A Integração Da Artigo 2024

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A INTEGRAÇÃO DA HISTÓRIA E FILOSOFIA DA CIÊNCIA NO ENSINO DE


FÍSICA: UMA ANÁLISE POR MEIO DA REVISÃO SISTEMÁTICA

Érika de Menezes Florêncio


Ricardo Rodrigues da Silva
Larissa Fernanda Santos Oliveira dos Reis

RESUMO: Neste artigo, conduzimos uma revisão sistemática realizada no Portal de Periódicos
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), com o intuito de
analisar os métodos e recursos didáticos utilizados na integração da História e Filosofia da
Ciência no ensino de Física, especialmente em aulas do ensino médio. Iniciamos com um
levantamento bibliográfico, seguido de uma seleção criteriosa de trabalhos científicos,
resultando na organização sistematizada dos materiais escolhidos. A pergunta norteadora foi:
Qual é a dinâmica e quais são as práticas pedagógicas adotadas na integração da História e
Filosofia da Ciência na disciplina de Física no contexto escolar do ensino médio? O objetivo
geral deste estudo é analisar as produções científicas dos últimos dez anos relacionadas aos
impactos decorrentes da integração da História e Filosofia da Ciência (HFC), utilizando a
revisão sistemática como metodologia. Para tanto, foram estabelecidos os seguintes objetivos
específicos: identificar material de apoio para desenvolver aulas com a utilização da HFC,
analisar as situações vivenciadas pelos professores, analisar as propostas e as práticas
pedagógicas. A análise detalhada dos artigos revelou conclusões relevantes dos autores,
evidenciando que a incorporação da História e Filosofia da Ciência no ensino de Física no
ensino médio não apenas pode contribuir para o desenvolvimento do pensamento crítico dos
alunos, mas também estimular uma participação mais ativa em sala de aula. Isso é alcançado
por meio da utilização de uma variedade de recursos didáticos, enfatizando a importância de
práticas pedagógicas diversificadas para fortalecer o processo de aprendizagem nessa área.

Palavras-chave: história e filosofia da ciência; revisão sistemática; ensino de física; ensino


médio.

ABSTRACT: In this article, we conducted a systematic review carried out on the Periodical
Portal of the Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel (CAPES), with
the aim of analyzing the methods and teaching resources used in the integration of History and
Philosophy of Science in the teaching of Physics, especially in high school classes. We begin
with a bibliographical survey, followed by a careful selection of scientific works, resulting in
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the systematic organization of the chosen materials. The guiding question was: What are the
dynamics and what are the pedagogical practices adopted in the integration of History and
Philosophy of Science into the Physics subject in the high school context? The general objective
of this study is to analyze the scientific productions of the last ten years related to the impacts
arising from the integration of History and Philosophy of Science (HFC), using systematic
review as a methodology. To this end, the following specific objectives were established:
identify support material to develop classes using HFC, analyze the situations experienced by
teachers, analyze proposals and pedagogical practices. The detailed analysis of the articles
revealed relevant conclusions from the authors, showing that the incorporation of History and
Philosophy of Science in the teaching of Physics in high school can not only contribute to the
development of students' critical thinking, but also stimulate more active participation in the
classroom. of class. This is achieved through the use of a variety of teaching resources,
emphasizing the importance of diverse pedagogical practices to strengthen the learning process
in this area.

Keywords: history and philosophy of Science; systematic review; physics teaching; high
school.

1 INTRODUÇÃO

A discussão sobre a incorporação da História e Filosofia da Ciência (HFC) como prática


pedagógica no contexto da disciplina de Física tem ganhado destaque e evoluído ao longo de
décadas. No entanto, como é comum em qualquer abordagem educacional, essa temática
enfrenta desafios quando colocada em prática no ambiente de sala de aula. Ao longo dos anos,
vários obstáculos têm sido gradualmente superados, desde a falta de materiais adequados até a
dificuldade em encontrar recursos didáticos que se alinhem com a proposta, através de trabalhos
e textos disponíveis em sites, bem como traduções de livros de fontes primárias (Silva, 2010,
p. 15).
Entretanto, os benefícios decorrentes dessa implementação não podem ser ignorados. A
possibilidade de contribuir para que o aluno possa aprimorar o seu pensamento crítico, sendo
capaz de reconhecer a relevância da ciência em sua vida cotidiana, é um resultado valioso
(Valadares, 2012, p. 85). Ao compreender que os pensamentos de alguns cientistas em alguma
década já se assemelharam aos do senso comum, a ciência torna-se mais acessível e parte de
uma construção humana, possibilitando uma leitura do mundo atual e potencializando a
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evolução conceitual-epistemológica de suas concepções, como ressaltado por Raposo (2014).


Como educadores, enfrentamos o desafio constante de explorar diversas abordagens para tornar
os conteúdos físicos mais cativantes, garantindo que as aulas sejam envolventes tanto para os
alunos quanto para os docentes. Essa busca por recursos didáticos diversificados no processo
educacional é fundamental para criar um ambiente de aprendizado estimulante. A partir dessas
evidencias, surge o questionamento: Qual a dinâmica e quais são as práticas pedagógicas
adotadas no processo de integração da História e Filosofia da Ciência na disciplina de Física no
contexto escolar a nível médio?
Diante disso, este artigo se propõe a analisar as produções cientificas referentes aos
impactos decorrentes da integração da HFC nos últimos dez anos, com o propósito de
compreender as situações vivenciadas pelos professores, as propostas e as práticas pedagógicas,
por meio da análise dos materiais selecionados ao longo do desenvolvimento deste estudo, e
assim, identificar materiais de apoio para o desenvolvimento de aulas com a utilização da HFC.
Para atingir esse objetivo, iniciaremos com uma revisão bibliográfica criteriosa para selecionar
os artigos pertinentes. Em seguida, submeteremos esses textos a etapas previamente delimitadas
e analisadas de maneira sistemática.

2 PERSPECTIVAS, DESAFIOS E CONTRIBUIÇÕES DA HISTÓRIA E FILOSOFIA


DA CIÊNCIA NO ENSINO DE FÍSICA

A compreensão do mundo em que vivemos é fundamental, e a Física desempenha um


papel essencial nesse processo. No entanto, para muitos estudantes, essa disciplina é percebida
como complexa e difícil de assimilar. Conforme observado por Batista (2004), na área da Física,
enfrentamos desafios significativos relacionados à compreensão e assimilação de conceitos.
Essas complexidades frequentemente exigem que os alunos se envolvam em abstrações,
interpretações e reflexões. Diante desses obstáculos, torna-se crucial adotar práticas
pedagógicas diversificadas para facilitar a compreensão dos conceitos. A HFC emerge como
uma área de pesquisa valiosa nesse processo de construção do conhecimento. Assim como é
destacado por Ribeiro e Moreira (2018, p. 2)
a inserção da História e Filosofia da Ciência (HFC) não é recente no ensino
de ciências, pelo menos desde a década de 1980 vem crescendo o número de
pesquisadores que apontam para os resultados positivos que podem ser
alcançados pela introdução de questões, sócio-históricas e filosóficas, no
contexto do ensino de ciências. Esses pesquisadores reúnem esforços para
aproximar os alunos do conhecimento científico da forma como é produzido,
por intermédio da natureza da ciência, de sua epistemologia, de seu
desenvolvimento e muitas outras práticas.
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Assim, conforme destacado por Silva (2010), a exploração da HFC revela não apenas
os triunfos, mas também os equívocos presentes na trajetória científica. Além disso, expõe os
problemas, desafios e dilemas enfrentados pelos cientistas na formulação de teorias. Com isso,
podemos notar uma ciência que contém falhas e erros, evidenciando que a construção do
conhecimento científico é um processo contínuo, distante de ser estabelecido abruptamente da
noite para o dia.
Conforme observado por Matthews (1995), a inserção da HFC pode proporcionar uma
visão da ciência como uma disciplina mais humana, conectando-a aos interesses pessoais,
éticos, culturais e políticos da comunidade. A análise crítica da HFC, segundo o autor,
proporciona uma compreensão mais profunda das complexidades envolvidas na atividade
científica, fomentando uma abordagem mais reflexiva e contextualizada. Matthews (1995)
sugere que essa abordagem contribui para superar o denominado “mar de falta de significado”
frequentemente atribuído aos alunos nas salas de aula de ciências, onde fórmulas e equações
são recitadas sem que muitos compreendam seu real significado.
A discussão contínua sobre a integração da HFC no ensino de Ciências, especialmente
na disciplina de Física, perdura ao longo de muitos anos, como destacado por Peduzzi, Martins
e Ferreira (2012), há pelo menos algumas décadas, argumenta-se favoravelmente à ideia de que
o ensino de Ciências, e mais especificamente o de Física, seria enriquecido pela incorporação
de elementos da História e Filosofia, visando a partir dessa abordagem aprimorar a experiência
educacional. Alinhado a esse contexto, Pontes et al., (2019) enfatizam que a inclusão da HFC
nas aulas de Física não apenas torna as aulas mais reflexivas, mas também contribui para uma
melhor compreensão das equações, fórmulas e, de modo geral, para o conteúdo científico.
Essa temática vem ganhando destaque e espaço em diversos eventos, debates e no
âmbito de estudos e pesquisas científicas. Sua relevância também é evidente em documentos
educacionais, que desempenham o papel de orientações pedagógicas. Desde 1999, os
Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNs) têm recomendado a inclusão
da HFC no ensino de Física. Essa orientação foi reiterada em 2002, nas Orientações
Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
(PCN+), e novamente em 2012, por meio das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
Médio (Januário; Massoni, 2021). No entanto, como destacado por Guarnieri et al., (2021),
recentemente a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) apresenta uma aparente contradição
ao valorizar conhecimentos historicamente construídos em suas competências gerais, enquanto,
ao logo do texto a HFC é compreendida como um conceito a ser desenvolvida, tornando-se algo
pontual. Essa imprecisão é notável e levanta a questão da tentativa de inserção, que, embora
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existente, parece ser tímida e carente de aprofundamento, o que se configura como um ponto
suscetível a críticas.
É evidente que a discussão sobre esse tema tem ganhado cada vez mais destaque, e os
educadores estão empenhados em compreender e incorporar essa prática didática em suas salas
de aula. Nesse sentido, torna-se crucial o acesso a fontes confiáveis para embasar o
desenvolvimento das aulas, bem como o entendimento das propostas e aplicações de sequências
didáticas, visando conhecer e aprimorar constantemente as práticas educacionais. Diante desse
cenário, este trabalho propõe a realização de uma revisão sistemática, com o intuito de
contribuir para a integração desse tema em sala de aula, proporcionando aos educadores uma
análise dos impactos referentes a essa inserção, através das produções cientificas, trazendo
informações relevantes para o desenvolvimento de aulas e para pesquisas acadêmicas.

3 CAMINHO METODOLÓGICO

Para o desenvolvimento deste trabalho, optamos por realizar uma pesquisa bibliográfica
utilizando a estratégia da Revisão Sistemática de literatura. Essa escolha se baseia na afirmação
de Lima e Mioto (2007, p. 38), que destacam a importância de um conjunto ordenado de
procedimentos de busca por soluções que estejam em sintonia com o objeto de estudo, evitando
abordagens aleatórias. A Revisão Sistemática de literatura, de acordo com Galvão e Ricarte
(2019, p. 58)
É uma modalidade de pesquisa, que segue protocolos específicos, e que busca
entender e dar alguma logicidade a um grande corpus documental,
especialmente, verificando o que funciona e o que não funciona num dado
contexto. Está focada no seu caráter de reprodutibilidade por outros
pesquisadores, apresentando de forma explícita as bases de dados
bibliográficos que foram consultadas, as estratégias de busca empregadas em
cada base, o processo de seleção dos artigos científicos, os critérios de
inclusão e exclusão dos artigos e o processo de análise de cada artigo.

Assim essa metodologia favorece um embasamento sólido e confiável para a pesquisa,


contribuindo para a validação dos resultados obtidos. Ao optarmos por esta abordagem,
buscamos conduzir o trabalho seguindo critérios rigorosos, desde a seleção dos estudos até a
avaliação da qualidade das evidências encontradas. Os procedimentos de busca adotados são
cuidadosamente definidos, visando encontrar as fontes de informação mais relevantes e
confiáveis relacionadas ao tema em estudo.
Para coleta de dados, foi utilizado o Portal de Periódicos da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Essa plataforma é reconhecida e
utilizada para fins de pesquisas acadêmicas, contando com uma vasta gama de periódicos
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científicos de diversas áreas do conhecimento. Sua escolha como fonte de dados deve-se à sua
confiabilidade e segurança, garantindo a qualidade das informações obtidas.
A pesquisa foi delimitada a artigos publicados entre 2013 e 2023, restringindo-a aos
últimos dez anos para garantir a atualidade e relevância dos dados. A revisão bibliográfica foi
realizada no período de 28 de junho a 30 de setembro do ano de 2023. Para acessar o conteúdo
completo dos periódicos, utilizamos a autenticação por meio do ícone "Acesso CAFe". Em
seguida, na opção "Busca Avançada", incluímos os descritores "História e Filosofia da Ciência"
e Física, especificando o tipo de material desejado, aceitando qualquer idioma e definindo a
data de publicação. Esses passos resultaram em 69 artigos, onde obtivemos um total de 19
periódicos distintos, uma vez que foram pesquisadas em uma única base de dados. Após a
remoção de duplicatas, restaram 63 artigos, os quais foram submetidos às etapas subsequentes
de seleção.
Para a primeira etapa da seleção, utilizamos uma planilha para registrar as informações
relevantes de cada artigo. Essa planilha consiste em campos como: número, autores, ano de
publicação, título, periódico, entre outras informações importantes. A fim de assegurar um
processo de seleção objetiva e coerente, definimos critérios pré-estabelecidos para a inclusão
ou exclusão dos artigos na nossa revisão. Inicialmente nossos critérios definiram-se em:
1. Uma sequência didática: Priorizando artigos que apresentam uma sequência didática
estruturada, que forneçam um conjunto de atividades e estratégias de ensino-aprendizagem
relacionadas ao ensino de Física a partir da HFC.
2. Aplicabilidade em sala de aula: Artigos que destacam a aplicação prática das sequências
didáticas em sala de aula, com foco em atividades realizadas com alunos, relatos de
experiências e resultados obtidos.
3. Não envolver a HFC no ensino de ciências: Nossa seleção se concentra em artigos que
abordam o ensino de HFC com a inclusão explícita no ensino de Física.
Durante o processo de seleção, foi realizada uma leitura minuciosa dos resumos de cada
artigo. Em seguida, de acordo com os critérios mencionados, foi feita uma pré-seleção,
resultando em vinte e dois artigos selecionados para a próxima etapa. Justificamos a inclusão
ou exclusão de cada trabalho com base em sua conformidade com os critérios estabelecidos.
No decorrer da seleção, direcionamos nossa atenção para uma modalidade específica de
ensino, mais precisamente o ensino médio, estabelecendo-o como um novo critério para
inclusão e exclusão dos artigos. Ao seguir rigorosamente esse procedimento, eliminamos dez
artigos que focalizavam o ensino fundamental e/ou as licenciaturas em Física, resultando em
uma seleção final de doze trabalhos para análise.
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Na última fase deste estudo, realizamos a etapa de seleção final, conduzindo uma leitura
mais aprofundada de cada artigo. Esse processo foi orientado pelos critérios previamente
estabelecidos para nossa revisão, visando identificar e selecionar os trabalhos mais alinhados
às nossas necessidades de pesquisa. Durante a análise minuciosa dos artigos, tornou-se evidente
a presença de trabalhos que incorporavam um resgate histórico-filosófico em seu
desenvolvimento, servindo como material de apoio. Além disso, observamos artigos que
apresentavam apenas propostas de sequências didáticas sem aplicação prática em sala de aula,
enquadrando-se como propostas didáticas.
Esses critérios adicionais visam aprofundar nossa compreensão e seleção, garantindo
que os artigos escolhidos não apenas atendam aos requisitos iniciais, mas também enriqueçam
a pesquisa com contribuições específicas para a discussão teórica, propostas didáticas e
experiências práticas em sala de aula.
Na etapa final, ao realizar uma leitura minuciosa de cada artigo, categorizamos os
trabalhos em três áreas distintas, como previamente destacado. No Quadro 1, disponibilizamos
os títulos das obras selecionadas, os nomes dos autores, o ano de publicação, o periódico ao
qual foram submetidos e suas respectivas categorias.
Quadro 1: Categorização dos trabalhos a serem analisados

Título Autor Ano Periódico Categoria

Controvérsias Históricas em Torno à Ideia de Fiúza Aplicação de


2014 ENSAIO
Natureza: Atividades com Imagens Guerra Sequência Didática

O modelo atômico de Bohr e


Londero 2014 Góndola Propostas Didáticas
as abordagens para seu ensino na escola média

Visões de cientistas e atividade científica na


Fracisco Junior
obra Ponto de Impacto de Dan Brown: Discussões
Andrade 2015 CBEF
possibilidades de inserção de elementos de Teóricas
Mesquita
História e Filosofia das Ciências

Freitas
Fontes primárias no ensino de física:
Batista 2015 CBEF Propostas Didáticas
considerações e exemplos de propostas
Drummond

A origem do universo como tema para discutir Braga Aplicação de


2015 CBEF
a Natureza da Ciência no Ensino Médio Guttmann Sequência Didática

O estudo da espectroscopia no ensino médio


através de uma abordagem histórico- Silva Aplicação de
2015 CBEF
filosófica: possibilidade de interseção entre as Moraes Sequência Didática
disciplinas de Química e Física
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Os conceitos de espaço e de tempo como


protagonistas no ensino de Física: um relato
Reis Aplicação de
sobre 2016 CBEF
Reis Sequência Didática
uma sequência didática com abordagem
histórico-filosófica
Noções de alunos do Ensino Médio a
respeito da estrutura da matéria: investigação Costa Aplicação de
2017 REIEC
de uma abordagem histórico-didática para o Batista Sequência Didática
ensino de Física de Partículas

Elementos histórico-culturais para o ensino Alcantara Discussões


2017 CBEF
dos instrumentos ópticos Braga Teóricas

República das Letras, Academias e


Jardim Discussões
Sociedades Científicas no século XVIII: a 2017 CBEF
Guerra Teóricas
garrafa de Leiden e a ciência no ensino

Termodinâmica e Revolução Industrial:


Silva Discussões
Uma abordagem por meio da História e da 2021 HCEnsino
Errobidart Teóricas
Epistemologia da Ciência

Contextualizando Conteúdos
Científicos Fundamentais à Compreensão
Docente e Estudantil da Batista Discussões
2022 IENCI
Relação Terra-Universo Sob a Lente Peduzzi Teóricas
Epistemológica da Solução de problemas de
Larry Laudan
Fonte: Elaborado pela autora.

Após a categorização, tornou-se evidente que a maioria dos textos estavam focados na
aplicação de sequências didáticas no ensino médio e em discussões teóricas, enquanto as
propostas didáticas apareceram em menor quantidade. A definição dessas categorias derivou de
uma análise minuciosa dos artigos, destacando a necessidade de tais distinções para uma
compreensão mais clara dos conteúdos.

4 UNIDADES DE ANÁLISES

A seguir, detalharemos cada tópico, ressaltando os materiais que se enquadram em


nossos critérios estabelecidos e proporcionando uma visão aprofundada das contribuições
encontradas em cada categoria.

4.1 Discussões Teóricas


Numerosos estudos na área de HFC no ensino de Física destacam com frequência os
desafios enfrentados ao incorporar essa temática nas salas de aula. Entre essas dificuldades,
conforme destacado por diversos pesquisadores, incluindo Martins (2007), a carência de
material didático adequado é evidente, assim como a limitada presença de conteúdo relacionado
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à HFC nos livros existentes. Hidalgo e Junior (2016) ressalta que essa escassez se estende à
pouca disponibilidade de textos que poderiam enriquecer o trabalho dos alunos em sala de aula,
além de observar que a falta de um espaço curricular suficiente dificulta a inclusão adequada
dos aspectos da HFC. Além disso, Silva (2010) destaca que os professores enfrentam desafios
adicionais ao tentar abordar essa temática, como a dificuldade em reconhecer textos históricos
confiáveis e a falta de orientação sobre onde procurar. Esse cenário resulta, muitas vezes, na
produção de textos históricos para a sala de aula que contêm erros, assim, comprometem a
qualidade e a precisão do material utilizado em sala. Diante disso, essas discussões
gradualmente vêm ganhando destaque ao longo dos anos e vem sendo explorada com apoio dos
estudos que se direcionam para essa área de pesquisa.
Assim, este trabalho tem como um dos objetivos específicos identificar e apresentar
artigos que possam ser utilizados como materiais de apoio no desenvolvimento de aulas ou
estudos. Ao analisar os trabalhos selecionados, identificamos um total de cinco artigos
(Andrade; Junior; Mesquita, 2015, Alcantara; Braga, 2017, Guerra; Jardim, 2017, Errobidart;
Silva, 2021, Batista; Peduzzi 2022.) que se alinham a esse tópico. Essas publicações destacam-
se por realizar uma investigação minuciosa, incorporando tanto fontes primárias quanto
secundárias em suas estruturas.
Partindo da análise do primeiro artigo, procederemos a um breve resumo das obras. No
estudo de Andrade, Junior e Mesquita (2015), há um foco na interseção entre literatura e HFC,
destacando a importância de considerar ideias sobre a ciência presentes em materiais de ampla
circulação, como livros, filmes e desenhos animados. Nesse contexto, este trabalho concentra-
se na análise de elementos relacionados à visão de cientistas e atividades científicas presentes
na obra "Ponto de Impacto" de Dan Brown.
A obra de Alcântara e Braga (2017) apresenta um resgate histórico com foco na criação
de conteúdos históricos, utilizando instrumentos ópticos e imagens ao longo da história. Este
artigo propõe contribuições para a construção de materiais didáticos de História, Filosofia e
Sociologia da Ciência (HFSC) a partir de uma perspectiva contextual. Para atingir esse objetivo,
foi empregada uma ferramenta amplamente utilizada em diversas áreas do conhecimento e que
se mostra particularmente eficaz em estudos de HFSC que adotam uma abordagem mais
abrangente: a Análise de Redes Sociais (ARS).
O estudo de Guerra e Jardim (2017) focaliza o processo de construção da Garrafa de
Leiden, destacando elementos desse episódio que podem ser integrados em atividades de sala
de aula, levando em consideração a complexidade envolvida na construção das ciências. Essa
pesquisa visa fornecer subsídios para a área de HFSC, bem como para a educação científica.
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Ao explorar as práticas científicas relacionadas à construção da Garrafa de Leiden, busca-se


identificar aspectos que poderiam ser incorporados ao ensino de Física.
Com o propósito de integrar a História da Ciência no Ensino Médio, considerando uma
perspectiva cultural do desenvolvimento científico, o trabalho de Errobidart e Silva (2021) visa
preencher a lacuna de materiais didáticos nesse contexto. Eles elaboraram um texto narrativo
histórico que explora a abordagem cultural no desenvolvimento da Termodinâmica. Essa
ferramenta educacional foi concebida com base na nova história da ciência, destacando, na
descrição de episódios históricos, os cenários políticos, econômicos, sociais e científicos
correspondentes.
O trabalho de Batista e Peduzzi (2022) realiza um resgate histórico de conteúdos
científicos, visando aprimorar a compreensão tanto de docentes quanto de estudantes. A
abordagem por eles adotada promove uma contextualização histórico-filosófica de elementos
científicos cruciais para entender a relação entre Terra e Universo. Essa escolha fundamenta-se
nos benefícios comprovados que a HFSC oferece à educação científica e tecnológica em todos
os níveis de ensino. Assim, busca-se enriquecer a experiência educacional ao integrar uma
perspectiva contextual e filosófica na abordagem de conceitos científicos fundamentais.
Dessa forma, os estudos apresentados evidenciam a preocupação em disponibilizar
materiais que sirvam como suporte para os docentes e auxiliem os estudantes na compreensão
e visualização da relação entre a HFC na disciplina de Física. Essa iniciativa visa preencher a
lacuna existente sobre esse tema nos livros didáticos, conforme destacado por Alcântara e Braga
(2017), Errobidart e Silva (2021) e Batista e Peduzzi (2022). Vale ressaltar que essa abordagem
não negligencia a importância da sociologia da ciência, que desempenha um papel fundamental
na discussão desse contexto, como evidenciado por Andrade, Francisco Junior e Mesquita
(2015), Alcântara e Braga (2017), Guerra e Jardim (2017) e Batista e Peduzzi (2022). Essas
contribuições conjuntas visam enriquecer o ensino de Física, proporcionando uma compreensão
mais ampla e contextualizada da disciplina.

4.2 Propostas didáticas


Para essa etapa, foram escolhidos dois artigos. A intenção ao apresentar as Propostas
Didáticas é contribuir e complementar o desenvolvimento de aulas, conforme discutido no
tópico de Discussões Teóricas. A seguir, será fornecido um resumo dos dois trabalhos
selecionados, cujos autores são Londero (2014) e Batista, Drummond e Freitas (2015).
O artigo de Londero (2014) oferece diversas abordagens para o ensino do conteúdo de
Física Moderna e Contemporânea no nível médio, destacando o modelo atômico de Bohr como
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exemplo. Entre as estratégias propostas, destaca-se a utilização de recursos variados, como a


incorporação da HFC por meio da leitura de textos de divulgação científica ou originais de
cientistas, a aplicação de analogias, a utilização de tiras em quadrinhos e simulações
computacionais. É importante ressaltar que o enfoque deste trabalho não se restringe
exclusivamente ao uso da HFC para o ensino de Física, mas sim traz uma contribuição relevante
nessa área. Além disso, as diversas abordagens e recursos apresentados são flexíveis e podem
ser adaptados para um uso envolvendo a temática da HFC, ampliando assim as possibilidades
de enriquecimento do aprendizado no contexto da Física.
O texto de Batista, Drummond e Freitas (2015) apresenta uma proposta didática que se
destaca por utilizar fontes primárias, um recurso ainda pouco explorado em iniciativas para a
incorporação da HFC no ensino de Física. A abordagem por eles adotada não se limita a uma
perspectiva meramente ilustrativa, mas adota uma abordagem investigativa, alinhada aos
pressupostos historiográficos da História da Ciência e aos objetivos didáticos contemporâneos.
A proposta envolve atividades investigativas e dialógicas, baseadas na interpretação diacrônica
de documentos, visando estimular a curiosidade e a imaginação dos alunos em relação ao
processo de construção do conhecimento científico. Essa abordagem proporciona elementos
que frequentemente estão ausentes nos livros didáticos. O artigo reflete sobre essas questões e
discute dois exemplos de possibilidades didáticas, utilizando fontes primárias relacionadas à
História do Vácuo e da Pressão Atmosférica. Essa iniciativa visa enriquecer o aprendizado ao
oferecer uma perspectiva mais contextualizada e investigativa no ensino de Física.
Contudo, as propostas didáticas apresentadas anteriormente não são apenas
suplementos, mas representam valiosas ferramentas para aqueles que buscam integrar o
conteúdo de HFC no ambiente escolar. Os artigos discutem os desafios enfrentados na
implementação dessa temática, destacando as complexidades envolvidas. Além disso, abordam
as contribuições que tais abordagens oferecem aos alunos, proporcionando uma compreensão
mais profunda e contextualizada do processo de construção do conhecimento científico.
A fim de analisar os impactos dessa integração durante as aulas de Física, é que surge
a necessidade de realizar uma análise das sequências didáticas que foram aplicadas em sala de
aula. Para assim, compreender como os pesquisadores dessa área têm implementado esse tema
no ambiente educacional, quais os recursos são adotados e assim compreender previamente os
impactos que essa integração provoca nas aulas.
12

4.3 Aplicação de sequências didáticas


Nessa fase, foram selecionados cinco artigos que apresentam em suas estruturas
aplicações de sequências didáticas com uma abordagem Histórico-Filosófica para a construção
de aulas de Física no Ensino Médio (Fiúzia; Guerra, 2014, Moraes; Silva, 2015, Braga;
Guttmann, 2015, Reis, J; Reis, U. 2016, Batista; Costa, 2017). Essas pesquisas direcionam seu
foco para essa área, explorando em suas estruturas as contribuições dessa aplicação em sala de
aula e as possibilidades alcançáveis. Tais possibilidades incluem a discussão de controvérsias
entre teorias passíveis de serem abordadas em sala de aula, bem como a oportunidade de
inserção da interdisciplinaridade no desenvolvimento dessas aulas (Fiúzia; Guerra, 2014,
Morais; Silva, 2015, Braga; Guttmann, 2015, Reis, J.; Reis, U. 2016). Isso, sem omitir as
contribuições para o desenvolvimento do pensamento crítico, com o propósito de não apenas
instruir os alunos sobre ciências, mas também incentivá-los a pensar na ciência (Braga; Guerra;
Reis, 2012), através das questões que podem ser levantadas durante as aulas.
Os autores mencionados e selecionados demonstram preocupação em incorporar esse
tema em sala de aula por meio de materiais educativos diversificados. No Quadro 2 estão
destacados os recursos didáticos utilizados por esses autores e suas respectivas quantidades.

Quadro 2: Recursos didáticos utilizados pelos autores

Recursos didáticos Quantidade


Apresentações 1
Animações computacionais 1
Charges 1
Experimentos 1
História em quadrinho 1
Imagens 2
Mapas conceituais 1
Pinturas 2
Simulações Virtuais 2
Vídeos 2
Total 14
Fonte: Elaborado pela autora.

Para proporcionar uma visão prévia sobre a aplicação desses recursos didáticos,
apresentaremos a seguir um resumo dos artigos selecionados que servirão como base para o
desenvolvimento deste tópico.
O estudo de Fiúzia e Guerra (2014) emprega uma abordagem qualitativa, focando na
evolução dos alunos ao longo das atividades propostas. As quatro atividades abordaram a
13

relação homem versus natureza. Inicialmente, a contextualização filosófica e experimento sobre


indução eletromagnética estabeleceram as bases do conhecimento. As duas atividades seguintes
visavam estimular reflexões sobre a relação homem-natureza, usando imagens históricas do Rio
de Janeiro do século XIX, resultando em cartazes e apresentações. Na terceira atividade, os
alunos, individualmente, respondem a sentenças através de fotografias, produção de uma
imagem do seu cotidiano e textos, expressando sua concordância ou discordância com a
sentença que lhe foi entregue. A quarta atividade, influenciada pela greve docente, relacionou
questões histórico-filosóficas com o experimento de Oersted e imagens históricas, destacando
o contexto em que foram produzidas. A análise revelou que a turma A, com ensino prévio
histórico-filosófico, demonstrou maior criticidade em relação aos discursos ambientais do que
a turma B. Ambas as turmas enfrentaram desafios ao lidar com imagens, sugerindo a
necessidade de aprimorar a abordagem visual no ensino de ciências. O estudo enfatiza a eficácia
das imagens históricas como ferramenta para integrar abordagens histórico-filosóficas e visuais
no ensino, proporcionando aos alunos uma compreensão mais profunda e contextualizada do
conteúdo.
O estudo de Braga e Guttmann (2015) emprega questionários introdutórios para
identificar as concepções iniciais dos alunos sobre a origem do universo. Além disso, propõe
debates em sala de aula, onde a partir das pesquisas realizadas os grupos divididos defendem
suas posições diante do assunto. O autor realiza um trabalho com o objetivo de promover uma
mudança nas concepções dos alunos, visando o desenvolvimento do senso crítico em relação
ao assunto. Outra estratégia utilizada foi um momento em que a turma, dividida em grupos,
deveria construir uma argumentação para apoiar o modelo entregue ao seu grupo. Foram
disponibilizados textos de apoio, e os alunos tiveram liberdade para pesquisar em outras fontes
e reforçar suas argumentações. Ao término do debate, uma discussão em formato de roda é
realizada, sem divisões em grupos, permitindo que cada aluno apresente suas dúvidas
construídas durante o trabalho. Ao final dessa experiência em sala de aula, os resultados foram
considerados animadores, onde de acordo com os autores Braga e Guttmann (2015, p. 456-457)
Um fato surpreendente aconteceu um mês após a aplicação do pós-teste. Foi
publicado no jornal do colégio, “Ó Mamute”, um texto intitulado “Perguntas
sem resposta?”. Ao ler o texto se reconhece que a discussão levantada nele se
embasava na discussão feita junto às turmas pesquisadas. Então, os
pesquisadores marcaram uma entrevista com as alunas que aviam escrito o
texto [...]. Elas confirmaram que este texto era sim fruto do trabalho. Elas
descreveram que o trabalho havia provocado nelas uma mudança muito
grande na forma como enxergavam o mundo e a ciência. Além disso, avisaram
que na edição seguinte do jornal já haveria um segundo texto, também baseado
nas reflexões que o trabalho provocava nelas.
14

Dessa maneira, este trabalho obteve resultados motivadores, influenciando


positivamente o desenvolvimento do pensamento crítico dos alunos. Além disso, destaca-se a
notável inspiração gerada na busca por novos conhecimentos e na motivação dos estudantes em
compartilhar esse saber com outras pessoas. Em todas as atividades, foi clara a preocupação em
tornar as aulas mais atrativas e diversificadas, visando promover, assim, o aprimoramento do
senso crítico dos estudantes e o interesse em torna da temática HFC durante as aulas de Física.
O artigo de Silva e Moraes (2015) adota uma abordagem estratégica durante todo o seu
desenvolvimento, realizando análises após cada aula para identificar ajustes e melhorias para
as próximas. Durante as aulas, utiliza apresentações de slides com mais imagens do que texto,
contextualizando socioculturalmente a Europa nos séculos XVII e XVIII para abordar temas
como óptica, observação dos corpos celestes e reações químicas. Outra estratégia consiste em
incentivar a participação dos alunos, permitindo que expressem seus pensamentos sobre os
temas discutidos em sala. O professor propõe questões, e um momento de destaque ocorre
quando um aluno questiona “é para responder pensando naquela época ou nos dias de hoje?”.
O autor expressou surpresa, pois acreditava que a concepção de interligação entre diversas áreas
de estudo e os contextos de seu desenvolvimento ainda não estaria totalmente desenvolvida
nessa fase. Além disso, são empregadas atividades experimentais, precedidas por um resgate
histórico relacionado ao experimento proposto. Há ainda debates sobre as concepções dos
alunos acerca dos conceitos de contínuo e descontínuo, utilizando imagens de obras
impressionistas para enriquecer as discussões.
Os autores Silva e Moraes (2015) desenvolvem kits experimentais de baixo custo e
fazem uso de kits próprios para práticas de laboratório, proporcionando aos alunos a
oportunidade de fotografar e observar os espectros das lâmpadas de vapor de sódio e mercúrio.
Durante essas práticas, os alunos demonstram interesse e apresentam diversos questionamentos.
Nas últimas aulas, a utilização de vídeos mantém a interação e desperta a curiosidade dos
alunos, destacando a importância de elementos visuais, como pinturas impressionistas e
imagens, para manter a atenção e fomentar discussões. Os autores destacam também a
necessidade de estratégias diferenciadas para trabalhar o contexto histórico em sala de aula.
Ao longo do artigo, os autores registram as concepções dos alunos diante de cada aula,
proporcionando uma visão abrangente do impacto das estratégias adotadas. Esse trabalho se
destaca por apresentar diversas metodologias, contribuindo para essa área. Ele se configura
como um material de apoio para outros professores, que podem se basear nesse texto para o
desenvolvimento de suas próprias aulas.
15

Reis, J. e Reis, U. (2016), conduziram uma pesquisa-ação, adotando um ciclo de


planejamento, implementação e avaliação em sua experiência em sala de aula. O objetivo
principal do trabalho era instigar uma reflexão sobre a ciência, o processo de produção do
conhecimento, além de evidenciar a natureza transitória e complexa dos conceitos de espaço e
tempo, ressaltando a inexistência de uma concepção única.
A proposta didática foi segmentada em cinco momentos distintos. O primeiro consistiu
em uma atividade de sondagem para compreender as concepções dos alunos sobre ciência,
espaço e tempo. No segundo momento, foi abordada a geometrização do espaço e tempo,
visando promover uma mudança no estilo de pensamento dos alunos em relação ao assunto. O
terceiro momento envolveu a discussão da controvérsia entre Newton e Leibniz sobre espaço e
tempo absoluto, destacando-se como uma das aulas mais instigantes, dada a constante
participação dos alunos com questionamentos e busca de esclarecimentos. O quarto momento
explorou a relatividade de Einstein, incluindo discussões sobre a relatividade restrita e geral.
Nessa etapa, o autor observou que um vídeo específico teve um resultado insatisfatório, pois,
mesmo despertando atenção inicial, sua extensão acabou por dispersar os alunos devido à sua
abordagem mais longa e documental.
Diversos materiais didáticos foram empregados, tais como leitura de textos, produção
textual, aulas expositivas, exibição de vídeos e simulações, indicação de videoaulas, produção
de obras pictóricas, charges, histórias em quadrinhos e vídeos. A avaliação contínua revelou
aspectos positivos e negativos, permitindo ajustes ao longo do desenvolvimento. Essas
atividades foram implementadas ao longo do período, algumas foram repetidas mais de uma
vez e outras foram alternadas.
Ao final da experiência, os autores constataram uma melhora significativa nas respostas
dos alunos, que passaram a abordar as questões com mais facilidade e alinhamento ao estudo
desenvolvido. A conclusão geral da experiência foi considerada satisfatória, destacando a
eficácia do método empregado pelos autores.
Batista e Costa (2017) adotam uma abordagem centrada na aprendizagem significativa,
propondo uma Unidade Didática que transcende o tradicional ensino com quadro e giz,
explorando uma diversidade de recursos educativos, incluindo vídeos, simulações, leituras,
animações e mapas conceituais.
Nas duas primeiras aulas, os autores Batista e Costa (2017) introduzem o tema de
partículas elementares por meio de um mapa conceitual, questionários e vídeos, abordando
escalas atômicas, subatômicas e cosmológicas. Estas atividades iniciais visam não apenas
iniciar o tópico, mas também avaliar o conhecimento prévio dos alunos sobre o assunto.
16

Subsequentemente, contextualizam historicamente o estudo da constituição da matéria,


culminando em uma atividade em que os alunos adotam uma partícula.
Ao longo das aulas seguintes, os alunos constroem mapas conceituais, realizam resgates
breves das lições anteriores e continuam aprofundando o assunto. Eles desenvolvem mapas
conceituais coletivos e individuais, sempre guiados por questionamentos e discussões sobre os
conteúdos científicos e o processo de construção do conhecimento. Os recursos e atividades
didáticas diversificados enriquecem essas interações.
A análise final dos autores destaca a satisfação com a experiência, evidenciada pela
evolução dos alunos ao longo dos questionamentos. Apesar de alguns alunos manterem
concepções equivocadas, essa foi a minoria. O interesse e entusiasmo dos alunos durante as
aulas, atribuídos à variedade de materiais didáticos, são apontados como fatores contribuintes
para o êxito da abordagem.
Diante disto, os autores dos artigos analisados utilizam uma variedade de recursos
didáticos como é perceptível no Quadro 2 e durante a descrição dos resumos, para implementar
essa abordagem em sala de aula, todos eles cuidadosamente desenvolvem e adaptam ao ensino
de conteúdos relacionados à HFC no ensino de Física. Esses materiais engajam tanto os
educadores quanto os alunos, e os resultados revelam-se motivadores, conforme os relatos tanto
dos alunos quanto dos docentes que implementaram essa didática. Para além desses recursos,
as estratégias para condução das aulas incluem a aplicação de questionários, debates e a
produção e leitura de textos.
Alguns desses artigos apresentam em sua estrutura um suporte de conteúdo didático
relacionado ao tema em discussão (Fiúzia; Guerra, 2014, Braga; Guttmann, 2015, Reis, J.; Reis,
U. 2016). Esse desenvolvimento supre as lacunas discutidas no tópico de Discussões Teóricas,
conforme enfatizado por Augé e Freitas (2021), que destacam a dificuldade enfrentada pelos
professores na busca por materiais e livros didáticos que estejam alinhados adequadamente ao
currículo.
Entretanto, há artigos que, em sua introdução, oferecem apenas uma abordagem
explicativa sobre a metodologia escolhida, como é o caso de Morais e Silva (2015) e Batista e
Costa (2017). Além disso, os textos de Fiúzia e Guerra (2014) e Moraes e Silva (2015)
levantam, em seu desenvolvimento, a questão do tempo necessário para o planejamento escolar
e a falta de tempo para o efetivo desenvolvimento das aulas.
Diante deste cenário, ao examinarmos esses estudos e considerando os depoimentos,
concluímos que a abordagem dessa temática pode envolver os alunos, despertando o interesse
deles pela ciência e diminuindo qualquer preconceito em relação à disciplina de Física. Braga
17

e Guttmann (2015), constataram a participação ativa e o engajamento de alunos que,


habitualmente, não manifestavam interesse na disciplina, demonstrando entusiasmo ao
responder aos questionários. Esses resultados demonstram a importância da inserção da HFC
no ensino de Física.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como anteriormente mencionado, ao longo dos anos, observa-se um crescente interesse


por essa temática, tornando evidente a sua incorporação nas aulas de Física. A partir desse
reconhecimento, a integração dessa temática tem alcançado resultados positivos entre os alunos
do ensino médio. Os estudos nessa área são animadores, como evidenciado pelos relatos de
aulas durante o período de implementação, conforme observado por Batista e Costa (2017), a
maioria dos alunos revelam ter tido acesso a novas informações consideradas interessantes.
Além disso, a abordagem apresentada despertou o interesse deles, evidenciando o potencial
dessa implementação em sala de aula.
Ao considerar o propósito deste estudo, é possível vislumbrar diversas contribuições
para o desenvolvimento de atividades didáticas que utilizem a HFC para promover uma
abordagem interdisciplinar dos conteúdos. Essas atividades não apenas auxiliam na
compreensão dos temas específicos, mas também capacitam os professores a identificar as
dificuldades de aprendizagem dos estudantes. A revisão sistemática realizada evidenciou a
importância dessa integração no contexto das aulas de Física no ensino médio.
Porém, ao longo desse percurso, tornou-se evidente que a inclusão dessa temática em
sala de aula não é uma tarefa simples; ela requer planejamento, estudo e preparação de aula
com o suporte de materiais confiáveis. Contudo, destaca-se a presença de uma literatura de
estudos disponível para atender a essa demanda, assim como propostas e sequências didáticas
já aplicadas, constituindo estudos adaptáveis para a construção de aulas. A partir desses
materiais em constante produção, podemos utilizá-los como fontes para o desenvolvimento de
planos de aula, aplicando-os e, assim, obtendo conclusões sobre essa abordagem.
Apesar de muitos estudos apontarem o tempo necessário para o planejamento de aulas
como um desafio, resultando em desinteresse por parte dos educadores, essa área de pesquisa
deve ser considerada com carinho. É fundamental testá-la em sala de aula junto aos alunos,
lembrando que cada aluno aprende e pensa de maneira única. Portanto, é necessário buscar
métodos didáticos diversificados para cativar os estudantes e desmistificar o rótulo de disciplina
18

difícil, sem necessidade e sem significado para a vida deles. Essa abordagem pode ser um passo
importante na construção de uma educação mais envolvente e significativa.
Assim, fica claro que a produção de artigos relacionados a essa área pode desempenhar
um papel crucial em fortalecer a incorporação dessa temática nas aulas de Física. A integração
da HFC no ensino de física a nível médio é enriquecida pelo desenvolvimento de trabalhos que
evidenciam e ressaltam cada vez mais a relevância dessa abordagem, resultando em um
aprimoramento significativo no processo de ensino e aprendizagem.
Em resumo, ao longo do texto, examinamos as situações e desafios relacionados a esta
temática, dando destaque às experiências dos professores, analisamos propostas didáticas e
chegamos à conclusão de que esses materiais desempenham um papel fundamental como
suporte para a elaboração de aulas. É evidente que esses recursos podem ser estudados e
utilizados como base para a elaboração de novos artigos científicos, os quais podem ser
aplicados em sala de aula.
As sequências didáticas, em particular, proporcionam uma reflexão sobre os pontos
positivos e negativos das aulas, destacando o que funcionou bem e promovendo uma análise
crítica dos aspectos que precisam ser aprimorados. Nesse sentido, como já destacado, a contínua
exploração e discussão desses temas se apresentam como caminhos promissores para a melhoria
constante do ensino e, consequentemente, para a formação de indivíduos críticos e engajados
com o mundo científico que os cercam.

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