Ciclo Investigativo Exemplo
Ciclo Investigativo Exemplo
Ciclo Investigativo Exemplo
RESUMO
1
Universidade Federal do Ceará – UFC. E-mail: [email protected]
2
Universidade Federal do Ceará – UFC. E-mail: [email protected]
3
Universidade Federal do Ceará – UFC. E-mail: [email protected]
4
Universidade Federal do Ceará – UFC. E-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
2
compreensão de conceitos estatísticos, objetivando uma preparação para o
desenvolvimento de capacidades de compreensão e atuação na sociedade, tal
como pode ser percebido na competência quatro para o Ensino de Matemática:
Fazer observações sistemáticas de aspectos quantitativos e qualitativos
presentes nas práticas sociais e culturais, de modo a investigar,
organizar, representar e comunicar informações relevantes, para
interpretá-las e avaliá-las crítica e eticamente, produzindo argumentos
convincentes (Brasil, 2017, p. 267).
3
O ciclo investigativo PPDAC consiste em uma metodologia investigativa
que pode contribuir para o desenvolvimento de habilidades e competências
relacionadas ao pensamento estatístico, tal como recomendado pelo documento
mencionado. O PPDAC é constituído por cinco fases: problema, planejamento,
dados, análise e conclusão, de modo que a vivência de todas as etapas requer a
participação ativa dos estudantes e mediação dos professores em busca de
compreender um fenômeno e de solucionar um problema real. Wild e Pfannkuch
(1999) apontam que o uso de procedimentos estatísticos para a resolução de
problemas cotidianos proporciona o desenvolvimento do pensamento estatístico.
A primeira fase do ciclo envolve a elaboração de um problema de
investigação. Nesse momento, os estudantes são socializados com uma temática,
a partir da qual são estimulados a pesquisar. Além disso, deve haver a definição
de um problema de investigação que consiste em uma pergunta a ser respondida
por meio da análise de dados e informações estatísticas. A próxima etapa -
planejamento - objetiva a discussão da realização da pesquisa, a partir da
definição de instrumentos de coleta, população ou amostra e tempo de realização
da coleta. A etapa referente aos dados consiste na ida ao campo para a coleta.
Posteriormente, inicia-se a análise de dados, na qual ocorre a organização das
informações coletadas e estudo dos conceitos estatísticos. Com as informações
organizadas e representadas, os aprendizes seguem para a última fase do ciclo: a
conclusão, que objetiva a discussão do que foi coletado e identificado na análise
de dados e a organização da resposta ao problema de pesquisa, elaborado
inicialmente.
Trata-se de uma metodologia que pode ser vivenciada desde os anos
iniciais de escolaridade, objetivando que mesmo alunos menores possam
compreender o desenvolvimento de uma pesquisa científica - tais como elaborar
um problema, desenvolver instrumentos de pesquisa, coletar e analisar dados e
elaborar argumentos que busquem a compreensão de um fenômeno - bem como
aprender conceitos estatísticos durante o processo. Cazorla (2004) corrobora com
tal perspectiva ao defender que esse trabalho deve ser realizado desde muito
cedo nas escolas. Pesquisas já têm apresentado resultados profícuos na
aprendizagem de conceitos estatísticos, a partir da vivência do PPDAC, como
discutidos a seguir.
4
Silva e Couto (2021) fizeram a aplicação de uma sequência de ensino com
alunos do 1º ano do Ensino Fundamental, a partir da vivência do PPDAC. As
pesquisadoras consideraram a interdisciplinaridade entre Matemática e Ciências,
por meio do estudo da temática sobre animais, para possibilitar que os estudantes
pudessem compreender tanto conceitos estatísticos como as características dos
seres vivos. Como resultados, as autoras identificaram que proporcionar uma aula
investigativa, a partir da qual os discentes participaram ativamente de todas as
etapas do ciclo, proporcionou aprendizagens significativas, atestando ser possível
trabalhar conceitos estatísticos e pesquisa desde os primeiros anos de
escolaridade (Silva; Couto, 2021).
Santos e Santana (2020) igualmente realizaram um estudo sobre a
implementação de uma sequência de ensino baseada nesse ciclo investigativo. A
pesquisa foi desenvolvida em uma turma do 3° ano do Ensino Fundamental, a
partir da temática água potável. Vale destacar o envolvimento dos estudantes em
todas as etapas do ciclo, desde a escolha do tema à análise de dados e
conclusão. Essa vivência possibilitou além do trabalho com conceitos estatísticos,
tais como interpretação e produção de gráfico pictórico, a vivência das etapas de
uma pesquisa científica. A partir dessa investigação, as autoras concluíram
igualmente ser possível desenvolver o pensamento estatístico nas crianças desde
os primeiros anos de escolaridade (Santos & Santana, 2020).
A seguir discutiremos os resultados do presente estudo a partir do
referencial teórico, bem como de pesquisas relacionadas à temática.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
5
Brasil, e teve duração de 5 semanas, a partir das quais foram vivenciadas todas
as etapas do ciclo. As observações da vivência foram registradas em um diário de
campo, instrumento que possibilita o relato das impressões do pesquisador
acerca do campo pesquisado. De acordo com Kroeff et al. (2020, p. 466), o diário
de campo aborda “a descrição dos procedimentos do estudo, do desenvolvimento
das atividades realizadas e também de possíveis alterações realizadas ao longo
do percurso da pesquisa”. As informações foram descritas e analisadas em
consonância com referencial teórico selecionado.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
6
Ainda na segunda aula, realizou-se o planejamento da pesquisa a partir
dos seguintes questionamentos realizados pela professora: Quem irá participar da
pesquisa? Quem coletará os dados? Quais perguntas serão feitas aos
entrevistados? A pesquisa será realizada com uma amostra ou uma população?
Quanto tempo será destinado à coleta de dados? Será realizada uma entrevista
ou um questionário? Destarte, os alunos decidem realizar a investigação a partir
de uma amostra selecionada - pessoas da comunidade que eles moram - tendo
em vista que os estudantes da turma residem no mesmo bairro. Questões sobre o
tempo da pesquisa e a elevada quantidade de pessoas que residem na
comunidade influenciaram na seleção da amostra para a realização do estudo.
Foi decidido que cada aluno entrevistaria dez pessoas da comunidade, tendo o
cuidado para não entrevistar uma pessoa mais de uma vez. Os envolvidos
concordaram entre si que uma semana para a coleta de informações seria
suficiente e, em seguida, coletivamente decidiu-se as perguntas que seriam feitas
para os sujeitos, definindo-se as seguintes:
Quadro 1 - Roteiro da entrevista elaborado pela turma
7
sobre o assunto, os discentes perceberam que isso aconteceu porque havia
sujeitos que contraíram mais de uma doença causada pelo mosquito.
Figuras 1a e 1b: registro inicial dos dados coletados
8
em tabela simples. Enquanto que a tabela simples abrange a organização de
informações de uma única variável, de acordo com Lahanier-Reuter (2003), as
tabelas de dupla entrada abordam o cruzamento de duas variáveis e as relações
de dependência entre elas. Como se tratava de um trabalho inicial com tabelas foi
proposto aos estudantes à representação das variáveis em duas tabelas simples,
como se pode observar na figura 2b. Silva (2012) sinalizou para a necessidade de
trabalhar, desde os anos iniciais do Ensino Fundamental, com a construção de
tabelas simples, tendo em vista que ao realizarem em estudos com crianças do 3º
e 5º ano, foram identificadas dificuldades na sistematização dos dados nesse tipo
de representação.
Na quarta aula, os discentes iniciaram o registro dos dados em gráficos.
Nessa representação, observou-se que as dificuldades dos estudantes residiam
na elaboração da escala numérica, seja pela ausência dos números (figura 3b) ou
pelo desrespeito ao espaço igualitário entre eles (figura 3a), e na construção das
barras, as quais foram desenhadas com larguras diferenciadas e em cima do eixo
vertical, como pode ser observado na figura 3b. Cruz e Henriques (2012), em um
estudo realizado com estudantes de 8 e 9 anos de idade, identificaram igualmente
dificuldades na seleção e marcação do eixo numérico. As autoras destacaram que
dentre os 25 estudantes entrevistados, metade não utilizou uma unidade
constante para a escala, evidenciando fragilidades no processo de elaboração de
representações gráficas.
Figuras 3a e 3b: Escala numérica e representação gráfica, respectivamente.
9
contraíram doenças relacionadas ao Aedes Aegypti. Dentre as doenças causadas
pelo mosquito, a dengue é a mais comum entre os entrevistados, com 45 sujeitos.
Os alunos concluíram que muitas pessoas da comunidade já sofreram com
doenças causadas por esse inseto e consideraram importante a conscientização,
apresentando os dados e socializando as estratégias de prevenção na escola. Na
quinta aula, os dados foram organizados em um pôster (figura 4b) com os dados
da pesquisa realizada e com informações referentes à prevenção do nascimento
do Aedes Aegypti. O pôster foi apresentado por cinco estudantes, escolhidos pela
turma, na Feira de Ciências da escola, como pode ser observado na figura 4a.
Figuras 4a e 4b: apresentação do pôster na Feira de Ciências
CONSIDERAÇÕES FINAIS
10
na aprendizagem, consolidação de conceitos estatísticos - interpretação e
construção de gráficos e tabelas, amostra, população e instrumentos de coleta de
dados - e utilização dos resultados da investigação realizada para
conscientização da comunidade escolar. Além disso, identificou-se que o ensino,
a partir da elaboração de estratégias para resolução de problemas cotidianos por
meio do uso de procedimentos estatísticos, proporcionou o desenvolvimento do
pensamento estatístico nos estudantes e da autonomia, tal como defendido pelos
autores da fundamentação teórica utilizada, bem como pelo documento base da
educação brasileira.
Destarte, consideramos que o presente estudo apresenta contribuições
para ensino de Estatística, ao apontar resultados favoráveis de um modelo
metodológico para o ensino e aprendizagem desse componente curricular nos
anos iniciais do Ensino Fundamental.
REFERÊNCIAS
11
LUNA, L. C.; CARVALHO, J. I. F. Oi, Quem está olhando minhas estatísticas?:
Uma discussão do desempenho de estudantes da Educação Básica sobre média
aritmética. Amazônia: Revista de Educação em Ciências e Matemáticas, pp.
151-166. 2019.
SANTOS, L. B.; SANTANA, E. R. S. Uma sequência de ensino para a formação
de conceitos estatísticos nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Revista
Eletrônica da Matemática, [S.L.], 6 (2), pp. 1-19, 21 dez. 2020.
SILVA, D. B. Analisando a transformação entre gráficos e tabelas por alunos
do 3º e 5º ano do ensino fundamental. Recife, 2012. 125f. Dissertação
(mestrado) UFPE, Centro de Educação , Programa de Pós-Graduação em
Educação Matemática e Tecnológica. Recife. 2012. Disponível em:
https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/12605. Acesso em: 15 jan. 2024.
SILVA, A. C. S.; COUTO, M. E. S. Conceitos Estatísticos no 1º ano do Ensino
Fundamental. Boletim Cearense de Educação e História da Matemática, [S.L.],
8 (23), pp. 65-80. 2021.
WAGNER, D.; HERBEL-EISENMANN, B.; CHOPPIN, J. Inherent Connections
Between Discourse and Equity in Mathematics Classrooms. In: Herbel-Eisenmann
B., Choppin J., Wagner D., Pimm D. Equity in Discourse for Mathematics
Education. Mathematics Education Library, v. 55. Springer, Dordrecht. 2012.
WILD, C. J.; PFANNKUCH, M. Statistical thinking in empirical enquiry.
International Statistical Review, 67(3), pp. 223-265. 1999.
12