Histórias Magnéticas
Histórias Magnéticas
Histórias Magnéticas
Uma marca, seja pessoal, seja uma empresa, precisa ter conexão humana. A
melhor maneira de nos conectarmos é por meio do poder do storytelling
inspirador e comovente. Seja comunicando sua estratégia, sua visão, seus
valores ou apenas sua construção de relacionamentos, uma história
autêntica terá maior impacto e será lembrada e recontada. Histórias
Magnéticas está repleto de ótimos exemplos de “casos de sucesso” e dará a
qualquer leitor a confiança para criar suas mensagens e, então, contá-las.
— Michael Ebeid, ex-CEO da SBS e executivo do Grupo Telstra
Ainda bem que Gabrielle Dolan sempre tem o que dizer, pois, quando ela
escreve um novo livro e nos conta mais histórias, sua experiência nos ensina
como podemos usar o poder do storytelling para obter maior conexão e
envolvimento nos negócios.
Este livro me fez refletir sobre como trabalhar em casa durante a Covid deu
uma oportunidade para conversas “sobre mim” com muitos membros de
nossa equipe. Suas histórias pessoais magnéticas revelaram mais sobre nossa
cultura e por que eles querem trabalhar para nós do que qualquer material
de recrutamento revelaria.
MAGNETIC STORIES
CONNECT WITH CUSTOMERS AND ENGAGE EMPLOYEES WITH BRAND
STORYTELLING
Copyright © John Wiley & Sons Australia, Ltd 2021. All rights reserved.
This translation published under license with the original publisher John Wiley & Sons, Inc.
Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, armazenada em sistema de recuperação, ou
transmitida por qualquer meio, seja na forma eletrônica, mecânica, fotocopiada, gravada ou qualquer
outra, sem a autorização por escrito do autor.
Dolan, Gabrielle
Histórias magnéticas : conecte-se com clientes e engaje
funcionários com o Brand Storytelling / Gabrielle Dolan.
-- 1. ed. -- São Paulo : DVS Editora, 2023.
ISBN 978-65-5695-083-9
22-140535 CDD-658.802
Índices para catálogo sistemático:
1. Marketing : Administração estratégica : Administração de
empresas 658.802
Nota: Muito cuidado e técnica foram empregados na edição deste livro. No entanto, não estamos
livres de pequenos erros de digitação, problemas na impressão ou de uma dúvida conceitual. Para
qualquer uma dessas hipóteses solicitamos a comunicação ao nosso serviço de atendimento através
do e-mail: [email protected]. Só assim poderemos ajudar a esclarecer suas dúvidas.
Para meu pai, cujas atitudes criaram histórias magnéticas que serão
compartilhadas por gerações.
Sobre a autora
gabrielledolan.com
Agradecimentos
Enquanto escrevo estes agradecimentos, Jess, minha filha mais nova, está
sentada ao meu lado dizendo: “Você pode me mencionar primeiro, por ser
sua favorita?” Os pais não devem ter filhos favoritos (nós temos, mas, para
ser justa, isso muda diariamente, às vezes a cada hora). Porém, com toda a
seriedade, devo agradecer à minha família primeiro, considerando que eles
me permitem escrever muitas histórias sobre eles. Então, para minhas duas
filhas, Alex e Jess, e meu marido, Steve, obrigada por me permitirem
compartilhar abertamente suas histórias. E por me apoiarem em tudo o que
faço e, o mais importante, por terem orgulho do que faço.
Muito obrigada a Kelly Irving, minha editora, com quem trabalho desde
meu primeiro livro. Eu comparo escrever um livro a correr uma maratona.
Quando chego à marca de 15K (15 mil palavras) e fico sem energia ou
perco o rumo, Kelly me incentiva e me faz continuar. Também temos um
acordo de que o que acontece no primeiro rascunho fica no primeiro
rascunho… ninguém nunca saberá o quão ruim ele é.
Obrigada às pessoas que concordaram em ler o livro e dar sua opinião. Suas
críticas significaram muito, especialmente quando eu ainda estava na
expectativa inicial de que o livro fosse bom.
Este livro estaria incompleto se não fossem as pessoas que aceitaram ser
entrevistadas. Vocês me concederam seu tempo, seus insights e, mais
importante, suas histórias. Muito obrigada por me permitirem compartilhá-
las para dar vida aos conceitos deste livro.
Em 2019, publiquei meu quinto livro, e minha sogra, Jan, me fez uma boa
pergunta. Ela questionou carinhosamente: “Você nunca fica sem ideias para
escrever?” Pensei sobre isso e decidi que esperaria um bom tempo até
considerar outro livro. Mas aqui estou eu de novo.
E explicarei o porquê.
Então, após mais de quinze anos escrevendo e falando sobre esse tema,
pode parecer que minha missão foi cumprida. O uso de histórias nos
negócios ganhou credibilidade e popularidade. Ótimo. Cada vez mais
empresas estão implementando o storytelling. Ótimo. Não há necessidade
de outro livro… certo?
Bem, ao acessar a aba “Nossa História” na grande maioria dos sites de
empresa (talvez até mesmo no seu), você perceberá que, na verdade, não há
nenhuma história lá. Geralmente é apenas um monte de fatos, estatísticas e
datas ou palavras em excesso que só demonstram um vício em jargão
corporativo. Você sabe como é — “Incorporamos design de ponta, com a
melhor metodologia, para oferecer soluções centradas no cliente de maneira
sustentável.”
Por outro lado, também ouvi algumas histórias fabulosas que não foram
compartilhadas — mesmo que, sem dúvida, devessem ter sido.
Pois é, Jan, eu nunca fico sem ideias para escrever, pois se há uma coisa que
aprendi é que todo mundo ama uma boa história, mas nem todo mundo
sabe como encontrar e contar uma boa história — uma história magnética.
1. Criação.
2. Cultura.
3. Cliente.
4. Desafio.
5. Comunidade.
Sobre a autora
Agradecimentos
Introdução
Como ler este livro
Conclusão
Conecte-se comigo
E
ntão, o que é uma história e o que não é? Como contar histórias pode
ajudar a comunicar sua marca? O que realmente significa o “brand
storytelling” e como ele ajudará você a se conectar e engajar seus clientes e
funcionários?
Vamos nos aprofundar para que você compreenda o que fazer — e o que
não fazer — quando se trata de sua marca e de suas histórias.
O poder do brand storytelling
Na infância, eu era o que todos chamariam de moleca. Eu preferia jogar
críquete e futebol ou andar de bicicleta e skate. Como eu não gostava de
bonecas, é claro que nunca tive uma Barbie, e, décadas mais tarde, quando
a Barbie estava sendo humilhada por não ser um bom modelo para as
meninas, concordei sem nem hesitar. Eu me recusei a comprar uma Barbie
para minhas duas filhas (e acho que até pedi para as pessoas não as
presentearem com uma).1
Seu marido e outros executivos da Mattel não acharam uma boa ideia. Eles
presumiram que os pais não comprariam uma boneca adulta e voluptuosa
para os filhos. Basicamente, uma boneca que tinha seios.
Durante as férias na Europa, Ruth viu a boneca alemã Bild Lilli e comprou
uma, pois era semelhante à sua ideia. Ela redesenhou a boneca, chamou-a
de Barbie e convenceu o marido e os outros executivos a fazer um
protótipo.
Segundo Ruth Handler: “Toda a minha filosofia da Barbie era que, por meio
da boneca, a menina poderia ser o que quisesse. A Barbie sempre
representou o fato de que uma mulher tem escolhas.”
Contos da Europa
Boas histórias atrairão pessoas para a sua marca e para a sua empresa. Essas
histórias levam as pessoas a comprar seus produtos, engajar seus serviços,
trabalhar para você, recomendá-lo, apoiá-lo, promovê-lo, segui-lo,
referenciá-lo e continuar voltando, várias e várias vezes.
História 1: Botas 66
Durante um tour guiado em Praga, aprendemos sobre a Botas 66. Pensamos
que era apenas uma empresa de calçados comum, mas logo descobrimos
que era uma marca tcheca icônica que produzia tênis. A história diz que, no
regime comunista, eles eram os únicos tênis que podiam ser usados.
Imagine ter apenas uma opção de tênis para comprar. Assim que a
República Tcheca conquistou a independência (novamente) em 1989, a
Botas 66 faliu, pois as pessoas podiam escolher outras marcas. No entanto,
em 2007, dois alunos de design ressuscitaram os tênis como parte de um
projeto da faculdade. Eles os modernizaram, criando cores e modelos
contemporâneos, mas com um toque retrô que preservava o legado. Eles
agora têm três lojas em Praga e mais de cem modelos. Dizem por aí que
você ganha moral quando usa os tênis da Botas 66. E, sério, quem não
deseja ter moral?
História 3: Ampelmann
Ampelmännchen é o nome da figura humana representada nos semáforos
de pedestres da Alemanha. O Ampelmännchen de Berlim Oriental, uma
figura masculina com um chapéu, foi utilizado pela primeira vez em 1969
e, após a reunificação, em 1990, começou a ser gradualmente substituído
pelo Ampelmännchen genérico da Alemanha Ocidental. Isso provocou
protestos e, como resultado, o Ampelmännchen da Alemanha Oriental foi
reintroduzido nas cidades de todo o país. Como uma das poucas
características da Alemanha Oriental comunista a ter sobrevivido à queda da
Cortina de Ferro, ele tornou-se um símbolo icônico que adorna uma
variedade de itens de vestuário e lembranças sob a marca Ampelmann.
Ficamos tão fascinados por essa história e marca que compramos vários
itens em uma de suas muitas lojas: bonés, gorros, camisetas, meias,
pirulitos, canecas de café, bolsa de laptop, copos de dose, taças de vinho e
até mesmo capachos. Admito, eu posso ter exagerado, mas me contive
pouco antes de comprar um semáforo real. (Só porque seria difícil levá-lo
para casa.)
Minha versão é:
Ao longo deste livro, utilizo “marca” como uma palavra abrangente para
cultura, valores, comportamentos, estratégia, propósito, missão e visão.
Se uma empresa tiver uma declaração de visão para ser a “mais lucrativa do
setor” em oposição à “mais respeitada do setor”, isso influenciará seu
comportamento e, portanto, sua marca.
1 Assumi uma postura firme contra estereótipos de gênero em presentes ou cores. Ainda me lembro
de ser repreendida pela minha tia idosa por colocar um chapéu preto em Alex quando ela era bebê
(tecnicamente, o chapéu era azul-marinho e tinha uma flor vermelha).
4 Chegamos trinta minutos antes de abrir, mas ainda tivemos que esperar.
5Embora a qualidade de todos os itens seja excelente, as taças de vinho Ampelmann foram as
melhores que já tive… Eu me arrependi de não ter comprado mais.
Atração magnética
Nas mesmas férias que mencionei anteriormente, visitamos o Museu da
Stasi, na Alemanha. Meu marido, Steve (que adoraria passar um bom tempo
em museus), e nossa filha mais velha, Alex (que estava cursando Estudos
Internacionais e Política na universidade), ficaram entusiasmados. Por outro
lado, nossa filha mais nova, Jess, foi convencida com a promessa de sair
para comprar sapatos depois, e eu não me importei, desde que a visita
durasse noventa minutos, e não o dia todo.
Jess e eu lemos cada história. Passamos mais tempo naquela sala do que em
qualquer outra.
E explicarei o porquê.
A pesquisa também demonstra que “as pessoas agem de acordo com o que
lembram, e não de acordo com o que esquecem”. E que, para nos
lembrarmos de alguma coisa, ela precisa captar a atenção do nosso cérebro.
Consequentemente, o principal motivo pelo qual não nos lembramos das
coisas é porque elas não chamaram nossa atenção!
Por exemplo, quando eu tinha dezessete anos, meu cunhado me deu carona
até o trabalho por dois meses. Então, quando tirei minha carteira de
motorista e fui dirigindo pela primeira vez, eu me perdi completamente. Por
quê? Porque antes eu não prestava atenção no trajeto. Isso já aconteceu com
você?
Boas histórias nos fazem sentir algo enquanto as ouvimos, seja alegria,
medo, raiva ou entusiasmo. Consequentemente, sentimos algo em relação à
pessoa que conta a história, o que ajuda a criar conexão.
Em seu livro de 2020, Cult Status: How to Build a Business People Adore,
Tim Duggan afirma:
Se você não controlar a mensagem e não contar a sua história, seu público-alvo não
desenvolverá uma conexão emocional que gere confiança e empatia e acarrete o potencial para
um culto à marca.
Força de atração
A pesquisa apresentada neste capítulo prova que explorar a emoção não
apenas auxilia a compreensão de uma mensagem lógica, mas também ajuda
a reter essa informação. É mais provável que nos lembremos de uma boa
história do que de um monte de fatos, pois uma história nos faz sentir algo.
1 Ok, muitas vezes ignoramos esse fato ou estamos dispostos a sofrer as consequências.
“Apresente a história!”
“Conte-me os fatos e eu aprenderei. Diga-me a verdade e eu acreditarei. Mas
conte-me uma história e ela viverá para sempre em meu coração.”
Assim como eu, Michael acredita que as histórias herdadas costumam ser
ignoradas por muitas empresas. Para explicar por que isso é algo que
precisa ser corrigido, vamos aprofundar o significado de herança.
Tenho certeza de que, ao visitar algum lugar, você acabou jogando uma
moeda em uma fonte ou esfregando uma estátua para “trazer sorte”. Por
exemplo, o nariz de Abraham Lincoln, no Cemitério Oak Ridge; a bota da
estátua de John Harvard, na Universidade Harvard; ou até mesmo os
testículos do Touro de Wall Street, em Nova York.
Essas histórias são verdadeiras? Elas realmente trazem sorte? Vai saber. Mas
elas têm uma atração magnética. Visitei a estátua de John Harvard, que fica
sobre um grande bloco de concreto com cerca de 180 centímetros de altura.
A bota está localizada na beirada e, mesmo sem nenhuma evidência de que
me traria sorte, eu a esfreguei, pois a história me fez acreditar. (Eu também
visitei o Touro de Wall Street, mas parei antes de esfregar os testículos…
seria estranho demais.)
Com o passar do tempo, são as histórias que tornam as coisas reais, e não o
acontecimento em si. Michael diz que, ao longo do tempo, “as histórias
superam a verdade, superam os fatos”.
Eu acho que Steve Jobs conhecia o poder das histórias, considerando que
esta citação é atribuída a ele: “A pessoa mais poderosa do mundo é o
contador de histórias. O contador de histórias define a visão, os valores e as
prioridades de toda uma geração futura.”
Em seu livro Legacy: What the All Blacks Can Teach Us about the Business
of Life, James Kerr fala sobre o haka e os rituais: “Líderes inspiradores
estabelecem rituais para conectar sua equipe à sua narrativa central,
usando-os para refletir, relembrar, reforçar e reacender a identidade
coletiva.”
Entrevistei James sobre a importância das histórias por trás dos rituais, e ele
concordou que “sem as histórias, o ritual perde seu poder”. De fato, em
Legacy, ele aborda um outro momento em que os All Blacks quase pararam
de fazer o haka. Em 2005, ao sentirem que o haka havia se tornado apenas
um espetáculo, muitos jogadores perderam a conexão pessoal com ele.
Então, a seleção decidiu envolver todos os jogadores para cocriar um novo
haka, com movimentos e palavras diferentes. Segundo James, “o resultado
foi um novo haka, mas a consequência foi uma nova conexão”, pois eles
“revitalizaram uma história herdada”.
James também contou que os jogadores mais antigos sempre varrem os
vestiários após cada jogo. A história diz que, após tomar algumas cervejas
pós-jogo, o então técnico assistente Steve Hansen notou que o vestiário
estava sujo e começou a limpá-lo, e os jogadores que ainda estavam lá
resolveram ajudar. Chegou ao ponto em que eles dispensavam os faxineiros,
pois limpariam sozinhos. Essa atitude faz parte de sua humildade e de sua
cultura de deixar algo melhor do que antes.
Deixe um legado
Um ritual não precisa ter centenas de anos para fazer parte de sua herança;
histórias modernas também são herdadas. James acredita que o papel dos
líderes é criar histórias para o amanhã, pois isso pode deixar um legado.
É por isso que, em uma situação profissional — quando passamos por uma
porta giratória, montamos um site da empresa, redigimos um boletim
trimestral, elaboramos um programa de integração, criamos uma campanha
de mídia social ou colocamos um artefato do passado no saguão —,
precisamos compartilhar as histórias, e não apenas os fatos.
1 A propósito, mudar o nome da seção “Sobre Nós” para “Nossa História” não a torna uma história.
2 Fiquei desapontada por ele estar usando um gorro, e não um chapéu como o Indiana Jones.
A
s histórias de marca são mais do que um vídeo corporativo instigante ou
uma linha do tempo no site. Elas compreendem diferentes tipos de
história e devem ser variadas.
Mas, então, quais são essas histórias que você deve contar aos clientes e
funcionários?
Na Parte II, apresentarei exemplos de cinco tipos de histórias que você deve
compartilhar para comunicar sua marca.
Contatei a dona e descobri que ela passou muito tempo na praia após o
nascimento do terceiro filho. Ela notou que as mulheres tinham uma grande
variedade de opções quando se tratava de roupas de banho, mas os homens
pareciam ter que escolher entre sungas apertadas ou shorts largos… não
havia meio-termo. Durante esse tempo, enquanto tirava uma folga de seu
outro trabalho, ela começou a criar trajes de banho masculinos, tendo a
ideia de usar redes de pesca devido ao seu interesse em sustentabilidade e
reciclagem.
Para mim, era uma história muito mais fascinante do que a apresentada em
seu site.
A maioria das organizações tende a ter uma história muito interessante por
trás de sua criação. Mas, em muitos casos, elas se mostram relutantes em
compartilhá-la por diversos motivos.
Primeiro de tudo, porque é engraçado. Há bastante espaço para piadas escatológicas, que
adoramos.
Mas, falando sério, nós amamos papel higiênico porque é a nossa maneira de fazer a diferença.
Fundamos a Who Gives A Crap quando descobrimos que 2,3 bilhões de pessoas em todo o
mundo não têm acesso a um banheiro. Isso representa cerca de 40% da população mundial e
significa que cerca de 289 mil crianças com menos de cinco anos morrem anualmente devido a
doenças diarreicas causadas por falta de água e saneamento. São quase oitocentas crianças por
dia, ou uma criança a cada dois minutos.
Achamos essa situação uma grande merd*. Então, em julho de 2012, Simon, Jehan e Danny
fundaram a Who Gives A Crap com uma campanha de crowdfunding no IndieGoGo.
Simon sentou-se em um vaso sanitário em nosso depósito, onde venta muito, e se recusou a sair
até que conseguíssemos pré-vendas suficientes para iniciar a produção. Após cinquenta horas e
um traseiro gelado, arrecadamos mais de US$50 mil.2
Em março de 2013, entregamos nosso primeiro produto e, desde então, estamos entusiasmados
em continuar crescendo. Não somente porque nosso papel higiênico está enfeitando banheiros
em todo o país, mas também porque doamos 50% de nossos lucros para ajudar a construir
banheiros e melhorar o saneamento no mundo em desenvolvimento.
Embora ainda estejamos crescendo e agora façamos mais do que apenas papel higiênico, sempre
permaneceremos fiéis às nossas origens: humor escatológico e vontade de tornar o mundo um
lugar melhor.
Conheci Kim por meio do Fórum Internacional das Mulheres, do qual nós
duas participamos. Ouvi falar de sua produção de gin e entrei no site da
destilaria. Notei a aba “Nossa História’”, então, incapaz de me conter,
acessei para ver se era realmente uma história… felizmente era, e uma boa
história! Decidi que merecia ser incluída neste livro. Também achei
adequado comprar umas garrafas de gin… para fins de pesquisa, é claro.
Duas garotas e uma destilaria… Natalie, como sabemos, é guru dos espumantes e da
destilação… Kim é apenas um pouco beberrona, mas a experiência no negócio é algo de família.
Nos fundos de um armazém no Canadá, seu bisavô Joseph E. Seagram fundou a Seagram’s,
outrora a maior destilaria de bebidas alcoólicas do mundo. Sim, o sobrenome de Kim é
Seagram, e, embora elas não tenham um armazém, sua destilaria funciona nos fundos de um
antigo hangar!
Após prestar consultoria para mais de US$100 milhões em anúncios no Facebook, a Inflect
Digital foi criada certa tarde, quando discutimos o fato de a maioria das agências não fornecer
transparência e valor para os clientes.
Trabalhando para o Facebook, tivemos a oportunidade de conversar todos os dias com
importantes executivos, agências e empreendedores de marketing. Nós os questionamos sobre
como otimizar campanhas, dimensionar anúncios, redirecionar os clientes parados em seu funil
e alocar melhor os orçamentos. Mas também descobrimos algo importante… a maioria das
agências não sabia o que estava fazendo. Elas implementaram técnicas que leram em um blog
ou ouviram de alguém. Havia um incrível “arrebanhamento” em torno de ideias e uma falta de
soluções inovadoras adaptadas às necessidades do cliente.
Percebemos que existia essa mentalidade de rebanho, pois as pessoas não sabiam o que
acontecia no back-end. Era a nossa deixa. Desenvolvemos a Inflect Digital, com a visão de que
forneceríamos um serviço de anúncios de alto nível no Facebook, cobrando um preço justo das
empresas.
Nossos amigos ainda acham que estamos delirando; mas, a cada campanha bem-sucedida,
provamos que eles estão errados!
Cordialmente,
Por causa das doações que vieram de todo o país, consegui recomeçar. Com uma nova
motivação poderosa, minha missão se transformou em “retribuir” a incrível generosidade
concedida a mim.
Fundei um negócio que me retornou 50% de tudo o que ganhei e decidi doar esse valor para as
instituições de caridade com as quais meus clientes mais se importavam. Eu amava vinho e
tinha contatos incríveis em alguns grandes vinhedos que concordaram em ajudar.
E assim, com os US$15 mil que me foram doados por pessoas como você, nasceu a Goodwill
Wine.
Não poderíamos ter feito nada disso sem você. E é apenas o começo. Nosso objetivo é doar mais
de US$1 milhão para instituições de caridade — vendendo vinho de qualidade a preços mais
baixos.
Como sou exigente em relação aos vinhos que vendo, construí uma base de clientes leais que
continuam voltando. A cada compra, 50% dos lucros vão para a caridade.
Quer que a sua próxima garrafa de vinho ajude a tornar o mundo um lugar melhor?
A Royal Mint foi fundada em 886, ou seja, tem mais de 2 mil anos. Ela foi
criada por Alfredo, o Grande, quando ele reconquistou Londres e começou
a cunhar moedas de prata com sua imagem.
Confira e reflita
• Você sabe como e por que sua empresa começou?
1É uma brincadeira com o fato de a empresa produzir papel higiênico e realizar ações beneficentes.
O sentido seria algo como “Quem está cag*ndo pra isso?”, em tradução livre. [N. da T.]
2 Para assistir ao vídeo no YouTube, pesquise “Who Gives A Crap toilet paper — First Edition”.
HISTÓRIAS DE CULTURA
NOSSOS VALORES E COMPORTAMENTOS… A ENERGIA
Muitas vezes, as pessoas descreverão a cultura de seu local de trabalho
como “ótima” ou “tóxica”, sem ir muito além… costumam se referir a ela
com uma frase como “você saberá se é adequada ou não”. Parece familiar?
Vamos analisar o primeiro tipo, pois é com ele que a maioria das empresas
faz a implementação errada do storytelling.
Na maioria dos casos, o que encontrei foram vídeos muito bem filmados de
funcionários falando sobre os conceitos de determinado valor. Por exemplo,
se o valor fosse “mentalidade de dono”, eles explicavam: “É assumir a
responsabilidade pelas decisões e ações. É admitir os erros” ou “É fazer o
que você diz que fará”. Esses vídeos não apresentavam uma história, pois
tratavam apenas de conceitos. Embora usassem o termo “histórias”, os
funcionários não compartilhavam uma história pessoal para comunicar o
que o valor da empresa significava para eles.
Tosse, o Peixe
Emma Broomfield-Hinks é executiva de contas sênior da Amazon Web
Services. Em 2020, ela participou de um treinamento virtual que realizei
para a equipe. Usamos os quatorze princípios de liderança da Amazon
como base para as histórias. Um desses princípios era a “mentalidade de
dono”.
Líderes agem como donos do negócio. Eles pensam longe e não sacrificam valores de longo
prazo por resultados imediatos. Tomam atitudes em nome de toda a empresa, e não apenas do
próprio time. Líderes nunca dizem “este não é o meu trabalho”.
Depois de muitos meses, eles finalmente cederam, e nós nos tornamos os orgulhosos donos de
Tosse e Sininho, dois peixinhos dourados. Eu tive um resfriado na época e, tendo acabado de
aprender a palavra, pensei que “Tosse” fosse um excelente nome para um peixe.
Ganhamos os peixes com a condição de que assumíssemos total responsabilidade por eles, o que
significava alimentá-los diariamente e limpar o aquário quando ficasse sujo.
Eu adorava alimentar os peixes, pois eles ficavam mais interativos e brincalhões. No entanto,
com o passar do tempo, fiquei relaxada com o aspecto da limpeza, que era muito menos
divertida. Além de ser desagradável mexer na água, eu tinha medo de derrubar os peixes
escorregadios na hora de transferi-los do aquário sujo para o limpo.
Quando eu tinha oito anos, percebi que a água estava ficando turva e pensei: “Preciso limpar o
aquário.” Continuei adiando por alguns dias… e, para ser sincera, provavelmente esperava que
outra pessoa limpasse.
Certa manhã, desci as escadas e fui até o aquário para alimentar Tosse.1 Para meu horror, vi
que ele estava boiando, com os olhos fixos e as guelras imóveis.
Meu animal de estimação amado, que tanto implorei para ganhar, agora estava morto por
minha causa. Meu coração de oito anos se partiu e comecei a gritar por minha mãe e meu pai,
chorando copiosamente por saber o que eu havia feito.
Meu pai desceu correndo as escadas e, após dar uma olhada no peixe, infelizmente confirmou
que ele tinha morrido. A essa altura, eu estava inconsolável. Meu pai tirou Tosse do aquário e
começou a massagear a barriga dele. Depois, colocou-o de volta, impulsionando-o para que
entrasse água em suas guelras.
Lágrimas escorriam pelo meu rosto, mas eu não conseguia acreditar quando vi Tosse
ressuscitando. Meu pai foi um verdadeiro herói!
Em toda a minha breve vida até aquele momento, nunca havia me sentido tão grata e ao mesmo
tempo tão culpada, visto que poderia ter evitado a situação se tivesse sido mais responsável.
Estou compartilhando essa história, pois ela me lembra de um dos nossos princípios de
liderança: mentalidade de dono.
Quando criança, eu me comprometi com o difícil trabalho de ter um animal de estimação, mas
só me concentrei nos aspectos agradáveis. Eu negligenciei algumas tarefas importantes, o que
quase acarretou a morte prematura do meu peixe. Portanto, para mim, a mentalidade de dono
não se trata apenas da diversão que acompanha o que você deseja e assume, mas também das
tarefas que não são tão divertidas, que exigem esforço e que nem sempre você tem vontade de
fazer.
Na Amazon, o nível da mentalidade de dono não resulta em vida ou morte! Mas é apenas uma
questão de tempo até que você precise exercê-la por completo, seja em um processo, um projeto
ou algum tipo de tarefa em que clientes ou colegas contem com você. Peço que, ao assumir um
projeto, você reflita e exerça total mentalidade de dono, sempre dando o melhor… tanto nos
aspectos agradáveis quanto nos desagradáveis.
E só para deixar o final feliz ainda mais feliz, Tosse, o peixe, viveu por mais doze anos. Acho
que meu pai foi a única pessoa que já fez RCP em um peixinho dourado.
Apesar dos meus esforços, eu não era muito bom. Não demorou muito para que eu começasse a
me afastar da frente do grupo, onde eu ouvia atentamente o instrutor, até ficar na parte de trás
do grupo, que era, provavelmente, o meu lugar.
Ao chegar a uma encosta, tivemos que fincar os bastões de esqui na neve e fazer força para
avançar. Eu fui ficando para trás. Vi o grupo se distanciar até que, de repente, não enxerguei
mais ninguém.
Lá estava eu, sozinho no meio da floresta com um par de esquis. Comecei a chorar, mas segui
em frente, fincando meus bastões na neve, avançando lentamente. Pensei: “Se eu continuar, tudo
vai dar certo, vou chegar ao fim da encosta e encontrar o grupo ou alguém.” De alguma forma,
eu sabia que, se continuasse, acharia uma solução… Eu não podia desistir.
Depois do que pareceram horas — mas não foram —, outra equipe me encontrou e me levou de
volta ao meu grupo. Fiquei tão aliviado que me senti exultante.
Estou compartilhando essa história, pois ainda fico impressionado com a determinação e a
coragem que tive aos cinco anos. Apesar do medo e do desespero, eu persisti.
Hoje em dia, sempre que enfrento uma situação desesperadora e difícil que me dá vontade de
desistir, me lembro de ser tão corajoso quanto o garotinho na floresta, persistindo até achar a
solução necessária. Isso me lembra do valor “Seja corajoso. Faça o que importa”, que tenho
tentado praticar desde meus cinco anos de idade. Convido você a tentar também.
Meia-volta
Dez anos atrás, em uma competição local de netball (que pratico até hoje), um jogo em
particular ficou bastante agressivo por parte de ambos os times, e o nosso estava perdendo. Nós
não concordávamos com as decisões da árbitra, que parecia estar contra nós. Quando ela me
penalizou por algo que, na minha cabeça, não existia, agi por impulso e expressei minha
revolta. “Como você conseguiu sua licença?!”, perguntei sarcasticamente. Eu me arrependi na
hora. Estava com raiva, mas não deveria ter sido rude.
No caminho para casa, refleti sobre o jogo e concluí que havia contrariado meus princípios. Dei
meia-volta e fui para a quadra. A árbitra ainda estava lá, arrumando suas coisas. Eu poderia
ter escolhido o caminho mais fácil e dito: “Eu queria saber como você conseguiu sua licença,
pois também quero ser árbitra.” Mas, em vez disso, tomei coragem e pedi desculpas.
Ela me olhou incrédula e disse que, durante a profissão, já tinha visto muita hostilidade, mas
pouca compaixão e remorso. Ela afirmou que minhas desculpas fizeram seu dia.
Ainda bem que eu voltei. Do contrário, que direito teria de esperar que alguém fosse respeitoso
ou responsável por suas ações? Essa percepção se torna ainda mais profunda quando observo
meu filho de três anos e ensino a ele essas lições.
Os comportamentos eram:
• Portar-se profissionalmente.
• Agir rápido para ajudar os clientes a alcançar seus objetivos.
• Reconhecer as pessoas pelo seu impacto.
• Desafiar ativamente o status quo.
À medida que a primavera de 2020 se aproximava, Michael sabia que era um momento muito
importante para os criadores de ovelhas venderem cordeiro. Mas, naquele ano, foi diferente. As
restrições da Covid-19 afetavam os pecuaristas e continuariam a ser um problema.
Imediatamente, Michael consultou suas fontes para avaliar os dados sobre preços e níveis de
produção, pois “queria quantificar o impacto para os nossos clientes de criação de ovelhas”. Ele
descobriu que, em vez de a produção aumentar para os níveis normalmente vistos naquela
época do ano, as restrições ao processamento de carne a manteriam estável.
Com a situação da Covid-19, Michael sabia que as restrições causariam ansiedade aos
criadores de ovelhas e seus clientes e que, por esse motivo, precisava entender o impacto em um
nível mais profundo. Ele passou a questionar: “Como isso afetará um pecuarista que pretende
vender cordeiro nas próximas semanas?” Ele também queria dar insights para que os gerentes
de relacionamento compreendessem o que seus clientes enfrentariam.
Michael praticou o valor “Agir rápido para ajudar os clientes a alcançar seus objetivos”. Em
uma semana, ele analisou os dados e comunicou os insights valiosos aos gerentes de
relacionamento, o que possibilitou conversas muito mais relevantes, eficazes e empáticas com os
clientes.
Ao trabalhar com seu colega Brent, ela se deparou com um cliente em potencial que se
beneficiaria da oferta de serviços. O supervisor de Karen estava de licença, mas, em vez de
esperar que ele voltasse, ela e Brent decidiram visitar o cliente.
Em uma outra ocasião, Karen soube que um dos clientes — um advogado — se sentia limitado
por seu relacionamento com o banco. Imediatamente, ela conversou com ele. Karen disse: “Eu
sabia que contas de advogados podem ser complicadas. Eu queria ajudar o cliente a lidar com
as complexidades de due diligence.” Isso envolveu um extenso, mas necessário, processo de
coleta de dados, verificação de identidade e documentação para atender aos requisitos de
combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento de terrorismo. Como resultado da
intervenção de Karen, o cliente forneceu ao banco US$10 milhões em depósitos a prazo, bem
como a oportunidade de gerenciar todos os seus negócios — até US$20 milhões.
As atitudes de Karen são ótimos exemplos de como “agir rápido para ajudar os clientes” pode
ter um enorme impacto para os negócios e os clientes do banco. Com uma conversa centrada no
cliente, é possível fazer uma grande diferença no serviço prestado, favorecendo os resultados.
Direto ao ponto
Histórias de funcionários que praticam valores não precisam ser longas.
Alan Joyce, CEO da Qantas, costuma usar histórias para comunicar algo
importante e, por esse motivo, leio sua “Carta do CEO” na revista da Qantas
sempre que viajo de avião.
O tripulante de cabine que, sem ser solicitado, deu assistência a um passageiro com o pulso
quebrado, chegando a abrir um saco de salgadinhos antes de entregá-lo a ele. Ou os dois
engenheiros em Alice Springs, que finalizaram seu turno, mas voltaram ao aeroporto quando
souberam que um de nossos aviões internacionais pousaria lá devido a um passageiro doente. E
o gestor aeroportuário que estava de folga e, após desembarcar de um voo, notou que um
passageiro estava angustiado por ter perdido o notebook, levando-o de volta à aeronave para
ajudá-lo a procurar.
Confira e reflita
• Você forneceu um ambiente propício para seus funcionários se conectarem
pessoalmente com o significado dos objetivos, valores ou comportamentos
da empresa?
1Infelizmente, Sininho já havia falecido — não devido à limpeza ou à falta dela, mas, como o irmão
de Emma alegou, porque Tosse intimidou Sininho (como os peixes podem fazer às vezes).
Adocicando os negócios
Como evidenciado no capítulo anterior, as histórias pessoais de
funcionários que praticam os valores da empresa são poderosas para
comunicar a marca. Às vezes, as ações de um funcionário que pratica
valores excepcionais têm um impacto direto e imediato no cliente, como
mostra a história da Sweetgreen, que brinca com a palavra “sweet” (doce)
no nome.
É isso que criará fidelidade à marca com os clientes existentes, mas também
atrairá novos clientes. Além disso, compartilhar a história internamente
mostra a outros funcionários como “acrescentar um toque doce” e “causar
impacto”. A Nordstrom era famosa por isso. A empresa compartilhava
histórias de ótimo atendimento ao cliente para mostrar suas expectativas aos
funcionários.
Além de ter sido convidada para ensinar storytelling aos duzentos líderes,
eu pude testemunhar o compromisso da Fundação Obama em contar
histórias. Ao longo dos cinco dias, foi exibida uma seleção de vídeos com
histórias de líderes que revelavam seus feitos.
Julian disse que “a história fez um grande trabalho” para seu escritório, o
único de direitos humanos da região administrado por um nativo indígena.
A divulgação no programa e o compartilhamento nas plataformas de amplo
alcance da Fundação Obama ajudaram muito a amplificar não apenas a voz
de Julian, sobretudo sua abordagem ascendente da prática jurídica, mas
também as vozes das comunidades indígenas com as quais ele trabalha.
Desde o lançamento do vídeo, o escritório de Julian tem visto o
engajamento aumentar, particularmente o de grupos na região Ásia-Pacífico,
preocupados com as implicações aos direitos humanos causadas pela
mineração em alto-mar e pelas mudanças climáticas.
Engajar e inspirar
Crystal Prior é gerente de comunicações do Programa de Empreendedores
do Departamento de Indústria do Governo Australiano. Esse programa
ajuda pequenas e médias empresas a atingirem os seus objetivos,
concedendo-lhes acesso a consultoria especializada e apoio financeiro por
meio de subsídios.
Afinal, não há nada como enfrentar a fúria abrasadora da Mãe Natureza para dar valor ao que
mais importa ou assumir uma nova forma de pensar.
Nos meses seguintes a janeiro de 2020, Kay Saarinen e Jo Lane observaram seus negócios,
ambos do mercado de bem-estar, passarem por uma situação semelhante, pois as consequências
dos incêndios as fizeram paralisar as atividades e decidir exatamente onde queriam estar.
Apenas alguns dias após a Costa Sul reabrir suas estradas, Monique Donaldson, experiente
facilitadora de negócios, viajou para se encontrar com Kay e Jo e ajudá-las a obter o imenso
apoio que tende a suceder um acontecimento tão grave.
“Por algumas semanas, lutamos contra incêndios florestais e fomos evacuados em sete ocasiões
diferentes”, contou Kay. “Eu havia conseguido um pequeno espaço nos perfis do Instagram ‘Buy
from the bush’ e ‘Spend with them’; e, quando finalmente cheguei a Bega e verifiquei meus e-
mails, havia cinquenta pedidos! Basicamente, ajudou a salvar meu negócio.”
Kay ainda aprecia o elemento presencial de seu trabalho, mas definitivamente há um foco
digital muito mais forte agora. “Ainda passo muito tempo na fazenda, removendo árvores
mortas e consertando cercas, mas as plataformas digitais contribuem para a minha renda. Na
verdade, passei a encarar o modelo de negócios de uma forma totalmente nova.”
Jo Lane administra a Sea Health Products, que transforma algas douradas em diferentes
produtos, incluindo nutracêuticos, shampoos e temperos. Ela usou o tempo de inatividade
forçado para reavaliar e planejar seu próprio cultivo de algas, que esperava iniciar em breve. Jo
disse que os incêndios e, em seguida, a Covid-19 aguçaram sua visão de negócios.
Monique Donaldson explicou que é preciso ter tempo e paciência para ajudar as empresas a
obterem o suporte financeiro adequado, mas muitas apreciaram o fato de ter uma pessoa que
enxergasse além, detectando novas oportunidades.
“O negócio de Kay está procurando fazer conexões e aprimorar a produção, incluindo uma nova
fábrica, enquanto Jo quer colaborar mais com os pesquisadores. Nós a conectamos ao CSIRO
para ajudar no planejamento do cultivo de algas”, esclareceu Monique.
O que eu gosto nessa história é que Kay e Jo são o foco; elas são as heroínas.
Existem apenas mensagens sutis sobre o próprio programa. Essa história
também apareceu no relatório anual e, nessa versão, o programa e os
benefícios receberam maior destaque.
Jo acrescentou: “Divulgar essa história fez com que mais pessoas nos
procurassem para compartilhá-la novamente. E, toda vez que tenho essa
oportunidade, me reconecto com o propósito da minha empresa. As tarefas
diárias de um negócio podem ser exaustivas, mas compartilhar minha
história é revigorante.”
Crystal acredita que, quando uma história atende a pelo menos um ou dois
critérios, ela é mais interessante e pode mostrar melhor a outros clientes o
que é alcançável. Por exemplo, a história de Dan Hannigan, CEO da
Medalfield, que cresceu perto de um aterro sanitário, no extremo norte de
Queensland, e colabora com a Universidade James Cook para usar a
tecnologia de micro-ondas na decomposição de plásticos. Ou a história de
Claire Leach, fundadora da Hatch Biosystems, que mostra como seu
exército de moscas-soldado-negro impede que toneladas de resíduos
alimentares cheguem aos aterros sanitários todos os anos.
Confira e reflita
• Quais estudos de caso você poderia transformar em histórias mais
cativantes?
• Quais histórias você poderia compartilhar (bem como os fatos) para ajudar
no financiamento contínuo de um projeto?
3 Todas essas histórias, registradas em vídeo, estão disponíveis no site da Fundação Obama.
HISTÓRIAS DE DESAFIO
RELATOS DE SITUAÇÕES DIFÍCEIS
Em novembro de 2014, após um ano de crescimento significativo no meu
negócio, meu marido decidiu deixar sua função corporativa sênior. Na
mesma semana, minha amiga Elise aceitou minha oferta de largar a carreira
como professora de escola primária para ser minha gerente executiva em
tempo integral. Mesmo que tenhamos debatido o assunto por alguns meses,
quando ambos tomaram suas respectivas decisões, senti o aterrorizante peso
da responsabilidade. A certa altura, cheguei até a ter náuseas, pois dependia
de mim continuar o sucesso que havia experimentado nos últimos doze
meses, manter Elise empregada e, como única provedora, garantir… bem,
entre outras coisas, o sustento da minha família.
Muitas vezes, eu me vi sendo vítima da situação que, inicialmente, poucas pessoas na Mekong
haviam apoiado. Eu esperava que outros membros da equipe se posicionassem a favor do
processo de transformação e ficava desapontado quando não o faziam. Eu queria que outras
pessoas compartilhassem o peso da liderança comigo, mas me sentia sozinho.
Foi em momentos como esses, quando eu contestava minha capacidade e me sentia uma vítima,
que Jerome manifestou a convicção de que eu conseguiria exercer liderança, defender o futuro
ideal da Mekong Capital e convencer os outros a compartilhar da minha visão. Jerome me fez
perceber que eu não era uma vítima da falta de apoio e comprometimento dos funcionários em
se alinhar em torno desse futuro ideal. Como resultado, constatei que eles não se tornariam
líderes se eu não desse o exemplo. Tudo dependia de mim e da minha atitude. Eu compreendi
que, se eu os culpasse, eles também culpariam alguém. Se eu assumisse responsabilidade, alguns
deles fariam o mesmo.
Ao enfrentar o processo, trabalhamos para nos alinhar à nova visão da empresa. Em novembro
de 2009, algumas semanas antes de concluirmos a transformação, Jerome soube que tinha um
problema cardíaco grave e precisaria fazer uma cirurgia na Tailândia. Ele adiou a cirurgia por
três semanas para nos ajudar a completar o processo, pois havia se comprometido conosco.
Infelizmente, houve uma complicação cirúrgica e ele faleceu pouco depois, em 25 de dezembro
de 2009. Foi uma perda terrível e inesperada, e eu chorei ininterruptamente por dias. Mas havia
chegado o momento de assumir a liderança da Mekong Capital por conta própria, e Jerome
sempre acreditou que eu conseguiria.
Desde então, ele tem sido minha inspiração para ser líder, para enxergar o melhor nas pessoas e
responsabilizá-las pelo alcance de todo o seu potencial. A capacidade que ele viu em mim era
maior do que eu poderia imaginar.
Para honrar a memória de Jerome, estou empenhado em viver de acordo com o que ele viu em
mim, fazendo com que a Mekong Capital alcance sua visão de reinventar o private equity.
Imagine o que será possível se cada um fizer jus a todo o seu potencial e se responsabilizar
mutuamente por isso.
Alguém a fim de um drinque?
Quando a demanda por álcool em gel superou a oferta, a destilaria Archie
Rose, de Sydney, modificou sua produção para fornecer o produto.
Desde 23 de março, a Archie Rose Distilling Co. mudou seu foco de produção, fornecendo, até o
momento, 101.959 frascos de 500ml de álcool em gel — um esforço para fortalecer os
suprimentos nacionais e possibilitar a realocação de seus quinze funcionários, bem como criar
novos empregos para mais doze colaboradores do setor.
Incentivada pelo fechamento total dos bares em 20 de março, a Archie Rose imediatamente
alterou a produção de uísque, gin e vodka, passando a fornecer álcool em gel. O primeiro lote
foi liberado em 23 de março, e, desde então, foram disponibilizados mais quatro lotes. A
destilaria tem a intenção de fabricar o produto pelo tempo que for necessário.
Cada lote atendeu à demanda sem precedentes do público em geral, dos órgãos governamentais
e dos serviços essenciais, juntamente com uma variedade de grandes e pequenas empresas de
varejo e de lazer, incluindo a Endeavour Drinks e 2.250 unidades disponibilizadas para bares
independentes, restaurantes e lojas de bebidas.
Garantir um volume constante de embalagens para viabilizar a mudança de produção tem sido
incrivelmente difícil, assim como adaptar nosso depósito para atender aos envios de um número
sem precedentes de produtos que diferem das nossas bebidas habituais. Somos muito gratos pelo
apoio de fornecedores, de clientes e do governo. Agradecemos pela paciência das pessoas
enquanto lidamos com a transição para fabricar inúmeros frascos de álcool em gel.
Essa exposição não foi o que motivou a empresa, mas, nas palavras de
Victoria, “tal resultado foi bem-vindo, ainda que inesperado”. Ela esclareceu
que a forte conexão da destilaria com seus valores impulsiona as decisões,
sendo dois deles a inovação e a qualidade. Como esses valores já estão
arraigados, a Archie Rose sabia que conseguiria inovar rapidamente e
manter um alto padrão.
Para uma marca jovem, foi uma grande vitória. Certamente, ao longo do
caminho, a Archie Rose conquistou o engajamento e a lealdade dos
funcionários.
Hotel de esperança
O setor de turismo e hotelaria também sofreu um grande impacto em 2020.
Todos os hotéis foram afetados pelas proibições de viagem à medida que
tentavam lidar com o desafio da Covid-19. Este e-mail de Arne Sorenson,
presidente e CEO da Marriott International, foi enviado a todos os clientes.
A Marriott sabe que o mundo deve se unir para superar a Covid-19 e seu impacto devastador.
Conforme testemunhamos o desdobramento dessa tragédia sem precedentes, é evidente que
precisamos ajudar e fortalecer os profissionais de saúde que estão na linha de frente para conter
essa doença. Por esse motivo, estabelecemos alguns planos para auxiliar no combate urgente à
pandemia.
Dada a interrupção sem precedentes no setor de viagens, alguns de nossos hotéis tiveram que
fechar temporariamente. Mesmo assim, associados de locais como Nova Delhi, na Índia, e
Santos, no Brasil, encontraram várias maneiras de apoiar as comunidades. O Riviera Marriott
Hotel La Porte de Monaco e o AC Hotel Nice, por exemplo, doaram todos os seus alimentos e
produtos não utilizados para uma instituição de caridade que fornece abrigo e outros serviços
para crianças em risco. A fim de mitigar a crise, muitos de nossos hotéis contribuíram com
alimentos, refeições e suprimentos indispensáveis, como produtos de limpeza, máscaras, luvas,
lenços umedecidos, desinfetantes e toucas de banho para profissionais de saúde e outros
trabalhadores da linha de frente. E, em um belo gesto de solidariedade, muitas de nossas equipes
iluminaram as janelas dos hotéis para manifestar amor e mensagens de esperança.
Esse tipo de história cria uma atração magnética. Isso me fará escolher um
dos hotéis Marriott? Não necessariamente. Mas, com certeza, me fará
considerá-los.
• Houve alguma situação em que seus valores foram testados? É uma história
que vale a pena compartilhar?
1Brené Brown também disse uma das minhas frases favoritas: “Talvez as histórias sejam apenas dados
com alma.”
HISTÓRIAS DE COMUNIDADE
ENFATIZANDO A RESPONSABILIDADE CORPORATIVA
Você se lembra da história de criação da Who Gives A Crap? Bem, eu ouvi
falar dela quando Alex, minha filha mais velha, insistiu para comprar o
papel higiênico, pois a empresa era ética. Não era como se eu discordasse,
mas isso aconteceu durante uma época em que eu sentia que todas as
minhas decisões de compra eram julgadas, criticadas e debatidas por
minhas filhas.1
Aqui quem fala é o Danny, um dos cofundadores da Who Gives A Crap. Que época difícil, né?
Estou usando chinelos e escrevendo da minha mesa de jantar, que agora é meu escritório. Minha
esposa está no sofá (que agora é o escritório dela), e meu cachorro está roncando aos meus pés.
No fogão, há água fervendo para fazer chá, e os gatinhos que adotamos estão brincando no
corredor. Não é a nossa configuração de escritório habitual, mas funciona.
Este também não é o e-mail habitual que enviamos. Não há nada de extravagante aqui. Sou só
eu, escrevendo para você a fim de compartilhar algumas coisas que, espero, o façam se sentir
um pouco melhor. O clima está pesado com tantas notícias ruins, mas também aconteceram
muitas coisas boas. Queremos compartilhá-las com você.
Você provavelmente já ouviu falar que é um bom momento para estar no negócio de papel
higiênico, e de fato é. Em março, esgotamos nosso estoque, sendo o melhor mês de vendas da
nossa história, e esperamos que os próximos meses também sejam favoráveis.
Em seguida, no e-mail, Danny explicou: “Faremos uma doação imediata de
100 mil dólares australianos para quatro de nossos parceiros de caridade
que estão ajudando as pessoas mais vulneráveis a lidar com esta crise
global.”
Ele também explicou que, nas semanas seguintes, a Who Gives A Crap teria
papel higiênico suficiente para seus clientes, mas que enviaria os primeiros
lotes para aqueles que mais precisavam. Assim, a empresa doaria “10 mil
rolos de papel higiênico ao Foodbank Victoria, que está ajudando a
distribuir bens essenciais de uso doméstico a pessoas necessitadas junto
com nossa equipe em Melbourne”. As equipes nos Estados Unidos e no
Reino Unido estavam se organizando para fazer o mesmo.
O e-mail, que não era sobre o produto da empresa, mas, sim, sobre todas as
pessoas em sua comunidade, terminou da seguinte forma:
P.S.: Desculpe se você estava esperando notícias sobre um papel higiênico novo. Ainda estamos
sem estoque, mas prometo que essa questão será resolvida. Se quiser receber atualizações de
estoque, clique aqui. Ou entre para a nossa lista de espera clicando aqui. Quer ver um
chihuahua andando de skate? Clique aqui.
Em 2011, juntamente com um grupo de 25 mulheres que enfrentavam desafios semelhantes, Luz
começou a fazer e vender artesanato em Melbourne. Ela entendeu que apoiar umas às outras
também é fortalecer umas às outras.
A SisterWorks Inc. nasceu em maio de 2013, quando um comitê de voluntárias se juntou à Luz
com habilidades jurídicas, de captação de recursos, marketing e administrativas para dar
suporte e estrutura ao projeto.
Embora Luz não seja mais CEO, ela ainda é a fundadora e, portanto, essa
história permanece sendo usada e compartilhada pela organização. Ela
mostra como tudo começou e como é o trabalho feito na comunidade.
Você não precisa ser uma organização sem fins lucrativos ou uma empresa
ética para compartilhar histórias sobre as coisas boas que faz em sua
comunidade.
Ainda que muitas comuniquem essa atitude no site e no relatório anual, elas
tendem a se concentrar nas estatísticas, e não nas histórias. As empresas
listam a quantidade de dinheiro doado, o número de beneficiários, as horas
de serviços voluntários. Normalmente, essas informações são necessárias
para relatórios de compliance, mas costumam ser desinteressantes para a
leitura.
Apresentando Faith
Uma dessas histórias é sobre Faith Buhle Moyo, do Zimbábue. Sua história
de comunidade é apresentada no site da EY, em formato escrito e de vídeo.2
Sua história começou a partir da experiência de ser uma empreendedora no
Zimbábue e não ter acesso ao conhecimento ou à ajuda para sustentar seu
pequeno negócio.
Faith Moyo vivenciou essa situação quando abriu uma cafeteria de sucesso com o pai. Ela
acreditava que o negócio tinha potencial; mas, como a maioria dos zimbabuanos, Faith e o pai
não tinham a perspicácia de negócios ou as habilidades de gerenciamento financeiro para
impulsionar o crescimento. Quando a cafeteria fechou, dois anos depois, Faith se perguntou
como seria se houvesse uma organização de serviços profissionais para ajudá-los durante o
crescimento.
também dedicam seu tempo livre a palestras sobre gestão financeira para empreendedores. Até o
momento, eles alcançaram mais de oitocentas pessoas.
A história de Faith também foi destaque como uma das vencedoras globais
do prêmio “Better Begins With You”, da EY. Conversei com Faith para
descobrir como ganhar o prêmio, porém o mais importante é que o
compartilhamento de sua história pela EY ajudou ela e a sua causa.
Confira e reflita
• Suas histórias são realmente histórias ou apenas um monte de números e
porcentagens?
1 Para falar a verdade, elas me deixavam louca. Eu ficava tão sem paciência que apenas ignorava.
E
spero que você tenha obtido alguns insights sobre os tipos diferentes de
histórias que pode compartilhar e se inspire a criar suas próprias histórias
magnéticas. Agora, você verá como implementar o brand storytelling.
Vamos lá?
Esse processo pode ser aplicado pelas organizações. Porém muitas delas o
complicam demais, contratando consultores, demorando meses para
determinar seus valores e propósitos e gastando ainda mais tempo para
articulá-los.
Lembro quando minha filha mais nova, Jess, estava no sexto ano. Era o dia
de atletismo e ela competiu com as colegas de classe, divididas em quatro
times, em uma corrida de 1,5km. No fim, ela me contou que foi mal, pois
não estava se sentindo muito bem, mas que, ainda assim, não quis desistir e
até conseguiu ultrapassar algumas colegas. Então, ela me disse que estava
muito feliz, pois duas de suas amigas conquistaram o primeiro e o segundo
lugar — um motivo para comemorar, mesmo que estivessem em times
diferentes.
Como mãe, fiquei muito orgulhosa: não apenas porque minha filha não
desistiu, mas também porque ela ficou mais animada com a conquista de
suas amigas do que com a sua possível vitória… e compartilhei isso com
Jess.
Para ela, não importava a denominação. Eu poderia ter dito “valor em ação”,
“comportamento desejado”, “código de família”, mas não usei nenhum
rótulo. Porém, pelo meu reconhecimento, Jess sabia que agiu corretamente.
É o tipo de comportamento que não será apenas reconhecido, mas
esperado, no futuro.
Autêntica e coerente
Você deve estar pensando que o processo parece engessado demais;
certamente, se você apenas fizer o que considera verdadeiro, então será
conhecido por isso. E, até certo ponto, é verdade. Se fizer o que diz, terá
uma boa reputação. Parte da sua marca será confiável. Se, por outro lado,
você dificilmente fizer o que diz, será conhecido como não confiável.
Idealmente, sua marca deve ser autêntica e coerente com quem você é. Se
você tenta ser algo que não é, ou que não é natural para você, é uma atitude
forçada e insustentável. Se você quer ser conhecido como estratégico, mas é
uma pessoa muito detalhista, então pode ser necessário mais esforço para
mudar. O mesmo acontece com a empresa: se ela quer ser conhecida como
inovadora e responsiva, mas tem processos complicados, sistemas
burocráticos e funcionários relutantes, então será preciso muito esforço para
mudar.
Enfim, um par de sapatos chamou minha atenção nessa loja, então entrei,
experimentei e, com o incentivo da minha filha, decidi comprá-los. Eles
eram baixos e verde-escuros, e descobri que se chamavam brogues. Apesar
de muito confortáveis, eram caros (então foi um progresso para mim), mas
o valor compensava o preço. Eles também eram de uma marca de
Melbourne (Habbot), e é sempre bom apoiar o talento local.
Eu gostei tanto que comprei outro par de sapatos, baixos e prateados. Muita
gente começou a comentar sobre meus sapatos. Muita gente. No elevador,
estranhos faziam comentários. No avião, a pessoa ao lado ou os comissários
de bordo faziam comentários. Lembro-me de finalizar uma palestra e
alguém me abordar para dizer: “Não consegui prestar atenção nos primeiros
minutos, pois me encantei por seus sapatos.” Então continuei comprando a
mesma marca, que agora compreende aproximadamente 75% da minha
coleção de sapatos.
Mas, então, se tornou uma atitude deliberada. Tão deliberada que estou
usando esses sapatos na foto de capa do meu livro anterior… e agora me
sinto um pouco pressionada para usá-los sempre! As pessoas parecem ficar
desapontadas se apareço com um par de sapatos comuns, então prefiro não
arriscar. (É uma desculpa para atualizar minha coleção de sapatos Habbot.)
Portanto, eu estava ciente de que “real” também era parte da minha marca.
Confira e reflita
• Você sabe exatamente como gostaria que sua marca fosse descrita?
3 Eu sei que, tecnicamente, elas não são postiças. São minhas unhas, só que com um monte de pó e
cola por cima.
ENSINAR
COMO EDUCAR CONTADORES DE HISTÓRIAS
Em um de meus treinamentos, uma mulher me contou que havia
compartilhado uma história pessoal em uma situação de negócios. Ela me
disse que havia demonstrado vulnerabilidade, mas que não funcionou. Na
verdade, ela recebeu feedback de que a história era inadequada. Alguns
colegas de equipe até riram dela, uma situação horrível… e adivinha? Ela
nunca mais recorreu ao storytelling. Quando ouço casos assim, fico muito
triste.
Maya Angelou afirmou: “Não há maior agonia do que carregar uma história
não contada dentro de você”, e isso é verdade. Mas ter a coragem de
compartilhar uma história, falhar por não saber como e passar a sentir
medo a ponto de nunca mais tentar… isso, sim, é agonia.
A escolha dos líderes empresariais e das organizações não se trata do envolvimento no
storytelling, pois eles dificilmente podem agir de outro modo, mas, sim, do uso do storytelling de
forma involuntária e inábil ou inteligente e habilidosa.
Se você quer aprender a tocar piano, seria uma boa ideia fazer aulas. Se
você deseja que os membros da sua equipe comecem a usar um novo
sistema contábil, deve investir em treinamento. Se sua equipe já fosse boa,
mas precisasse melhorar nas apresentações, você também investiria em
treinamento… enfim, você entendeu.
Imagine… e concretize
Imagine se, no início de cada reunião de equipe, você pedisse que alguém
compartilhasse uma história de um valor central. Talvez o valor seja
“agradar os clientes”, e alguém compartilha a história de John, da loja de
Nova York, que viu uma cliente com sua bagagem na chuva, então correu
com o próprio guarda-chuva para ajudá-la a pegar um táxi.
Como você acha que John se sentiria ao receber esse telefonema? E o que
acha que ele faria a seguir?
Acho que ele se sentiria muito bem. Acho que se sentiria engajado. Acho
que se sentiria valorizado com o reconhecimento de sua atitude. Também
acho que ele contaria aos colegas e à família sobre o telefonema do CEO. E
sabe o que mais John faria? No dia seguinte, buscaria oportunidades para
agradar os clientes de novo… e os colegas que ouviram a história fariam o
mesmo.
Ê
NO ENTANTO, SE VOCÊ QUISER INTRODUZIR O BRAND
STORYTELLING PARA SE CONECTAR COM CLIENTES E
ENGAJAR FUNCIONÁRIOS, TODAS AS EQUIPES PRECISAM
APRENDER UM POUCO SOBRE HISTÓRIAS.
… E como ensina?
Os funcionários que têm mais influência e oportunidade de compartilhar
histórias precisarão de um treinamento mais intenso do que os outros.
Terceiro, eles se tornam exemplos. Quando outras pessoas veem seus líderes
seniores compartilhando histórias, isso lhes dá o incentivo e a permissão
para fazer o mesmo. Precisamos aceitar a situação: ao longo da carreira, a
grande maioria ouviu que deveria “apresentar os fatos” e que “os negócios
não são pessoais”. Por causa disso, pode ser necessário algum incentivo para
que os líderes mais relutantes mostrem um lado mais pessoal.
Então, a empresa pediu que eu fizesse uma orientação individual para que
cada líder sênior recontasse melhor a história. Recusei o trabalho, pois sabia
que era uma receita para o fracasso.
Confira e reflita
• Os funcionários entendem o poder do brand storytelling?
1 O que me faz pensar que ele não explicou a estratégia corretamente aos líderes seniores…
COLETAR
COMO ENCONTRAR HISTÓRIAS
Quando as pessoas me perguntam como encontrar histórias para
compartilhar, costumo usar a analogia de andar pela praia com um detector
de metais. Mas, em vez de procurar e encontrar metais, devem-se procurar e
encontrar histórias.
Não basta pedir a alguém para “contar uma história”. Esse é um erro
comum. A maioria das pessoas pensa que suas atitudes ou realizações não
são boas o suficiente para uma história interessante. É preciso extrair a
história e os detalhes relevantes.
Descobri que, quando você pede às pessoas para contar uma história, por
exemplo, “Você pode nos contar uma história sobre o atendimento ao
cliente?”, elas travam. Usar a palavra “história” faz com que elas pensem que
deve ser um grande acontecimento, descartando todos os exemplos
considerados.
• o conceito de storytelling;
Esse processo precisa ser simples para que todos tenham a chance de
contribuir. Além disso, se as histórias começarem a demorar (e isso acontece
naturalmente), lembre os participantes de que a duração é de alguns
minutos.
Certa vez, fiz uma sessão dessas para um cliente que tinha o valor de
integridade, mas nenhum exemplo surgiu — mesmo com solicitações
específicas!
Por outro lado, há alguns anos, uma empresa de contabilidade, que estava
se expandindo, queria definir seus propósitos e valores. Sabendo do meu
trabalho, eles pediram minha ajuda. Então, facilitei uma sessão de busca
com a equipe, seguindo o processo que acabei de explicar.
• Cumprimos promessas.
• Enfrentamos o impossível.
Confira e reflita
• Você tem um processo para encontrar histórias de funcionários que praticam
a marca?
• Como você coleta histórias passadas para garantir que elas não se percam
no futuro?
Integração
O objetivo dos programas de integração é inserir novos funcionários à
empresa da maneira mais eficaz e eficiente. Basicamente, é proporcionar-
lhes o necessário para executar o trabalho o mais rápido possível. Mas
também é um dos locais mais eficazes para engajá-los por meio de histórias
e fazê-los entender a cultura da empresa desde o primeiro dia.
Digo às pessoas que nos concentramos demais em estatísticas, e não em histórias. Se nos
abrirmos um pouco mais e compartilharmos nossas histórias — histórias reais —, quebraremos
barreiras.
O Discurso-chave
As histórias compartilhadas na integração não precisam ser de líderes atuais.
Veja, por exemplo, a empresa de design e arquitetura Arup.
Manaka tinha apenas nove anos quando chegou à Austrália com a mãe e as irmãs. Agora
formada em ciência alimentar e com uma paixão por gastronomia, ela aproveitou a
oportunidade para se voluntariar na SisterWorks como assistente de produção de alimentos. Ela
gostava de trabalhar na cozinha da SisterWorks, mas queria mais desafios, então se inscreveu
como coordenadora de degustação, ajudando a gerente de vendas a organizar degustações nos
supermercados Ritchies.
Manaka é uma mulher com muitas habilidades e que adora desafios. Agora, ela está
aprendendo como gerenciar pessoas e equipes. Essas habilidades a ajudarão a conquistar seu
emprego dos sonhos no desenvolvimento de produtos alimentares.
Site
Há alguns anos, conheci uma mulher que administrava várias creches. Ela
era dentista, então fiquei intrigada com a mudança de carreira. Ela me disse
que demorou muito para engravidar do filho, Joe. Quando estava pensando
em voltar ao trabalho, começou a procurar uma creche e ficou insatisfeita
com o que viu. Então, comprou uma e a transformou em um local onde Joe
se sentiria feliz. Todos os seus funcionários conhecem essa história, a tal
ponto que, quando devem tomar uma decisão, se questionam: “Isto deixaria
Joe feliz?” Embora Joe agora esteja na escola, e não mais na creche, a
mensagem não se perdeu.
Não sei dizer qual dos formatos é melhor; utilizo ambos, mas com um
conteúdo ligeiramente distinto. O verdadeiro segredo é garantir que as
histórias em seu site não se resumam a uma linha do tempo.
Mídia social
Há alguns anos, a empresa de contabilidade global EY introduziu o
“Flextober”: durante o mês de outubro, os funcionários são incentivados a
compartilhar nas mídias sociais os benefícios do trabalho flexível. Como a
empresa quer ser conhecida por suas condições de trabalho flexíveis, ela
incentiva os funcionários a tirar selfies e postar sobre o assunto em suas
mídias sociais, como LinkedIn e Facebook. Muitas vezes, você verá outros
funcionários compartilhando, curtindo e comentando essas postagens.
Fico sabendo das coisas boas que algumas empresas fazem apenas porque
os funcionários as compartilham nas mídias sociais.
Kim acredita que essas histórias transformam uma mera refeição em uma
experiência gastronômica, resultando em maior conexão e valorização por
parte dos clientes.
Você já deve ter conversado com vários fornecedores para escolher o mais
adequado. E provavelmente descobriu, antes mesmo de refletir
racionalmente, que já havia tomado a decisão de forma emocional, pois
gostou mais de um do que dos outros. Certamente, o seu preferido
compartilhou histórias que aceleraram a conexão e o relacionamento,
criando a percepção “gosto de você”.
Confira e reflita
• Qual desses canais você já utiliza, mas poderia aproveitar melhor?
• Qual desses canais você não tinha considerado, mas poderia usar?
3Se você compartilha histórias de outra maneira única, eu adoraria saber. Veja como me contatar no
final deste livro!
CRIAR
COMO ORIGINAR HISTÓRIAS
No capítulo anterior, apresentei algumas maneiras de comunicar histórias,
mas deliberadamente deixei uma de fora.
Cada pessoa com quem você interage faz parte dele. Colegas, clientes,
potenciais clientes, funcionários, potenciais funcionários, fornecedores,
parceiros, concorrentes… todos.
Você também não terá controle de qualidade. Tal como em um telefone sem
fio, a mensagem pode ser distorcida. Você não saberá quem ouviu a
mensagem ou qual foi a mensagem transmitida.
O bom e o mau
Em 2019, um grupo de alunos do St Kevin’s College, em Melbourne, foi
gravado cantando músicas sexistas no transporte público. O vídeo viralizou
e prejudicou bastante a marca da escola.
Não estou sugerindo que você publique um comunicado toda vez que os
funcionários oferecerem um ótimo atendimento ao cliente. Mas talvez
existam algumas histórias dignas de compartilhar.
A fiscalização foi tão grande que levou à criação de um site para avaliar
atitudes de empresas e celebridades durante a pandemia. O
DidTheyHelp.com, fundado e administrado por um grupo de voluntários
de diferentes países, classifica empresas e celebridades como “heroes” ou
“zeroes”.2
A autenticidade do Airbnb
Com as restrições de viagem, Brian Chesky, cofundador e CEO do Airbnb,
enviou uma carta a todos os funcionários em 5 de maio de 2020. Ela foi
amplamente divulgada nas redes sociais, com comentários positivos sobre
sua cordialidade e autenticidade.
Quero dizer algumas palavras finais. Tenho um profundo sentimento de amor por todos vocês.
Nossa missão não se trata apenas de viagens. Quando criamos o Airbnb, nosso slogan original
era “Viaje como um ser humano”. A parte humana sempre foi mais importante do que a parte
da viagem. Prezamos o pertencimento e, em seu âmago, está o amor.
Eu realmente sinto muito. Por favor, saibam que não é culpa sua. O mundo nunca deixará de
buscar as qualidades e os talentos que vocês trouxeram para o Airbnb, ajudando-o a se tornar
realidade. Quero agradecer-lhes, do fundo do meu coração, por compartilhá-los conosco.
Brian
Então, para reiterar, você não pode controlar o boca a boca, mas certamente
pode influenciá-lo. Lembre-se: se ele é uma peça de hardware, as histórias
são o software. Elas fomentam o boca a boca.
Há histórias sobre sua empresa circulando no boca a boca. Mas você sabe
quais são? Você tenta influenciar as histórias compartilhadas?
Ó
APÓS ENTENDER O PODER DO BOCA A BOCA E
IMPLEMENTAR O BRAND STORYTELLING, VOCÊ TERÁ MAIOR
CONTROLE SOBRE SUA MARCA, CONECTANDO-SE COM
CLIENTES E ENGAJANDO FUNCIONÁRIOS DE FORMA
AUTÊNTICA.
Confira e reflita
• Quais histórias você está criando?
2 Em junho de 2020, essas classificações foram adicionadas à forma como empresas e celebridades
respondem ao Black Lives Matter e aos direitos LGBTQ.
D
urante a pesquisa deste livro, entrevistei várias pessoas para obter
exemplos de boas histórias, muitas das quais você leu nas páginas
anteriores.
Mesmo que você não implemente o brand storytelling, espero que, assim
como eu, aprecie as histórias apresentadas nos próximos capítulos. Também
sugiro que observe se há uma conexão com a marca dessas empresas por
conta de suas histórias. Garanto: da próxima vez que viajar a Singapura, me
hospedarei no Fullerton Hotel e, da próxima vez que for à Flórida, visitarei
o Columbia Restaurant. Já sei até o que vou pedir.
CASO DE SUCESSO
Ferguson Plarre Bakehouses, Austrália
A Ferguson Plarre Bakehouses é uma empresa familiar com sede na
Austrália. Sua história começou em 1901, nos subúrbios do norte e oeste de
Melbourne, quando as duas famílias consolidaram seus negócios. (Cresci
em Melbourne e garanto que os doces de ambas as confeitarias sempre
foram maravilhosos.)
Doces e karaokê
Steve chamou minha atenção em maio de 2020, durante o lockdown do
coronavírus, quando vi um de seus vídeos “Coronaokê”, nos quais ele dança
e canta músicas com a letra adaptada. O primeiro que vi foi uma paródia do
clássico “I Want to Break Free”, do Queen: lá estava o CEO, vestido como
Freddie Mercury no clipe, cantando sua versão: “I want to bake free” (Você
pode encontrar o vídeo no YouTube e na página do Facebook da Ferguson
Plarre.)
Meu primeiro pensamento foi “Você não vê muitos CEOs fazendo isso”.
Com a curiosidade aguçada, encontrei uma entrevista em que Steve
explicou por que decidiu fazer os vídeos. Basicamente, ele disse que o
propósito da empresa é “proporcionar felicidade às pessoas por meio de
experiências incríveis” e, se não pudesse fazer isso da maneira usual, com
um enroladinho de salsicha ou uma fatia de bolo, então talvez conseguisse
alcançar esse objetivo com um pouco de entretenimento.
Otto cresceu em um lar humilde com os pais e avós. O pai era tanoeiro
(fabricante de tonéis), então Otto foi o primeiro confeiteiro da Plarre.
Naquela época, a sobremesa era um luxo restrito aos finais de semana, isso
quando havia comida ou dinheiro. Para Otto, ter uma vida humilde
significava que o verdadeiro prazer da sobremesa não era tanto o sabor,
mas, sim, o fato de compartilhá-la com a família no final de um dia longo e
cansativo.
Steve diz que a história de Otto é “fácil de assimilar, pois é real, autêntica e
memorável”. E é por isso que ele preza o storytelling como uma forma de
comunicação. A história de Otto Plarre e de todos os sócios-fundadores da
Ferguson está disponível no site da empresa.
Steve não quer que ninguém esqueça as origens do negócio da família. E ele
também não quer esquecer.
Definição da marca
Ao analisar como a Ferguson Plarre aplicou o modelo descrito nos capítulos
anteriores, é evidente o foco no processo de definição. A empresa sabe
exatamente qual é a marca desejada.
Ela usa um one pager muito simples chamado “templo da marca”. É uma
estrutura com nove quadrantes, cada um retratando um ambiente. Todos
eles estão abaixo de um grande telhado com a frase “Baking People
Happy”3.
É por isso que os vídeos Coronaokê estão alinhados com a marca. Eles
contemplam o propósito (proporcionar felicidade) e a causa (pequenos
momentos de alegria), abarcando muitos dos outros valores, como diversão,
otimismo, identificação e coragem. Os vídeos também são congruentes com
o valor de “família”, pois, em alguns deles, Steve inclui as duas filhas, e a
esposa dele, que tem experiência em mídia e conteúdo web, faz a edição.
Além disso, os vídeos são autênticos. Steve toca em uma banda e compõe
músicas, mas não está tentando começar uma carreira musical. Apesar da
descontração, ele se dedica 100% e faz uns passos de dança sensacionais.
Os vídeos passam a impressão de que ele estaria cantando e dançando pela
casa de qualquer maneira. Há uma paixão real e genuína, e eu admiro Steve
por isso. (Mesmo que ele tenha arruinado algumas músicas do Queen. Ele
também destruiu meu amor por “Girls Just Want to Have Fun”, da Cindy
Lauper, ao alterar a letra para “Girls just want to have buns”, mas vou
perdoá-lo.)
A eficácia desse mural está no fato de que a empresa não recriou toda a
linha do tempo apresentada em seu site. Steve explicou: “Decidimos incluir
os acontecimentos que consideramos mais populares e estimados. Também
escolhemos as histórias que julgamos mais relevantes e identificáveis para
nossos visitantes.”4
Contei as palavras presentes no mural, e há apenas 168. Mas, por meio de
desenhos e poucas frases, a comunicação da empresa é completa.
• 1963 — A Rainha nos visitou. Quem fez doces para ela? Isso
mesmo. Nossas guloseimas são perfeitas para uma rainha!
A empresa denomina as seções em seu site de acordo com o que elas são: a
linha do tempo não se chama “história”; a seção “Sobre Nós” não se chama
“história”; a explicação de seus lamingtons não se chama “história”. A
palavra não é destacada no site, mas a Ferguson Plarre compartilha várias
histórias.
Confira e reflita
• Existem histórias de criação que todos os novos funcionários devem
conhecer?
• Quem deveria compartilhar essas histórias?
• Se não for possível, de que outra forma você poderia praticar isso?
• Você poderia fazer algo alinhado à sua marca, mas que não aborda a venda
de produtos? (O karaokê não é para todos, mas qual seria uma opção?)
1Adaptações das músicas “Ice Ice Baby”, do Vanilla Ice; “We Built This City”, do Starship; e “Another
One Bites the Dust”, do Queen, respectivamente. [N. da T.]
2 Também entrevistei Steve para minha série de podcasts, Authentic Leadership, e você pode
encontrá-la em meu site ou por meio do iTunes ou SoundCloud.
3Trocadilho com a frase making people happy [fazer as pessoas felizes], referência ao propósito da
empresa, usando o verbo baking [assar], referência à atividade da confeitaria. [N. da T.]
4 Observe que Steve fala “visitantes”, e não “clientes”.
CASO DE SUCESSO
Columbia Restaurant, Flórida, EUA
O Columbia é o restaurante mais antigo da Flórida e o maior restaurante
espanhol do mundo. Ele foi fundado em 1905 pelo imigrante cubano
Casimiro Hernandez Sr.
A sopa que deu fama ao Columbia. A receita original de Casimiro Hernandez Sr. é: grão-de-bico
cozido com presunto defumado, chouriço e batatas em um delicioso caldo de frango e presunto.
Picadillo “Criollo”
Em casa, Adela Hernandez Gonzmart, mãe e avó, sempre preparava sua deliciosa receita de
picadillo. É o prato preferido da família há gerações. Carne moída magra, refogada com cebola,
pimentão-verde, azeitonas, passas e alcaparras. Servida com arroz branco e plátanos maduros.
Crab Enchilado
Na infância, era o prato favorito da família aos domingos. Molho levemente picante de carne de
caranguejo, tomate, cebola, pimentão-verde, alho, orégano e vinho branco. Servido com
espaguete.
Minhas histórias preferidas, no entanto, são as dos vinhos sugeridos no
cardápio. (Novamente, já peço desculpas caso você sinta vontade de
beber.)1
AG Rosado 100% Tempranillo Rosé
Selecionado por Richard Gonzmart como uma surpresa para sua filha. Vinho de Rioja,
Espanha.
Rusty Red
O Rusty foi criado por Richard Gonzmart em homenagem ao amor incondicional entre um
homem e seu cão. Vinho tinto 100% Tempranillo de Rioja, Espanha.
Enzi Chardonnay
Criado em memória da querida pastor-alemão Enzi, que perdeu a batalha contra o câncer. Era a
cachorra de Andrea Gonzmart, familiar da quinta geração. Vinho de Napa Valley, CA.
O Columbia começou em Ybor City, Tampa. Era uma pequena cafeteria de esquina com sessenta
lugares, conhecida pelo café e pelos sanduíches cubanos e frequentada pelos operários das
fábricas de charutos.
À medida que a Lei Seca ganhava força, Casimiro Sr. enfrentava um difícil dilema: perder o
Columbia ou redefini-lo. Ele não precisou ir muito longe. Em 1919, Manuel Garcia, dono do La
Fonda, o restaurante ao lado, concordou em se juntar a ele e manter o nome. O tamanho do
Columbia dobrou da noite para o dia. Além disso, no mesmo ano, Casimiro Hernandez Jr., seu
filho, ingressou no negócio. Após a morte do pai, em 1929, ele adquiriu a propriedade e assumiu
o restaurante.
Casimiro Jr. queria levar o Columbia para além de suas origens humildes e imaginava um
elegante salão de jantar com música e dança, algo até então inédito naquela parte do país. Em
1935, durante o auge da Grande Depressão, ele se arriscou construindo o primeiro salão de
jantar com ar-condicionado da cidade, que incluía uma pista de dança. Ele o chamou de Salão
Dom Quixote.
Casimiro Jr. e a esposa, Carmen, tiveram uma filha, Adela Hernandez Gonzmart. Adela era
uma pianista que estudou na Juilliard. Em 1946, ela se casou com Cesar Gonzmart, um
violinista. No início dos anos 1950, eles viajavam pelos Estados Unidos enquanto Cesar se
apresentava em famosos supper clubs. Em 1953, o pai de Adela enfrentou problemas de saúde,
então o casal retornou a Tampa, dividindo-se entre as tarefas do restaurante e a criação dos dois
filhos, Casey e Richard.
A família se esforçou para manter o restaurante aberto durante o final dos anos 1950 e durante
toda a década de 1960, quando Ybor City começou a decair. Muitas das casas que outrora
abrigavam os operários das fábricas de charutos se transformaram em cortiços. A renovação
urbana destruiu a essência do bairro latino. Várias famílias se mudaram. Negócios fecharam.
Cesar Gonzmart percebeu que era preciso fazer algo para trazer as pessoas de volta a Ybor
City…
Destacar clientes
Em suas histórias, a empresa também destaca clientes. De fato, Jeff
informou: “Nosso melhor trabalho é compartilhar histórias das pessoas que
visitam o Columbia.”
Todo mês de janeiro, eles celebram seu aniversário de casamento no Columbia em Ybor, da
mesma forma que fazem há 71 anos: sentados à mesa 370.
Mits e Fannie mantêm sua tradição anual de brindar ao amor com um coquetel de morango
Pink Squirrel. Da primeira vez, o casal sentou-se na mesa 370 e, no ano seguinte, acabou no
mesmo lugar. A coincidência originou a tradição, que já tem sete décadas.
O Columbia parabeniza os Zamore pela maravilhosa vida juntos e deseja a todos os casais um
Dia dos Namorados repleto de amor.
Jeff me disse que “a prioridade não é compartilhar histórias dos pratos, mas,
sim, dos clientes. No processo, evidenciamos sua preferência pelo
Columbia, e isso é uma honra”.
Histórias herdadas
No site, a empresa compartilha histórias das várias obras de arte e vitrais
que adornam o restaurante.
Em 1903, para expressar sua gratidão pela terra da oportunidade, o fundador, Casimiro
Hernandez Sr., escolheu o nome de sua nova cafeteria em Ybor City — Columbia Saloon.
O nome foi inspirado em “Columbia, Gem of the Ocean”, uma popular canção patriótica que,
na época, concorria como hino nacional com “Hail, Columbia” e “The Star-Spangled Banner”.
O nome Columbia, na verdade, era um apelido dos Estados Unidos no século XIX.
Engajar funcionários
O compromisso dos proprietários de segunda e terceira geração com o
storytelling permanece até hoje. Jeff explicou que cada funcionário do
Columbia (cerca de mil) aprende sobre as histórias como parte da
integração. Todas as semanas, há reuniões de equipe onde uma nova
história é compartilhada.
Jeff finalizou nossa conversa dizendo que o legado de Paul Wilder foi
preservado: ao manter registros e compilar novas informações, a empresa
reconhece a importância do “storytelling futuro”.
Confira e reflita
• Como você poderia compartilhar histórias de relíquias ou artefatos valiosos,
como o lustre, a fonte ou as receitas do Columbia Restaurant?
• Como você poderia compartilhar histórias por trás de rituais, como Richard
sentando-se em uma mesa específica com a esposa?
• Você pode reescrever a linha do tempo da sua empresa de modo que pareça
uma série da Netflix?
1 Escrevi essa parte às 9h e, mesmo assim, senti.
Embora o Fullerton Stories tenha sido uma grande iniciativa, a empresa não
queria se limitar a “imagens em um livro”, mas, sim, “vivificar suas
histórias”.
Grandes personalidades
Para encontrar essas histórias, a empresa solicitou os registros aos
respectivos departamentos governamentais e fez postagens nas redes sociais
pedindo que os antigos trabalhadores entrassem em contato. Inúmeras
pessoas manifestaram interesse em participar da campanha e compartilhar
memórias. Todas se mostraram “abertas e entusiasmadas, o que rendeu mais
histórias do que o esperado”.
Como parte do esforço para manter sua herança viva, o Fullerton também
oferece passeios históricos pelo hotel, o que atrai muitos moradores locais e
hóspedes internacionais.
Engajar e aprimorar
Internamente, a empresa usa as histórias de outras maneiras. Elas fazem
parte do seu programa de integração. Além de assistirem aos vídeos, os
novos funcionários, tanto de Singapura quanto de Sydney, participam dos
passeios históricos, adquirindo conhecimento a partir da herança e das
histórias.
De acordo com a história da Malásia, Singapura foi fundada no século XI por um poderoso
governante srivijaya, Sang Nila Utama, ou Sri Tri Buana, príncipe de Palembang. Navegando
pela ilha de Temasek, o príncipe avistou um grande leão na foz do rio. Para os srivijaya, o leão
era o símbolo da realeza e um poderoso presságio. Sri Tri Buana levou sua corte real para a ilha
e chamou a nova capital, Singapura, de “Cidade do Leão”.
No final do século XIV, os javaneses enviaram sua poderosa frota para conquistar a ilha. Os
palácios do império srivijaya foram destruídos e os habitantes se dispersaram.
Com o tempo, a cidade foi engolida pela selva, restando apenas as imponentes muralhas, os
túmulos reais e o enorme monumento de pedra na entrada da cidade.
Em 6 de fevereiro de 1819, Sir Stamford Raffles chegou à Ilha de St. John e navegou pelo rio
Singapura. Ao passar pelo alto promontório rochoso na entrada da cidade, ele se perguntou se
ali realmente havia um leão mítico, guardando a antiga cidade real.
Adoro o fato de que, nos créditos finais dos vídeos, a empresa alega que os
hotéis são “guardiões da herança’’.
Confira e reflita
• Há histórias de pessoas que trabalharam onde hoje funciona a sua empresa?
Vale a pena compartilhá-las?
A empresa foi fundada em 2001 por Chris Freund, que cresceu em Chicago
e é um grande fã da música dos anos 1980. Em seus vinte e poucos anos,
ele estudou budismo na Índia e viveu como um monge na Tailândia. Depois
disso, viajou pela região, ficando um mês no Vietnã.
Após ler meu livro Stories for Work, Chris me contatou com o objetivo
audacioso de encontrar e documentar cem histórias em um período de doze
meses. As histórias deveriam comunicar e demonstrar os oito valores
centrais e os quatorze elementos orientadores. Chris sabia da utilidade
imediata dessas histórias, mas a finalidade era publicar um livro que
ajudaria qualquer empresa a ter sucesso.
Chris sabia que era essencial compartilhar histórias de forma mais eficaz,
por isso me contatou. Em março de 2018, viajei para Ho Chi Minh a fim de
passar três dias com Chris e a equipe de cerca de quinze pessoas.
A maioria dos meus clientes concede meio dia para ensinar o storytelling a
funcionários relevantes. Alguns reservam um dia inteiro para iniciar o
processo de encontrar histórias. Fiquei impressionada ao descobrir que a
Mekong Capital disponibilizaria três dias. Conseguimos analisar todos os
aspectos mencionados na seção “Ensinar”, da Parte III.
Esse método foi vantajoso para todos os participantes, mas a empresa queria
compartilhar as histórias de forma mais ampla e garantir que não fossem
esquecidas. Lembre-se, a finalidade era incluir as histórias em um livro,
então elas foram transcritas.
Sistematizar o sucesso
Para exemplificar o quão rápido uma empresa pode agir, durante a noite,
um dos membros da equipe criou o Confluence, um banco de dados para
que as histórias fossem armazenadas no sistema interno da empresa. O
sistema permitia que os funcionários adicionassem sua história ao valor ou
elemento, facilitando, assim, que as lacunas fossem identificadas.
A outra grande característica desse banco de dados era que algumas pessoas
tinham acesso para editar as histórias. Além disso, os funcionários podiam
fornecer feedback e votar em suas preferidas, o que propiciava ótimos
insights sobre as histórias mais impactantes.
A EQUIPE ESTAVA BASTANTE COMPROMETIDA E
CONCORDOU EM INCLUIR A DESCOBERTA E A
DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIAS EM SEUS PRINCIPAIS
INDICADORES DE DESEMPENHO MENSAIS E TRIMESTRAIS.
Dois anos após o início de toda essa jornada (no momento de escrita deste
livro), a empresa já havia documentado mais de quatrocentas histórias em
seu sistema interno.
1. funcionários;
3. potenciais investidores;
4. público em geral.
Colocar em prática!
Desde que comecei a trabalhar com a Mekong Capital, ficou evidente que a
equipe vivia e respirava os valores. Não eram apenas valores aceitos, mas
praticados. Compartilharei duas situações que demonstram esse aspecto.
Chris disse que, embora seja difícil mensurar o sucesso do uso de histórias,
“é evidente o aumento do ritmo e da independência das pessoas no
trabalho”.
Muita gente manifesta apreço pelas histórias. Como abordam os valores centrais, elas ajudam a
explicar o foco da Mekong Capital e possibilitam o contato com a cultura da empresa.
Confira e reflita
• Como você poderia incluir histórias nas reuniões de engajamento com os
stakeholders?
• Você tem uma boa compreensão das diferentes mensagens que precisa
compartilhar com públicos distintos? Você sabe quais são mais adequadas a
cada um deles?
1 Para ler o estudo de caso da Harvard Business School, pesquise “Mekong Capital: Building A
Culture of Leadership in Vietnam”. Para ler o da London Business School, pesquise “Mekong Capital:
The Importance of Corporate Culture in Emerging Market Private Equity”. Este último foi incluído
no livro International Private Equity, de Eli Talmor e Florin Vasvari.
2 Essa é uma realidade distante, pois muitas pessoas se atrasam para reuniões. Elas se desculpam,
sendo que tiveram tempo de pegar um cafezinho… Eu digo que é correr para o cafezinho.
CASO DE SUCESSO
Transpower, Nova Zelândia
A Transpower New Zealand detém e opera a rede nacional de energia
elétrica. Seus clientes diretos são grandes empresas de geração e distribuição
de energia, mas seu trabalho afeta a vida de quase todos os neozelandeses.
Rebecca afirmou que o aspecto mais positivo desses grupos focais foi a
consistência nos temas. Mesmo que os funcionários não tenham
mencionado a visão “manter as luzes acesas”, os temas giraram em torno da
importância de servir os neozelandeses para:
• manter empregos;
Refletir o espírito
Embora a equipe da Transpower apoiasse a Nova Zelândia, a empresa sabia
que só conseguiria refletir esse sentimento se conversasse com
representantes do povo indígena da Aotearoa, os maoris. Foi uma decisão
essencial.
Para ter certeza de que estavam no caminho certo, Chris conversou com
alguns participantes dos grupos focais e testou o novo “porquê”,
contrapondo-o às primeiras opções apresentadas pela consultoria:
O “porquê” da empresa era sobre a equipe. Então, era importante que todos
os aspectos engajassem as pessoas em um nível humano.
Pedir bis
Um vídeo de qualidade profissional, produzido para introduzir o Tu¯ Mai
Aotearoa, foi exibido no primeiro dia da conferência de liderança como
parte de uma apresentação feita por membros da administração geral. No
dia seguinte, as apresentações se destinaram a refletir o porquê. Na
conferência, os líderes de equipe engajaram os colegas em exercícios para
incorporar o Tu¯ Mai Aotearoa.
Ó Ã
MAS O USO DE HISTÓRIAS NÃO SE RESTRINGIU AO NOVO
SLOGAN E AO VÍDEO CORPORATIVO PROFISSIONAL.
À procura de histórias
Durante os grupos focais e as entrevistas, Chris ouviu histórias
interessantes. Sua experiência em marketing havia lhe ensinado que as
histórias não são poderosas apenas para vender produtos, mas para vender
mensagens (nesse caso, as prioridades estratégicas da empresa). Confira-as:
Ao longo dos anos, adquiri uma aversão à palavra “narrativa”, pois ela é
usada em excesso e muitas vezes de forma indevida, assim como “jornada”.
Mas Chris a utilizou apropriadamente. Uma narrativa compreende várias
histórias que, juntas, pintam um quadro mais amplo. As histórias são
independentes, mas integram uma narrativa maior, como peças de um
quebra-cabeça.
Chris reconheceu que estava em uma “posição muito privilegiada”. Para
encontrar essas histórias preciosas, ele obteve acesso à equipe de liderança
sênior e aos escritórios da Transpower. Ele era o detector de histórias.
Para que as pessoas compartilhem histórias com você, é essencial conquistar sua confiança. É
preciso passar muito tempo ouvindo, fazendo perguntas pertinentes e buscando uma conexão
humana.
O impacto dessas histórias foi tão grande que elas ganharam destaque nos
veículos de comunicação. Emissoras nacionais fizeram reportagens sobre a
Transpower e seu importante papel na economia de baixo carbono da Nova
Zelândia, bem como seu uso de drones e robôs. A história do Tu¯ Mai
Aotearoa foi apresentada na mídia impressa e televisiva.
Confira e reflita
• Você tem consistência e clareza em relação às mensagens comunicadas?
1Revelação: eu nunca assisti a Game of Thrones, mas, durante o episódio final, cerca de vinte pessoas
me enviaram uma mensagem com essa frase.
Conecte-se comigo
No meu site, você pode acessar o 7 Day Storytelling Starter Kit, que o
ajudará ainda mais com as histórias!
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