Editoria,+v27 n3 A2
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ienci2022v27n3p23
Epistemological obstacles in experimental activities related to physics concepts of the Ciência Hoje das
Crianças magazine
Jéssica Taynara Martins [[email protected]]
Secretária Municipal de Educação de Humaitá (SEMED)
Rua 5 de setembro, s/n., Humaitá, Amazonas, AM, Brasil
Resumo
Neste artigo, apresentamos os resultados de uma pesquisa que se propôs a identificar atividades
experimentais relacionadas a conceitos de Física da revista Ciência Hoje das Crianças (CHC), que podem
suscitar obstáculos epistemológicos. O aporte teórico bachelardiano foi adotado por seu potencial para
provocar reflexões críticas para a análise de materiais que publicam informações sobre Ciência. Assim,
com base na metodologia da análise de conteúdo, analisamos atividades experimentais da CHC das
edições do período de 2009 a 2020. Os resultados mostram que, de 66 propostas experimentais de Física
da revista, 20 podem suscitar obstáculos epistemológicos. O obstáculo epistemológico mais identificado foi
o obstáculo verbal e o de menor frequência foi o realista. Os obstáculos quantitativo e pragmático não
foram encontrados nas atividades experimentais analisadas. Compreendemos, a partir dos resultados, que
essas atividades necessitam da intervenção do professor na identificação e na superação dos obstáculos
epistemológicos, para que a sua realização possa ser potencializada.
Palavras-chave: Ensino de Ciências; Divulgação científica; Conceitos de Física.
Abstract
In the present paper, we present the results of a research that aimed to identify experimental activities,
related to the concepts of Physics from the Science Today for Children magazine (Ciência Hoje das
Crianças (CHC), in Portuguese), which can raise epistemological obstacles. The Bachelardian theoretical
contribution was adopted due to its potential to raise critical reflections for analyzing materials that publish
information about Science. Thus, based on the content analysis methodology, the experimental activities of
CHC from 2009 to 2020 were analyzed. The results show that 20 can raise epistemological obstacles from
66 experimental proposals of Physics from CHC magazine. The most identified epistemological obstacle
was the verbal obstacle, and the one with the lowest frequency was realistic. The quantitative and pragmatic
obstacles were not found in the experimental activities analyzed. The results show that such activities need
the teacher’s intervention to both identify and overcome the epistemological obstacles, so its realization can
be enhanced.
Keywords: Science education; Scientific divulgation; Physics concepts.
Investigações em Ensino de Ciências – V27 (3), pp. 23-43, 2022
INTRODUÇÃO
A revista Ciência Hoje das Crianças (CHC), distribuída às escolas públicas brasileiras pelo
Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE)/Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD)
desde o ano de 1991, é um dos principais veículos de Divulgação científica para o público infantil no Brasil.
A incorporação de textos de DC no ensino é importante porque produz um contexto capaz de favorecer a
compreensão da ciência e de estimular a curiosidade e a participação dos alunos nas atividades realizadas.
Pesquisadores da área de ensino de Ciências têm afirmado que textos de DC são potenciais recursos para
contribuir com o processo de ensino-aprendizagem nas salas de aula, uma vez que complementam os
recursos tradicionais (Ferreira & Queiroz, 2012).
Autores salientam também que a utilização da DC pode ser uma importante estratégia, desde que
seu uso seja mediado por professores que proporcionem discussões consistentes a partir de leituras
críticas realizadas em sala de aula (Rocha, 2012; Souza & Rocha, 2018), visto que os textos de DC não
foram escritos com a pretensão de serem utilizados nesse espaço, ou seja, não têm objetivos didático-
pedagógicos (Nascimento, 2005; Rocha, 2012). Essa característica dos textos de DC torna necessário que
os professores reflitam criticamente sobre esses materiais antes de utilizá-los, para que estes não se
tornem obstáculos à cultura científica.
Algumas dessas características devem ser motivo de atenção por parte de professores que
pretendem se valer desse material em suas aulas, por exemplo, a questão das simplificações. Não raras
vezes, esse procedimento apresenta o conhecimento científico como uma continuação do conhecimento
de senso comum, descaracterizando, assim, a natureza do conhecimento científico, que é a noção de
ruptura com esse conhecimento (Bachelard, 1996). Como nos alerta Valério (2005, p. 8), “na ânsia de
tornar a ciência fácil e acessível, abusa-se de metáforas e banalizam-se os conceitos. Acaba-se por afastar
o aprendiz do racional, tornando todo e qualquer conceito visível e palpável”. Nesse sentido, concordamos
com Bachelard (1996) no que se refere às adequações que devem ser feitas de modo a permitir que as
crianças se aproximem dos conceitos científicos, entretanto, como bem alerta o autor, essa não é uma
tarefa simples.
A apropriação de conceitos científicos por parte das crianças é importante por permitir que elas
adquiram maior consciência e domínio sobre seus processos mentais (Marranghello, Lucchese, &
Hartmann, 2020). De acordo com a psicologia histórico-cultural (Vigotski, 2009), os conceitos se formam e
se desenvolvem na criança a depender de sua origem. Com isso, conceitos cotidianos que são aprendidos
de forma não sistematizada são chamados conceitos espontâneos e aqueles advindos da cultura escolar
e ensinados de forma sistematizada, os científicos. O aprendizado desses últimos, devido ao seu sistema
hierárquico de inter-relações, possibilita a transferência e a generalização para outras áreas, culminando
em raciocínios científicos, algo cada vez mais demandado na sociedade atual.
Magalhães, Villagrá e Greca (2022) realizam uma ampla revisão de literatura procurando
compreender o ensino de Ciências desenvolvido com crianças dos anos iniciais do ensino fundamental. A
partir da análise dos trabalhos, os autores evidenciam que a realização de atividades experimentais, de
caráter investigativo, favorece o interesse para a participação ativa dos estudantes dessa faixa etária,
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contribuindo com a interação social e a dialogicidade nas aulas, mas que seria necessária a realização de
pesquisas que não se limitassem a curtos prazos, como uma ou duas aulas. Para pesquisas futuras, os
autores indicam que sejam consideradas “as variáveis a serem observadas em cada área de
aprendizagem, a fim de melhor compreensão de como elas se desenvolvem ou podem ser favorecidas nos
anos iniciais. Em relação aos aspectos conceituais, considerar quais as relações conceituais devem ser
aprendidas em cada faixa etária [...]” (Magalhães, Villagrá, & Greca, 2022, p. 101).
Devido à sua importância no contexto brasileiro, a revista CHC foi objeto de estudo em diversas
pesquisas, a maioria delas analisa a natureza do discurso científico, presumindo o potencial da CHC no
ensino de conteúdos específicos. Em alguns desses estudos, pesquisadores relatam fragilidades da
revista, tais como: a utilização o de analogias que não fazem correspondências entre o análogo e o conceito
(Silva, Pimentel, & Terrazzan, 2011), a imagem estereotipada do cientista como alguém que já se manifesta
como tal desde a infância (Almeida & Lima, 2016) e as características empírico-indutivistas das propostas
experimentais da CHC, marcadas por uma visão rígida da ciência (Martins & Oliveira, 2020).
Diante da importância da revista CHC para a divulgação da ciência para as crianças no nosso país
e dos resultados das pesquisas que se debruçaram sobre esse material, consideramos que este é um
potencial objeto de estudo. A fim de trazer um novo olhar para o periódico, utilizamos como lente teórica a
epistemologia de Bachelard, mais especificamente a noção de obstáculos epistemológicos, para investigar
as atividades experimentais da CHC.
Nesse contexto, temos como objetivo deste trabalho identificar atividades experimentais,
relacionadas a conceitos de Física da revista Ciência Hoje das Crianças (CHC) das edições do período de
2009 a 2020, que podem suscitar obstáculos epistemológicos. Consideramos que esse recorte temporal
nos permitirá observar limites e possibilidades das propostas da revista para a construção de conceitos
científicos.
REFERENCIAL TEÓRICO
Gaston Bachelard foi um dos principais epistemólogos da ciência, dedicou-se ao estudo da Física,
da Química e da Filosofia da Ciência, publicando livros sobre poesia e epistemologia da ciência. Dentre
suas obras, podemos destacar o livro A formação do espírito científico: contribuição para uma Psicanálise
do conhecimento, publicado em 1938. Nessa obra, o autor realiza a psicanálise do conhecimento científico
e, a partir das suas reflexões, descreve os percalços que impedem um espírito pré-científico de se tornar
um espírito científico. É a partir da análise da ciência do século XVI ao XX que ele expõe como o
conhecimento científico e o próprio ato de conhecer podem ser limitantes para o desenvolvimento e para a
compreensão da ciência.
Junto a outros pesquisadores (Martins & Pacca, 2005; Carvalho Filho, 2006; Buscatti Junior, 2020;
Melo & Amantes, 2021), corroboramos a importância da interpretação de Bachelard sobre o processo de
construção do conhecimento científico, porque se dedica a analisar, de forma crítica, os mecanismos pelos
quais esse conhecimento foi sendo historicamente construído. Nesse sentido, destacamos os trabalhos de
Buscatti Junior (2020), em que o autor investigou como docentes de Física deveriam lidar com o crescente
número de alunos adeptos do chamado modelo da “Terra Plana”, e o estudo desenvolvido por Melo e
Amantes (2021), no qual as autoras se valeram da noção de perfil epistemológico para mapear o
entendimento de estudantes de nível médio e superior sobre densidade. Ademais, a característica versátil
e contemporânea do pensamento bachelardiano permite também que ele fundamente pesquisas diversas
na área da educação. Como exemplo, podemos citar: o trabalho de Pessanha (2018) que discute
contribuições da epistemologia de Bachelard para pesquisas na área da educação matemática e o estudo
de Oliveira, Fireman, & Bastos Filho (2017), no qual os autores abordam a construção do conhecimento
científico no ensino de Ciências, trazendo para o debate a epistemologia de Gaston Bachelard e a teoria
sociointeracionista de Vigotski.
No que se refere à experimentação, cabe ressaltar que Bachelard não elimina as possibilidades da
utilização de atividades de natureza empírica, assim como de analogias e metáforas, porém ele fala
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diretamente ao professor sobre o seu papel, intervindo para que as atividades não permaneçam na
fantasia, no pitoresco:
Para Bachelard (1996, p. 71), as generalizações feitas apressadamente podem ser mal-
empregadas, sem estabelecimento das abstrações fundamentais para explicação do fenômeno, e
paralisam o pensamento, “bloqueiam atualmente as idéias. Respondem de modo global, ou melhor,
respondem sem que haja pergunta”. As generalizações apressadas sobre os fenômenos são, para o autor,
características do espírito pré-científico, que, como consequência, “definem palavras e não as coisas” (op.
cit.). Assim, para o epistemólogo, o obstáculo epistemológico do conhecimento geral está relacionado às
generalizações realizadas sem reflexão, que ocorrem precipitadamente a partir da experiência
imediatamente concluída. Bachelard (1996, p. 69) afirma que “[n]ada prejudicou tanto o progresso do
conhecimento científico quanto a falsa doutrina do geral, que dominou de Aristóteles a Bacon, inclusive, e
que continua sendo, para muitos, uma doutrina fundamental do saber”. Nesse aspecto, quando, com a
experiência primeira, fazem-se generalizações, temos um ensino com características empírico-indutivistas.
O autor admite que, em certos casos, as leis gerais foram eficazes em relação às teorias que lhes
precederam; contudo, a doutrina do geral, instituída pelo positivismo lógico, é criticada em sua obra. Ele
reconhece as contribuições da atividade empírica, mas condena o indutivismo ingênuo da mesma forma
que o racionalismo ingênuo. Assim, o autor valoriza as contribuições tanto do empirismo quanto do
racionalismo, reconhecendo as contribuições e os limites das duas vertentes.
Obstáculo verbal
O obstáculo verbal ocorre quando os fenômenos são explicados a partir de uma única imagem ou
palavra. “Tratar-se-á de uma explicação verbal com referência a um substantivo carregado de adjetivos,
substituto de uma substância com ricos poderes” (Bachelard, 1996, p. 91). Esse impedimento à formação
do pensamento científico é uma marca do empirismo ingênuo, pois gera ideias que substituem os conceitos
e se tornam suficientes para explicar o fenômeno.
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Bachelard (1996, p. 101) cita que “[o] perigo das metáforas imediatas para a formação do espírito
científico é que nem sempre são imagens passageiras; levam a um pensamento autônomo; tendem a
completar-se, a concluir-se no reino da imagem”. Entretanto, a utilização de metáforas, imagens e
analogias no ensino de Ciências não é condenada pelo autor. Ele ressalta que, quando utilizadas, devem
ser capazes de contribuir para alcançar a racionalização e a abstração dos conceitos estudados, de forma
que o pensamento científico possa afastar-se das imagens ingênuas dos fenômenos. Bachelard destaca:
caso “essa metáfora não fosse interiorizada, o mal não seria tão grande; sempre é possível afirmar que ela
não passa de um meio de traduzir, de expressar o fenômeno. Mas, no fundo, não se limita a descrever com
uma palavra; quer explicar por meio de um pensamento” (Bachelard, 1996, pp. 128-129).
Obstáculo substancialista
O obstáculo verbal está intimamente relacionado com o obstáculo substancialista, já que a ideia
formada pela imagem simplista pode ser utilizada para agregar qualidades substantivas a um objeto
“quanto menos precisa for uma idéia, mais palavras existem para expressá-la” (Bachelard, 1996, p. 140).
O autor cita que esse obstáculo confere “à substância qualidades diversas, tanto a qualidade superficial
como a qualidade profunda, tanto a qualidade manifesta como a qualidade oculta. Seria possível falar de
um substancialismo do oculto, de um substancialismo do íntimo, de um substancialismo da qualidade
evidente” (Bachelard, 1996, p. 121).
Segundo Bachelard: “[é] fácil encontrar exemplos em que a crença nessa unidade harmônica do
mundo leva a estabelecer uma sobredeterminação bem característica da mentalidade pré-científica”
(Bachelard, 1996, p. 110). Bachelard é enfático ao se referir à sedução do pensamento pré-científico à
generalidade, à unidade e à utilidade da ciência, “uma utilidade não caracteriza um traço particular, parece
que este aspecto não fica explicado. Para o racionalismo pragmático, um aspecto sem utilidade é um
irracional” (Bachelard, 1996, p. 115). São aspectos sedutores, pois se buscam vantagens que podem
oferecer à realidade, como uma espécie de justificação, uma razão explicativa e útil para a realidade.
Obstáculo realista
Podemos observar a estreita relação entre o obstáculo utilitário e o realista quando Bachelard cita
que “o verdadeiro deve ser acompanhado do útil. O verdadeiro sem função é um verdadeiro mutilado. E,
quando se descobre a utilidade, encontra-se a função real do verdadeiro. Esse modo de ver utilitário é,
porém, uma aberração” (Bachelard, 1996, p. 117).
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Obstáculo animista
Outro obstáculo referenciado por Bachelard é o animista, que se refere à interpretação ingênua de
objetos e fenômenos da natureza, na qual são atribuídas a eles características de seres vivos. O animismo
é um obstáculo à construção de conceitos científicos por acarretar interpretações equivocadas e excessos
interpretativos. Nesse obstáculo, a característica vital de uma substância é supervalorizada. “A vida marca
as substâncias que anima com um valor indiscutível. Quando uma substância deixa de ser animada, perde
algo de essencial” (Bachelard, 1996, p. 192), o autor afirma que essa propriedade é dotada de força
generalizada e convence facilmente o espírito pré-científico.
Quando se caracteriza um fenômeno físico a partir das questões biológicas, observa-se uma
tendência em individualizar o fenômeno, não considerando os diversos fatores que influenciam a explicação
de uma teoria científica. O pensamento pré-científico busca minimizar a abstração/explicação dos conceitos
estudados de uma teoria. “Como se vê, longe de dirigir-se para o estudo objetivo dos fenômenos, a tentação
maior é de — pelas intuições animistas — individualizar os fenômenos e acentuar o caráter individual das
substâncias marcadas pela vida” (Bachelard, 1996, p. 206).
Obstáculo quantitativo
O último obstáculo citado pelo autor é o quantitativo. Bachelard (1996, p. 261) caracteriza esse
obstáculo pela supervalorização de uma abordagem quantitativa, em que há precisão em excesso, “no
reino da quantidade, corresponde exatamente ao excesso de pitoresco, no reino da qualidade”. Bachelard
tece suas críticas ao conhecimento quantitativo ao referir-se a ele como um conhecimento imediato, e todo
conhecimento imediato é marcado por impressões subjetivas que entravam o conhecimento objetivo e
dificultam o aprendizado.
METODOLOGIA
Esta pesquisa tem abordagem qualitativa e consta de análise documental do periódico Ciência
Hoje das Crianças (CHC). Nosso material de análise é composto de atividades experimentais das edições
da CHC do período de 2009 a 2020, que tratam de conceitos relacionados à Física. Utilizamos os
procedimentos metodológicos da análise de conteúdo de Bardin (2011) para a análise do material. Essa
metodologia sistematiza o conteúdo das mensagens através de cinco fases: preparação; unitarização;
categorização; descrição e interpretação. A preparação é uma fase de organização. Essa fase se
caracteriza por análise flutuante, estabelecida por um contato inicial com os textos que serão analisados.
Para análise das revistas, a preparação foi o primeiro contato com os exemplares analisados, buscando
identificar os conteúdos da área da Física nas atividades experimentais. A unitarização é o momento da
desmontagem do texto no qual identificamos e destacamos as unidades de análise. Nossas unidades de
análise são recortes dos textos da revista que representam a temática desta pesquisa: as atividades
experimentais de Física. Nessa etapa, além de destacar as atividades que tratam de temas da Física,
procuramos reconhecer elementos que possam suscitar obstáculos epistemológicos nessas propostas. No
processo de categorização, organizamos os dados coletados e classificamo-los por seus aspectos de
semelhança, observados no decorrer da análise. Nossas categorias referem-se aos obstáculos
epistemológicos de Bachelard; nesse sentido, foi feita uma interpretação do texto das atividades
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experimentais analisadas para evidenciar trechos que pudessem suscitar tais obstáculos nos leitores. A
última fase da análise de conteúdo é a interpretação, momento da exegese dessas informações. A partir
da fundamentação teórica, apresentamos nossa interpretação sobre os obstáculos reconhecidos nas
atividades analisadas.
A análise da revista CHC foi feita em dois estágios. O primeiro está apresentado na seção
“Atividades experimentais por componente curricular/área na CHC”, na qual descrevemos os critérios
utilizados para identificar os temas dos diferentes componentes curriculares/áreas do conhecimento. No
segundo estágio, a partir da epistemologia de Gaston Bachelard, apresentada na seção do referencial
teórico, procuramos identificar os obstáculos epistemológicos que essas atividades experimentais de
Física, propostas pela CHC, podem suscitar em seus leitores.
No tópico a seguir, descrevemos como foi realizada a identificação das áreas de conhecimento de
cada atividade experimental.
Foram analisadas 196 atividades experimentais da revista CHC e para identificação das atividades
relacionadas à temas relacionados à Física, dentre as diferentes áreas de conhecimento, em nosso
primeiro estágio de análise, utilizamos dois critérios: i) autointitulação e ii) conceitos ou expressões
específicas das áreas. Consideramos a autointitulação quando o texto da atividade experimental explicita
a área de conhecimento a que se refere. Quando não havia explicitação da área, recorremos à análise do
encaminhamento escolhido pela atividade, e à identificação de conceitos ou expressões específicas que
apareciam no texto. Esses critérios nos permitiram identificar atividades que tratam temas relacionados aos
seguintes campos do conhecimento: Matemática, Física, Química, Biologia, Astronomia, Educação Física,
Português e Geografia.
Identificamos como atividades de Biologia, por exemplo, propostas que trazem conceitos
relacionados à reciclagem, aos seres vivos e DNA. Na Química, ácidos e bases, reações. Na Educação
Física, atividades de movimentos corporais. Em Português, propostas que incentivam a escrita (construção
de revistas, jogos com palavras). Em Matemática, propostas que abordam operações fundamentais, formas
geométricas. As atividades que tratam de Astronomia trazem conceitos relacionados aos astros e aos
fenômenos celestes. As atividades de Geografia abordam a construção de mapas. Na Física, atividades
com ímãs, processos de eletrização, propagação de calor, energia.
Vale ressaltar que a separação não foi rígida e excludente, de modo que uma mesma atividade
pode integrar assuntos de vários componentes curriculares/áreas, por isso o total geral no Quadro 1, a
seguir, é de 205 propostas experimentais. Esse quadro mostra, de forma geral, as atividades experimentais
propostas nas diversas áreas do conhecimento.
Observamos que as atividades experimentais da revista CHC tratam de diversos temas das
Ciências Naturais e Humanas. Porém, os temas da área de Ciências Naturais (Física, Biologia, Química)
são os mais abordados. Podemos observar, no Quadro 1, que a Biologia (69) e a Física (66) apresentam
o maior número de atividades, seguidas da Química (47) e da Matemática (10). A menor quantidade de
atividades propostas está nos componentes Português (3) e Geografia (2). Vale ressaltar que a análise de
obstáculos epistemológicos foi realizada, para esse trabalho, somente nas atividades que abordam
conteúdos da área da Física.
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Seções
Componente curricular/área
Total
Experimento Atividade Mão na massa Outras seções
Biologia 19 26 14 10 69
Física 43 9 8 6 66
Química 31 4 8 4 47
Matemática ---------- 6 2 2 10
Astronomia 2 1 ---------- 1 4
Total 95 52 33 25 205
Figura 1 – Exemplo de contagem dos obstáculos epistemológicos (extraído de CHC, 2016, ed. 275, p.
18, grifo nosso).
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No componente curricular Física, área que nos propomos a analisar, identificamos 66 atividades
experimentais que tratam de todas as áreas tradicionais dessa ciência. Nesta seção, apresentamos nossa
interpretação dos obstáculos epistemológicos encontrados a partir do referencial bachelardiano,
apresentando, também, um exemplo (ilustração e texto) dessas atividades na CHC. Outros exemplos são
mostrados a partir de excertos das atividades.
Obstáculo geral
Consideramos que as atividades experimentais da CHC que fazem generalizações mal colocadas
(ou generalizações duvidosas) que culminam em um conhecimento vago (confuso/inexato) podem
provocar em seus leitores o obstáculo geral. Evidencia-se esse obstáculo em situações em que a
generalização foi realizada a partir de uma explicação equivocada.
Assim, quando a revista CHC atribui explicações particulares de um fenômeno a outro, de forma
universal, ela pode se tornar um obstáculo geral, porque a explicação que originou a generalização partiu
de uma ideia de senso comum e/ou a partir de uma relação de causa e consequência.
Embora a generalização seja comum na atividade científica, ela pode se tornar um obstáculo se
for realizada a partir de uma compreensão equivocada dos fenômenos. Identificamos que o obstáculo do
conhecimento geral pode ser suscitado em 4 das 66 propostas experimentais de Física. As atividades
referem-se aos assuntos: densidade, refração da luz, efeito estufa e empuxo.
Figura 2 – Exemplo de obstáculo geral nas atividades experimentais da revista CHC (extraído de
CHC, 2010, ed. 211, p. 17, grifo nosso).
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Embora os estudantes possam apresentar a concepção de que “leve flutua” e “pesado afunda”, o
professor deve questioná-las durante a realização do experimento para que os discentes compreendam
que essa forma de explicação não é razoável do ponto de vista científico.
Assim, o uso de termos dessa seara para explicar fenômenos sob a ótica científica pode impedir
que o estudante se aproprie corretamente dos conceitos científicos.
Segundo Bachelard (1996, p. 71), o conhecimento geral é, para muitos, a doutrina basilar do saber,
que prevaleceu de Aristóteles a Francis Bacon e constitui um obstáculo à construção dos conceitos
científicos. Esse obstáculo leva a explicações gerais nas quais “tudo fica claro; tudo fica identificado. Mas,
a nosso ver, quanto mais breve for o processo de identificação, mais fraco será o pensamento
experimental”.
Obstáculo verbal
Nas atividades experimentais da CHC, encontramos esse obstáculo em explicações que geram
ideias que substituem os conceitos e se tornam suficientes para explicar o fenômeno. Essas explicações
fazem uso inadequado de metáforas e analogias e/ou utilizam termos que trazem explicações do senso
comum que tendem a reforçar as observações primeiras e/ou construir novas concepções inadequadas no
imaginário do estudante. Visto que é imediatamente compreendido pelo leitor, devido à significação
cotidiana da palavra, impede a compreensão correta do conceito científico.
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Figura 3 – Exemplo de obstáculo verbal nas atividades experimentais da revista CHC (extraído
de CHC, 2020, ed. 307, p. 16, grifo nosso).
Embora a atividade explique o processo de eletrização, esse termo é retomado, tornando-se uma
palavra explicativa que constitui toda a interpretação do fenômeno. Essa expressão permanece no
imaginário do estudante e dificilmente será superada. Assim, futuramente, ao ser questionado sobre o
fenômeno, provavelmente o aluno usará a explicação simplificada sobre o que foi observado a partir desses
termos: “o orégano grudou no balão”.
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expressões reforça impressões imediatas oriundas da experiência primeira. Essas expressões possuem
várias interpretações, o que ocasiona um obstáculo verbal por afastar o leitor do conhecimento científico
relacionado ao fenômeno estudado.
Obstáculo substancialista
Nas atividades da CHC, encontramos esse obstáculo em explicações que atribuem adjetivos e
poderes especiais a objetos e substâncias, “tanto a qualidade manifesta como a qualidade oculta”
(Bachelard, 1996, p. 121). Busca-se explicar o interior oculto para chegar ao íntimo/interior das substâncias.
Em nossas análises, identificamos que o obstáculo substancialista pode ser suscitado em 8 das 66
atividades experimentais. As atividades referem-se aos seguintes conteúdos: tensão superficial da água,
calor específico, refração da luz, efeito estufa e energia. Cabe ressaltar que todas as atividades da CHC
que abordam os conteúdos de tensão superficial da água, calor específico, efeito estufa e energia têm
potencial para suscitar o obstáculo substancialista.
O fenômeno da tensão superficial da água é observado em situações cotidianas, o que faz com
que os estudantes possam apresentar explicações a partir do senso comum. Na atividade, a explicação de
que as interações de atração entre as moléculas de água foram enfraquecidas (diminuídas) porque o sabão
tem essa “capacidade” não caracteriza adequadamente as propriedades do sabão e pode fomentar no
leitor o obstáculo susbtancialista ao substituir a explicação científica pela atribuição de poderes ao sabão.
No que se refere ao conteúdo efeito estufa, a atividade (CHC, 2010, ed. 214, p. 20) traz a ideia de
calor como substância que pode ser aprisionada, que não conseguiria sair dos arredores do planeta Terra.
Como pode ser observado no trecho seguinte:
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Consideramos que essa explicação pode levar à compreensão inadequada do conceito, pois parte
de uma explicação equivocada do conceito de calor, reforçando a ideia de calor como substância que pode
estar contida em um corpo.
Já no conteúdo de refração da luz (CHC, 2014, ed. 260, p. 18), a revista CHC explica que “tanto a
água quanto o vidro têm a capacidade de desviar os raios de luz, se atingidos no ângulo certo”, essa forma
de explicação pode suscitar um obstáculo substancialista da qualidade evidente por explicar os desvios da
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trajetória da luz pela simples menção de que a água e o copo possuem essa capacidade. Essa forma de
explicação entrava a construção dos conceitos científicos ao abordar os fenômenos de forma breve e
peremptória, por “satisfazer-se apenas com ligar os elementos descritivos de um fenômeno à respectiva
substância, sem nenhum esforço de hierarquia, sem determinação precisa e detalhada das relações com
outros objetos” (Bachelard, 1996, p. 127).
Nesse obstáculo, as qualidades são tidas como virtudes das substâncias, deixando de se
considerar que são as interações, por exemplo, entre a luz e o meio material que produzem os fenômenos
observados. Sabe-se que tanto o ar quanto a água e o vidro são meios transparentes à propagação da luz,
e, quando a luz incidente atravessa a interface existente entre esses materiais, sua velocidade de
propagação e trajetória inicial modificam-se devido à sua interação com as diferentes estruturas das
substâncias que possuem índices de refração distintos. Assim, são as interações entre a luz, o ar, a água
e o vidro que produzem o fenômeno observado.
Com efeito, para a construção dos conceitos científicos, o obstáculo substancialista é um dos mais
difíceis de serem retificados pelos estudantes (Bachelard, 1996). “Referimo-nos ao substancialismo, à
explicação monótona das propriedades pela substância” (Bachelard, 1996, p. 27), e posteriormente o autor
argumenta que “[a] origem substancial é sempre muito difícil de exorcizar” (Bachelard, 1996, p. 132).
Obstáculo realista
Consideramos como obstáculo realista, nas atividades experimentais da revista CHC, explicações
de fenômenos científicos abstratos realizadas a partir de interpretações subjetivas que os relacionam a
algo concreto utilizando comparações. O obstáculo realista pode ser suscitado em 2 das 66 atividades
experimentais da CHC, de acordo com nossas análises. As atividades referem-se aos conteúdos:
processos de eletrização e deformação do espaço-tempo.
Essa explicação já recebe crítica de pesquisadores da área há bastante tempo, entre eles, Martins
(1998) aponta dificuldades de discutir corretamente conceitos científicos nas obras de DC. Sobre os
conceitos de deformação do espaço-tempo abordados nessa atividade, o autor afirma que esse tipo de
analogia, com a superfície elástica, passa uma ideia muito incorreta. Quando, a esse sistema, é
acrescentado outro corpo para explicar o seu movimento para perto da bola mais pesada, a analogia “fica
pior ainda”. O autor explica que, nesse exemplo da superfície elástica, a força gravitacional, objeto do
estudo, é a própria causa da deformação da superfície e da movimentação das esferas.
Em relação ao conteúdo de eletrização, são propostas seis atividades experimentais, uma delas
encaminha o obstáculo realista ao utilizar a expressão “E você sabe o que são átomos? São como tijolinhos
que, unidos, formam todo tipo de matéria [...]” (CHC, 2009, ed. 205, p. 18). Essa forma de explicação
apresenta característica que constitui o obstáculo realista ao descrever o átomo como algo concreto, até
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possível de ser manuseado, e não abstrato. Ademais, os estudantes associam ao átomo forma e dimensão
que são inadequadas a essa partícula.
Figura 5 – Exemplo de obstáculo realista nas atividades experimentais da revista CHC (extraído
de CHC, 2015, ed. 273, p. 16).
Referimo-nos ao átomo como uma teoria abstrata, pois o real para o átomo deve ser entendido na
perspectiva microscópica: “esse real não é no sentido concreto, mas fruto da fenomenotécnica, ou seja,
um real construído a partir de observações indiretas dos fenômenos por meio de instrumentos que operam
com base no conhecimento científico” (Reis, Kiouranis, & Silveira, 2015, p. 4).
O conhecimento refletido é fruto da razão polêmica e de retificações. Lopes (1997) critica uma
didatização que parte de modelos concretos para chegar à compreensão de conceitos abstratos, uma vez
que esses modelos, de base realista e empirista, reforçam a continuidade com o senso comum. “Como a
Ciência se constrói em rompimento com o senso comum cotidiano, fatalmente incorremos em distorções
do conhecimento científico. Tais distorções, de uma maneira geral, estão associadas à utilização de um
sem-número de metáforas e analogias” (Lopes, 1997, p. 564).
Obstáculo animista
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5 das 66 atividades experimentais da revista CHC. As atividades referem-se aos conteúdos: eletrização
por atrito, densidade e persistência retiniana.
Figura 6 – Exemplo de obstáculo animista nas atividades experimentais da revista CHC (extraído
de CHC, 2009, ed. 205, p. 18, grifo nosso).
Já nas atividades que se referem ao conteúdo de densidade (CHC, 2016, ed. 275, p. 18),
encontramos expressões como o pão “pula” e “mergulha”. No assunto de persistência retiniana (CHC,
2010, ed. 213, p. 12), o texto utiliza a frase “um brinquedo incrível que vai enganar a sua visão!”, atribuindo
ao brinquedo a habilidade de “enganar”.
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Segundo Bachelard (1996, p. 27), o obstáculo animista é uma marca do espírito pré-científico dos
séculos XVII e XVIII e “foi quase totalmente superado pela Física do século XIX”. O fato de os materiais de
DC do século XXI ainda encaminharem propostas com aspectos animistas evidencia um descompasso
entre a DC e a natureza da ciência.
Obstáculo pragmático
O obstáculo pragmático não foi identificado em nenhuma das 66 atividades experimentais de Física
da revista CHC analisada. Esse resultado demonstra que os fenômenos da Física abordados nas propostas
de atividades experimentais na revista não são apresentados com aspectos utilitários para a manutenção
da vida no planeta Terra.
Obstáculo quantitativo
O obstáculo quantitativo também não foi identificado em nenhuma das 66 atividades experimentais
de Física da revista CHC. Esse resultado era esperado, já que o público infantojuvenil ao qual a revista se
destina está iniciando o contato com ferramentas matemáticas como um recurso para compreensão das
explicações científicas.
Como foi ressaltado na contagem, uma mesma atividade experimental pode suscitar mais de um
obstáculo epistemológico. Ao todo, foram identificados 28 obstáculos em 20 atividades experimentais
diferentes. Assim, das 66 propostas experimentais de Física da revista CHC, 45 não suscitam obstáculos
epistemológicos em seus leitores.
Porém, mesmo que o número de atividades que potencializem obstáculos epistemológicos seja
inferior a 50% (vinte atividades) do total, esse resultado é preocupante, uma vez que a CHC é uma revista
reconhecida e passa por processo de seleção para distribuição pelo PNLD às escolas públicas brasileiras.
Além disso, Martins e Oliveira (2020) já destacaram o caráter empírico-indutivista das atividades
experimentais da CHC. Nesse sentido, é preciso cautela para que a responsabilidade de superação dos
limites do material não fique somente a cargo do professor.
Sem uma constante intervenção do professor, atividades experimentais que ocasionam obstáculos
epistemológicos pouco contribuem para a construção dos conceitos científicos, por não possibilitarem a
interpretação adequada dos fenômenos observados. Nesse sentido, Bachelard (1996) ressalta a
importância do professor na realização das atividades experimentais. O autor salienta que o docente deve
continuamente extrair o mais rápido possível a abstração da atividade concreta realizada, procurando
estabelecer um equilíbrio entre a reflexão e a experiência, a fim de retificar os obstáculos epistemológicos
e (re)construir o conhecimento científico.
Conforme Bachelard (1996), a iniciação à cultura científica é sempre delicada, porém esse
epistemólogo acredita que, ao iniciar uma criança na educação científica, as primeiras lições não podem
ser um obstáculo à compreensão da ciência. “Sem dúvida que, para todo o conhecimento, as primeiras
lições exigem proezas pedagógicas. Têm o direito de ser incompletas, esquemáticas. Contudo, não devem
ser falsas” (Bachelard, 1996 p. 41).
Outro resultado importante que deve ser enfatizado é o fato de termos identificado o mesmo
conteúdo sendo tratado adequadamente em algumas atividades experimentais da revista e com potencial
para suscitar obstáculos epistemológicos em outras. Consideramos que essa seja uma evidência de que o
problema não seja o conteúdo em si, mas a forma de sua apresentação na atividade.
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No que se refere à autoria das atividades experimentais da CHC, a maioria é creditada à redação
da revista. Das 66 atividades analisadas, somente 6 têm autoria de pesquisadores, em 6 delas não há
dados de autoria e todas as outras são assinadas pela redação da revista. Das 6 propostas creditadas a
pesquisadores, 4 referem-se a profissionais que atuam em instituições públicas 1, um atua em instituição
privada2 e outro não foi identificado. Vale destacar que as atividades assinadas por pesquisadores de
instituições públicas não apresentaram explicações que, segundo a análise, podem potencializar
obstáculos epistemológicos.
Nesse sentido, consideramos que falta à CHC um apoio de pesquisadores com conhecimentos
específicos da área de educação e ensino de Ciências, o que ajudaria a evitar inadequações. Cabe
ressaltar que a revista não identifica a equipe de redação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Ciência Hoje das Crianças (CHC) é uma revista de DC que propõe variadas estratégias para
apresentar o conteúdo abordado aos seus leitores, tais como: jogos, desafios, textos, curiosidades,
histórias em quadrinhos e atividades experimentais. Neste artigo, propusemos a identificação de atividades
experimentais de Física da revista CHC das edições do período de 2009 a 2020, que podem suscitar
obstáculos epistemológicos nos leitores.
É preciso destacar que Bachelard não se opõe, necessariamente, a todo uso de analogias,
metáforas, formas de pensamento e generalizações que podem suscitar obstáculos epistemológicos.
Bachelard sinaliza que esses obstáculos são parte da construção científica, e o alerta que o epistemólogo
faz é sobre ter cautela no uso das formas de construção de conhecimento e que elas não permaneçam
nos falsos centros de interesse, uma vez que de nada vale a experiência empírica se ela não se constituir
como base das abstrações dos conhecimentos.
Como foi dito anteriormente, a revista CHC apresenta várias estratégias para abordar os conteúdos
das diversas áreas das Ciências; neste trabalho, foram analisadas as atividades que abordam temáticas
relacionadas à Física. Acreditamos que os obstáculos epistemológicos podem ser investigados em outras
abordagens, nas atividades experimentais de outros assuntos e nos outros conteúdos das outras áreas
que a revista se propõe a divulgar. Entendemos também que um ponto essencial a ser investigado em
pesquisas futuras refere-se ao uso da revista na escola e, em decorrência do seu uso, quais são os
impactos que ela traz para o processo de ensino-aprendizagem.
Conforme apresentado na introdução, autores que tratam da DC relatam que ela pode ser uma
estratégia para uso em sala de aula, porém sempre mediada pelos professores (Rocha, 2012; Souza &
Rocha, 2018). Uma mediação adequada para uso da revista nas escolas pode possibilitar a construção do
pensamento crítico sobre a realidade, principalmente, considerando os dias atuais, em que o fenômeno da
1
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Instituto Federal da Bahia (IFBA).
2
Universidade Metodista de São Paulo (UMESP).
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Por fim, outro desafio, também destacado por Magalhães, Villagrá e Greca (2022), é a importância
de pesquisas que possibilitem o diálogo entre teorias do conhecimento científico e teorias de ensino-
aprendizagem para que possamos compreender quais estratégias e conceitos são apropriados para o
ensino de Ciências nas diversas faixas etárias.
Agradecimentos
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