A Gata Do Infortunio

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Capítulo 1: A Primeira Vida

Eu apareci nesse plano do nada. Não faço a mínima ideia do que vim fazer aqui de fato. Eu?
Eu sou descendente de criaturas abissais. Sou o que chamam de “espírito maligno”, ou algo do
tipo. Eu nunca tive um nome, nem nada. Só tinha meu cérebro. Meu corpo, extremamente
fraco, parecia que não ia aguentar um segundo sequer aqui. Eu andei, caminhei, caminhei
muito, tentando procurar ajuda. Mas quem em sã consciência ajudaria um espírito das trevas?
Apenas outra criatura que entendesse esse lado, obviamente. Foi o que ocorreu…cultistas de
deuses malignos consideravam a minha existência como “um presságio de nossa grande
divindade”. Para eles, eu era um presente que a Tormenta tinha trazido, ou sei lá. Essa seita
macabra sacrificava pessoas em prol dessa divindade. Eu fugi? Não. Era incapaz disso. Meu
corpo era fraco. Mas quando chegou a minha vez de cumprir meu papel, isso não ocorreu. É,
parece que eu fracassei e fui descartada de novo. E nesse momento, eu fui morta. Mas não fui.
Dias depois, eu acordei na costa de um rio. Foi lá onde encontrei uma pessoa. Um homem
chamado Desmond Thorne, psiquiatra. Um médico, ora essa. Parece que ele estava de
passagem, naquele dia chuvoso, e viu um corpo caído na margem de um riacho próximo. Pelo
jeito, o juramento dele falou mais alto. Ele me levou pra sua casa, me deu um copo de leite
quente e uma manta para me aquecer. Perguntou meu nome. Eu não tinha um. Nunca tive. Os
cultistas me chamavam de “besta atormentadora”, “gato do infortúnio” e um me chamou de
“bakeneko”. Bom, ele disse que eu deveria dar meu jeito na vida, mas quando pus os pés para
fora, desmaiei. Meu corpo continuava fraco. E quando acordei, ele disse que eu tinha dormido
por 4 dias. Ele achou que eu tinha morrido, mas…não foi o que ocorreu. Será que as pessoas
desse plano que vim não…podem morrer? Porque se você acha que é uma bênção, tá mais
para uma maldição. Cada vez que eu morria, as memórias torturantes dos cultistas voltavam à
minha mente. Parece que a única vida que eu nunca vou esquecer é a minha primeira.

Capítulo 2: A segunda chance


Bom, o Sr. Desmond me contou sobre o que aconteceu desde que me encontrou na margem
do rio. Eu o agradeci e disse que não o perturbaria mais, mas parece que ele se interessou
pela minha mente. Ele disse que me permitiria ficar se pudesse conhecer mais sobre isso e eu
aceitei. Eu tinha a aparência de que…uns 10 anos? Por aí. Eu vivi com ele desde então.
Parecia que o trabalho dele era sobre o funcionamento da mente das pessoas em vários
estágios debilitantes. Ele queria descobrir porque eu perdia muitas memórias mas continuava
vivendo, sem nenhum estágio de demência, nem algo do tipo. E descobrimos que eu não perco
memórias fortes da minha vida. Por isso, a minha primeira vida foi tão marcante em mim. Em
troca desse estudo, eu me tornei “filha” dele. Parece que ele perdeu a filha uma vez. Ela se
chamava Roxanne. Ele me concedeu esse nome, em homenagem à filha que tinha perdido
ainda bebê. Eu, uma criança que nem deveria existir, fui adotada por ele. Ele realmente levava
essa vida amargurada pela perda de sua filha e esposa, mas parece que os últimos anos foram
melhores para seu humor. Aliás, esse senhor Desmond se tornou PODRE DE RICO alguns
anos depois de me adotar. Ele disse que eu era o amuleto da sorte dele..Eu comecei a estudar
e pulei várias e várias séries. Ele decidiu me matricular em uma faculdade, e mexeu uns
pauzinhos para me colocar lá em tão tenra idade. Eu tenho 20 anos e sou médica. Dá pra
acreditar? Ser rico nesse plano realmente parece abrir portas.

Capítulo 3: E eu ainda nem comecei


Me inscrevi na polícia e me tornei legista, para o orgulho de meu pai. Ele parecia ter realizado o
sonho dele, mas pra mim, faltava algo. Eu preciso encontrar esses desgraçados que encontrei
na minha primeira vida. Por isso, entrei na polícia. Em algum momento, chegaria neles. Mas
não tenho pista nenhuma. Mas descobri algo a mais: que as pessoas precisavam de ajuda.
Essa tal tormenta brutalmente destrói a vida de muita gente. Essas pessoas não merecem isso.
Por que elas não podem ter as chances de viver? Eu ganhei uma chance de recomeçar, por
que eles não tem? Nessa reflexão, entendi o porquê de ter esse poder tão estranho. Ele serve
para algo. Eu sirvo para algo. Eu vou ajudar essas pessoas. Mas…é tão doloroso. Cada vez
que morri, a dor da minha morte continua no meu corpo. Eu vivo num estado permanente de
dor, principalmente do golpe que me matou pela primeira vez. Isso me deixa extremamente
dependente de analgésicos. A dor perpétua na minha alma me destrói de dentro para fora.
Cada vez que acontecia, eu perdia um pouco do meu ser. Até agora, foram apenas três. Eu
ainda tenho chances de consertar as coisas. É, parece que essas orelhas não são de enfeite.
Eu realmente sou uma gata. Com várias vidas. E cada vida dói mais que a anterior. Eu juro, a
próxima vez vai ser a mais dolorosa possível. Mas espero que seja a última. Por deus, que eu
não precise sentir outro ferimento fatal, eu vou conseguir. E então, peguei um trabalho de
investigação para ir atrás da tormenta. Hoje, ao invés de atender na clínica do meu pai, eu
trabalho preparando remédios na polícia, além de examinar corpos mortos, em especial,
aqueles envolvidos com a Tormenta. Meu trabalho logo vai dar frutos. Por isso, pedi essa
missão de campo. Eu tenho meus medicamentos, minha inteligência, minha maldição, o
dinheiro que meu pai me deu e muita fé. É o que tem pra hoje, mas vamos lá.

Capítulo 4: Caminho das Aspirações e


Cadáveres
Como legista, meu trabalho é examinar corpos mortos. Preciso identificar a causa de que
alguém morreu. Não só isso, preciso preencher extensivos relatórios dizendo onde foi o
ferimento fatal, ou tipo de toxina, ou qualquer coisa do tipo. Acabou que eu aprendi uma
coisinha ou outra nisso. Só de bater o olho, eu já tenho certa noção, mas gosto de tirar o
máximo de tempo para identificar isso. Enfim, eu passava meus dias ouvindo música e lendo.
Eu era basicamente uma detetive que não sai em campo a não ser que seja um assassinato. E
foi esse meu primeiro trabalho: assassinato. Por sorte, dois colegas da faculdade eram
fascinados nesse tipo de investigação, então eu sabia o que fazer logo de cara. Ok, nenhum
deles fazia medicina, mas ainda assim, é melhor do que nada. Chegamos em uma
cidadezinha, uma onda de pessoas desaparecidas que apareciam mortas depois de algum
tempo. Mais um caso de um assassino em série, pelo jeito. Foi lá que minha percepção sobre
as coisas mudou. A equipe era composta por gente habilidosa, porém inexperiente, eu inclusa.
Mas eu reconhecia aquele cheiro de matança. É a minha primeira memória. Minha primeira
vida nunca vai deixar de trazer esses mimos. Lá estava eu, me deparando com outro massacre
por fanáticos religiosos. Mas não era culpa da Tormenta. Por incrível que pareça. Um ritual de
fortalecimento por alguma divindade maligna, o grupo se chamavam de “Escamas de Uriak”.
Eu investiguei mais a fundo e descobri muito sobre eles. Parece um pequeno grupo de pessoas
que seguem uma divindade dracônica. Pequeno em número, mas grande em poder. Parece
que esses escamas eram os manda-chuvas dentro da seita, diferente dos cultistas comuns.
Mas lá, eu conheci um de seus sacrifícios. Ou deveria ser. Mais um, sem nome, que vivia entre
eles. Parece que ele surgiu por aí e foi criado por lobos, mas logo foi roubado para servir de
sacrifício. Esse garoto era jovem, mas sabia o que estava fazendo. Os outros escamas tinham
seus próprios objetivos, mas o dele era “destruir um certo reino e salvar minha amiga”. Parece
que esse era o objetivo dele. Ele estava irradiando ódio, pois foi a única coisa que aprendeu.
Era esquisito. Enfim, depois de confrontar esse escama, consegui escapar com vida. Yes,
menos uma ferida fatal! Mas eu não sirvo pra lutar com gente tão poderosa. Eu no máximo uso
adagas para me proteger, mas ainda assim, não parecia que ele queria me matar. Me mantive
ao redor dessa cidadezinha, enquanto a gente continuava com nossa operação. Ficamos em
torno de 3 semanas procurando por esses caras, até que conseguimos achar o esconderijo
deles. Ou melhor, eu convenci o garoto a me contar. Ele gostaria de se livrar disso tudo e
então, lá foram os meus companheiros. Demorou, mas conseguimos prender um desses
escamas, além de outros cultistas. O resto fugiu. O garoto? Não. Depois desse ocorrido, ele me
confrontou de novo. DE NOVO! EU NÃO AGUENTO MAIS, MOÇO! Lá estava eu, com muita
coragem e minha adaga, contra a espada de fogo dele. Adivinha quem ganhou? A pessoa com
maiores orelhas. Mas eu ganhei com palavras. Eu o fiz se render. Trouxe à tona o maior
pesadelo dele: seu passado. Ele me explicou sua situação. Também era alguém que surgiu
nesse plano. Mas éramos opostos por completo. Ele era um espírito benevolente, e eu, um
maligno. Irônico quando pensa que ele é o assassino e eu a policial que nunca matou uma
mosca. Ele disse que queria aproveitar a situação para escapar, mas que não poderia. Uriak, o
sacerdote chefe, que tem a forma real de um dragão de veneno, o acharia em qualquer lugar.
Então eu o dei o que ele desejava: liberdade. Mas eu nunca sujaria minhas mãos por isso. Um
veneno de ação rápida foi o que eu entreguei a ele. Pela liberdade dele, ele me deu dois
presentes: conhecimento e um companheiro. O companheiro era Halley, seu lobo espiritual. Um
pequeno lobinho que caminhava com ele e ajudava a procurar suas vítimas. O conhecimento
foi: Os Escamas tem mais ambições do que ele poderia contar. Não iriam parar até que seu
mestre se tornasse poderoso o suficiente. Eles estão espalhados por todo lugar, mas portam
um dedo feito de madeira verde em suas mãos, impossível de esconder. Os dedos de Uriak
são os mais especiais entre os Escamas. Esse garoto era seu dedo mínimo. Por fim, ele me
agradeceu de forma sincera. Eu jurei que iria encontrar esses caras e pôr um fim no ciclo de
sacrifícios. Mas da minha forma. Não vou matar pessoas por isso. Eu sou médica. Quando jurei
isso, me senti mais forte. Foi quando eu percebi: somos dois lados da mesma moeda. Halley
carregava o espírito desse garoto. Eu voltei para meu grupo, e logo, para meu departamento
policial. Eu tinha uma missão em breve, a pedido meu. E agora, pelo trabalho, eu fui
promovida. Agora sim, as coisas estão começando a caminhar! Vamos nos ver ainda, garoto…

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