Escravidão No Brasil - História Do Brasil Final

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Escravidão no Brasil:

O que podemos observar no Brasil é que antes da Guerra da Secessão nos


Estados Unidos da América é que nada abala a instituição da escravidão. Inclusive, na
década de 1850 a região cafeeira estava em franca expansão, e a sua produção era o que
conduzia a região ao otimismo econômico. Neste sentido, responsável pela dependência
da mão de obra africana.

A demanda de mão de obra africana para esta região cafeeira, foi


responsável pelo preço diferenciado entre a zona do café e do centro sul do Brasil e
outros mercados da zona de algodão e açúcar do Nordeste, que era relativamente menor.
Desta forma, uma mudança nesta estrutura, que estrutura o país ainda era uma
perspectiva remota, até porque durante todo o século XIX o Brasil não havia passado
por nenhuma ofensiva significativa que ameaçasse a escravidão, mesmo durante a crise
nos Estados Unidos.

No que concerne, a cena política, quem dominava, era o partido


conservador, pois somente na década de 1870 que o Partido Republicano, com seu
Manifesto Republicano, começa a ganhar a arena política, com suas reivindicações.
Entretanto, é o partido conservador que estava empenhado, neste contexto, em facilitar
o desenvolvimento econômico, de forma que as elites comerciantes e fazendeiros
pudessem lucrar e modernizar o pais. Não houve qualquer mobilização em grande
escala de classe média contra os donos de escravos.

E mesmo frente a toda pressão britânica o Brasil conseguiu se esquivar. E


mesmo os africanos que chegaram após a década de 1830, mantiveram seu status de
cativo. A única legislação que teve força para ruir a instituição escravidão foi a Lei Rio
Branco, no entanto, foi elaborada antes desta distribuição regional, que favoreceu o
cultivo de café.

Observa-se que a legislação atendia a uma demanda de uma elite coesa,


mesmo que geograficamente dispersa. Inclusive a primeira constituição, após a
independência, a de 1824, era similar a constituição francesa que vigorou durante a
primeira metade do século XIX. A peculiaridade, no caso brasileiro, era um poder
centralizador, nas mãos do imperador, que era o poder moderador. Contudo, mesmo
havendo um sistema eleitoral, ele era corrompido por interesses personalistas, que
atendiam as demandas de uma elite agrária, era o que nas palavras de Richard Grahan
“teatro das eleições”.

Outro aspecto relevante a se identificar na escravidão brasileiro, é a omissão


da igreja frente as agruras da escravidão negra. Mesmo que algumas organizações e
instituições religiosas e de caridades, atendessem às necessidades dos negros; não houve
nenhuma manifestação formal contrário ao cativeiro negro.

As primeiras iniciativas contra a escravidão foram dadas pelo imperador


Dom Pedro II, mesmo contrariando o partido da ordem. Como se aspirava, para a antiga
colônia portuguesa, o desenvolvimento e a modernização; o fato de existir a escravidão,
manchava esta possibilidade de o país figurar dentre os países “desenvolvidos” da
época. A proclamação da emancipação de Lincoln, da aprovação de 13 emenda à
Constituição dos Estados Unidos e a reunião com a Junta espanhola, evoluiu para a
abolição, contrariamente ao Brasil. Ao tratar de assuntos concernentes a escravidão, saia
pela tangente, como no caso da resposta dada a um comitê parisiense, o ministério foi
evasivo informando que: “a emancipação era apenas questão de meios e de
oportunidades”.

E desta forma, somente após a Guerra do Paraguai (1864 -1870), na qual


houve uma participação negra, que criou toda uma tensão interna de fugas, pois
demandou do país recursos humanos e financeiros significativos. Mesmo assim o
recrutamento negro não foi significativo, pois os donos de escravos resistiam a qualquer
diminuição da sua força de trabalho, o percentual de doações particulares totalizou 2%
de todo recrutamento, totalizando 4 mil durante toda a guerra. Devido a relutância dos
proprietários o governo decidiu que recrutar os pertencentes ao Estado e a Igreja.

Alguns membros do governo consideraram o recrutamento como um passo


a emancipação via dizimação.

Destarte, diferentemente da situação, que se apresentava no Brasil, no que


concerne a alforria; no Paraguai após a vitória da Guerra, há a imposição aos derrotados
que deveriam libertar os negros do país.

Mas no Brasil, a questão da alforria estava sendo tracejada de forma


gradual, o pontapé inicial se apresentou com a Lei Rio Branco, mas havia um
movimento concatenado por parte dos fazendeiros e comerciantes para a manutenção da
sua posição hegemônica. Sem dúvida, alguns setores sociais, já reconheciam a
inferioridade moral e o destino condenado a escravidão, mas estes sentimentos não
haviam se tornado opinião pública.

As leis que foram sendo aprovadas, vão gradualmente trazendo a dissolução


da instituição escravidão, no entanto, os fazendeiros e comerciantes tentavam
desesperadamente, garantir alguma indenização frente a este processo que avançava
celeremente.

A Abolição

Na obra de Joaquim Nabuco, O Abolicionista de 1883, na qual o autor faz


uma explanação concernente do período, entre os séculos de colonização e as décadas
que iniciam a monarquia, sob o movimento abolicionista, permite-nos uma melhor
compreensão deste importante fenômeno, apresentando-nos como se configurou uma
sociedade brasileira marcada por práticas e condutas sociais permeadas por um sistema
nocivo e desumano, a escravidão. Um dos principais articuladores contra o escravismo
no Brasil, Joaquim Nabuco parte do seguinte princípio, a escravidão tem que ser
combatida sob o ponto de vista humano, pois, sendo a escravidão naturalizada e
arraigada no solo brasileiro, nega a própria essência da dignidade humana dos homens
negros, escravos e ex escravos. Porém a história do desacordo que o sistema escravista
enfrentará na época que antecede á independência e nos primeiros anos seguintes,
adveio, na formação empenhada pelos princípios liberais no inicio do século, causando
certo desequilíbrio da consciência do povo, por conta da exigência de cumprir-se a
emancipação nacional, porém grande parte mantinha seu cativeiro pessoal. A primeira
objeção nacional foi contra o tráfico de africanos, onde a intenção era eliminar a
escravidão gradualmente, em conseguinte proibir a importação de novos escravos, algo
que apenas remediava tal situação. (Nabuco, J: 21)

Com o fim do tráfico negreiro, exigido por Eusébio de Queiros e pelo


imperador, momento que permaneceu até o fim da Guerra do Paraguai. Uma segunda
oposição foi a Lei de 28 de setembro, lei tal que “respeitou o princípio da
inviolabilidade do domínio do senhor sobre o escravo”. Lei do ventre livre, que também
causou outro momento de indiferença ao escravo, segundo Nabuco.
O autor diz que a terceira ação contra a escravidão tem caráter essencial de
teor a escravidão, sendo o próprio movimento abolicionista. Partindo desta premissa o
autor acredita que este movimento obstaculiza frontalmente contra suas posses, contra a
legalidade e a legitimidade dos seus direitos, contra o escândalo da sua existência em
um país civilizado e a sua perspectiva de embrutecer o ingênuo na mesma mazela onde
embrutecera o escravo. (Nabuco, J- 27)

O abolicionismo é um protesto contra essa triste perspectiva, contra o


expediente de entregar à morte a solução de um problema que não é só da justiça e
consciência moral, mas também de previdência politica. (p. 28).

Partindo desta premissa o autor, percebe o movimento abolicionista como a


salvação do escravo em relação ao poderio do senhor, pondo fim de fato em um sistema
escravista que hostiliza o negro brasileiro.

A esse estrato histórico, somente uma oposição à instituição, e não os


indivíduos, exigindo que a lei e a prática social se alterem por meio de uma
educação “viril e séria”, será capaz de incorporar os negros e anular as influências de
um sistema harmônico com toda a história brasileira.

O partido abolicionista na visão de Nabuco é filho, de pouca vontade entre


partidos tradicionais da politica brasileira, que parte de uma teoria paliativa em relação
aos percalços da escravidão.

A PARTICIPÇÃO DA MULHER NO MOVIMENTO ABOLICIONISTA

Embora a historiografia aponte o movimento abolicionista como


genuinamente masculino, protagonizadas por ícones do movimento pela abolição –
Joaquim Nabuco, José do Patrocínio, André Rebouças, e outros - a atuação feminina foi
de grande relevância na luta pelo fim da escravidão. Como já estavam coletivamente
envolvidas em causas de caridade urbana, as mulheres participaram publicamente das
companhias que visavam arrecadar fundos de manumissão (DRESCHER, 2011: p. 522).
O perfil social das mulheres abolicionistas indica uma forte presença da elite intelectual
e financeira. Contudo, observa-se a presença de mulheres trabalhadoras, das classes
médias, marcando presença na conflituosa arena política e social do Império, formando
de maneira independente, sociedades abolicionistas, conforme podemos notar nos
periódicos da época. A Gazeta da Tarde, de 04/06/1883, com a matéria intitulada
―Novas Libertadoras, informou a criação de uma sociedade de senhoras abolicionistas
na Corte. Segundo o periódico foi eleita uma comissão de 9 senhoras encarregadas de
confeccionar os estatutos: esta comissão ficou composta das seguintes sociais:
EExma.DD. Maria Nabuco, Clodes Jaguaribe, Emília Bastos, Antonia Moreira de
Araripe, Fabia Maciel, Josephina Castagnier, Bertha Koller, Corina Gabriel e Divina
Froes (Gazeta da Tarde, 04/06/1883. p. 3). É possível identificar que a maioria das
senhoras abolicionistas vinham da elite social, observando a trajetória social e
econômica destas, as relações familiares e as qualificações oriundas das páginas dos
periódicos. Ainda no mês de junho de 1883, mais exatamente no dia dezesseis, a Gazeta
da Tarde mencionava mais uma organização de senhoras da elite que lutaria em prol da
abolição. A matéria foi intitulada Senhoras Abolicionistas. A Gazeta da Tarde referia-
se à iniciativa ―da simpática senhora condessa do Rio Novo que, ao falecer, entregava
à sociedade 400 cidadãos:

(...) as senhoras brasileiras vão formar um centro de luz, um grande


foco
humanitário de onde se escaparão as irradiações que devem iluminar
as frontes daqueles que por elas devem ser restituídos à sociedade de
onde foram repelidos ignominiosamente. Benditos corações! Almas
elevadas. Espíritos bons e livres! Nós vos abençoamos. Nós que dia e
noite combatemos pela liberdade, pelas causas grandes, nós vos
enviamos as saudações mais sinceras e verdadeiras [...]. Sejam bem
vindas aos nossos Arraiais. Nós vos recebemos com as palmas mais
convencidas (Gazeta da Tarde, 16/06/1883).

O engajamento das mulheres na luta pela abolição ia ao encontro da sua própria


liberdade, em uma sociedade marcada pelo patriarcalismo. Assim, acreditamos que a
causa abolicionista foi uma estratégia de visibilidade e de ocupação na esfera pública da
mulher.

Fontes digitalizadas:

Gazeta de Notícias, de 1880 a 1888: versão digitalizada disponível em <


http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx> Biblioteca Nacional – Hemoroteca Digital.
Acesso em: 27/06/2016.

Gazeta da Tarde, de 1880 a 1888: versão digitalizada disponível em <


http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx> Biblioteca Nacional – Hemoroteca Digital.
Acesso em: 27/06/2016.

BIBLIOGRAFIA:

DRESCHER Seymour. Abolição: uma história da escravidão e do antiescravismo. Trad.


Antonio Penalves Rocha. São Paulo: UNESP, 2011, p. 475-531.

NABUCO, Joaquim 1883. O Abolicionismos.

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