Evelina Moografia
Evelina Moografia
Evelina Moografia
Os indivíduos criam várias representações sociais sobre o trabalho infantil. Estas diferem de
contexto para contexto e de situação para situação. Em algumas sociedades concebe-se o trabalho
infantil como um instrumento de socialização, visando aprendizagem de ofícios e regulação de
comportamentos. É nesse âmbito que prevalece a crença de que quando a criança começa a
trabalhar cedo, a probabilidade desta ser uma criança bem encaminhada e um adulto honesto é
ainda maior (Gomes e da Silva, 2011; Cruz e Soares, 2011).
No contexto moçambicano, estudos sobre o trabalho infantil (FDC, 2008 apud UNICE, 2014;
Barros e Gulamo, 1999 e OIT 2012) ilustram como as atitudes patentes nas tradições culturais
das sociedades e nas relações de género e poder tendem a influenciar o que os membros dos
agregados familiares ou de um determinado grupo fazem para participar na vida familiar ou
comunitária.
Essa forma de pensamento é determinista pois, os autores tomam o factor económico como a
causa fundamental que explica e exerce influência sobre o trabalho infantil e suas representações.
O nosso posicionamento é de que os factores económicos (condições financeiras, habitação)
apesar de serem importantes na análise do trabalho infantil, não explicam por si só a reprodução
do fenómeno e a construção dos seus significados sociais.
O terceiro capítulo descreve a metodologia usada no estudo. No quarto capítulo são apresentados
e discutidos os resultados da pesquisa, e finalmente apresentam-se as considerações finais, a
bibliografia e anexos de documentos que suportam a pesquisa.
Problema
Partindo do princípio que os actores sociais no contexto de suas interacções constroem noções e
interpretações que dão sentido aos acontecimentos da vida quotidiana, e que tem relação com os
contextos em que se encontram inseridos e com as normas e valores decorrentes nesses contextos
nota-se que, as representações sociais que decorrem nos diferentes contextos sociais sobre o
trabalho infantil são principalmente das instituições (família e a justiça) em favor das crianças.
Objectivo geral
Compreender o impacto do trabalho infantil no desenvolvimento da criança.
Objectivos específicos
Justificativa
Desta forma, esperamos que os resultados do estudo contribuam cientificamente para a área da
sociologia da infância em Moçambique dando mais subsídios para a produção do conhecimento
acerca das representações sociais das crianças sobre o trabalho infantil. Este tema mostra-se
pertinente na medida que a análise baseia-se nas acções e significados compartilhados
diariamente entre os indivíduos (crianças). O tema abarca as interacções sociais e incide
directamente sobre as estruturas institucionais. Assim, este estudo constitui uma tentativa de
contribuir cientificamente para a sociologia da infância no contexto moçambicano.
Capítulo - I
1.1.Referencial Teórico
1.1.1.Enquadramento conceptual
Esta pesquisa toma como base três conceitos fundamentais: criança, representações sociais e
trabalho infantil.
a) Criança
O conceito de criança é definido em função da idade segundo a convenção sobre os direitos da
criança. No entanto, alguns autores como Delgado e Muller (2005) sugerem que para além da
idade, é preciso ter em conta as capacidades de autonomia e de expressão da criança.
Segundo a UNICEF (1990), criança são todos os indivíduos com menos de dezoito (18) anos de
idade, excepto se a lei nacional conferir a maior idade mais cedo. Esta definição dá ênfase a
dimensão psico-biológica da criança.
Neste estudo tomamos criança numa dimensão individual como todos os indivíduos ou seres
humanos com idades compreendidas entre os 10 aos 14 anos, diferenciando-se na sua capacidade
de locomoção, expressão, autonomia e acção. Esta definição se mostrou importante para a
explicação do estudo pelo facto de pretendermos trabalhar com menores de idade que tenham a
capacidade de dar informação acerca da realidade vivida, para destes captar as noções e as
interpretações da prática do trabalho infantil na cidade de Maputo.
b) Trabalho infantil
Da Silva (2010), considera trabalho infantil toda a forma de trabalho exercida por crianças e
adolescentes abaixo da idade mínima legal permitida para o trabalho conforme a legislação de
cada país. Esta autora, enfatiza a dimensão jurídico-legal do trabalho.
Segundo a OIT (2012), trabalho infantil é toda forma de trabalho laboral desenvolvida por
pessoas com idades inferiores aos 15 anos, sujeito ou não a remuneração (económica,
cooperativa, associativas ou de organizações não governamentais). Esta definição demonstra a
existência de diferença entre trabalho de menores e trabalho infantil considerando que o primeiro
é exercido por menores de 18 anos e, trabalho infantil é exercido por crianças menores de 15 anos
de idade, que é a idade mínima da admissão para o emprego em Moçambique2.
A Lei do trabalho 23/2007, permite o acesso de crianças no mercado do trabalho antes da idade
mínima de admissão desde que estas tenham idades compreendidas entre os 12 aos 14 anos e
mediante a autorização do seu representante legal. A partir desse momento são determinados a
natureza do trabalho e as condições espaciais e temporais em que este trabalho poderá ser
prestado.
A pobreza familiar é geralmente caracterizada pelo baixo rendimento dos agregados familiares
que culmina na insatisfação das necessidades básicas e de sobrevivência de uma família
(González, 2012). Este factor constitui um dos maiores impulsionadores do trabalho infantil na
medida que, faz com que as famílias de baixa renda envolvam as crianças no trabalho como
forma de suprir as necessidades de subsistência e aumentar a renda familiar (Silva, 2010; Xavier,
2010 e Laginski, 2001).
Pereira et al. (2010), afirmam que devido a precarização de vida como a alimentação e moradia
inadequada das crianças e suas famílias, estes atribuem as actividades económicas que exercem
na rua um significado de necessidades financeiras, de relações de oportunidades, cultural e de
prazer no trabalho. Em Moçambique, estima-se que os agregados familiares são os mais afectados
pela pobreza. Como estratégia de sobrevivência as famílias colocam a disposição a mão-de-obra
dos seus filhos em actividades como empregados domésticos e vendedores ambulantes. Estes
trabalhos são remunerados por alimentos, vestuários, acomodação, propinas para a escola e até
outras vezes sem remuneração, (Barros e Gulamo, 1999).
O segundo factor apontado como influente do trabalho infantil é a desigualdade social. Este factor
é caracterizado por ser gerador de exploração de mão-de-obra infantil uma vez que “estimula” as
crianças de famílias pobres que se encontram em países onde as desigualdades sociais entre os
indivíduos são muito visíveis, a aderirem ao trabalho como forma de garantir o acesso de serviços
e bens públicos. As crianças são as que mais sofrem com os efeitos das desigualdades sociais nos
países subdesenvolvidos. Esta situação deve-se ao facto das desigualdades sociais abrirem espaço
para a exclusão social da maioria das crianças desprivilegiadas do acesso às condições de
subsistência básicas tais como educação, saúde, habitação, alimentação e vestuário (Silva, 2010,
Gomes e da Silva, 2011, Stadnick, 2010).
Segundo Laginski (2001) e Marchi (2013), a forma como a sociedade se organiza encontra- se
directamente correlacionada a educação e regulação de comportamentos dos indivíduos que é
fundado em valores e normas sócio-culturais estabelecidas nos diferentes contextos sociais.
Nesse sentido, a socialização dos pais pode ter influência na reprodução e inserção das crianças
no mundo do trabalho e na construção dos significados sobre ele (Laginski, 2001 e Marchi,
2013).
O trabalho infantil tem efeitos imediatos a curto e a longo prazo, no sentido que pode condicionar
o abandono da escola assim como a incapacidade de construir uma vida futura. Contrariamente a
curto prazo, o trabalho infantil traz benefício para a formação individual e social da criança pois,
para além de ensinar o ofício do trabalho este ainda pode ajudar com as despesas da família
(FDC, 2008 apud UNICEF, 2011/2014).
Capítulo - II
2.1.Metodologia
Este capítulo apresenta a metodologia usada na elaboração desta monografia. Aqui são
apresentados os procedimentos e abordagens metodológicas seguidas bem como, as técnicas que
foram usadas no processo de recolha de dados.
2.2.Local de estudo
A Baixa da cidade localiza-se na capital moçambicana e constitui uma das zonas movimentadas.
Esta acolhe trabalhadores informais de ambos sexos, varias idades e provenientes dos diferentes
bairros da cidade de Maputo. Neste local, encontram-se grandes estabelecimentos comerciais e
várias oportunidades de trabalho informal.
2.3.Método de procedimento
Este é um estudo qualitativo que procura descrever as visões, noções e interpretações das crianças
sobre a sua actividade económica como forma de captar as significações das mesmas assim como,
a forma como estas são produzidas. A metodologia qualitativa permitiu captar as percepções e
práticas sociais (motivos, inspirações, crenças, valores e atitudes) e perceber em que medida as
crianças envolvidas em actividades económicas captam e expressam esta realidade (Minayo,
2001).
Este método é apropriado para explorar a realidade social visto que permite o aprofundamento ou
saturação da informação disponível sobre a realidade social (Gil, 2008).
Neste estudo o método permitiu captar o processo de construção das representações
sociais das crianças sobre o trabalho infantil na cidade de Maputo.
2.4.Métodos de abordagem
Neste estudo, usamos a amostra por conveniência ou por acessibilidade (Gil, 2007).
Este tipo de amostra nos permitiu definir os mecanismos para que cada elemento
que constitui a amostra (crianças trabalhadoras) fosse seleccionado e entrevistado. A
desvantagem deste tipo de amostra reside no facto de não permitir saber se todos os
elementos da amostra são representativos da população (Oliveira, 2001). Neste
estudo, a amostragem por conveniência não permitiu fazer nenhuma generalização
sobre a realidade em estudo.
Para Gil (2007), este tipo de amostragem constitui a menos rigorosa de todos os
outros tipos. A partir desta amostra o pesquisador selecciona os elementos que tem
acesso admitindo que estes possam representar o universo. Assim, seleccionamos 30
crianças com idades entre os 10 aos 14 anos que desenvolviam actividades
económicas das quais, 15 do sexo masculino e 15 do sexo feminino. Igualmente,
foram seleccionados 10 pais dos quais, 2 pais e 8 mães cujas crianças desempenham
actividades económicas.
Foi usada a língua portuguesa para administração das entrevistas. Contudo, tendo
em conta a facilidade de compreensão, produção e interpretação dos discursos de
cada participante, usamos as línguas verniculares Changana e o Macua.
Para a análise de dados, usamos da análise temática (Bardin, 2009 apud Guerra,
2014). Este método permitiu fazer uma análise e interpretação de dados recolhidos
no campo a partir da teoria escolhida e do material bibliográfico. Com base nela,
fizemos uma exploração do material bibliográfico, pré-analise e tratamento dos
resultados a partir da teoria e a sua interpretação. Guerra (2014) afirma que esta
técnica de análise tem como ponto de partida uma organização que consiste na pré-
análise, exploração do material e o tratamento dos resultados ou a inferência e a
interpretação de dados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROS, João Gabriel de, & GULAMO, Taju (1999). “Prostituição, abuso sexual e
trabalho infantil em Moçambique” o caso específico da província de Maputo, Tete e
Nampula, Terre dos Hommes, Maputo.
BIZA, Adriano et al. (2008). “Violência contra menores em Moçambique”- uma revisão da
literatura, FDC, Maputo.
CRUZ, Ricardo Santos de Deus & SOARES, Maria Zilda Silva (2011). “Trabalho infantil e
suas representações sociais”: um estudo elaborado com crianças e adolescentes na cidade de
teresina-PI, Revista FSA, Teresina.
DA SILVA, Rosa Amélia (2010). “O trabalho escravo infantil no Brasil”: uma revisão da
literatura, João Pessoa-PB, Brasil.
DELGADO, Ana Cristina Coll & MULLER, Fernanda (2005). “Sociologia da infância”:
FRANCISCO, Albino & SALE, Ácia Marisa (2013). “Agenda de desenvolvimento pós
2015- relatório do país” percepções e vozes de grupos e organizações moçambicanas, FDC,
Moçambique.
GIL, António Carlos (2007). Métodos e Técnicas de Pesquisa Social, 5ª edição, Atlas, São
Paulo.
GIL, António Carlos (2008). Métodos e técnicas de pesquisa social, 6ª edição, Atlas, São
Paulo.
GOMES, Ana Carolina & DA SILVA, Sílvia Bezerro (2011). “Infância subtraída” uma
reflexão sobre o trabalho infantil na cidade de Manaus, UNINORTE. Manaus-Itália.
GUERRA, Elaine Linhares de Assis (2014). Manual de pesquisa qualitativa, editora anima
educação, Belo Horizonte.
MARCHI, Rita de Cássia (2013). O trabalho infantil na visão das crianças trabalhadoras In
“Trabalho infantil” Representações Sociais da sua Instituição em Blumeau S /C-Curitiba,
Editora UFPR, Brasil.
SILVA, Andressa Hennig & FOSSA, Maria Ivete-trevison (2013). “ Análise de conteúdo”
exemplo da aplicação da técnica, para a análise de dados qualitativos, ENEPQ, Brasília.
THIRY-CHERQUES, Hermano Roberto (2009). “Saturação em pesquisa qualitativa”
Problema.................................................................................................................................3
Objectivos...............................................................................................................................4
Objectivo geral.......................................................................................................................4
Objectivos específicos............................................................................................................4
Justificativa.............................................................................................................................4
Capítulo - I..............................................................................................................................5
1.1.Referencial Teórico..........................................................................................................5
1.1.1.Enquadramento conceptual...........................................................................................5
Capítulo - II............................................................................................................................9
2.1.Metodologia......................................................................................................................9
2.2.Local de estudo.................................................................................................................9
2.3.Método de procedimento..................................................................................................9
2.4.Métodos de abordagem...................................................................................................11