Rodas de Conversa Nas Aulas de História
Rodas de Conversa Nas Aulas de História
Rodas de Conversa Nas Aulas de História
Resumo Abstract
Este artigo trata do desenvolvimento de This article deals with the development
rodas nas aulas de história, nas regiões de colo- of conversation circles about African ancestry
nização alemã no RS, a respeito da ancestrali- in history classes in regions of German coloni-
dade africana. Os colonos alemães primaram zation in the Rio Grande do Sul state. German
por construir uma identidade entre eles no RS descendants excelled in building an identity for
que possibilitou que na historiografia e na themselves in this state, which caused this
própria realidade dessas regiões colonos sofres- group to be highly valued over other ethnical
sem grande valorização em detrimento a outros groups in history and also in their own reality.
grupos étnicos. A invisibilidade do africano e African and Afro-descendants invisibility is
do afrodescendente é visível e será abordada noticeable and will be the topic of this article.
aqui. As rodas de conversa podem ser enqua- Conversation circles can be framed in different
dradas em eixos temáticos de acordo com os topics according to the oral reports obtained. In
relatos orais obtidos. No estudo feito em Sapi- the study made in Sapiranga ? RS, there were
ranga-RS, houve os seguintes eixos: Espaços da the following topics: spaces of Africanity, Afro-
Africanidade, Protagonistas Afrodescendentes, descendants protagonists, racial prejudice and
Preconceito Racial e Religiosidade. Por fim, a religiosity. Valuing African and Afro-Brazilian
valorização da história e da cultura africana e history and culture is mainly based on the law
afro-brasileira está calcada, principalmente, na 10.639 from 2003.
lei 10.639 de 2003.
1
IFsul – [email protected]
Eixos temáticos
Através do estudo de caso realizado na cidade de
Sapiranga – RS, as narrativas orais obtidas foram agrupa-
das em quatro eixos temáticos. Vale destacar que esses ei-
xos temáticos permitem orientar melhor o professor sobre
os temas a serem abordados mais especificamente em sala
de aula. Assim sendo, alguns desses eixos temáticos po-
dem ser suprimidos ou outros serem acrescentados a eles
em função da realidade local de onde serão aplicadas as
rodas de conversa.
Protagonistas afrodescendentes
Este tema é para conter histórias de algumas pesso-
as bem conhecidas de origem africana ao longo da história
da cidade gaúcha de origem alemã a ser analisada. É pro-
vável que muitas delas executem atividades que não são de
cunho intelectual, tais como operário, empregada domésti-
ca, etc. Deve haver outros indivíduos que são exceções,
pois exercem outras atividades de trabalho que são mais
rentáveis e também mais intelectuais.
Entretanto, no geral, o negro é visto exercendo ati-
vidades braçais que não foram e ainda não são valorizadas
nem financeiramente, nem culturalmente. Nos meios de
comunicação, as imagens veiculadas sobre os afrodescen-
dentes sugerem “o negro como um ser tosco, sem polidez,
que na escala da divisão social do trabalho sempre ocupa a
posição de trabalhador braçal o que reduz a pessoa não le-
trada, sem instrução, com parca ou nenhuma polidez”
(COSTA, 2014, p. 8)
Essa constante afirmação da imagem do negro atu-
ando em funções laborais que exigem pouca instrução é
também reflexo da educação recebida (ou da falta dela) pe-
los africanos e pelos afrodescendentes no Brasil do fim do
século XIX. Consoante as Diretrizes curriculares nacionais
para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino
de história e cultura afro-brasileira e africana (publicação
Preconceito racial
Na Constituição Federal de 1988, a prática de ra-
cismo passou a ser considerada “crime inafiançável e im-
prescritível” (art. 5º, XLII). Também na Carta, o Estado
Brasileiro declarou como um dos seus princípios o “repú-
dio ao racismo” (art. 4º, VIII) e enunciou como um dos
seus objetivos principais a promoção do “bem de todos,
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quais-
quer outras formas de discriminação.” (art. 3°, IV).
No livro A História da Vida Privada no Brasil, a
antropóloga Lilia Schwarcz mostrou a presença forte do
racismo, baseando-se inclusive numa pesquisa realizada
em 1988, em São Paulo. Segundo essa pesquisa, realizada
a partir da coleta de entrevistas, 97% das pessoas afirma-
ram não ter preconceito e 98% desses entrevistados con-
firmaram conhecer pessoas que tenham manifestado seu
preconceito. Schwarz conclui: “Todo brasileiro parece se
sentir, portanto, como uma ilha de democracia racial, cer-
cado de racistas por todos os lados” (SCHWARCZ, 1998,
p.180).
Religião
Pensar, realmente, a respeito das religiões de matriz
africana é muito complexo. A nossa sociedade, geralmen-
te, possui uma relação com a natureza em que os elemen-
tos naturais deveriam (e devem) ser preservados para a me-
lhoria da nossa qualidade de vida, sobretudo. Entretanto, o
candomblé e a umbanda nutrem uma relação muito mais
íntima com os seres vivos de outras espécies.
Para o candomblé, o homem e a natureza fazem par-
te de um único universo que vai além dos limites do mun-
do real. Conforme essa religião, os homens são “o resulta-
do da somatória de todas as partes ou elementos que com-
põem a natureza. Tanto nos aspectos minerais, vegetais e
animais, como nos aspectos 'visíveis' ou “'invisíveis'”
(MELO, 2007, p. 35). Além disso, a própria organização
espacial dos terreiros está atrelada às características pró-
prias de cada orixá.
É provável que a religiosidade seja um dos temas
mais complicados de ser trabalhado em sala de aula, visto
que as religiões de matriz africana foram e são estigmati-
zadas por discursos eurocêntricos na maioria das vezes.
Assim sendo, a publicação da Lei 10.639, em 2003, ocor-
reu “em um contexto social e educacional de busca por va-
Rodas de conversa
Apesar de a roda de conversa ser vantajosa em rela-
ção à palestra, a primeira continua sendo pouco utilizada
no âmbito escolar. A utilização de rodas de conversa, nas
escolas, é um fenômeno relativamente recente, mas seu
uso, fora desses locais, é antigo. Podem ser citados os se-
guintes exemplos de rodas de conversa: “Comunidades in-
dígenas, reuniões familiares, mutirões para a construção de
casas populares” (WARSCHAUER, 2004, p. 3).
É natural que as rodas sejam pouco usadas na edu-
cação em virtude de ser uma prática recente no meio peda-
gógico, mas há outros fatores que explicam a rara aplica-
ção das rodas nas escolas, tais como os seguintes elemen-
tos: “perspectiva de homogenização, padronização e orga-
nização de espaços, tempos e currículos, estruturados de
tal maneira a deixar poucas oportunidades a manifestação
das diferenças e singularidades (...)” (Ibid, 2004, p. 3).
O professor deve estar atento a alguns cuidados.
Cabe destacar o seguinte: “a roda de conversa deve se dar
em um contexto onde as pessoas podem se expressar sem