Entrevista Clínica Diagnóstica

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Aspectos Metodológicos

Avaliação Psicológica

ENTREVISTA CLÍNICA
DIAGNÓSTICA

Profª Fátima Casa Nova


ENTREVISTA PSICOLÓGICA

A entrevista é a técnica que permite o acesso


às representações mais pessoais dos
sujeitos: história, conflitos, representações,
crenças, sonhos, fantasmas, acontecimentos
vividos, etc. É um instrumento insubstituível
no domínio das ciências humanas e ainda no
domínio da Psicologia, em que há que tentar
compreender a origem de diferentes
psicopatologias. Com efeito, só o paciente
nos pode dizer “onde” e “como” sofre; há
portanto, que escutá-lo.
A entrevista , se não é a única técnica a ser
empregada, como muitas vezes acontece, é a
principal como meio para avaliar a
personalidade e o caráter dos examinandos.

Ninguém que tenha examinado a literatura


sobre este assunto pode ter dúvida de que a
entrevista como meio de se aquilatar
qualidades de personalidade, é extremamente
imprecisa e quase de toda destituída da
validade. EYSENCK, 1978).
Bleger (1987) diz a “ENTREVISTA
PSICOLÓGICA é uma relação, com
características particulares, que
se estabelece entre duas ou mais pessoas. O
específico ou particular dessa relação reside em
que um dos integrantes é um técnico da psicologia
que deve atuar nesse papel, e o outro ou os
outros, necessitam de sua intervenção técnica.
Porém, isso é um ponto fundamental, o técnico
não só utiliza em entrevista seus conhecimentos
psicológicos para aplicá-los ao entrevistado, como
também esta aplicação se produz precisamente
através de seu próprio comportamento no decorrer
da entrevista.
A Entrevista Psiquiátrica está hoje muito
impregnada de tradição médica, o que orienta
de forma
particular a sua natureza, os seus objetivos e
as suas modalidades (Bernard Pachoud,
1998).

Tem por objetivos:

- Identificar as perturbações psicopatologias:


é a fase diagnóstica
- Determinar a conduta a seguir: é a fase
terapêutica
Entrevista clínica psiquiátrica e entrevista clínica
psicológica. Surgem pelo menos duas diferenças
essenciais entre a entrevista clínica utilizada em
psiquiatria e em psicologia, sendo as duas
abordagens, no entanto, complementares e
necessárias:

O psiquiatra baseia-se em elementos clínicos


aparentes para estabelecer um diagnóstico,
referenciando-o seguidamente a um sistema
nosográfico. O psicólogo, por seu lado, tenta antes
compreender o funcionamento psicológico de um
indivíduo, tentando situar as condutas observadas
num contexto (historia pessoal e familiar do sujeito,
elementos de personalidade, modalidades de
relacionamento com o meio, representações
O psiquiatra inscreve a entrevista clínica
num procedimento terapêutico, enquanto o
procedimento do psicólogo não é
terapêutico no sentido médico do termo
(ausência de prescrições); ela tem antes de
mais um caráter de ajuda, de
aconselhamento e de intervenção
psicológica, que é suposto levar a
modificações positivas no indivíduo em
sofrimento.
As primeiras entrevistas psicanalíticas têm como
função recolher os elementos de decisão no que diz
respeito á indicação de análise e de acordar
modalidades práticas de cura (D. Lagache, 1964).

No decurso destas primeiras entrevistas:

- O analista, através de um procedimento não


diretivo, escuta os pacientes, a história das
perturbações, a história da sua vida.
- Analisa o desejo e a capacidade do sujeito para
empreender uma análise.
- Tem em conta a maleabilidade e a riqueza psíquica
do paciente, a sua aptidão para verbalizar e tolerar a
situação de análise que pode viver como frustrante.
Fixação do quadro psicanalítico

Uma vez colocada a indicação da análise, esse quadro é


fixado e já não muda. Diz respeito:

Duração (raramente inferior a quatro ou cinco anos)


Frequência e duração das sessões (duas a três sessões
por semana, com uma duração de trinta a quarenta e cinco
minutos.
Posição do analisado (deitado no divã);
Posição do analista (situado atrás do paciente)

Nesta situação é dada ao sujeito a indicação de livre


associação que representa de fato uma aprendizagem da
liberdade de expressão de si (D. Lagache).
Especificidades da entrevista clínica
:

- Uma forma particular de comunicação

- Uma forma particular de apreender o


discurso

- Apesar de tudo uma conversa


A entrevista está na base de todas as
psicoterapias que associam a palavra ao
dispositivo terapêutico. O quadro e os elementos
técnicos não parecem modificar-se muito, mas há
um certo número de elementos que, no entanto,
variam de uma técnica terapêutica para outra,
como:

- A posição das cadeiras (face a face, lado a lado);


- A posição do paciente (sentado ou deitado);
- O número e a duração das sessões;
- A duração da psicoterapia;
- A atitude do clínico (não diretiva, semi diretiva ou
diretiva).
A ENTREVISTA PSICOLÓGICA principia o
exame propriamente dito. Ela tem como
uma de suas metas refinar as primeiras
hipóteses e estratégias para a condução do
exame ou mesmo acrescentar outras.
Observações como: a versão do periciando
sobre os fatos, do corolário emocional que
emprega em seu relato, da forma como se
expressa, da qualidade da organização do
pensamento verbal e da relação como
perito. Permite o levantamento do perfil
afetivo e cognitivo do periciando.
É na dinâmica dos ciclos vital e criminal que
obtemos a informação sobre os fatores do
desenvolvimento das duas esferas acima. O
perfil cognitivo é obtido na maneira como a
pessoa se organiza para se comunicar
conosco, cujas impressões correlacionamos
com a investigação minuciosa de sua vida
escolar. Saber como o sujeito se
relacionava com seu dia a dia na escola
com as disciplinas, colegas, professores,
etc.
Uma Avaliação Psicológica seja realizada de
forma adequada e bem sucedida, o psicólogo
precisa ir além dos conhecimentos essenciais da
Psicologia (Psicopatologia, Psicologia do
Desenvolvimento e da Personalidade, entre
outras), será necessário conhecer as técnicas de
investigação psicológica (nelas incluem-se as
entrevistas, observações, dinâmicas de grupo e
testes psicológicos) e dispor de conhecimento em
psicometria e técnica projetiva. Cada instrumento
de avaliação deve obedecer suas condições de
aplicação, devendo sempre ser adequadas aos
objetivos da demanda, ao que se pretende avaliar
e entender (CASULLO, 1999; ANASTASI;
URBINA, 2000; PASQUALI, 2005).
TIPOS DE ENTREVISTA

Há diferentes tipos de entrevistas, modos de


conduzi-las e de interpretar os seus dados,
de acordo com os diversos enfoques
teóricos, em psicologia (Clínica Inicial,
Anamnese, Lúdica, Investigativa,
Motivacional).

A entrevista apresenta-se de acordo com a


forma e a estrutura, podendo ser de três
tipos:
Entrevista diretiva ou fechada em
que as perguntas são programadas,
planejadas, inclusive em sequência,
não alterando as perguntas, nem a sua
ordem, a qual permite a observação de
certos princípios da entrevista: o
estabelecimento de uma relação,
obtenção de dados sobre o
psicodinamismo inconscientes da
pessoa, observando as reações,
linguagem não verbal e etc.
Entrevista livre, não-diretiva ou aberta,
neste o entrevistador tem ampla liberdade
para perguntas e intervenções. É flexível e
permite uma investigação mais ampla e
profunda da personalidade do entrevistado.
Na técnica psicanalítica a entrevista livre é
uma constante fonte de informações, já que
está sempre aberta a novos níveis de
compreensão. É dinâmica, enquanto que a
entrevista fechada é estática. Segundo a
psicanálise a entrevista livre está apoiada
na teoria da transferência e
contratransferência.
Entrevista semi dirigida é um tipo de
entrevista que o paciente pode iniciar
falando sobre o que
escolher, sendo que o entrevistador
intervém com os objetivos de buscar
maiores esclarecimentos, clarear
pontos obscuros ou confusos e ampliar
informações. Esse tipo de entrevista é
intermediário entre a entrevista livre e a
diretiva.
Conforme Cunha (1986), a entrevista apresenta
vários objetivos, podendo ser DIAGNÓSTICA, a
qual
não emprega a interpretação e tem intuito de
estabelecimento do diagnóstico do paciente,
coletando
dados para tal fim, bem como a formulação de
indicações terapêuticas. Enquanto que a
entrevista
TERAPÊUTICA visa o acompanhamento do
paciente, o esclarecimento das suas dificuldades,
podendo ter
o emprego do processo de interpretação, com
vistas ao insight do paciente, o que não ocorre na
entrevista diagnóstica.
Na ENTREVISTA DE ACONSELHAMENTO, o
psicólogo fornece informações, faz críticas, elogios
e sugestões ao paciente, além de interpretar o
material que este lhe traz. Atribuem-se as
características à entrevista de aconselhamento: - é
uma relação entre duas pessoas; - o entrevistador
é levado a assumir a responsabilidade de ajudar o
paciente; - este tem possíveis necessidades,
problemas, bloqueios ou frustrações que deseja
tentar satisfazer ou modificar; - o bem estar do
paciente constitui o interesse central da situação;
ambos desejam encontrar soluções para as
dificuldades apresentadas pelo paciente. (J. A.
Cunha, 1986, p.31).
ENTREVISTA
LÚDICA
Freud compreendeu que essa criança estava
brincando de ir embora e voltar. Era a maneira que
ela tinha para controlar a angústia da ausência da
mãe. Então, a criança não estava meramente se
divertindo. Pelo contrário, por meio da
manipulação do brinquedo, estava dominando
uma situação que, de outra forma, seria
impossível. Assim, para Freud (1976), as crianças
repetem, nas suas brincadeiras, tudo que na vida
lhes causou profunda impressão e, brincando, se
tornam senhoras da situação.
As crianças, então, segundo Freud (1976),
brincam para fazer alguma coisa que, na
realidade, fizeram com elas. Nas brincadeiras,
após idas a médicos, onde o corpo é examinado,
ou após alguma cirurgia, muitas vezes, essas
lembranças, mesmo sendo penosas, se
transformam em conteúdo de jogo.
através do brinquedo, a criança tem a
possibilidade de realizar o desejo dominante para
sua faixa etária, por exemplo, o de ser grande e de
fazer o que fazem os adultos. Desta maneira, na
situação anterior relatada, a criança poderá ser o
médico que estará atacando um corpo, passando
a provocar, num objeto/brinquedo ou num
companheiro de seu grupo de iguais, a sensação
desagradável por ela experimentada.
É, portanto, na situação do brinquedo, que a
criança procura se relacionar com o real,
experimentando-o a seu modo, procurando
construir e recriar essa realidade.
Através do brinquedo, a criança não só realiza
seus desejos, mas também domina a realidade,
graças ao processo de projeção dos perigos
internos sobre o mundo externo. O brinquedo é,
então, um meio de comunicação, é a ponte que
permite ligar o mundo externo e o interno, a
realidade objetiva e a fantasia.
Segundo Aberastury, não há necessidade de uma
caixa com material lúdico exclusiva para cada
criança, considerando que qualquer tipo de
brinquedo, mesmo que sejam os mais simples,
oferecem possibilidades lúdicas projetivas para o
diagnóstico. Entretanto, quando se trata da
primeira hora de jogo de tratamento, ao finalizar a
sessão, além do terapeuta estabelecer as
condições do contrato psicoterápico, deverá
guardar junto com a criança todo o material lúdico
numa caixa, que ficará fechada e à qual só terão
acesso a criança e o terapeuta. Essa caixa, sem
dúvida, se transforma durante o tratamento no
símbolo do sigilo, similar ao contrato verbal que se
estabelece com o adulto quando se inicia o
tratamento.
Na entrevista lúdica, Aberastury (1978)
considera também conveniente não
interpretar, já que ainda não temos
como saber se a criança será tratada
ou não e, em caso de
encaminhamento, qual a técnica mais
adequada para aplica.
Na Avaliação Psicológica infantil, costuma-se entrevistar
os pais, antes de ver a criança, com o objetivo de obter
informações o mais abrangentes possíveis sobre o
problema e sobre como a criança é. Após as entrevistas
com os pais, mantém-se o primeiro contato com a
criança, que pode ser por meio de uma entrevista lúdica.
A entrevista lúdica de cada
processo psicodiagnóstico é uma
experiência nova, tanto para o
psicólogo como para a criança,
em que se refletirá o
estabelecimento de um vínculo
transferencial breve. Nos
brinquedos oferecidos pelo
psicólogo, a criança deposita
parte dos sentimentos,
representante de distintos
vínculos com objetos de seu
mundo interno (Efron, Fainberg,
Kleiner et alii, 1978).
O material lúdico
deve ser apresentado
sem uma ordem
aparente, em caixas
e/ou armários,
sempre com as
tampas ou portas
abertas, devendo ser
adequado para
atender crianças de
diferentes idades,
sexo e interesses.
Procurando representar os objetos mais comuns
do mundo real circundante, os brinquedos mais
usados são: papel, lápis preto e colorido,
canetinha, borracha, apontador, régua, cola, fita
adesiva, corda, tesoura, massa para modelar,
argila, tinta, pincéis, bonecos e famílias de
bonecos, casa de bonecos, marionetes, família de
animais selvagens e domésticos, blocos de
construção, carros, caminhões, aviões, bola,
armas de brinquedo, soldados, super-heróis,
cowboys e índios, equipamentos de cozinha, de
enfermagem e de ferramentas domésticas,
quebra-cabeças, telefone, panos, jogos de
competição e quadro-negro
A escolha de brinquedos e jogos está
relacionada com o momento evolutivo
emocional e intelectual em que a
criança se encontra.
Enfim, a entrevista lúdica diagnóstica é uma técnica de
avaliação clínica muito rica, que permite compreender a
natureza do pensamento infantil, fornecendo
informações significativas do ponto de vista evolutivo,
psicopatológico e psicodinâmico, possibilitando formular
conclusões diagnósticas, prognósticas e indicações
terapêuticas.
Piaget, conforme Ajuriaguerra (1983), também
propõe uma classificação que leva em conta, ao
mesmo tempo, a estrutura do jogo e a evolução
das funções cognitivas da criança.
Consequentemente, fala de brinquedos e jogo de
exercício (até os 2 anos), em que a conduta lúdica
é destinada exclusivamente para a obtenção de
prazer; de brinquedos e jogos simbólicos (entre 2
e 8 anos), em que a criança desenvolve a
capacidade de representar uma realidade que não
está presente no seu campo perceptivo; e, por
último, de brinquedos e jogo de regras (a partir
dos 8 anos), que são uma imitação das atividades
dos adultos e que pertencem ao domínio do
código social.

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