13Matemática Autorregulação Da Aprendizagem 2

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Revista Eletrônica Científica Ensino Interdisciplinar

Mossoró, v. 9, n. 31, dezembro/2023

MAPEAMENTO DAS PESQUISAS NACIONAIS SOBRE AUTORREGULAÇÃO DA


APRENDIZAGEM MATEMÁTICA

MAPPING OF NATIONAL RESEARCH ON SELF-REGULATED LEARNING


MATHEMATICS

Ediane Pereira de Lima1 - SSE-MG


Edmilson Minoru Torisu2 - UFOP

RESUMO
Este artigo tem como objetivo analisar pesquisas sobre a autorregulação da
aprendizagem matemática no contexto nacional. A base de dados da pesquisa foi o
banco de dissertações e teses da CAPES, considerando os estudos no período de 2007
a 2023. Analisaram-se autores, ano de conclusão, título, objetivos, sujeitos, principais
referenciais teóricos acerca da autorregulação da aprendizagem e resultados das
pesquisas. Foram encontrados 15 estudos: quatro utilizam a teoria social cognitiva como
referencial teórico, 7 mencionam o modelo de autorregulação da aprendizagem de
Zimmerman e 1 é do tipo intervenção pedagógica. Os conteúdos e as habilidades
matemáticas abordadas nas pesquisas englobam resolução de problemas, cálculo,
estatística, interpretação e matemática financeira. Em algumas pesquisas, o conteúdo
e/ou a habilidade não foram especificados. Identificaram-se poucas pesquisas sobre
autorregulação da aprendizagem no contexto específico da matemática e não se
percebeu um crescimento significativo na área.
PALAVRAS-CHAVE: Autorregulação da Aprendizagem; Matemática; Pesquisas
Nacionais.

ABSTRACT
This article aims to analyze research works on self-regulation of mathematics learning
in a national context. The research source was the CAPES dissertations and theses
database (coordination for the improvement of higher education personnel)
considering studies from 2007 to 2023, and the analyzed elements were authors, year
of conclusion, title, objectives, subjects, main theoretical references about self-regulation
of learning, and results. Fifteen studies were included from 2007 to 2019. No studies
were found after this period. Four out of fifteen studies used the cognitive social theory
as a theoretical reference. Seven of them mention Zimmerman's self-regulation of
learning model (2000, 2002, 2013). In one of them, the author declares to take a
qualitative approach of pedagogical intervention type in elementary education. The
mathematical contents and skills addressed in the research were based on problem-
solving, calculus, statistics, interpretation, and financial mathematics. In some surveys,
specific mathematical content and/or skills were not verified. Their focus was on aspects
directly related to self-regulation, such as motivations and reflective processes involved
in teaching and learning of mathematics. We identified little research on self-regulation
in the specific context of mathematics, and we did not experience significant growth in
the area.
KEYWORDS: Self-regulation of Learning; Mathematics; National Researches.

DOI: 10.21920/recei72023931834848
http://dx.doi.org/10.21920/recei72023931834848

1
Mestra em Educação Matemática pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Docente da Rede Estadual de Educação
do Estado de Minas Gerais e da Rede Municipal de Educação da Cidade de Contagem, MG. E-mail: [email protected]
/ ORCID: https://orcid.org/0009-0005-0602-522X
2
Doutor em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pós-Doutor em Educação pela UNICAMP. Docente do
Departamento de Educação Matemática e do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da UFOP. E-mail:
[email protected] / ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7383-387X
LIMA, E. P. de; TORISU, E. M. Mapeamento das pesquisas nacionais sobre autorregulação da aprendizagem matemática.
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INTRODUÇÃO

Várias pesquisas recentes, como as de Simões e Faustino (2019) e de Volkweiss et al.


(2019), apontam a necessidade crescente de escolas, professores e estudantes utilizarem
processos de ensino e de aprendizagem que desenvolvam, no educando, atitudes proativas, que
estimulem e promovam a autonomia e a responsabilidade na sua vida acadêmica e sobre ela e o
levem a assumir a postura de agente de seu aprendizado (BRASIL, 1996, 2018; SIMÕES;
FAUSTINO, 2019). Essa pode ser uma saída promissora para que o estudante do século XXI ‒
mais crítico, mais conectado e mais exigente ‒ demonstre maior interesse pelas aulas, muitas
vezes pouco interessantes, não participativas e desmotivadoras (MORAN; MASETTO;
BEHRENS, 2013).
Discussões como essa, quando relacionadas ao ensino e à aprendizagem de matemática,
assumem importância ainda maior, sobretudo se levarmos em consideração que uma grande
parcela dos estudantes considera essa disciplina difícil e destinada a poucos (TORISU;
FERREIRA, 2009). Embora as pessoas, incluindo os discentes, reconheçam uma dimensão
instrumental da matemática, que lhe confere importância como ferramenta para resolver
problemas do dia a dia e da profissão futura (JESUS; TORISU, 2022), a alta frequência com que
resultados negativos ‒ relativos ao desempenho dos estudantes em matemática ‒ ocorrem é
preocupante (PACHECO; ANDREIS, 2018).
Em consonância com essas demandas, pesquisadores têm empreendido esforços para
discutir, investigar e divulgar resultados de pesquisas científicas acerca de estratégias de ensino
que coloquem o estudante como peça central do processo de aprendizagem. Podemos encontrar,
entre esses estudos, propostas educacionais para o ensino médio que incentivam o
desenvolvimento e a utilização de metodologias que insiram o aprendiz no processo de
descoberta e construção de conhecimento, de modo que ele seja capaz de agir na busca pelo
aprendizado, refletir sobre suas opções, avaliar suas escolhas, ações, progressos e resultados e
reestruturá-los quando necessário (BANDURA; JOURDEN, 1991; LACERDA; SANTOS,
2018; MORAN, 2017).
O processo de aprendizagem com as características expressas anteriormente – estudante
autônomo, com capacidade para escolher seus próprios caminhos, refletir, avaliar e selecionar
os meios que irá utilizar nos estudos – tem sido denominado, na literatura nacional e na
internacional, de Autorregulação da Aprendizagem (AA) (BORUCHOVITCH, 2014; GANDA,
2016).
Autorregulação implica um movimento de dentro para fora. Refere-se a pensamentos,
sentimentos e comportamentos que são direcionados para alcançar objetivos pessoais
(ZIMMERMAN, 2000). Para Zimmerman (2002), a autorregulação é um processo autodiretivo,
por meio do qual os estudantes transformam suas habilidades mentais em habilidades
acadêmicas. Estudantes autorregulados são proativos em sua busca pelo conhecimento, porque,
como resultado do exercício de automonitoramento, autorreflexão e autoavaliação, tornam-se
mais conscientes de suas potencialidades e limitações e podem, assim, explorar formas mais
eficazes para alcançar as suas metas e, quando necessário, repensar suas estratégias para torná-las
mais produtivas e tentar encaminhar o processo para o resultado almejado (PAJARES; OLAZ,
2008).
AA da aprendizagem é importante para todos e todas em vários contextos de vida.
Considerando a importância do tema para a reflexão em torno da aprendizagem; as dificuldades
enfrentadas pelos estudantes em matemática; e a escassez de pesquisas sobre AA matemática na
educação básica, o presente texto tem como objetivo apresentar uma revisão da literatura
nacional acerca desse tema.
LIMA, E. P. de; TORISU, E. M. Mapeamento das pesquisas nacionais sobre autorregulação da aprendizagem matemática.
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METODOLOGIA

Com o propósito de realizar um mapeamento do tipo revisão da literatura sobre a AA


matemática para desvelar como ela tem sido pesquisada no Brasil, utilizamos como plataforma
de busca o banco de dissertações e teses da coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES), considerando os estudos no período de 2007 a 2023.
Fiorentini et al. (2016, p. 18) descrevem que um mapeamento é:

[...] um processo sistemático de levantamento e descrição de informações


acerca das pesquisas produzidas sobre um campo específico de estudo,
abrangendo um determinado espaço (lugar) e período de tempo. Essas
informações dizem respeito aos aspectos físicos dessa produção (descrevendo
onde, quando e quantos estudos foram produzidos ao longo do período e quem
foram os autores e participantes dessa produção), bem como aos seus aspectos
teóricos, metodológicos e temáticos.

Acreditamos que a produção científica é coletiva e contínua, um processo de busca pelo


conhecimento empreendido pela comunidade científica. É importante que o pesquisador se situe
nesse processo, complemente ou conteste resultados anteriores e mostre o estado atual da
produção na área. A partir do mapeamento, ele pode comparar e contrastar as abordagens
teórico- metodológicas utilizadas nas pesquisas e encontrar pontos de interseção e de divergências
com o que ele próprio tem realizado (ALVES, 1992). No nosso caso, delimitamos a busca por
dissertações e teses, por acreditarmos que são trabalhos completos e sistemáticos e dos quais
derivaram vários dos artigos existentes acerca da AA matemática. Ao acessarmos os textos,
entramos em contato com um conjunto de trabalhos que traziam aproximações e
distanciamentos em relação ao nosso ‒ eles contribuíram para as nossas análises e ampliaram
nossas perspectivas para futuras pesquisas.
Nesse mapeamento, pudemos verificar o que as pesquisas que discutem AA matemática
investigaram; os referenciais teóricos utilizados; a metodologia; e o público-alvo envolvido. O
mapeamento foi realizado durante o ano de 2021 e os dados foram atualizados no 1 o semestre
do ano de 2023.
Para realizar o levantamento de dados no banco de dissertações e teses da CAPES, foram
utilizados os descritores autorregulação da aprendizagem AND matemática, autorregulação da
aprendizagem AND matemática, auto-regulação da aprendizagem AND matemática, matemática
AND autorregulação da aprendizagem, aprendizagem autorregulada AND ensino de matemática
e aprendizagem autorregulada AND matemática. Os 32 trabalhos encontrados foram realizados
no período de 2007 a 2019, e estão mostrados na tab. 1.
Tab. 1 - Pesquisas de acordo com o nível de estudo

Nível Total %

Mestrado Acadêmico 20 62,5

Mestrado Profissional 8 25

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Doutorado 4 12,5

Total 32 100
Fonte: elaborada pelos autores em 2023 com base no Banco de Dissertações e Teses da CAPES

Ao analisarmos os 32 estudos de mestrado e doutorado, identificamos que 17 trabalhos


não contemplavam, de fato, a temática AA e nem exclusivamente o conteúdo de matemática.
Embora tenham surgido como resposta à nossa busca, apresentavam outros focos, relacionados
às áreas de linguagem e compreensão textual; formação inicial de professores de física; aulas de
francês; aprendizagem em língua brasileira de sinais (LIBRAS); avaliação apoiada pelas
tecnologias; avaliação e estratégias de aprendizagem com foco em português e matemática
simultaneamente; e também às áreas de saúde, engenharia elétrica e contabilidade.
A organização dos dados das pesquisas vinculadas aos mestrados e doutorados foi
estruturada da seguinte forma: primeiro realizamos a leitura dos resumos e identificamos quais
estudos, de fato, estavam relacionados à temática AA matemática. Excluímos da fase seguinte
aquelas pesquisas que não atenderam a esse critério. Na sequência, realizamos a leitura criteriosa
das demais pesquisas e procuramos identificar os principais referenciais teóricos; o nível de
ensino a que se destinavam; o ano de conclusão, os objetivos e/ou a questão de investigação; a
abordagem; os aspectos da autorregulação; os participantes; e seus resultados e/ou conclusões.
Na tab. 2, podemos observar a distribuição das pesquisas por ano de publicação.

Tab. 2 - Pesquisas de acordo com o ano de publicação

Ano de Conclusão Quantidade de Publicações


2007 1 (tese)

2009 1 (dissertação)

2010 1 (dissertação)

2011 2 (1 dissertação e 1 tese)

2012 3 (dissertações)

2015 2 (1 dissertações e 1 tese)

2016 2 (dissertações)

2018 1 (tese)

2019 2 (dissertações)

Total 15

Fonte: elaborada pelos autores em 2023 com base no banco de dissertações e teses da CAPES

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O QUE DIZEM AS PESQUISAS?

Para cada estudo selecionado, destacamos autores; ano de conclusão; título; objetivos;
sujeitos; principais referenciais teóricos acerca da AA; e resultados da pesquisa. Organizamos os
dados de forma cronológica e registramos a síntese das informações dos trabalhos analisados,
como apresentamos a seguir.
A tese de doutorado de Souza (2007), sob o título Auto-regulação da aprendizagem e a
matemática escolar, teve como objetivo principal verificar a existência de relações entre as crenças
de autoeficácia matemática, a percepção de utilidade da matemática e o uso de estratégias de
aprendizagem por alunos de diferentes séries escolares. Os sujeitos da pesquisa foram 119 alunos
de 4a, 6a e 8a séries do ensino fundamental de uma escola pública de um município do interior
do estado de São Paulo. Foi utilizada como referencial teórico a Teoria Social Cognitiva (TSC).
Como resultados da investigação, foram apontadas relações entre autoeficácia, estratégias
de aprendizagem e desempenho escolar em matemática. Porém, não foi encontrada relação entre
a percepção de utilidade da matemática e as estratégias. Foi verificado ainda que tanto a
autoeficácia como o uso de estratégias diminuíram ao longo das séries escolares.
Peres (2009) realizou a pesquisa intitulada Um objeto de apoio à aprendizagem
autorregulada em problemas de máximo e mínimo, com objetivo de investigar as possibilidades
de incentivar o desenvolvimento da AA dos alunos no estudo de problemas de máximos e
mínimos que envolvem conhecimentos geométricos, a partir de um objeto de aprendizagem.
Para alcançar o objetivo, Peres realizou um estudo teórico no campo de pesquisa da
metacognição, alicerçado principalmente em John Flavell (1979), autor no qual também baseou
a interpretação dos dados. Para compreender as estratégias de aprendizagem, ele fundamentou
seus estudos em Frota (2002). Os sujeitos dessa pesquisa foram 14 estudantes do 6o período da
licenciatura de matemática.
Os resultados evidenciaram que os participantes da pesquisa, ao interagirem com o objeto
de aprendizagem, empregaram diferentes estratégias na autorregulação de seu processo de
aprendizagem. Essa constatação sinalizou que, se devidamente estimulados pelo uso de objetos
de aprendizagem adequados, os alunos podem refletir sobre as atividades matemáticas que
desenvolvem e monitorar a sua aprendizagem em cálculo.
Zocolotti (2010) desenvolveu a pesquisa intitulada Práticas reflexivas na sala de aula: uma
experiência na formação de professores de matemática e teve como foco investigar as
potencialidades de estruturação e condução de uma disciplina com vistas a desenvolver os
processos reflexivos e de AA por estudantes que cursavam a licenciatura em matemática. Os
sujeitos da pesquisa foram 18 estudantes da disciplina tópicos especiais em educação matemática
de um centro de ensino superior do estado do Espírito Santo. O referencial teórico baseou-se
nas ideias de Donald Schön (2000) ‒ para descrever e analisar ações de reflexão, consideradas
por Zocolotti (2010) aspecto fundamental para a proposta da condução de uma disciplina que
visava desenvolver os processos metacognitivos de AA matemática ‒ e no modelo de análise das
cognições de um professor, proposto por Artzt e Armour-Thomas (2002).
Os resultados mostraram que, para a maior parte dos estudantes, as ações de reflexão
propostas incentivaram a autorregulação dos estudos e, para um grupo menor, que esperava um
trabalho nos moldes tradicionais, a proposta revelou-se pouco motivadora. Devido a essa
contradição, concluiu-se que os resultados de uma disciplina implementada nos moldes
reflexivos propostos estão diretamente relacionados ao empenho e à participação de cada um
dos envolvidos.
A pesquisa de Barizon (2011), cujo título é Validação de uma escala de autorregulação
de aprendizagem estatística de estudantes da terceira série do ensino médio de São Paulo, teve
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como objetivo propor, elaborar, avaliar e validar uma escala de atenção e de interação que
expressasse as estratégias desenvolvidas pelos estudantes para a AA de estatística, sob a
perspectiva sócio-histórica de Vigotsky. A pesquisa foi realizada com estudantes da 3 a série do
ensino médio da cidade de Santo André, estado de São Paulo.
Os resultados da análise, baseada na análise fatorial, revelaram que a escala possui três
dimensões: atenção e interação entre aluno e aluno; interação; e isolamento ‒ esses agrupamentos
dos itens estão em consonância com as bases teóricas da autorregulação utilizada no estudo. As
análises da escala pela Teoria de Resposta ao Item (TRI) revelaram a necessidade de uma revisão
dos itens da escala, por ela apresentar uma consistência interna mediana. Apesar dessa ressalva,
esse instrumento possibilitou verificar que poucos estudantes fazem uso das estratégias de atenção
e de interação para autorregularem a sua aprendizagem. Na comparação entre os testes
estatísticos realizados antes e após o desenvolvimento das atividades propostas, verificou-se que
não houve avanço na aprendizagem dos conceitos estatísticos, resultado não esperado para alunos
finalistas do ensino médio, o que leva a concluir que o nível de letramento estatístico deles ainda
está aquém do esperado.
A tese de Aguiar (2011), cujo título é Aprimoramento das habilidades cognitivas de
resolução de problemas com o apoio de um agente conversacional, teve como objetivo geral
investigar como a assistência de um agente conversacional ‒ dotado de uma base de
conhecimento criada a partir da representação dos processos cognitivos dos estudantes talentosos
‒ pode contribuir para o aprimoramento das habilidades cognitivas de outros estudantes durante
a resolução de problemas de matemática. Os estudantes talentosos que participaram da pesquisa
foram alunos ‒ um total de 11 alunos, sendo 9 do ensino fundamental e 2 do ensino médio ‒ do
Programa de Iniciação Científica (PIC) 2009 que se destacaram como medalhistas da Olimpíada
Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) naquele ano. O referencial teórico
utilizado acerca da AA foram os trabalhos de Zimmerman et al. (1996) e Shih et al. (2005).
Com os dados coletados inferiu-se que o apoio do agente conversacional blaze ‒ no
contexto de uma aprendizagem autorregulada durante a resolução de problemas ‒ contribuiu
qualitativamente para o aprimoramento de diversas habilidades cognitivas, como pensamento
crítico, pensamento criativo e raciocínio lógico, e permitiu o uso da metacognição durante a
resolução dos problemas propostos.
Estratégias de memória na autorregulação da aprendizagem de estatística de alunos do
ensino médio é o título da pesquisa de Contini Neto (2012), cujo objetivo foi investigar as
características do processo de autorregulação de estratégias de memória na aprendizagem de
estatística no ensino médio. Os sujeitos da pesquisa foram estudantes da 3a série do ensino médio
da cidade de Santo André, São Paulo, e a abordagem histórico-cultural de Vigotsky foi a base
teórica utilizada.
Na análise dos resultados, averiguou-se, por meio da análise fatorial aplicada aos
estudantes, a existência de quatro dimensões adequadas ao referencial teórico relativo aos
processos de AA: organização e ação prévia; ação de domínio (manipulação) sobre o conteúdo;
ação em sala de aula; e ausência de ação. As análises da escala, realizadas por meio da TRI,
mostraram que tanto o pré-teste como o pós-teste estatísticos estavam acima do nível de
habilidade dos sujeitos. Não foi percebida evolução no nível de letramento estatístico na
comparação entre os desempenhos no pré-teste e no pós-teste. Os resultados apontam que os
sujeitos não manifestaram interesse ou motivação para a aprendizagem de estatística e que o
relacionamento entre aluno e professor é pouco colaborativo.
Mendonça (2012) desenvolveu a pesquisa intitulada Autorregulação da aprendizagem de
estatística e sua relação com o nível de letramento estatístico de estudantes universitários de

LIMA, E. P. de; TORISU, E. M. Mapeamento das pesquisas nacionais sobre autorregulação da aprendizagem matemática.
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Guarulhos com o objetivo principal de investigar o uso intencional das estratégias de memória,
atenção e interação nos processos de AA; e de estabelecer sua relação com os níveis de
letramento estatístico. Participaram da pesquisa 185 estudantes de graduação de dois cursos
tecnológicos (gestão financeira e logística) de uma instituição particular do município de
Guarulhos. O referencial utilizado foi a teoria sócio-histórica de Vigotsky.
O estudo da relação entre as escalas de estratégias de memória, atenção e interação e o
teste de conhecimento estatístico não estabeleceram uma correlação entre as referidas escalas e
o nível de letramento estatístico. O resultado da análise desse teste revelou um baixo desempenho
geral e consequentemente um nível de letramento estatístico aquém do esperado. Os resultados
desse estudo permitiram verificar que, para os estudantes serem construtores de suas próprias
aprendizagens, os professores devem estimular o desenvolvimento de competências de
autorregulação nos seus alunos a fim de que saibam ‒ de uma forma autônoma, crítica e motivada
‒ assumir suas próprias aprendizagens ao longo da vida.
A pesquisa de Pranke (2012), PIBID/UFPel: oficinas pedagógicas que contribuíram para
a autorregulação da aprendizagem e formação docente das bolsistas de matemática, teve como
objetivo analisar se as oficinas desenvolvidas no Projeto Institucional de Bolsas de Iniciação à
Docência (PIBID) do curso de licenciatura em matemática da Universidade Federal de Pelotas
promoveram a AA e a formação docente de bolsistas de matemática e se estimularam e
qualificaram os seus processos de aprender e ensinar. A abordagem utilizada foi a qualitativa do
tipo estudo de caso e os sujeitos da investigação foram três bolsistas do curso de matemática que
desenvolveram oficinas pedagógicas com estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) do
ensino médio. A fundamentação teórica utilizada foi a teoria histórico-cultural de Vigotsky e os
estudos dos teóricos Zimmerman, Rosário e Bandura.
Os dados analisados levaram a pesquisadora a inferir que as bolsistas participantes
desenvolveram ações colaborativas, organizaram estratégias de aprendizagem e adquiriram
competências autorregulatórias para a realização do planejamento, da execução e da avaliação
das oficinas de matemática. A análise mostrou que elas passaram por um processo de reflexão
sobre a prática desenvolvida, o que contribuiu para estimular nos estudantes a vontade de estudar
matemática. Concluiu-se que o PIBID qualificou a formação inicial das bolsistas de matemática
e possibilitou que elas assumissem a responsabilidade de aprender para ensinar.
Fantinel (2015), em sua tese de doutorado A autorregulação da aprendizagem na
formação de um educador matemático na modalidade a distância: uma proposta de articulação
curricular, teve o objetivo de verificar o impacto da incorporação do exercício de AA da
Aprendizagem, por meio da adaptação do Programa de Gervásio ao contexto online em um
curso de formação de professores de matemática na modalidade a distância. Participaram da
pesquisa 76 estudantes universitários do curso de licenciatura em matemática a distância. O
referencial teórico utilizado foi a TSC de Bandura e, para AA, o Modelo de Rosário.
Durante essa investigação foi possível verificar que, na educação a distância, o ensino dos
processos autorregulatórios é um constructo fundamental e viável para a formação de um
educador matemático, pois permite uma mudança significativa no conhecimento declarativo das
estratégias de aprendizagem e no conhecimento pedagógico do conteúdo matemático do futuro
professor. Além das mudanças cognitivas decorrentes da experiência de ensino, observaram-se
outros fatores que possibilitam a gerência de comportamentos, pensamentos e sentimentos
voltados e adaptados para a obtenção de metas pessoais e guiados por padrões gerais de conduta,
como antecipação dos resultados das ações, experimentação de satisfação com o próprio esforço,
crenças de autoeficácia positivas, autorreflexão, gerenciamento do tempo disponível,
monitoramento do próprio desempenho e percepção do valor do aprendizado ‒ todos eles
fatores que influenciam a aprendizagem.
LIMA, E. P. de; TORISU, E. M. Mapeamento das pesquisas nacionais sobre autorregulação da aprendizagem matemática.
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Santos (2015) realizou a investigação intitulada Maria não vai mais à feira: resolução de
problemas e estratégias de autorregulação de aprendizagem nas séries iniciais do ensino
fundamental com o objetivo geral de construir e validar um caderno de atividades didáticas com
foco no desenvolvimento de estratégias de AA aplicadas à resolução de problemas, no contexto
do ensino da matemática para estudantes do segundo ciclo das séries iniciais do ensino
fundamental, sem a participação direta deles no desenvolvimento da pesquisa. O referencial
teórico para AA e outras estratégias metacognitivas envolveu, principalmente, os estudos de
Flavell (1979) e Portilho (2009). Após a análise do caderno de atividades, concluiu-se que o
material tem o potencial de desenvolver aquilo a que se propõe. Contudo, o investimento na
formação continuada dos professores foi uma necessidade apontada pelos avaliadores para que
a proposta apresentada, nesse ou em qualquer outro material didático, possa ser desenvolvida de
forma satisfatória.
Becker (2016, p. 1) realizou a pesquisa Autorregulacão da aprendizagem em matemática:
uma experiência com alunos de ensino médio, que almejava responder as questões:

Qual é um processo para se gerar a própria capacitação? Existe e, se existir,


qual é a melhor maneira de se aprender? Todos são capazes? O que diferencia
este aprendizado? Como esse processo funciona com os meus alunos? E,
principalmente, como isso pode me ajudar no meu trabalho?

A pesquisa foi realizada com estudantes (aproximadamente 270) do 3 o ano do ensino


médio de uma escola pública do Distrito Federal. Como referencial teórico, Becker utilizou os
modelos de AA de Zimmerman (2000) e Pintrick (2004).
A respeito dos resultados alcançados, concluiu-se, em relação aos participantes da
pesquisa, que o nível de autorregulação dos alunos varia, mas pode ser melhorado com a prática.
Os estudantes não possuíam bons hábitos de estudo, mas estes podem ser melhorados com
orientação. Incentivar os alunos a buscarem suas próprias fontes de estudo pode levar um
estudante a ir mais longe do que outros. Além disso, o autor verificou que é importante que os
estudantes tenham um local para estudo que lhes facilite a aprendizagem ‒ o que não significa
que o melhor lugar seja uma biblioteca, pois alguns estudantes precisam de isolamento total,
porque se distraem com facilidade, já outros precisam de algum barulho, seja música ou o som
da televisão ‒ isso faz com que eles não se cansem da tarefa, sintam-se mais à vontade e possam
permanecer estudando por mais tempo.
Oliveira (2016), na pesquisa Uma prática de avaliação formativa em ambientes virtuais:
processos de regulação e autorregulação da aprendizagem em um curso de matemática a
distância, teve como objetivo analisar uma prática de avaliação de aprendizagem em uma
disciplina de um curso a distância de licenciatura em matemática e identificar potencialidades de
ações e tecnologias digitais que favoreceram a regulação e a AA dos alunos. Os sujeitos de sua
pesquisa foram oito alunas de um curso a distância de licenciatura em matemática em uma cidade
do estado de Mato Grosso. O referencial teórico utilizado apoiou-se nos estudos de Hadji (2001)
e Zimmerman (2000).
Os resultados apontaram que ações como as relacionadas à realização de tarefas no diário
da disciplina e às propostas de produção através de interações assíncronas articuladas com
encontros síncronos ‒ com uso de tecnologias digitais como o Virtual Math Teams com
Geogebra, o Hangout, o Messenger do Facebook e o fórum do Moodle ‒ ajudaram na regulação
da aprendizagem, principalmente a do tipo proativa. Observou-se que algumas alunas se
envolveram em práticas autoavaliativas, que contribuíram para o desenvolvimento de uma
conduta mais reflexiva e transformaram o processo de aprendizagem das estudantes.
LIMA, E. P. de; TORISU, E. M. Mapeamento das pesquisas nacionais sobre autorregulação da aprendizagem matemática.
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Pranke (2018), após ter realizado sua pesquisa de mestrado, utilizando como
fundamentação teórica a AA, deu sequência ao trabalho em sua tese de doutorado, intitulada
Conhecimentos do contexto e estratégias autorregulatórias mobilizadas na resolução de
problemas de matemática por estudantes de uma escola agrícola. A investigação tinha como
objetivo identificar e analisar os conhecimentos do contexto e as estratégias mobilizadas no
processo autorregulatório para a resolução de problemas de matemática por estudantes de ensino
fundamental de uma escola agrícola. Os resultados analisados foram divididos em dois eixos. O
primeiro aborda as crenças motivacionais e o segundo, os tipos de estratégias autorregulatórias
utilizadas pelos estudantes ao longo da pesquisa.
Após a análise dos dados, a autora defendeu a tese de que os estudantes participantes
dessa pesquisa, ao resolverem problemas de matemática, mobilizaram diferentes estratégias
autorregulatórias, articuladas aos cálculos que utilizaram nas atividades diárias no contexto
agrícola, o que os manteve motivados e permitiu que fizessem transferências e estabelecessem
relações ‒ e, assim, encontrassem soluções mais rápidas e eficazes para os problemas que
surgiram no contexto escolar.
Faria (2019) realizou a pesquisa sob o título Ler para aprender... matemática: uma
investigação sobre o ensino-aprendizagem de estratégias de compreensão autorregulada da leitura
nas aulas de matemática de um 6o ano do ensino fundamental e seu objetivo principal foi
investigar em que medida o ensino sistemático de estratégias de compreensão autorregulada da
leitura nas aulas de matemática contribui para a superação de dificuldades dos alunos diante da
tarefa de ler e compreender enunciados de exercícios e problemas matemáticos. Participaram
da pesquisa 246 estudantes do 6o ano do ensino fundamental de uma escola particular de
Campinas e uma professora de matemática. O principal referencial teórico utilizado foi a TSC
de Bandura (1996).
Os resultados apontam avanços significativos em relação às crenças motivacionais dos
participantes acerca do ensino-aprendizado de estratégias de compreensão leitora de enunciados
e problemas matemáticos. Observou-se também um fortalecimento das crenças de autoeficácia
da professora diante da tarefa de ensinar seus estudantes a ler e compreender os textos. Além
disso, verificaram-se reflexos positivos nas práticas dos estudantes, com destaque para um
acréscimo no ensino das estratégias de inferenciação e questionamento do texto. Os participantes
passaram a utilizar com mais frequência estratégias de monitoração e, principalmente,
autoavaliação da tarefa, o que possibilitou uma tomada de consciência, por parte deles, de seu
papel não apenas durante a atividade de leitura mas, de modo mais amplo, em relação ao seu
processo de aprendizagem.
A pesquisa de Campos (2019), Nossa turma tem um problema: o processo de construção
de uma história-ferramenta sobre resolução de problemas fundamentada na teoria da
autorregulação, teve como objetivo principal descrever o processo de construção de uma história-
ferramenta ‒ fundamentada na teoria da autorregulação ‒ para auxiliar a ação de professores no
ensino de resolução de problemas de matemática em turmas do 5o ano do ensino fundamental.
O estudo buscou responder a seguinte questão de investigação: “Como ensinar estudantes do 5º
ano do ensino fundamental a resolver problemas em matemática, por meio do uso de estratégias
de autorregulação da aprendizagem?” (CAMPOS, 2019, p. 7). O referencial teórico utilizado foi
a TSC.
Sobre os resultados obtidos, a autora destaca que precisava de mais tempo com os
estudantes para conhecer as demandas mais de perto e as estratégias que utilizam, entretanto, as
respostas à escala, as narrativas durante as intervenções e as entrevistas puderam indicar, de
maneira geral, quais são os anseios e as maiores dificuldades enfrentadas pelos estudantes. A
pesquisa mostrou que o produto educacional tem potencial para ensinar estratégias de
LIMA, E. P. de; TORISU, E. M. Mapeamento das pesquisas nacionais sobre autorregulação da aprendizagem matemática.
Revista Eletrônica Científica Ensino Interdisciplinar. Mossoró, v. 9, n. 31, 2023. 842
Revista Eletrônica Científica Ensino Interdisciplinar
Mossoró, v. 9, n. 31, dezembro/2023

autorregulação para resolver problemas de matemática e também pode inspirar professores de


diferentes áreas de conhecimento a desenvolverem seus próprios materiais a partir do ciclo
autorregulatório.
Ao finalizarmos o levantamento, concluímos que a maioria dos trabalhos analisados
investigou ou desenvolveu suas pesquisas com foco principal nas estratégias de aprendizagem,
fundamentadas em algum modelo de AA, como demonstrado na Tab. 3.

Tab. 3 - Pesquisas de acordo com a ênfase do aspecto da Autorregulação da


Aprendizagem abordado

Aspectos da Autorregulação Quantidade de


Trabalhados Pesquisas
Estratégias de aprendizagem 10
Estratégias de aprendizagem e Crenças
01
motivacionais
Processos reflexivos e Monitoramentoda
01
aprendizagem
Processo integral da Autorregulação da
01
Aprendizagem
Avaliação 01
Processos cognitivos e metacognitivos 01
Total 15
Fonte: criada pelos autores em 2023

Além disso, percebemos que uma pequena parte das pesquisas tem como público-alvo
estudantes do ensino médio, e, em uma delas, os sujeitos são caracterizados como alunos com
altas habilidades. Sintetizamos, na tab. 4, essa distribuição.
Tab. 4 - Pesquisas de acordo com o público-alvo

Público-alvo Quantidade de
Pesquisas
Ensino Fundamental 5

Ensino Fundamental/Ensino Médio 1

Ensino Médio 3

Ensino Superior/Formação de Professores 6


Total 15
Fonte: elaborada pelos autores em 2023 com base no Banco de Dissertações e Teses da CAPES

LIMA, E. P. de; TORISU, E. M. Mapeamento das pesquisas nacionais sobre autorregulação da aprendizagem matemática.
Revista Eletrônica Científica Ensino Interdisciplinar. Mossoró, v. 9, n. 31, 2023. 843
Revista Eletrônica Científica Ensino Interdisciplinar
Mossoró, v. 9, n. 31, dezembro/2023

Das 15 pesquisas analisadas, somente 4 ‒ Souza (2007), Fantinel (2015), Faria (2019) e
Campos (2019) ‒ citam explicitamente a utilização da TSC como fundamentação teórica. Sete
delas ‒ Aguiar (2011), Neto (2012), Pranke (2012, 2018), Santos (2015), Becker (2016) e Oliveira
(2016) ‒ mencionam o modelo de AA de Zimmerman (2000, 2002, 2013). Somente em uma
delas ‒ Faria (2019) ‒ a autora declara realizar uma pesquisa de abordagem qualitativa do tipo
intervenção pedagógica e direcionar o estudo ao 6o ano do ensino fundamental como público-
alvo.
Em cinco pesquisas foi explicitado o conteúdo ou as habilidades matemáticas exploradas:
resolução de problemas; cálculo; estatística; interpretação e compreensão de problemas; e
matemática financeira. Nas demais pesquisas, não foram verificados conteúdos e/ou habilidades
específicas da matemática. O foco delas foram aspectos diretamente relacionados à AA, como as
motivações e os métodos reflexivos envolvidos nos processos de ensino e aprendizagem de
matemática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao pesquisarmos os diversos modelos teóricos da autorregulação, observamos as relações


existentes entre os aspectos metacognitivos, motivacionais, comportamentais e emocionais da
aprendizagem. As pesquisas analisadas que utilizam o referencial teórico da TSC (CAMPOS,
2019; FANTINEL, 2015; FARIA, 2019; PRANKE, 2012, 2018; SOUZA, 2007) indicam que a
aprendizagem autorregulada está relacionada com a crença de autoeficácia, com as motivações
para aprender, com a utilização das estratégias de aprendizagem e das estratégias autoprejudiciais
e com as crenças atribucionais (GANDA; BORUCHOVITCH, 2018).
Os resultados obtidos nas pesquisas de Oliveira (2016) e Pranke (2018) levam a inferir
que o sujeito capaz de realizar a autoavaliação constante em seus processos de ensino e de
aprendizagem poderá ter maior habilidade de refletir acerca das etapas pelas quais perpassou e
melhorar suas estratégias ‒ e assim pode alcançar melhores resultados escolares e acadêmicos.
Uma proposta que vise ao desenvolvimento da autorregulação de forma mais abrangente
deve abordar vários desses aspectos e ofertar orientações individuais quanto às dificuldades e às
necessidades particulares de cada estudante (GANDA, 2016). Para que o professor possa ajudar
os estudantes a desenvolverem competências de AA, é necessário que eles tenham acesso a
formações que os auxiliem nessa jornada. Das pesquisas analisadas, somente duas ‒ Pranke
(2012) e Fantinel (2015) ‒ tinham como sujeitos licenciandos em matemática. Contudo, o
objetivo principal das pesquisas não era preparar esses licenciandos para a docência baseada na
AA, e sim investigar os processos autorregulatórios e as estratégias utilizadas por eles em seus
próprios processos de aprendizagem.
Este mapeamento pode contribuir para futuros trabalhos sobre o tema, pois percebemos
que a AA aplicada ao conteúdo específico de matemática é um tema pouco abordado no Brasil,
principalmente no nível do ensino médio. Ainda há muito a ser investigado, e sugerimos que
futuras pesquisas podem abordar: propostas para formação de professores, com objetivo de
capacitá-los para proporcionarem ao seu aluno caminhos para a AA; a construção de
intervenções para a promoção da AA em diversos conteúdos matemáticos; a utilização da
tecnologia para promover a AA matemática; o gerenciamento de tempo como fator relevante na
manutenção de processos autorregulatórios; e os desafios enfrentados para desenvolver uma
proposta baseada na AA no contexto do ensino médio.

LIMA, E. P. de; TORISU, E. M. Mapeamento das pesquisas nacionais sobre autorregulação da aprendizagem matemática.
Revista Eletrônica Científica Ensino Interdisciplinar. Mossoró, v. 9, n. 31, 2023. 844
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Mossoró, v. 9, n. 31, dezembro/2023

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática


(PPGEDMAT) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS

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Revista Eletrônica Científica Ensino Interdisciplinar. Mossoró, v. 9, n. 31, 2023. 845
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Mossoró, v. 9, n. 31, dezembro/2023

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Submetido em: setembro de 2023


Aprovado em: dezembro de 2023

LIMA, E. P. de; TORISU, E. M. Mapeamento das pesquisas nacionais sobre autorregulação da aprendizagem matemática.
Revista Eletrônica Científica Ensino Interdisciplinar. Mossoró, v. 9, n. 31, 2023. 848

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