JOAO LUIZ 4

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Tribunal de Justiça

Gabinete Des. João Luiz Azevedo Lessa

Recurso em Sentido Estrito n. 0000143-97.2021.8.02.0041


Estelionato
Câmara Criminal
Relator:Des. João Luiz Azevedo Lessa
Revisor: Revisor do processo ''não informado''
Recorrente : Ministério Público.
Recorrido : Aminadab Santos de Lima.
Advogado : Paulo Vinícius Ferreira de Lima (OAB: 13675/AL).

PENAL. PROCESSO PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO.


ESTELIONATO MAJORADO. IRRESIGNAÇÃO DO MP NO
TOCANTE À DECISÃO QUE REVOGOU A PRISÃO
PREVENTIVA SEM FUNDAMENTAR EM QUALQUER FATO
NOVO APTO A ENSEJAR TAL REVOGAÇÃO. INEXISTÊNCIA
DE FATOS NOVOS APTOS A JUSTIFICAR O DECRETO
PRISIONAL. AUSÊNCIA DE CONTEMPORANEIDADE.
IMPOSSIBILIDADE DE DECRETAÇÃO DA CUSTÓDIA
CAUTELAR. RECURSO DESPROVIDO. DECISÃO UNÂNIME
I. Na hipótese, o Ministério Público interpôs recurso em face da
decisão que revogou a prisão preventiva do ora recorrido, sem
fundamentar em qualquer fato novo apto a ensejar o novo decreto
prisional.
II. Em seu decisum, o juiz singular arbitrou a fiança em favor do
paciente, aplicando-lhe medidas cautelares diversas da prisão. Ao
exercer o juízo de retratação, o julgador optou por manter a decisão
vergastada.
III. Não obstante o recorrido ter sido indiciado por supostas várias
práticas de estelionato, não havendo fatos novos que ensejem a
aplicação da medida extrema e excepcional, não há como acolher o
pleito recursal, até porque não se mostrou o descumprimento de
quaisquer medidas substitutivas da prisão.
IV. Recurso desprovido. Decisão unânime

Vistos, relatados e discutidos estes autos de recurso em sentido estrito de


nº 0000143-97.2021.8.02.0041, em que figuram, como recorrente, o Ministério Público
Estadual e, como recorrido, Aminadab Santos de Lima.

Pelo exposto acordam os desembargadores integrantes da Câmara


Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas, à unanimidade de votos, em
conhecer do presente recurso para, no mérito, negar-lhe provimento, nos termos

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do voto deste relator. Participaram deste julgamento os excelentíssimos senhores
desembargadores constantes na certidão de julgamento.

Maceió, 24 de maio de 2023.

Des. João Luiz Azevedo Lessa


Relator

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RELATÓRIO

Trata-se de recurso em sentido estrito interposto pelo Ministério Público,


em que Aminadab Santos de Lima figura como recorrido, contra decisão proferida pelo
MM Juízo da Vara de Único Ofício de Capela, que revogou a prisão preventiva do ora
recorrido, aplicando-se-lhe medidas cautelares diversas, previstas no art. 319 do Código
de Processo Penal (fls. 487/491).
Irresignado, o Ministério Público interpôs o presente recurso. Em suas
razões (fls. 517/522), requereu a reforma da decisão atacada para que fosse determinada
a custódia cautelar do acusado.
Ao fim, pugnou pelo restabelecimento da prisão cautelar do recorrido em
razão da sua necessidade para garantir a ordem pública.
Em contrarrazões de fls. 527/546, o recorrido postulou o improvimento do
recurso, a fim de que seja mantida a decisão recorrida.
Em decisão de fls. 548/549, o Juízo de Direito manteve a decisão
vergastada.
A Procuradoria Geral de Justiça, em parecer de fls. 554/557, pronunciou-se
pelo conhecimento e não provimento do recurso.
É o relatório, no seu essencial.
VOTO
O presente recurso foi interposto em face da decisão que indeferiu o
pedido de decretação da prisão preventiva do ora recorrido.
Em suas razões, o Órgão Ministerial argumentou que a decisão atacada
deveria ser reformada, uma vez que o magistrado revogou a prisão preventiva do
requerente sem fundamentar seu decisum em qualquer fato novo capaz de ensejar tal
revogação.
In casu, o cerne da questão consiste em avaliar se a prisão preventiva do
recorrido é realmente necessária ou se as medidas cautelares que lhe foram impostas
seriam suficientes.

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O pleito de restabelecimento da prisão dá-se com base na necessidade de
se garantir a ordem pública, em razão da reiteração delitiva, haja vista que, conforme
destacado pela autoridade policial, o representado possui, pelo menos, 09 ocorrências de
crime de estelionato, nas cidades alagoanas de Capela, Cajueiro, Anadia e Viçosa, além
de uma ameaça no município de Cajueiro, e uma de porte ilegal de arma de fogo em
Maceió/AL. Não bastasse, que ele foi denunciado e responde pelo crime de estelionato,
com mesmo modus operandi, desde o ano de 2018, na Comarca de Viçosa.
Pois bem. Acerca da matéria, convém salientar que a prisão de natureza
cautelar revela-se cabível somente quando, a par de indícios do cometimento do delito
(fumus commissi delicti), estiver concretamente comprovada a existência do risco da
soltura (periculum libertatis), nos termos do art. 312 do Código de Processo Penal.
Compulsando os autos, observa-se, na decisão que substituiu a prisão do
recorrido, que o magistrado a quo destacou (fls. 487/491 dos autos principais):

[...] 5. Em atenção ao requerimento de revogação da prisão


preventiva, com aplicação de medidas cautelares diversas, tendo em
vista o disposto no caput do art. 316 do CPP (“O juiz poderá, de
ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva s, no correr
da investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que
ela subsista, bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões
que a justifiquem.”), mesmo com o pequeno lapso entre a decisão de
decretação da prisão preventiva, assim como manutenção desta e tal
requerimento, é necessário o conhecimento do pedido para verificar
se há ou não “falta de motivo para que ela subsista”.
6. Assim sendo, ao analisar o conjunto dos autos, bem como a
manifestação de pp. 436/450, apesar da materialidade delitiva e
dos indícios de autoria em desfavor do réu, formadores do
pressuposto fumus comissi delicti, observo que há medidas
cautelares menos gravosas suficientes à garantia da ordem
pública, bem como à conveniência da instrução criminal. Nesse
contexto, vale lembrar que o §6º do CPP dispõe que “A prisão
preventiva somente será determinada quando nã for cabível a sua
substituição por outra medida cautelar, observado o art. 319
deste Código, e o não cabimento da substituição por outra medida
cautelar deverá ser justificado de forma fundamentada nos
elementos presentes do caso concreto, de forma
individualizada”".

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7. Isso porque a prisão cautelar constitui a última ratio do
processo penal, somente devendo ser adotada quando presentes
todos os requisitos legais, não havendo outra medida cautelar
que, no seu lugar, seja suficiente para assegurar o resultado útil a
processo, bem como resguardar a paz social.
8. Destaco, desta feita, a possibilidade de substituição da prisão
preventiva por medidas cautelares diversas, conforme previstas no
art. 319 do CPP, adequadas ao caso concreto, tais como
comparecimento periódico em juízo para informar e justificar as suas
atividades; proibição de manter contato com as supostas vítimas e
testemunhas do presente feito, sobretudo para resguardar a lisura e a
conveniência da instrução criminal; suspensão de atividade de
natureza econômica ou financeira, precisamente no que diz respeito a
empréstimos ou intermediação destes referentes e que envolvam
pessoas idosas, por haver justo receio de sua utilização para a prática
de infrações penais, medida essa que visa resguardar a ordem pública;
proibição de ausentar-se, por mais de 08 (oito) dias da Comarca em
que reside, sem autorização prévia do Juízo; bem como fiança.
9. O artigo 326 do CPP assevera que, para determinar o valor da
fiança, a autoridade terá em consideração a natureza da infração, as
condições pessoais de fortuna e vida pregressa do acusado, as
circunstâncias indicativas de sua periculosidade, bem como a
importância provável das custas do processo, até final
julgamento.[...]. (grifos aditados)
Não se pode perder de vista, outrossim, que o sistema processual
brasileiro prevê que a prisão cautelar deve ser utilizada como medida excepcional,
apenas sendo justificado o seu uso nos casos previstos no artigo 312 do CPP. É
imprescindível, ainda, que a constrição cautelar seja utilizada como ultima ratio, ou
seja, quando não couber nenhuma outra medida cautelar diversa da segregação.
Como se não bastasse, é válido ressaltar que a decisão que concedeu a
liberdade ao réu foi proferida em 04.11.2021 (fls. 19/22 dos autos principais) e que, não
obstante o paciente ter sido indiciado por supostas prática de estelionato várias vezes,
não há notícias ou fatos novos que apontem para a necessidade da medida extrema.
Isso implica dizer que, acaso fosse decretada a custódia preventiva do
acusado neste momento, tal decreto prisional não seria contemporâneo aos fatos
utilizados para justificá-lo, indo de encontro ao que preconiza o § 2º do art. 312 do CPP.
Logo, ao menos por ora, não há como acolher o pleito ministerial.

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Nesse diapasão, confira-se julgado desta Corte de Justiça:
PENAL. PROCESSO PENAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO.
RECURSO EM SENTIDO CONTRA O RELAXAMENTO DA
PENAL. PROCESSO PENAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO.
RECURSO EM SENTIDO CONTRA O RELAXAMENTO DA
PRISÃO PREVENTIVA. IRRESIGNAÇÃO DO ÓRGÃO
ACUSADOR. PLEITO DE RESTAURAÇÃO DA MEDIDA
CONSTRITIVA DA LIBERDADE. LAPSO TEMPORAL
PROLONGADO PARA DESIGNAÇÃO DA CONTINUAÇÃO DA
AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO. RECORRIDO NÃO CONTRIBUIU
COM A MOROSIDADE DA JUSTIÇA. ILEGALIDADE
EVIDENCIADA. DECISÃO MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO.
DECISÃO UNÂNIME. [...] 2 - [...] Não obstante a gravidade do
delito imputado ao recorrido, bem como o fato de o mesmo possuir
outro processo criminal em andamento - a prisão preventiva foi
relaxada desde de 12/11/2020, sem que haja, desde então, notícias ou
fatos novos que ensejem sua nova aplicação. 3 – Recurso conhecido e
negado provimento. Unânime. (Número do Processo:
0700086-42.2020.8.02.0051; Relator (a): Des. Washington Luiz D.
Freitas; Comarca: Foro de Rio Largo; Órgão julgador: Câmara
Criminal; Data do julgamento: 07/04/2021; Data de registro:
08/04/2021) (Destacado)

Diante do exposto, conheço do presente recurso para, no mérito,


negar-lhe provimento, mantendo incólume a decisão que concedeu a liberdade ao
recorrido.

É como voto.

Maceió, 24 de maio de 2023.

Des. João Luiz Azevedo Lessa


Relator

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