Taxa de prenhez

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INFLUÊNCIA DO ESCORE CORPORAL SOBRE A TAXA DE PRENHEZ DE VACAS

NELORE NO ESTADO DO TOCANTINS

INFLUENCE OF BODY SCORE ON THE PREGNANCY RATE OF NELLORE COWS IN


THE STATE OF TOCANTINS

Helder Antonio Santana Machado1; Gabriel Sabino2; Leandro Sokolovizs3;


Alexandre Link Gasparin4; Welington Hartmann5

Resumo

O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito do Escore de Condição Corporal (ECC) sobre a probabilidade
de prenhez em vacas Nelore em um programa de inseminação artificial em tempo fixo (IATF). A fazenda
está localizada na região do Tocantins, atuando na cria e recria de fêmeas bovinas. O resultado foi baseado
em diagnóstico gestacional positivo e negativo utilizado para estudar a probabilidade de prenhez, modelada
por regressão logística, com base em variáveis ​​de regressão: ordem de nascimento, fazenda e escore de
condição corporal. A probabilidade média de prenhez está relacionada às variáveis estudadas. O ECC
apresenta correlação com os melhores índices de prenhez por interferir na probabilidade de concepção
das fêmeas bovinas da raça Nelore em programas de Inseminação Artificial em Tempo Fixo, no entanto os
extremos inferiores e superiores são comprovadamente deletérios. Portanto para otimizar os resultados, o
melhor é que as fêmeas apresentem escore de condição corporal entre 3,0 e 4,0, resultando em taxas de
prenhez acima de 60 %.

Palavras-chave: Fisiologia da Reprodução. IATF. Reprodução Bovina.

Introdução

O Brasil possui o maior rebanho bovino comercial do mundo, com aproximadamente 221,8
milhões de cabeças. O abate anual é de cerca de 39 milhões de animais, e a produção média é de
9,7 milhões de toneladas de carcaças, sendo 20% para exportação (ABIEC, 2018).
O perfil dos mercados e dos consumidores está cada vez mais exigente, e a busca por um
produto de qualidade e segurança, tem feito com que a pecuária de corte esteja sempre em busca
de novas estratégias de manejo e reprodutivas que venham permitir um maior retorno econômico da
atividade. A rentabilidade está diretamente relacionada à eficiência reprodutiva do rebanho. Assim,
a busca por estratégias reprodutivas que garantam maior retorno econômico e eficiência produtiva
é constante CAMARGO et al., 2017).
É necessária a adoção de manejo nutricional adequado, pois a condição corporal influencia
diretamente nos resultados obtidos (FERREIRA et al., 2013). O status nutricional pré-parto

1 Medicina Veterinária, UTP


2 Taura – Maximização Pecuária
3 Taura – Maximização Pecuária
4 Taura – Maximização Pecuária
5 Prof. Orientador - UTP

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influencia na performance da progênie. A condição corporal (CC) da vaca no momento do parto
está diretamente relacionada ao reestabelecimento do ciclo estral e o balanço energético pós-parto
afeta a concentração de hormônios metabólicos, o desenvolvimento folicular, a sua capacidade
estrogênica, a ovulação e a implantação embrionária.
O desempenho reprodutivo depende primeiramente da nutrição, que deve ser o componente
de maior atenção para as vacas de cria, pois é importante que sejam fornecidos alimentos que
atendam às necessidades fisiológicas, ou seja, que atendam às necessidades de mantença,
crescimento, reprodução e produção (VILELA, 2011). Devido as suas vantagens a IATF vem
crescendo nos últimos anos. Atualmente é responsável por 85% do total das inseminações e
movimenta cerca de 2,6 bilhões de reais por ano.

Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)

Na pecuária de corte brasileira, a evolução da raça Nelore merece destaque,


principalmente por sua adaptação ao meio ambiente, inclusive em clima tropical e vegetação
de cerrado. Devido ao sistema de reprodução estabelecido em condições naturais, em que os
animais são mais direta e indiretamente afetados pelo clima, o rebanho brasileiro apresenta
uma chamada tolerância ao ambiente tropical (TABORDA et al., 2018).
A inseminação artificial (I.A.) é uma ferramenta importante para o melhoramento
zootécnico em bovinos, pois permite o uso de material genético superior em um grande
número de rebanhos e a longas distâncias. Nos rebanhos bovinos é efetivamente utilizada,
especialmente nos rebanhos de elite, permitindo mais avanços genéticos e maior segurança
sanitária. A inseminação artificial permite que os produtores usem touros comprovados das
melhores linhagens disponíveis no Brasil e em outros países, através de testes de progênie.
Os aspectos sanitários estão relacionados a doenças transmitidas pelo acasalamento natural,
como brucelose, campilobacteriose, tricomoníase e vibriose. Com relação aos benefícios
da IA, podemos listar: promoção do melhoramento genético para carne e leite; correção de
características por tipo; produção de F1 para cruzamentos industriais e de raças sintéticas; uso
de touros indicados para novilhas primíparas; controle zootécnico do rebanho e rastreabilidade;
padronização do rebanho; otimização ao uso de raças sintéticas com alto valor genético;
oportunidade para os produtores trabalharem com mais de uma linha de touros, se necessário.
É necessário um controle sanitário cuidadoso e rigoroso dos animais e dos laboratórios, bem
como programas eficazes de melhoramento para a seleção de rebanhos superiores para as
características de interesse e livres de doenças hereditárias (HARTMANN e PEREIRA, 2018).
O procedimento de inseminação artificial em tempo fixo (IATF) é amplamente utilizado
porque pode aumentar o número de fêmeas fecundadas sem detecção de cio (SÁ FILHO et
al., 2011), o que muitas vezes consiste no maior problema encontrado nas propriedades. Ao
adotar a IATF, os produtores eliminam a necessidade contínua de observação de cio, obtém

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a redução do intervalo entre partos (IEP) e o aumento do número de bezerros e economia
de mão de obra. Isso pode ser alcançado através da aplicação de protocolos hormonais que
conduzam à ovulação e sincronização de cio efetivo e aparente para definir o momento ideal
para a inseminação artificial.

Hormônios Envolvidos na Reprodução

Quando os hormônios combinados e seus análogos têm funções complementares,


apresentam ação nas fêmeas nas diferentes fases do ciclo estral. Na escolha do protocolo
devem ser observados pontos característicos como subespécies (Bos taurus ou Bos indicus),
capacidade produtiva (carne ou leite) e escore corporal das fêmeas (PEREIRA e HARTMANN,
2018). Os principais hormônios envolvidos na regulação dos eventos reprodutivos na fêmea
bovina são hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), hormônio folículo estimulante
(FSH), hormônio luteinizante (LH), progesterona, estrógeno, inibina e prostaglandina. O
hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) é um peptídeo chave que controla a secreção de
gonadotrofinas, principalmente do LH e, portanto, a função gonadal. Esse hormônio hipotalâmico
é liberado de modo pulsátil na fêmea. Esses sinais são estimulatórios para a liberação de
outros hormônios como a noradrenalina e o neuropeptídeo Y (NPY); e inibitórios para outros,
como a beta-endorfina e a interleucina-1. O eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e o reprodutivo
são controlados por aferentes noradrenérgicos (ANSELMO-FRANCI et al., 1999).
O GnRH é rapidamente metabolizado por uma peptidase da hipófise anterior, uma vez
que apresenta meia-vida de 7 a 12 minutos. Os hormônios hipofisários gonadotróficos para a
reprodução na fêmea são o hormônio folículo estimulante (FSH), o hormônio luteinizante (LH) e
a prolactina (PRL), os quais são glicoproteínas compostas de cadeias de aminoácidos ligadas
por peptídeos e de cadeias de carboidratos ligados aos fosfolipídeos. A secreção de LH e FSH
é controlada pelo GnRH, sendo que ambos são liberadores de uma forma tônica ou basal,
tanto no macho como na fêmea. O LH é responsável pela ovulação e transformação do folículo
ovariano em corpo lúteo, enquanto a principal função do FSH é promover o desenvolvimento do
folículo ovulatório do ovário (VILELA, 2021).
A progesterona é um hormônio imprescindível para a regulação do funcionamento do
sistema reprodutor feminino e é produzida principalmente pelo corpo lúteo. As prostaglandinas
são sintetizadas no próprio organismo animal a partir de fosfolipídios de membrana celular que,
ao sofrerem a ação da fosfolipase A 2, produzem ácido araquidônico, o qual é o precursor das
prostaglandinas mais intimamente associadas com os processos reprodutivos, principalmente
a PF2α e a E2 (PGE2) (MORAES, 2014).

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Triagem de Fêmeas Visando Inclusão em Programas de IATF

De acordo com Baruselli (2012) avalia-se as seguintes características para melhores


resultados nos protocolos de IATF:

• Identificação e escrituração zootécnica confiável;


• Escore de condição corporal (ECC);
• Ciclicidade;
• Infecções uterinas inespecíficas;
• Doenças da reprodução (campilobacteriose, tricomonose, brucelose) e outras que interferem na
reprodução (leptospirose, IBR, BVD);
• Histórico de maceração fetal em gestação anterior;
• Defeitos anatômicos do sistema genital.

Material e Métodos

O estudo foi realizado na fazenda Ipiranga no município de Almas/TO. Os animais eram


mantidos em sistema extensivo a pasto e fornecimento de água e sal mineral à vontade. Foram
avaliadas 83 vacas paridas da raça Nelore, submetidas ao mesmo protocolo de IATF e classificando-
as em escore de condição corporal (ECC) como: baixo (com índice inferior a 2,5), médio (entre 2,5
e 3,0) e alto (acima de 3,0), sendo avaliada a taxa de prenhez 30 dias após a inseminação por
ultrassonografia. O ECC foi padronizado de acordo com a Tabela 1.

Tabela 1 – Escore de condição corporal de bovinos de corte.

CONDIÇÃO % DE GORDURA DESCRIÇÃO


CORPORAL CORPORAL
1 5,5 Severamente magra. Costelas e estrutura óssea facilmente visível. Fisicamente
fraca.
1,5 9,4 Similar ao escore 1, mas não enfraquecida. Pouco tecido muscular visível.
2 13,7 Muito magra, sem gordura nas costelas ou peito. Algum músculo visível. Ossos
do dorso e lombo facilmente visíveis.
2,5 18,1 Magra, com costelas facilmente visíveis, nas paletas e quartos traseiros com
quantidade moderada de músculo. Ossos do dorso e lombo visíveis.
3 22,5 Moderada a magra. Últimas duas a três costelas podem ser vistas, pouca
incidência de gordura no peito, sobre as costelas ou ao redor da inserção da
cauda.
3,5 26,9 Boa aparência geral, lisa e homogênea. Alguma deposição de gordura no peito
e na inserção da cauda. Costelas bem cobertas e dorso arredondado.
4 31,2 Muito boa. Peito cheio, inserção da cauda com acumulação de gordura.
Costelas lisas.
4,5 35,6 Obesa, dorso e lombo quadrado em volta da acumulação excessiva de gordura
em volta da inserção da cauda. A matriz tem aparência quadrada devido ao
excesso de gordura. Pescoço grosso e curto. 5
5 40,0 Muito obesa. Raramente vista. Descrição do escore 4 em excesso. Deposição
pesada de gordura no úbere.

Fonte: HARTMANN (2011).

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Resultados

O diagnóstico de gestação foi realizado com auxílio do aparelho de ultrassonografia


convencional, demonstrando o efeito da condição física na taxa de prenhez de vacas paridas
submetidas ao protocolo de IATF. Esses resultados são semelhantes aos observados por Ferreira
et al. (2013) e Torres et al. (2015). Observou-se maior taxa de prenhez nas fêmeas com escores
corporais mais elevados (acima de 3,1), chegando a 62,2 %, enquanto animais com escores
inferiores a 2,5 obtiveram resultados menores, como demonstrado na Tabela 2.

Tabela 2 – Resultados obtidos através da pesquisa realizada com animais da raça Nelore.

ECC Número de vacas Número de vacas prenhes Porcentagem de vacas


no D 40 prenhes
(%)
> ou = 2,5 15 5 33,3 %
2,6 – 3,0 23 12 52,1 %
= ou < 3,1 45 28 62,2 %
TOTAL 83 45 54,2 %

Como os efeitos das estratégias de suplementação sobre a eficiência reprodutiva e


a condição corporal podem ser afetados principalmente pela qualidade e disponibilidade das
pastagens locais, essas pastagens variam de ano para ano. Estudo realizado por Santos (2002)
comprovou que quando havia na dieta cerca de 10% de proteína bruta e mais de 60% de
digestibilidade in vitro, vacas leiteiras criadas no Tocantins apresentaram melhor desempenho
reprodutivo.

Discussão

Fêmeas com escore corporal maior que 3,1 tiveram melhores índices de prenhez, estando
de acordo com Camargo et al. (2017).
Toledo et al. (2012) também estudaram a influência do ECC sobre a taxa de fertilidade.
Torres et al. (2015) descreveram a taxa de 52,03 % em fêmeas Nelore com ECC 3,0 ± 0,5. Outros
efeitos como ordem de parto e efeitos intrínsecos à fazenda também devem ser considerados.
O índice de prenhez obtido no presente trabalho demonstra a importância do manejo alimentar
na reprodução de bovinos de corte, aliado a outros fatores com o mesmo nível de importância que
resultam em altas taxas de concepção e progênie de qualidade superior.

Conclusão

Os resultados permitiram concluir que a condição corporal tem um impacto evidente sobre os
índices de concepção. Para que se obtenham as melhores taxas de prenhez, deve-se atender aos

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requerimentos nutricionais das fêmeas. A avaliação visual do escore de condição corporal pode ser
usada como ferramenta auxiliar no manejo da pecuária de corte.
Na raça Nelore, a classificação da condição corporal interfere na probabilidade de prenhez,
com melhores índices quando o escore de condição corporal é maior do que 3 e inferior a 4,5,
resultando em taxas de prenhez mais elevadas em programas de inseminação artificial.

Referências

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anual, 2017.
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