Pinto, A. C., Psicologia Geral
Pinto, A. C., Psicologia Geral
Pinto, A. C., Psicologia Geral
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PSICOLOGIA GERAL S H
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AMÂNCIO DA COSTA PINTO
Amâncio da Costa Pinto
PSICOLOGIA GERAL
Universidade Aberta
2001
Copyright © UNIVERSroADE ABERTA - 2001
Palácio Ceia • Rua da Escola Politécnica, 147
1269-001 Lisboa - Portugal
www.univ-ab.pt
e-mail: [email protected]
TEXTOS DE BASE; N 2 2 7
ISBN: 978-972-674-339-2
D.L.: 164485/01
Psicologia Geral
13 Prefácio
27 Métodos psicológicos
27 Observação naturalista
28 Estudo de casos
29 Questionários
29 Método correlacionai
31 Método dos testes
32 Método diferencial
34 Método experimental
38 Perspectiva bio-psicológica
39 Perspectiva evolucionista
42 Perspectiva sócio-cultural
44 Perspectiva cognitiva
46 Psicologia clínica
46 Psicologia educacional
47 Psicologia organizacional
47 Psicologia social
48 Psicologia do desenvolvimento
49 Perguntas de auto-avaliação
49 Sugestões de leitura
2. Aprendizagem
55 Habituação
56 Condicionamento clássico
67 Condicionamento operante
81 Moldagem do comportamento
88 Condicionamento e cognição
95 Observação e imitação
98 Aprendizagem verbal
3. Memória
156 Recalcamento
15 8 Esquecer é recordar
4. Inteligência
173 O significado do QI
18 3 Spearman: o factor g
209 Conclusão
5. Motivação
215 Definição
239 Conclusão
6. Emoção
269 Conclusão
10
7. Personalidade
304 Conclusão
309 8. Referências
11
Prefácio
- _ _
15
mental, valores, planos e projectos futuros. Não estão agrilhoados a cadeias
biológicas ou sociais, mesmo quando em certos casos as pessoas parecem agir
ou reagir em função das suas pulsões instintivas ou da sua honra familiar.
A redacção deste livro tem por objectivo dar a conhecer aos estudantes
universitários no início da sua formação um conhecimento fundamentado e
actual sobre alguns dos temas mais centrais da psicologia. O livro é o resultado
de um convite feito pela Universidade Aberta, por intermédio do meu colega
e amigo Félix Neto a quem agradeço especialmente, com restrições específicas
no que se refere ao formato e extensão da obra. A ordem dos capítulos do
livro não é arbitrária e há alguma vantagem na leitura sequencial para efeitos
de aprendizagem escolar. Apesar de tudo, creio que o leitor ocasional
interessado apenas num ou noutro capítulo específico não será especialmente
afectado em termos de compreensão. Todo o esforço foi feito para expor os
temas de forma clara e interessante. Se o consegui ou não, a última palavra
pertence naturalmente ao leitor. Um agradecimento especial ao Dr. Nuno
Gaspar pela leitura das provas tipográficas e pelas correcções sugeridas.
Esta obra foi o resultado de cerca de um ano de trabalho intenso. Foi durante
este período que faleceu o meu pai, Manuel Pinto. À memória do meu querido
pai e à vida e saiíde do meu amado filho João, que me causou tantas interrupções
e chamadas de atenção com os seus temos 5 anos, dedico este livro.
16
1. Psicologia: Introdução Geral
De psicologia lodos sabemos um pouco. Pelo tom da voz, pelo aspecto do
rosto, pela posição corporal somos capazes de perceber se o nosso interlocutor
está feliz ou triste, nos quer ajudar ou fazer mal. O que o comportamento dos
outros revela parece ser uma indicação das intenções ou planos que têm para
connosco e dessa percepção e interpretação organizamos os nossos
comportamentos e respostas para melhor nos adaptarmos e interagimos com
as pessoas e o meio. Em geral somos bem sucedidos nestas tarefas, mas às
vezes cometemos erros graves. Escolhemos para amigos pessoas que se vêm
a revelar falsas e enganadoras, confiamos o nosso voto a dirigentes corruptos,
enamorámo-nos da pessoa errada e divorciámo-nos da pessoa que no fundo
nos amava de verdade. Podemos desculparmo-nos destes ou de outros erros
dizendo que o comportamento humano é em grande parte um mistério, mas
rapidamente nos damos conta de que o nosso comportamento não deixa de ser
menos misterioso. Assim porque é que esta manhã acordei tão bem disposto e
agora à tarde estou tão irritadiço, porque é que ainda não cumpri as intenções
do Ano Novo de fazer ginástica, deixar de fumar, estudar mais ou tentar um
melhor relacionamento com a família?
19
A psicologia científica e a psicologia popular ptxleni ter alguns aspectos comuns
em termos de conteúdo, mas são saberes de natureza diferente em termos de
pesquisa de dados, organização do saber, previsão e controlo da acção. O
saber não-científico de natureza popular, que se reclama de psicologia, é
contraditório nas suas afirmações, não tem consistência interna, as fronteiras
do saber são obscuras e indefinidas, as circunstâncias da sua aplicação são
vagas e confusas, e falta-lhe precisão na capacidade preditiva. Nesta pers-
pectiva, a psicologia científica tem uma especificidade própria e não precisa
de se preocupar em servir de contraponto à psicologia popular e ao senso
comum (e.g.. Pinto, 1999).
20
A ira está associada a guerras, violência e agressões entre pessoas, grupos e
nações. É um fenómeno que foi estudado desde a antiguidade clássica por
filósofos como Aristóteles na "Ética a Nicómaco" e Séneca em "De Ira". A ira
é um fenómeno comportamental e social de enorme complexidade,cuja análise,
compreensão e explicação científica constituiria um avanço considerável para
o saber psicológico. Querem relação a este, quer a outros fenómenos psico-
lógicos, a psicologia fez já bastantes progressos, mas ainda há um longo caminho
a percorrer cm termos de formulação de teorias integradoras das diversas
perspectivas de análise.
Ebbinghaus afirmou que a psicologia tinha um longo passado, mas uma curta
história. De facto, o passado da psicologia remonta a algumas questões já
21
reflectidas e pensadas pelos filósofos gregos na antiguidade como o problema
da relação entre mente e o corpo, o problema da consciência, o livre arbítrio e
a percepção da realidade. Por sua vez, a história da psicologia é mais recente
e oficialmente remonta a 1879 com a criação do primeiro laboratório de
psicologia experimental por Wundt na cidade de Leipzig na Alemanha.
22
maior rigor e objectividade na obtenção de dados e revelava grandes
similaridades com os métodos usados nas ciências naturais da época.
23
memória e as desordens de reconhecimento mnésico (Claparède) e o
desenvolvimento intelectual da criança (Piaget). A psicologia da [personalidade
e o seu desenvolvimento na perspectiva de Freud e do movimento psicanalítico
teve também uma aceitação bastante generalizada na Europa deste período.
Neste período, em Portugal, a investigação psicológica foi praticamente
inexistente, apesar dos esforços pioneiros de Alves dos Santos que em 1913
fundou o primeiro laboratório de psicologia experimental em Portugal na
Universidade de Coimbra e de Sílvio Lima que em 1928 publicou uma tese
notável de doutoramento no domínio da memória humana e do reconhecimento
sob a direcção do suíço Claparède.
Esta nova perspectiva veio a ser cunhada de psicologia cognitiva por Neisser
(1967) no livro com o mesmo título, onde define a psicologia cognitiva como
"o estudo dos processos pelos quais uma pessoa capta, retém, manipula e
recupera a informação". Os temas que organizam os capítulos deste livro de
Neisser foram os temas ignorados pelos beavioristas, como a atenção, a
percepção, a memória, a linguagem e o pensamento. A importância central
dos processos cognitivos em relação ao comportamento foi-se desenvolvendo
nos anos seguintes a ponto de Chomsky numa entrevista dada em 1986 afirmar
que "a psicologia não é a ciência do comportamento, mas antes o estudo da
mente, da organização mental e das estruturas mentais, servindo-se dos
comportamentos enquanto dados de estudo" (Baars, 1986, p. 347).
24
apenas através das suas características métricas mais salientes, como a
frequência, intensidade ou robustez da resposta. A explicação do compor-
tamento tem de ter em conta as explicações ao nível dos processos e represen-
tações mentais da pessoa, crenças e intenções.
26
psicologia. Tudo leva a crer que no séc. XXI os temas, os problemas e os
procedimentos de investigação psicológica continuem a ser arejados e renovados
não só com o esforço e a criatividade dos estudantes de psicologia, mas também
com as contribuições e o saber dos estudantes das ciências afins.
Margaret Mead (1901 -1978) foi uma das primeiras investigadoras a aplicar o
método da observação naturalista ao estudo do comportamento humano. Esta
antropóloga viveu durante algum tempo no meio de uma tribo asiática,
observando e registando várias informações sobre o comportamento do dia a
27
dia dos membros da tribo e tirando ilações sobre o sistema de organizaç.ão
social,distribuição do poder, divisão do trabalho, sistema de parentesco e valores
culturais e religiosos.
28
1.4.1.2 Questionários
Os estudos correlacionais têm por objectivo determinar uma relação entre duas
ou mais variáveis e esta relação pode ser positiva, negativa ou inexistente. O
tipo de relação é determinado a partir de uma análise estatística, o teste de
correlação. Os valores de correlação variam entre -1 a +1. Quanto mais as
variáveis estiverem relacionadas entre si, tanto mais o coeficiente de correlação
se aproxima de +1 ou de -1. Se a relação for nula, o coeficiente de correlação
aproxima-se do zero.
30
significativamente relacionadas com o consumo de azeite, o que levou o governo
a concluir que o azeite vendido era tóxico. No entanto estudos mais
aprofundados indicaram que a causa das mortes tinha sido a ingestão de tomates
contaminados com pesticidas e comidos em saladas temperadas com azeite.
31
lestes era medir diferenças entre indivíduos de forma a permitir uma classi-
ficação de natureza mental e comportamental.
Desde o começo do século XX, os testes psicológicos são uma área importante
da psicologia com aplicações ao nível da selecção e classificação escolar, militar,
profissional e organizacional. Porém a importância dos testes não se limita
apenas à psicologia aplicada, tendo ainda um papel importante ao nível da
investigação.
32
Um exemplo de estudo diferencial é a análise dos resultados de uma prova de
memória entre dois grupos, um do género masculino e outro do género femi-
nino. O género é a variável independente, isto é, a variável responsável pela
definição dos grupos. O desempenho de memória registado é a variável
dependente.
33
1.4.5 Método experimental
Caixa 1.1
Um Estudo Experimental
34
pelo modelo de arame. Estes resultados provaram que o modelo de
veludo é capaz de reduzir a ansiedade dos jovens macacos e atrair
a atenção de modo equivalente ao de um macaco real. O modelo de
veludo mostrou-se no entanto inadequado em termos de desenvol-
vimento social. Os macacos, "criados" pelo modelo de veludo, mas
mantidos isolados, tornaram-se socialmente inaptos ao crescerem.
Todavia quando os macacos "criados" pelo modelo de veludo tive-
ram a oportunidade de brincar uma hora por dia com três outros
macacos, o crescimento e desenvolvimento deles tomou-se indife-
renciável dos macacos criados pelas mães naturais, provando ainda
que um factor importante no desenvolvimento saudável dos macacos
era o contacto social.
35
independente, conseguindo-se controlar toda a influência de outras variáveis
concorrentes. Frequentemente este grau de controlo é apenas conseguido através
de recursos laboratoriais com a apresentação das condições da variável inde-
pendente, controlo das variáveis concorrentes e registo preciso da variável
dependente.
36
artificialidade na investigação, planeando experiências que simulem o mais
possível a natureza e a realidade externa, mas quando têm de sacrificar algo,
preferem fazê-lo em termos de validade externa, mesmo sendo acusados de
artificialismo, do que em termos de validade interna, para evitar arruinar a
experiência e ficarem impossibilitados de testar e avaliar adequadamente as
hipóteses experimentais.
37
1.5.1 Perspectiva Bio-Psicológica
38
com as funções cognitivas de percepção, atenção, memória, linguagem e
raciocínio; o sistema nervoso autónomo com funções de controlo sobre
diferentes órgãos e sistemas como o digestivo, respiratório, circulatório e as
implicações a nível do comportamento emocional; o sistema endócrino e os
efeitos das várias hormonas sobre a actividade geral do organismo; o papel
dos genes e da hereditariedade, não af)enas a nível corporal como a cor e a
altura, mas principalmente ao nível das características psicológicas como a
inteligência e o raciocínio, ou características de personalidade como a
ansiedade, tomada de riscos, felicidade e estabilidade emocional.
39
A psicologia evolucionista é uma perspectiva psicológica desenvolvida nos
últimos anos que, ao assumir o legado de Darwin, procura integrar as
explicações do comportamento na série causal da biologia evolucionista. A
psicologia evolucionista defende que os processos psicológicos como a
percepção, a memória, a linguagem e o pensamento, e mecanismos como a
atracção sexual, relações parentais, a escolha e adaptação aos alimentos, entre
muitos outros, evoluíram ao longo de milhões de anos por meio de um processo
de selecção natural. A selecção natural é considerada como o único processo
causal conhecido capaz de produzir organismos funcionalmente complexos.
Uma das reacções humanas que foi objecto de uma boa explicação por parte
da psicologia evolucionista foi a do mal-estar matinal ou doença das grávidas.
Uma grávida sente habitualmente por volta do .segundo e terceiro me.ses de
gravidez enjoos frequentes e aversão a certos alimentos. Freud explicou este
comportamento dizendo que o mal-estar significava a aversão que a mulher
tinha pelo marido e o seu desejo inconsciente de abortar o feto pela boca. Por
sua vez a medicina propôs uma explicação de natureza hormonal, mas esta
explicação parece insuficiente. Afinal porque é que as hormonas provocam
especificamente enjoos e mal-estar em vez de induzir agressividade ou
sedução? Margie Profet (1992) propôs uma explicação alternativa, afirmando
que este período de mal-estar deveria trazer algum benefício à mãe e ao feto
compensando os custos de uma alimentação mais reduzida ou de uma menor
produtividade.
40
de ingestão de alimento; o olfacto torna-se hiper-sensível neste período, mas
fica menos sensível no período seguinte; as grávidas que sentem um mal-estar
mais agudo são as que têm menos probabilidades de abortar ou de ter bebés
com defeito; o mal-estar da gravidez ocorre em todas as culturas humanas. O
conjunto destas e de outras observações sugerem que o mal-estar nos primeiros
meses de gravidez é uma reacção geneticamente programada de forma a
aumentar as probabilidades de reprodução humana.
Mesmo que o desejo de adultério seja um produto indirecto dos nossos genes,
há também outros desejos opostos que também são o produto indirecto dos
genes, como ter uma relação matrimonial ou de acasalamento estável. O
comportamento adúltero é o resultado de uma série de cálculos e decisões
41
mentais que têm a ver com a presença de um parceiro disponível que tenha o
mesmo desejo, a conveniência ou não da manutenção de um casamento feliz
ou os riscos de um divórcio. Segundo Pinker (1997) o comportamento não
evoluiu; o que evoluiu foi a mente.
A psicologia evolucionista tem vindo a receber uma grande atenção nos anos
mais recentes. Grande parte desta atenção está relacionada com a escolha de
certas questões, que além de populares têm um papel importante em termos de
sobrevivência e reprodução humana, como a escolha sexual, as relações
parentais, as interacções sociais e a escolha de alimentos. Veja-se Cravvford e
Krebs (1997) para uma revisão actualizada deste tema.
42
importantes que afectam o comportamento das pessoas e diferenciam não só
grupos e comunidades, mas também pessoas que moram no mesmo prédio,
irmãos que habitam na mesma casa e gémeos que possuem o mesmo material
genético. Assim a perspectiva sócio-cultural ressalta o papel que os factores
sociais e culturais têm na origem e permanência do comportamento da pessoa.
Com base em estudos de grupo talvez seja possível afirmar que em média ou
em geral os rapazes adolescentes são competitivos, os jovens instáveis e as
mulheres passivas, para já não falarem resultados médios que compiyam raças
e povos em termos de grau de inteligência ou de violência. No entanto todos
43
conhecem excepções, ou circunstâncias de excepção a estas médias ou
generalidades a começar mesmo na nossa própria casa. Por maior que seja a
influência da hereditariedade ou do meio, o comportamento é no final sempre
o resultado de uma avaliação e decisão que o cérebro e a mente de uma pessoa
individual fazem da situação. É nesta decisão e nos seus condicionalismos
que se centra a psicologia.
44
emprego. Por sua vez, a sociedade e a cultura não exercem qualquer pressão
para ir a um restaurante à beira mar em vez de ir a um restaurante num centro
comercial ou junto a um parque florestal. Se pressão existe, ela vai até nos
tempos que correm no sentido de deixar o carro na garagem para não poluir o
ambiente. E se esta pressão fosse determinante e o carro tivesse de ficar na
garagem, a deslocação até ao emprego teria de ser anulada, porque a esta hora
não haveria tempo para ir a pé e fazer a surpresa do convite.
45
Um pouco por todo o mundo, a área da psicologia clínica é a área de
especialização profissional que costuma atrair o maior número de alunos. As
outras áreas a seguir representadas são a psicologia educacional, a psicologia
organizacional, a psicologia cognitiva e experimental, a psicologia do de.sen-
volvimento e a psicologia social e da personalidade. O panorama é semelhante
em termos de áreas de especialização de doutoramento. Uma breve descrição
de cada uma destas áreas ao nível da intervenção profissional e de investigação
é a seguir apresentada.
46
1.6.3 Psicologia organizacional
47
vive. Alguns dos problemas mais importantes estudados pela psicologia social
são a formação e mudança de atitudes, estereótipos e preconceitos, a persuasão,
obediência, imitação e conformidade social, a agressão, formação de grupos,
coesão e conflitos.
48
1.8 Conceitos psicológicos referidos no capítulo
49
2. Aprendizagem
o que se quer dizer quando se fala de aprendizagem? Para a maioria das pessoas,
aprendizagem significa adquirir novos conhecimentos e comportamentos, como
acontece com a criança quando aprende o nome das cores, a cantar uma canção,
a guiar uma bicicleta, a ser simpática com as amigas da mamã e a resolver
operações de aritmética. Mas para os psicólogos, a aprendi-zagem não é apenas
isto. A aprendizagem compreende a descoberta de leis e princípios e a análise
dos factores e processos próprios dos diversos actos de aprender. Assim os
psicólogos estão mais interessados em investigar "como é que a aprendizagem
funciona", do que em analisar "os conteúdos ou resultados da aprendizagem".
A.
53
como ocorre quando um estudante copia as respostas de exame pelo colega
do lado.
54
A habituação é a tendência para ignorar um estímulo que se tomou familiar e
cujo aparecimento não apresenta consequências de maior. O condicionamento
clássico envolve a aquisição de uma nova resposta face a um estímulo que
inicialmente não a produzia. O condicionamento operante abrange um tipo de
resposta voluntária, seleccionada em função dos efeitos ou consequências
produzidas e observadas. A aprendizagem observacional consiste na
observação e imitação posterior do comportamento de um modelo. A
aprendizagem verbal refere-se à aquisição e recordação de itens verbais.
2.1 A habituação
55
e a habituação não parece ser permanente. Por outro lado, a aprendizagem
envolve uma associação entre dois eventos e a habituação parece envolver
apenas a repetição sucessiva de um línico estímulo.
56
- - JpíSB^.'»?-'*::«
experiência de Pavlov, o cão era imobilizado por arreios e colocado numa sala
à prova de som e com temperatura e iluminação constantes a fim de garantir
que variações acidentais nas condições ambientais não viessem a afectar o
curso da experiência. O cão era ainda sujeito a uma pequena operação cirúrgica
às glândulas salivares introduzindo-se aí um pequeno tubo por onde passava a
saliva, tomando possível medir de forma exacta a quantidade produzida. Veja-
se uma ilustração do procedimento experimental na Figura 2.1, feita em 1907
por Nicolai, discípulo de Pavlov.
58
Figura 22 - Funções de aquisição, extinção e recuperação espontânea, típicas
da resposta condicionada de Pavlov.
59
2.2,1.1 Generalização e discriminação
60
A discriminação é portanto a habilidade para reagir a pequenas diferenças
entre os estímulos apresentados, quer se trate de sons, cores, grandezas ou
distâncias.
61
mais importante do que o intervalo de tempo em si, era o significado que os
animais atribuíam à proximidade temporal entre os estímulos.
Cinco dias após a sessão anterior, rato foi apresentado à criança juntamente
com alguns animais e objectos familiares como um coelho, um cão, blocos de
madeira, novelos de algodão, um casaco de pele de foca, as cabeças invertidas
de Watson e de duas assistentes (de forma que a criança pudesse tocar-lhes no
cabelo) e uma máscara do Pai Natal com barbas.
62
A criança sentiu um medo intenso em relação ao rato, coelho, cão e casaco de
pele de foca; uma ligeira resposta de medo ao algodão; uma resposta negativa
(ausência de medo) ao cabelo de Watson e das assistentes, aos blocos de madeira
e à máscara do Pai Natal. Estes resultados revelaram a capacidade da criança
para generalizar e discriminar. Embora o medo do rato se tenha generalizado a
outros animais e objectos, a criança no entanto foi capaz de discriminar entre
objectos geradores e não geradores de medo.
Caixa 2.1
Dessensibilização sistemática
63
mmm^mÊÊÊKmammtm . ^^ • wmjwmm^a^-x^.--' --^
A extinção da resposta de medo foi pela primeira vez realizada por Jones
(1924) numa criança de nome Peter de 2 anos e a viver numa instituição de
caridade. Peter sentia um medo intenso, acompanhado por choro e convulsões
quando via ratos, coelhos, rãs e peixes, casacos de pele, penas, algodão. Em
relação a outros seres e objectos parecia ser uma criança bem ajustada. O
modo como Peter tinha adquirido este tipo de medo não é conhecido.
64
experiências de Watson e Raynor (1920) e Jones (1924) foram consideradas
marcos importantes nos estudos de aprendizagem emocional e da aplicação
do condicionamento de Pavlov.
Muitos dos medos que as pessoas sentem, mantêm-se por tempo indeterminado,
porque as pessoas evitam enfrentar as situações geradoras de ansiedade. Por
exemplo, quem tem medo de andar de elevador evita a todo o custo e por
todos os meios andar de elevador, suprimindo a oportunidade de desencadear
o processo de extinção deste tipo de medo.
65
2.2.3 Explicações do condicionamento de Pavlov
66
reconhecimento e categorização, que ocorrem logo no primeiro ensaio de
condicionamento (Schwartz e Reisberg, 1991).
67
2.3.1 Thorndike: Procedimento experimental
Quando se repete a experiência, o tempo que o gato leva para sair da gaiola
diminui progressivamente. Ao fim de um certo número de ensaios, o galo
maneja o trinco da porta logo que volta a ser colocado na gaiola. Nesta altura,
o tempo de realização da tarefa é o mínimo possível, sendo difícil verificíu-em-
-se ganhos de tempo com a realização de novos ensaios. Diz-se que a
aprendizagem da caixa-problema foi concluída.
68
2.3.1.1 Características de aprendizagem
120
M
O
n
e
a
E
*t
H
Ensaios
69
A aprendizagem é motivada. Nesta situação experimental, o galo está enjaulado e
faminto e fora da gaiola existe alimento. Nestas circunstâncias, a necessidade
forte de alimento gera um impulso ou motivação para sair da gaiola.
• A lei do efeito: Numa dada situação, todo o acto que produz um estado de
coisas satisfatório é mantido ou reforçado. O acto que produz um estado
de coisas desagradável ou sem efeito ficará cada vez mais enfraquecido.
Assim se um estímulo for seguido por uma resposta e o resultado for
.satisfatório, a conexão entre o estímulo e a resposta será fortalecida.
Se o resultado for nulo ou desagradável, a conexão será enfraquecida.
"Quanto maior a satisfação ou o desconforto, maior o fortalecimento
ou o enfraquecimento da conexão" (Thomdike, 191 l , p . 2 4 4 ) .
70
Este argumento pode ser melhor entendido se um experimentador pedir a uma
pessoa de olhos vendados para traçíu" linhas de 15 cm numa folha de papel. O
simples tracejar de novas linhas (repetição) não melhora o desempenho da
pessoa, a menos que haja da parte do experimentador uma informação sobre o
bom ou mau desempenho obtido em cada traçado.
Numa experiência típica com ratos, Skinner coloca o animal faminto na gaiola,
no interior da qual existe uma barra e um tabuleiro. Quando o rato pressiona a
barra, movimenta-se um mecanismo que liberta uma das bolas de alimento arma-
zenadas num recipiente no exterior da gaiola para o tabuleiro situado dentro
da gaiola. Após o rato ter pressionado a barra uma vez por acaso, o número de
pressões na barra vai aumentando progressivamente por unidade de tempo.
72
termos gerais, o reforço é uma situação satisfatória e gratificante. No entanto
para Skinner, reforço é definido operacionalmente e refere-se a qualquer estí-
mulo cuja presença ou afastamento aumenta a probabilidade de uma resposta.
O reforço pode ser positivo como na situação em que um rato obtém alimento
após pressionar uma barra; ou negativo, como numa situação em que a pressão
na barra pode evitar o aparecimento próximo de um choque eléctrico. O reforço
pode ainda ser contínuo, quando todas as respostas são reforçadas ou
intermitente, nas situações em que apenas algumas respostas são reforçadas.
O reforço intermitente (ou parcial) pode-se organizar de acordo com diferentes
programas de reforço e é mais interessante do que o reforço contínuo do ponto
de vista teórico e prático.
73
A
Proporção fixa: O reforço só é atribuído após se ter produzido um
número fixo de respostas, por exemplo após 10 pressões na barra.
Comportamento Supersticioso
74
porque não existia uma associação entre comportamento e alimento, mas antes
uma associação entre tempo e alimento.
75
sua frequência. Exemplos são os castigos, a dor causada quando se põe a mão
no fogo ou em água quente ou se metem pregos nas tomadas eléctricas.
Porque será que a punição física é um situação tão frequente? A razão óbvia é
que a punição física é eficaz, pelo menos a curto prazo, para suspender um
comportamento desagradável. Quando educadores gritam à criança para deixar
de fazer asneiras, é provável que a criança interrompa a asneira por momentos.
Como a situação costuma ser bem sucedida, o resultado serve de reforço para
o educador que tende a repeti-lo. Certos educadores alegam ainda que uma
palmada nunca fez mal a ninguém; que se pode compensar mais tarde a criança
com um beijo ou um mimo para não se sentir rejeitada e ainda que punir é um
sinal de quem manda e assume a responsabilidade pela educação.
76
estima, revelam problemas na adolescência, conservam memórias de violência
pela vida fora e quando assumem o papel de educadores estão mais inclinadas
a usar o castigo e a violência, gerando-se assim um círculo vicioso.
77
Caixa 2.2
78
Para se mudar o comportamento na direcção desejada, a sabedoria popular
sugere o "pau e a cenoura", isto é, conseguir dosear a administração dos
estímulos agradáveis com os estímulos aversivos. Em contraste, os investiga-
dores defendem que o reforço positivo é a técnica melhor e mais eficaz em
termos de mudança e regulação dos comportamentos, ao estabelecer regras e
atribuir prémios e reconhecimento pelos comportamentos dados. Ao reforçar
a resposta desejada, indica-se a direcção certa e evitam-se reacções defensivas.
79
de uma situação aversiva; e condicionamento de evitação quando o animal
previne e se antecipa ao aparecimento do estímulo aversivo ou adia o seu
início.
O Desamparo Aprendido
Mais tarde os animais dos dois grupos foram colocados numa nova situação
onde podiam escapar e evitar o choque saltando uma barreira entre dois
compartimentos. Apesar da fuga e evitação serem agora possíveis para todos
os cães, os investigadores verificaram que só os cães, que antes eram capazes
de interromper a situação aversiva e tinham controlo sobre a situação, conse-
guiram aprender a saltar a barreira e a fugir à estimulação aversiva durante o
80
período de segurança de 10 segundos. Os cães do segundo grupo saltavam,
corriam e latiam quando sofriam o choque nos ensaios iniciais, mas a pouco e
pouco deixaram de o fazer, permanecendo sentados ou encostados e recebendo
passivamente qualquer choque que lhes era infligido. Após receberem choques
inevitáveis, os animais comportavam-se como se qualquer resposta fosse inútil.
Maier, Sei igman e Solomon (1969) classificaram esta situação experi mental
de efeito de desamparo aprendido. Este efeito verificou-se porque os cães
tinham sido expostos a choques inevitáveis, cujo termo não podiam controlar,
aprendendo que a produção de qualquer resposta era independente do decurso
da estimulação aversiva. Esta aprendizagem reduziu a motivação do animal
para escapar mais tarde a uma estimulação aversiva numa nova situação.
Verificou-se também que a exposição a estímulos aversivos incontroláveis
tem repercussões fisiológicas, como o aparecimento de úlceras no estômago
em pessoas e animais (e.g.,Overmiere Murison, 1997).
81
A moldagem é uma técnica de condicionamento operante e consiste na
recompensa de respostas ocasionais que se aproximam do comportamento
final desejado, utilizando uma mudança gradual nas condições do reforço.
Esta técnica deve necessariamente utilizar os comportamentos que tenham
uma probabilidade razoável de ocorrer. Por analogia com o oleiro que molda
progressivamente um pedaço de barro numa peça de ohuia, assim o investigador
aplica a moldagem com o objectivo de modificar o comportamento numa
determinada direcção.
Mark Twain uma vez afirmou que não se deve ensinar um porco a cantar. É
uma perda de tempo e incomoda o porco! Os investigadores descobriram
limitações biológicas que restringem o processo de condicionamento e
moldagem. Umas são óbvias como ensinar um porco a cantar, outras são uma
surpresa como ensinar um porco a depositar uma moeda num mealheiro.
82
Breland e Breland (1961) publicaram um artigo intitulado O Mau Compor-
tamento dos Animais, cujo título pretendeu ser uma paródia ao livro famoso
de Skinner (1938) O Comportamento dos Animais. Neste artigo referem o
caso de uma falha no condicionamento de um porco para depositar moedas
num mealheiro. As coisas correram bem duríinte as primeiras semanas de ü-eino.
Sendo os porcos animais de grande apetite, são fáceis de trabalhar e de
condicionar, excepto neste caso, em que a falha não ocorreu só com um porco
mas com vários. Segundo Breland e Breland (1961) verificou-se a situação
.seguinte:
(2) Após intervalos de uma ou mais horas, os ratos eram injectados com
um produto que lhes provocava náu.sea. Após esta línica experiência,
os ratos irão associar a náusea com a bebida, a náusea com som e a
luz, ou a náusea com os três estímulos? Qual destes estímulos irá ser
considerado precursor ou causador do estado de náusea pelos ratos?
83
Caixa 23
84
A experiência de Garcia e Koelling e outras que se seguiram sobre o
condicionamento de aversão a sabores fveja-se a Caixa 2.3), pôs em causa
algumas conclusões estabelecidas. Primeiro, provou que a aprendizagem pode
ocorrer definitivamente num único ensaio; não é apenas progressiva. Segundo,
provou que não é qualquer estímulo neutro que se torna num estímulo
condicionado (EC). Terceiro, a associação entre um EC-EI pode ocorrer com
intervalos de várias horas. Estas conclusões vieram a ficar conhecidas na
literatura científica por efeito Garcia.
Tudo isto faz sentido. Na vida selvagem os pombos bicam a terra para obter
alimento e batem as asas para fugir ao perigo. E os ratos, sendo animais
nocturnos com visão limitada, avaliam os alimentos em termos de sabor. Se o
sabor é comum como a água, provam sem dificuldades, o que toma difícil
condicionar os ratos a rejeitarem a água. Se o sabor é novo, os ratos provam
uma pequena porção, aguardam para ver os efeitos e só mais tarde retomam
ou não o alimento em função dos resultados observados. Talvez por isto o
extermínio dos ratos por envenenamento seja tão difícil de conseguir.
85
2.3.7 Condicionamento clássico e operante
86
de respostas involuntárias raramente era bem sucedido e o efeito era incerto
(e.g., Dvvorkin e Miller, 1986). A importância deste critério em termos da
distinção tradicional mantêm-se portanto em aberto. Nos seres humanos, o
controlo operante de respostas involuntárias teve maior sucesso, originando
mesmo uma nova indústria, chamada hiofeedbackiyt\di-^Q a Caixa 2.4)
Caixa 2.4
Biofeedback
87
Quanto às similaridades entre condicionamento clássico c condicionamento
operante, os dois tipos de aprendizagem apresentam características análogas
ao nível dos processos de aquisição, extinção, recuperação espontânea,
generalização e discriminação, entre outros.
88
forma mecânica e automática. O organismo é considerado como uma máquina
cujo funcionamento organizado pode ser previsto apenas em função das forças
externas a que está sujeito. As teorias beavioristas da aprendizagem ressaltam
apenas a associação entre estímulos ambientais e respostas, e uma vez a
associação formada, os estímulos desencadeiam as respostas apropriadas de
forma mecânica e automática. Assim o papel do organismo é reduzido ou
nulo.
89
u
V
•o
s
Z
Figura 2.6 - Número médio de erros num labirinto (entrada em alas sem saída)
dados por três Grupos de ratos, onde um Grupo foi sempre
reforçado (c/ alim), o outro Grupo nunca foi reforçado (s/ alim)
e o terceiro Grupo foi reforçado a partir do 11° dia (11° dia),
segundo Tolman e Honzik (1930).
90
cognitivos, como expectativas e conhecimento memorizado. No condiciona-
mento clássico o animal cria a expectativa de que após o sinal (EC) segue-se o
alimento e no condicionamento operante o animal tem a expectativa de que a
pressão da barra será seguida por alimento.
12 3 4 5 6 7 8 9 10 II 12 13 14 15 16
Ensaios '
< 6 6 6 6 0 A
o EC
a
2
o El
0Q
EC , 4 .
g,
3
Im
O El m . m . : . m
91
Em termos do condicionamento de evitação do medo. qual é o procedimento
mais eficaz, o do Grupo A ou o do Grupo B? Se se considerar que o condicio-
namento depende do processo de contiguidade, então o grau de condiciona-
mento seria equivalente, porque o número de pares EC-EI foi idêntico nos
dois Grupos. Todavia se se considerar o condicionamento em termos de
previsão ou contingência, isto é, a probabilidade de que um acontecimento se
segue a outro, então o grau de previsão é maior no Grupo A do que no Grupo B.
92
trazem com eles as expectativas formadas a partir das respostas específicas da
espécie dadas no passado e que estas expectativas guiam as respostas no
laboratório.
Mackintosh (1983) afirmou por sua vez que seria mais adequado pensar o
condicionamento em termos de detecção de relações entre acontecimentos,
por meio dos quais o animal tipicamente descobre o sinal ou a pista que assinala
ou causa os acontecimentos que são importantes na vida selvagem, como
alimento, água, perigo ou segurança. Em vez de se tratar a salivação, a pressão
na barra ou a fuga e evitação como respostas aprendidas, seria preferível
considerá-las antes como um índice importante detectado pelo organismo a
respeito de certas relações no seu meio ambiente. O condicionamento envolveria
a formação de uma representação interna de relações causais (ou pelo menos
de relações previsíveis) entre acontecimentos, em que por exemplo o
acontecimento A prevê ou assinala a chegada do acontecimento B.
93
imitando o comportamento dos pais e os pais aprendem a lidar mais adequa-
damente com as bizarrias dos filhos imitando outros pais ou os actores de um
filme educativo que para eles actuam como modelos. A aprendizagem seria
um processo incerto e arriscado se as pessoas contassem apenas com o efeito
dos seus actos para as guiar no comportamento do dia a dia, como sugere o
condicionamento operante.
94
comportamentais e ambientais. Para que a aprendizagem por observação ocorra,
seria preciso o funcionamento dos quatro processos seguintes:
Cada criança foi depois levada sozinha para o quarto de brinquedos onde
estava o boneco de borracha previamente agredido e os seus comportamentos
foram registados. Os resultados indicaram que as crianças do grupo experi-
mental cometeram um número significativamente maior de actos agressivos
do que as crianças do gmpo de controlo. Estas e outras experiências efectuadas
95
Ir"
96
qualquer violência. Embora este resultado fique bastante aquém do valor médio
de cerca de 90% dos grupos que observaram as cenas violentas, não deixa no
entanto de ser um valor considerável e sugere a hipótese de que a violência
não resulta apenas de imitação, mas deve terem conta também a personalidade
de cada criança.
97
contribuíram bastante para fazer da não-violência uma força poderosa de
mudança social.
98
O modo como se formavam as associações entre estímulos verbais e o tempo
durante o qual permaneciam na memória das pessoas. Na continuação dos
estudos de Ebbinghaus, outros investigadores procuraram desenvolver o
paradigma de aprendizagem verbal usando como materiais de estudo estímulos
verbais que eram objecto de uma resposta verbal. A aprendizagem verbal refere-
se à capacidade humana para adquirir e recordar itens verbais.
99
facilmente como Laranja e Casa e noutros mais dificilmente como
Zelo e Razão.
1(K)
Na aprendizagem depares associados apresenta-se uma sequência de pares
de itens que o sujeito deverá relacionar e associar entre si. O primeiro membro
do par é designado por estímulo e o segundo membro é designado por resposta.
Numa segunda apresentação dos itens, são apresentados apenas os itens-
estímulos e a tarefa do sujeito consiste em evocar a resposta emparelhada. As
situações quotidianas representativas deste tipo de tarefas são a aprendizagem
de vocabulário de uma língua estrangeira, a associação entre países e capitais,
nomes e símbolos; a associação entre caras e nomes de pessoas, nomes e
telefones, entre outros.
101
explicação associacionista foi predominante na aprendizagem verbal. Em
contraste, a tarefa de aprendizagem por evocação livre é mais representativa
dos estudos realizados na segunda metade do século XX no âmbito da psicologia
cognitiva, que fez ressaltar o papel activo da pessoa no acto de aprendizagem
e recordação e de que os agrupamentos são um indicativo do modo como a
mente humana organiza e e.strutura os elementos do mundo que nos rodeia.
Apesar de cada tarefa de aprendizagem se prestar melhor a um tipo de
explicação do que outro, tal não significa que tanto os processos associativos
como os processos organizacionais não sejam importantes e necessários para
explicar conjuntamente o desempenho nas tarefas de aprendizagem deste tipo.
102
onde estacionou o carro ou onde terá deixado o guarda-chuva. Uma parte
importante da informação quotidiana permanece na memória para além do
momento em que foi adquirida e representa uma papel importante de adaptação
ao meio. Por sua vez, a aprendizagem intencional, cujo desempenho se julga
superior, aplica-se normalmente a situações escolares, onde o grau de recordação
envolvido exige maior rigor e precisão, o qual para ser atingido requer um
tempo acrescido de estudo e prática.
103
correctamente evocados foi superior na condição de espaçamento (4 dias) em
relação à condição compacta (1 dia).
104
••Birm™-r"--niirrTí-"T-«r[i--iyi-nT||-.i|TffliiiHw WPUBUIUMWII i i i i i i i i w i i w — —
105
4. Como é que a psicologia cognitiva explica a aquisição da resposta
condicionada?
106
^SSaBBBBHMB
3. Memória
A memória é um dos processos mentais mais importantes que o ser humano
tem para se adaptar ao meio, porque está directa ou indirectamente envolvida
em qualquer aspecto do comportamento humano. Sem memória não seria
possível ver, ouvir e pensar no sentido mais global do termo. Talvez fosse
possível ver e ouvir sem memória, mas os conteúdos da visão ou audição
careciam de significado, do mesmo modo que carece de significado a visão
dos caracteres chineses ou a audição da fala chinesa por alguém completamente
de.sconhecedor desta língua.
Sem memória o comportamento inteligente não seria possível. Não seria possível
recordar ou usar o conhecimento do passado para dar sentido às acções do
presente. E sem este conhecimento do passado o mundo seria um lugar
assustador e perigoso. Sem memória não seria possível haver comunicação
nem linguagem para exprimir os nossos interesses, necessidades e estados
emocionais, provocando uma solidão total. Mesmo que um amnésico com
uma desordem profunda de memória seja capaz de usar a linguagem, a fala
tem uma densidade informativa quase nula.
Mais importante ainda, sem memória a pessoa não teria qualquer identidade e
personalidade própria. Como apropriadamente referiu Alves dos Santos (1923)
a personalidade humana "nem sequer se poderá conceber independentemente
da memória, porque seria a memória que tomaria possível e inteligível a unidade
e a identidade do eu".
Âmbito e perspectivas
109
A memória não é um sistema único e unitário, mas é formada provavelmente
por vários sistemas ou sub-sistemas, cada um com funções próprias e
diferenciadas. Alguns destes sistemas poderão ser susceptíveis de se
deteriorarem mais do que outros, como acontece quando alguém afirma "a
minha memória já não é o que era", mas é improvável que todos fiquem
inutilizados ao mesmo tempo, como sugere a expressão "eu perdi a memória".
Se todos os sistemas e mecanismos de memória estivessem realmente
danificados e destruídos, a pessoa ficaria em estado de coma e nem sequer era
capaz de pronunciar a expressão "eu perdi a memória". Porém uma deficiência
num ou noutro sistema ou mecanismo de memória pode ocasionar muitas
vezes dificuldades graves e permanentes de memória.
110
OS resultados são armazenados durante certo tempo (retenção) e por fim a
informação é usada e recordada (recuperação). Estas duas perspectivas vão
guiar a apresentação e análise dos principais resultados obtidos no âmbito dos
estudos de memória humana de que uma parte serão apresentados a seguir.
ill
sílaba ao ritmo de um cartão cada 2 segundos medido pelo bater de um
metrónomo. No final da apresentação tentava recordar as sílabas na ordem em
que tinham sido apresentadas (aprendizagem seriada). Ebbinghaus efectuou
tantas apresentações e leituras da lista de sílabas quantas as necessárias para
uma reprodução perfeita, fixando no final o número total de ensaios feitos.
Algum tempo depois, que podia ser uma hora ou um dia, tentou reaprender a
mesma lista de sílabas segundo o mesmo procedimento e verificou o número
de ensaios necessários da segunda vez para obter uma reaprendizagem perfeita.
112
tXSf.l^'--^:-
o
1«
oa
9
ei
u
o
113
Ebbinghaus é recordado por ter aberto uma nova área de estudo em psicologia
e fornecido um novo modelo de investigação que veio a ter um impacto
considerável nas futuras gerações de investigadores, a ponto de alguns
resultados continuarem a ser citados nos manuais mais recentes sobre memória
humana. Ebbinghaus conseguiu demonstrar admiravelmente bem que a
memória humana podia ser objecto de uma investigação experimental e
quantitativa, mas as experiências que efectuou, usando sílabas-sem-significado,
excluíram aquilo que parece constituir a grande maioria das recordações do
dia-a-dia, isto é, material com alto grau de significado e de interesse pessoal.
Num dos estudos, Bartlett leu um conto popular, extraído do folclore índio
norte americano, intitulado A Guerra dos Fantasmas, com uma extensão de
114
cerca de 330 palavras (veja-se a reprodução em Osgood, 1973/1953, p. 651-
-654). É uma história invulgar, mas de fácil compreensão. É uma história que
apresenta algumas inconsistências lógicas no tipo de informação social descrita,
vistas pela perspectiva cultural de um ocidental. Quando uma pessoa reproduz
uma história que inclui alguns episódios invulgares e ambíguos, quer se trate
do conto A Guerra dos Fantasmas quer do relato de um Filme, peça de teatro
ou um acontecimento que se presenciou na rua, há certas características comuns
presentes neste tipo de relatos efectuados. No estudo de Bartlett, sujeitos adultos
liam a história duas vezes seguidas e depois tentavam reproduzir por escrito o
seu conteúdo o mais fielmente possível passados 15 minutos e depois passados
alguns meses e anos (método de reprodução repetida). Bartlett sublinhou os
aspectos seguintes:
Assim a partir dos finais da década de 50, pa.ssou-se a estabelecer uma dicotomia
de memória ao longo da dimensão temporal,começando-se a identificar tarefas
de memória a curto prazo em contraste com tarefas de memória a longo prazo.
Esta distinção foi incorporada na década de 60 em dois importantes modelos
de memória formulados por Waugh e Norman (1965) e Atkinson e Schiffrin
(1968). Waugh e Norman propuseram um modelo de memória constituído
por uma memória primária e uma memória secundária, cm que a repetição
era o principal processo responsável pela passagem da informação da memória
primária para a memória secundária.
116
Alkinson e Schiffrin (1968) propuseram um modelo de memória formado por
três registos: Memória sensorial, memória a curto prazo e memória a longo
prazo. Neste modelo unidireccional de processamento, a informação era
captada pelos sentidos e depois dava entrada nos diversos registos sensoriais,
como o visual e o auditivo. Depois uma parte era .seleccionada e transferida
para um sistema com capacidade limitada designado por memória a curto prazo
(MCP), onde a informação ficava sujeita a diversos processos de controlo
como a repetição e organização. A informação não processada era esquecida
e a informação que tinha sido objecto de algum processamento na MCP era
transferida para um sistema permanente de grande capacidade designado por
memória a longo prazo (MLP). Cada um destes três sistemas armazenava
informação por períodos de tempo diferentes, tinha capacidades diferentes e
incluia processos de funcionamento próprios.
A divisão da memória em dois ou mais sistemas não foi porém consensual nos
anos 60 e particularmente nos anos 70, onde houve quem voltasse a defender
uma concepção unitária de memória. O modelo unitário mais representativo
foi proposto por Craik e Lockhart (1972), conhecido pelo modelo dos níveis
de processamento. Craik e Lockhart sugeriram que o grau de retenção de
memória dependia fundamentalmente do modo como a informação uma vez
percebida era processada a diferentes níveis e não dependia do facto de residir
neste ou naquele sistema de memória como a MCP ou a MLP.
117
em diferentes sistemas e a outra metade concebia a memória como uma
sequência de processos. Isto acontece no final de uma década dedicada à
investigação sobre o cérebro humano, onde os investigadores puderam usar e
recorrer a instrumentos altamente sofisticados de ob.servação do funcionamento
do cérebro em acção.
Tudo o que se sabe sobre estes processos mentais apenas pode ser inferido
indirectamente a partir da interpretação das experiências realizadas. Mas
acontece por um lado que os processos mentais não são estanques e isolados
entre si e por outro não há uma experiência ou teste cognitivo que seja
suficientemente "puro" para detectar a totalidade de um processo mental,como
a memória, sem sofrer a influência de outros processos mentais como a
percepção, atenção e aprendizagem. Neste sentido creio que as técnicas de
imageologia, por mais sofisticadas que venham a ser no futuro (como a
tomografia por emissão de positrões, PET na sigla inglesa) não adiantarão
muito ao nosso conhecimento do funcionamento dos proce.s.sos mentais, se ao
mesmo tempo não .se avançar no aperfeiçoamento e sofisticação metodológica
das tarefas cognitivas que acertem no alvo da memória ou noutro qualquer
processo cognitivo em análise. Só se observa bem com os olhos ou com o
PET, quando se tem a certeza daquilo que se pretende observar.
118
do estado de consciência envolvido (memória explícita e memória implícita),
em função dos processos envolvidos (memória declarativa e memória
procedimental). Ao longo deste capítulo estes termos irão .ser definidos no
contexto dos modelos e experiências realizadas.
119
solicitados a evocar o maior número na ordem preferida. Após ter sido evocada
a primeira lista, uma nova lista de itens é apresentada e em seguida evocada
pelos sujeitos e este ciclo repete-se por 3 ou 4 listas. O resultado das evocações
efectuadas pelos sujeitos, quando analisadas em função da posição do item na
respectiva lista, produz os efeitos da posição serial que se exprime por uma
curva assimétrica de fonnato parecido com o perfil longitudinal de um barco.
A curva de posição serial apresenta dois efeitos importantes: O efeito de
primazia reflecte a melhoria de evocação dos itens iniciais e o efeito de recenda
a dos itens finais. Veja-se a função do grupo de controlo na Figura 3.2.
100
o— Controlo
Experimentai
80
60
o
Ni
%
• 40
u
20
Primazia Inlermédia Recência
T -r T •r —r
O 4 6 8 10 12 14 16
Posiçio Serial
120
No sentido de se encontrar uma explicação para a eliminação do efeito de
recência, alguns investigadores formularam a hipótese de que os sujeitos
tornavam-se cada vez mais conscientes da aproximação do fmal da lista,
tentando então manter os itens finais num registo provisório de modo a "esvaziá-
-lo" logo que o período de evocação surgisse. Assim os itens do fim da lista
.seriam facilmente evocados, devido ao facto de não terem sido deslocados e
substituídos por outros posteriormente apresentados. Tais itens ficariam
provisoriamente registados na MCP. A presença de uma actividade intercalada
tinha por efeito deslocar da MCP os últimos itens aí residentes de forma a
"criar espaço" para o processamento da actividade com a duração de 20
.segundos. O efeito de recência e a sua eliminação por meio de uma actividade
interpolada foi considerado uma das melhores provas da expressão empírica
da MCP. Em contraste os itens apresentados no início e no meio da lista não
eram afectados pela actividade interpolada, mas por variáveis como o número
de repetições sucessivas e associações, que originavam uma retenção mais a
longo prazo, assim como a transferência para um registo mais permanente, a
memória a longo prazo.
122
armazenava informação durante intervalos de retenção medidos em dias,
semanas ou mesmo anos.
123
de amplitude podem víunar entre 2 e 8. Estes resultados indicam que a amplitude
de memória não é um valor fixo e depende do grau de complexidade e
familiaridade dos materiais seleccionados. Apesar destas diferenças, alguns
investigadores propuseram que a extensão da memória imediata representaria
um número constante de itens ou unidades informativas categorizadas (Miller,
1956).
Será que a amplitude de memória aumenta de facto uma unidade cada dois
anos desde a primeira infância até à adole.scência (e.g., Hunter, 1964),ou .será
que representa um valor fixo sem grandes variações ao longo do
desenvolvimento humano? Muitos investigadores crêem que os aumentos de
amplitude de memória entre os 3 e os 6 anos são devidos em grande parte a
124
factores de crescimento e maturação verificadas na fisiologia cerebral, mas em
relação aos outros períodos etários, as diferenças de amplitude seriam devidas
mais a factores cognitivos, como a familiaridade, o treino e aplicação de
estratégias de codificação e recordação.
125
A infonnação processada na MCP é afectada por informações acusticamente
similares e na MLP por informações semanticamente similares, sugerindo a
possibilidade de haver pelo menos duas formas diferentes de codificação na
memória. Numa abordagem alternativa em termos de modelo de níveis de
processamento, a representação da informação na memória seria o produto de
análises diversas realizadas nos estímulos percebidos. Assim uma análise
predominantemente acústica seria suficiente para tarefas de curto prazo, como
recordar uma sequência de dígitos na tarefa de telefonar e di.scar um número.
Todavia, se a tarefa for a longo prazo, como memorizar uma lista de compras
para adquirir no fim do dia no supermercado, um texto para exame, etc., então
será mais útil aplicar um processamento semântico.
Quando a MCP foi proposta como construto teórico nos finais da década de
50, o esquecimento observado nas tarefas de MCP foi explicado de acordo
com as duas teorias de esquecimento predominantes da época: A teoria do
desuso, .segundo a qual o traço de memória perdia gradualmente a sua
intensidade ou robustez ao longo do tempo por falta de uso; e a teoria da
interferência, que afirmava que o esquecimento era o resultado da competição
126
entre estímulos e respostas similares, sendo o intervalo de tempo irrelevante.
Alguns dos estudos clássicos sobre o esquecimento em tarefas de MCP são
descritos a .seguir.
(a) (b)
0
U
1
s
y
bl
9 12 13 18
Intervalo de rctea^Ao (icg) Enaaio*
Figura 3 3 - (a) Percentagem de evocações correctas para trigramas de consoantes para intervalos de
retenção até 18 segundos (Peterson e Peterson, 1959). (b) Evocação de trigramas ao longo
dc 6 ensaios em função do intervalo de retenção de 3 e 18 segundos (Keppel e Underwood,
1962).
127
Os resultados obtidos por Peterson e Peterson estão expostos na Figura 3.3a,
onde se observa uma diminuição progressiva da percentagem de evocações
correctas à medida que o intervalo de tempo aumenta até 18 segundos. Peterson
e Peterson explicaram o esquecimento observado em função do decurso do
tempo, por não haver provas suficientes da influência da variável interferência
proactiva.
128
> • T
80
5 60-
iu
o
CJ
o 40
•A
o»
«)
>
20 Experimental
U
-o— Controlo
T -r
2 3 4
Ensaios
129
num vaso de ácido corrosivo. O grau de desintegração do metal seria uma
função quer da força do ácido quer do período de tempo durante o qual o
metal ficava submerso no ácido.
130
definiu a memória operatória como "um sistema de armazenamento e
manipulação temporária da informação durante a realização de um conjunto
de tarefas cognitivas como a compreensão, aprendizagem e raciocínio" (p.
34). Assim por exemplo na compreensão da fala é fundamental reter na
memória os temas da conversação, enquanto se está a perceber e a processar o
que o interlocutor diz para depois se poder responder e interagir. Na aritmética
para adicionar várias parcelas como 534+567+314 = ?, é preciso adicionar a
coluna das unidades, reter o resultado (5) e manter transitoriamente na memória
a sobra (1) que em seguida deverá ser adicionada à coluna das dezenas e
assim sucessivamente.
131
3.4 Memória a longo prazo
Do.s vário.s tipo.s de memória, a MLP é aquela que corresponde mais de perto
ao que a pessoa comum julga que a memória é. A MLP armazena o
conhecimento que possuímos do mundo que nos rodeia durante longos períodos
de tempo. Estes conhecimentos são bastante diversos. Uns são de tipo
episódico, como o que fizemos esta manhã ou onde passámos as últimas férias
de verão. Outros são gerais e enciclopédicos, como a sintaxe da língua materna,
os significados das palavras, o valor de n. a localização dos niíires e continentes,
a abertura da 5" sinfonia de Beethoven. Outros ainda são de tipo motor e
procedimental como andar de bicicleta, escrever à máquina ou tocar piano. As
infonnações armazenadas na MLP não provêm apenas das modalidades visuais
e auditivas. Há também informações provenientes dos outros sentidos,como
o olfacto e tacto, como o cheiro a alfazema, o som do mar a bater na rocha, o
tacto de veludo ou da areia a escoar-se entre os dedos.
132
»'•iívmm
133
priming na sigla inglesa), segundo o qual uma palavra anteriormente percebida
é mais rapidamente identificada numa segunda apresentação. Este sistema foi
proposto por Tulving e Schacter (1990) e situar-se-ia ao nível da memória
procedimental, mas distinto desta. O processo aquisitivo no PRS revela-se
num único ensaio e não é gradual como na memória procedimental, sugerindo
a possibilidade da memória procedimental ser constituída por componentes
diferentes.
134
aprendizagem de uma habilidade motora nova, como a leitura por meio de
espelho ou tracejado, apesar de não terem qualquer consciência da
aprendizagem previamente realizada. Rozin (1976) descreve o caso de um
músico de piano que aprendeu a tocar rapidamente uma peça musical numa
tarde. No dia seguinte quando lhe foi pedido para voltar a tocar a mesma peça,
o paciente não tinha qualquer memória consciente do que lhe era pedido. No
entanto quando os primeiros compassos da peça musical foram tocados, o
paciente foi capaz de tocar toda a peça correctamente.
135
Os resultados obtidos numa prova de reconhecimento das palavras apresentadas
em função das instruções de processamento físico, fonológico e semântico
indicaram valores na ordem dos 15, 45 e 80% respectivamente, quando a
resposta dos sujeitos era positiva. Os resultados foram mais baixos quando a
resposta era negativa nos três tipos de instruções, mas o padrão de resultados
obtido foi semelhante ao das respostas positivas. O mesmo padrão de resultados
foi ainda obtido numa prova de evocação.
136
o modelo de níveis de processamento é uma contribuição importante para
explicar a duração maior ou menor da informação na memória. Há no entanto
importantes objecções que este modelo não tem conseguido resolver. A objec-
ção mais frequente refere-se à circularidade de raciocínio na definição do que
é um nível mais superficial ou mais profundo. Esta definição depende do
desempenho obtido, que por sua vez tenta confirmar os níveis seleccionados.
Uma objecção mais pertinente foi formulada por Morris et al. (1977) argu-
mentando que o nível de processamento está dependente da prova de memória
que vier a ser aplicada. Se o processamento inicial for semântico, mas a prova
de memória for uma selecção de palavras que rimam, o desempenho é pior do
que se o processamento inicial tiver sido fonológico. Estes investigadores contes-
taram a hipótese de que o processamento semântico é mais memorável do que
o processamento fonológico, provando ainda que é preciso ter em conta o
modo como a memória é testada ou avaliada quando se tenta prever as
consequências de um nível de processamento seleccionado. Há assim uma
transferência de um nível de processamento para um tipo apropriado de prova
de memória, designando-se este fenómeno por transferência apropriada de
processamento.
137
3.4.3.1 Categorização e hierarquização
138
Tabela 3.1 - Hierarquia de minerais apresentada na experiência de Bower
et al.(1969).
MINERAIS
METAIS PEDR,\.S
Caixa 3.1
139
Hudson (1969) apresentou listas de palavras para evocar, pertencentes às
categorias redondo (bola, queijo, balão,etc.) e branco (linho, neve, ovo,etc.).
Os resultados de evocação foram melhores quando as categorias foram
apresentadas no início da apresentação da lista do que no fmal da lista ter sido
apresentada e antes da evocação ter lugar, provando assim que a identificação
prévia das categorias facilitou o agrupamento das palavras durante o decorrer
da apresentação.
140
imagem com um cão situado à esquerda e uma bicicleta à direita) ou a repetir
várias vezes o par de palavras apresentado visualmente. Os resultados revelaram
que o grau de evocação do grupo de imagens separadas foi quase metade
(27%) do grau de retenção observado no grupo de imagens interactivas (53%)
e praticamente semelhante ao grupo de repetição de palavras (30%). Estes
resultados e replicações posteriores (Bower, 1972) demonstraram que a
instrução para formar imagens interactivas, quando usada com habilidade,
pode proporcionar um grau de retenção bastante mais elevado do que o obtido
por outras estratégias altemativas.
141
Uma técnica de memorização, que explora intensamente a fomiação de imagens
bizarras, interactivas e cómicas, é a mnemónica dos lugares, uma das melhores
técnicas de apoio à memória humana até hoje inventadas. A mnemónica dos
lugares consiste em primeiro lugar na selecção de um detenninado número de
lugares ao longo de um percurso. Em segundo lugar, o método dos lugares
requer a formação de uma imagem mental entre o lugar .seleccionado e a
palavra, ideia ou acontecimento a memorizar. Por último, após ficar concluída
a formação das diferentes imagens mentais entre lugares e palavras-a-
memorizar, é possível recordar mais tarde todas as palavras, ou a maior parte
delas, percorrendo mentalmente cada lugar situado ao longo do percurso e
extraindo desse lugar a palavra associada à imagem. Veja-se uma breve
ilustração na Caixa 3.2 para 8 locais situados ao longo de um percurso bem
conhecido na baixa da cidade do Porto, Na mnemónica dos lugares o percurso
pode chegar a incluir dezenas de locais e edifícios, de preferência com funções
específicas e diferenciadas.
Caixa 3 2
(...) (...)
142
Numa experiência com a mnemónica dos lugares. Pinto (199ib, cap. 10)
seleccionou um percurso com 36 locais, instruindo grupos de universitários a
formarem imagens BIC entre cada local e 36 palavras diferentes. Os resultados
médios obtidos ao longo de três ensaios foram respectivamente de 22,27 e 29
palavras correctamente recordadas pela ordem de apresentação. A linha base
inicial sem a aplicação da mnemónica dos lugares foi de 7 palavras. É de
assinalar neste estudo que vários estudantes conseguiram evocar mais de 30
palavras, tendo alguns conseguido ainda evocar todas as 36 palavras
apresentadas, um resultado considerado à partida inacreditável pelos próprios.
143
3.4.4.1 Provas de memória
144
: T-i; vV^í-^i^írí:; íi
145
f l i « - : " . •.•
Caixa 33
146
disponível, mas a via de acesso estava impedida ou não era a mais indicada
quando a evocação foi usada. Prova-se assim que as dificuldades de memória
devem-se fundamentalmente a problemas de recordação ou recuperação e
não a problemas de aquisição, como ã partida seria mais fácil de sugerir.
Conta-se a este respeito que um dia o suíço Claparède cumprimentou uma das
suas pacientes que sofriam de amnésia com uma pionaise escondida na mão.
Nos dias seguintes, a paciente recusou-se a cumprimentar Claparède, mas não
sabia explicar porquê. Apesar desta paciente não ter qualquer recordação
consciente do facto passado, revelou uma memória da situação através da
modificação do comportamento.
Caixa 3.4
147
Schacter (1987) propôs a classificação das provas de memória em duas
categorias: Métodos explícitos e métodos implícitos. Os métodos explícitos
são constituídos pelas provas de evocação e reconhecimento e requeriam uma
recordação consciente das experiências passadas. Os métodos implícitos são
constituídos por diversas provas que não envolvem uma recordação consciente,
de que .se destacam as seguintes: A prova de completação de radicais (ex.,
gra —) ou fragmentos (ex., -ni-e), reconstrução de pares de palavras ou
gravuras, a reaprendizagem e a identificação de palavras apresentadas
rapidamente ou de forma degradada.
148
ocorre em condições normais e previsíveis, pode mesmo ser benéfico e só em
casos raros é que se torna um fenómeno incapacitante.
149
decurso do tempo (A esquece mais do que B) e não à interferência retroactiva,
é preciso evitar que as pessoas aprendam algo durante o intervalo de retenção.
Uma solução seria pôr o sujeito a dormir, mas mesmo neste caso a solução
não eliminaria a possibilidade de uma certa aprendizagem ocorrer na fase de
adormecer, ao acordar ou até em sonhos. E mesmo que se conseguisse eliminar
toda a aprendizagem durante o intervalo de retenção, não seria ainda possível
atribuir o esquecimento ao decurso do tempo. O esquecimento poderia ser o
resultado da interferência proactiva, já que todas as outras experiências prévias
do sujeito constituem fontes de interferência proactiva.
150
3.5.2 Teoria da interferência
ei
>
U
1.52
Im
O
u
,iLC
M
V
o
>•
W
Listas
Estes resultados não podem ser explicados satisfatoriamente, nem pela teoria
da interferência, nem pela teoria do desuso. Não se explica pela teoria da inter-
ferência. porque se a interferência acma no Tensaio produzindo uma "desapren-
dizagem" ou competição inibidora entre as palavras, não pode deixar de actuar
também no 2" e 3" ensaios. Nem .se explica pelo desuso, porque o 3° ensaio de
evocação está mais afastado do final da aprendizagem do que o T ensaio.
O português Sílvio Lima (1928) já linha observado este fenómeno que designou
por "instabilidade do esquecido" (vide Sílvio Lima, 1928, p. 130). Para melhor
caracterizar esta "instabilidade do esquecido" Sílvio Lima usou até uma quadra
popular: "O que agora me lembra/pode daqui a instantes esquecer-me/ como
o que agora me esquece/ pode daqui a instantes lembrar-me ". O esqueci mento
153
. . téãmtíli liv-
• O modo como os itens são percebidos afecta o modo como são retidos
ou armazenados.
154
o princípio de codificação específica defende que uma pista só é maximamente
eficaz na recuperação da informação, se tiver sido usada na altura da apresen-
tação na codificação dos itens. Por outras palavras, uma pista só é eficaz em
termos de recordação se tiver sido percebida no contexto de aquisição. A
representação da informação na memória é assim o resultado da interacção
entre aquisição e recuperação. Deste modo, a maior parte do esquecimento a
que estamos habitualmente sujeitos é um esquecimento dependente da pista
ou indicador, devido ao uso de pistas inadequadas.
Codificação
155
Vi.--.
3.5.4 Recalcamento
156
Este tipo de comportamentos é também conhecido actualmente por memórias
orgânicas. Freud referiu várias situações deste tipo na sua importante obra
Psicopatologia da Vida Quotidiana (Freud, 1901/1960). Segundo Freud o
acesso a este tipo de memórias incon.scientes apenas era possível através da
psicanálise.
157
Sendo as experiências agradáveis e desagradáveis objecto de esquecimento,
uma explicação alternativa para a menor recordação de memórias desagradáveis
pode dever-se à menor frequência repetitiva. É possível que as pessoas tenham
uma maior tendência a seleccionar, recordar e comunicar acontecimentos
agradáveis da vida do que insucessos e acontecimentos desagradáveis. A
lembrança, repetição e reprodução frequente de recordações agradáveis permite
uma maior contextualização, consolidação e rapidez de aces.so, principalmente
quando a pessoa se encontra num estado emocional congruente.
Anos mais tarde, o neuro-psicólogo russo Luria (1968) publicou o caso verídico
de Shereshevskii (ou S.), um jornalista com uma memória excepcional, que
tinha o problema de não ser capaz de e.squecer Shereshevskii tinha a memória
tão sobrecarregado de iniímeros pormenores que lhe era quase impossível ler
livros ou pensar em termos abstractos, Borges (1942/1998) tinha razão ao
afirmar neste contexto que "Pensar é esquecer diferenças, é generalizar,
abstrair" (o,cit„p,508).
158
integração da informação, formação de imagens e contextualização,entre outros
processos cognitivos.
159
A tendência das pessoas para reconstruir os acontecimentos passados que
presenciaram íbi apoiada a partir do famoso estudo de Loftus e Palmer (1974).
Estes investigadores apresentaram a um grupo de sujeitos um filme que des-
crevia um desastre automóvel, fazendo no fmal diversas perguntas sobre o que
tinham observado. Uma das perguntas cruciais era: — "Aque velocidade circu-
lavam os carros quando se esmagaram um contra o outro?" A estimativa média
foi de 65,6 Km/li. No entanto quando o verbo esmagar foi substituído pelos
verbos colidir, a média foi de 63,2 Km/h; pelo verbo chocar foi 61,3 Km/h;
pelo verbo embater foi 54,7 Km/h e pelo verbo tocar foi 51,2 Km/h.
Esta investigação ajudou a provar que a memória humana não se limita apenas
a um registo fiel dos factos ocorridos. Há registos ou memórias que são
simplesmente o resultado de processos dedutivos, originados, quer por
perguntas capciosas ou indutoras, quer por informações circunstancialmente
obtidas durante o intervalo ocorrido entre o acontecimento original e o
momento de recordação ou altura de se prestar declarações. Do ponto de vista
teórico, põe-se uma questão importante: Será que a memória do acidente foi
preservada na sua configuração original e em seguida reconstruída a partir da
informação suplementar veiculada pelos diferentes tipos de verbos? Por outras
palavras, será que os dois acontecimentos ficaram registados e coexistem lado
a lado, ou será que o primeiro registo foi alterado permanentemente não sendo
mais possível ter-se acesso à memória original?
160
nomeadamente quando a série de perguntas feitas acompanha a sequência dos
acontecimentos inicialmente observados, restabelecendo-se desta forma o
contexto original de aquisição dos acontecimentos.
No postal viam-se ao centro três vacas sobre a erva, duas a pastar e a outra a
olhar para a direita. À esquerda está uma rapariga que veste boné branco,
blusa branca e saia vermelha e segura na mão esquerda um recipiente para
recolha do leite. A mão direita está livre. À esquerda e ao fundo vê-se a casa
da herdade; À direita avista-se o mar. Ainda ao centro e à frente existe uma
pequena poça de água cercada de flores brancas.
162
vados na televisão, por exemplo a gravidade das faltas nos jogos de futebol
percebidas por adeptos rivais.
Kant uma vez afirmou que nós vemos as coisas, não como elas são, mas como
nós somos. E se o aparelho cognitivo humano é susceptível de compreender e
construir a realidade numa certa perspectiva e mais tarde a recordá-la de forma
distorcida, é legítimo perguntar, o que é que impede uma pessoa de não cair
no solipsismo e relativismo?
163
3.8 Perguntas de auto-avaliação
164
4. Inteligência
A inteligência é uma capacidade humana bastante valorizada. É algo que as
pessoas se julgam dotadas em maior ou menor grau, quase sempre para mais
em relação ao que os outros lhes querem atribuir. Já ouvi muitas pessoas
queixarem-se da falta de memória,de atenção ou de aprendizagem, mas nunca
ouvi ninguém queixar-se da sua inteligência, ou de que é pouco inteligente.
Ter ou não ter inteligência conta, mas pouco contaria se não marcasse a
diferença. De facto todos ou quase todos gostariam de ser elogiados pela sua
inteligência. É isto pelo menos o que revelaram os inquéritos que ano após
ano faço aos meus alunos no início das aulas.
Definir inteligência não é fácil, pelo menos em termos técnicos. Mas esta
dificuldade não parece verificar-se no dia a dia. Até parece que toda a gente
sabe o que é a inteligência, menos os investigadores. Qualquer pessoa é capaz
de referir meia dúzia de termos associados a inteligência ou à falta dela. As
pessoas usam teorias pessoais, ou implícitas, de inteligência para classificar o
comportamento das outras pessoas numa situação, como sendo às vezes
espertas, finas, brilhantes e perspicazes, ou estúpidas, idiotas, ignorantes,
parvas, rudes, tacanhas e obtusas.
Âmbito e definições
167
factorial (uma técnica estatística que permite ressaltar os temas comuns) e
notaram a emergência de três factores: A inteligência verbal, a resolução de
problemas e a inteligência prática. Estes três factores foram considerados os
componentes principais da inteligência. Sternberg verificou ainda uma
correspondência muito elevada entre a avaliação do que é um comportamento
inteligente dada pelos peritos e a avaliação feita por pessoas comuns, expressa
por uma correlação média de r=+0,82.
Caixa 4.1
Definições de inteligência
"Aquilo que uma pessoa usa quando não sabe o que fazer" (Carl
Bereiter, cit em Jensen, 1998).
168
J - • V:
169
4.1 Medidas de inteligência
170
realizasse as provas destinadas a uma criança de 8 anos, a idade mental seria
de 8 anos; se a criança não conseguisse resolver as provas de 7 anos, mas
apenas as de 6, então a idade mental seria de 6 anos. Este conceito de idade
mental permitia uma comparação e ordenação fácil entre as crianças de
diferentes idades. Binet e Simon calculavam para cada criança o valor de
idade mental (IM) e comparavam-no com o valor da idade cronológica (IC).
171
1995. Em 1950 o teste de Wechsler foi adaptado a crianças, tendo também
sofrido revi.sões posteriores em 1972 e em 1989. Estes testes tomaram-se
bastante populares e foram objecto de várias revisões. As designações mais
recentes de cada um são:
Caixa 42
172
convertidos em valores de QI, quer para cada tipo de sub-testes quer para um
valor global resultante. Uma listagem dos diferentes sub-testes encontra-.se na
Caixa 4.2.
4.1.2 O significado do Ql
173
Wechsler e de Stanford-Binet é uma medida relativa, na medida em que o
valor real obtido nestes testes é comparado com uma amostra representativa
de indivíduos do mesmo grupo etário. O QI é relativo a um valor da população
com média de 100 e desvio padrão de 15 ou 16. Estes valores numéricos são
convencionais. No teste de Wechsler há aproximadamente 68% da população
que tem um desempenho entre ±1 desvio padrão (85-115) e 95% entre ±2
desvios padrão (70-130). Apenas 2.28% têm valores de QI acima de 130.
Veja-se a Figura 4.1. A medição da inteligência está assim dependente das
características de padronização de um teste de inteligência.
õ
t
Desvio Padrão: -3
(;l-WciKskr: 55
174
uma inteligência brilhante. Dois valores diferentes de QJ apenas nos dizem
que uma pessoa tem mais ou menos inteligência psicométrica do que outra e
quantos indivíduos na população têm provavelmente um valor de QI idêntico,
mas pouco mais.
175
depois aplicada a um grupo de pessoas com características similares àquelas
que mais tarde irão realizar o teste. No decurso de víírios ensaios de preparação,
há certos itens que são ambíguos em termos de interpretação ou são
considerados pouco discriminativos em relação ao objectivo do teste. Estes
itens são omitidos da versão final. Selecciona-se depois uma amostra
representativa de uma comunidade ou país e determina-.se as normas de
aplicação e realização. O cuidado posto na selecção da amostra é fundamental
para se estabelecer a representatividade da amostra em relação à população.
176
• A validade do construto refere-se ao grau de ligação dos itens entre si
e em relação ao objectivo do teste; procura-se verificar se os itens
captam bem a qualidade hipotética da variável em estudo. Através da
análise factorial pode-se verificar se há um valor significativo de
variância comum partilhada entre todos os itens do teste. A validade
do construto estabelece-se ainda através da comparação com outros
testes similares (ex., uma escala de inteligência com outra escala de
inteligência).
177
quando se pretende prever uma variável a partir de outra. Assim, quando
r=+0,50, tal significa que o valor de QI contribui (ou prevê) em 25% para a
variância na distribuição dos resultados da segunda prova (ex., realização
escolar), mas há 75% da variância que não é prevista pelo teste de QI.
Há uma longa série de estudos que tentou determinar o valor dos coeficientes
de correlação entre testes de inteligência (QI) e algumas variáveis humanas
importantes. Os coeficientes de correlação a seguir indicados foram obtidos,
na sua maior parte, a partir do estudo síntese dirigido por Neisser et al. (1996),
que refere alguns dos melhores estudos realizados nesta área.
178
báia
O QI é um factor que prevê vários aspectos da vida de uma pessoa com mais
ou menos suces.so. A previsão é maior em termos de realização escolar, razoável
em termos de emprego e posição profissional e baixa em termos de variáveis
sociais como a criminalidade. Além do QI, há outros factores concorrentes
como a personalidade, a motivação pessoal, a qualidade da educação e o
ambiente familiiu", o meio sócio-económico que contribuem em maior ou menor
grau para o desempenho da pessoa nas diferentes situações da vida.
179
dos 3 pontos por década. Este aumento de inteligência é conhecido pelo efeito
Flynn (Flynn, 1987, 1998) em homenagem ao investigador que primeiro o
identificou.
180
competências sociais. Estas dimensões são importantes e bastante valorizadas
socialmente. Basear a inteligência apenas nos resultados dos testes de
inteligência é ignorar aspectos importantes da capacidade mental de uma
pessoa.
Num passado não muito distante os testes foram usados com fins xenófobos
para afastar pessoas, raças e povos no âmbito da emigração. Serviram ainda
para rotular e seleccionar crianças e jovens, estigmatizar alguns deles diu-ante
muitos anos, desenvolvendo um tipo de profecia de auto-realização negativa.
A principal vantagem dos testes tem a ver com a sua capacidade preditiva. Os
testes são úteis porque prevêem o desempenho de várias actividades humanas.
De facto qua.se tudo o que tem importância social apresenta uma correlação
com os testes de inteligência, provando assim a validade prática destes
instrumentos. Os testes prevêem razoavelmente bem certas fornias de realização
escolar e sucesso académico presente e futuro. O QI é a única variável singular
que prevê melhor, ou em maior percentagem, o desempenho escolar. Os testes
prevêem ainda vários tipos de desempenho profissional e alguns problemas
sociais como o crime, pobreza, riqueza e saúde. Jensen (1980) verificou ainda
que os testes aferidos convencionais não estão enviesados no sentido de
favorecer ou desfavorecer determinados grupos ou etnias (por ex., os brancos
ou os negros nos EUA).
Os testes são uma das aplicações práticas mais importantes da psicologia. Nos
EUA, ministérios como a defesa usam os testes de inteligência para seleccionar
os militares para as diterentes especialidades após o treino básico inicial e
reconhecem que uma medida destas tem gerado poupanças orçamentais muito
avultadas. A importância do Ql é especialmente saliente na selecção de
empregos que envolvem situações potenciais de alto risco, como pilotos de
aviação e operadores de centrais nucleares e esta vantagem tem sido frequen-
temente referida em relatórios, mesmo por agências governamentais. O Ql, ou
181
inteligência geral, é o factor que melhor parece distinguir entre aqueles que se
limitam a memorizar um conjunto de instruções ein relação àqueles que são
capazes de conceptualizar um problema e elaborar soluções adequadas para
fazer face a situações e contingências imprevistas.
182
Os estudos psicométricos originaram três grupos de teorias psicométricas de
inteligência: Teorias de factor único, como a de Spearman; teorias de vários
factores (ou habilidade primárias distintas) como a de Thurstone; teorias de
inteligência de estrutura hierárquica formadas por um factor g no topo que
governa diferentes factores subjacentes, como a de Carroll.
Thurstone (1938) defendeu que o facto de uma pessoa ser inteligente numa
área não significava que fosse inteligente em todas as áreas. A inteligência não
depende de um único factor, mas é antes formada por vários factores que no
conjunto constituem a inteligência. Reconendo à análise factorial, Thurstone
183
analisou resultados de testes de inteligência de adolescentes e jovens
universitários e verificou que os testes não estavam correlacionados num grau
tão elevado como Spearman supunha, sugerindo antes que a inteligência era
constituída por sete factores distintos que designou por habilidades mentais
primárias.
Segundo Guilford, cada uma das 150 inteligências representadas no cubo podia
ser medida, um projecto que tentou realizar. Embora estas dimensões
representem uma contribuição analítica importante píu-a o estudo da inteligência.
184
a hipótese de haver 150 inteligências diferentes foi considerada um exagero,
mesmo por aqueles que propuseram a existência de diferentes tipos de
inteligência.
A inteligênciafluida foi assim designada porque era capaz de fluir através dos
muitos tipos de actividades mentais ou cognitivas. Seria a habilidade para
pensar e raciocinar em termos abstractos, fonnar conceitos, raciocinar de forma
indutiva partindo do particular para o geral e resolver criativamente novos
problemas. E uma dimensão que reflecte o potencial de cada indivíduo.
Aumenta gradualmente ao longo da infância e juventude (acompanhando a
maturação do sistema nervoso) iniciando por volta dos 30 anos uma diminuição
lenta e progressiva durante o resto da vida. É um tipo de inteligência dependente
mais dos genes e das estruturas neurofisiológicas. Por esta razão não é tão influ-
enciada pelos processos de educação e aculturação como a inteligência crista-
lizada. É medida através de testes de raciocínio, analogias de palavras e figuras.
Carroll (1993) reanalisou por meio da análise factorial exploratória 461 bases
de dados sobre diferenças individuais obtidas em testes mentais de 1927 a
185
1987 em 19 países diferentes. Carroll obteve uma estrutura hierárquica de
inteligência com três estratos (ou níveis) de habilidades cognitivas. Um estrutura
hierárquica significa que "quando o factor A 'domina' o factor B e C, isto
implica a existência de um grupo de variáveis que medem todas o factor A,
além de sub-grupos de outras variáveis diferentes que medem apenas os fíictores
B e C, respectivamente. Em geral, o factor A situa-se numa ordem superior de
análise em relação aos factores B e C" (Carroll, 1993, ob. cit. p. 72).
Carroll admitiu que a sua teoria dos três estratos de inteligência apresentava
semelhanças com outras teorias que assumem um modelo hierárquico como a
de Spearman,Thurstone, Vemon,Cattell e Horn, mas não com teorias de tipo
taxonómico como as de Guilford e eventualmente Gardner e Sternberg. Uma
das vantagens principais da teoria dos três estratos de Carroll é a possibilidade
de demarcar o tipo de correlações entre variáveis psicométricas e variáveis
cognitivas que podem vir a ser exploradas no âmbito de tarefas de processa-
mento de informação.
186
presença de correlações positivas entre todos os testes mentais, indepen-
dentemente do conteúdo, modalidade ou outras características superficiais,
quando os testes são passados a amostras representativas da população gerah
O factor^ não está directamente ligado a nenhum tipo específico de conteúdo
ou a nenhuma habilidade cognitiva adquirida. Se um teste de inteligência fosse
um alforge de tarefas cognitivas sem qualquer ligação entre si e sem qualquer
factor comum, então não se verificaria a tal correlação positiva. O factor g
seria um indicador indirecto da habilidade geral comum a todas as tarefas
mentais mensuráveis.
187
realização, se for preguiçosa, se não se esforçar, não irá conseguir afirmar-se
nem evidenciar-se. Mas a motivação e esforço por maiores que sejam, poucos
efeitos terão se não forem apoiados por uma inteligência geral.
Esta hipótese parece ler actualmente pouco apoio após a publicação do trabalho
gigantesco realizado por Carroll (1993) que verificou não só a presença de
um factor geral, mas também de outros factores específicos, organizados num
sistema hierárquico. No âmbito da teoria psicométrica, o modelo de inteligência
mais aceite defende a existência de diversas habilidades mentais específicas
dependentes hierarquicamente de um factor geral, estando o desempenho do
sujeito dependente de ambos. No entanto, saber se a inteligência é melhor
representada por um factor geral, por várias habilidades específicas ou ambas
é uma questão ainda em aberto.
188
4.2.2 Teorias de processamento de informação
Esta perspectiva retoma a tradição iniciada por Galton (1822-1911) nos finais
do séc. XIX, que pretendeu medir a inteligência a partir de habilidades mentais
simples. Binet interromjjeu esta tradição ao avaliar a inteligência em temios de
habilidades mentais de nível superior. Alguns dos investigadores mais
conhecidos no estudo da inteligência, estudada no âmbito do modelo de
processamento da informação, são Richard Haier, Ted Nettelbeck, Arthur
189
Jensen, Earl Hunt, Herbert Simon e Robert Stemberg. Alguns dos estudos
mais significativos são referidos a seguir.
Esta correlação negativa significa que as pessoas que obtêm resultados elevados
nos testes de inteligência tendem a usar globalmente menos glucose ao nível
do metabolismo cerebral do que cérebros de pessoas menos eficientes.
Verificou-se ainda que os cérebros de indivíduos com atrasos mentais, como
os portadores da síndroma de Down, revelam valores metabólicos cerebrais
mais elevados do que grupos de indivíduos normais. Parece assim que os
cérebros das pessoas mais inteligentes consomem globalmente menos glucose
(açúcar) do que os cérebros de pessoas menos eficientes na realização de uma
tarefa. Apesar da grandeza por vezes elevada deste tipo de correlações ainda
se está longe de compreender os mecanismos neuronais que são responsáveis
por esta correlação.
190
Uma meta-análise efectuada em vários estudos deste tipo situou o valor de
correlação em r=-0,30.elevando-se para r=-0,55 quando factores de correcção
de erros foram tidos em conta (Kranzler e Jensen, 1989). Brand foi um dos
pioneiros do estudo desta tarefa e referiu uma correlação de r=-0,75 entre
tempo de inspecção e QI para o conjunto de amostras representativas da popu-
lação em geral, incluindo crianças, idosos e atrasados mentais (Brand, 1996).
Hunt verificou que grupos de sujeitos com inteligência verbal alta ou baixa
obtiveram tempos de reacção equivalentes na tíu-efa de identidade física; porém
na tarefa de identidade de nome, o grupo com inteligência verbal superior
respondeu mais rapidamente cerca de 25 a 50 milésimos de segundo. Um
vigésimo de segundo pode parecer ridiculamente baixo para diferenciiir a
inteligência das pessoas, mas quando esta diferença é adicionada aos milhares
e milhares de letras que compõem um texto, o tempo total do processamento
do texto pode tomar-se numa diferença considerável. Este padrão de resultados
foi reproduzido com diferentes tipos de gmpos, como crianças de 10 anos,
universitários e idosos.
191
4.2.2.5 Simon: inteligência e resolução de problemas
Estes dois problemas têm estados iniciais e fmais bem defmidos e podem ser
ainda objecto de simulação por computador. O objectivo é aproximar o estado
inicial do estado fmal por meio de uma série de operações ou procedimentos
de forma a atingir objectivos intermédios que se aproximem do objectivo fmal
desejado.
192
Advogado: Cliente: Médico:? (a. Doente; h. Medicina)
5. O sujeito indica a
193
OS sujeitos menos inteligentes, mas o tempo extra, gasto na fase inicial, era
aproveitado piu^ executar melhor e mais rapidamente os restantes componentes
da tarefa. Isto significa que os sujeitos mais inteligentes ga.stam mais tempo no
planeamento global da tarefa e menos tempo na execução local em termos da
aplicação das estratégias específicas. Este gasto suplementar de tempo no
planeamento global da taiefa, realizado no início, tinha a vantagem de assegurar
que as estratégias específicas de resolução da tarefa fossem correctamente
e.scolhidas e capazes de serem executadas.
194
4.2.3.1 Teoria de Piaget
19.'>
4.2.3.2 Teoria de Vygotsky
196
que formularam teorias de inteligência que têm em conta variáveis da cultura
e da personalidade. Eis uma breve descrição de cada.
197
?Sri
198
instrumentos musicais e apreciação musical; corporal e quinestésica - expressa
através da dança, ginástica, patinagem, desporto e ilusionismo; interpessoal-
compreender os outros, perceber o que sentem, o que os motiva e interessa e
saber interagir; intrapessoal - conhecer-se a si próprio, descobrir os pontos
fracos e como os melhorar, desenvolver o sentido de identidade.
199
• A necessidade de operações específicas para executar um determinado
tipo de inteligência, como sucede na música, matemática, fala ou escrita.
200
envolvidas na inteligência emocional incluem a identificação e a compreensão
das emoções no próprio e nos outros; a expressão e a regulação das emoções;
o uso das expressões emocionais de forma adaptativa. Este tema será objecto
de maior desenvolvimento no Capítulo 6 deste livro na secção Emoção e
Cognição.
As pessoas diferem umas das outras no peso, altura, cor dos olhos e pele, e
diferem também em termos de inteligência e outros processos mentais. A que
se devem as diferenças de inteligência? Será devido a razões hereditárias e
genéticas, ou será antes devido à influência do meio sócio-cultural em que a
pessoa nasce e se desenvolve? O problema da hereditariedade-meio é o
problema de saber até que ponto estas diferenças são devidas mais a factores
genéticos ou mais a factores ambientais, ou à influência conjunta de ambos os
factores. O que se compara em termos de diferenças de inteligência é a
inteligência avaliada por testes padronizados, também designada por
inteligência psicométrica.
201
sócio-cultural). De acordo com a perspectiva genética, o QI de dois indivíduos
é tanto mais parecido quanto mais semelhantes forem em termos genéticos.
Para os sócio-culturalistas, não são os genes que marcam as diferenças, mas o
ambiente. Vamos descrever em seguida os principais argumentos de um lado
e de outro.
(1) Gémeos MZs criados juntamente na mesma família; (2) Gémeos MZs
criados separadamente em famílias que podem ter estatutos sociais equivalentes
ou diferentes,que vivem em meios próximos ou afastados entre si, facilitando
ou não a comunicação entre eles; (3) Gémeos DZs do mesmo sexo ou de sexo
diferente criados ou não na mesma família.
202
criados separadamente é de +0,24; entre primos é de +0,15; entre crianças de
pais biológicos diferentes criadas na mesma família adoptiva vai de 0,00 a
+0,19 (e.g., Bouchard et al., 1990; Lynn e Hattori, 1990).
203
sobre o QI aumenta com a idade, situando-se entre 0,40 a 0.50 nas crianças,
entre 0.60 a 0.70 nos adolescentes, e cerca de 0,80 por volta dos 60 anos.
Plomin e Petrill (1997) obtiveram resultados semelhantes numa revisão da
melhor investigação efectuada nesta área. Em contraste a influência do meio
diminui com a idade. É maior na infância (0,35) e quase nula na adolescência
(Neisser et al., 1996).
204
destes estudos são uma reinterpretação dos estudos de gémeos e de crianças
adoptadas referidos anteriormente.
205
WBCESfc^SíWííS'?«.^
realização escolar dos seus filhos e tinham aspirações mais elevadas sobre a
sua realização escolar futura (Ziglere Berman, 1983).
206
nem manipular as condições ambientais em que uma criança cresce e se
desenvolve.
207
os anos de escolaridade, a qualidade do sistema escolar, a natureza do apoio
familiar, a erradicação das doenças infantis, a nutrição e suplementos
vitamínicos, a situação económica e social da comunidade, entre várias outras,
foram já objecto de investigação e revelaram ter um papel positivo. Uma análise
recente sobre os limites de algumas destas variáveis pode ser lida em Flynn
(1998).
208
de elite? Tempo, esforço, motivação e qualidade de estudo? Ou inteligência
geral? Ou ambos os tipos? Não é fácil responder a esta questão, a menos que
uma pessoa opte à partida por um dos lados da barricada.
4.4 Conclusão
Uma das questões tem a ver com a definição de inteligência. Uma dimensão
importante de inteligência é a capacidade de adaptação ao meio, a habilidade
prática para se analisar correctamente as situações e conseguir uma adaptação
ao ambiente e às pessoas que aí vivem. Adaptação implica análise da situação,
adopção e invenção de novas formas de adaptação a um mundo em constante
mudança, onde não é possível adoptar sempre as soluções passadas, mas onde
se exige antes a capacidade para inventar novas soluções.
209
A inteligência será melhor definida em termos genéticos, ambientais ou por
ambos e em que grau? A grande maioria dos investigadores suspende o juízo
sobre esta questão e afirma que os factores genéticos e ambientais são
igualmente importantes. Pelo menos foi esta a resposta dada pela maioria dos
1020 peritos num inquérito realizado por Snyderman e Rothman (1988). É
difícil saber porém se este resultado traduz fielmente o estado da investigação
científica ou revela antes uma resposta táctica de adaptação ao meio! A principal
razão é que uma resposta a esta questão, além de ter uma importância científica
enorme, tem também consequências práticas a nível social e político. Se a
hereditariedade tiver um peso maior do que o meio, prevê-se que os programas
de intervenção comunitária terão um efeito mais reduzido do que se partir do
conhecimento científico de que o meio tem tanta ou mais importância do que
a hereditariedade no desenvolvimento intelectual.
210
4.6 Perguntas de auto-avaliação
211
5. Motivação
Porquê, porquê, porquê?...
Porque é que eu estou a escrever este livro ou o leitor está a lê-lo? Porque é
que os alunos não estudam, os trabalhadores não rendem, as crianças passam
o tempo a jogar ou a ver televisão? Porque é que há pessoas bem sucedidas na
vida? Porque é que a mãe abandonou o filho? Porque é que o marido matou a
mulher, ou o filho matou os pais? Porque é que as nações declaram guerra? É
fácil indicar uma dezena de motivos prováveis, mas seleccionar e decidir .sobre
qual o motivo preponderante, é muitas vezes uma tarefa tão complexa que em
certos meios, como os tribunais, se passam meses e anos de trabalho intenso
até se conseguir determinar e provar o motivo principal. Muitas vezes nem os
próprios indivíduos sabem porque é que agiram de uma determinada maneira
em vez de outra. A motivação é uma resposta aos porquês do comportamento
humano.
Definição
215
uma necessidade, um desejo, um instinto, um impulso ou um interesse qualquer.
Qualquer que seja o termo escolhido, houve uma força que impeliu a pes.soa
ou o animal a nwver-se numa certa direcção. Motivação vem de motivo e
motivo significa, além de causa e origem, um elemento próprio e saliente numa
pintura ou num relevo que chama a atenção e o interesse da pessoa.
Segundo Nuttin (1985) a motivação é "uma força que age sobre um sujeito e
o põe em movimento; é uma energia que ao libertar-se põe a máquina a
funcionar". Nuttin considera ainda a motivação como "uma tensão afectiva,
todo o sentimento susceptível de desencadear e de sustentar uma acção em
direcção a um objectivo". A motivação é assim uma força que inicia, guia e
mantém a direcção do comportamento. A motivação impele e guia um
organismo para a acção.
216
a estima e o prestígio. Na tradição beaviorista o conceito de necessidade foi
operacionalizado em termos de número de horas de privação de ahmento ou
de um valor de percentagem de peso abaixo do normal. O conceito de
necessidade é às vezes usado como sinónimo de desejo, motivo ou incentivo,
mas cada um destes conceitos tem significados próprios. Uma necessidade
desencadeia normalmente um impulso, mas há também necessidades para as
quais não há impulsos, como a necessidade de oxigénio. Por outro lado, a
publicidade toma atraentes certos objectos supérfluos, e o impulso para os
adquirir é por vezes tão forte que a pessoa cria uma necessidade artificial para
melhor justificar a compra.
217
factor externo que tem capacidade para piLxar o comportamento huinano numa
certa direcção. Porém a presença de um incentivo não significa que seja capaz
de motivar sempre o comportamento, significa antes que é capaz de o fazer.
Os incentivos podem ser de tipo primário como o alimento, ou secundário
como o salário, prémios, posse de objectos ou o usufruto de certas situações.
Os incentivos secundários são adquiridos através do processo de aprendizagem
e apresentam-se associados ao incentivo primário.
218
5.2.1 Teorias biológicas
219
A teoria dos instintos tomou-se tão comum no início do séc. XX. que um
historiador chegou a compilar uma lista de mais de 5700 instintos humanos.
Na altura os investigadores, em vez de explicarem os diferentes comportamentos
humanos, limitavam-.se a nomeá-los. Assim .se uma pessoa fumava tinha o
instinto de fumar ou nos dias de hoje se dedicasse mais horas a navegar na
internet do que à família, a pessoa tinha o instinto da internet! Não é difícil
adivinhar que um projecto deste tipo caiu rapidamente no ridículo e foi
abandonado.
O principal argumento contra a teoria dos instintos defende que o ser humano
não exibe comportamentos fixos, estereotipados e não-aprendidos como nos
animais, quando muito possui apenas alguns reflexos elementares como o
reflexo de sucção no bebé. A teoria dos instintos foi abandonada enquanto
explicação do comportamento humano e historicamente substituída por teorias
que ressaltaram a redução das necessidades fisiológicas e o papel dos incentivos
externos. Apesar da teoria dos instintos ter falhado na explicação do
comportamento humano, há ramificações desta teoria nos dias de hoje quer ao
nível da genética e da etologia (instinto sexual e instinto de agressão) quer ao
nível das teorias evolucionistas (sociobiologia) que tentam explicar
comportamentos humanos complexos como o acasalamento, diferenças de
género,criação dos filhos,ciúme e altruísmo.
220
mas antes a capacidade de transmitir o maior número de genes às gerações
seguintes. Os genes teriam a tendência (ou propensão) egoísta de sobreviver a
todo o custo. Esta propensão pode ser melhor compreendida a partir de uma
piada do biólogo Haldane a quem um dia perguntaram se era capaz de sacrificar
a sua vida pelo irmão. "Não", respondeu ele, "mas por dois irmãos ou oito
primos" (citado em Pinker, 1997, p. 4(X)), o número mínimo de parentes que
asseguraria a sobrevivência dos seus genes. Para Darwin, o organismo mais
capaz é o que consegue sobreviver mais tempo. Para o sociobiólogo Hamilton
(1996) o animal mais capaz é o que consegue maximizar a sobrevivência dos
seus genes nas gerações futuras.
221
o seu desaparecimento. O ego, o guardião da consciência, usava mecanismos
de defesa para orientar a energia reprimida substituindo a gratificação imediata
dos desejos básicos por situações mais aceitáveis socialmente.
222
constante ou correcto de equilíbrio interno (homeostase) para uma certa
necessidade. Esta teoria tem subjacente a ideia de que o estado normal de um
organismo é o equilíbrio e quando este equilíbrio é desfeito gera-se um impulso
no sentido de restabelecer o estado original. Os postulados principais da teoria
são:
223
guirem a atenção da opinião piíblica, e noutros a fama e sucesso (satisfações
não-biológicas). As pessoas buscam ainda sensações e agem de forma a
aumentar o nível de excitação nas suas vidas, muito para além de qualquer
equilíbrio necessário.
224
estados de delírio e ao fim de 2-3 dias recusaram continuar a experiência.
A situação tomou-se intolerável e deixou de justificar a recompensa financeira.
O nível de excitação varia de pessoa para pessoa, assim como denü-o da mesma
pessoa. Teoricamente deve haver um nível óptimo de excitação: Níveis baixos
podem causar aborrecimento, letargia e sonolência e níveis bastante elevados
podem causar ansiedade. Mudanças significativas face a um nível considerado
óptimo ou satisfatório levam o organismo a agir no sentido de restaurar o
equilíbrio desejado.
Estes estudos revelaram ainda que o nível óptimo de excitação varia com a
complexidade da tarefa. Se esta for fácil, o nível óptimo de excitação é
moderadamente alto. Se a tarefa for bastante difícil, o nível óptimo de excitação
é moderadamente baixo. Uma excitação elevada na realização de uma tarefa
difícil, como acontece no caso de um exame, pode gerar ansiedade e conse-
quentemente distracção e bloqueio no raciocínio e na recordação. Mas quando
a tarefa é fácil, ou o prazo bastante distante, a excitação que a tarefa desperta
é diminuta, gerando-se rituais de adiamento até ao momento em que não é
possível adiar mais e se atinge o nível mínimo adequado de excitação para a
sua realização.
225
5.2.2.3 Teoria do incentivo
226
orientações motivacionais nem sempre são nítidas e bem contrastadas, como
se verá adiante.
Maslow (1954/1987) elaborou uma teoria da motivação que tinha por objecdvo
ressaltar e explicar os motivos de natureza psicológica no comportamento
humano e não o comportamento de todos os animais em geral, como
pretenderam fazer as teorias do incentivo ou da redução dos impuKsos.
A teoria de Maslow é uma teoria das necessidades humanas, que tem subjacente
três postulados: (1) As pessoas são motivados no sentido de satisfazer as suas
necessidades; (2) As necessidades estão hierarquizadas na vida de uma pessoa;
(3) As pessoas progridem na hierarquia de necessidades à medida que as
necessidades inferiores são satisfeitas. A hierarquia de necessidades de Maslow
é formada por sete níveis ou patamares, organizados em fonna de pirâmide da
base para o topo, descritas a seguir:
227
5. Cognitivos - curiosidade e desejo de obter novos conhecimentos,
compreender o mundo, o funcionamento das coisas e o comportamento
das pessoas.
228
hierarquia de necessidades foi também contestada a partir de estudos inter-
culturais, alegando-se que a ordem não é universalmente fixa. Em resposta a
esta objecção, refira-se no entanto que é a existência de um postulado
hierárquico e invariante que dá força e valor heurístico ao sistema de Maslow,
caso contrário não passava de mais uma de entre várias listas de necessidades
possíveis. A hierarquia implica a noção de há uns motivos que até serem
satisfeitos são mais fortes e prementes do que outros.
Nas últimas décadas, a maior parte dos teóricos da motivação seguem uma
perspectiva cognitiva. Bandura (1986) afirmou até que a razão "que leva uma
pessoa a agir tem a sua raiz nas actividades cognitivas". A motivação é um
processo cognitivo e envolve a maior parte das vezes uma tomada de decisão
consciente. As teorias cognitivas defendem que as pessoas agem, não por
motivos externos ou condições ambientais (reforços e incentivos) ou até mesmo
fisiológicas (a fome), mas antes em função das percepções e interpretações
que dão aos acontecimentos, assim como em função dos objectivos, planos e
expectativas que formam. Na teoria cognitiva, a motivação cria intenções e
dirige os comportamentos para objectivos. Por outras palavras, o
comportamento é determinado pela maneira como uma pessoa pensa e tem
em conta as crenças, expectativas, objectivos e valores próprios.
229
sentida e percebida pela pessoa. Deste modo as teorias cognitivas ressaltam a
orientação intrínseco da motivação.
230
oferecido a cada estudante um dólar para dizer ao próximo sujeito da experiência
que a tarefa era bastante interessante e engraçada. Aos sujeitos do segundo
Grupo foi oferecido 20 dólares para fazer o mesmo; O terceiro Grupo era de
controlo, a quem não foi oferecido nenhum dinheiro nem feito nenhum pedido.
Depois de aceitarem a oferta os sujeitos deslocaram-se à sala de experiência
onde se esforçaram por convencer o próximo sujeito (no caso, uma rapariga
aliada do experimentador) de que as tarefas eram agradáveis e interessantes.
No fmal os sujeitos foram solicitados a responder à pergunta: "Qual o grau de
agrado que realmente teve na realização desta tarefa?" Os estudantes a quem
foi pago um dólar afirmaram que tinham gostado realmente da tarefa. Mas os
estudantes a quem foi pago 20 dólares afirmaram que não tinham gostado e
consideraram a tarefa tão aborrecida como os sujeitos do gmpo de controlo.
232
sucesso ou o fracasso fosse atribuído a factores internos, a pessoa sentia orgulho
e uma motivação crescente no caso de sucesso; ou uma redução na auto-
estima no caso de fracasso.
233
5.2.5.1 Teoria da expectativa x valor
Uma das teorias que combina estas duas perspectivas é a teoria da expectativa
X valor (Atkinson, 1964). Segundo esta teoria, a motivação é o resultado da
multiplicação da probabilidade de sucesso esperado vezes o valor do incentivo
associado ao sucesso: M = P^ x K Por exemplo, se um jovem julga que tem
possibilidades de vir a ser o líder da organização juvenil do seu partido e
valoriza bastante esta escolha, provavelmente este jovem revelará uma
motivação bastante elevada e fará todos os esforços para conseguir ser eleito.
Em contraste, um outro jovem com um grau de competências equivalentes,
mas que atribui um menor valor à eleição, sentir-se-á menos motivado e fará
menos esforços para alcançar um tal objectivo.
Atkinson (1964) sublinhou ainda que a motivação apenas seria máxima com
níveis moderados de probabilidade de sucesso. Assim por exemplo dois
jogadores de xadrez situados ao mesmo nível de competência fariam um esforço
elevado para cada um ganhar o jogo, isto é, a motivação seria elevada e
semelhante. Porém se um dos jogadores fosse um mestre e o outro um amador,
os jogadores não iriam esforçar-se maximamente. O mestre não valorizaria
muito a vitória e por isso não faria os maiores esforços; por outro lado, o
amador gostaria imenso de ganhar ao mestre, mas como tem uma probabilidade
diminuta de conseguir ganhar, o mais provável é não dar o esforço máximo.
Nuttin (1985) propôs uma teoria da motivação que se enquadra nas teorias de
aprendizagem social, principalmente na sua vertente mais cognitiva da
expectativa X vedor. Nuttin sublinha a abordagem interaccionista da motivação
humana, baseada nas interacções dinâmicas e preferenciais que se estabelecem
entre a pessoa e o meio (entre o eu-mundo) no âmbito do comportamento, c
em que estas interacções podem tomar a forma de relações biológicas,
psicológicas e espirituais. Há interacções que são preferidas a outras e é no
234
âmbito deste relacionamento e desta valorização selectiva que a personalidade
humana se constitui e se desenvolve. Para Nuttin a motivação não é o elemento
desencadeador da necessidade, mas constitui antes a direcção activa do
comportamento em direcção a um objectivo.
A auto-eficácia refere-se às crenças que uma pessoa tem sobre a sua compe-
tência pessoal na realização de uma tarefa e no controlo de uma situação. Face
a uma nova tarefa, uma pessoa com um nível de auto-eficácia elevado, iniciará
e persistirá na sua realização em função das recordações passadas de tarefas
similares que foram bem sucedidas. Porém se as recordações forem de fracasso,
o grau de auto-eficácia será menor e provavelmente a pessoa não se sentirá
motivada para realizar a tarefa. As pessoas têm tendência a trabalhar mais e a
persistir durante mais tempo numa tarefa quando têm um sentimento elevado
de auto-eficácia. Nada fará um futuro bem sucedido, como um passado bem
sucedido.
235
5.2.6 Motivação intrínseca e extrínseca
236
Por exemplo, estudar o suficiente para obter uma classificação que permita
passar (recompensa) e evite reprovar (evitação). Deci e Ryan distinguem quatro
tipos de motivações extrínsecas: regulação externa (recompensa ou medo);
introjecção (a pessoa age porque sente-se culpada); identificação (a pessoa
valoriza a importância da tarefa); integração (há uma escolha em função de
valores, do tipo "prefiro ficar a estudar a ir ao cinema"). O grau de auto-
determinação começaria apenas na fase de identificação e aumentaria na fase
de integração.
Quando um aluno está intrinsecamente motivado para realizar uma tarefa (por
ex., aprender a tocar um instrumento musical ou realizar um trabalho escolar
237
sobre determinado tema), gosta realmente do que faz e obtém satisfaçcão e
prazer pela sua realização, a atribuição de reforços ou incentivos externos
(prémios, dinheiro ou presentes) não é de todo necessária e pode até ser às
vezes contraproducente. Neste caso verifica-se o que se designou por efeito
de super-justificação: Quando há motivação intrínseca e prazer para realizar
uma tarefa, a introdução de um reforço extemo pode diminuir o desejo de a
realizar e o agrado que antes se sentia. (Para investigações recentes sobre esta
questão, veja-se Butler, 1988; Eisenberger e Cameron, 1996; 1998).
No trabalho, na empresa e no desporto não há uma tínica teoria que seja capaz
de explicar o que motiva as pessoas a fazer mais e melhor. A complexidade do
conceito de motivação por um lado e a existência de diferenças individuais e
de valores no que se refere aos objectivos importantes da vida por outro toma
difícil formular uma teoria que explique a motivação em geral. No entanto as
teorias existentes permitem fomecer um enquadramento teórico que ajuda a
focar os aspectos mais relevantes que devem ser tidos em conta no
comportamento das pessoas e em certas situações específicas. As melhores
teorias são aquelas que conseguem compreender e explicar a energética do
comportamento em geral e dos seres humanos em particular e ainda conseguem
ser capazes de fazer propostas específicas para motivar as pessoas numa
determinada situação.
238
5.3 Conclusão
Assim quando o animal tem ao mesmo tempo fome e sede e os incentivos que
satisfazem estes impulsos estão situados em locais diferentes e um dos locais é
mais perigoso e envolve mais riscos do que outro, é preciso fazer uma escolha
e esta escolha é uma decisão cognitiva. E a escolha pode ser não-beber para
já. Pode argumentar-se que o organismo irá escolher à partida o comportamento
com maior nível de motivação, por exemplo a bebida. Mas esta escolha implica
uma decisão prévia em função da recordação do tempo de privação e dos
riscos prováveis que enfrenta a sua satisfação.
Analise-se ainda o caso do impulso sexual nos mamíferos e nas pessoas. Não
basta existir um impulso sexual por um lado e detectar um incentivo no ambiente
para o satisfazer por outro. Mesmo nos animais a satisfação do impulso sexual
envolve estratégias de corte e acasalamento bastante complexas, em que o
comportamento sexual é orientado em termos da escolha que parece melhor
em cada momento. E a escolha pode não se concretizar, se entretanto aparecer
um concorrente que tiver feito a mesma opção. Nos seres humanos isto é
ainda mais evidente e complexo, envolvendo na maioria esmagadora dos casos
a avaliação de factores de natureza pessoal, social e económica, além de valores
morais e religiosos.
239
motivação para se atingir cada um destes objectivos, cada plano não passará
de mais um plano possível, provavelmente todos mais ou menos interessantes
e válidos, mas sem a excitação e a força para permitir a miciação e a persistência
do comportamento escolhido.
240
6. Emoção
Todos sentimos estados de alegria, satisfação e prazer quando nos divertimos
com os nossos filhos e amigos, damos e recebemos prendas, assistimos a um
bom espectáculo e somos elogiados. Noutras ocasiões sentimos surpresa por
uma notícia inesperada, medo de um vulto sentado à entrada da porta quando
regressamos a casa de noite, fiiria quando vemos o nosso carro riscado ou o
comerciante nos quer vender gato por lebre, aversão a certos alimentos, repulsa
ao ver certas pessoas, tristeza e pesar pelo falecimento de um familiar.
A voz e o rosto têm autonomia emocional própria. Uma voz forte e rápida ou
lenta e arrastada ao telefone podem significar fúria ou tristeza, do mesmo modo
que a observação de fotografias de rosto são suficientes para caracterizar a
emoção expressa. No entanto é o corpo na sua globalidade, que transmite e
exprime a fidelidade emocional. Há situações ardilosas em que o rosto e a voz
parecem submissas, mas a posição corporal e os gestos indicam agressão, e
onde uma percepção incorrecta pode ser prejudicial.
243
medo e pavor ou perante um embate automóvel, provocando aborrecimento e
fúria, verificam-se diversas alterações fisiológicas, nomeadamente um aumento
do ritmo cardíaco e pressão sanguínea, a respiração toma-se ofegante, o sangue
flui do estômago para os músculos voluntários, aumenta a transpiração, as
glândulas supra-renais produzem epinefrina (adrenalina), as pupilas dilatam-
se para melhorar a visibilidade, entre outras reacções.
244
comunicação é o aspecto da emoção mais importante e significativo em termos
de sobrevivência. Do ponto de vista evolutivo as emoções são um sistema
básico da espécie gravado no sistema nervoso para efeitos de comunicação.
Se as emoções apresentam uma função de comunicação simples, então as
emoções contribuem para a racionalidade da acção em vez de serem
consideradas actos meramente irracionais. Quando o papel adaptativo da
emoção é desempenhado satisfatoriamente, a emoção toma-se num estado
racional, porque está adaptada à percepção que a [pessoa faz da situação.
245
enorme surpresa e uma grande alegria aos 25 anos, e podem ocorrer sentimentos
semelhantes mas de intensidade menor aos 35 anos com a notícia do terceiro
filho,ou sentimentos ambivalentes com o nascimento de gémeos.
246
6.1.3 Emoções primárias e secundárias
247
de emoções básicas e todas as restantes emoções são combinações, misturas
ou compostos deste núcleo básico; Cada emoção revela-se em graus de
intensidade e níveis de excitação variados; As emoções têm um papel adaptativo
ajudando os organismos a enfrentar questões vitais de sobrevivência postas
pelo ambiente. Plutchik (1980) defendeu oito emoções básicas, cada uma com
o seu oposto e tendo por critério a relação com os processos biológicos
adaptativos: alegria-tristeza, ódio-medo, surpresa-antecipação, aversão-
aceitação.
Ekman ira, aversão, medo, alegria, tristeza, surpresa Expressões faciais universais
(1992)
Plutchik ira, aversão, medo, alegria, tristeza, surpresa, Processos biológicos adapta-
(1980) aceitação, antecipação tivos
Izard ira, aversão, medo, alegria, desprezo, culpa, Neuroquimico, comportamen-
(1992) aflição, interesse, vergonha, surpresa to e sensação
248
^- •'•'.f•
Strongman (1998) refere cerca de 150 teorias que foram divulgadas na literaUira
científica para melhor se compreender e explicar as emoções e a formação do
estado emocional. Apesar de tantas alternativas não há no caso da emoção,
como em muitos outros fenómenos psicológicos, uma teoria consensual capaz
de explicar todos os aspectos da emoção, embora haja naturalmente teorias
que são melhores do que outras. Quase todas as teorias contemporâneas de
emoções salientam quatro factores na formação de um estado emocional:
William James nos EUA e Lange na Dinamarca propuseram uma teoria das
emoções bastante semelhante entre si e quase ao mesmo tempo. A descrição
feita por James é a mais referida e a que é descrita a seguir. James publicou em
1884 o artigo O que é uma emoção? que se tomou bastante influente e um
249
IWWSWWí»--'!«^-?'"'^':
dos artigos mais citados na literatura desta área. James (1884) defendeu que as
emoções que .sentimos são o resultado de informações que recebemos do nosso
corpo quando reagem a estímulos do meio ambiente. A emoção é a percepção
da agitação e alterações fisiológicas desencadeadas por seres e acontecimentos
no nosso meio ambiente. Para cada emoção haveria uma assinatura corporal
única ao nível dos órgãos viscerais e músculos voluntários.
250
Cannon-Bard referem estudos realizados em cães e gatos, onde as ligações
entre o SNC e as vísceras foram cortadas, não se tendo verificado alterações
ao nível do comportamento emocional. Nestas experiências de amputação das
ligações, os sinais exteriores de fúria de um gato face a um cão a ladrar estavam
pre.sentes. Segundo Cannon-Bard as vísceras são estruturas de reacção lenta,
em contraste com a rapidez de resposta emocional a um estímulo, não podendo
servir de condição nece.ssária e suficiente para a percepção do estado emocional.
251
na experiência realizada por Schachtere Singer (1962), que ressaltou o papel
da avaliação cognitiva na formação da emoção.
252
sobre as reacções que poderiam surgir, porque tinham uma explicação prévia
e não-emocional para a excitação que iriam sentir. Em contraste, todos os
restantes grupos deveriam sentir-se eufóricos ou furiosos em função do tipo
de actuação do cúmplice do experimentador.
253
Caixa 6.1
254
No conjunto, estes estudos revelam que a emoção não é independente da
avaliação que é feita. A excitação pode contribuir para a intensidade do estado
emocional, mas a avaliação da situação contribui para a qualidade emocional,
ou tipo de estado que a pessoa afirma sentir. Cre-se por isto que o papel da
excitação fisiológica é
mais reduzido na diferenciação das emoções do que o
papel da avaliação cognitiva da situação.
Esta teoria tem implicações práticas evidentes. Se o modo como uma pessoa
avalia cognitivamente a situação geral determina o tipo de emoção que vai
sentir, será possível tomar mais flexível a avaliação cognitiva, de forma a que
a pessoa seja capaz de reduzir e atenuar a intensidade de emoções negativas
como o medo, ansiedade e ira? E neste âmbito que se situa a terapia cognitiva,
enquanto técnica de modificação do comportamento.
Lazarus et al. (1980, p. 192) chegam a ponto de afinnar que os adultos humanos
devem ser as criaturas mais emocionais da terra, porque podem usar processos
e competências bastante complexas para efectuar distinções subtis a nível
emocional e recordá-las mais tarde no meio de muitos outros tipos de
infomiação. Laziuais não rejeita os elementos fisiológicos associados à emoção,
muito menos os factores culturais que considera indispensáveis na forma como
a emoção é expressa (ex., o luto em diferentes culturas) e no modo como os
estímulos são percebidos e avaliados em tennos de segurança e medo. Para
além da fisiologia e da cultura, no entanto, há uma pessoa com um desen-
volvimento e uma memória que na sua relação com as pessoas e o ambiente
avalia cada situação em termos de relevância pessoal e significado, tentando
ajustar-se da forma considerada mais favorável. A avaliação cognitiva e a
255
adaptação (ou ajustamento) são os dois conceitos centrais da teoria emocional
de Lazarus, conhecida por teoria cognitiva relacional e motivacional (Lazarus,
1991).
3. Quando uma resposta directa não pode .ser dada, a pessoa desenvolve
estratégias de adaptação à nova situação, tentando ajustar-se da melhor
maneira possível.
Speisman et al. (1964) mostraram um filme chocante onde .se viam os pénises
de rapazes adolescentes a serem cortados com um faca de pedra denteada
num ritual de passagem à puberdade de uma tribo aborígene australiana.
O filme incluia seis operações destas. Cenas deste tipo são propícias a causar
níveis elevados de stress e ansiedade e foram mostradas a 4 Grupos,
acompanhadas por diferentes comentários sonoros. No 1° Grupo foi focada
a dor sofrida pelos rapazes (condição traumática)-, no 2° Grupo o episódio
foi destacado como um rito de passagem para a vida adulta (negação do
trauma — "as palavras de coragem ditas pelos homens mais velhos estão a
produzir efeito e o rapaz está esperançado que a cerimónia tenha um final
feliz"); no 3° Grupo os elementos emocionais foram ignorados e as tradições
da tribo ressaltadas {intelectualização — "Como vêem a operação é formal e
a técnica cirúrgica, apesar de elementar e rude, é manejada de forma
cuidadosa"); no 4° Grupo o filme foi mostrado em silêncio e sem comentários
(controlo).
256
Os resultados obtidos, expressos por meio de índices Fisiológicos como o ritmo
cardíaco e grau de conductibilidade da pele, indicaram que as respostas
emocionais foram significativamente inferiores nos Grupos 2 e 3 em relação
ao Grupo 1, e um pouco inferiores em relação ao Grupo 4. Nos Grupos 2 e 3
o sofrimento dos adolescentes foi atenuado através de informações moderadas
ou de intelectualizações explicativas. Os resultados revelam que o modo como
vemos e avaliamos as situações influencia o nível de excitação fisiológica que
sentimos.
257
uma mesma cultura, há também provas dc que pessoas de sociedades c culturas
diferentes produzem expressões faciais similares em resposta a certas situações
vividas ou imaginadas.
De acordo com esta hipótese, uma pessoa recebe informação corporal, não
apenas ao nível da excitação fisiológica, mas também ao nível da expressão
facial, resultando daqui uma experiência emocional mais intensa. Há vários
estudos que apoiam a hipótese de uma relação directa entre expressão facial e
emoção sentida. Verificou-se por exemplo que sujeitos solicitados a exagerar
as expressões faciais a estímulos apresentados referem uma resposta emocional
mais intensa do que os sujeitos com expressão facial normal.
258
6.4 Perspectiva neurológica
259
ter necessidade de passar pelo córtex primeiramente, então as teorias cognitivas
estão erradas ao defenderem a avaliação cognitiva como uma condição
necessária para a formação da resposta emocional. É importante referir que
LeDoux não subscreve este tipo de explicação (vide LeDoux, 1996, p. 52) e
afirma até que as teorias cognitivas são as que melhor se aproximam de uma
boa explicação sobre as emoções.
i'-r'
mas a clarificação não deixa de ser necessária. Pode-se argumentar ainda que
Damásio confunde o reflexo inato do pinto que esconde a cabeça "quando um
objecto de asas largas o sobrevoa" (ob. cit. p. 146-7) com a emoção de medo
do pinto, que é uma resposta emocional adquirida através da experiência. O
medo humano é uma emoção adquirida e não uma emoção inata. Só por volta
dos 8 meses, altura da constituição do objecto permanente (memória a curto
prazo) é que a expressão de medo em relação a estranhos se verifica (Schaffer.
1974).
Elliot submeteu-se a uma cirurgia para remover um tumor situado por cima da
zona orbitral. A cirurgia originou algumas lesões orbitofrontais e talvez por
isso o comportamento emocional de Elliot modificou-se substancialmente
depois. Elliot apresentava um desempenho cognitivo elevado, revelava
conhecimentos actualizados da vida política e de negócios, mas mostrava-se
incapaz de tomar decisões apropriadas em situações quotidianas. Elliot parecia
não ter sentimentos tanto em relação ao passado, como em relação a
acontecimentos traumáticos actuais. Não revelava sinais evidentes de tristeza,
frustração ou fúria face aos acontecimentos da sua vida. Tudo parecia neutro.
i'-r'
Desde os estudos de Schacter e Singer (1962) até aos finais da década de 70.
a tendência predominante no estudo da emoção foi cognitiva. Em 1980,Zajonc
(1980) publicou um artigo onde defendeu que as respo.stas emocionais e
afectivas podem surgir na ausência de qualquer processamento cognitivo
consciente. Então a perspectiva cognitivista esmoreceu durante algum tempo até
que voltou a pulsar com um artigo de Lazarus (1984) que questionou e contra-
riou a tese deste artigo e defendeu a primazia da cognição sobre a emoção.
Zajonc (1980,1984) refere vários estudos onde tenta demonstrar que um tipo
simples de emoção, como a preferência por um estímulo, pode ser formada
sem se verificar um processamento consciente do estímulo. Há vários tipos de
experiências, umas mais ao nível da percepção ouü^s mais ao nível da memória,
onde o efeito de preferência foi investigado.
Estudos deste tipo revelaram que as preferências podem ser formadas sem
que haja uma razão consciente, levando Zajonc (1980) a defender que o afecto
precede e ocorre independentemente da cognição e que portanto a emoção e a
cognição são funções separadas da mente humana. No entanto o facto
repetidamente comprovado de que o processamento emocional pode ocorrer
para além do estado consciente não prova, ao contrário de Zajonc, que o sistema
emocional é independente ou tem primazia sobre a cognição.
Caixa 6.2
i'-r'
Izard (1993) é também um defensor da lese de que o sistema emocional pode
funcionar independentemente de qualquer processo cognitivo, apesar de
reconhecer a interacção entre estes sistemas nas situações do dia a dia. Izard
(1993) propôs até que a emoção podia ser activada directamente a partir de
quatro tipos de processamento de informação seguintes: celular, orgânico,
biopsicológico e cognitivo. O processamento cognitivo era apenas um de entre
os vários acti vadores da emoção. Relativizar a cognição em termos humanos
parece-me um erro porque os factores genéticos e orgânicos são inconsequentes
e pouco específicos na determinação da diversidade dos comportamentos
emocionais. A subtileza destas distinções é enganadora, porque a avaliação
cognitiva da situação pode ser feita de forma quase instantânea, às vezes
correcta e outras vezes errada, mas capaz de produzir uma acção imediata de
defesa ou ataque numa situação de perigo. O episódio pessoal descrito na
Caixa 6.2 poderá ser esclarecedor em relação ao papel da componente cognitiva
ou avaliativa da emoção.
Pode suceder que a emoção à maneira de LeDoux (1996) possa ser desen-
cadeada através de um circuito centrado na amígdala, que evite o córtex e
prepare imediatamente o corpo para a fuga ou o ataque. Tudo estaria certo se
na concepção de Izard (1993) a activação celular, a activação orgânica e a
activação biopsicológica preparassem o corpo apenas para uma resposta, ou
de fuga ou de ataque. Estando o corpo preparado para duas respostas no
mínimo, fuga ou ataque, tem de haver uma avaliação cognitiva discriminante
da situação que envolva o córtex, porque programar o corpo para a fuga é
diferente de programá-lo para o ataque. A sobrevivência da espécie humana
ao longo do processo evolutivo não se verificou a partir de fugas inúteis ou de
ataques desnecessários, mas da avaliação correcta e o mais rápida possível da
situação ambiental. Ao contrário do que alguns teóricos defensores da
independência do sistema emocional pensam, o sistema cognitivo é capaz de
efectuar avaliações e tomar decisões correctas em fracções de segundo, dando
tempo suficiente ao corpo para programar a resposta adequada à situação.
Numa outra experiência, Wright e Bower, citado por Gilligan e Bower (1984,
p. 566), analisaram a influência do humor ou emoção na probabilidade de
ocorrência de acontecimentos futuros. Estes acontecimentos poderiam ser de
natureza pessoal ou internacional e de tipo positivo e afortunado ou de tipo
negativo e catastrófico. Acontecimentos pessoais positivos e negativos eram
do género seguinte: "nos próximos 3 anos vais passar umas férias na Europa"
i'-r'
e "nos próximos 5 anos vais estar envolvido num grave acidente de carro"; os
acontecimentos nacionais positivos e negativos eram do tipo: "nos próximos
10 anos vai haver uma cura para a maior parte dos cancros" e "nos próximos
10 anos vai desencadear-se uma guerra mundial".
6.7 Conclusão
As emoções são estados quentes e dão sabor à vida. São ainda estados quentes
e causam desordens, tragédias e angústias. Sem emoções as nossas reacções
parecem ficar "desencorpadas" na expressão de W. James. As emoções são
sinais fortes do modo como nos sentimos e da disposição provável de encarar
uma determinada situação. Têm uma função adaptativa e de ajustamento às
situações. São formas rápidas de reacção a acontecimentos inesperados e
i'-r'
envolvem ainda uma avaliação da situação que se revela sob formas expressivas
bastante variadas. As emoções enviesam a nossa maneira de ver o mundo,
dando-lhe um aspecto agradável, harmonioso e paradisíaco quando estamos
satisfeitos e felizes ou um aspecto desagradável, caótico e trágico quando
estamos tristes e deprimidos. Mas sem emoções como podenamos viver e
sobreviver?
i'-r'
7. Personalidade
Muitos de nós fomos colegas ou alunos de pessoas que deixamos de encontrar
durante muito tempo. Decorridos uma ou duas dezenas de anos, se por acaso
voltamos a revê-las, pessoalmente ou através da televisão, acontece às vezes
dizer-se: "É o mesmo fulano! Quando o conheci, já pensava assim". Isto pode
ser nuns casos um elogio, noutros uma ofensa, mas a ideia de que as principais
características das pessoas, positivas ou negativas, se mantêm estáveis ao longo
do tempo é uma crença bastante arreigada. Mas pode ser falsa. A simpatia das
pessoas, enquanto característica da personalidade, depende muito das ocasiões.
Muitos pais queixam-.se de que os filhos são mais simpáticos fora do que
dentro de casa, com os amigos do que com os irmãos. Outras características
como a honestidade, a estabilidade emocional e a responsabilidade variam ao
longo da vida, tomando imprevisível o comportamento humano.
Uma teoria da personalidade deve tentar explicar porque é que uma pessoa é
única, porque é diferente, de que modo é semelhante a outras, em que
circunstâncias o comportamento é ou não estável. A resposta a estas questões
i'-r'
é dada de modo diferente e apenas parcialmente pelas várias teorias de
personalidade.
i'-r'
7.1.1.1 Freud
i'-r'
Na fase/í/7/c«, o pénis e o clitóris tomam-se as principais fontes de prazer da
criança. Os problemas nesta fase dão origem nos homens a uma personalidade
fálica,expressa pela frivolidade e auto-convencimento, enquanto que na mulher
origina uma luta pela supremacia sobre o homem.
Mecanismos de defesa
i'-r'
Racionalização: estratégia que leva uma pessoa a distorcer a realidade tentando
justificíir o que lhe aconteceu por meio de explicações que favorecem e protejem
uma imagem favorável de si própria.
Na 1° fase "oral-sen.sorial", ocorre a primeira crise que tem a ver com "um
sentimento de confiança versus de.sconfiança". No primeiro ano de vida a
criança depende dos cuidados dos pais para obter alimento, vestuário,
protecção, contacto corporal e novos estímulos. Se a criança for bem cuidada
e as necessidades básicas satisfeitas, a criança desenvolve um sentimento básico
de confiança. Se for mal tratada ou cuidada de forma inconsistente, a criança
pode desenvolver .sentimentos de medo e desconfiança quer em relação a si
quer aos outros. Na fa.se "oral-sensorial", a crise envolve uma interacção com
a mãe entre dar e receber, entre "confiança versus desconfiança". Se a cri.se
for adequadamente resolvida, formam-se nesta fa.se os alicerces da confiança
básica e da atitude de optimismo para o futuro.
i'-r'
Quadro 7.1 - Aí oito fases de desenvolvimento psicossocial de E. Erikson.
com referência às crises específicas de cada fase e aos
comportamentos futuros resultantes da superação satisfatória
de cada crise.
Crise psicossocial
Fase e idade Resultado óptimo
um sentimento de (...) versus (...)
i'-r'
A teoria de Erikson é uma teoria optimista do poder do ego e da força adesiva
deste para unir as diferentes fases do desenvolvimento psíquico. É ainda a
primeira e principal teoria a considerar o ciclo global de desenvolvimento
humano desde o nascimento até à morte. É, no entanto, uma teoria bastante
pobre em termos de fundamentação empírica ao basear-se em observações
pes.soais de casos clínicos seguidos na terapia, em vez de se apoiar nas
características dominantes de uma amostra representativa em cada fase de
desenvolvimento humano.
A necessidade de um olhar positivo pode ser tão premente que pode levar a
asfixiar a necessidade de auto-actualização. Pode acontecer que uma pessoa
nem sequer se dê ao trabalho de explorar os .seus próprios interesses se desconfiar
que isso lhe pode causar a desaprovação dos outros. O ideal é obter um
equilíbrio entre a necessidade de aprovação dos outros, sentir-se seguro e obter
um olhar positivo,ca necessidade de auto-actualização.
i'-r'
Rogers desenvolveu ainda dois outros conceitos importantes: O auio-conceito
e o eu ideal. O auto-conceito refere-se ao eu tal como é actualmente percebido.
O eu ideal representa os projectos e objectivos pessoais, tudo o que uma pessoa
deseja vir a ser para funcionar no máximo das suas capacidades. A distância
entre o auto-conceito e o eu ideal seria um índice do estado de felicidade
maior ou menor da pes.soa. Quanto menor for a distância, mais feliz seria a
pessoa.
i'-r'
optimista sobre a natureza humana, considerada basicamente positiva e boa.
É no entanto difícil ter empatia e um olhar positivo incondicional por um
homicida e torturador de crianças, por muito profissional que o terapeuta .seja.
Os apoiantes de Rogers alegam que o principal objectivo das teorias humanistas
é perceber e captar a essência da acção humana, que dificilmente será conse-
guida através dos métodos empíricos convencionais.
Uma teoria dos traços tem por objectivo detemiinar o perfil ou a matriz dos
traços característicos de uma pessoa, o que a diferencia de outra e o que a
torna única, A personalidade seria constituída por um conjunto de traços que
caracterizaria o comportamento geral das pessoas. Em geral um traço é um
nome que descreve um padrão ou conjunto de comportamentos. Mais
especificamente um traço é definido como um modo característico da pessoa
pensar, sentir, reagir e de se comportar. É uma disposição relativamente estável
ao longo do tempo. Uma pessoa pode ter o traço dominante de ansiedade,
outra o da extroversão e outra ainda estes mesmos miços em graus intemiédios.
Uma teoria de traços parte do pressuposto de que a personalidade reside na
pessoa e que esta é responsável (ou a causa) pela consistência do compor-
tamento nas diversas situações. É uma perspectiva que centraliza as causas do
comportamento na personalidade.
i'-r'
As teorias iniciais de traços de personalidade eram constituídas por listas de
adjectivos e pouco mais, sendo a personalidade defmida pela sua enumeração
e frequência. Um dos primeiros proponentes da teoria dos traços foi Gordon
Allport (1937) que considerou o traço como a unidade básica da personalidade.
Para Allport , um u-aço era uma disposição geral da personalidade que contribuía
para as regularidades do comportamento da pessoa em diferentes alturas e
situações. Além de Allport, os grandes defensores da teoria dos traços foram
Hans Ey.senck e Raymond Cattell, que usaram a análi.se factorial para
determinar as dimensões subjacentes da personalidade e cuja descrição faremos
a seguir. A teoria dos traços dominou os estudos da personalidade até aos
finais da década de 60, foi fortemente contestada na década de 70, reaparecendo
depois, apoiada em estudos melhor fundamentados.
i'-r'
Instivel
rabugento irascível
ansioso agitado
rígido agressivo
sóbrio excitável
pessimista volúvel
reservado impulsivo
insociável optimista
pacato /mt1rmci)lia> riifiilcít \ activo
Introvertido Extrovertido
i fltuttuitico
passivo * sociável
cuidadoso sai muito
ponderado loquaz
tranquilo responsivo
controlado bonacheirão
leal animado
> regular autónomo
câlmo dirigente
Estável
i'-r'
1 idade, mas enquadra-se numa teoria geral de traços que procura descrever a
personalidade de forma quantitativa a partir dos dados de diversas escalas.
i'-r'
Segundo Skinner (1953), uma pessoa pode ser sociável quando se encontra
na situação de um grupo de amigos e pouco ou nada sociável quando se
encontra numa situação familiar. Ou ainda "uma pessoa pode ser ao Domingo
um crente piedoso e participativo nas cerimónias de culto da sua religião e à
Segunda-feira um profissional agressivo e sem escrúpulos" (o. cit. p. 286).
Atribuir as causas do comportamento à personalidade não faz sentido, até
porque o conceito de personalidade não passa de uma "ficção explicativa".
Não faz sentido dizer que uma pessoa é ou não sociável, é ou não piedosa, até
porque ser sociável ou piedoso depende da situação em que se encontra e da
natureza do reforço presente (e.g., Skinner, 1987).
i'-r'
Caixa 7.1
i'-r'
do comportamento humano é devido à consistência dos traços de personalidade
e quanto é devido à influência do meio. A resposta ainda hoje não é fácil de
dar, mas muitos investigadores, incluindo Mischel nos anos mais recentes (e.g.,
Mischel, 1993), propuseram uma posição intermédia, ou interaccionista, que
se descreve a seguir.
i'-r'
o interaccionismo descobriu ainda que há pessoas mais receptivas a agir de
acordo com disposições pessoais (traços), enquanto ouü-as são mais propensas
a agir de acordo com os imperativos da situação. As pessoas mais do tipo
disposicional revelam consistência de comportamento ao longo do tempo e
através das simações (por ex., honestidade e altmísmo), enquanto que as pessoas
mais situacionistas revelam menor consistência de comportamento em
circunstâncias idênticas.
i'-r'
o interaccionismo descobriu ainda que há pessoas mais receptivas a agir de
acordo com disposições pessoais (traços), enquanto outras são mais propensas
a agir de acordo com os imperativos da situação. As pessoas mais do tipo
disposicional revelam consistência de comportamento ao longo do tempo e
através das simações (por ex., honestidade e altruísmo), enquanto que as pessoas
mais situacionistas revelam menor consistência de comportamento em
circunstâncias idênticas.
i'-r'
acordo substancial no que respeita à existência de pelo menos dois traços ou
factores principais: extroversão-introversão e neuroticismo-estabilidade
emocional (ou ansiedade), assim como a vantagem de se examinar melhor a
interacção entre traços e situações no comportamento das pessoas.
i'-r'
Figura 12 - Figuras semelhantes às gravuras usadas no teste projectivo de
Rorschach (a) e no teste TAT de Murray (b).
O TAT é constituído por 31 figuras (uma delas em branco) e foi publicado por
Murray em 1938 (e.g.. Silva, 1985). Veja-se uma figura parecida com as usadas
no teste na Figura 7.2b. Algumas das figuras são aplicadas especificamente a
crianças, outras a homens ou mulheres. Em geral, o examinador usa apenas
um conjunto de 10 figuras. As figuras retratam cenas ambíguas (por ex., um
rapaz a olhar para um violino em cima da mesa) e a tarefa do sujeito é descrever
uma história que inclua os antecedentes e as consequências da situação
actualmente representada pela figura. Através de uma análise detalhada e
complexados temas das histórias narradas é possível obter informações sobre
as necessidades de afiliação, relacionamento social, rejeição, agressividade,
domínio e motivação para a realização.
i'-r'
O MMPI-2 (Inventário multifásico de personalidade de Minnesota) é um
inventário de auto-avaliação constituído por 567 itens ou perguntas que formam
10 escalas. A uma pergunta (por ex., Nunca fiz nada de perigoso pelo prazer
que isso me deu), o sujeito responde verdade, falso ou não sei. Ao contrário
do Inventário 16PF de Cattell, cujos itens foram agrupados por factores obtidos
por meio da aplicação da análise factorial, o processo de construção do MMPI
resultou da selecção de um conjunto de itens que se revelaram capazes de
discriminar entre amostras representativas da população normal ou com
problemas psicológicos, por exemplo, entre normais e esquizofrênicos.
Segundo uma revisão de Butcher e Rouse (1996), o MMPI é um dos métodos
de avaliação clínica da personalidade mais usados, com mais de metade (51 %)
dos estudos publicados no período de 1974 a 1994, seguido pelo Rorschach
com 22%, o TAT com 11%, o 16PF com 10% e vários ouü-os restantes
com 6%.
i'-r'
Caixa 7.2
i'-r'
'' -' > I, I yiitilíigiaawr ny^BWBWI
i'-r'
o facto dos gémeos MZs serem ou não criados juntos teve um efeito mínimo.
Isto significa que ser criado e educado pelos mesmos pais no mesmo ambiente
familiar não torna os irmãos mais parecidos em adultos do que se tivessem
sido criados separadamente por casais adoptivos no âmbito das medidas
examinadas. Judith Harris (1995) chegou a ponto de afirmar que se rodassem
os pais das crianças entre si, o efeito na personalidade adulta seria mínimo. É
importante sublinhar no entanto que o meio familiar e social dos participantes
neste estudo foi considerado médio e aceitável, um ambiente satisfatório de
afecto, cuidados e apoio saudável às crianças, não se verificando casos extremos
de abuso, grandes privações e maus tratos.
que está presente a nível cerebral. Esta explicação obteve apoio laboratorial
(e.g., Bullock e Gilliland. 1993). Alguns estudos de electroencefalografia
(EEG) indicaram que a actividade cerebral é maior nos sujeitos introvertidos
do que nos extrovertidos, embora nem todos os estudos realizados revelem de
forma nítida este padrão de diferenças.
7.4 Conclusão
i'-r'
7.7 Sugestões de leitura
i'-r'
. • .. . • • .. ' - ^
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