PhD - Ana Isabel Figueira Marques - Jn 2016
PhD - Ana Isabel Figueira Marques - Jn 2016
PhD - Ana Isabel Figueira Marques - Jn 2016
templos cristãos
Doutoramento em Arquitetura
Especialidade – Teoria e Prática de Projeto
ÍNDICE DE QUADROS
QUADRO 01 – ESTUDO COMPARATIVO DO COMPORTAMENTO DOS CASOS DE ESTUDO. ............................................................. 80
QUADRO 01 – ESTUDO COMPARATIVO DO COMPORTAMENTO DOS CASOS DE ESTUDO (CONTINUAÇÃO). ..................................... 81
2
QUADRO 02 – PERÍODOS DO DESTINO NO SISTEMA YUEN HON. .............................................................................................. 82
ÍNDICE DE FIGURAS
FIGURA 01 – MAPA DE GERLACH, «SOBRE O DAS “LINHAS LEY” DA BOÉMIA E A RELAÇÃO DOS MOSTEIROS LOCAIS COM O ANO DA
SUA FUNDAÇÃO» (CAMPADELLO, 1998:28). .............................................................................................................. 7
FIGURA 06 – PA-K’UA CELESTE, OS TRIÂNGULOS E O PERCURSO ÁGUA A OESTE E FOGO A ESTE. ................................................ 15
FIGURA 07 –– «O CORPO DO HOMEM NO TEMPLO, CAPÍTULO VI – “O TEMPLO. CORPO DO HOMEM-DEUS”», ILUSTRAÇÕES
CENTRAIS, (HANI 1981). ........................................................................................................................................... 15
FIGURA 08 – PA-K’UA TERRESTRE, O CICLO DOS ELEMENTOS COMEÇA EM BAIXO COM ÁGUA A NORTE (AZUL), MADEIRA A LESTE
(VERDE), FOGO A SUL (VERMELHO), DEPOIS O EIXO TERRA, NORDESTE SUDOESTE (AMARELO) E METAL A OESTE (CINZENTO).17
FIGURA 09 – HOMEM, «SE TRAÇARMOS, A PARTIR DO CENTRO, UMA CIRCUNFERÊNCIA QUE PASSE PELA PARTE SUPERIOR DA
CABEÇA, SE AFASTARMOS OS BRAÇOS DE TAL MODO QUE AS PONTAS DOS DEDOS TOQUEM A PERIFERIA DO CÍRCULO, E SE
COLOCARMOS OS PÉS DE FORMA A QUE FIQUEM TANGENTES A ESTE, FORMANDO ENTRE SI UM SEGMENTO DE COMPRIMENTO
IGUAL Á QUE VAI DO ALTO DA CABEÇA À EXTREMIDADE DOS DEDOS, OBTEMOS UMA CIRCUNFERÊNCIA DIVIDIDA EM CINCO
PARTES IGUAIS, FORMANDO UM TRIÂNGULO EQUILÁTERO COM O UMBIGO», (AGRIPPA VON NETTESHEIM, DE OCCULTA
FIGURA 10 – PA-K’UA TERRESTRE E A SEQUÊNCIA DOS TRIGRAMAS SENDO OS ELEMENTOS DIFERENTES DO PA-K’UA CELESTE. O
QUADRADO MÁGICO PODE SER USADO EM AMBOS OS CASOS TENDO AS ESTRELAS ELEMENTOS DIFERENTES CONSOANTE SE
3
INTERNO, TENDO SIDO GERADOS DOIS EM CADA PONTO DO CANTO E UM EM CADA PONTO CARDEAL», (ILUSTRAÇÕES DE
WANG CH’I, SAN TSAI TU HUI, 1609, COMO REPRESENTADO EM SMITH 1991:60, IN SKINNER 2008:226). ..................... 41
FIGURA 25 – «A GERAÇÃO DOS 10 TRONCOS CELESTES DO HO-T’U. A “CORDA DE NÓS” REPRESENTA OS NÚMEROS DO HO-T’U. OS
CARACTERES DOS 4 ELEMENTOS SÃO MOSTRADOS POR DENTRO DOS PONTOS COM O FOGO (S) E EM CIMA, A TERRA NO
CENTRO, METAL (W) À DIREITA, MADEIRA (E) À ESQUERDA, E ÁGUA (N) EM BAIXO. OS DOIS TRONCOS CELESTES SÃO
GERADOS DE CADA UM DOS 5 ELEMENTOS, NOS PONTOS CARDEAIS POR EXEMPLO, OS DOIS TRONCOS DE FOGO ESTÃO EM
CIMA (S) E OS DOIS TRONCOS DE ÁGUA EM BAIXO (N)», (ILUSTRAÇÕES DE W ANG CH’I, SAN TSAI TU HUI, 1609, COMO
POSIÇÃO DAS 7 HORAS) E PROGRIDEM NA DIREÇÃO HORÁRIA PARA WU (NA POSIÇÃO DA 1 HORA) E DEPOIS DE VOLTA A TZU.
OS ANÉIS SÃO: AS 24 MINI ESTAÇÕES (COM PARES DE CARACTERES), OS NOMES DOS 12 HEXAGRAMAS PA-K’UA EM SI. OS
12 RAMOS TERRESTRES ESTÃO ESCRITOS POR FORA DOS HEXAGRAMAS. A NUMERAÇÃO DO MÊS ESTÁ POR DENTRO DO
HEXAGRAMA QUE COMEÇA EM LI CH’UN (COMEÇO DA PRIMAVERA) COM O RAMO YIN (NA POSIÇÃO DAS 8 HORAS)», (DE CHOU
INFERIOR, DO FOGO ∆ E DA ÁGUA ∇ É A IMAGEM CELESTIAL DO OURO TERRENO, AQUI REPRESENTADO COMO APOLO NO
MUNDO SUBTERRÂNEO RODEADO PELAS SEIS MUSAS OU METAIS», (MUSEAUM HERMETICUM, FRANKFURT, 1749, IN ROOB,
2006:31). ................................................................................................................................................................ 45
FIGURA 31 – O PEQUENO E O GRANDE, OS TRIÂNGULOS RESPEITAM A POLARIDADE DOS FILHOS E FILHAS NO QUADRADO MÁGICO.. 46
FIGURA 32 – PADRÃO DA MUTAÇÃO NO QUADRADO MÁGICO SEGUE O SENTIDO DAS SETAS (1) E (2). .......................................... 46
FIGURA 33 – DERIVAÇÃO FAMILIAR DO GÉNERO DOS MEMBROS DA FAMÍLIA. ............................................................................. 46
FIGURA 34 – IGREJA SANTA MARIA, SINTRA – FACHADA PRINCIPAL, (WWW.MONUMENTOS.PT). .................................................. 51
FIGURA 35 – IGREJA DE SANTA MARIA – ZONA PROTEGIDA, NO EXTERIOR, POENTE, (MARQUES 2014). .................................. 52
FIGURA 36 – IGREJA DE SANTA MARIA – ZONA PROTEGIDA, NO INTERIOR, POENTE, (MARQUES 2014). ................................... 52
FIGURA 37 – IGREJA DE SANTA MARIA – DIREÇÕES E ORIENTAÇÕES – PLANTA, (WWW .MONUMENTOS.PT). ................................. 52
FIGURA 38 – IGREJA DE SANTA MARIA – FRENTE, NO EXTERIOR, NASCENTE, (MARQUES 2014). ............................................ 53
FIGURA 39 – IGREJA DE SANTA MARIA – FRENTE, NO INTERIOR, NASCENTE, (MARQUES 2014). ............................................. 53
FIGURA 40 – IGREJA DE SANTA MARIA – VISTA NASCENTE, (MARQUES 2014). ..................................................................... 54
FIGURA 41 – IGREJA DE SANTA MARIA – VISTA NASCENTE, (MARQUES 2014). ..................................................................... 54
FIGURA 42 – IGREJA DE SANTA MARIA – VISTA NASCENTE, (MARQUES 2014). ..................................................................... 54
FIGURA 43 – IGREJA E CONVENTO DE SÃO VICENTE DE FORA, (ALMEIDA, BELO:2007:245). ................................................ 56
FIGURA 44 – IGREJA DE S. VICENTE DE FORA – ZONA PROTEGIDA, NO EXTERIOR, NASCENTE, (MARQUES 2014). .................... 57
FIGURA 45 – IGREJA DE S. VICENTE DE FORA – ZONA PROTEGIDA, NO INTERIOR, NASCENTE, (MARQUES 2014). ..................... 57
FIGURA 46 – IGREJA DE S. VICENTE DE FORA – DIREÇÕES E ORIENTAÇÕES – 1650, (FERREIRA 1995:6). .............................. 57
FIGURA 47 – IGREJA DE S. VICENTE DE FORA – DIREÇÕES E ORIENTAÇÕES – 1992, (WWW .MONUMENTOS.PT). .......................... 58
FIGURA 48 – IGREJA DE S. VICENTE DE FORA – FRENTE, NO EXTERIOR, POENTE, (MARQUES 2014). ..................................... 59
FIGURA 49 – IGREJA DE S. VICENTE DE FORA – FRENTE, NO INTERIOR, POENTE, (MARQUES 2014). ...................................... 59
FIGURA 50 – SÉ DE LISBOA – FACHADA PRINCIPAL, (ALMEIDA, BELO:2007:252). ................................................................ 62
4
FIGURA 51 – IGREJA DE SANTA MARIA MAIOR, SÉ DE LISBOA – ZONA PROTEGIDA, NO EXTERIOR, POENTES, (MARQUES 2014). 62
FIGURA 52 – IGREJA DE SANTA MARIA MAIOR, SÉ DE LISBOA – ZONA PROTEGIDA, NO INTERIOR, POENTE, (MARQUES 2014). .. 62
FIGURA 53 – IGREJA DE SANTA MARIA MAIOR, SÉ DE LISBOA – DIREÇÕES E ORIENTAÇÕES – SÉC. XII, (SUMMAVIELLE
1986:8). .................................................................................................................................................................. 63
FIGURA 54 – IGREJA DE SANTA MARIA MAIOR, SÉ DE LISBOA – DIREÇÕES E ORIENTAÇÕES – SÉC. XIV, (SUMMAVIELLE
1986:8). .................................................................................................................................................................. 64
FIGURA 55 – IGREJA DE SANTA MARIA MAIOR, SÉ DE LISBOA – FRENTE, NO EXTERIOR, NASCENTE, (MARQUES 2014)............. 64
FIGURA 56 – IGREJA DE SANTA MARIA MAIOR, SÉ DE LISBOA – FRENTE, NO INTERIOR, NASCENTE, (MARQUES 2014).............. 64
FIGURA 57 – IGREJA DA MEMÓRIA, (ALMEIDA, BELO:2007:266). ....................................................................................... 67
FIGURA 58 – IGREJA DA MEMÓRIA – ZONA PROTEGIDA, NO EXTERIOR, NASCENTE, (MARQUES 2014). .................................... 67
FIGURA 59 – IGREJA DA MEMÓRIA – ZONA PROTEGIDA, NO INTERIOR, NASCENTE, (MARQUES 2014). ..................................... 67
FIGURA 60 – IGREJA DA MEMÓRIA – ZONA PROTEGIDA, NO INTERIOR – DIREÇÕES E ORIENTAÇÕES – PLANTA,
(WWW .MONUMETOS.PT). ............................................................................................................................................ 68
FIGURA 61 – IGREJA DA MEMÓRIA – FRENTE, NO EXTERIOR, POENTE, (MARQUES 2014). ...................................................... 69
FIGURA 62 – IGREJA DA MEMÓRIA – FRENTE, NO INTERIOR, POENTE, (MARQUES 2014). ....................................................... 69
FIGURA 63 – ERMIDA DE SANTO AMARO, (ALMEIDA, BELO:2007:279). .............................................................................. 71
FIGURA 64 – ERMIDA DE SANTO AMARO – ZONA PROTEGIDA, NO EXTERIOR, POENTES, (MARQUES 2014). ............................. 72
FIGURA 65 – ERMIDA DE SANTO AMARO – ZONA PROTEGIDA, NO INTERIOR, POENTES, (MARQUES 2014). .............................. 72
FIGURA 66 – ERMIDA DE SANTO AMARO – DIREÇÕES E ORIENTAÇÕES – PLANTA, (ALMEIDA, BELO 2007:278). ...................... 72
FIGURA 67 – ERMIDA DE SANTO AMARO – DIREÇÕES E ORIENTAÇÕES – PLANTA, (WWW.MONUMENTOS.PT). ............................... 73
FIGURA 68 – ERMIDA DE SANTO AMARO – FRENTE, NO EXTERIOR, NASCENTE, (MARQUES 2014). ......................................... 74
FIGURA 69 – ERMIDA DE SANTO AMARO – FRENTE, NO INTERIOR, NASCENTE, (MARQUES 2014). .......................................... 74
FIGURA 70 E 71 – ERMIDA DE SANTO AMARO – POR TRÁS DA CABECEIRA NOTA-SE UM APARELHO DE PEDRA ANTERIOR, POR BAIXO
UM AFLORAMENTO ROCHOSO, (MARQUES 2014). ...................................................................................................... 78
5
INTRODUÇÃO
Sumário
O tratado de Vitrúvio referia já a necessidade do arquiteto ter noções sobre a orientação
adequada dos espaços para que não degenerassem em problemas de insalubridade. No
oriente há a mesma preocupação com o chamado Imperador Amarelo desde 2852 a.C.1. Estas
noções são aplicadas por esta altura pelos imperadores xamãs, sendo um conhecimento que
não extravasava claramente para o corpo da disciplina de arquitetura. Pensamos ser um
conhecimento de grande interesse para a cultura ocidental pelo que este trabalho se propõe
apresentar alguns contributos para a arquitetura. O estudo das direções, ou seja, pontos
cardeais e pontos colaterais e o corpo humano, tornando-se assim fator essencial a considerar
no espaço tendo o Homem como medida de todas as coisas.
Por outro lado as exigências cada vez mais estritas da União Europeia no que respeita o
ambiente, fazem desta nova área de investigação um campo fértil e profícuo uma vez que viver
em harmonia com o universo deve passar inevitavelmente por um pacto de não-agressão ao
meio ambiente enquanto envolvente física e social, como paradigma da vida do homem
terrestre. Assim, podemos observar o impacto que o Feng-Shui é capaz de causar ao sugerir
uma nova abordagem do espaço vivencial, do espaço público e privado, antigo ou atual.
Palavras-chave: Feng-Shui; Projeto; Simbolismo; Teoria da Arquitetura; Ambiente,
Geomancia.
Objetivos
Podemos considerar como objetivos do nosso trabalho: 1) A geomancia, o Feng-Shui e
o trabalho do arquiteto; 2) Revitalizar problemas de decadência, tanto de elementos construídos
como do espaço vivencial; 3) Comparar a tradição geomântica oriental e ocidental.
Estado da Arte
O Feng-Shui é uma arte usada na China e noutras partes da Ásia há quase cinco mil
anos. Apesar de ser um tipo de geomancia, o Feng-Shui demonstrou ter resultados positivos
durante milhares de anos2. As duas técnicas básicas, a escola da forma e a escola da bússola,
têm aspetos diferentes. A primeira incide sobre a forma exterior, no espaço rural ou no espaço
urbano, constituindo uma parte considerável do Feng-Shui; as formas exteriores no território ou
na urbe podem ser aplicadas também aos interiores. Os quatro animais míticos3, ou seja o
dragão, o tigre, a tartaruga e a fénix, são levados em conta assim como o espaço entre eles, o
ming tang, figura de grande relevância como referem os mesmos autores. A escola da bússola
representa tanto o ch’i do céu como o ch’i da terra, sendo a energia básica do universo vinda do
céu, o bom ou mau uso dela pode desencadear mutações na paisagem natural obrigando o
homem a fluir com a energia do universal. A civilização chinesa deu tanta importância às
direções que lhes atribuiu aquilo que tinha de mais sagrado: os 64 hexagramas do I-ching, a
6
sua cosmogonia. As direções básicas relacionam as estações do ano e as fases da vida do
homem. O norte corresponde ao inverno e o sul ao verão. A primavera ao leste e o outono ao
oeste. Dentro deste ciclo, o I-ching reflete o ciclo de criação do universo e o ciclo de libertação
do homem, tal como o faz a Igreja cristã que atribui as suas festividades ao ciclo de S. João
Baptista e S. João Evangelista quando fala de solstícios. O Feng-Shui é tratado de diversas
formas em trabalhos académicos e os mesmos autores limitam-se ao estudo da forma o que,
sendo correto, não é um estudo completo. O homem interage com o planeta, tendo de conviver
com o meio ambiente à sua volta e de se relacionar com outros homens, estando ainda sujeito
à pressão do cosmos e à linguagem da terra e do subsolo.
O que o I-ching chama de pa-k’ua celeste, um quadrado mágico com as oito direções,
corresponde aos oito trigramas básicos com uma determinada disposição obedecendo à espiral
descendente, o que no ocidente corresponde aos dias da criação entrando-se inevitavelmente
na escola da bússola. Por outro lado, a energia vinda do subsolo, a linguagem telúrica, é
analisada por alguns autores como Campadello, e assim temos as correntes de água
subterrâneas, muito nocivas aos assentamentos humanos, e a rede Hartmann que é até hoje
estudada na Suíça no instituto com o mesmo nome. As linhas Ley, benéficas, foram usadas
pelos beneditinos havendo também estudos nesse sentido, como se pode ver na figura 01 e no
sistema planetário destas linhas na figura 02.
7
Figura 02 – «grelha planetária de linhas ley»,
(in http://bit.ly/best_tips).
Os autores mais clássicos como Walters, Lo, Skinner e Wong trabalham o Feng-Shui
como arte mítica. Os vários sistemas usados em Feng-Shui estão ligados ao carácter divinatório
do I-ching tal como os sistemas yuen hon e sam yuen (este último, extensivamente explorado
por Lip, obriga a alterações a cada vinte anos com as mudanças de destino). O ch’i das nove
estrelas usado por Domingues baseia-se na teoria dos cinco elementos desligando-se do lo-shu
que responde às oito direções e aos trigramas do I-ching no pa-k’ua terrestre. Ao trocar
impressões com o especialista em Feng-Shui Tony Holdsworth desde 2006, partilhámos da
opinião de que o Feng-Shui é uma ferramenta básica para o projetista, embora um arquiteto
que se dedique inteiramente à sua profissão tenha grande dificuldade em estudar
profundamente Feng-Shui. Contudo muitos arquitetos trabalham regularmente com consultores
Feng-Shui, acabando por interiorizar os elementos básicos que aplicam instintivamente.
Outros autores seguem metodologias diferentes como Brown4 que usa a Escola da
Bússola e a combina com o ch’i das 9 Estrelas, ignora o I-ching, usando apenas o pa-k’ua
terrestre, com as distorções daí decorrentes. A 9 estrelas incluem o ciclo de 60 anos mas prevê
apenas o sentido yang, um subsistema do lo-shu. Brown5 recomenda ainda o uso de ângulos de
30 graus nas direções em vez de 45 graus, ficando a compreensão ch’i principal comprometida.
O ano a começar a 4 de Fevereiro é usado por inúmeros autores e pela linha budista do Tibete
de Sarah Rossbach, o se chama hoje em dia “Feng-Shui intuitivo”. Rossbach6 segue a seita do
Chapéu Negro – o budismo ao chegar à China absorveu a cultura local e a geomancia mais
popular, e se bem que tenha grande sucesso é usada principalmente em interiores, sendo
muitas vezes olhada no ocidente como supersticiosa. Apesar de usar o I-ching, faz uma leitura
horizontal mais que vertical. A exposição de Rossbach7 e do seu mestre Lin Yun devem ser
analisadas com cuidado. Spear8 aproxima-se de Brown9 aplicando o “Feng-Shui intuitivo”. Este
autor também se baseia no ch’i das 9 estrelas mas trabalha apenas com o pa-k’ua terrestre. Os
arquétipos inerentes não são aqui considerados, usando apenas os trigramas e abandonando a
precisão genética dos 64 hexagramas.
8
Outros autores como Vieira10 falam do uso do Feng-Shui em empresas como a British
Airways, Hilton International, Citibank ao qual recorreram ao instalarem-se na Ásia. No entanto
nos Estados Unidos as empresas Trump, CBS Television Studios, Maxim Hotel/Casino em Las
Vegas, a Cola-Cola em Atlanta e ainda o empresário Mitch Lansdel também recorreram à
geomancia oriental.
O objetivo do nosso trabalho é mostrar que o uso de técnicas básicas de geomancia é
importante, o Feng-Shui e o inerente uso das duas escolas numa visão mais lata pode ser
levada em conta como ferramenta de projeto dando-se assim uma boa estrutura energética aos
espaços. Isto requer a compreensão dos cinco elementos e da relação entre eles, o
conhecimento dos troncos e ramos, do quadrado mágico e da relação com ambos os pa-k’uas,
celeste e terrestre. Os casos de estudo seguem o estudo do templo cristão. No oriente o Feng-
Shui aparece ligado à antropologia, e no ocidente grande parte do conhecimento geomântico
perdeu-se. Pretende-se ainda desmistificar a geomancia passando a construir uma base
concreta e científica como ferramenta ambiental.
O tema
A geomancia olha determinados fatos da vivência humana como essenciais à
sobrevivência, assim o reconhecimento de um genius locci natural e a construção de um genius
locci cultural permite a composição de espaços integrados no ambiente e acima de tudo
síncronos com o passado e o futuro, podendo o património e a requalificação urbana constituir o
restauro de um genius locci, um mutante que permite ao homem circular como integrador da
energia do céu e da terra em sintonia com o seu espaço vivencial e o universo pensando-se ser
este o verdadeiro sentido da recuperação, que reside na compreensão do espaço e no uso que
lhe foi dado ao longo do tempo. Este espírito do lugar, ao ser recuperado, dá ao espaço uma
atualização e uma continuidade temporal, uma metamorfose ambiental constante, conferindo-
lhe autenticidade.
A escolha do templo cristão previa em épocas recuadas o estudo geomântico. Na
análise feita, os templos revelaram aos poucos a sua atmosfera de intensidade religiosa e
devocional sendo especificamente analisados o eixo, a cabeceira, a entrada e o centro, como
pontos essenciais ao templo cristão e ao Feng-Shui; estudaram-se ainda os animais míticos do
oriente ou seja, o estudo dos elementos do oriente e do ocidente, levou-nos a perceber a
semelhança dos valores simbólicos presentes e a intencionalidade com que o espaço foi
concebido à partida. As metamorfoses ocorridas ao longo do tempo na envolvente resultaram
em alterações profundas no carisma do espaço e muitos deles inverteram a sua polaridade, ou
seja a vista deixou de estar a oriente para passar a ocidente. Não podemos deixar de referir que
o Feng-Shui olha o pa-k’ua celeste como obedecendo à geometria do céu, o 6 enquanto o
terrestre olha a geometria do 9. Essas linguagens do oriente e do ocidente são bastante
9
semelhantes, obedecendo a uma visão geomântica geométrica, um cânon celeste, que ao
combinar-se com a terra gera a vida manifestada.
A geomancia oriental dá ao projeto de arquitetura o grande contributo da integração no
ambiente. Hoje em dia o ser humano reconhece este valor abandonando progressivamente a
diferenciação de uma personalidade, obedecendo assim a uma linguagem matemática e
ambiental também presente no templo, cujo Axis mundi, o centro dos templos de planta
centrada, gnóstica, se descola para o coração na cruz latina, devocional, o novo ponto de
integração com a cúpula celeste reunindo o tempo celeste e o tempo terrestre. Assim a análise
geomântica do oriente torna-se uma peça fundamental na compreensão do lugar, do seu
desenvolvimento ao longo do tempo, e ferramenta essencial ao considerarem-se novos usos e
atividades afins com a presença do passado.
A geomancia é pois um tema multidisciplinar e isso obriga-nos muitas vezes a
abandonar uma abordagem escatológica para optarmos por uma visão cíclica, apreciação
correta dos inúmeros aspectos do mesmo tema. O oculto faz parte da natureza humana, o
corpo físico é palpável mas não inclui o mundo das emoções nem do pensamento, e neste
domínio é muitas vezes necessário tempo de maturação antes de se introduzirem novos
aspetos. Este tipo de abordagem pareceu-nos síncrono com a organicidade do ser humano,
sendo a forma mais fácil de apreender conhecimentos à primeira vista tão complexos.
No capítulo um estudamos essencialmente os lugares, o que é a geomancia e o I-ching,
a sua ligação ao homem e ao local, o genius locci, sendo peças essenciais no cumprimento do
primeiro objectivo, e como aplicar este conhecimento em espaços da vivência do homem, o
passado, o património, a requalificação urbana e o futuro como consequência das pré-
existências. Começamos por observar o que é o Feng-Shui, dando alguma compreensão sobre
a finalidade do seu uso, depois o I-ching, a distinção do celeste e do terrestre, o quadrado
mágico, a chave do nosso planeta. O lugar dá a noção da influência do homem no espaço e
como isso pode interferir na sua fisiologia provocando adaptações biológicas. A solução do
espaço requer respostas culturais locais, levando em conta a sincronicidade dada pelo tempo.
O património também é analisado dando a geomancia uma previsibilidade ambiental e social
capaz de requalificar espaços, urbanos e patrimoniais, de índole diversa.
No capítulo dois trabalha-se a metodologia usada, respondendo ao segundo e ao
terceiro objetivos começando com o espaço sagrado e o genius locci que na antiguidade
apareciam em conjunto pois os espaços sagrados procuravam locais especiais com
características bem desenvolvidas, muitas vezes com propriedades mágicas e curas
milagrosas. Tenta-se compreender a quadratura do círculo que o geomante oriental tão bem
conhece, como se constrói a cidade; o tempo não fica esquecido pois ele é a sequência dos
fenómenos que procuramos perceber e que nos é transmitido pelo pulso da história dos lugares
que se reúne ao tempo celeste e mítico. O templo cristão insere o homem no sagrado e dá-lhe
10
condições no tempo figurando a geomancia como instrumento de sacralização do espaço. Aqui
observa-se o encontro da tradição ocidental e oriental. A metodologia propriamente dita segue a
que se usa em Feng-Shui. A análise numerológica procura dar um sentido e uma leitura comum
ao ocidente e ao oriente, exigindo a presença do discernimento humano e como este se liga ao
espaço, aparecendo a ciência médica como pivot capaz de explicar esse desempenho. A
numerologia é analisada com algum detalhe tratando-se de uma linguagem que traduz o próprio
universo.
O capítulo três, casos de estudo, analisa várias peças do património: a igreja de Santa
Maria em Sintra, a igreja do Convento de S. Vicente de Fora, a Sé de Lisboa ou igreja de Santa
Maria Maior, a igreja da Memória e a ermida de Santo Amaro. Nos dados relativos ao
património, foi consultado o Inventário do Património, a geomancia segue a análise feita no
local, enfatizando-se sucintamente os elementos mais carismáticos estando a informação
completa em anexo. Faz-se ainda o estudo comparativo do património e da geomancia com os
objetivos do nosso trabalho, tendo ainda em conta a orientação, o eixo este/oeste, o dragão e o
tigre, a personalidade do local, o centro, a entrada de energia, as recomendações para cada
caso e os períodos de destino e a sua relação com a história e cronologia dos monumentos.
No capítulo quatro, conclusão, analisam-se os dados obtidos face ao que se pensou
estar presente. Elabora-se o estudo e o diagnóstico feito em Feng-Shui, que na maioria das
vezes confirma a história e a cronologia dos espaços, a relação com os objetivos do trabalho e
o que ficou apurado, usando-se tabelas e outros elementos achados necessários.
Em anexo 1 temos as fichas de geomancia de cada monumento elaboradas por
Marques 11.
11
CAPÍTULO I – A GEOMANCIA E OS LUGARES
As moradas dos homens são de grande importância e a sua localização essencial à
relação com a envolvente. A perfeição não é estática, e a mutação torna-a imperfeita obrigando
a constantes adaptações. Lao Tzé, no Tau Té Ching, fala e explica a relação do homem com o
Tau. A sua afirmação «o céu e a terra não são humanos»1 reflete o caráter imutável dos
opostos, opostos que não incluem o homem. Este pequeno livro expressa o perigo da
benevolência e da correção pois transformam-se facilmente no oposto. Também em
investigação nem sempre procedimentos justificam causas.
Este capítulo faz um estudo sucinto sobre Feng-Shui, sobre o I-ching como elemento
básico na compreensão do local e da sua energia; a sua ligação ao arquétipo e ao homem
numa leitura do genius locci é peça fundamental para vivências associadas. Pretende-se
compreender o local, onde o passado e o futuro interagem podendo ir da requalificação urbana
à revitalização do património, e tenta-se a compreensão do genius locci e do arquétipo dos
lugares que irá desenvolver um padrão mutante, a metamorfose que traz consigo fatos
síncronos que constroem o modelo cultural presente.
12
esoteric techniques»6 como praticantes das artes da adivinhação, da magia, da cura e da
longevidade.
A compreensão do ciclo dos elementos é fundamental na detecção da energia dos locais
e compreende dois ciclos. O da criação é circular e os elementos seguem a ordem da criação
(água, madeira, fogo, terra e metal), e o ciclo de controlo ou de destruição que obedece ao
pentagrama, o homem que domina os elementos que o constituem. Assim a água apaga o fogo,
o fogo derrete o metal, o metal corta a madeira, a madeira destrói a terra, e a terra enlameia a
água. Cada elemento está ligado a um planeta: assim Mercúrio, Júpiter, Marte, Saturno Vénus,
com interpretações semelhantes no ocidente (ver a figura 03). A água começa o ciclo anual, a
geração do universo e do homem. As formas dão o reconhecimento da envolvente paisagística
dos lugares e as suas configurações trazem consigo valores culturais na paisagem humanizada
(ver a figura 04).
FOGO
MADEIRA SOLO
Controlo
ÁGUA METAL
01.2 – I-ching
O Taoísmo dá a compreensão do Tau na natureza e na humanidade. O Tau não é
determinista e a adivinhação procura a leitura dos padrões fixos do universo e a sua influência
no mutável, no relativo. A geomancia, o Feng-Shui, dá uma noção do nosso lugar no universo e
como viver integrados nele, em harmonia com o ambiente. Citando Marques: «... O Ambiente é
o Património nas suas vertentes natural e cultural de que o homem dispõe para a sua
sobrevivência no planeta»13, a resposta positiva ao local é um fator de desenvolvimento ficando
nós presos pela «alternativa da consciência individual»14, sendo o desenvolvimento em
ambiente protegido, um valor acrescentado para a comunidade dos homens.
O ciclo da criação e a saída do Tau, e o retorno a ele, transporta as águas para norte e o
fogo para sul ficando os elementos puros de madeira a leste e metal a oeste, o padrão da
mutação, o ciclo solar. As energias intermédias, os portões15, estão nos pontos colaterais sendo
elos de ligação ao mundo subtil. As linhas inteiras e quebradas vão pois definir a energia yang e
yin de forma que a sua combinação resulta em duas sequências, os pa-k’ua celeste e terrestre,
em que o ciclo completo, a criação e o retorno ao Tau, resulta nos 64 hexagramas (ver a figura
05).
14
A
B
O sistema de numerologia chinês16 é baseado no I-ching do Imperador Fuhi (2852 a.C.),
que estabeleceu o sistema binário, a criação dos quatro elementos principais, os oito trigramas,
os sessenta e quatro hexagramas, e o pa-k’ua celeste ou Ho-t’u. O Rei Wen (1143 a.C.), iniciou
a dinastia Chou definindo o pa-k’ua terrestre ou Lo-shu, interpretando os sessenta e quatro
hexagramas. O Duque de Chou, seu filho, interpretou as linhas dos hexagramas, completando o
trabalho do pai. Confúcio (600 a.C.) cria os comentários às decisões, os comentários às
imagens e os comentários às linhas, inserindo no I-ching uma visão moralista que o dirigiu no
sentido religioso. Lao Tzé também aprofundou o estudo do I-ching. Os chineses professam
vários cultos como o Budismo, o Taoismo e o Confucionismo. O Taoismo é uma filosofia, como
referem Lip17 e Braizinha18 só adquirindo um contorno religioso no séc. II, sendo o budismo e o
confucionismo manifestamente religiões. O Taoismo é muito antigo, o Confucionismo e o
Budismo datam do séc. VI a.C., este último surge na Índia.
Sul – Céu – Pai
15
Os dois pa-k’ua obrigam a uma compreensão dinâmica do universo, o celeste olha a
espiral da criação, a energia vinda do céu que cria todas as coisas, tem a força do arquétipo
dos lugares e fica assegurada com o carisma de um genius locci. Esta descida energética pode
ser comparada aos dias da criação começando pelas águas primordiais (N e NW), fecundadas
pelo fogo frio (W e SW), capazes da cristalização do universo em corpos estelares, as imagens
refletidas caracterizadas pelo elemento metal (S e SE), e o seu aspeto expansivo com o
elemento madeira (E e NE), no final, no fundo da espiral, a vida dos mundos, as terras que
podem ser vistas na posição central algumas oitavas abaixo (ver figuras 06 e 07). Esta visão
tem uma ligação profunda à tradição ocidental que passamos a analisar, com importância para
os casos práticos.
O cristão ao entrar no templo a oeste passa pelo batismo da água, encaminha-se para o
altar e lá recebe o batismo pelo fogo. A água e o fogo são elementos primordiais e permutáveis,
a sua polaridade obedece à vontade desenvolvida ao entrar no templo a oeste, transforma as
águas da geração em fogo cristalizado na ara, a pedra talhada a leste, anulando o ciclo solar,
libertando-se dos ciclos da matéria. A linha central obedece ao simbolismo do templo cristão
(este/oeste). Neste pa-k’ua, o triângulo feminino e o triângulo masculino, formam uma estrela de
seis pontas, o equilíbrio perfeito das energias da criação, o número celeste.
O pa-k’ua terrestre, a transformação humana, a espiral de libertação onde o homem
recria o mundo em analogia com o universo, a geração a norte, crescimento e exaltação a sul
com o intelecto, a decrepitude e a libertação (ver figuras 08, 09 e 10). O quadrado mágico soma
dez em todas as direções. Para o perfeito equilíbrio, o cinco no centro, o número do homem (a
medida de todas as coisas) temos o total de quinze, com o norte em baixo e o sul em cima. No
entanto, este pa-k’ua mostra o ciclo anual, o ciclo de 60 anos e as direções, norte, sul, este e
oeste que são sagradas; o criador usa-as para transmitir a sua palavra, está de acordo com os
ritos dos solstícios e equinócios delimitando o espaço e o tempo, definido pelo zénite e o nadir,
o octaedro. As quatro direções trazem o cosmos ao espaço sagrado, o nadir estará próximo da
consciência elementar, o anel dos nibelungos, o zénite do ancião dos dias. A cada ponto
corresponde uma hierofania, assim o imago mundi toma a forma de um eixo ordenador do
espaço, o Axis mundi. Os portões, os pontos colaterais19 representam a ligação com o mundo
subtil: a nordeste o portão dos espíritos, a sudoeste o portão da terra. Garantem a entrada no
ciclo da geração, anunciado no solstício de verão por João Baptista. A noroeste o portão do
céu, e a sudeste o portão dos homens, traçam o caminho de identificação com o céu e a
libertação anunciada no solstício de inverno pelo Evangelista.
16
4 9 2
3 5 7
8 1 6
Figura 08 – Pa-k’ua terrestre, o ciclo Figura 09 – Homem, «Se traçarmos, a partir do centro, uma
dos elementos começa em baixo com água a circunferência que passe pela parte superior da cabeça, se afastarmos
norte (azul), madeira a leste (verde), fogo a os braços de tal modo que as pontas dos dedos toquem a periferia do
sul (vermelho), depois o eixo terra, nordeste círculo, e se colocarmos os pés de forma a que fiquem tangentes a este,
sudoeste (amarelo) e metal a oeste formando entre si um segmento de comprimento igual á que vai do alto
(cinzento). da cabeça à extremidade dos dedos, obtemos uma circunferência
Sul –Fogo dividida em cinco partes iguais, formando um triângulo equilátero com o
Os trigramas são uma escrita simbólica dos ciclos do universo, a polaridade é dada pela
linha diferente e a imagem é a forma do que representa. O receptivo, três linhas quebradas,
alberga toda a obra da criação, e o criativo, três linhas inteiras, capacita a própria obra da
criação. Com duas linhas inteiras, o fogo queima sendo a mobilidade dada pela linha quebrada.
A água é um trigrama que sugere adaptabilidade ao fundo com grande mobilidade à superfície,
sendo o seu carácter como elemento dado pela linha inteira. O vento encosta-se às camadas
da atmosfera em cima, no entanto à superfície é murmurante e adaptável, carácter dado pela
linha quebrada. O lago de montanha encaixa-se entre fragas, reflete o céu, e a sua ondulação
superficial é dada pela linha quebrada. O trovão, a palavra celeste, é uma energia que desce
intempestiva e estala em contacto com a terra, carácter que lhe é dado pela linha inteira. A
montanha, é o ímpeto terrestre que sobe, o telurismo subjacente mas limitado à superfície,
carácter dado pela linha inteira.
01.3 – O lugar
Observar as configurações do relevo é compreender a estrutura energética original. Se
as montanhas na paisagem dão a sensação de movimento, então nasce o poder do dragão. Se
a água se torna quieta e calma é porque acumula poder. Os opostos são impenetráveis, assim
17
o grande yang pode equilibrar-se com o pequeno yin, e o grande yin equilibra-se com o
pequeno yang ou seja, as montanhas que se movem e as grandes águas tranquilas mostram a
acumulação de poder nos locais (ver figuras 11, 12, 13, 14, 15).
7
5
3
6
8
1
Figura 17 – «Sequência de passos da Dança de Figura 18 – «O lo-shu: A escrita do Rio Lo»,
Yu», (JING-NUAN 1991:xiii). (JING-NUAN 1991:xiii).
Os primeiros passos do xamã de Eliade38 e a dança de Yu representam o passado;
fluem no sentido yang de 1 a 3, e os últimos passos de regresso ao Tau são dados para trás, no
sentido yin. Revivendo-se no espaço o ritual cósmico de saída do Tau e o caminho de volta ao
Tau, sacralizando-o à volta do centro marcado pelo número cinco no quadrado mágico, o Axis
mundi, o tai ch’i a imutabilidade que permite a viagem no tempo.
Aqui o ch’i liga-nos aos antepassados e responde ao código genético, uma ligação ao
DNA (o número 64). Este fator faz a ponte entre o mundo subtil e o mundo dos fenómenos, a
organização de um espaço genético. Isto aparece na arquitetura de todos os tempos, o espaço,
a medida do homem, e Jing-Nuan39 fala-nos numa dimensão física e objetiva, o homem a
medida e espelho do todo. A energia vital circula no homem como circula no universo. No
entanto, os princípios nem sempre se associam às ideias e às formas básicas. Ao reconhecer o
ch’i dos lugares e trabalhando o espaço a partir da genética humana, cumpre-se o ritual
sagrado.
21
A tradição ocidental é referida por Jing-Nuan40 ao falar na semelhança entre ch’i,
pneuma e éter, podendo ser encarados como a mesma coisa. No entanto o ch’i tem uma
componente plástica material, uma imagem nascente. Compreender o ch’i obriga compreender
o hiato do presente, o Tau onde reside a essência da mutação no corpo, no universo e nos
lugares. O padrão regular do ritmo do espaço e do tempo. Ao espaço é imprescindível o uso da
vara do tempo na marcação das direções. Para as mentalidades Gonçalves41 fala nos
estereótipos culturais que influenciam a sociedade há três mil anos, sendo estudados pela
psiquiatria, assim as soluções dadas no oriente não têm a mesma correspondência, a
sociedade patriarcal ocidental tem raízes profundas nos valores e símbolos greco-romanos. As
tendências culturais ancestrais devem regular a correspondência das soluções culturais e
sociais na identificação com a tradição do lugar, a conotação da palavra Sanyo ou Feng-Shui,
diz-nos que uma alteração a este nível pode não ter o resultado esperado42.
Este mesmo pressuposto aparece nos hexagramas que têm energias análogas e
síncronas, «Similar (qui) energies will seek each other»43. Esta sincronicidade leva-nos a crer
que a verdadeira atração é causada pelo semelhante e não pelo oposto. A mesma ideia de
sincronicidade aparece em Cícero que diz-nos: «E, na verdade, em caso de dissensão política,
e uma vez que os bons valem mais do que a multidão, entendo que os cidadãos devem ser
pesados e não contados»44, um conflito com o atual número humano de identificação que sai
fora do ritmo vital do universo. No ocidente os antídotos destroem a força capaz de reagir em
vez de energizá-la, assim o geomante não deve perder de vista as semelhanças
fenomenológicas e orgânicas, os antagonismos retiram ao ser humano a identificação com o
espaço. O ser humano requer a caracterização do fenómeno vivencial que lhe é síncrono com a
reconstrução em três níveis, o céu, a terra e o homem, presente nos hexagramas, e na leitura
do espaço que conserva a sua própria natureza.
01.4 – O património
Ao longo do seu desenvolvimento o homem, profundamente ligado ao mundo subtil, foi
aprendendo a viver no mundo exterior desenvolvendo valores de objectividade que culminam
na nossa civilização com a personalização, a diferenciação. Este ponto de viragem exige novos
valores de sensibilidade e de integração na natureza que tornam o homem um ambientalista,
abandonando o pessoal, reaprendendo a integração no universo e no cosmos. O espírito do
lugar, o genius locci, antecede a modelação cultural e esta pode adormecê-lo durante séculos
num desenvolvimento urbano/rural contra a sua natureza. Restaurar o genius locci, reintegrar o
lugar na sua nova envolvente cénica, requer o reconhecimento deste génio, as suas apetências,
a sua vocação primordial, a mutação e atividades síncronas. O valor que nos preocupou na tese
de mestrado “O Património e o Turismo nos Planos”45, definiu um modelo de avaliação do
22
património, como identificador do valor e da mais-valia, sendo o reconhecimento dos locais e da
sua emanação fundamental.
A Tradição de Vitrúvio perdeu-se progressivamente com as mudanças introduzidas por
Alberti e Palladio46, que transformaram progressivamente a arquitetura e o urbanismo em
alinhamentos que se mantêm no campo restrito da imaginação, esquecendo as forças do
universo, mostrando uma incapacidade de integração no ambiente, ou seja, o homem separou-
se do todo. A Nova Carta de Atenas e o urbanismo do séc. XXI vão em sentido oposto com a
sustentabilidade e a manutenção do ambiente. O desenvolvimento socioeconómico ligado à
vivência humana mostra a presença da adaptação do macroespaço ao microespaço e à
privacidade olhando as apetências desqualificadas, sociais e urbanas, mantendo esses
espaços livres evitando riscos desnecessários. Heidegger ao dizer «Le lieu fait entrer dans une
place la simplicité de la terre et du ciel, des divins et des mortels, en même temps qu’il aménage
cette place en espace»47 dá-nos uma leitura geomântica e tal como Lao Tzé fala num céu e
numa terra não humanos, o homem mortal sofre a sua influência do exterior, e mais adiante
«En tant qui est la double mise en place, le lieu est une garde du Quadriparti ou, comme le dit le
même mot, une demeure pour lui», uma visão que coincide com o que chamamos de
orientação, ou seja, a relação com o “Quadriparti” e ao mesmo tempo a localização, a relação
pessoal com a morada, o centro aglutinador do habitar pessoal. E Heidegger vai mais longe ao
dizer «Ménager le Quadriparti: sauver la terre, accueillir le ciel, attendre les divins, conduire les
mortels, ce quadruple ménagement est l’être simple de l’habitation»48. Este olhar para além de
quádruplo, ou seja o lugar do céu e da terra, o lugar sagrado e o lugar profano e mortal é uma
leitura geomântica. Heidegger49 ao falar na partição em quatro e na quadratura por serem
operações intemporais sempre presentes na definição do espaço dá uma visão geomântica, no
entanto, não é importante a definição de qual das modalidades se usa, há uma
circunstancialidade inerente ao local e ao objetivo consoante se “constrói – construct” ou se
“habita – build”. O espaço geomântico é um espaço pragmático, um espaço real onde os
fenómenos decorrem e não um espaço filosófico e muito menos um espaço virtual; a imagem
que procura representar é uma imagem do real e não uma imagem virtual, não podendo nós
deixarmos de acrescentar que a realidade virtual é completamente ilusória e não tem qualquer
realidade no mundo de manifestação tridimensional, podendo existir em dimensões paralelas
mas estando sem dúvida fora do espaço e do tempo. A geomancia no entanto, obriga-se a uma
previsibilidade ambiental e social, sendo o homem a peça mutante do sistema.
Lugar e envolvente implicam um panorama, a frente, o dragão à esquerda e o tigre à
direita. A configuração básica é difícil de encontrar na urbanidade e as analogias devem ser
feitas com o natural. A proteção define o rectângulo de alinhamento fazendo-se a partir daí uma
análise detalhada50. A envolvente, a presença de água, de árvores de grande porte, espaços
abertos, pilares e postes, arcos, edifícios altos, tipo de telhados, estradas e ruas, fios de
23
telefone e de eletricidade são importantes no exterior; no interior, a direção das portas, o tai-ch’i,
o centro, são essenciais, o poder do centro estando presente no carisma da imprevisibilidade e
a circulação por isso devendo ser mantida. O valor da orientação tem o carácter imutável do
universo e o dragão de água e de terra devem ser reconhecidos. O Norte Magnético altera-se
constantemente tendo o Norte Geográfico maior precisão51. O dia e o ano têm as mutações das
correntes magnéticas, mas não são significativas. O campo magnético da terra é
suficientemente forte para provocar alterações nos lugares, nas casas, e no corpo humano. O
comportamento da agulha magnética da bússola faz leituras de variadíssimos fatores. Skinner52
refere o tratamento da água de superfície e no subsolo, não esquecendo que a orientação deve
fazer um desvio de 2 a 5 graus nos pontos cardeais. Os trigramas fazem a leitura do existente,
natural ou património. Nos exteriores o arquétipo, nos interiores a mutação, o reino do homem,
o seu espaço vivencial e personalizado. A vivência urbana é em simultâneo exterior e interior, o
sonho humano, sendo importante a contiguidade. Em Feng-Shui é necessário uma orientação e
uma localização (relação com o centro) corretas, e uma ponte com a envolvente e as atividades
presentes. As formas regulares têm uma conotação, mandalas, e só poderão ser bem-
sucedidas em edifícios de grandes dimensões53, a sua regularidade celeste subtrai a
irregularidade do excesso que invade a escassez.
Os conceitos de espaço e tempo, importantes para o património, deixam-nos observar
as identidades sucessivas, os genius locci, que ao mudarem transformaram o espaço ao longo
do tempo. Se por um lado Heidegger nos fala dos novos conceitos de tempo, nascidos das
teorias de Einstein, eles acabam por coincidir com os conceitos antigos. Por outro não podemos
deixar de referir «the measuring of nature within a system of space-time relations»54, a relação
entre o espaço e o tempo, o espaço horizontal e o tempo vertical, pois ao cruzarem-se estes
círculos, fica definida a esfera onde o espaço e o tempo não existem separadamente, o que
coincide tanto em Einstein como em Aristóteles; hoje em dia a sua medida é relativa, pois nos
processos digitais a localização do círculo temporal dissociou-se do espaço, sendo estes
aspectos importantes em geomancia e tornando-se impossível compreender verdadeiramente o
espaço sem penetrar nos mistérios do tempo. O ciclo anual, o tempo de viver e o tempo de
partir, as horas minutos e segundos, assumem uma importância insuspeitada, o espaço tem
também a linguagem do tempo do fuso horário, e a hora local é sempre a hora apropriada, o
que hoje em dia também pode ser um engano com as horas legais, hora do fuso e hora de
verão que acabam por alterar o tempo. Os antigos lo-p’an não se dividiam em 360 graus mas
em 365 partições, calculando-se o tempo no espaço transferindo-lhe a sacralidade do local e a
intemporalidade da criação. Fragoso diz ser a «quarta dimensão, o tempo»55 no entanto o
espaço geomântico pode ter várias dimensões inclusas no seu estatuto horizontal e a
coordenada vertical a polaridade com o infinito o tempo. O tempo é pois a 3ª dimensão, a 4ª
dimensão é do foro da psicologia e da psiquiatria e está no mundo material não visível. Durante
24
milénios o arquiteto, para delimitar o seu espaço de intervenção necessitou sempre da vara do
tempo, a vara cuja sombra lhe dava a correta posição no universo, a quadratura do círculo. Ao
olhar uma bússola de geomancia percebemos que o seu design é, por si só, a imagem da
quadratura do círculo, a operação de complexidade discutível; ou se insere um quadrado no
círculo ou os quatro quadrantes são já os quatro sectores do círculo quadrado. Vamos aqui
buscar o homem de Vitrúvio com o Axis mundi no centro, a comunicação com o universo, como
também o quadrado mágico com o número cinco ao centro, e como já foi referido
anteriormente, o número do homem. A linguagem é idêntica, não há contradições nem
dissonâncias nos significados dos números, do homem e do espaço integral, da esfera ou dos
círculos que se cruzam.
O modernismo trouxe soluções que Rodrigues56 refere como organicidade ao estudar
Álvaro Siza. Em geomancia é um aspecto da compreensão do espaço existencial, o lugar onde
se insere o objecto, o lugar onde se insere o homem. A compreensão dada pelo Feng-Shui já
não é um atavismo, mas uma leitura racional e probabilística que contem as sementes da
sabedoria antiga do I-ching. O mesmo autor olha a metamorfose na obra de Álvaro Siza, no
entanto esta mutação presente na pele dos lugares, o limite exterior e interior, requerida pela
existência e pela vivência, permanece imperecível enquanto o elemento mutante é o homem.
Temos aqui uma interrogação: onde está o arquiteto? Associa-se ao céu e à terra, com as
humanidades ausentes, ou associa-se à humanidade, tornando-se “actante”57 no mundo dos
fenómenos, perdendo o céu e a terra. A resposta da geomancia é apenas uma, não inclui uma
relação subjetiva com o espaço, tratando-se de uma leitura matemática e científica. O
geomante é um fractal, está no limite entre a organização e o caos.
1 TZÉ, s.d.:10. 20 «1 – O Livro das Mutações contém um quádruplo Tau dos santos
2 WONG, 1996. sábios. Ao falar guie-se por seus julgamentos; ao agir guie-se por suas
3 WALTERS, 1995:10. mudanças; ao fazer objetos guie-se por suas imagens; ao indagar o
4 HANI, 1981. oráculo, guie-se por seus pronunciamentos», (WILHELM, 1992:240).
5 WONG, 1996:19. 21 SANTA-RITA, 1995.
6 WONG, 1996:23. 22 WONG, 1996:4.
7 HOLDSWORTH, 2009. 23 EITEL, 1985.
8 HOLDSWORTH, 2007. 24 CAMPADELLO, 1998.
9 WU, 2003:xxxi. 25 CAMPADELLO, 1998.
10 WU, 2003:xiii. 26 CAMPADELLO, 1998:36.
11 WALTERS, 1995:166. 27 CHELALIER; GHEERBRANT, 1994:551.
12 SKINNER, 2008:37. 28 LIP, 1986.
13 MARQUES, 2005:20. 29 LÉVI-STRAUSS, 2012.
14 MARQUES, 2005:212. 30 LÉVI-STRAUSS, 2012:146.
15 HOLDSWORTH, 2006. 31 JING-NUAN, 1991.
16 LIP, 1995:62. 32 JING-NUAN, 1991:vi.
17 LIP, 1995. 33 JING-NUAN, 1991:vii.
18 BRAIZINHA, 1989:401. 34 «Where and what are the doors to this celestial dimension? In my
19 HOLDSWORTH, 2006. first introduction I speculated about cracks and gaps in the fabric of
25
normal space-time. I also mentioned the qi xue, the energy holes used with great spiritual significance. 2. A Wondrous Door may also be built.
in acupuncture on the human body. In addition to the major energy Churches, altars, shrines and temples an human attempts to make
holes, which are called acupuncture points, there can be additional or physical these nodes of energy. But the physical dimension is only the
surplus qi holes. The multiple meanings of the word “qi” are important first level of three. The second level is timing. There has been a rhythm
here. Qi, meaning “strange” and qi meaning “energy”, are different to time, which has been formalizes and agreed upon in certain times
words in Chinese, but they are the same Romanization: qi. such as the Sabbath, Halloween, and the days of jie qi energy nodes.
The meaning of this “strange” qi includes two levels that are both These are times when communication with other worlds is more
important to us. The first is this qi ideogram, which means “strange, possible. The third dimension is ritual. Whether dance, or song,
wonderful, rare, extraordinary in nature”. Its second meaning concerns whether incense or prayer, whether by water or by fire, ritual, like de Yi
a numerical value; it means, “odd, single, surplus, orphan”. The first qi Jing, turns the lock of the Wondrous Door. The architecture of a
is descriptive. We should look for something wonderful, beyond the Wondrous Door can follow the plans of a Taoist altar», (JING-NUAN,
ordinary. The second meaning gives clues about timing; qi ri means the 1991:vi-vii).
odd days of the month, which by extension involves a mathematical 35 ELIADE, 2000.
meaning: it may point to a remainder. I see it embodied in the leap 36 ELIADE, 2000:126.
year, an oddity which does not fit neatly into the calendar year. 37 «But Yu’s need was to influence the future – not to go with the
As acupuncture points, qi xue were not named. Why? They are of a current, but to make the floods recede, thus he counts backwards. This
transitory nature with no fixed abode. They come and go. They is supported by the Yi Jing in chapter three of the Shuo Gua, the
manifest with trauma. A punch to any place on the body produces this Discussion of the Trigrams “the numbering of the past is flowing with
odd extra energy holes which is outside the normal count. the current, the knowledge of the future is countercurrent, this causes
In Taoist practice there are secret practices to calculate and to enter the Yi to count backwards”», (JING-NUAN, 1991:xiii).
the qi men, the “wondrous door” to the dun jia, the “hidden time”. 38 ELIADE, 2000.
Moreover, dun jia also means “simultaneous time”. Hidden and yet 39 JING-NUAN, 1991:25.
simultaneous. Perhaps this is an ancient acknowledgement of relative 40 JING-NUAN, 1991:27.
simultaneity which fits with modern physics. 41 GONÇALVES, 2012.
“Wondrous” appears again in san qi ling, The Three Wondrous Spirits. 42 LIP, 1995:61.
The first spirit is assigned to the sun, the second to the moon, the third 43 JING-NUAN, 1991:31.
to the stars. The star spirit is the most powerful. 44 CÍCERO, 2008: 226.
In their elaborate calculations to find the Wondrous Door, the twelve 45 MARQUES, 2005.
earthly branches and the ten celestial stems and their locked rotation 46 HABRAKEN, 2005.
give an answer. The shamans sought times of hiatus, yin times of non- 47 HEIDEGGER, 1958:188-189.
action, times of mother and gestation. These unique openings to other 48 HEIDEGGER, 1959:189-190.
dimensions manifest both in physical space and in time. Spatially, they 49 HEIDEGGER, 1958:214.
occur naturally on the earth’s surface at intersections of qi energy lines 50 HOLDSWORTH, 2007.
to create nodes of power. Juxtaposition of an unusual moment of time 51 SKINNER, 2008.
opens the Wondrous Door. 52 SKINNER, 2008:40.
At least two ways are available to pinpoint this physical space: 1. They 53 LIP, 1986.
may be found by Feng-Shui, the wind and water of geomancy to locate 54 HEIDEGGER, 1992:3E.
the dragon openings of the earth. Major physical points are well known: 55 FRAGOSO, 2001:21.
Mt Tai and other sacred mountains of China, the Pyramids and 56 RODRIGUES, 1995.
Stonehenge. Over time, these sites have become famous as places 57 SANTA-RITA, 1995.
where miracles and wonders happen, and many have been endowed
26
CAPÍTULO II – METODOLOGIA
O templo cristão como tema dos Casos de Estudo, leva-nos ao reconhecimento do
genius locci, ideia já desenvolvida no mestrado, que «a escolha do local passa pois, por um
reconhecimento do “genius locci”, adaptando-o, de alguma forma aos objectivos do segmento
de mercado considerado»1 e, mais à frente, que «é necessário por isso, percorrer o local palmo
a palmo e sentir o cheiro da vida presente». Este reconhecimento da energia usando-a dentro
do seu carisma levou a uma metodologia que trouxesse à tona o que Jung2 chamou de
“sincronicidade” ou seja, os locais têm vivências simpáticas que tendem a repetir-se ao longo do
tempo, o que a geomancia ajuda a identificar adaptando-as a novas identidades, garantindo
assim o património, e uma sociedade psicologicamente e mentalmente saudáveis.
O Capítulo II analisa o espaço sagrado e o genius locci, a sua relação com o homem e o
uso do espaço; depois o templo cristão estabelece uma metodologia geomântica do património,
e por fim a numerologia surge como elo entre o ocidente e o oriente.
27
afirmação reporta-a para uma ciência natural mágica. Bruno7 ao explicar-nos os vínculos da
magia, deixa-nos perceber toda a essência da mutação. O mais curioso é a estrutura destes 20
vínculos que até ao 6º falam da ligação dos espíritos ao universo, os outros 14 refletem uma
ordem social. Esta organização é semelhante à dos 64 hexagramas, o que nos leva a crer
estarmos em presença de linguagens diferentes de uma mesma realidade.
A geomancia e a geografia sagrada são de certa forma análogas. A geografia sagrada
obedece a um arquétipo celeste e envolve energias estelares exteriores ao planeta; a
geomancia olha as energias ligadas ao telurismo, à forma inicial, à força criativa do cosmos,
incluindo as alterações e manipulações energéticas do homem ao construir os seus habitats.
Esta sacralização transmitiu também valores simbólicos aos lugares: a cidade, o mandala
habitado, e a habitação com a mesma conotação, as quatro direções definem o mandala
habitado pela criação. Aniela Jaffe explica esta relação do espaço e do tempo8, e a sua ligação
ao mito9.
Ora o mito não passa da memória da origem, a recordação é a história do que se
esquece10. A relação de inerência entre existência e vivência deve ser analisada, ou seja, a
existência requer a sacralização enraizada na memória das colectividades, a vivência e a
tradição traduzem esquecimento e transformação. A diferença está na capacidade transpessoal
da memória do espaço cósmico que se transmite ao uso pessoal. No I-ching estes dois
movimentos da memória, paradigma da mente humana, são também objeto do estudo da
psiquiatria e da psicologia. Citando Eliade, «o ritual anula o tempo profano, cronológico, e
recupera o tempo sagrado do mito»11, o valor do mito torna-se capaz de conquistar o mundo,
organiza o natural na paisagem cultural. A geomancia procura a integração no ritual cósmico,
«o modelo mítico é susceptível de aplicações ilimitadas»12. Talvez por isso, regras e modelos,
ao subtraírem-se deste fator, lutam com o perecimento do tempo histórico, ficando sujeitos às
coincidências e frutos do acaso.
As patologias espaciais refletem o pulso humano, enquanto o ritmo sazonal, o pulso da
natureza, em geomancia, os pulsos são decisivos no espaço vivencial e a medicina chinesa diz-
nos: «This is the natural law of yin and yang complementing each other; as one rises, the other
descends. They thereby mirror the changes in the seasons»13. E mais adiante, «However, when
the pulses fail to mirror the seasons, they have become pathological».
Esta forma de olhar o espaço e o homem mostram a leitura que os arquitetos fizeram
durante séculos como sendo o espaço a medida do homem. O renascimento ao voltar-se para
os hipocráticos14, para os elementos que identificou no corpo humano, chamou-lhe de teoria dos
humores; no entanto a medicina chinesa do terceiro milénio a.C. já se baseava nos elementos
como característica do microcosmo, com uma correspondência emocional relacionada com a
resposta biológica aplicando este conhecimento até aos nossos dias, o ocidente pegou nele
28
através da arqueologia do renascimento, olhando os humores como sendo exteriores e não
fazendo parte da condição individual o que caiu totalmente em desuso.
O genius locci tradicional remete para um espírito do lugar, um espírito tutelar individual;
porém, presentemente pode ser considerado um ramo da fenomenologia com um sentido de
atmosfera do lugar. O Feng-Shui requer para um lugar natural um espírito tutelar, um genius
locci natural mas ao trabalhar a orientação e a numerologia encontra um genius locci
construído, cultural, com a visão fenomenológica de Norberg-Schultz15. Para o médico Jing-
Nuan16 este ambiente especial inclui o lugar, o homem e o planeta.
No espaço existencial definido por Norberg-Shchultz17 a relação com o exterior, o
carácter dado pela função, a orientação e a identificação constituem o genius locci, ou o espírito
do lugar. A sequência dos fenómenos tangíveis e intangíveis, definem o ambiente do lugar. Ao
observar o espaço pretende-se não participar do fenómeno, no entanto a dissociação é difícil. O
carácter liga o lugar a fatores qualitativos e quantitativos. A estrutura relaciona o espaço e o
carácter. A arquitetura olha o espaço interior e exterior, enquanto a paisagem ordena a
envolvente dos centros urbanos, limite da atividade vivencial. Em Feng-Shui a estrutura do lugar
é a interação do céu e da terra. O seu carácter a capacidade de um conter a semente do outro.
O genius locci dos gregos e dos romanos, um espírito guardião que os assistia desde que
nasciam até à morte. A sua disposição dá a compreensão do mito, do céu e a inerente resposta
da terra. A construção do homem serpenteia entre elas usando o imaginário colectivo, a sua
ligação ao criador, que caracteriza o espaço existencial.
Jung, no seu prefácio do I-ching18, encara a causalidade dos fenómenos e a
probabilidade de acontecerem. Esclarece sincronicidade como coincidência de eventos no I-
ching. O tempo sincrónico é um tempo orgânico, cuja leitura se confunde com a causalidade.
No entanto o I-ching é aleatório, e esse aspecto traduz um arquétipo mutante, a coincidência e
a causalidade quase se confundem. Wilhelm19 diz serem os hexagramas imagens de
fenómenos cujo padrão obedece às linhas que mudam entre o firme e o maleável, sendo essa a
fenomenologia do universo. O aleatório é o impessoal do I-ching e aparece na geomancia
oriental olhada como mais-valia aplicada ao quotidiano. A fenomenologia dos hexagramas e a
intemporalidade do universo reúnem-se numa ciência natural, mágica, que levada aos seus
limites abandona os valores filosóficos da sua origem. O homem está incluso no mundo dos
fenómenos e procura a compreensão do Criativo e do Receptivo com resposta na
fenomenologia. A imagem transmite a ideia da forma inicial, a transformação podendo inferir a
inerente sucessão dos fenómenos. Esta visão não é um oráculo mas uma observação. O
oráculo prevê um julgamento e uma decisão, uma atitude moralista. A geomancia prevê o
estabelecimento do Axis mundi, as forças que o homem não domina, diretamente relacionadas
com os elementos, o ch’i do homem, as modificações introduzidas no espaço vivencial, cultural
e na estrutura perene dos lugares.
29
Perder um genius locci é perder a identidade do local. O desenho arquitectónico não é
capaz de lhe restituir a personalidade, são antes necessárias atividades ligadas ao seu espírito.
Costa20 diz ser o genius locci uma expressão da identidade do lugar, no entanto, essa
identidade parece antes a expressão dinâmica das atividades desenvolvidas que se desligaram
das imagens e paisagens do passado, elas mudam inevitavelmente com o tempo, mesmo sob
proteção elas não permanecem. Prevalece a interrogação, manter a imagem ou a essência. A
essência do genius locci mantém o espaço como cânone celeste, sofrendo a imagem as
inerentes adaptações à nova realidade, as atividades afins ao genius locci definidoras da
personalidade do local deverão ser preservadas, não devendo nós vesti-lo mas antes despi-lo
para que se possa continuar a ver. A imagem poética no seu aspecto ontológico21 não define o
passado mas tem uma personalidade associada. Ao caracterizar um espaço a geomancia dá-
lhe uma personalidade pertença de um genius locci que o acompanha sempre. O seu carisma
relaciona-se com a sincronicidade dos fatos da sua história e a sua análise não deve favorecer
a troca de identidades.
A geomancia trabalha o espaço exterior com o arquétipo do natural e o interior com o
sonho humano, um espaço vivencial; aqui a matriz do exterior extravasa para o interior levando
a adaptações. O somatório de pessoas e sonhos reconstroem um espaço interior no entanto
esta construção humana tem a poética de quem lá vive, no exterior a referência à matriz do
universo, e a sua mudança coberta com o manto estelar. Este aspecto cósmico do espaço é
ilimitado no tempo e no espaço, o homem olha-o como a morada para além da sua dimensão.
Apesar de tudo, o espaço do universo é real, e o espaço geomântico torna-o eternamente
presente nas moradas dos homens, não sendo pois um espaço filosófico. Tal como os cofres a
que geomancia atribui o duplo sentido de cofre e de túmulo, lugar onde se guardam coisas
preciosas, os elementos não ativos são túmulos energéticos, energia em hibernação.
Bachelard22 fala desses cofres que contém segredos que se mantêm no mais profundo sigilo,
dos guardados que retêm o brilho da lembrança. Bachelard diz-nos que «todas as palavras
convocadas para a grandeza por um poeta são chaves do universo, do duplo universo do
Cosmos e das profundezas da alma humana»23, uma chave para a precisão da linguagem e do
significado. O geomante ao trabalhar o espaço retira das profundezas da sua alma a leitura
precisa do lugar com a chamada “postura dos imortais” já referida. Não é uma poética nem uma
filosofia, o simbolismo assumindo o valor de uma linguagem que traduz o que se deve calar, a
essência da mutação, da metamorfose que começa nas profundezas da alma humana e acaba
na integração com o universo, numa operação ímpar de união. A “esfera” de Parménides24
assume uma imagem de perfeição difícil de ser rebatida: por um lado o ovo cósmico, a origem
de todas as coisas, por outro, o ovo interior individual, o lugar para onde ele vai, que se
identifica e se reintegra com o todo. É em simultâneo montanha e individualidade, o lugar onde
o espaço perde a poesia, esquece a pessoalidade e também deixa de ser cósmico, passando a
30
integrar a sequência dos fenómenos. O espaço geomântico tem sempre presente estes dois
aspetos, o exterior irradia constantemente o brilho estelar, no interior a mutação, a sequência
dos fenómenos do interior do espaço e do interior do homem que habita o espaço, o motor de
mudança, a dimensão do genius locci pessoal. A adaptação do interior à persona dá-lhe as
condições de segurança e habitabilidade requeridas.
31
«for the altars of the gods should look to the east»29, afirmando ainda que o Deus deveria olhar
o sol nascente.
Na verdade, a quadratura do círculo é fundamental para o estabelecimento de um
edifício, pressupondo-se já feita a escolha do local. A bússola geomântica, o lo-p’an, mostra-nos
a quadratura do círculo. O disco central define a ordem cósmica, as marcações traçam o
quadrado. A “ordem cósmica” aparece no pa-k’ua celeste e a “ordem terrestre” no pa-k’ua
terrestre. É lógico que o quadrado mágico, enquanto ordem da geometria celeste, fizesse parte
dos conhecimentos de Vitrúvio, sendo o número de ouro e a divina proporção conhecidos desse
autor, no entanto esse aspecto ficou oculto ou o autor não o conheceu, ou ainda
intencionalmente o ocultou. Este quadrado também conhecido como selo de Ghazali e atribuído
a Balinas, Apolónio de Tiana30. Este mago pagão e cristão dava amuletos aos doentes com os
números deste quadrado. É de notar a lógica de todo o conjunto, lógica que aparece tanto no
ocidente como no oriente com a mesma conotação. E ainda, «este último é a quadratura do
círculo solar»31 o que coincide com a finalidade da geomancia: 1) escolha do local perante a
envolvente; 2) estabelecimento da orientação da construção em relação à envolvente; 3)
equilíbrio entre o espaço e o “Círculo Solar”, ou seja, a harmonia entre o espaço e o tempo, que
conjuga a filosofia vertical e horizontal também presente na cruz.
A geomancia, como ferramenta atual, desconstrói o mito, e transfere à morada dos
homens as características celestes, o traçado geomântico do espaço dá-lhe a energia do
mundo celeste e do mundo terrestre, capaz de construir um espírito do local, um genius locci no
espaço em metamorfose. Quando Hani32 fala na Jerusalém Celeste refletida no templo, a
harmonia do eixo solar aparece com clareza. As colunas do templo de Salomão33, e a relação
com o homem34, também presente nas torres, uma tradição solar tardia35, são marcações
solsticiais. Estas torres, a NW o trigrama montanha, e a SW o trigrama vento, são referidas por
este autor como a montanha, a concentração e a dispersão no pa-k’ua celeste. E mais curioso
ainda é a relação com o ciclo solar, a NW o trigrama pai e a SW o trigrama mãe no pa-k’ua
terrestre, o Sol e a Lua das colunas do templo de Salomão. Para completar esta ideia Hani36
fala no som dos sinos, NW o trigrama pai a energia do céu que desce ao pa-k’ua terrestre e ao
ciclo solar, o elemento metal, o espelho refletor do céu. No pa-k’ua celeste a NW o trigrama
montanha representa as águas primordiais, e o trigrama vento o elemento fogo fecundante,
ficando sugerido que a génese ocorre na montanha, o lugar de recolhimento e se dispersa com
o vento, o fogo frio da criação. Assim, Hani fala-nos da proximidade das «águas da Génese, em
que o Espírito de Deus pairava para operar na criação»37, verificando-se que os elementos do
pa-k’ua celeste na sua sequência recriam o mito, a N o trigrama da mãe dá nascimento à
criação (água), a montanha a NW, a gestação (água), o “Espírito de Deus” a W, com o trigrama
água responde ao fogo frio que fecunda as primeiras águas, a SW o trigrama vento (fogo),
dissemina a criação. Verificamos que no pa-k’ua celeste os elementos seguem o ritual cósmico
32
que aparece no templo e no lugar do templo cristão. Continuando o mito da criação, a S o
trigrama pai, o reflexo do céu (metal, espelho, imagem), a SE o trigrama lago (metal), e depois
das cristalizações, a expansão acende todas as luzes do céu, a E o trigrama fogo (madeira), e a
NE o trigrama trovão (madeira), passando a palavra às moradas criadas. No fundo desta
espiral, a terra, as habitações planetárias, resultam no Axis mundi, e os organismos vivos estão
prontos para surgir em todos os lugares. Hani38 traduz essa ideia como fator lumínico com a
decomposição cromática, a diversidade nascente. Verificando o equilíbrio dos opostos, a W o
fogo aquático da génese contrapõe-se a E do fogo ardente das ideias divinas em concretização,
o baptismo da água e do fogo.
O mesmo autor continua com os equinócios e os solstícios, chamando-os de “portas
celestes”39, o que coincide com a visão geomântica oriental, as direções cardeais com a
inerente descida da energia pura dos elementos (N água, S fogo, E madeira, W metal), como foi
dito anteriormente. O mesmo autor, mais adiante, diz ser uma ligação entre o espaço das
direções e o tempo das estações, confirmando a visão geomântica na busca do equilíbrio e da
harmonia entre o espaço e o tempo. Também Burckardt nos diz «est essentiellement un
passage d’un monde à un autre, son modèle cosmique est d’ordre temporel et cyclique plutôt
que d’ordre spatial: aussi les “portes célestes”, c’est à dire les portes solsticiales, sont-elles
avant tout des portes dans le temple»40, mais uma vez as “portas celestes” que parecem sofrer
de um desfasamento entre espaço e tempo, pois ao serem solsticiais não têm a orientação
E/W, que são portas equinociais, no entanto a geomancia oriental o eixo equinocial é o eixo
água fogo no pa-k’ua celeste, enquanto o eixo N/S no pa-k’ua terrestre corresponde realmente
ao eixo solsticial, esta rotação energética corresponde à gravidez sinóptica de Jing-Nuan41, o
hiato entre espaço e tempo, a sacralidade do lugar.
Nos cantos, os quatro animais sagrados, o nome divino “YHWH”, a correspondência
com os quatro evangelistas, os “ângulos” ou “pilares cósmicos”, que suportam a cúpula, a
«passagem deste mundo para o outro»42. A geomancia oriental diz, serem os ângulos, os
túmulos ou a reserva energética do elemento não ativo na estação, também chamados
“Portões”, capazes de comunicar com o mundo subtil. A NE o Portão dos Demónios, ou
espíritos, com o signo de Aquário, o Homem, com o trigrama Montanha. Opondo-se a ele o
Portão da Terra, no signo de Leão com o trigrama da Mãe, a gestação. O SE com o Portão dos
Homens, no signo de Touro, com o trigrama vento, o zéfiro inspirador. Opondo-se a ele o
Portão do Céu, no signo de Escorpião, a águia, que corresponde ao trigrama pai, sendo esta a
leitura que aparece no pa-k’ua terrestre, o ciclo solar combina-se com as direções, pois é da
esfera terrestre que se tenta escapar. Nas marcações cardeais a energia é elementar, nos
ângulos essa energia oculta-se no cofre. Está-se pois em presença dum elemento essencial em
geomancia, as chamadas 24 montanhas ou 24 ch’i que caracterizam também os 12 meses,
com dois tipos de ch’i, correspondendo o segundo aos signos do zodíaco ocidental.
33
Os Labirintos43, que têm expressão na antiguidade, nas culturas megalíticas, Grécia,
Roma, na Idade Média que os usou na entrada dos templos, levam-nos a crer haver grande
semelhança entre estes diagramas e a bússola de geomancia. Os de formato circular
assemelham-se às bússolas mais recentes, e os quadrados e octogonais às antigas placas
shih, gnómon que media as orientações dos locais (ver figura 19).
34
Porta da Terra, passagens ocultas que a medicina chinesa diz serem a origem da saúde e do
equilíbrio. O eixo terrestre à volta do qual se movimenta a ursa maior e a estrela polar sugere o
Axis mundi que regula o equilíbrio terrestre e as 4 estações. Continuando no templo, Hani47
explica as várias pedras importantes, sendo a primeira a do “canto nordeste”. Neste canto
temos o Portão dos Espíritos, local de recolhimento e de sombras com o trigrama Montanha, ou
seja, onde começa a ordenação do caos, que a geomancia olha como energeticamente
estabilizadora, e concretiza-se no Portão da Terra a SW com o trigrama Mãe, constituindo um
eixo onde a energia corre com grande rapidez para a realização material, a gestação. O centro,
ou Axis mundi, traduz a agregação, o poder do centro, do tai-ch’i, a cúpula e o fecho da
abóbada, a escada, o poço, estando aqui associados. A cruz interpenetra as direções e o ciclo
solar torna-a sólida. A “quadratura do círculo” é visível no lo-p’an, a sacralização do espaço
vivencial.
Voltando ao espaço do templo, «o tempo de forma estática e a liturgia de modo
dinâmico, e ambos realizam uma prodigiosa integração espiritual do espaço e do tempo»48
interação evidente na quadratura do círculo, que a geomancia chama «harmonizar o espaço e o
tempo»49. Os vitrais seguem o ciclo solar, na parede norte o Antigo Testamento, a leste o
nascimento de Cristo Jesus, e a Redenção no Altar, a sul os profetas, a ocidente a Pesuria e o
futuro, a Jerusalém Celeste. Em geomancia o norte corresponde ao passado e à gestação, o
leste ao ímpeto solar que divulga o sol de justiça ao universo, o sul ao futuro, aos profetas e ao
messianismo, o ocidente no fim do ciclo, a entrada no ciclo celeste, alfa e ómega. A geomancia
olha o ocidente como recompensa, mas também como reflexo do céu e da perfeição, a
purificação, a passagem para além do tempo e do espaço, os ciclos do tempo, labirínticos e
intestinais, mostram como o homem se perdeu da sua origem, tendo os espelhos partidos, as
águas tenebrosas, uma leitura idêntica no ocidente e no oriente. Embora parecendo serem
linguagens antagónicas, está presente uma sincronia análoga e intemporal. As festas cristãs e
pagãs obedecem geralmente às 24 marcações energéticas do ano solar, sendo o espaço
indissociável do tempo solar e ritual, constituindo o mistério do tempo, aqui a divindade solar e
humana se fundem. O Sol de Justiça que Hani50 diz ser a contagem progressiva no solstício de
Inverno, ou meia-noite, e regressiva no solstício de Verão, ou meio-dia, aparece também em
geomancia oriental. Esta alternância de ciclos lembra as duas metades do ovo que se
fecundam51, constatando a proximidade da tradição oriental e judaico cristã. A árvore cósmica
visível na nomenclatura de troncos celestes e ramos terrestres, é uma construção divina, com
raízes celestes. A construção terrestre reporta-se á construção do mundo, a árvore da vida e da
salvação. Hani52 fala desta árvore na tradição cristã, referindo-se à diversidade da natureza
humana, e a árvore da Redenção e Salvação. O centro do lo-p’an, o “Lago Celeste” com anéis
concêntricos, tem também uma qualificação inerente em Hani53. As consonâncias são muitas,
35
não esquecendo que a China catalogou tudo com uma paciência que não se verificou no
ocidente.
A característica antropológica da geomancia oriental, tem uma visão do objeto com
distanciamento, e requer várias visões culturais; os antagonismos de Lévi-Strauss54 surgem
desde a antiguidade, e Heródoto já observava diferenças de polaridade entre egípcios e gregos,
como acontece entre o Japão e o ocidente, ou seja, o homem focaliza-se em si próprio no
ocidente, enquanto o Japão e o Egito se focalizam nos outros. O geomante ao usar a sua
ferramenta de trabalho, olha o lugar e a envolvente, minimiza o carácter pessoal da leitura.
Parece estranho, no entanto, e torna-nos capazes de plena integração do objecto no espaço
respeitando o espírito do lugar. Esta visão externa do objeto levou Copérnico a abandonar a
restrita visão geocêntrica – a científica custou-lhe a vida.
A metodologia do Estudo de Casos leva à formação de uma hipótese, observando-se
fatos semelhantes; Carrilho55 ao citar Pierce diz «na abdução a consideração dos fatos sugerem
a hipótese», enquanto a indução observa a contiguidade de fatos. Propomos, por isso o que se
usa em Feng-Shui, o estudo da história, desenvolvimento de atividades, elementos
problemáticos, degradação e patologias vivenciais. A metodologia de trabalho obriga à visita ao
local e identificação dos animais míticos56, a entrada, a proteção, o centro com leitura no pa-
k’ua celeste, (ch’i do homem, análise da estrutura), e problemas da propriedade, e no pa-k’ua
terrestre, o construído ou existente.
É necessário Identificar o genius locci, como se manteve, e a sua proteção a homens e
ambientes. A crescente racionalidade do homem é apenas um esforço mimético de criador e
organizador do espaço, regras e modelos no entanto nem sempre resultam, sendo as
orientações fundamentais no diálogo secreto com essas presenças ocultas, que sacralizam o
espaço, e dão ao habitat do homem a resposta de integração no todo. A geomancia requer uma
postura adequada para se poder sentir o espaço, obrigando a longas caminhadas, exercício
físico, controlo da respiração, alimentação equilibrada e mente tranquila, ou seja, um
desenvolvimento paralelo do ser humano como refere Wong, «… and the exercises that he
taught me were called the Postures of the Immortals»57.
Na sua tese de doutoramento, Abreu58 propõe uma metodologia para o património que
leva a entrar em empatia com o monumento, traduz uma percepção subconsciente do espaço
que se aproxima da visão geomântica, requer uma faculdade não racional para a leitura da
energia presente. Ao percorrer um local, o diálogo interior torna-se mais palpável que a visão do
espaço. Este autor propõe: 1) o sentido do objecto; 2) o acolhimento; 3) ser único e
insubstituível; 4) dar a todos essa leitura.
A paisagem natural e artificial, induz-nos ser o genius locci o grande definidor do lugar.
O objectivo da geomancia no oriente é transformar todas as tipologias espaciais, construídas
pelo criador ou pelo homem, em espaços cósmicos, onde interage a energia dos trigramas, a
36
linha de cima o ch’i do céu, a linha do meio o ch’i do homem, e a linha de baixo o ch’i da terra.
Na paisagem cultural estes elementos estão sempre presentes. Norberg-Schultz59 já transmite
estas noções através dos fenómenos observados nos lugares, o tempo divino, o homem como
ordenador do espaço à volta do Axis mundi, sendo o espaço exterior o caos, as brenhas do
espaço vivencial.
Ao tentar coordenar as várias análises, o Feng-Shui como geomancia e o Património,
propomos: 1) A procura do sentido do objecto, fazendo o reconhecimento do centro, definindo a
estrutura, o ch’i do céu, que leva ao estudo da história, dos elementos naturais e artificiais, do
tempo divino, e que responde ao primeiro objectivo proposto (reconhecimento do local e a sua
geomancia); 2) O acolhimento a quem visita e usa o espaço. O quadrado e as direções, o ch’i
do homem e proteção do genius locci, a estrutura e o carácter da paisagem, sacralizando o
espaço, tornando-o único e insubstituível, responde assim ao segundo objectivo proposto,
(envolvente e património, espaço vivencial e estudo do ch’i); 3) o círculo, o ciclo solar, o ch’i da
terra, o caos da imagem, a identidade, a desconstrução do mito, o património da comunidade
dos homens, respondem ao terceiro objectivo, (encontro das tradições oriental e ocidental).
O uso do quadrado mágico, como protótipo da geometria celeste, vai de encontro a Hani
«Para Platão, os cinco poliedros regulares são os arquétipos da criação»66, o que nos leva a
confirmar estarem eles contidos neste quadrado. Este mandala contém o equilíbrio da
Tetractys, soma 10 em todas as direções, no centro o número 5 retira-lhe a rigidez, o impulso
vital dos organismos vivos e do homem. Em geomancia este número associa-se ao elemento
terra e Hani67 diz ser o 5, o “número do homem”, e o 8, o “número de Cristo”. No quadrado
mágico, este aspecto estático aparece no pa-k’ua celeste, nos trigramas complementares. O 5
central invoca o homem, capaz de manter o equilíbrio dos opostos, percorrendo o pentagrama
com a mesma conotação. Ao regenerarem-se, os elementos alimentam no círculo, e
acompanham o ciclo solar, que aparece de forma simbólica no templo cristão, a metamorfose
do 5 em 8 é pois uma sequência esférica. Hani68 diz ser o 7 secreto, pois junta os 4 cardeais,
zénite e nadir, formando 7 com o centro, este mistério do 7 também explica o 8, o octaedro de
Platão, com 8 faces, contém a perfeição e liga-se ao infinito. O mesmo acontece em
geomancia, e a forma como explica como o 4 se torna 8, e como o infinito se encontra no centro
da bússola, onde a verticalidade do 8 se transforma na infinidade do ∞, ao perpetuar na
horizontal a cadência infinita do olhar cósmico. Hani69 relaciona o 12 aos signos do zodíaco com
os apóstolos à volta de Cristo. No I-ching fala-se de ramos terrestres da árvore que define o
ciclo do tempo, as estações, e os dois ch’i do mês, sendo que a entrada no signo ocidental no
chamado ch’i yin do mês, corresponde ao ciclo lunar e da noite. Hani70 invoca Clemente de
Alexandria que relaciona as direções com as letras do alfabeto grego, sugerindo uma ligação ao
alfabeto latino e hebraico. Como se trata de uma visão cosmogónica, aparece forçosamente na
38
bússola de geomancia, não só pela geometria dos números, mas também pelas direções, a
manifestação do infinito.
39
arranjos matemáticos origem nesta capital, Hsi Na. Ainda em Skinner74 há uma análise do
esquema numerológico do ho-t’u (ver figura 22).
4 9 2
3 5 7
8 1 6
Figura 20 – «Quadrado mágico – Figura 21 – «O T’ai ch’i, Ho T’u que mostra os números
números ímpares nos pontos cardeais e números pares, yin, relacionados pela espiral negra, e os números
pares nos pontos colaterais», (SKINNER ímpares yang relacionados pela espiral branca, in T’u Shu Pien
2008:222). Tu Shu Bian da dinastia Ming, 1613», (SKINNER 2008:222).
Na página seguinte, este autor continua, observando que a soma dos números 5 do
centro sugere o quadrado mágico, lo-shu, que soma 15 em todas as direções, sugerindo com
isso um outro esquema, no fundo da espiral da criação. Os números do quadrado central
seguem o esquema elementar do pa-k’ua celeste, com a troca entre os elementos Fogo e
Metal, e refere ser o lo-shu um “duplo” do ho-t’u (ver figura 23).
A seu ver, o Ho-t’u relaciona-se com a constelação do Sul75, e o lo-shu com a Ursa
Maior, com o seu percurso à volta da Estrela Polar. O lo-shu já aparece na mais antiga placa
Shih, (antigo lo-p’an), no entanto, não pensamos ser o mesmo aplicável ao Ho-t’u, em relação
40
ao sul. Pensamos antes, que este conjunto numerológico mostra a pressão energética do
Cosmos. A leitura em relação ao duplo quadrado da criação já foi abordada várias vezes, ou
seja ser o ho-t’u um arquétipo celeste, do qual o lo-shu é um espelho. Este carisma
numerológico, no ocidente aparece em vários sistemas simbólicos, relacionados com os
números 15, 10 e 5, que nos vem desde o Egito Antigo, passando pela Escola Pitagórica, etc.
Braizinha76 apresenta o quadrado mágico ligado ao esquema da tripartição, relacionado com a
«primeira tradução de Vitrúvio, impressa em italiano», não se percebendo se o quadrado
mágico fazia parte desse texto.
41
Sendo que a energia das direções desce com os Troncos, enquanto nos Portões a
energia é mista e sobe. Mais adiante, Skinner78 mostra-nos os 12 hexagramas princípios,
identificando-os com a subida da energia, e a descida da energia nos 12 Ramos Terrestres, os
animais que aparecem na estrutura do lo-p’an. A sua grande antiguidade remonta a 1247, e
mantém-se até hoje como base explicativa da disposição dos hexagramas (ver figura 26).
42
nos taoistas e nos filósofos antigos»83, remetendo o estudo geomântico ao taoismo, e deixando
de lado a visão confucionista com o seu sistema de crenças. Ainda Braizinha diz que «a
possibilidade genética está necessariamente contida na natureza do que separa o homogéneo;
constitui o Tempo»84, no entanto o tempo não é desagregador, mas agregador do espaço, da
própria génese, que ao fechar o círculo, volta ao tempo original, o arquétipo do espaço, sendo
que esta definição de tempo genético também aparece no I-ching, através do número de
hexagramas que por si só definem a genética do espaço e do tempo; nos lo-p’an antigos
usavam-se os 64 hexagramas e 365 partições do ciclo anual, completando a linguagem do
DNA, com complementaridade e antiparalelismo.
+
+ +
+ + + +
43
a forma como a terra comunica com o céu. A complementaridade energética tem paralelos com
os sólidos platónicos, a Década pitagórica, e a Tetractis da tradição ocidental.
Metal
Fogo
Terra
Madeira Figura 28 – Sequência dos elementos do pa-
k’ua celeste.
Água
Os elementos são vistos por Wilhelm90 como tendo uma nomenclatura errónea,
pensando-se haver confusão, entre os estados de mutação e as energias elementares. No
entanto, analisando a sequência numerológica do ho t’u, o I-ching diz-nos serem os números
ímpares yang, e os pares yin, ou seja, representam o céu e a terra respectivamente. Ora, o
sentido do arquétipo nesta sequência de números, faz-nos crer haver um complemento para
cada número ímpar manifestando assim o ímpeto criativo. Por outras palavras, cada par de
números energeticamente complementares, parece referir-se a diferentes ciclos da criação do
universo, com 5 estados de mutação ou elementos, traduzindo ainda os momentos cíclicos da
criação, os dias bíblicos da criação, reservando o sexto para os organismos vivos, nas moradas
planetárias. A combinação complementar dos trigramas opostos (linhas quebradas num são
inteiras no outro) da figura 28 delimita o campo de ação dos fenómenos, começando-se com a
água.
A imagem dos quatro elementos (figura 29), evidencia a semelhança com o I-ching, o
triângulo Água no pa-k’ua celeste com o triângulo feminino, o triângulo de fogo com o triângulo
masculino, também explícito na figura 30, e presente nas quatro imagens. A força do céu, yang,
desce e constrói elementos yin, a força yin sobe da terra, e constrói elementos yang. O fato de
uma força construir a outra, gera confusão na compreensão do ch’i, sendo necessário grande
reflexão no olhar, confirmando-se na figura 30, que evidencia o equilíbrio masculino e feminino.
44
Figura 30 –.«O lápis imperecível é produzido
pela rotação dos elementos, na unificação do superior e do
O número 3 introduz o homem como produto entre o céu e a terra; o 4 delimita o espaço
de manifestação; o 5, a consequência das resultantes do universo; o 6, o espaço 4 direções
cardeais, zénite e nadir. Transparece pois uma conotação geométrica idêntica à visão ocidental,
podendo ser traduzida através da matemática, e da geometria platónica e pitagórica. As
operações básicas, subtração, adição, divisão eram usadas por um círculo interno. O carácter
divinatório refletia um dia de 50 horas, 28,3 minutos do nosso tempo. No tempo da clepsidra, 1
hora são 2 horas atuais. Este número introduz as 50 varas de mil-fólio do oráculo, e operações
matemáticas fazem surgir números específicos93.
Aqui é difícil a ligação ao ocidente, mas o número seis fica evidenciado no hexagrama e
na estrela de seis pontas, a rigidez dos dois triângulos reflete o céu, sugere ao homem comum
a mudança inevitável, o sete escapa-se do binário e ilumina a nova via, o oito o espaço
simbólico, e o nove faz escapar o mutante do quadrado mágico. Por outro lado, Braizinha diz
que «compreender os números era equivalente a ordená-los com a ordem do mundo real, uma
poderosa forma de magia»94. Pensamos que os números são um sistema matemático, a
linguagem que traduz o universo em número, ciência e não magia, e usar a chave numerológica
do universo no mundo terrestre e ilusório, é tentar manifestar a própria voz do criador - e isso é
geomancia. O surgimento da realidade virtual, deixa-nos compreender a precisão da ciência por
trás da virtualidade, tal como a precisão da criação está por trás da realidade material.
Os triângulos yin (▼) e yang (▲) no pa-k’ua celeste, respeitam o carisma numerológico
associado. A construção dos trigramas acrescenta 1 linha em cima dos 4 emblemas. Quanto ao
padrão da mutação, pensamos haver uma ligação com a transferência de energia no pa-k’ua
celeste, aqui os trigramas opostos são complementares e somam 10 no quadrado mágico. A
mutação no lo-p’an (figura 32), segue o sentido da sequência, é (1) + (2), cada Palácio, (número
do quadrado mágico), desta sequência, constrói os 64 hexagramas.
1
2 1 Figura 32 – Padrão da mutação
no quadrado mágico segue o sentido das
2
setas (1) e (2).
+ Novo + Nova
Meio Meio
Pai + Velho Mãe + Velha
Figura 33 – Derivação familiar
do género dos membros da família.
O texto da 8ª Asa, Wu96 explica a família dos trigramas: os filhos saem do pai para a
mãe, e as filhas, da mãe para o pai, (ver figura 33). Mais adiante, na 9ª Asa, explica ainda que
«depois de todas as coisas surgiu o homem e a mulher»97, a partir do hexagrama nº 32. Os
hexagramas, do nº 1 ao nº 32 mostram a criação de todas as coisas, e do nº 32 ao nº 64 são
criação do homem e da mulher, a mutação social e o ciclo terrestre. Incluem-se, assim, todos os
elementos do mundo arquetípico e do mundo fenomenológico.
4 9 2
(1 ϕ × 2 ) + 1 ϕ − 1 = 0,492 → Linha de cima.
1 ϕ 3 = 0,357 → Linha do meio.
3 5 7
3 − ϕ + 1 3 − 1 = 0,753 ← Linha do meio.
8 1 6
1 ϕ = 0,618 ← Linha de baixo.
direita.
ϕ + 2 × 1 2 = 0,951 ↓ Coluna do meio.
3 +ϕ ϕ = 0,456 ↘ Diagonal da
2 + 3−ϕ 3 − 1 = 0,834 ↑ Coluna da direita.
esquerda.
Analisemos os triângulos dos dois hexagramas.
4 9 2
[ 3 − ϕ × (1 + ϕ + 2 )]− 3 = 0,412 Triângulo de cima.
[( ϕ + 2 )× 2 ] = 0,698 ,ou ϕ + 3 × 1 ϕ − 1 = 0,698 Triângulo
3 5 7 de baixo.
47
Os triângulos que convergem para o número 5.
8 1 6
O movimento acima e abaixo da diagonal é igual, sendo um o inverso simétrico do outro,
e são antiparalelos: nos três primeiros movimentos anda-se para a frente, nos três últimos
anda-se para trás. O pa-k’ua celeste reflete, com exatidão, a matriz cósmica da Tetractis, o 10,
parecendo o número 5 estar num nível inferior. Por outro lado, e como já referido, a progressão
dos elementos parece ligada aos ciclos da criação, ficando os dois trigramas definidos nas duas
trindades analógicas, uma em cima e outra em baixo, e refletem em si a plenitude do 8. A matriz
terrestre retrata esse equilíbrio, juntando-lhe o poder do centro, o 5, o homem, a mobilidade do
nono número.
Parece-nos claro, que este quadrado possa ser obra, tanto do oriente como do ocidente.
No entanto, Patnaik103 dá-nos uma informação importante: a medicina védica era conhecida no
Egito, no Médio Oriente e na China, durante 3º milénio antes de Cristo, sendo o fato provado
com a arqueologia, não nos custa pois pensar, que a geomancia e a numerologia, tivessem
também seguido a mesma rota, acentuando que no 1º milénio antes de Cristo houve nova vaga
48
de transmissão deste conhecimento com as caravanas. Em épocas tão recuadas, tudo pode ter
acontecido; todavia, as confirmações podem ser procuradas e encontradas.
1 MARQUES, 2005:63. “pedra da alma”. Em certas ocasiões a pedra era removida e, dizia-se,
2 JUNG, 1995:211. os espíritos dos mortos saíam da cova)», (JUNG, 1995:242-244).
3 PANOFSKY, 1993. 9 «A planta baixa em forma de mandala nunca foi, tanto na arquitetura
4 SANTA-RITA, 1995 clássica quanto na primitiva, ditada por considerações estéticas ou
5 BRUNO, 2007:36. económicas. Era a transformação da cidade em uma imagem
6 EITEL, 1986:23. ordenada do cosmos, um lugar sagrado ligado pelo seu centro ao
7 BRUNO, 2007:89-91. “outro” mundo. E esta transformação estava conforme os sentimentos
8 «Na arquitetura a mandala também ocupa um lugar relevante – e necessidades vitais do homem religioso», (JUNG, 1995:242-244).
embora às vezes passe despercebida. Constitui o plano básico das 10 ELIADE, 1989.
construções seculares e sagradas de quase todas as civilizações; 11 ELIADE, 1989:120.
figura no traçado das cidades antigas, medievais e mesmo modernas. 12 ELIADE, 1989:120.
Um exemplo clássico aparece no relato de Plutarco sobre a fundação 13 IMPERADOR AMARELO, 1995:65.
de Roma. De acordo com Plutarco, Rómulo mandou buscar arquitetos 14 SOUSA, 2013:24.
na Etrúria que lhe ensinaram costumes sacros e leis a respeito das 15 NORBERG-SHCHULZ, 1986.
cerimónias a serem observadas – do mesmo modo que nos 16 JING-NUAN, 1991:vii.
“mistérios”. Primeiro cavaram um buraco redondo – onde se ergue 17 NORBERG-SCHULTZ, 1986.
agora o Comitium, ou Congresso – e dentro dele jogaram oferendas 18 WILHEM, 1982:17.
simbólicas de frutos da terra. Depois cada homem tomou um pouco de 19 WILHELM, 1982:222.
terra do lugar onde nascera e jogou-a dentro da cova feita. A esta cova 20 COSTA, 1999:144.
deu-se o nome de mundus (que também significava o cosmos). Ao seu 21 BACHELARD, 2003.
redor Rómulo com uma charrua puxada por um touro e uma vaca, 22 BACHELARD, 2003:97.
traçou os limites da cidade em círculo. Nos lugares planejados para as 23 BACHELARD, 2003:203.
portas retirava-se a relha do arado e carregava-se a charrua. 24 BACHELARD, 2003:237.
A cidade fundada sob esta cerimónia solene tinha forma circular. No 25 LUBICZ, 1963.
entanto, a velha e famosa descrição de Roma refere-se à urbs 26 ELIADE, 1989.
quadrata, a cidade quadrada. De acordo com uma teoria que tenta 27 HANI, 1981:25.
explicar esta contradição a palavra quadrata deve ser entendida como 28 «Toda a arquitetura sagrada se concentra, na verdade, na
quadripartita, isto é, a cidade circular dividida em quatro partes por operação da “quadratura” do círculo ou transformação do círculo em
duas artérias principais que corriam de norte a sul e de leste a oeste. quadrado A fundação do edifício começa pela orientação, que é já de
O ponto de intersecção coincidia com o mundus mencionado por certo modo um rito, porque estabelece uma relação entre a ordem
Plutarco. cósmica e a ordem terrestre, ou ainda entre a ordem divina e a ordem
De acordo com outra teoria, a contradição pode ser compreendida humana. O processo tradicional e, pode dizer-se universal, porquanto
como um símbolo, isto é, como a representação visual do problema se encontra em toda a parte onde existe uma arquitetura sagrada, foi
matematicamente insolúvel da quadratura do círculo, que tanto descrito por Vitrúvio e praticado no Ocidente até ao final da Idade
preocupava os gregos e que deveria ocupar um lugar tão significativo Média...», (HANI, 1981:32).
na alquimia. Estranhamente, também Plutarco, antes de descrever a 29 VITRÚVIO, 1995:23.
cerimónia do traçado do círculo por Rómulo, refere-se a Roma como 30 CHEVALIER; GHEERBRANT, 1994:551.
Roma quadrata. Para ele, Roma era, a um tempo, um círculo e um 31 HANI, 1981:32.
quadrado. 32 HANI, 1981.
Em cada uma destas teorias está sempre envolvida a mandala 33 CHEVALIER; GHEERBRANT, 1994:213.
verdadeira, e isto condiz com a declaração de Plutarco de que a 34 ROOB, 2006:258 e 334.
fundação da cidade foi ensinada a Rómulo pelos etruscos, “como nos 35 HANI, 1981:73.
mistérios”, como um rito secreto. Era mais do que uma simples forma 36 HANI, 1981:75.
exterior. Por sua planta em forma de mandala a cidade, com seus 37 HANI, 1981:81.
habitantes, é exaltada acima do domínio puramente temporal. E isto é 38 HANI, 1981:82.
ainda acentuado pelo fato de a cidade ter um centro, o mundus, que 39 HANI, 1981:87.
estabelece a sua relação com “outro” reino, a morada dos espíritos 40 BURCKARDT, 1987:109.
ancestrais. (O mundus era coberto com uma grande pedra, chamada a 41 JING-NUAN, 1991.
42 HANI, 1981:92.
49
43 HANI, 1981:96. 77 SKINNER, 2008:226.
44 HANI, 1981:98. 78 SKINNER, 2008:338.
45 HANI, 1981:99. 79 SKINNER, 2008:34.
46 WEISS, 1995:12. 80 SKINNER, 2008:107.
47 HANI, 1981:109. 81 SKINNER, 2008:122.
48 HANI, 1981:131. 82 BRAIZINHA, 1989:394.
49 SKINNER, 2008:122. 83 BRAIZINHA, 1989:401.
50 HANI, 1981:146. 84 BRAIZINHA, 1989:411.
51 HANI, 1981:164. 85 SKINNER, 2008:221.
52 HANI, 1981:170. 86 CHEVALIER; GHEERBRANT, 1994:551.
53 HANI, 1981:171. 87 SKINNER, 2008:224.
54 LÉVI-STRAUSS, 2012. 88 WILHEM, 1982:9.
55 CARRILHO, 1989:94. 89 WILHELM, 1982:237.
56 WALTERS, 1995. 90 WILHELM (1982:236),
57 WONG, 1996:4. 91 «The sequence of trigrams according to Fu Xi or King Wen, the
58 ABREU, 2007. sixty-four hexagrams, The Yellow River Map and the Luo River Writing,
59 NORBERG-SCHULTZ, 1986. form the nonverbal base for the Yi Jing. This base arises from numbers
60 MATTOSO, 2012. and geometry, and is modified by the music of rhythm and time, to
61 MATTOSO, 2012:15. embrace de global resonance of our worlds», (JING-NUAN, 1991:33).
62 IMPERADOR AMARELO, 1995:37. 92 «In Chinese culture, simple numbers and what they represent may
63 «Cold, summer heat, dryness, dampness, wind, and fire represent help us to more fully interpret the use of numbers in the Yi Jing.
the yin and the yang of the heavens. They correspond to the three yin 1. The Tao, Unity.
and the three yang. Wood, fire, metal, earth, and water represent the 2. Yin and yang.
yin and the yang of the earth. They correspond to the changes of the 3. The triad of heaven, man and earth.
universe. Heaven came from de birth of yang. The sustenance of yin. 4. The four seasons or the four xiang.
In nature the yang can be destructive while the yin is protective. If you 5. Wu Xing, the Five Dynamic Forces of wood, fire,
truly want to know about the yin, and the yang of heaven and earth, earth, metal and water.
you must understand how the six atmospheric influences interact with 6. The six directions: east, south, west, north, zenith
the five elemental phases. This interaction brings about changes in and nadir.
weather, nature, disease and healing», (IMPERADOR AMARELO, The four seasons, also named the four xiang, define a time continuum
1995:239). or predictable, wavelike action. Numbers are thus an integral code in
64 «The five elemental phases and the six atmospheric influences the space and time of the Yi Jing», (JING-NUAN, 1991:33).
have a definite pattern and rhythm. This knowledge is very profound. If 93 «From the manipulations of the yarrow stalks which leave us with
one grasps it, one can know the changes that will transpire in the remainders, substitutions’ and totals, we arrive at the numbers,
natural world. One who masters this science can enjoy eternal health. 6. major yin, equal to a changing line
One who neglects to learn this will suffer danger, injury, and even 7. minor yang, equal to a unchanging line
death by having violated the natural rhythms and patterns of the 8. minor yin, equal to a unchanging line
universe. Please learn, understand, and apply this knowledge 9. major yang, equal to a changing line
carefully», (IMPERADOR AMARELO, 1995:240). which create the character of the individual yao lines and subsequently
65 ELIADE, 1989:138. the character of the total hexagram», (JING-NUAN, 1991:45).
66 HANI, 1981:40. 94 BRAIZINHA (1989:34)
67 HANI, 1981:59. 95 (WU, 2003:xiii)
68 HANI, 1981:50. 96 (WU, 2003:97)
69 HANI, 1981:67. 97 (WU, 2003:500),
70 HANI, 1981:52. 98 (ROOB, 2006:8)
71 JING-NUAN, 1991. 99 (ROOB, 2006:90),
72 JING-NUAN, 1991:xiv. 100 KOELLIKER (1984),
73 SKINNER, 2008. 101 (SKINNER, 2008:107)
74 SKINNER, 2008:223. 102 JING-NUAN (1991:xiii)
75 SKINNER, 2008:224. 103 PATNAIK (1993:11)
76 BRAIZINHA, 1989:299-300.
50
CAPÍTULO III – CASOS DE ESTUDO
Este capítulo desenvolve o templo cristão, com peças emblemáticas do nosso
património. Faz-se depois uma análise sucinta do Feng-Shui de cada uma delas incidindo sobre
a polaridade, este/oeste, da orientação do templo, e o centro. No final, uma apreciação
comparativa permite algumas conclusões. As peças analisadas são a Igreja de Santa Maria em
Sintra; a Igreja do Convento de S. Vicente de Fora; a Sé de Lisboa ou Igreja de Santa Maria
Maior; a Igreja da Memória e a Ermida de Santo Amaro, estando o estudo geomântico completo
em anexo I1.
A tomada de Lisboa em 1147 levou D. Afonso Henriques a Sintra, que tomou sem luta.
Originalmente a Igreja de Santa Maria seria apenas uma ermida, no entanto, um dos priores,
Martim Dade, no final do séc. XIII, mandou demolir a ermida para erigir uma igreja com
características arquitectónicas da época gótica que respondesse ao movimento paroquial. O
padroado da Igreja de Santa Maria de Sintra pertencia há muito às rainhas, sendo a última, D.
Isabel, esposa de D. Afonso V, que a doou depois à Ordem de Cristo. Mais tarde, a comenda foi
extinta e voltou para à casa das Rainhas já com D. Catarina, esposa de D. João III, e aí
permaneceu com priorados de grande prestígio.
51
A abordagem geomântica começa por analisar o ano da construção, 1147.
Figura 35 – Igreja de Santa Maria – Zona Figura 36 – Igreja de Santa Maria – Zona
protegida, no exterior, poente, (MARQUES 2014). protegida, no interior, poente, (MARQUES 2014).
Yang, conhecido como Furnace Fire, define uma personalidade emotiva e relacionamentos
calorosos. O body element é fogo intenso. O estudo loshu, para 1147 = 13 = 11 – 4 = 7, um
número masculino para os aspectos yang da vida. Significa recompensa, frutos, lazer, também
sugere morte e fim de um ciclo.
N1 NE 8
Site/door – 256º – 庚 – 庚申
NW 6 Facing – 76º – 甲 –庚寅
8
6 1
7 5 3 E3
256º 76º
庚 甲
W7
2 9
4
retirando-lhe poder de realização. Os 120 Fin Kam, – 戊申 – dão instabilidade e tendência para
52
que se deve caminhar com retidão e ensinar. A 1ª montanha corresponde ao ch’i da terra,
dando pouca proteção ao local. A análise das Kinship lines, diz-nos para manter os princípios e
não agir, a relação entre a zona protegida e a frente sugere cobrança constante de dinheiro. O
Ba Zhai, ou análise estrutural, o ch’i do homem, dá-nos no exterior a estrela – 4 水 – six evils,
uma estrela de água muito forte, que transmite instabilidade dada pelas emoções; no interior – 7
金 – death, estrela de metal que significa morte, fim de um ciclo, que leva à renovação. O Yuen
Hon, o ch’i da terra, durante o destino 8 – 1995-2016, dá uma leitura que não é carismática. O
Loshu, analisa os anos em curso; no entanto, há situações que acontecem todos os anos – 9火
– 7金 – que significam propensão a furtos e a fogo, porém esta situação tende a descer pela
inclinação do terreno. O Sam Hap, o ch’i do céu, é uma leitura do exterior, nesta zona temos – 5
火 – five ghosts, e aparece duas vezes, uma estrela de fogo que sugere movimentos do oculto
que transmitem instabilidade mental; o excesso de fogo sugere que se controlem os cinco
fantasmas. O Palácio nesta zona, é Mo Yuk, que dá uma obsessão por coisas novas com muita
irritabilidade. Os chamados Flying Kua, dão uma leitura da relação entre a zona
protegida/frente, soma 10, transmitindo equilíbrio a todo o espaço; a Missing Family fala-nos
sobre as pessoas que habitam o local ou os anos que estão ausentes – o ano de 2015=3, está
ausente na zona protegida e no destino, estando também ausentes os conflitos existentes. Os
elementos das estrelas revelam conflitos entre a zona protegida/destino, retirando a saúde a
esta zona, e entre o destino/frente destrói a abundância material. No centro, no tai ch’i, não
aparecem estes conflitos, o que sugere ser essa a situação que se transmite a todo o espaço;
os Lap Yang mostram harmonia em madeira, em que a zona protegida e o destino alimentam o
local.
Figura 38 – Igreja de Santa Maria – Frente, no Figura 39 – Igreja de Santa Maria – Frente, no
exterior, nascente, (MARQUES 2014). interior, nascente, (MARQUES 2014).
53
Figura 40 – Igreja de Santa Figura 41 – Igreja de Santa Figura 42 – Igreja de Santa
Maria – vista nascente, (MARQUES Maria – vista nascente, (MARQUES Maria – vista nascente, (MARQUES
2014). 2014). 2014).
A análise da frente (ver figuras 38, 39, 40, 41 e 42), o futuro, está em – 甲 – com o
tronco e ramo – 庚寅 – sugerindo pessoas confiáveis, com quem se pode contar. Os 72 dragões
estão num dragão vazio, retirando ao local capacidade de realização, não sendo esta situação
tão grave como na zona protegida. Os 120 Fin Kam em – 戊寅 –, parece forte mas é fraco, no
Yuen Hon ou o ch’i da terra para o destino 8 – 1995-2016, sugere nesta zona – 8土 – 8土 – um
excesso de terra, o que pode levar à estagnação. O Loshu, para o ano de 2014=4, pode
provocar doenças, e o ano de 2015=3 dá uma energia boa para a comunicação, o ensino e para
atividades pedagógicas de forma geral. O Sam Hap, corresponde ao ch’i do céu e diz respeito
ao exterior; aqui a estrela – 4水 – six evils, sugere grande movimento emocional, transferindo
instabilidade ao local, com uma estrela base – 3土 – disaster, sugerindo acidentes, catástrofes,
morte e decomposição. Estas duas estrelas têm um conflito de elementos, em que a terra
controla a água aumentando a instabilidade. O Palácio Sai, significa morte, fim de um ciclo,
dúvida e indecisão. Os Flying Kua apresentam aqui, no leste, conflitos de estrelas entre a zona
protegida/destino, comprometendo a saúde, e entre o destino/frente manifestando falta de
abundância. No tai-ch’i há equilíbrio, sugerindo ser essa a situação que se transmite a todo o
espaço. De uma forma geral, verificam-se muitos conflitos que comprometem a saúde e que
54
devem ser olhados com cuidado; a Missing Family, diz neste caso respeito às pessoas que
vivem no local, ou aos anos ausentes, estando o ano 2014=4 ausente na frente e no destino, e
também ausentes os conflitos inerentes; os elementos Lap Yang, dizem-nos que o destino
apoia o local.
A Escola da Forma mostra um Dragão numa zona mais baixa do terreno, retirando ao
local a capacidade de organização e de liderança; o Tigre, é mais elevado, do lado sul, com o
adro, e reforça a energia feminina, a necessidade de comunicação e de convívio que impera,
não podendo nós esquecer que este monumento esteve sempre ligado à Casa das Rainhas. A
zona protegida tem a rua, o que dá instabilidade energética, apesar do muro do outro lado que
poderá de certa forma equilibrar esse fator. A Fénix, corresponde à elevação do outro lado de
S. Pedro, compondo a vista. O Ming Tang ou centro, o vale com a vista a oriente, dá-lhe o
carisma de templo cristão que olha o sol nascente, o sol da justiça. As Estrelas Imperiais do céu
(IHS), são estrelas débeis e mutáveis, não dando proteção. A 1ª montanha, corresponde ao ch’i
da terra, e acentua o telurismo no local, que apresenta inúmeras correntes de água
subterrâneas o que dificultou muito a leitura com a bússola.
A Escola da Bússola começa por analisar os Fluxos de ch’i para o destino 8 – 1995-
2016, com um equilíbrio relativo; no entanto, apresenta um conflito na zona protegida e na
porta, mostrando haver pouco apoio. Na época da construção, 1147, durante o destino 1 –
1143-1161, o destino apoia a construção do templo. Todavia, mostra haver demasiada água e
demasiadas emoções. O destino 9 – 2016-2043, está em conflito com o local, as realizações
tendem a não se concretizarem; é de notar que o grande ímpeto de construção, no destino 1, é
muito poderoso, aparecendo nos outros períodos do destino 1 ao longo da história – 1143-1161
/ 1323-1341 / 1503-1521 / 1683-1701 / 1863-1881 / 2043-2061. No Tai-ch’i o centro, reflete a
situação que se transmite a todo o espaço. A estrutura ou ch’i do homem analisa a relação
entre a zona protegida e a porta e mostra no exterior – 4-4 – six evils, revelando haver
demasiada água e demasiada instabilidade emocional; enquanto no interior – 7-7 – death,
morte, fim de um ciclo, mostra que pode levar à renovação, à metamorfose. No Yuen Hon, a
análise do ch’i da terra, olha a relação entre a zona protegida e a frente, e no destino 8 – 1995-
2016, indica haver abundância material, oportunidades. Os Flying Kua dizem-nos que impera o
destino 1, e que a relação entre a zona protegida/frente soma 10, mostrando equilíbrio em todo
o espaço, o elemento madeira apoiando o destino, e o destino apoiando o local. O Sam Hap diz
respeito ao ch’i do céu e mostra que a energia entra na propriedade em – 申 – numa yang water
form, no palácio Chang Sang, que transmite longevidade, capacidade de realização, vitalidade e
oportunidade. O Loshu, os anos de 2014=4 e 2015=3, anos madeira, estão em conflito com a
zona protegida e podem trazer acidentes e doença. De notar, que em geral a zona protegida é
55
fraca; com o movimento constante da rua, não havendo proteção, a energia que sai do templo
tende a escorrer morro abaixo, o espaço sugere a busca constante de mudança, morte e
ressurreição, confirmando que o objectivo cristão, a frente, é forte e carismática, dando ao
templo um sentido religioso, olhar o sol nascente, o sol de justiça. Não nos podemos esquecer
tratar-se de um local especial: a agulha da bússola afunda a norte revelando-se grande
instabilidade magnética, correntes de água subterrâneas e telurismo intenso.
Recomendamos atividades femininas no exterior, apoiadas pelo tigre mais alto, com
convívio e socialização no adro, havendo grande tendência para atrair eventos sociais de
carácter religioso, e também drenar a energia doente no interior do templo, com uso da cor
branca e da música, retirando força ao excesso de terra presente. Não se verifica a inversão da
polaridade do templo, havendo uma vista carismática a nascente, o sol de justiça, com um vale.
O Tai ch’i no interior, é um agregador para a atividade religiosa, transmitindo o verdadeiro
sentido do templo cristão, com a estrela metal 7, com a conotação de morte material e espelho
do céu, ou seja morte e ressurreição. O grande telurismo com correntes de água subterrâneas
altera a estabilidade magnética do local, não sendo recomendável viver aqui. Localização
georreferenciada: WGS84, (lat.) X: 38.793825 – (long.) Y: -9.384801.
S. Vicente de Fora tem origem muito antiga, datando da conquista de Lisboa por D.
Afonso Henriques que ali instalou o seu aquartelamento, a oriente dos velhos muros da cerca
Moura, em 1147. A ermida primitiva ainda do séc. XII, dedicada a Nossa Senhora da Enfermaria
e ligada ao cemitério, sendo um voto do rei cristão para alcançar a vitória na conquista da
cidade. Porém, fala-se também na consagração do campo santo, onde teriam sido enterrados
os cavaleiros caídos nessa batalha.
56
D. Fernando, no séc. XIV, fez passar a cerca fernandina no limite do mosteiro. No séc.
XVI, em 1527, D. João III pretendeu reformular o mosteiro, entregando-o aos frades Jerónimos
liderados por Frei Brás de Barros. Este monarca, propôs em 1553 uma campanha de obras que
nunca aconteceu. Em 1582, já sob Filipe II, passou a ser patriarcal entre 1773-1792. Em 1834
passa a pertencer ao património nacional. Mais tarde, instalou-se lá o Seminário Patriarcal e a
Câmara Eclesiástica, sendo posteriormente incorporada nos Monumentos Nacionais em 1910.
Figura 44 – Igreja de S. Vicente de Fora – Zona Figura 45 – Igreja de S. Vicente de Fora – Zona
protegida, no exterior, nascente, (MARQUES 2014). protegida, no interior, nascente, (MARQUES 2014).
Site – 92º – 卯 – 乙 卯 N1
NE 8
Facing/door – 272º –酉– 乙酉
NW 6
E3
6 1 8
PÁTIO
7 5 3
272º 92º
酉 2 9 4 卯
W7 SE 4
SW 2
Nota – Troca de
polaridade entre
site/facing devido
ao pátio assinalado.
Planta de João
Nunes Tinoco, 1650 S9
conhecido como Furnace Fire, define uma personalidade emotiva e relacionamentos calorosos.
57
O body element é fogo intenso. O estudo loshu, para 1147 = 13 = 11 – 4 = 7, um número
masculino para os aspectos yang da vida. Significa recompensa, frutos, lazer, e também sugere
morte, fim de um ciclo.
N1 NE 8
Site – 92º – 卯 – 乙 卯
Facing/door – 272º –酉– 乙酉
NW 6 8 E3
6 1
7 5 3
92º
272º
卯
酉 2 9 4 PÁTIO
W7 SE 4
SW 2
em – 卯 –, no tronco e ramo – 乙卯 –, significa que está sempre com pressa. A análise dos 72
dragões, temos – 辛卯 –, transmite apoio, pode-se confiar. Os 120 Fin Kam, temos aqui – 辛卯
estrela – 5火 –, five ghosts, de fogo, que transmite grande movimento do oculto e muita
Yuen Hon, o ch’i da terra, durante o destino 8 – 1995-2016, dá-nos – 1水 – 4朩 –, estrelas que
situações que acontecem todos os anos – 1水 – 3朩 – também uma estrela boa para o ensino,
58
aprendizagem e desenvolvimento de forma geral. O Sam Hap, o ch’i do céu, é uma leitura do
exterior, e nesta zona temos – 4水 – six evils, que traz grande emotividade e muito movimento;
Palácio nesta zona é Chang Sang, transmite grande capacidade de realização, muita energia e
vitalidade. Os chamados Flying Kua dão uma leitura da relação entre a zona protegida/destino,
que soma 15, expressando um retardamento nas questões de saúde, e entre a zona
protegida/frente, que soma 15, dificultando o equilíbrio em todo o espaço. A Missing Family fala-
nos sobre as pessoas que habitam o local ou os anos que estão ausentes. Os elementos das
estrelas revelam bastantes conflitos entre a zona protegida/destino, significando saúde precária,
mas esta pode ser influenciada pelo que aparece no tai ch’i, o centro, revelando conflitos entre
a zona protegida/frente, e o destino não gosta do local, o que pode ser resolvido com atividades
pedagógicas. Os Lap Yang mostram harmonia de forma geral, em que o local apoia e alimenta
o destino.
ramo –乙卯 – dá uma energia refrescante para a mente, e sempre renovada. Os 72 dragões em
– 丁酉 – tem muita energia, um vulcão. Os 120 Fin Kam, em – 辛酉 –, parece forte mas quebra
exterior – 4水 – six evils, que transmitem grande emotividade e instabilidade; no interior temos –
7金 – death, o fim de um ciclo. O Yuen Hon, ou o ch’i da terra, para o destino 8 – 1995-2016,
dá-nos – 8土 – 6金 – com muito poder financeiro, aparecendo duas vezes e por isso reforçado.
59
O Loshu não apresenta situações críticas ou difíceis para 2014=4 e 2015=3. O Sam Hap
corresponde ao ch’i do céu e diz respeito ao exterior; aqui a estrela – 4水 – six evils, sugere
grande movimento emocional, transferindo instabilidade ao local, com uma estrela base – 6金 –
A Escola da Forma diz-nos que o Dragão está num plano mais baixo; o mosteiro, no
entanto, equilibra o desnível presente, podendo-se pois considerar equilibrado, transmitindo
organização, liderança e capacidade de realização; a subida do tigre sugere atividades
pedagógicas, dadas pelo seminário que aqui funciona. O Tigre, no lado norte é mais elevado,
com uma rua, e pode-se considerar fraco, devido à passagem de pessoas e veículos, as
atividades do exterior estão ligadas à feira da Ladra e os vendedores chegam até aqui com as
suas bancas. A zona protegida, numa área elevada do terreno, originalmente seria a frente,
com vista para o rio, todavia, o pátio pequeno com edifício muito elevado do convento cortou a
vista, invertendo a polaridade do templo. A Fénix, corresponde aos prédios do outro lado da rua
Voz do Operário. O Ming Tang, ou centro, tem vista para o largo de S. Vicente de Fora. As
Estrelas Imperiais do céu (IHS), são estrelas fortes, que dão muita proteção à frente e atrás.
A Escola da Bússola começa por analisar os Fluxos de ch’i para o destino 8 – 1995-
2016, em que o local rejeita este destino. Na época da construção, 1147, durante o destino 1 –
1143-1161, o local apoia o que o destino lhe traz, não mostrando haver conflitos. O destino 9 –
2016-2043, também não apresenta conflitos; o local apoia o destino e o destino apoia o local.
De notar que o destino 4 é muito poderoso, o que pode ser confirmado pela história – 1209-
1233 / 1389-1413 / 1569-1593 / 1749-1773 / 1929-1953. O tai-ch’i, o centro, reflete a situação
que se transmite a todo o espaço; na estrutura, ou ch’i do homem, analisa-se a relação entre a
zona protegida e a porta, mostra no exterior – 5-4 – five ghosts e six evils, conflitos entre fogo e
água, os fantasmas imaginam e os demónios concretizam, não é uma boa situação; e no
interior – 1-7 – vitality e death, mostra conflitos de madeira e metal, com tendência para o crime
organizado, atividades ilícitas, e não-aceitação do poder instituído. No Yuen Hon, a análise do
ch’i da terra, olha a relação entre a zona protegida e a frente, e no destino 8 – 1995-2016,
mostra haver muita abundância material, oportunidade. Os Flying Kua dizem-nos que impera o
60
destino 4 e que a relação entre o destino/frente, soma 15, mostrando uma energia lenta, com a
abundância comprometida. Os elementos das estrelas e o destino, estão em conflito com o
destino, e os elementos Lap Yang, do local, apoiam o destino. O Sam Hap diz respeito ao ch’i
do céu, e mostra que a energia entra na propriedade em – 亥 – numa yin wood form, no Palácio
Dai Wong que transmite prosperidade e abundância material. O Loshu, os anos de 2014=4, e
2015=3, anos madeira, são pouco conflituosos. De notar que em geral, a zona protegida é forte,
a frente e a porta deixam a energia descer facilmente pela inclinação do terreno. Há tendência
para a organização de grupos em conflito, que se organizam facilmente contra o poder
instituído. O objetivo religioso tem dificuldade em concretizar-se, e a metamorfose, sugerida no
centro tem tendência a desvirtuar o seu objetivo.
61
visigótico em inúmeras pedras encontrada. Ao que parece, a Sé é um edifício religioso,
construído com essa finalidade, desenvolvendo-se do românico para o gótico, durante alguns
séculos, não mostrando adaptações, o que nos leva a crer, haver preexistências arrasadas que
lhe terão dado lugar. O bispado de Lisboa foi instituído logo em 1150, tendo um sacerdote
inglês ocupado o lugar, funcionando então já no espaço deste antigo templo, que se encontrava
no interior da Cerca Moura.
Figura 51 – Igreja de Santa Maria Maior, Sé de Figura 52 – Igreja de Santa Maria Maior, Sé de
Lisboa – Zona protegida, no exterior, poentes, Lisboa – Zona protegida, no interior, poente,
(MARQUES 2014). (MARQUES 2014).
Yang, conhecido como Furnace Fire, define uma personalidade emotiva e relacionamentos
calorosos. O body element é fogo intenso. O estudo Loshu, para 1147 = 13 = 11 – 4 = 7, um
número masculino para os aspectos yang da vida. Significa recompensa, frutos, lazer, e
também sugere morte, fim de um ciclo.
A análise da zona protegida (ver figuras 51, 52, 53 e 54), a saúde, neste caso a ocidente
análise dos 72 dragões, temos – 丁酉 – o vulcão com muita energia. Quanto aos 120 Fin Kam,
temos aqui – 辛酉 – parece forte, mas quebra facilmente, é apoiado pela frente. O Kua 9 4
N1 NE 8 Site/door – 272º – 酉 – 乙酉
Facing – 92º – 卯 – 乙 卯
6 1 8
NW 6 E3
7 5 3
272º 92º
酉 卯
2 9 4
W7
SE 4
SW 2 Nota – Polaridade
S9 original site/facing.
Planta do séc. XII
Figura 53 – Igreja de Santa Maria Maior, Sé de Lisboa – Direções e orientações – séc. XII, (SUMMAVIELLE
1986:8).
grande poder financeiro ao local. O Loshu analisa os anos em curso, no entanto há situações
que acontecem todos os anos – 7金 – 9火 – favorecem furtos, roubos e fogo, sendo necessária
vigilância neste local. O Sam Hap, o ch’i do céu, é uma leitura do exterior, nesta zona temos – 1
conflito entre metal e madeira, principalmente por serem estrelas muito poderosas. O Palácio
nesta zona é Lum Kum, bom para a educação, o ensino e atividades pedagógicas. Os
chamados Flying Kua dão uma leitura da relação entre a zona protegida/destino, soma 15,
expressando um retardamento nas questões de saúde, e entre a zona protegida/frente, soma
10, revelando-se um espaço equilibrado.
63
NE 8
N1 Site/door – 272º – 酉 – 乙酉
Facing – 92º – 卯 – 乙 卯
NW 6 6 1 8 E3
7 5 3
272º 92º
酉 卯
2 9 4
W7
SE 4
SW 2 S9
Nota – Polaridade original. Ligeiro descentramento do eixo
site/facing não altera a disposição. Planta do séc. XIV.
Figura 54 – Igreja de Santa Maria Maior, Sé de Lisboa – Direções e orientações – séc. XIV, (SUMMAVIELLE
1986:8).
A Missing Family fala-nos sobre as pessoas que habitam o local e os anos ausentes; os
elementos das estrelas, revelam conflito entre a zona protegida/destino, significando saúde
precária, havendo tendência dos conflitos que aparecem no tai ch’i, o centro, entre a zona
protegida/destino e destino/frente, a alastrar por todo o espaço. Os Lap Yang mostram
harmonia de forma geral, em que o local apoia o destino.
Figura 55 – Igreja de Santa Maria Maior, Sé de Figura 56 – Igreja de Santa Maria Maior, Sé de
Lisboa – Frente, no exterior, nascente, (MARQUES Lisboa – Frente, no interior, nascente, (MARQUES
2014). 2014).
A análise da frente (ver figuras 55 e 56), o futuro, está em – 卯 – com o tronco e ramo –
personalidades confiáveis, com quem se pode contar, um apoio. Os 120 Fin Kam, em – 辛卯 –
são personalidades confiáveis, com quem se pode contar, um apoio. O Kua 1 4 corresponde
64
ao hexagrama nº 19 – Aproximar – necessita de comunicar e ensinar de forma inexaurível. A 2ª
montanha, corresponde ao ch’i do céu e dá grande poder ao local. Os Kinship Lines sugerem
um futuro brilhante, ideais elevados e respeito, têm a confiança dos superiores. O Ba Zhai, ou
análise estrutural, o ch’i do homem, dá-nos no exterior – 4水 – six evils, que transmitem grande
ch’i da terra, para o destino 8 – 1995-2016 dá-nos – 1水 – 3朩 – mostra ser um bom local para a
aqui a estrela – 1朩 – vitality, dá muita energia, é boa para realizações e para a saúde, com
uma estrela base – 5火 – five ghosts, sugerindo movimentos do oculto. O Palácio Chua, morte e
fim sem esperança, vai da morte para o túmulo. Os Flying Kua apresentam, a oriente, entre a
zona protegida/frente soma 10, transmitindo equilíbrio a todo o espaço; o que acontece do tai
ch’i tem tendência a dominar todo o espaço. Os conflitos de estrelas, entre destino/frente,
comprometem a abundância, conflito que é reforçado pelo tai ch’i. A Missing Family diz respeito
a pessoas que vivam no local, não apresentando situações críticas. Nos elementos Lap Yang, a
frente apoia o destino.
A Escola da Forma diz-nos que o Dragão é muito alto e domina todo o espaço,
transmitindo organização, comando e liderança, dada pela presença do patriarcado e do cabido.
O Tigre, a sul, é mais baixo e segue o comando do dragão. A zona protegida está na descida
do terreno e tem pouca estabilidade; na altura da construção, a muralha da cidade, a Cerca
Moura junto à Porta de Ferro, daria mais apoio ao local. A Fénix, os prédios no final do claustro,
dão estabilidade à zona. O Ming Tang ou centro, está sobre o claustro que deveria ser
ajardinado. As Estrelas Imperiais do céu (IHS), estrelas fortes de grande poder, dão muita
proteção ao local.
A Escola da Bússola começa por analisar os Fluxos de ch’i para o destino 8 – 1995-
2016, em que o local rejeita este destino. Na época da construção, 1147, durante o destino 1 –
1143-1161, há metal e água em harmonia, não mostrando haver conflitos; o destino 9 – 2016-
2043, apresenta um excesso de metal, mas sem conflitos, a energia pode ficar estagnada,
cristalizada; de notar que o destino 4, é muito poderoso neste local, o que pode ser confirmado
pela história – 1209-1233 / 1389-1413 / 1569-1593 / 1749-1773 / 1929-1953. No Tai-ch’i, o
centro, reflete a situação que se transmite a todo o espaço; a estrutura, ou ch’i do homem,
analisa a relação entre a zona protegida e a porta, e mostra no exterior – 4-4 – six evils, com
demasiada água, muita instabilidade dada pelas emoções; e no interior – 7-7 – death, há um
65
excesso de metal, e esta estrela sugere o fim de um ciclo e metamorfose. O Yuen Hon, a
análise do ch’i da terra, olha a relação entre a zona protegida e a frente, e no destino 8 – 1995-
2016, e mostra haver muita abundância material, oportunidade. Os Flying Kua dizem-nos que
impera o destino 4 e que a relação, zona protegida/destino, soma 15, retardando os aspectos
positivos do restabelecimento da saúde, entre zona protegida/frente, soma 10, que mostra ser
um espaço equilibrado; os elementos das estrelas, estão em conflito, madeira metal, entre zona
protegida/destino/frente, o que tem tendência a influenciar todo o espaço interior. Os elementos
Lap Yang do local apoiam o destino. O Sam Hap diz respeito ao ch’i do céu e mostra que a
energia entra na propriedade em – 子 – numa yin water form, no Palácio Chang Sang, que
transmite uma grande fonte de energia, harmonia, saúde, vitalidade e capacidade de realização.
O Loshu, do ano de 2014=4, com as estrelas 7-4, no tai-ch’i, sugere atividades ilícitas com
grande necessidade financeira. De notar que em geral, a zona protegida é fraca, com uma
rampa, e a frente é forte. As maldições na porta de entrada são uma situação difícil, havendo
necessidade do comando e da disciplina do dragão para estabilizar esse aspecto. Sugere a
transformação interior, induzindo a pessoa a entrar, a retirar-se, e a realizar a morte e
ressurreição, a relação das linhas dos hexagramas, indicando o mesmo respeito.
porta principal. A porta à direita da entrada principal, tem o mesmo problema da porta principal,
sendo por isso melhor mantê-la fechada. Localização georreferenciada: WGS84, (lat.) X:
38.709868 – (long.) Y: -9.132916.
66
3.4 – Igreja da Memória
A Igreja da Memória (ver figura 57) tem apenas uma época de construção, começada
em 1760 e concluída em 1788. Esta igreja, responde a uma promessa do rei D. José, ao
escapar a um atentado em 1759. O Duque de Aveiro é acusado, construindo-se o pelourinho do
Chão Salgado, e tendo os Távoras caído em desgraça, foram perseguidos e eliminados num
episódio histórico trágico.
Figura 58 – Igreja da Memória – Zona protegida, Figura 59 – Igreja da Memória – Zona protegida,
no exterior, nascente, (MARQUES 2014). no interior, nascente, (MARQUES 2014).
conhecido como white wax metal, define uma personalidade fraca, metal que derrete facilmente.
O body element é metal fraco. O estudo Loshu, para 1760 = 14 = 11 – 5 = 6, um número
masculino para os aspectos yang da vida. Significa concentração e filantropia.
A análise da zona protegida (ver figuras 58, 59 e 60), a saúde, neste caso a oriente, em
67
dragões, temos – 乙卯 – sempre com pressa, sempre a correr. Nos 120 Fin Kam, temos aqui –
丁卯 – com muita emotividade e calor humano, é apoiado pela frente. O Kua 6 9 corresponde
SW 2
S9
Site – 101,5 – 乙 – 丁 卯
Facing/door – 181,5 – 辛 – 丁 酉
SE 4 W7
101,5º
乙
181,5º
辛
NW 6
E3
oculto; no interior – 1朩 – vitality, reforça a saúde, e muita energia de realização. O Yuen Hon, o
para a transmissão de conhecimento, dando grande proteção durante este destino. O Loshu
bom para o ensino e atividades pedagógicas. O Sam Hap, o ch’i do céu, é uma leitura do
exterior; nesta zona temos – 4水 – six evils, muita instabilidade provocada pelas emoções; o
plátano, nesta zona, ajuda a estabilizar essa energia, a estrela base em – 8朩 – site of life, é
68
fraca e dominada pela estrela 4. O Palácio é Chang Sang, com muita energia e capacidade de
realização. Os chamados Flying Kua dão uma leitura da relação entre a zona protegida/frente,
soma 10, transmitindo equilíbrio a todo o espaço. A Missing Family, diz-nos sobre as pessoas
que habitam o local, estando o ano de 2014=4, ausente na zona protegida e no destino,
anulando, nesse ano, os conflitos e aspectos positivos; os elementos das estrelas não têm
conflitos, imperando o que aparece no tai ch’i. Os Lap Yang mostram que o local protege o
destino em curso.
mas quebra facilmente. Os 120 Fin Kam, em – 丁酉 – reforçam a energia explosiva do vulcão, a
ou análise estrutural, o ch’i do homem, dá-nos no exterior – 4水 – six evils, transmite grande
o ch’i da terra, para o destino 8 – 1995-2016, dá-nos – 8土 – 6金 – dão grande poder financeiro.
O Loshu aqui não é estrutural nem complicado. O Sam Hap corresponde ao ch’i do céu e diz
respeito ao exterior; aqui a estrela – 4水 – six evils, dá grande emotividade com instabilidade,
que é drenada pela descida da colina, com uma estrela base – 6金 – longevity, estrela que
A Escola da Forma diz-nos que o Dragão é mais baixo que o tigre, havendo tendência
para atividades femininas, dificuldade na organização, na liderança e na disciplina. O Tigre, a
norte, é mais forte, transmitindo uma apetência pelo convívio e atividades de socialização. A
zona protegida está estabilizada por um grande plátano. A Fénix, os prédios do outro lado do
largo, com ruas e movimento, indica que o ch’i que deve ser mantido em circulação. O Ming
Tang ou centro, é o Largo da Memória, com bastante tráfego. As Estrelas Imperiais do céu
(IHS), são estrelas fortes e dão proteção ao local.
A Escola da Bússola começa por analisar os Fluxos de ch’i, para o destino 8 – 1995-
2016, em que o local rejeita este destino. Na época da construção, em 1760, durante o destino
4 – 1749-1773, há muito metal com poder financeiro, que apoia o destino; este destino também
pode ser forte com acontecimentos históricos; o destino 9 – 2016-2043 apresenta também um
excesso de metal, sem conflitos, com tendência à estagnação; este destino é muito poderoso, o
que pode ser confirmado pela história – 1836-1863 / 2016-2043. No Tai-ch’i, o centro, reflete a
situação que se transmite a todo o espaço; a estrutura, ou ch’i do homem, analisa a relação
entre a zona protegida e a porta, e mostra no exterior – 5-4 – five ghosts e six evils, com
tendência a conflitos invisíveis, que geram instabilidade emocional; e no interior – 1-7 – vitality,
e death, fomentam a organização de grupos contra o poder instituído, crime organizado,
conspirações. O Yuen Hon, a análise do ch’i da terra, olha a relação entre a zona protegida e a
frente, e no destino 8 – 1995-2016 e mostra haver muita abundância material, oportunidade. Os
Flying Kua dizem-nos que impera o destino 9, e que a relação entre a zona protegida/frente,
soma 10, transmitindo equilíbrio a todo o espaço, e entre destino/frente, soma 10, espaço com
tendência a manifestar abundância material; os elementos das estrelas não têm conflitos. Os
elementos Lap Yang do local são apoiados pelo destino. O Sam Hap diz respeito ao ch’i do céu,
e mostra que a energia entra na propriedade em – 亥 – numa yin wood form, no Palácio Dai
Wong, que transmite grande prosperidade e capacidade de realização. O Loshu, para o ano de
2014=4 e 2015=3, dá uma boa situação de apoio e equilíbrio de elementos. De notar que, de
forma geral, a zona protegida é fraca e a frente é forte. O local induz, e provoca uma atividade
constante. Mostra poder financeiro forte, porém com fraca organização, podendo haver
propensão para desvirtuar atividades de socialização, que se transformam facilmente em
conflitos, banditismo e crime organizado. A porta de entrada, sugere o fim de um ciclo para
quem a transpõe. Assim, a organização de atividades no interior do templo deveria induzir a
transformação, levando a cabo o objectivo religioso.
70
Recomendamos no exterior, o estar público, favorecer atividades, com um mínimo de
percursos, e uma boa iluminação noturna, num ponto alto central, panóptico, e o
desenvolvimento de atividades de lazer, que já estão presentes sendo esse um atrativo do
local. A árvore na zona protegida, de certa forma, estabiliza a energia no exterior e no interior
do templo. No interior, recomendam-se atividades de natureza espiritual, para neutralizar a
configuração das estrelas 4 de água, os seis demónios, e 5 de fogo, os cinco fantasmas, que
dão grande instabilidade emocional, devido ao conflito entre água e fogo, que provoca agravos.
Pensa-se que a vista principal fosse para oriente na altura da construção do templo, mas o
crescimento da cidade e o grande plátano da cabeceira inverteram a polaridade entre a zona
protegida e a frente passando a vista a ser para ocidente e para o Largo da Memória. Esta
situação certamente aconteceu em inúmeros templos cristãos. Localização georreferenciada:
WGS84, (lat.) X: 38.703 – (long.) Y: -9.202068.
A ermida de Santo Amaro, foi construída em 1549 sobre uma outra preexistente, mais
pequena, para responder à devoção dos frades da Ordem de Cristo. Sendo um local fora dos
muros da cidade, tido como milagreiro, recebia votos e peregrinações. A sua construção, data
do séc. XVI, sendo a decoração acrescentada, em diversas épocas, e respondendo a diversos
estilos. Sofre com o abandono dos frades, em 1836. De planta centrada, com galilé
semicircular, consegue responder ao afluxo das romarias que aí se dirigiam.
Construção – 1549, – 己酉土 – body element ou personalidade do local. Este Lap Yang,
conhecido como road way earth, define uma personalidade de grande teimosia; no entanto,
pode-se contar com ela, são previsíveis. O body element é terra forte. O estudo Loshu, para
1549 = 19 = 11 – 10 = 1, um número masculino, para os aspectos yang da vida. Significa
profundidade, filosofia, gestação, origem.
71
Figura 64 – Ermida de Santo Amaro – Zona Figura 65 – Ermida de Santo Amaro – Zona
protegida, no exterior, poentes, (MARQUES 2014). protegida, no interior, poentes, (MARQUES 2014).
A análise da zona protegida (ver figuras 64, 65, 66 e 67), a saúde, neste caso a
dos 72 dragões, temos –辛酉– parece forte mas quebra facilmente. Nos 120 Fin Kam, temos
N1 Site – 280º – 辛 – 丁酉
Facing/door – 100º – 乙–丁卯
NW 6
NE 8
280º
辛
W7 E3
100º
SW 2 SE 4 乙
S9
Figura 66 – Ermida de Santo Amaro – Direções e orientações – planta, (ALMEIDA, BELO 2007:278).
72
NE 8
N1
Site – 280º – 辛 – 丁酉
Facing/door – 100º – 乙–丁卯
6 1 8
E3
NW 6
7 5 3
280º 100º
辛 乙
2 4
SE 4
W7
9
Nota – Templo pagão com altar a
ocidente e entrada a oriente. A largura
da ermida sugere um templo com
S9 traçado de duplo quadrado, seguindo os
SW 2 muros e o tracejado.
Figura 67 – Ermida de Santo Amaro – Direções e orientações – planta, (www.monumentos.pt).
A análise das Kinship lines, revela necessidade de controlo sobre a personalidade; no
entanto, a relação entre a zona protegida e a frente, mostra conflitos entre irmãos e problemas
six evils, com instabilidade dada pelas emoções; no interior – 7金 – death, sugere morte e fim
poder financeiro. O Loshu analisa os anos em curso; porém, há situações que acontecem todos
os anos – 9火 – 7金 – sugerindo furtos, roubos e fogo, energia muito corrompida. O Sam Hap, o
ch’i do céu, é uma leitura do exterior, nesta zona temos – 1朩 – vitality, com grande energia e
poder de realização, a estrela base em – 2土 – health and wealth, traz abundância material e
saúde, apesar do conflito madeira terra, com duas estrelas muito fortes. O Palácio nesta zona é
Chua, o que sugere morte e decomposição física. Os chamados Flying Kua dão uma leitura da
relação, entre a zona protegida/frente, soma 10, transmitindo equilíbrio a todo o espaço. A
Missing Family diz-nos sobre as pessoas que habitam o local, estando o ano de 2014=4
ausente na frente, anulando nesse ano os conflitos; os elementos das estrelas, mostram conflito
entre destino/frente, comprometendo a abundância, no entanto, o tai ch’i, é soberano em todo o
espaço. Os Lap Yang mostram que o local protege o destino em curso.
73
Figura 68 – Ermida de Santo Amaro – Frente, no Figura 69 – Ermida de Santo Amaro – Frente,
exterior, nascente, (MARQUES 2014). no interior, nascente, (MARQUES 2014).
sempre com pressa, sempre a correr. Os 120 Fin Kam, em – 乙卯 –, transmitem pressa,
análise estrutural, o ch’i do homem, dá-nos no exterior – 5火 – five ghosts, sugerindo grandes
movimentos ocultos; no interior temos – 1朩 – vitality, dando muita energia e vitalidade, sendo
bom para a saúde. O Yuen Hon ou o ch’i da terra, para o destino 8 – 1995-2016, dá-nos – 4朩 –
excesso de terra com tendência à doença, e no ano de 2015=3, uma grande energia de
realização e desenvolvimento, especialmente boa para a educação. O Sam Hap corresponde
ao ch’i do céu e diz respeito ao exterior; aqui a estrela – 1朩 – vitality, dá muita energia e
capacidade de realização, com uma estrela base – 8朩 – site of life, estrela fraca que reforça a
74
Missing Family diz respeito a pessoas que vivam no local, podendo os anos estar ausentes. Os
elementos Lap Yang apoiam-se: o lugar apoia o destino e o destino apoia o lugar.
A Escola da Forma diz-nos que o Dragão é ligeiramente mais alto, estando numa
situação de equilíbrio. O Tigre tem vista para o rio e uma força muito grande. A zona protegida
tem construções à volta, estabilizando a energia. A Fénix tem vista para a ponte 25 de Abril, e
para prédios ao longe. O Ming Tang ou centro, o adro em frente com vista sobre o rio, sugere
um templo pagão: a divindade olha a vista, o sol nascente; o crente apenas vê o seu reflexo, na
estátua. As Estrelas Imperiais do céu (IHS), são estrelas de grande poder, que dão muita
proteção ao local. De notar a disposição quase perfeita, com grande equilíbrio, sugerindo uma
preexistência pagã, com aproveitamento da disposição inicial.
A Escola da Bússola começa por analisar os Fluxos de ch’i para o destino 8 – 1995-
2016, em que o local está em conflito com o destino. Na época da construção, em 1549,
durante o destino 3 – 1545-1569, o local está em conflito com o destino. O destino 9 – 2016-
2043, não mostra conflitos, tem grande poder acumulado de metal; este destino é muito
poderoso, o que pode ser confirmado pela história – 1656-1683 / 1836-1863 / 2016-2043. O Tai-
ch’i, o centro, reflete a situação que se transmite a todo o espaço; a estrutura, ou ch’i do
homem, analisa a relação, entre a zona protegida e a porta, e mostra no exterior – 4-5 – six
evils e five ghosts, com tendência a conflitos invisíveis, que geram instabilidade emocional; e no
interior – 7-1 – death e vitality, fomentam a organização de grupos contra o poder instituído,
crime organizado, conspirações. O Yuen Hon, a análise do ch’i da terra, olha a relação entre a
zona protegida e a frente, e no destino 8 – 1995-2016 mostra haver muita abundância material,
oportunidade. Os Flying Kua dizem-nos que impera o destino 9, e que a relação entre a zona
protegida/destino, soma 10, dá saúde, e entre a zona protegida/frente, soma 10, transmite
equilíbrio a todo o espaço; os elementos das estrelas não têm conflitos. Os elementos Lap
Yang, do destino, apoiam o local. O Sam Hap diz respeito ao ch’i do céu e mostra que a energia
entra na propriedade em – 午 – numa yin fire form, no Palácio Chang Sang, que dá grande
energia, vitalidade e capacidade de realização. O Loshu para o ano de 2014=4 e 2015=3, revela
conflitos entre metal e madeira, podendo atrair acidentes físicos. De notar que no geral, a
disposição do local é quase perfeita, havendo muita tendência para movimentos do oculto, que
degeneram em instabilidade emocional, e para conflitos entre pessoas, que podem ser
corrigidos com atividade religiosa e pedagógica, sendo as romarias e peregrinações do passado
uma boa solução no presente.
75
fantasmas, requerem a estabilização com o elemento madeira, ou seja, a água alimenta a
madeira, que alimenta o fogo, tornando o ciclo mais estável. Trata-se de um templo pagão; a
divindade olha o sol nascente e a vista, o crente olha apenas o seu reflexo. O Tai ch’i tem
tendência a espalhar os conflitos a todo o espaço no interior, ou seja, a estrela 1 madeira,
vitalidade, e 7, metal, morte, pode ser arrastada pela estrela 1, e disseminar o aspeto morte.
Requere-se aqui o elemento água para estabilizar o ciclo de alimento, como já foi acima
referido. A atividade devocional é um bom transformador da discórdia humana, podendo
também recorrer-se a atividades pedagógicas, ao pequeno desporto, e a atividades que
promovam a saúde; todavia, é necessário ter cuidado com a tendência à deterioração e
degradação social existente, como já foi referido acima. Localização georreferenciada: WGS84,
(lat.) X: 38.702112 – (long.) Y: -9.182679.
A orientação do templo mostra, que todos eles respeitam o eixo este/oeste, embora com
diferenças. Santa Maria, com 256º ocidente, tem a orientação cristã com vista para o oriente e
para o sol nascente. S. Vicente, com 272º ocidente, inverteu a sua disposição inicial ou seja, a
vista a oriente foi cortada pela construção de um pequeno pátio e dos edifícios do convento a
oriente, passando a vista principal a estar virada para ocidente, o que denominamos de
inversão de polaridade. A Sé, com 272º ocidente, tem vista para oriente sobre o espaço livre do
claustro. De notar que, sendo templos contemporâneos, seria de esperar que todos tivessem
272º ocidente; porém, pensa-se que o forte telurismo da serra de Sintra tenha causado
perturbações na orientação, deixando-nos pensar ter sido usado um objecto magnético. O lo-
p’an usado acusou medições que foram de 250º a 262 graus ocidente, escolhendo-se a leitura
que apareceu com mais frequência. A igreja da Memória, com 281,5º ocidente, mostra inversão
de polaridade, com vista para ocidente, o grande plátano por trás da cabeceira cortou a vista do
sol nascente. Santo Amaro, com 280º ocidente, tem uma orientação próxima da igreja da
76
Memória mas com o altar a ocidente, mostrando assim uma disposição pagã; aqui o crente ao
olhar o altar ou a estátua do Deus, olha o reflexo do sol nascente; a divindade do altar é quem
olha o sol nascente, negando ao crente a sua filiação divina. Esta orientação, sendo muito
antiga, sugere o uso de uma vara e não de um objecto magnético.
Figura 70 e 71 – Ermida de Santo Amaro – Por trás da cabeceira nota-se um aparelho de pedra anterior, por
baixo um afloramento rochoso, (MARQUES 2014).
No centro, no tai-ch’i, os templos cristãos de Santa Maria e Sé, acentuam o aspeto da
emotividade religiosa no exterior, e no interior, morte e ressurreição. Os templos que inverteram
a sua polaridade, S. Vicente e a igreja da Memória, mostram haver no exterior uma apetência
por movimentos do oculto, com grande emotividade e instabilidade, e no interior, facilmente se
organizam grupos contra o poder instituído, intrigas, conspirações. No entanto, a igreja da
Memória com um Dragão fraco tem tendência a desvirtuar o uso religioso e, apesar de entregue
ao exército, a organização tende a ser frágil. Santo Amaro tem uma disposição semelhante, que
equilibra com a força de organização do Dragão, capaz de controlar estes aspetos negativos
através do espírito religioso, que também cura e equilibra a energia do local, funcionando como
transformador energético.
A entrada de energia, fica caracterizada pelo palácio por onde entra na propriedade.
Aqui temos uma situação curiosa: os templos cristãos de orientação original, com vista para
leste, têm uma energia enorme, grande longevidade, vitalidade e organização, como é o caso
de Santa Maria e da Sé. S. Vicente e a Memória, com a inversão de polaridade, também têm
grande capacidade de realização, mas são mais fracos na liderança, ganhando para os
78
aspectos ligados ao ensino e transmissão de conhecimento. Santo Amaro, com uma disposição
quase ideal, apresenta o mesmo ímpeto que o templo cristão carismático.
As recomendações refletem o espírito dos diferentes templos. Santa Maria tem alguns
problemas de estagnação de energia, podendo ser resolvidos com atividades religiosas e de
convívio social, bem como reforçando os aspectos femininos existentes; porém, o templo
permanece fechado o que dificulta essa terapia. S. Vicente e a Sé são espaços de grande
movimento, e a atividade religiosa é um bom transformador. Na Sé as zonas críticas são a sul,
no interior, pois o oculto estimula facilmente a imaginação neste ponto, mas nada que a
atividade do templo não possa sanar. A igreja da Memória tem grande tendência à estagnação
energética, estando quase sempre fechada; presentemente mantém culto religioso diário, o que
ajuda no equilíbrio da má configuração do interior. O exterior deste templo deve ser mantido
bem iluminado durante a noite, pois há tendência a degradação social, uma luz forte no centro,
um organizador do espaço noturno, faz lembrar o sistema panóptico. Santo Amaro, apesar de
tudo não é muito problemático, pois a vista para o rio é por si só transformadora de energia; no
entanto à noite uma boa iluminação pode mitigar grandemente a tendência à degradação social.
79
Quadro 01 – Estudo comparativo do comportamento dos Casos de Estudo.
ESPAÇO Orientação Zona Frente Porta Dragão /Tibre Body element, Tai ch’i Entrada Elementos
templo protegida exterior personalidade do transmite-se a energia na importantes
local, estrela do ano todo o espaço propriedade
Igreja de Proteção – 256º – 4 – six – 5 – five – 4 – six Dragão – mais 1147 = 7 –丁卯火– Exterior – 4-4– Entra –申 – Boa relação zona
Santa Maria 庚– evils 水 – ghosts 火 evils 水 – baixo, retira
furnace fire – muita
muita
em yang
protegida / frente, com
– Sintra organização e emotividade e equilíbrio.
Caso Prático Frente – 76º 甲 nº 29 – – nº 29 –
liderança.
emotividade,
instabilidade
water, em
Zona protegida fraca,
Abismo nº 30 – Abismo relacionamentos Chang Sang –
01 – 1ª montanha Tigre – mais Interior – 7-7– energia negativa sai
Beleza calorosos longevidade,
Objetivos 1, ch’i terra, não alto, adro, morte, fim de um facilmente pela porta,
Flamejante 7 – recompensa, grande
2 e 3. há proteção – apetência por ciclo, renovação. purifica o espaço.
frutos, lazer, morte, energia,
templo sem convívio – Destino 8 – Predominância dos
fim de um ciclo. capacidade
inversão Casa das poder financeiro destinos 1-6 e 3-8.
de realização.
Rainhas. e oportunidade.
Recomendações – no exterior favorece atividades sociais Observações – zona protegida fraca com frente forte, energia tende a escoar-se pela porta e pela
de carácter religioso e protegidas pelo tigre – no interior é inclinação do terreno. Telurismo fortíssimo com correntes de água subterrâneas. Destino 1 muito forte
necessário drenar o espaço com cor branca e música, sugere transformações histórias – 1143-1161 / 1323-1341 / 1503-1521 / 1683-1701 / 1863-1881 /
para equilibrar o excesso de terra. 2043-2061 –, quem entra procura confirmação, quem está caminha à beira do abismo.
Igreja Proteção – 92º – 5 – five – 4 – six – 4 – six Dragão – mais 1147 = 7 –丁卯火– Exterior – 5-4– Entra –亥– em Relação razoável
Mosteiro de 卯– ghosts 火 evils 水 – evils 水 – baixo, aqui
furnace fire – muita
conflitos
yin wood, em
protegida / frente, e
S. Vicente de equilibrado invisíveis, destino / frente.
Fora Frente – 272º 酉 – nº 33 – nº 33 –
pelo mosteiro
emotividade,
grande emoção
Dai Wong –
Descida na porta
nº 19 – Retiro Retiro relacionamentos ímpeto de
Caso Prático – 2ª montanha a sul – Interior – 1-7– escoa os aspectos
Aproximar calorosos realização.
02 ch’i do céu, dá Seminários e grupos, crime negativos do interior.
7 – recompensa,
Objetivos 1, poder escolas organizado Predominância dos
frutos, lazer, morte,
2 e 3. – inversão Tigre – mais Destino 8 – destinos 1-6 e 4-9.
fim de um ciclo.
polaridade do alto, a rua Poder financeiro
templo enfraquece. e oportunidade.
Recomendações – no exterior atividades já existentes, Observações – Equilíbrio zona protegida/frente, no entanto, a energia sai rapidamente pela porta.
turismo e a feira da ladra – no interior comunicação e Destino 4 muito poderoso – 1209-1233 / 1389-1413 / 1569-1593 / 1749-1773 / 1929-1953 –, quem
divulgação espiritual, o centro deve estar livre. está deve comunicar e ensinar, ser inexaurível, quem entra procura retiro do mundo, infunde respeito.
Igreja de Proteção – 272º – 4 – six – 5 – five – 4 – six Dragão – forte 1147 = 7 –丁卯火– Exterior – 4-4 – Entra –子– em Boa relação
Santa Maria 酉– evils 水– ghosts 火 evils 水 – transmite
furnace fire – muita
instabilidade
yin water, em
protegida / destino e
Maior, Sé de comando e dada pela protegida / frente.
Lisboa Frente – 92º 卯 nº 33 – – nº 33 –
organização –
emotividade,
emoção
Chang Sang –
Descida na entrada a
Retiro nº 19 – Retiro relacionamentos vitalidade,
Caso Prático – 2ª montanha organização Interior – 7-7 – ocidente drena a
Aproximar calorosos muita energia
03 ch’i do céu, dá episcopal. morte, fim de um energia da maldição.
7 – recompensa, de realização.
Objetivos 1, poder – templo Tigre – fraco. ciclo, renovação. Predominância dos
frutos, lazer, morte,
2e3 sem inversão Destino 8 – destinos 1-6 e 4-9.
fim de um ciclo.
Poder financeiro
e oportunidade
Recomendações – no exterior estar público a sul – no Observações – Zona protegida fraca com maldições, frente forte – destino 4 muito poderoso sugere
interior, NW atividades pedagógicas, bom para recuperar transformações históricas – 1209-1233 / 1389-1413 / 1569-1593 / 1749-1773 / 1929-1953 –, quem
a saúde de corpo e espírito, S elementos terra para está procura a fuga ao mundo, a transcendência, quem entra procura valores mais elevados, o
estabilizar, o oculto é aqui muito forte. espaço infunde respeito.
80
Quadro 01 – Estudo comparativo do comportamento dos Casos de Estudo (continuação).
ESPAÇO Orientação Zona Frente Porta Dragão /Tibre Body element, Tai ch’i Entrada Elementos importantes
templo protegida exterior personalidade do local, transmite-se a energia na
estrela do ano todo o espaço propriedade
Igreja da Proteção – –1– – 7 – death – 7 – death Dragão – fraco 1760 = 6 –庚辰金– Exterior – 4-5 – Entra –亥– Boa relação
Memória 101,5º 乙– vitality 朩 金– 金– retira
white wax metal –
conflitos
em yin wood,
protegida / destino e
Caso Prático organização. invisíveis e protegida / frente.
Frente – 281,5º – nº 31 – nº 31 – metal fraco derrete em Dai
04 Tigre – forte emotividade A árvore estabiliza a
Objetivos 1, 2 辛– 3ª nº 41 – Atração Atração
dá tendência a
facilmente.
Interior – 1-7–
Wong –
energia da zona
Declínio. 6 – filantropia e ímpeto de
e3 montanha ch’i atividades grupos, crime protegida.
concentração. realização.
do homem, dá femininas e organizado, não Predominância dos
poder material convívio. admira o rei ter destinos 1-6 e 4-9.
– inversão aqui sofrido um
polaridade do atentado.
templo Destino 8 –
poder financeiro
e oportunidade.
Recomendações – no exterior a sul, estar e lazer público Observações – Zona protegida fraca, frente forte, o local provoca atividade constante no exterior, e no
com boa iluminação, sem percursos – no interior interior, havendo tendência à deterioração social em geral – destino 9 com poder e muita estagnação –
atividades religiosas que neutralizem a configuração 1836-1863 / 2016-2043 –, podendo ter o destino 4 transformações histórias – quem está tem tendência
negativa do espaço. à falta de paciência, quem entra procura instrução e informação.
Ermida de Proteção – 280º – 4 – six – 5 – five – 5 – five Dragão e 1549 = 1 –己酉土– Exterior – 4-5 – Entra –午– Boa relação
Santo Amaro 辛– evils 水– ghosts 火 – ghosts 火 – Tigre em
roadway earth –
conflitos
em yin fire,
protegida / frente.
Caso Prático equilíbrio. invisíveis e A vista do rio dá
Frente – 100º乙 nº 31 – nº 41 – nº 41 – teimosia, pode-se em Chang
05 Disposição emotividade grande poder ao local.
Atração Declínio Declínio contar com elas, são Sang –
Objetivos 1, 2 – 3ª montanha quase perfeita Interior – 7-1 – Predominância dos
previsíveis. grande
e3 ch’i do homem, reflete a grupos, crime destinos 1-6 e 4-9.
1 – profundidade, energia,
dá poder sabedoria organizado
filosofia, geração, vitalidade e
material pagã antiga, Destino 8 –
origem. capacidade
– templo pagão que teimou na poder financeiro
de
sua e oportunidade.
realização.
orientação.
Recomendações – o exterior atrai pelo panorama, deve- Observações – há uma boa relação entre a zona protegida e a frente, a energia fica retida no adro em
se aproveitar como espaço de convívio com boa frente dando poder ao local. Atrai pessoas em conflito umas com as outras, no entanto, todas buscam
iluminação – no interior leva à busca da realização a plenitude e realização espiritual, confirmado pelas romarias e peregrinações do passado – destino 9
religiosa, de ensinamentos e instrução de forma geral. tem poder e alguma estagnação – 1656-1673 / 1836-1863 / 2016-2043 –, o ímpeto de construção no
destino 3 pode sugerir transformações históricas –, quem está tem tendência a dar instrução e
informação, quem entra procura a plenitude espiritual com tendência à zanga e falta de paciência.
81
Passamos agora analisar os períodos do destino, que apresentamos no quadro 02.
Quadro 02 – Períodos do destino no sistema Yuen Hon.
Destino 1 1143-1161 1323-1341 1503-1521 1683-1701 1863-1881 2043-2061
Destino 2 1161-1185 1341-1365 1521-1545 1701-1725 1881-1905 2061-2085
Destino 3 1185-1209 1365-1389 1545-1569 1725-1749 1905-1929 2085-2109
Destino 4 1209-1233 1389-1413 1569-1593 1749-1773 1929-1953 2109-2133
Destino 6 1233-1254 1413-1434 1593-1614 1773-1794 1953-1974 2133-2154
Destino 7 1254-1275 1434-1455 1614-1635 1794-1815 1974-1995 2154-2175
Destino 8 1275-1296 1455-1476 1635-1656 1815-1836 1995-2016 2175-2196
Destino 9 1296-1323 1476-1503 1656-1683 1836-1863 2016-2043 2196-2223
Santa Maria –, durante o destino 1, período da sua construção, mostra ser muito forte, o
destino apoia o local, situação que se repete no destino 6. O destino 3 e o destino 8 também são
fortes, e o local apoia esses destinos, sendo esta uma situação melhor que a anterior. Passamos
agora a analisar de forma sucinta o que se passou nesses períodos, baseando o estudo na
cronologia do site monumentos3.
Destino 1 – 1143-1161 –, construção da igreja e criação da paróquia.
Destino 6 – 1233-1254 –, contenda entre várias paróquias.
Destino 7 – 1254-1275 –, começa a construção da igreja nova, nesta época o local está em
conflito com o destino.
Destino 7 – 1434-1455 –, obras na capela-mor – pertence à Casa das Rainhas.
Destino 1 – 1503-1521 –, D. João Lopo grava as armas das rainhas – faz novas obras no
interior, no portal principal – é criado o coro alto.
Destino 6 – 1593-1614 –, constroem-se vários túmulos no interior.
Destino 8 – 1635-1656 –, revestimento de azulejo de tapete no interior.
Destino 2 – 1701-1725 –, inscrição na porta principal (1711).
Destino 4 – 1749-1773 –, terramoto obriga a obras de recuperação durante este período, o
destino está em conflito com o lugar.
Destino 3 – 1905-1929 –, é reconhecido como Monumento Nacional.
Destino 4 – 1929-1953 –, define-se uma zona de proteção.
Destino 7 – 1974-1995 –, obras da fossa no adro – são encontrados sarcófagos tardo
medievais.
Destino 8 – 1995-2016 –, é estabelecida zona de proteção incluída na Área Protegida de
Sintra.
O grande fluxo de obras é durante o destino 1, sendo o destino 7 também muito ativo, o
conflito água e fogo em direção ao destino não é muito forte. Os momentos de proteção são
durante o destino 3 e o destino 8.
S. Vicente –, apresenta grande força durante o destino 1, na época da sua construção, o
local apoia o destino, situação idêntica aparece no destino 6, não mostrando haver conflitos. Os
82
destinos 4 e 9 são poderosos, o destino apoia o local e o local o destino, no entanto o excesso de
metal pode levar à estagnação. Passamos agora a analisar o que se passou em cada um dos
períodos de destino:
Destino 1 – 1143-1161 –, construção da ermida e fundação do convento.
Destino 2 – 1161-1182 –, construção do convento.
Destino 6 – 1413-1436 –, dádivas reais de relicários de prata.
Destino 2 – 1521-1545 –, estabelecimento da regra. O local tem um grande conflito com o
destino.
Destino 4 – 1569-1593 –, demolição da velha igreja e projeto de Filipe Terzi.
Destino 6 – 1593-1614 –, retábulo do coro e reconstrução da igreja.
Destino 7 – 1614-1635 –, primeira missa, é oferecido o cofre da eucaristia, o destino está
em conflito com o local.
Destino 2 – 1701-1725 –, pintura mural do tecto – conclusão da sacristia.
Destino 4 – 1749-1773 –, terramoto – construção das capelas dos santos – obras do muro
da clausura.
Destino 6 – 1773-1794 –, patriarcal passa para o convento, onde ficou durante 20 anos
(1773-1793).
Destino 7 – 1794-1815 –, restauro das pinturas do tecto da portaria.
Destino 8 – 1815-1836 –, transformação em paço episcopal, expulsão das ordens religiosas
– o local está em conflito com o destino.
Destino 2 – 1881-1905 – ,obras de restauro e reconstrução do zimbório – liceu Gil Vicente
ocupa parte do convento.
Destino 3 – 1905-1929 –, Monumento Nacional, o local está em conflito com o destino.
Destino 4 – 1929-1953 –, adaptação do Capítulo a Panteão dos Patriarcas – é incluída na
zona de proteção do castelo de S. Jorge.
Destino 8 – 1995-2016 –, incluída na zona de proteção de Lisboa, baixa, castelo e cercas.
Concluímos que, os períodos de maior atividade foram durante o destino 1, com o ímpeto
inicial, e o destino 4, com obras de demolição, remodelação. O destino 6 está virado para a
decoração, e os destinos conflituosos, 2 e 7, rejeitam o local, a resposta do lugar começa com o
estabelecimento da regra, a primeira missa, e pinturas do tecto num esforço de sacralização do
espaço.
A Sé –, também é templo construído durante o destino 1, sendo um período de grande força
em que o lugar apoia o destino, o mesmo acontecendo durante o destino 6. O destino 4 e 9
também são muito fortes, não apresentando conflitos, no entanto a predominância do elemento
83
metal pode levar à estagnação, apesar do destino apoiar o lugar. Passamos agora a analisar,
sucintamente, o que se passa nesses períodos:
Destino 1 – 1143-1161 –, construção do templo.
Destino 8 – 1275-1296 –, construção da capela de Nossa Senhora da Piedade.
Destino 9 – 1296-1323 –, construção do claustro e capelas de S. Sebastião, Santo Estêvão
e capela Funerária.
Destino 1 – 1323-1341 –, obras de recuperação devido a terramotos – construção da capela
de S. Bartolomeu.
Destino 2 – 1341-1365 –, capela de Nossa Senhora na charola.
Destino 4 – 1389-1413 –, passou a arcebispado – sismos, um raio cai sobre a abside obriga
a novas obras de recuperação.
Destino 6 – 1413-1434 –, restauro da abside.
Destino 7 – 1434-1455 –, capela de S. Vicente, destino em conflito com o lugar e o lugar em
conflito com o destino.
Destino 8 – 1455-1476 –, retábulo gótico da capela-mor.
Destino 9 – 1476-1503 –, capela do Corpo de Deus – restauro dos painéis de S. Vicente –
obras de talha no interior.
Destino 1 – 1503-1521 –, chegada da imagem de Nossa Senhora Grande.
Destino 2 – 1521-1545 –, terramotos, danos nas torres, instalação do coro dos cónegos –
pintura do retábulo de S. Bartolomeu.
Destino 3 – 1545-1569 –, retábulo do Santíssimo – douramento do sacrário.
Destino 4 – 1569-1593 –, frontaria da capela de S. Pedro – repintar o retábulo da capela de
Santa Ana.
Destino 6 – 1593-1614 –, pintura de S. Miguel – pintura do espaldar do cadeiral.
Destino 7 – 1614-1635 –, retábulo da capela de Nossa Senhora de Belém.
Destino 8 – 1635-1656 –, obras na capela do Santíssimo – retábulo da capela de S. João
Evangelista – capelas de Nossa Senhora da Tocha e de Santo António – talha da capela do
Santíssimo.
Destino 9 – 1656-1683 –, Frontal do Santíssimo em prata – obras na capela da Terra Solta
– retábulo de Nossa Senhora a Grande.
Destino 1 – 1683-1701 –, retábulo da capela do Salvador do Mundo – retábulo da capela de
Nossa Senhora da Piedade – anjos de prata do Santíssimo – lâmpadas de prata do Santíssimo –
vitrais da abside – covais da capela da Terra Solta – novo retábulo de S. Vicente – pintura nas
84
colunas da capela do Santíssimo – truncou-se a capela de S. Bartolomeu para rasgar uma porta –
retábulo de Santo Idelfonso.
Destino 2 – 1761-1725 –, novo retábulo da capela-mor – revestimento a azulejo da capela
do Santíssimo – anexação da capela do Santíssimo e de Nossa Senhora da Luz – imagem de
Santa Rosa de Viterbo – novo retábulo da capela do Santíssimo.
Destino 3 – 1725-1749 –, abolição do título de Sé – dado o título de Basílica – novo cadeiral
– reparação das torres – relógio na torre sul.
Destino 4 – 1749-1773 –, terramoto – reconstrução da capela do Santíssimo – obras nas
capelas reais – lanternas de prata para a irmandade do Senhor Jesus da Boa Sentença – imagem
de Santo Amaro – obras de vulto e reconstrução – pintura da capela de Santo Idelfonso.
Destino 6 – 1773-1794 –, túmulos reais – pintura do tecto da sacristia – ossadas reais vão
para novos túmulos – douramento do retábulo do Santíssimo – reforma da frontaria da capela do
Bom Jesus da Boa Sentença – execução das caixas dos órgãos – pintura do esquife e encarnação
do Senhor Morto – talha das tribunas reais – tocheiros do Santíssimo – banqueta do altar do
Senhor Jesus da Boa Sentença.
Destino 7 – 1794-1815 –, retiraram-se as grades da capela do Senhor Jesus da Boa
Sentença.
Destino 8 – 1815-1836 –, imagem da capela do Santíssimo – imagem de Nossa Senhora da
Conceição – criação do cabido.
Destino 9 – 1836-1863 –, capelas passam a arrecadações – presépio de Machado de
Castro – anulação do título de basílica e atribuição de Patriarcal – desenvolve-se a irmandade dos
calafates.
Destino 2 – 1881-1905 –, junta da paróquia funciona na capela de S. Bartolomeu – restauro
da fachada por João Neponucemo – obras de Fuschini – vitrais da capela de S. Bartolomeu –
transformação da capela de S. Bartolomeu em Baptistério.
Destino 3 – 1905 – 1929 –, trabalhos de restauro – Monumento Nacional.
Destino 4 – 1929-1953 –, Raul Lino opõe-se à cabeceira gótica – construção do coro dos
órgãos.
Destino 6 – 1953-1974 –, execução dos órgãos – danos no claustro provocados pelo sismo.
Destino 8 – 1995-2016 –, ligação à Direção Geral de Cultura.
Este monumento, passada a primeira grande campanha de obras de construção, durante o
destino 1, mais tarde as grandes campanhas de obras de restauro e reconstrução foram durante o
destino 4 e 9. O destino 6 ficou mais ligado a decorações, e composição do interior. Os destinos
conflituosos mostraram obras ligadas a sismos, como o destino 2 e o destino 3; as remodelações
85
estão ligadas ao título, que deixa de ser Sé para se tornar Basílica, e o destino 8 institui o cabido,
órgão de gestão. A volta do título de Patriarcal no destino 9, reforça o poder do Dragão com o
trigrama pai, que rege este destino.
A igreja da Memória –, construída durante o destino 4, tem demasiado metal, o que pode
levar à estagnação e se verificou com o atraso da construção, até ao final deste período, apesar de
não haver conflitos, a situação repete-se no destino 9, o lugar apoia o destino e o destino apoia o
lugar. No destino 1 e 6, o lugar apoia o destino, sendo uma situação sem conflitos, e uma resolução
energética mais equilibrada e também mais poderosa. Passamos agora a analisar de forma sucinta
o que se passa nestes períodos:
Destino 4 – 1749-1773 –, altura da construção e lançamento da primeira pedra, estagnação
da construção.
Destino 6 – 1773-1794 –, rei encomenda a obra à mulher e à filha – conclusão das obras –
sagração dos sinos.
Destino 9 – 1836-1863 –, encerra ao público – usada como armazém.
Destino 3 – 1905-1929 –, transladação do túmulo do Marquês de Pombal.
Destino 4 – 1929-1953 –, jardim envolvente – igreja volta ao culto e ao público – sede da
Ordem do Santo Sepulcro de Jerusalém – ligação ao exército – Monumento Nacional.
Destino 6 – 1953-1974 –, construção do altar de madeira – recuperação para resolver o
problema das infiltrações.
Destino 7 – 1974-1995 –, encerramento devido á queda de um raio – levantamento do
imóvel – o destino está em conflito com o lugar.
A igreja da Memória deixa-nos ver, que os grandes períodos de construção são durante o
destino 4 e 6, e o destino 9 com a inerente estagnação, fez dele um armazém. Os desafios surgem
no destino 3, a presença eterna do Marquês de Pombal, e no destino 7, a queda de um raio, anos
em que o destino está em conflito com o lugar.
A ermida de Santo Amaro –, é construída durante o destino 3, o local está em conflito com o
destino, o ímpeto construtivo é por isso um pouco forçado, sendo o grande poder dado pelo destino
1 e 6, sem conflitos, em que o lugar apoia o destino, com um bom fluxo energético. O destino 4 e o
9 não mostram conflitos, mas o excesso de metal dá tendência à estagnação. Passamos agora a
analisar de forma sucinta o que se passa nestes períodos:
Destino 3 – 1545-1569 –, construção – instituição da romaria, o lugar está em conflito com o
destino.
Destino 9 – 1656-1683 –, decoração de azulejos no nártex.
86
Destino 1 – 1683-1701 –, continuação da decoração de azulejos – pintura do milagre de
Santo Amaro.
Destino 3 – 1905-1929 –, deixada ao abandono – reinício do culto – Monumento Nacional.
Notamos em Santo Amaro, que os destinos mais ativos são o 3, o lugar em conflito com o
destino impõe-se, o destino 9 e 1 são períodos de decoração e de embelezamento.
Ao analisarmos os períodos de destino, verificámos que os lugares de culto têm apetência
pelo destino 1, ligado à mãe e à fonte da vida, ao destino 6, o filho mais velho, o trovão, com um
grande ímpeto de realização, depois o destino 4 a filha mais nova, o lago que espelha o céu, e o
destino 9 o pai que reflete o poder criador. Isto acontece devido à orientação oriente ocidente, no
entanto, Santa Maria, devido ao enorme telurismo da serra de Sintra apresenta um desvio
magnético mostrando apetência pelo destino 3, a filha do meio, o fogo e o destino 8 o filho mais
novo, a montanha. Podemos também concluir, que os desvios de orientação dão distorções nos
espaços e nas atividades desenvolvidas, não se recomendando desvios maiores de 5 graus em
relação às direções cardeais. Estas orientações são predominantes, não só nos hexagramas, como
nos trigramas de direção, pois eles recebem essa caracterização energética que tão bem define a
mentalidade do templo cristão. Por outro lado, nos três templos de 1147, pode ter sido usado um
instrumento magnético, com a distorção imprimida pelo telurismo da serra de Sintra. Em Santo
Amaro, a orientação do templo pagão deve ter sido feita com uma vara, e a leitura vai para 280º,
muito próximo da leitura da igreja da Memória. Não devemos, no entanto, esquecer que ao longo
do tempo as alterações astronómicas e magnéticas também podem causar diferenças nas leituras,
o que se faz hoje é uma leitura atual, que inclui o magnetismo e as inerentes mutações, que o
tempo lhe imprimiu.
87
CAPÍTULO IV – CONCLUSÃO
As leis do universo traduzem-se em todos os sistemas de conhecimento, até mesmo na
crença, que a Roma de Cícero já reconhece: «.... Nem haverá uma lei em Roma, outra em Atenas,
uma agora, outra no futuro, mas uma lei única, sempiterna e imutável abarcará todas as nações e
em todos os tempos e existirá como que um guia e imperador como a todos, deus»1, integrando
todos os seres no pulso do universo, tornando os homens ambientalistas, senhores do mundo.
Constrói-se o sonho, que une o ideal e o desejo profundo, a fragilidade do homem olha a obra da
criação e cria um dilema que o espreme até à exsudação, e vítima do seu descontrolo procura a
integração num universo. A ciência não explica tudo, e deixa lagos de magia que alimentam a
fantasia, a busca incessante de “animus” e “anima”, “Eterno Masculino” e “Eterno Feminino”2, o
ativo e o receptivo, yang e yin, a manifestação, a ponte que liga o que está em cima e o que está
em baixo, o sonho, a finalidade, aquilo que torna o homem divino. A geomancia integra e diz-nos
que «The most important element in clinical diagnosis is to know the relationship between heaven,
earth and human kind»3 incluindo assim a biologia humana, as condições atmosféricas, as
formações montanhosas e a humanidade.
A magia do universo é antiga. Yates4 refere-se a Bruno como mago da tradição hermética,
no entanto, a importância fica com a necessidade de explicar os fenómenos da natureza que
Campanella, Ficino, etc. tal como ele, estudaram no séc. XVI. A ciência quer fatos, mas a magia e
a ciência não estão divorciadas, e a ciência ao utilizar a magia poderia antes explicá-la. As leis do
universo não se alteram com nomenclaturas, sendo o fantástico um paradigma do macrocosmo e
do microcosmo, confundindo no homem, objecto e sujeito. Não sendo um divórcio, é antes uma
união indissolúvel que procura a verdade, através da manifestação do inexplicável e do fenómeno.
Causas não compreendidas são fantasiosas. A medicina olhada como magia das formas
simpáticas, é o espelho e a manifestação; um é a escassez, yin, e o outro o excesso, yang. O
diálogo está presente entre o espaço e o homem, macrocosmo e microcosmo, esclarecendo a
autora ser a memória mágica, com origem na hermética egípcia divulgada pelos romanos. O
renascimento olhou-a como magia, procurando a geomancia, repor a memória dos lugares, com
uma conotação ritual. A psicologia e a psiquiatria investem no seu estudo enquanto causa de
distúrbios. Por um lado a geomancia concilia o aspecto “mágico” do ser humano, ligado à memória
ancestral dos lugares e de si próprio, adapta circunstâncias, burila “memórias”, aprende a viver em
harmonia com o seu espaço vivencial, sincroniza-se com ele, torna a sua vida uma viagem no
“tempo”, e usa a geometria como linguagem da terra. Ao estudar o projeto clássico em arquitetura,
Braizinha diz que «A geometria é a primeira determinação do lugar» e depois que «o geómetra
88
define o lugar segundo a medida no sentido de entidade, e não de quantidade, como número e não
como algarismo»5. Este sentido do lugar é geomântico. A geomancia que traduz o todo, ao usar a
geometria celeste, plasma na terra a matriz através da entidade, o número, que no oriente
reconhecemos como estrela, a personalidade, cor, elemento e identidade, o genius locci. Este autor
ao analisar o projeto clássico dialoga entre símbolo, geometria e mito, e no oriente isso é
geomancia. Estes valores que relacionam o lugar ao todo, continuam a ser objeto da arquitetura, e
hoje, como antigamente, o arquiteto é um geomante ao inserir o homem no universo e no
ambiente. A «geometria significa medida da Terra. No Egito, as inundações sucessivas e anuais
das terras cultiváveis pelas águas, implicou o apuramento de uma técnica, que permitisse repor as
primitivas marcas, anteriores à inundação anual»6. Igualmente a China se viu a braços com o grave
problemas das inundações do rio Amarelo, estudou a forma da paisagem para perceber para que
lado se desenvolveriam as inundações anuais, baseando o estudo geomântico na resolução
urgente de um problema de hidráulica. Por que razão a geometria do Egito seria a medida da terra,
o elemento, e para o Feng-Shui vento e água, as condições de salubridade que referiam o mesmo
problema, ou seja, e transformar o natural indomável numa forma organizada, o habitat humano.
Por outro lado a geometria, a medida do elemento terra, «a geometria do céu e da terra»7 do
quadrado mágico, como cânon celeste, e Braizinha diz ser «esta atividade de medição da terra
tornou-se a base da lei da ciência natural, tal como foi corporizada nas formas arquetípicas, do
círculo, do quadrado e do triângulo»8, não esquecendo que a geomancia é uma ciência
matemática, como afirmava Bruno9, a magia mistura-se com o sobrenatural, com um sistema de
crenças. Esta é a importância da geomancia como estudo do homem de terra, síncrono com todas
as terras cristalizadas no universo, «o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe
pelas narinas o sopro de vida…»10.
89
o tai-ch’i, sempre presentes no trabalho do arquiteto. A numerologia e os traçados respondem ao
indizível, sacralizando-se assim o espaço profano, ao ritmo do espaço e do tempo do quadrado
mágico, a sua complementaridade horizontal, e desenho centrado, abrindo a porta ao
antiparalelismo vertical do Axis mundi que opera esta volta de cento e oitenta grau, e o celeste
reflete-se no criado, uma operação matemática e mítica. Os casos de estudo respondem pelo
arquiteto geomante.
90
o trigrama mãe, a gestação; SE, o Portão dos Homens em Touro, com o trigrama vento, o
inspirador; NW, o Portão do Céu em Escorpião, a águia, o trigrama pai no pa-k’ua terrestre. Os
símbolos terrestres dos labirintos de Hani17 presentes na antiguidade, assemelham-se à bússola de
geomancia que contém a quadratura do círculo, e ainda ao claustro central do templo, o espaço de
meditação, o “lago celeste” do centro do lo-p’an. A liturgia de Hani, a «integração espiritual do
espaço e do tempo»18, aparece em Skinner na arte de «harmonizar o espaço e o tempo»19. O Sol
de Justiça de Hani20, a contagem progressiva depois do solstício de inverno, e regressiva após o de
verão, são idênticas em geomancia, caracterizam a alternância dia e noite, yang, e yin. A árvore
cósmica da geomancia, de troncos celestes e ramos terrestres, está presente em Hani21, na árvore
da vida. A proporção do templo de Lubicz22 com a medida do homem, a geomancia como ciência
da terra olha o homem de barro como sua pertença. E ainda a medicina do renascimento, com a
teoria dos humores referida por Sousa23, é semelhante à teoria dos elementos do oriente24. A
sincronicidade de Jung25, presente em Bachelard26, retrata-se em Costa27, com a identidade de um
genius locci, cuja essência a geomancia remete ao céu. O cofre da geomancia, o túmulo dos
tesouros, está presente em Bachelard28 e contém os guardados da alma. A numerologia usa uma
linguagem comum, e o arquétipo celeste arranja-se à volta do 6, em dois triângulos, masculino e
feminino, formando, uma estrela de seis pontas, como no ocidente o triângulo voltado para cima,
fogo, e o triângulo voltado para baixo, água. O oriente tal como o ocidente olha o 23, ou seja, 2, 4, 8
em dois quadrados, o duplo quadrado da criação, o quadrado rodado dos muçulmanos, presente
nos dois pa-k’ua. O lo-p’an contém a quadratura do círculo, e o quadrado mágico do oriente
aparece em Apolónio de Tiana29.
Ao analisarmos os dados caso a caso, concluímos que a polaridade este/oeste dos templos
pode ser alterada com o desenvolvimento urbano, os locais antigos, escolhidos, mostram uma
predominância de água e fogo, o que não está presente na igreja da Memória, e o local sofre com
uma estrutura doente. Os aspectos masculinos do dragão e femininos do tigre, mostram um dragão
dominante na Sé, com a autoridade dos patriarcas, da Igreja, em S. Vicente, a subida do lado do
tigre favorece atividades femininas, como o ensino e o Seminário. O tigre dominante da igreja de
Santa Maria, ligou-a sempre à Casa das Rainhas, sendo as outras situações menos evidentes. A
personalidade do local do ano de 1147 é calorosa e envolvente, relacionada com o nosso primeiro
rei, grande líder, o ano de 1760, na igreja da Memória evidencia problemas financeiros, D. José,
um rei fraco de pouca autoridade e uma coroa empobrecida, o ano de 1549 na ermida de Santo
Amaro, mostra teimosia ao manter uma orientação pagã e a regra do Templo, que passou à Ordem
de Cristo. No templo cristão primitivo, o tai ch’i, o poder do centro, invoca a emotividade religiosa da
ressurreição, enquanto os outros templos mostram as alterações inerentes à mudança de
91
polaridade. A vista do sol nascente transfere uma sacralidade e um magnetismo ao lugar, que o
torna só por isso sagrado. O estudo dos períodos de destino mostra incidências em determinados
períodos, sendo a orientação responsável pelos tempos de atividade de alguns destinos, como o
eixo oriente/ocidente contém os elementos água e fogo, os destinos também seguem um padrão,
1-6 para destinos de água e 4-9 para destinos de metal, a cristalização, elementos que geram
harmonia no fluxo de ch’i. A água, a geração e a gestação, ao combinar-se com o espírito do
templo e o fogo do altar no sol nascente, sugere a mutação e a ressurreição. O elemento metal no
pentagrama, o ciclo de controlo, formam com a água e o fogo o triângulo com a ponta de cima em
fogo, e água e metal em baixo – a água e o fogo criam, e o metal espelha a imagem reflectida da
criação, o triângulo da proporção divina, que os arquitetos conhecem no traçado do templo cristão.
Pensamos pois serem os traçados, o estudo geomântico do projeto clássico. A geometria, a
medida da terra, obedece a um cânone de perfeição, presente nas formas regulares dos polígonos,
o número uma entidade que o oriente chama de estrela deixa-nos a certeza da terra não se referir
ao planeta mas ao elemento em manifestação, o pó do qual é feito o homem bíblico. Nas igrejas de
planta centrada, o tai-ch’i coincide com a cúpula, o Axis mundi, a cruz latina, e transfere esse
centro do Cristo para o coração, tornando o culto devocional.
A sincronicidade do tempo no espaço transfere para o tempo a dimensão vertical, que liga o
tempo terrestre ao celeste, e no lo-p’an, cujo design mostra a quadratura do círculo, com a medida
do tempo nas «365,25 day-degree»30, alterada ainda no séc. XVIII por influência dos padres
jesuítas, introduzindo-se a «Ch’ing adoption»31 de 360 graus, o que prevaleceu. O estudo
geomântico surge implícito no património, mostrando atividade e vitalidade até ao presente. O
geómetra e o geomante, na figura do arquiteto, transferem a medida da terra para o espaço
terrestre, e a medida do tempo para o celeste, a quadratura do círculo, isto é, inserir o tempo no
espaço, o mito que se renova, eternizando a sua obra nos traçados de esquadro e compasso, com
números simbólicos, que a recuperação dos monumentos tenta manter, integrando o carisma do
antigo na urbe com a inerência da alteração, a abordagem do lugar. O tempo do património une o
terrestre e o celeste, e este espaço ao circular ao longo do tempo, faz surgir uma espiral
logarítmica. O tempo, yang, o espaço, yin, induzem a penetração nos segredos do universo com a
consciência de colaborar numa obra maior. A numerologia do quadrado mágico «fala da geometria
do céu e da terra»32, não esquecendo Eitel: «… uma série de fórmulas logarítmicas habilmente
idealizadas para englobar todas as proporções numéricas que os chineses atribuem ao
universo…»33, e aos dez troncos celestes, aos doze ramos terrestres, ao ciclo de 60 anos incluindo
o quadrado mágico, referido na 1ª edição desse trabalho em 1873.
92
A leitura geomântica como algoritmo aplicado, com respostas compósitas para uma leitura
do espaço, tendo os elementos, o I-ching, e o quadrado mágico, como ingrediente e produto na
definição do espaço, das ocorrências de fatos síncronos, facilita a investigação do passado e a
transformação do futuro. O arquiteto passa a dispor de dados, que enquadram o carisma do lugar,
na sua envolvente urbana e rural. A linguagem do espaço e do tempo, transformam-no na mutação
vivencial, no eterno presente.
Pensamos pois terem sido alcançados os objectivos do trabalho, como ficou demonstrado
acima, sendo a geomancia um dado importante no desempenho do arquiteto, e que esteve
presente sempre ao longo do tempo, o arquiteto que usa o número e o instrumento. No presente, a
integração no ambiente requer novas formas de trabalhar, abandonando-se progressivamente o
individualismo para abrir novos horizontes do natural e do cultural face à identidade de pessoas e
lugares. Este trabalho abre portas a muitas áreas de investigação cujos especialistas poderão dar
respostas a questões mais avançadas. O Feng-Shui, surge como fonte de investigação comparada,
com a tradição ocidental, que em muitas áreas está incompleta por falta de dados. O arquiteto na
atualidade pode trabalhar em inúmeros casos nos espaços urbanos e no património com
localizações que lhe permitam tirar conclusões mais definitivas, com casos que possam usar ou
não do apoio de um geomante, algo que se faz já noutros países.
93
GLOSSÁRIO
ANTIPARALELISMO – Corresponde à polaridade oposta de um hexagrama ou seja, o hexagrama faz um giro de 180
graus em relação a outro hexagrama.
AXIS MUNDI – Eixo ordenador do espaço.
CH’I – Respiração do dragão; pode ser referido como força vital universal e está presente em todas as coisas. Pode-se
considerar um ch’i yang e um ch’i yin que refletem a complementaridade. É também conhecido como Sopro da Natureza.
CHIU-HUN – Sistema de nove ciclos.
COMPLEMENTARIDADE – Num hexagrama, cada linha partida corresponde a uma linha inteira e cada linha inteira a
uma partida em outro hexagrama.
ESCOLA DA BÚSSOLA – Surge com a invenção da agulha magnética e da bússola. Serve para criar harmonia entre a
terra e o céu.
ESCOLA DA FORMA – San He ou Hsing Shih; estuda as características geográficas, uma avaliação geográfica da
paisagem, das formas e contornos das montanhas e planícies.
ESTRELAS – Em Feng-Shui é um termo que se refere a uma caracterização energética que inclui um trigrama, uma cor,
um elemento, uma polaridade energética, uma forma e um planeta, assemelha-se ao conceito de número.
FENG-SHUI – Arte das localizações e orientações na sua integração com o ambiente através do equilíbrio com a
natureza e harmonia na vida humana, propondo soluções culturais, sociais e políticas. Traduz-se literalmente como vento
e água. Esta arte geomântica da China significa a arte de localizar todas as coisas, e é também chamada de ciência
natural. O Feng-Shui yin é feito para a disposição dos túmulos; o Feng-Shui yang é feito para as moradas dos vivos.
FIAT LUX – Termo usado para definir a obra da criação, tem um paralelo na energia yang.
GENIUS LOCCI – Espírito dos lugares.
HI – Ver ch’i.
I-CHING – Livro sagrado do taoismo, também chamado Livro das Mutações. O seu poder divinatório liga-se ao cálculo
probabilístico.
IMAGO MUNDI – Imagem celeste.
JIU – Nome dado a um conjunto de estrelas, não se trata de estrelas astronómicas.
KANYU – 500 anos mais antigo que o termo Feng-Shui, significa literalmente cálculo do tempo.
KUA – Trigrama ou hexagrama; no lo-p’an os 6 graus que correspondem a um hexagrama sendo cada grau caracterizado
por uma linha.
LI – Leis da Natureza.
LI CH’I – Termo utilizado para definir a localização e a qualidade do ch’i; hoje em dia usa-se essencialmente no uso do lo-
p’an.
LO-P’AN – Bússola de geomancia, também chamada bússola de Feng-Shui; representa o universo (disco móvel) e a
terra (placa quadrada). Podem ainda ser usados os termos mais antigos como lo ching ou chen p’an.
LO-SHU – Na numerologia chinesa, também conhecido como quadrado mágico; diz respeito à contagem do tempo e às
direções.
MING TANG – Espaço na frente de um lugar, antes da Fénix ou Pássaro Vermelho. É o espaço que retém o ch’i.
PA-K’UAS – As duas formas de se disporem os oito trigramas. O pa-k’ua celeste corresponde ao arquétipo celeste e o
pa-k’ua terrestre à mutação.
SHIH – Nome dado à antiga Placa Astronómica usada em Feng-Shui. Relacionada com a Estrela Polar, era um gnómon
e usava-se antes do conhecimento da agulha magnética
TAI-CH’I – Centro ou grande eixo, eixo primordial da criação (Axis mundi).
TAO – O Absoluto de onde tudo emana.
TI LI – 500 anos mais antigo que o termo Feng-Shui, significava literalmente o cálculo de localização e procura de ch’i
ligadas à Escola da Forma.
SAM YUEN – Sistema de contagem de destinos em que cada destino equivale a 20 anos dependendo da posição das
estrelas no sistema planetário.
SHA – Energia desqualificada ou destrutiva.
SO – Proporção da Natureza.
XIANG – Diagrama ou imagem.
YAI – Linha do hexagrama.
YANG – Energia celeste comparável à energia solar.
YIN – Energia terrestre ou espelho lunar.
YING – Formas da Natureza.
YUEN YON – Sistema de contagem de destinos em que cada destino é caracterizado pelas linhas dos trigramas.
94
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ANEXO I – ESTUDO GEOMÂNTICO, FENG-SHUI