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1.

A uma religiosidade de superfície, menos atenta ao sentido íntimo das cerimônias do que ao colorido e à
pompa exterior, quase carnal em seu apego ao concreto (...); transigente e, por isso mesmo, pronta a acordos,
ninguém pediria, certamente, que se elevasse a produzir qualquer moral social poderosa. Religiosidade que se
perdia e se confundia num mundo sem forma e que, por isso mesmo, não tinha forças para lhe impor sua ordem.

Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil. Adaptado.

Tendo em vista estas reflexões de Sérgio Buarque de Holanda a respeito do sentido da religião na formação do
Brasil, responda ao que se pede.

a) Essas reflexões se aplicam à sociedade representada nas Memórias de um sargento de milícias, de Manuel
Antônio de Almeida? Justifique resumidamente.

b) Os juízos aqui expressos por Sérgio Buarque de Holanda encontram exemplificação em Memórias póstumas
de Brás Cubas, de Machado de Assis, especialmente na parte em que se narra o período de formação do menino
Brás Cubas? Justifique sucintamente.
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Respostas

a) Essas reflexões se aplicam plenamente ao universo criado em Memórias de um


Sargento de Milícias, em que se encontra as beatas que iam mais para fofocar do que
para rezar, o padre que foi pego com uma amante em plena luz do dia. A autoridade que
se submetia aos segredos de uma amante, o que acabou salvando a pele de Leonardo
Pataca que no final ainda acaba promovido. Tudo isso embalado em uma sociedade em
que se privilegiavam os contatos e os segredos para que a ordem fosse totalmente
alterada, a partir de conveniências.

b) A religiosidade apresentada por Brás Cubas também é desprovida da verdade religiosa,


aparecendo assim, totalmente superficial. Quando criança era impulsivo e cruel
frequentava a missa por causa da obrigação materna. Tinha um tio padre que mal sabia
dos sacramentos, apegado apenas à ritualística da religião, portanto, superficial.

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2. Responda ao que se pede.

a) Qual é a relação entre o “sistema de filosofia” do “Humanitismo”, tal como


figurado nas Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e as
correntes de pensamento filosófico e científico presentes no contexto histórico-
cultural em que essa obra foi escrita? Explique resumidamente.

b) De que maneira, em O cortiço, de Aluísio Azevedo, são encaradas as correntes de


pensamento filosófico e científico de grande prestígio na época em que o romance
foi escrito? Explique sucintamente.

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Respostas

a) O Humanitismo, sistema filosófico tão perfeito que nasceu para arruinar todo arcabouço teórico
da época, é uma crítica velada, sobretudo ao Positivismo de Comte, que resumia o mundo aos
fenômenos observáveis. Segundo Quincas Borba, a sobrevivência dos mais aptos, ditada pela
máxima a vida é luta, era a força propulsora para as guerras e para a fome, sempre convenientes
aos mais fortes e prejudicial aos mais fracos, uma crítica também ao evolucionismo de Darwin.

b) O Cortiço foi baseado principalmente nas ideias do determinismo, em que o homem é fruto do
meio, cuja máxima “inquestionável” perdurou até o século XX. No cortiço, toda a classe operária
era mostrada de modo a se render ao meio que o próprio meio proporcionava de miséria, de
promiscuidade, levando as personagens a adquirirem uma conformação quase animalesca
chamada de zoomorfismo. A visão darwinista da lei do mais forte também aparece na figura
autoritária e egoísta de João Romão, representante de uma burguesia cruel e tacanha capaz de
ganhar pela exploração sem dó nem piedade, levando-nos também as ideias marxistas do lucro e
da mais valia.
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3. Leia o texto.

(...) Muita gente o tinha odiado. E ele odiara a todos. Apanhara na polícia, um homem ria quando o
surravam. Para ele é este homem que corre em sua perseguição na figura dos guardas. Se o levarem, o
homem rirá de novo. Não o levarão. Vêm em seus calcanhares, mas não o levarão. Pensam que ele vai
parar junto ao grande elevador. Mas Sem-Pernas não para. Sobe para o pequeno muro, volve o rosto para
os guardas que ainda correm, ri com toda a força do seu ódio, cospe na cara de um que se aproxima
estendendo os braços, se atira de costas no espaço como se fosse um trapezista de circo.
A praça toda fica em suspenso por um momento. “Se jogou”, diz uma mulher, e desmaia. Sem-Pernas se
rebenta na montanha como um trapezista de circo que não tivesse alcançado o outro trapézio. O
cachorro late entre as grades do muro.

Jorge Amado, Capitães da Areia.

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Para responder ao que se pede, atente para as informações referentes à localização espacial
dessa cena, na qual se narram a perseguição e a morte de Sem-Pernas.

a) A cena se passa diante do conhecido Elevador Lacerda (foto acima), que vem a ser um dos
mais famosos “cartões-postais” de Salvador, Bahia. Qual é o efeito de sentido introduzido na cena
por essa característica da localização espacial?

b) Observe que o Elevador Lacerda, de uso público, situa-se no desnível brusco e pronunciado que,
em Salvador, separa a “Cidade Alta” (parte mais moderna da cidade, considerada seu centro
econômico) da “Cidade Baixa” (sobretudo portuária e popular). Que sentido essa característica do
espaço confere à cena?

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Respostas

a) Sem-Pernas, perseguido pela polícia, salta da Cidade Alta que sempre o


maltratara para cair na Cidade Baixa a que sempre pertencera. Desta forma, fica
evidente que o suicídio do personagem é um ato desesperado no sentido da
libertação de um sistema que sempre o oprimiu.

b) Situado no desnível brusco e pronunciado que, em Salvador, separa a Cidade Alta


da Cidade Baixa, o espaço representado pelo Elevador Lacerda simboliza o
antagonismo das classes sociais daquela cidade e, por extensão, de todo o Brasil.

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4. Leia estes dois excertos das obras abaixo e responda ao que se pede.

(...) Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o
ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como
envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma
declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena
de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão
extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.

Na ocasião em que Léonie partia pelo braço do amante, acompanhada até o portão por um séquito de lavadeiras, a Rita, no pátio,
beliscou a coxa de Jerônimo e soprou-lhe à meia voz:
– Não lhe caia o queixo! ...
O cavouqueiro teve um desdenhoso sacudir d’ombros.
– Aquela pra cá nem pintada!
E, para deixar bem patente as suas preferências, virou o pé do lado e bateu com o tamanco na canela da mulata.
– Olha o bruto! ... queixou-se esta, levando a mão ao lugar da pancada. Sempre há de mostrar que é galego!
Aluísio Azevedo, O cortiço.
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a) Embora os excertos pertençam a romances de diferentes estilos de época – um é romântico e
outro, naturalista –, é bastante visível que, neles, o modo de representar as relações de caráter
erótico apresenta várias semelhanças. Essa similaridade é sobretudo pontual, isto é, mais
concentrada nesses excertos, ou, ao contrário, ela continua a ocorrer, ao longo dos romances?
Explique resumidamente.

b) Em ambos os excertos, assim como no conjunto das obras a que pertencem, é notória a
predisposição a retratar as personagens de origem portuguesa de um modo bastante peculiar,
influenciado por uma determinada corrente de opinião, existente no contexto histórico-social dos
períodos em que as obras foram escritas. Identifique esse modo de representar tais personagens
e a corrente de opinião que o influencia. Explique sucintamente.

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Respostas

a) Os romances vinculados ao Naturalismo apresentam enredos cujos personagens cedem irremediavelmente ao


destino cego das ‘leis naturais’, assumindo a carnalidade do corpo no centro da narrativa. Assim, em “O cortiço”, a
ideia determinista de raça e do meio na construção do temperamento das personagens é exemplificada na atração
física de Jerônimo por Rita Baiana, e, na sequência, na degradação moral dos personagens. Já em “Memórias de um
sargento de
milícias”, a dinâmica da narrativa pretende revelar o cotidiano das classes médio-baixas da cidade do Rio de Janeiro
com bastante humor e que envolvem situações tidas apenas como amorais. Ou seja, embora ambos os romances
apresentem cenas eróticas, mas a temática é tratada de forma diferente pelos seus autores.

b) O enredo de “Memórias de um sargento de milícias” decorre na época de D. João VI, quando a corte portuguesa se
mudou para o Rio de Janeiro fugindo de Napoleão Bonaparte, o que transformou o cotidiano dos habitantes do Rio. A
chegada do Rei com a aristocracia portuguesa e os funcionários públicos, com toda a sua formalidade, contrastava
com a vida simples do povo carioca, com sua vida simples e a sua malandragem sadia. O romance não tece crítica
moral, apenas apresenta com muito humor o encontro dessas duas culturas tão diferentes e a estratégia de
sobrevivência das classes populares. Já em “O cortiço” o emigrante português é visto sob a ótica da exploração de
forma grosseira e animalesca, subordinado ao contexto cultural a que foi lançado. Trata-se de romance de cunho
social, cujo enredo se situa no Rio de Janeiro do Segundo Império e tem como tema a ambição e a exploração do
homem pelo próprio homem, em que o português explora o brasileiro, apresentado como ser inferior.
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5. Leia o poema e o excerto da crônica para responder à questão.

IV. Hotel Toffolo

E vieram dizer-nos que não havia jantar.


Como se não houvesse outras fomes
e outros alimentos.

Como se a cidade não nos servisse o seu pão


de nuvens.

Não, hoteleiro, nosso repasto é interior,


e só pretendemos a mesa.
Comeríamos a mesa, se no-lo ordenassem as Escrituras.
Tudo se come, tudo se comunica,
tudo, no coração, é ceia.

Carlos Drummond de Andrade. "Estampas de Vila Rica”, de Claro Enigma.

(...) A população de Ouro Preto nutre convicções e paixões, como qualquer outra, mas cultiva-as in petto [no íntimo], com impecável benignidade de espírito, sem o
menor azedume ou nojo pela paixão ou opinião contrária. Essas preferências diversas confraternizam, não raro, junto à mesa no Hotel Toffolo, e chega-se à
conclusão de que política não vale positivamente uma boa cerveja.

Carlos Drummond de Andrade. "Contemplação de Ouro Preto", de Passeios na Ilha.


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a) Que relação de sentido liga a imagem "pão de nuvens" (v. 4-5) ao verso
"tudo, no coração, é ceia" (v. 10)? Justifique.

b) As atitudes dos dois grupos à mesa do Hotel Toffolo, no poema e na


crônica, são equivalentes? Explique.

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Respostas

a) O termo “pão”, associado originalmente ao alimento básico que mata a fome, é


caracterizado na expressão por “de nuvens”, sugerindo algo imaterial e espiritual.
Assim, a imagem "pão de nuvens" (v. 4-5) e o verso "tudo, no coração, é ceia" (v. 10)
conjugam-se para construir o conceito de que a necessidade de alimento não está
ligada necessariamente a uma necessidade fisiológica, mas sim a uma carência de
ordem espiritual e afetiva.

b) Sim, as atitudes dos dois grupos à mesa do Hotel Toffolo, no poema e na crônica,
são equivalentes, pois, no texto, o autor afirma que a confraternização é amigável e
respeitosa, mesmo que entre eles haja opiniões políticas divergentes, mas não
impeditivas de usufruir do prazer do convívio, metaforizado na imagem da “boa
cerveja”.
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6. Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se me permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco
Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock’n’roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo pessoal
Adeus

Meu caro amigo. Chico Buarque e Francis Hime, 1976.


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a) Levando em conta o período histórico em que a letra da música foi
composta, justifique o uso do plural no terceiro verso.

b) A letra da canção apresenta características de qual gênero


discursivo? Aponte duas dessas características.

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Respostas

a) Na expressão “se me permitem”, a terceira pessoa do plural sugere a presença


de censores que, na época do regime ditatorial brasileiro, limitava a liberdade de
expressão e poderia, assim, inviabilizar o envio de notícias para fora do país.

b) A letra da canção apresenta características do gênero epistolar, pois apresenta


receptor representado pelo vocativo “meu caro amigo” e pelo pronome “lhe”,
emissor, “eu”, assim como término convencional de despedida nos últimos
versos: “A Marieta manda um beijo para os seus/ Um beijo na família, na Cecília e
nas crianças/ O Francis aproveita pra também mandar lembranças/A todo
pessoal/Adeus”.

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