primeira, pelo juízo “a quo”,
e a segunda pelo juízo “ad quem”. É óbvio que a análise do Juízo “a quo” não vincula,
em hipótese alguma, a análise por parte do juízo “ad quem”. Há, porém, recursos que
a prelibação será realizada apenas uma vez. Como exemplo cito a carta
testemunhável e os embargos de declaração.

A ocorrência do conhecimento ou do não conhecimento de um recurso tem efeitos


práticos importantíssimos. Quando um Tribunal conhece o recurso, ainda que
posteriormente seja negado provimento posterior ao mérito, sua decisão tem o condão
de substituir a decisão do juízo “a quo” na parte impugnada. Esse é o chamado efeito
substitutivo.

A visualização desse efeito substitutivo tem uma importância relevante, sobretudo


quando estivermos discutindo a competência para apreciação da ação mandamental
revisão criminal. Vejamos exemplos:

Exemplo A: Imagine uma decisão condenatória com trânsito em julgado,


passível de revisão criminal. Tal decisão foi proferida por um Juiz Estadual
de Roraima. Como a revisão criminal é uma ação que tem competência
originária nos Tribunais, sobrará para o TJ/RR a apreciação da mesma.

Exemplo B: Quando da sentença condenatória proferida pelo mesmo


Magistrado, houve recurso de apelação ao TJ/RR que, na oportunidade,
conheceu do recurso, mas negou-lhe provimento. Aqui a competência para
apreciação da revisão criminal também será do TJ/RR (não é como no HC
que sempre é endereçado a um Juízo superior). Afinal, cabe aos tribunais o
julgamento de revisões criminais de seus julgados e dos julgados dos Juízes
que lhe são subordinados.

Exemplo C: A mesma sentença foi impugnada por apelação e


posteriormente através de recurso extraordinário ao STF, que não conheceu

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o recurso. Não houve assim efeito substitutivo, e a decisão do TJ/RR
continua válida. No caso será o TJ/RR o competente para apreciar a revisão
criminal. No entanto, caso o STF tenha conhecido o recurso extraordinário,
poderemos ter duas situações: a) a revisão criminal seja de competência do
próprio STF, quando o motivo que justificou sua propositura seja de ordem
constitucional, já que o recurso extraordinário tem fundamentação vinculada
(ofensa constitucional). Isso porque, obviamente, o efeito substitutivo da
decisão do Supremo só abarca a matéria constitucional que foi objeto do
recurso extraordinário; b) a revisão seja julgada pelo TJ/RR, caso o
fundamento de sua interposição não tenha sido objeto de discussão no
recurso extraordinário. Obviamente que, não tendo a matéria sido discutida
no recurso extraordinário, não houve efeito substitutivo e a decisão do
TJ/RR é que terá valia na situação. Essa inteligência foi vivenciada na
RVCR 319, STJ.

A doutrina processual penal convencionou dividir os pressupostos recursais em


objetivos e subjetivos.

Pressupostos Recursais Subjetivos:

 Legitimidade:

Nos termos do art. 577 do CPP, estão legitimados para a proposição de recursos: o
MP, o querelante, e o réu (por seu procurador ou defensor).

No que se refere à possibilidade de recurso pelo próprio réu, é importante destacar


que tal possibilidade diz respeito apenas aos recursos em que a interposição e o
oferecimento de razões ocorram em momentos distintos. Com efeito, o réu poderá, por
si só, interpor recursos cujas razões possam vir a ser apresentadas futuramente. Isso
porque o réu não detém capacidade postulatória, e por isso não pode oferecer razões
recursais (salvo se ele, o réu, for advogado e estiver atuando em causa própria).

Discussão importante diz respeito à divergência, entre réu e defensor, sobre a


propositura ou não do recurso. Com efeito, é possível que o réu interponha recurso, e
o defensor renuncie ao mesmo, e vice-versa. Em tal situação, o que deverá o Juiz
fazer? São três as correntes:

 deverá prevalecer a vontade do réu: entende-se que o réu pode,


inclusive, desconstituir o defensor e contratar outro que atenda seus
interesses. Seria a lógica de que "quem pode o mais pode o menos";
 deverá prevalecer a vontade do defensor: sendo ele quem detém
conhecimentos técnicos para decidir o que é melhor fazer na situação
concreta;

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 deverá prevalecer a vontade de quem quer recorrer: como vige
no processo penal a no reformatio in pejus, não haverá prejuízo na
propositura do recurso. Esta é a corrente que prevalece atualmente.

Nota-se, ainda, que o artigo em estudo silencia a respeito da possibilidade de o


assistente de acusação propor recursos. A razão de tal omissão é que o artigo 577 do
CPP prevê aqueles que podem propor qualquer recurso previsto pelo CPP. Eles são
conhecidos como legitimados gerais, ao passo que o assistente de acusação é
conhecido como legitimado restrito, já que apenas pode recorrer em casos pontuais
previstos em lei, ou seja: a) apelação da sentença (art. 598 do CPP); b) apelar da
impronúncia (art. 584, § 1º, c/c 416, c/c 598 do CPP); c) recorrer em sentido estrito da
decisão que julgar extinta a punibilidade, nos termos dos artigos 584, § 1º, c/c 598 do
CPP. Há, ainda, na doutrina, entendimento segundo o qual o assistente poderá
recorrer da absolvição sumária (art. 395 e 415 do CPP). Ora, se há legitimidade para
ele recorrer da impronúncia – que não faz coisa julgada formal -, com muito mais
razão poderá ele recorrer da absolvição sumária, que tem status de decisão definitiva.
De igual maneira, a jurisprudência dominante, inclusive do STJ, admite que o
assistente recorra da desclassificação proferida pelo Juiz, no rito do procedimento dos
crimes dolosos contra a vida (art. 419 do CPP).

Também será possível ao assistente recorrer através dos recursos destinados a


impugnar o não conhecimento dos recursos que está legitimado a propor.
Explico: caso o magistrado não conheça de determinado recurso, é possível que outra
impugnação seja feita, a fim de se discutir a decisão que não conheceu do recurso
anterior. Sendo hipótese de recurso proposto pelo assistente, em caso de não
conhecimento pelo magistrado, será possível ao assistente recorrer através da via
destinada a discutir se a decisão de não conhecimento foi correta, a despeito de não
haver previsão legal. Se assim não fosse, o direito de recorrer do assistente ficaria à
mercê do magistrado. Exemplo: após o não conhecimento da apelação proposta pelo
assistente contra a absolvição do réu, poderá o assistente propor RESE (art. 581, XV,
do CPP).

Nos termos da Súmula nº 210 do STF, poderá ainda o assistente recorrer


extraordinariamente, ou especialmente, ao STF/STJ, nos casos acima pontuados, ou
seja, nas hipóteses em que ele está autorizado a recorrer da decisão de 1º grau, caso
o conteúdo decisório seja emanado do TJ/TRF. Saliento que a súmula acima não faz
menção ao Recurso Especial pois, quando editada, tal recurso ainda não tinha
previsão legal.

O assistente de acusação tem ainda uma legitimidade supletiva, no que se refere ao


direito de recorrer. Isso porque, mesmo nas hipóteses legais em que está autorizado,
o assistente fica vinculado à ação do Ministério Público, de modo que somente é
permitido ao assistente recorrer daquilo que o MP não tenha recorrido. Assim: a)
sendo o recurso do MP parcial, ao assistente só é dado recorrer da parte não recorrida
pelo MP; b) sendo o recurso do MP integral, o assistente não poderá recorrer,

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somente lhe sendo facultado razoar o recurso proposto pelo MP. No caso, o recurso
da acusação terá duas razões, sendo uma do MP e outra do assistente. No caso,
importa destacar que o art. 271 do CPP autoriza que o assistente de acusação oferte
razões a qualquer recurso que venha a ser interposto pelo Ministério Público,
mesmo em hipótese para a qual o assistente não esteja legitimado a recorrer.

Ainda sobre o assistente de acusação, importante dizer que a regra geral contemplada
pelo CPP é que ele precisa se habilitar previamente nos autos, para exercer atos que
tem legitimidade. Tal regra é excepcionada no caso de recurso, conquanto o
assistente poderá recorrer, nas hipóteses em que estiver autorizado, ainda que não
esteja habilitado nos autos. Entende-se que, no caso, a peça de interposição vale
como um pedido implícito de habilitação. É preciso, porém, observar que, se o
assistente estiver habilitado nos autos, seus recursos deverão ser propostos nos
mesmos prazos que os legitimados gerais. Assim, por exemplo, estando habilitado nos
autos, caso devida apelar, terá o prazo de 05 dias. Contudo, não estando habilitado,
nas hipóteses legitimas o assistente terá prazo diferenciado para recorrer, ou seja, 15
dias (art. 598, p.único, do CPP). Em qualquer caso, o prazo dele somente começa a
fluir após esgotado o prazo do Ministério Público, porquanto, como dito, detém
legitimidade supletiva.

Relembro o conteúdo visto quando do estudo das prisões, no que se refere à Súmula
nº 208 do STF. É que, quando da aprovação de tal Súmula, o assistente de acusação
não tinha legitimidade para requerer a prisão preventiva. No entanto, com a reforma
do CPP de 2008, o art. 311 passou a autorizar que o assistente requeria a prisão
cautelar. De tal sorte, entende-se que a súmula em evidência está superada.

Por fim, havendo no processo mais de um crime, com vítimas distintas, cada ofendido
poderá recorrer, na qualidade de assistente, do crime que sofreu. Exemplo: em um
acidente de trânsito, três vítimas restaram lesionadas (A, B, e C). Havendo absolvição
do causador, e o Ministério Público não recorrendo, o assistente de acusação “A”
poderá recorrer apenas do crime que sofreu. Caso “B” e “C” não tenham recorrido,
provido o recurso de “A”, o autor restará condenado por apenas um crime, já que os
crimes contra “B” e “C” teriam transitado em julgado.

 Interesse:

Nos termos do artigo 577, p. único, do CPP, "não se admitirá recurso da parte que
não tiver interesse na reforma ou modificação da decisão". Em resumo, é pressuposto
recursal que haja sucumbência do recorrente.

Sobre o tema, rememoro o que estudamos dentro do conteúdo "Sentença", no sentido


de o acusado poder recorrer da sentença que o absolveu. Haverá interesse para tanto
em duas situações: a) quando quiser o réu mudar o fundamento de sua absolvição, a
fim de evitar responsabilidade civil; b) quando quiser o réu recorrer de sua absolvição
imprópria, a fim de que seja absolvido propriamente. Veja que, no primeiro caso, não

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havendo vítima determinada e, por via lógica, que possa buscar a reparação cível, não
haverá interesse do réu em apelar da absolvição, ainda que para alterar o
fundamento. Exemplo: acusado absolvido por crime de porte de arma de fogo, com
base no inciso II do art. 386 do CPP. Não terá interesse em apelar para alterar o
fundamento para o inciso I do mesmo artigo, na medida em que o crime é vago, ou
seja, sem vítima determinada, e por via de consequência, não haverá quem possa
pleitear indenização.

Muito se discute a respeito do real interesse do assistente de acusação. Por anos


predominou a corrente segundo a qual o assistente apenas deve buscar um decreto
condenatório, a fim de satisfazer possível indenização cível. Para os adeptos dessa
corrente, o assistente não poderia, por exemplo, recorrer visando o aumento de pena
do acusado. Não obstante, cresce dia após dia na doutrina a inteligência de que o
assistente tem interesse não apenas patrimonial, mas também interesse de justiça, de
que seja aplicado ao caso os dispositivos legais a ele inerentes. Com base nesse
raciocínio é que temos, na doutrina e na jurisprudência, decisões admitindo que o
assistente apele da sentença condenatória com o fito de aumentar a pena, ou que
recorra em sentido estrito da pronúncia para que uma qualificadora seja incluída (STF,
HC 71453 / STJ, Resp. 696038). É a corrente que vem predominando atualmente!

O Ministério Público não tem interesse em recorrer de sentença absolutória, em sede


de ação penal privada exclusiva, caso o querelante não recorra. Isso porque, como
sabemos, o querelante poderá a qualquer tempo desistir da ação penal privada.
Assim, caso não recorra da absolvição do querelado, não será permitido que o
Ministério Público recorra. Sendo a ação penal privada subsidiária da pública, o
entendimento acima não tem aplicação, já que o MP poderá recorrer, caso não haja
recurso do querelante. Admite-se, porém, que o Ministério Público recorra da sentença
condenatória, no caso de ação penal privada exclusiva, a fim de aumentar a pena,
ainda que o querelante não recorra.

Discute-se ainda se o MP, após pugnar pela absolvição em alegações finais, poderá
recorrer da sentença absolutória buscando a condenação do réu (no caso de ter
mudado o Promotor de Justiça). Duas são as posições:

 O MP é uno, de modo que, se um promotor pede a absolvição nas


alegações finais, não poderá outro pedir a condenação em sede recursal.
De acordo com esta corrente, a sucumbência ou não do MP deve ser
medida pelo conteúdo das alegações finais, confrontado com a sentença.
De tal sorte, pedindo absolvição nas alegações finais, em caso de
sentença no mesmo sentido não haveria sucumbência;

 O MP, embora seja uno, é composto de representantes com


independência funcional, de modo que o pensamento de um não pode
vincular o outro. Ademais, a sucumbência ou não deve ser medida no
confronto entre a denúncia e a sentença. Assim, mesmo havendo pedido

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de absolvição nas alegações finais, a sentença absolutória contrariaria o
pedido da denúncia, havendo, pois, sucumbência. Esta é a posição que
prevalece.

Malgrado a Súmula nº 283 do STF diga respeito apenas ao recurso extraordinário,


aplica-se a todos os recursos. Imaginem que uma decisão tenha duplo fundamento,
ambos, de per si, aptos a sustentaram a conclusão do julgamento. No caso, se o
recurso atacar apenas um dos fundamentos, não haverá interesse recursal. Exemplo:
réu absolvido por atipicidade e negativa de autoria. Eventual recurso da acusação terá
que contemplar ambas as teses, pois, do contrário, não haverá interesse, visto que o
ataque a apenas uma das teses não terá o condão de alterar o resultado final do
julgamento.

A nova sistemática processual penal, em que o Juiz deverá fixar o valor mínimo de
indenização – art. 387, IV, do CPP – abriu a possibilidade de haver uma apelação
penal voltada à discussão de matéria exclusivamente civil. Poderão propor tal recurso,
além do réu, a vítima, seja na condição de querelante ou de assistente de acusação.
Também poderá haver recurso do Ministério Público em tal sentido.

Por fim, tem prevalecido o entendimento de que o réu não tem o direito de recorrer da
sentença que extinguiu sua punibilidade, visando ser absolvido. Não concordamos
com tal posição. É que, em determinados casos, o réu poderá buscar a absolvição
para fins de coisa julgada cível, já que a extinção de sua punibilidade não basta para
impedir que a vítima busque a justiça civil para satisfação de sua pretensão.

Pressupostos Recursais Objetivos:

 Cabimento:

O cabimento pode ser dividido em duas nuances: a recorribilidade e a adequação.

No que se refere à recorribilidade, é preciso, assim, que a decisão seja recorrível, ou


seja, que o ordenamento preveja recurso cabível para a decisão. Neste aspecto, é
bom dizer que existem em nosso ordenamento diversas decisões irrecorríveis, como o
indeferimento da suspensão do processo em virtude de questão prejudicial facultativa
(art. 93, § 2º, do CPP); a admissão ou não do assistente de acusação (art. 273 do
CPP); a decisão na exceção de suspeição de perito ou serventuário da justiça (art.
105 do CPP); a decisão que decide pela inexistência de repercussão geral no recurso
extraordinário (art. 326 do RISTF), entre outras.

A adequação exige que o recorrente se sirva da via recursal correta para atacar a
decisão, entre todas as vias previstas em lei. Como vimos, porém, a adequação não é
de toda inflexível, em razão do que dispõe o art. 579 do CPP – fungibilidade recursal.

 Tempestividade:

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Cada recurso possui um prazo legal para que seja proposto. Tais prazos são fatais,
contínuos e peremptórios, ou seja, não são interrompidos por férias, finais de semana
e feriados, nos termos do art. 798 do CPP. Além disso, uma vez perdido o prazo do
recurso, não haverá possibilidade de seu manejo.

No que se refere ao prazo de recurso para a defesa, quando recorrida a sentença


condenatória, algumas observações deverão ser feitas.

Vimos que há recursos que podem ser interpostos pelo réu ou pelo seu defensor. A
apelação da sentença condenatória é uma dessas hipóteses. Por conta disso, por
anos vigorou o entendimento jurisprudencial (HC 74550 STJ) que previa a
necessidade de ambos (réu e defensor) serem intimados da sentença condenatória.
Atualmente, porém, a posição jurisprudencial e doutrinária foi alterada. Assim, o réu
preso deve sim ser intimado da sentença condenatória pessoalmente, e seu defensor
também deverá ser intimado. Já o réu solto, se assistido por advogado constituído,
bastará a intimação deste último. Sendo o defensor dativo ou público, estando solto o
réu, necessária será a sua intimação pessoalmente.

O defensor constituído deverá ser intimado via publicação no órgão oficial (art. 370, §
1º, do CPP), escrito ou eletrônico. O defensor dativo será intimado pessoalmente (art.
370, § 4º, CPP). Em ambos os casos, o prazo recursal para a defesa será normal.
Sendo o defensor público, porém, deverá ser intimado pessoalmente, mas gozará de
prazo em dobro (art. 44, I, LC 80/94).

Não sendo o réu localizado para ser intimado (solto, assistido por defensor dativo ou
público), deverá haver intimação editalícia, com prazo de dilação de 90 dias
(condenação igual ou maior que 01 ano de prisão), ou 60 dias (condenação a qualquer
outra pena). Já o réu preso, como vimos, necessária sua intimação pessoal, e não há
falar em intimação editalícia porquanto estará em local conhecido (presídio).

Para os casos em que a legislação exige a dupla intimação (réu e defensor), ou seja,
réu preso, ou réu solto assistido por defensor dativo ou público, o prazo recursal
começará a fluir da última intimação. O mesmo se diga para o caso de o juiz, por zelo,
decidir pela dupla intimação mesmo estando o réu solto, e assistido por defensor
constituído. É irrelevante a ordem com que as intimações serão feitas.

Não se considera transitada em julgado a sentença que deva ser submetida à dupla
intimação, e que eventualmente seja submetida apenas a uma. Assim, no caso de o
réu estar preso, ou solto, desde que assistido pela defensoria dativa ou pública,
apenas a intimação do defensor, ou apenas a do réu, não trará à sentença o trânsito
em julgado. No caso, não havendo recurso, poderá aquele que não tiver sido intimado
recorrer a qualquer tempo que tomar ciência da sentença.

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Situação que traz insegurança na doutrina é: imagine que haja intimação única, ou
seja, do defensor, em situação que devesse haver a dupla intimação. Após manejo de
recurso, o Tribunal julga o apelo. Como resolver a situação?

São três as correntes:

 O julgamento do recurso trará nulidade relativa, possibilitando às instâncias


superiores (STJ e STF) a anulação do julgamento em caso de demonstração
de prejuízo;
 O julgamento será válido. Contudo, será oportunizado ao réu, em 05 dias
contados da intimação pessoal, a interposição de novo recurso para impugnar
questões eventualmente não recorridas no apelo anterior;
 O julgamento do recurso produz a preclusão consumativa.

Parece-me que a primeira corrente é a mais aceita pela doutrina atual.

Tudo o que fora exposto acima deve ter aplicação em sede de Tribunal de Justiça /
TRF, em caso de acórdão proferido em competência originária. Já no caso de
competência recursal, o entendimento é diverso. Independentemente do status do réu
(preso ou solto), a intimação será feita apenas na pessoa do defensor, via publicação
na imprensa oficial (se constituído), ou pessoalmente (se dativo ou público).

O prazo recursal do Ministério Público também merece ser comentado. O art. 800, §
2º, do CPP, diz que os prazos para o Ministério Público serão contados do termo de
vista, salvo o prazo recursal. Neste caso, o prazo seria a partir da intimação pessoal.

O STJ, porém, apreciando o RE nº 1349935, decidiu que o prazo recursal (a exemplo


de qualquer outro) para o Ministério Público conta-se da entrega dos autos na
repartição administrativa do órgão, independentemente de ter o representante sido
intimado em audiência, por mandado, ou em cartório. No mesmo sentido é a posição
do STF (HC 171793, de 16/08/19).

Os prazos processuais penais, inclusive os prazos de recurso, não dependem da data


de juntada aos autos da carta precatória ou do mandado de intimação. É como orienta
a Súmula nº 710 do STF.

Necessário também tecer comentários sobre o prazo recursal e a intimação (citação


não) por meio eletrônico (Lei nº 11.419/06). Essa lei permitiu a informatização de
todos os processos judiciais. Nesse caso, pela Lei, as publicações efetuadas na
página oficial eletrônica serão consideradas como realizadas no primeiro dia útil
seguinte ao da sua disponibilização no diário eletrônico, iniciando-se, portanto, a
fluência dos prazos processuais no primeiro dia útil que se seguir. Assim, caso a
intimação seja disponibilizada no diário no dia 1º, segunda-feira, a publicação será
considerada no dia 02, iniciando-se o prazo no dia 03, quarta-feira. A mesma Lei traz,
também, que os interessados que estiverem credenciados na forma do art. 2º serão

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intimados por meio eletrônico, em portal próprio, dispensando-se a publicação no
órgão oficial, seja este escrito, seja o próprio diário eletrônico. Nesse caso, as
intimações serão consideradas realizadas no dia em que a pessoa a ser intimada
acessar a consulta eletrônica ao conteúdo da intimação, sendo isto certificado nos
autos pelo Cartório. Sendo a consulta realizada em dia não útil, considerar-se-á
realizada a intimação no primeiro dia útil.

Caso o interessado, a quem tiver sido destinada a intimação, não realizar a consulta,
será considerado intimado após o prazo de 10 dias corridos.

 Forma dos recursos:

Diz o art. 578 do CPP que os recursos serão propostos por petição ou por termo nos
autos. Como já dito, e diferentemente do que ocorre nos recursos cíveis, alguns
recursos criminais tem por característica a possibilidade de as razões serem propostas
em momento distinto da interposição. Assim, essa proposição a que faz referência o
artigo em tela diz respeito à interposição, e não às razões do recurso.

Recurso por petição é aquele interposto na forma escrita, como uma espécie de
requerimento a ser protocolado.

Recurso por termo é aquele interposto de modo oral, a ser reduzido a termo por quem
detém fé pública.

Qualquer recurso pode ser interposto por petição. Porém, apenas alguns podem ser
interpostos por termo nos autos.

Podem ser interpostos por termo nos autos os recursos em que as razões poderão vir
em momento distinto, ou seja: Recurso em Sentido Estrito, Apelação, Agravo em
Execução, e Carta Testemunhável. Além disso, os embargos declaratórios da Lei nº
9.099/95 também podem ser propostos por termo nos autos, com a particularidade de
que as razões devem ser propostas de forma concomitante (art. 83 da Lei nº
9.099/95).

No que se refere às razões recursais, notadamente quando podem ser propostas em


momento distinto ao da interposição, algumas considerações merecem ser feitas.

A apresentação tardia das razões recursais é mera irregularidade – HC nº 358217,


STJ.

Sobre as consequências jurídicas da não apresentação de razões pelo Ministério


Público, duas posições são discutidas no universo processual penal. Anote-se que o
efeito devolutivo do recurso da acusação limita-se aos motivos da insurgência. A
primeira indica que a ausência de razões pelo Ministério Público importa em nulidade,
conduzindo ao não conhecimento do recurso. O fundamento dessa corrente é o

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princípio da indisponibilidade da ação penal pública, e a não apresentação das razões
seria uma espécie de desistência tácita ao recurso, o que não se admitiria – art. 576
do CPP. Além disso, argumenta-se que a não delimitação dos motivos de recorrer
comprometeria a detecção contra o que exatamente a acusação estaria se insurgindo,
assim como dificultaria a apresentação das contrarrazões pela defesa. Uma segunda
corrente sustenta que a ausência de razões do Ministério Público não impede o
conhecimento do recurso. Não seria, assim, essa omissão, uma desistência tácita.
Sustentam que o art. 601 do CPP, tratando da apelação, ensina que “findos os prazos
legais, os autos subirão ao Tribunal com as razões ou sem elas”, não especificando a
condição do apelante. Assim, exigir-se-ia apenas que o Ministério Público delimitasse
os motivos de recorrer na interposição (sob pena de não conhecimento do recurso
pela inépcia).

Quando a ausência de razões recursais ocorre por parte da defesa, parcela da


jurisprudência entende que não haverá prejuízo ao recurso proposto. De igual
maneira, não haveria problema a falta de contrarrazões, pela defesa, ao recurso
proposto pela acusação. Predomina, no entanto, a inteligência no sentido de que as
razões e contrarrazões por parte da defesa seriam obrigatórias. Assim, o recurso não
poderia prosperar sem as razões, devendo ser o defensor instado a apresentá-las e,
caso assim não faça, deverá o réu ser intimado a constituir novo advogado. Em último
caso, deverá o juiz abrir vista dos autos para a defensoria pública, ou nomear defensor
dativo. No STJ, vejam o HC 353644.

Por fim, discute-se na doutrina a consequência jurídica de as razões e/ou


contrarrazões recursais virem totalmente dissociadas da decisão recorrida. Em se
tratando da defesa, vem predominando a tese de que o Tribunal deverá proceder ao
exame da impugnação, salvo, por óbvio, nas hipóteses de insurgências absolutamente
genéricas, que impeçam o contraditório pela parte contrária. No caso da acusação,
predomina tese contrária, no sentido de que o recurso deverá ser julgado inepto.
CUIDADO: quase uníssona é na doutrina a inteligência de que não deverá ser
reconhecido o recurso cujas razões estiverem dissociadas dos termos da decisão
recorrida em duas situações: recurso especial e extraordinário (Súmula 284 do STF),
e no caso de recurso proposto contra decisões proferidas no âmbito do Tribunal do
Júri (Súmula nº 713 do STF).

 Inexistência de fatos impeditivos:

Há, atualmente, apenas um fato impeditivo: a renúncia. Qualquer das partes pode
renunciar ao direito que possui de propor recursos. Ora, se o Ministério Público não
está obrigado a recorrer, não há qualquer problema em ele renunciar ao direito de
recorrer.

Durante anos vingou um outro fato impeditivo: o artigo 594 do CPP previa que o réu,
para recorrer de sua sentença condenatória, deveria se recolher à prisão. Assim, caso
não se recolhesse à prisão, impedido estaria de recorrer. Tal comando foi

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expressamente revogado pela Lei 11.719/08, muito embora, na doutrina e na
jurisprudência, sua validade tenha sido questionada muito antes. Malgrado não tenha
sido revogado expressamente, o art. 585 do CPP seguiu a mesma falência apontada
para o art. 594.

 Inexistência de fatos extintivos:

A desistência é um fato extintivo. Com efeito, após recorrer, poderá o recorrente


desistir de seu recurso, e assim, tal recurso será extinto.

O Ministério Público não pode desistir dos recursos que manejar – art. 576 do CPP.
Assim, apenas o réu, o querelante, e o assistente de acusação poderão desistir dos
recursos que vierem a propor.

A deserção também é um fato extintivo. Atualmente ela só ocorre pela falta de preparo
– art. 806, § 2º, do CPP.

A falta de preparo enseja a deserção do recurso proposto pelo querelante, na ação


penal privada.

O réu, independente da modalidade de ação penal, apenas será incitado a pagar as


custas processuais (e consequentemente o preparo) ao final do processo.

Destaca-se que antigamente, o artigo 595 do CPP exigia que o réu, para ver seu
recurso contra a sentença condenatória sendo processado, deveria permanecer preso.
Assim, caso fugisse da prisão, seu recurso seria extinto. Tal situação já não mais
existe em nosso ordenamento.

EFEITOS DOS RECURSOS:

Em direito processual penal, podemos pontuar os seguintes efeitos recursais:

 Devolutivo:

Tal efeito é inerente a todos os recursos. Vale dizer que, havendo recurso, uma
situação sobre a qual já houve deliberação judicial voltará à análise do Poder
Judiciário. O importante é compreendermos a extensão da devolução.

Assim, quando o recurso for da acusação, visando agravar a situação do réu, seja ele
proposto pelo MP, pelo querelante, ou pelo assistente, o efeito devolutivo será limitado
aos fundamentos de sua interposição. A Súmula 160 do STF, inclusive, assinala não
ser possível o reconhecimento, pelo Tribunal, de nulidade absoluta contrária ao
acusado, se não for ela ventilada no recurso da acusação (excetuando os casos de
reexame necessário, em que sempre haverá devolução total da matéria).

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Entendimento diverso se dá no que se refere à reformatio in mellius. Como vimos
outrora, em recurso exclusivo da acusação o efeito devolutivo será amplo quando for
para o benefício do réu. Poderá assim o Tribunal reconhecer, a favor do réu,
argumento não debatido na insurgência da acusação.

Quando o recurso for da defesa, a regra é que o efeito devolutivo seja total. Assim,
temas não ventilados no recurso poderão (e não deverão) ser reconhecidos em favor
do acusado. É, pois, faculdade do Tribunal estender a análise para além do que tiver
sido delimitado pela defesa, não sendo demais rememorar o princípio da dialeticidade,
ou seja, há obrigação do recorrente de delimitar, e demonstrar com acuidade as
razões de seu inconformismo. A exceção fica por conta da Súmula nº 713 do STF,
que trata do efeito devolutivo na apelação interposta contra as decisões do Júri, que
será estritamente nos termos da interposição (e não das razões). É uma obrigação
que deve ser atendida por qualquer das partes. Exemplo: interposta a apelação com
base no art. 593, III, “a”, do CPP, não poderá o recorrente, por ocasião das razões,
ampliar sua insatisfação para a alínea “d”, por exemplo.

Ainda no âmbito do efeito devolutivo, poderá o Tribunal converter o julgamento em


diligência, a fim de que novas provas sejam produzidas (art. 616 do CPP).

 Suspensivo:

Há situações em que a recorribilidade da decisão impede que ela produza seus


efeitos. Quando isso ocorre, temos o chamado “efeito suspensivo”. A bem da verdade,
é um erro dizer que “o recurso terá efeito suspensivo” pois, como dito, não é o recurso
que produz esse efeito, mas sim a recorribilidade da decisão. Fosse o recurso que
tivesse tal efeito, enquanto não fosse ele interposto a decisão produziria efeitos, o que
não ocorre no campo prático. O CPP pontua a grande parte das decisões que, uma
vez recorridas, não produzirão efeito. Nas situações omissas, entende-se que o efeito
suspensivo não estará presente.

Possuem, por exemplo, efeito suspensivo, os recursos propostos: contra a decisão de


pronúncia e contra a sentença condenatória. Não possuem, por exemplo, esse efeito,
os recursos propostos: da sentença absolutória, agravo na execução, recurso especial
e extraordinário.

Importante discussão repousa no manejo de recurso especial ou extraordinário da


decisão de pronúncia. Imagine que o réu tenha sido pronunciado e, após recurso em
sentido estrito, a pronuncia seja mantida pelo Tribunal. Assim, o réu manejou recurso
especial e/ou extraordinário. Tais recursos não possuem efeito suspensivo, e por isso,
em tese, o julgamento pelo júri poderia ocorrer a despeito de estarem eles pendentes
de julgamento. Por outro lado, o art. 421 do CPP condiciona a realização do júri à
preclusão da pronúncia. Como resolver essa dicotomia?

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São duas as correntes:

 Enquanto não julgado o recurso especial e/ou extraordinário, o julgamento pelo


júri não poderá ser realizado, conforme dispõe o art. 421 do CPP. Seria, assim,
um efeito suspensivo indireto dado ao recurso especial e/ou extraordinário;

 O art. 421 do CPP faz referência apenas aos recursos ordinários (ou seja,
RESE da pronúncia, apelação contra a impronúncia ou contra a absolvição
sumária, embargos de declaração e embargos infringentes). Com efeito, o
manejo de recurso especial e/ou extraordinário não impede a realização do
julgamento. É a atual posição do STF (HC 129694, em 16/10/18).

 Regressivo:

Efeito regressivo é aquele que dá ao prolator da decisão recorrida a oportunidade de


revê-la, antes que os autos subam ao juízo superior. Possuem tal efeito os seguintes
recursos: recurso em sentido estrito (art. 589 do CPP); agravo em execução (que
segue o rito do Rese); carta testemunhável (art. 643 do CPP); Recurso Especial e
Recurso Extraordinário (art. 1030, II, 1040, II, e 1041, § 1º, do CPC) nos casos de
múltiplos recursos repetitivos sobre a mesma controvérsia. Além disso, embora não
seja por parte da doutrina considerado propriamente um recurso (já que não vai para
juízo superior), os Embargos de Declaração também possuem tal efeito. Maiores
comentários serão feitos quando da abordagem dos recursos, especificamente.

 Translativo:

Possui tal efeito o recurso cujo efeito devolutivo é total, absoluto, ou seja, entrega ao
Juízo Superior a análise de toda a matéria debatida nos autos, seja a favor ou contra a
qualquer das partes. Atualmente, apenas o reexame necessário (que para muitos
sequer é recurso) é dotado de tal efeito.

 Extensivo:

Previsto no art. 580 do CPP, dá ao juízo julgador a possibilidade de estender os


efeitos benéficos de uma decisão aos demais acusados na mesma situação do
recorrente, ainda que estes demais acusados não tenham recorrido. Exemplo: “A” e
“B” respondem por crime de roubo, são condenados, e apenas “A” recorre da
sentença. O Tribunal entende que a conduta é atípica, e absolve “A”. No caso, o
Tribunal poderá, de ofício, estender a absolvição a “B”.

Malgrado esteja dentro do capítulo destinado aos recursos, esse efeito também tem
lugar nas ações mandamentais do habeas corpus, da revisão criminal, e até mesmo
na correição parcial.

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Ressalte-se, porém, que o efeito extensivo fica condicionado que os fundamentos da
decisão não abordem questão de natureza pessoal do recorrente, visto que, se assim,
for, apenas os demais acusados que experimentem da mesma circunstância subjetiva
gozarão dos efeitos da decisão. Exemplo: “A”, “B” e “C”, respectivamente com 18, 22,
e 19 anos, praticam um crime, e estão sendo processados. Durante recurso manejado
por “A”, o Tribunal entende que o caso está prescrito, já que, quando do crime, “A” era
menor de 21 anos, e por isso o prazo prescricional contra si corre pela metade. No
caso, se “C” estiver nas mesmas condições processuais (objetivas), a decisão poderá
ser estendida a ele, já que “C” também era menor de 21 anos quando do crime. “B”,
no entanto, não experimentará os efeitos da decisão, visto que não se enquadrava nas
mesmas condições pessoais dos outros acusados, porque era maior de 21 anos na
data do crime, e o prazo prescricional contra si correrá por inteiro.

Há, ainda, em sede doutrinária, a exigência de que, para que o efeito extensivo seja
observado, o réu beneficiado pela decisão estendida deve estar no mesmo processo,
e acusado pelo mesmo crime que o recorrente (que obteve a decisão favorável no
Tribunal), em inegável concurso de agentes. Não obstante, o STJ (HC 307617,
julgado em 19/04/16) chegou a se manifestar pela possibilidade de o efeito extensivo
contemplar réu que esteja sendo processado em autos distintos, desde que,
obviamente, pelo mesmo crime.

Destaco ainda a posição de algumas doutrinas, com a qual concordo, que defende a
possibilidade do efeito extensivo em situação que não tenha havido recurso, ou seja,
enquanto os autos ainda estejam no 1º grau de jurisdição, ou mesmo em outro grau,
mas que a decisão favorável dada a um dos réus não tenha sido em recurso.
Exemplo: um dos réus pleiteia nos autos a prescrição, e o Juiz acolhe o pedido,
estendendo, de pronto, os efeitos da decisão ao outro réu nas mesmas condições
processuais e pessoais.

Caso o Tribunal não aplique o efeito extensivo quando for ele devido, poderá o réu
prejudicado propor embargos de declaração, ou mesmo partir para o habeas corpus
ou o mandado de segurança, a depender de o crime conter ou não pena privativa de
liberdade.

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