Quem e o Novo Pai Concepcoes Sobre o Exercicio Da

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Quem é o novo pai? Concepções sobre o exercício da paternidade na família


contemporânea

Article in Barbarói · July 2020


DOI: 10.17058/barbaroi.v0i57.14263

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Fernanda Torzeczki Trage Tagma Donelli

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QUEM É O NOVO PAI? CONCEPÇÕES SOBRE O EXERCÍCIO DA
PATERNIDADE NA FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA

DOI: http://dx.doi.org/10.17058/barbaroi.v0i57.14263

Fernanda Torzeczki Trage


Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS – Brasil

Tagma Marina Schneider Donelli


Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS – Brasil

Resumo
O presente estudo tem como tema o papel paterno na atualidade. Para tal, definiu-se como
objetivo geral compreender, a partir do olhar do novo pai, o exercício da paternidade na família
contemporânea. Utilizou-se delineamento exploratório-descritivo, de abordagem qualitativa.
Participaram desta pesquisa três pais, moradores da cidade de Porto Alegre/ RS e região
metropolitana, que responderam os seguintes instrumentos: Ficha de Triagem, Ficha de Dados
Sociodemográficos e Entrevista Semiestruturada. Com os dados coletados por meio da
entrevista, realizou-se uma análise do conteúdo das falas dos participantes. Tal análise foi
desenvolvida, tendo como base duas categorias: a percepção do entrevistado sobre o exercício
da paternidade e a percepção do entrevistado sobre a paternidade na condição de filho. Os
resultados apontaram que ser pai, na atualidade, afasta-se dos modelos tradicionais, uma vez
que os pais exercem uma postura diferente com seus filhos da vivenciada na sua relação com
seus progenitores. O pai contemporâneo mostra-se envolvido emocionalmente, mais
participativo e comprometido, dividindo as tarefas de cuidado dos filhos e da casa com a esposa.
A partir do ponto de vista do próprio pai, chegou-se a esses resultados, sendo possível
compreender o exercício da paternidade na família contemporânea.
Palavras-chave: Paternidade, Novo pai, Contemporaneidade, Relações familiares.

Introdução
Ao se pensar a respeito da evolução histórica do papel do pai, é necessário levar em
conta os movimentos sociais que acompanham as discussões sobre o papel da mulher na
sociedade. Tal abordagem conduz a um movimento coletivo em prol dos direitos femininos, os
quais se perpetuam em diferentes esferas sociais e impactam diretamente no núcleo familiar.
Nesse sentido, concepções e conceitos configuram esses distintos momentos históricos da
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mulher e, por sua vez, das famílias. Negreiros e Féres-Carneiro (2004) estabelecem essas
mudanças como “modelo antigo” e “modelo novo” de família. Costa (1983), Cúnico e Arpini
(2013) e Roudinesco (2003) definem tais alterações na constituição familiar marcada por três
fases: a tradicional, a moderna e a contemporânea ou pós-moderna.
Sob a ótica das concepções de família como “modelo antigo”, está a demarcação da
precisão de identidade de gênero ou das figuras masculinas e femininas, que apresentam
características direcionadas em comportamentos, atitudes e interesses, num momento no qual
o casamento é considerado indissolúvel e ligado à reprodução e ao papel da mulher como
cuidadora do lar e dos filhos. Já o conceito de família pelo “modelo novo” traz uma marca
identitária fluida, com a mulher participando ativamente do mercado de trabalho. Nessa ótica,
a sexualidade não está atrelada obrigatoriamente à reprodução e os casamentos podem ser
rompidos quando uma das partes desejar (NEGREIROS; FÉRES-CARNEIRO, 2004).
Embora apresentem termos distintos, Costa (1983), Cúnico e Arpini (2013) e
Roudinesco (2003) consideram, nas três fases que estabelecem, os aspectos abordados por
Negreiros e Féres-Carneiro (2004). Ao designá-las como tradicional, moderna ou
contemporânea, concentram-se nas estruturações do núcleo familiar.
Quanto à família tradicional, os autores indicam que havia uma preocupação com a
transmissão do patrimônio, e, por isso, os casamentos eram arranjados pelos pais dos noivos. A
questão do amor e a vida sexual do casal não eram levados em consideração nessa época,
havendo submissão da família frente à autoridade patriarcal. Já a família moderna, também
designada de família nuclear ou família conjugal burguesa, emergiu junto a ascensão da
burguesia do século XVIII, seguindo, justamente, o sistema de valores burgueses. Nessa fase,
diferentemente da anterior, impera o amor entre os cônjuges, se estabelecendo uma relação
hierárquica entre homens e mulheres. Os cuidados e o bem-estar dos filhos têm importância
central nessa relação (COSTA, 1983; REIS, 2010; ROUDINESCO, 2003). A divisão de tarefas
dentro do ambiente familiar colocou o homem como responsável pela produção, ou seja, pelo
sustento do lar, enquanto a mulher era incumbida dos cuidados dos filhos e da casa (CÚNICO;
ARPINI, 2013; REIS, 2010; SILVA, 2010).
Restrita à vida privada, a esposa ocupava, no modelo de família moderna, um papel de
subjugação em relação ao cônjuge, uma vez que dependia jurídica, moral, econômica e
religiosamente do esposo (BADINTER1, 1985; CÚNICO; ARPINI, 2013; ROUDINESCO,
2003; SILVA, 2010; STAUDT; WAGNER, 2008). A mulher, por ser responsável pelas

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atividades domésticas, passa a ser vista como um ser frágil e não apto à atividade intelectual,
que abre mão de seus desejos e vontades para dedicar-se à família. A imagem do homem, em
contrapartida, se mostrava como forte e vigorosa, ao desempenhar seu papel como provedor da
família, inclusive na formação de valores morais (BADINTER2, 1985; COSTA, 1983;
CÚNICO; ARPINI, 2013; REIS, 2010; ROUDINESCO, 2003; SILVA, 2010).
Tanto na estruturação do modelo de família tradicional ou moderna, a paternidade se
revelava essencialmente por uma relação fria, distante e autoritária com os filhos, não havia
manifestações de afeto. Era marcada pela ideia da diferença, calcada na hierarquia familiar, em
que o adulto era detentor do saber, fazendo isso prevalecer através da sua autoridade. O pai
desempenhava uma função educadora e disciplinadora, sendo simbolicamente importante para
as crianças como modelo de poder e autoridade (BENCZIK, 2011; FREITAS; COELHO;
SILVA, 2007; GABRIEL; DIAS, 2011; RAMIRES, 1997).
A família moderna calcava-se em um modelo de relações afetivas, sexuais e hierárquicas
(CÚNICO; ARPINI, 2013; SILVA, 2010). A crise nessa configuração familiar instaurou-se na
virada do século XX, pois o modelo da família burguesa seguiu trajetórias diferentes,
produzindo efeitos distintos nas diversas classes sociais, fazendo com que a família se
despatrimonializasse e a figura masculina perdesse sua rígida hierarquia de dominância
(CÚNICO; ARPINI, 2013; PEREIRA, 2011; PERUCCHI; BEIRÃO, 2007; PETRINI, 2005;
REIS, 2010; SILVA, 2010).
Esse cenário conduziu a mulher ao mercado de trabalho e trouxe questionamentos e
reformulações quanto ao lugar da mulher na sociedade. Isso contribuiu para a expansão do
movimento feminista, o qual levou, inclusive, ao desenvolvimento de métodos
anticoncepcionais, bem como passou a considerar a possibilidade do divórcio (OLIVEIRA;
PELLOSO, 2004; PEREIRA, 2003; RAMIRES, 1997; REIS, 2010; ROUDINESCO, 2003;
SILVA, 2010). Tais fatos repercutiram diretamente na família, pois o desempenho da mulher
como esposa e mãe estava ligado ao sucesso e ao prolongamento do casamento (CÚNICO;
ARPINI, 2013; REIS, 2010).
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (GOLDANI, 1994) veio a
consolidar o que os movimentos sociais almejavam: os princípios fundamentais para o
ordenamento jurídico brasileiro. A partir desses princípios, dentre os quais o da cidadania e o
da dignidade humana (art. 1§, II e III), houve a reformulação de algumas concepções que
orientavam as normas jurídicas no Brasil. Com a Constituição de 1988, aboliu-se a distinção

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entre filhos nascidos na constância do matrimônio e aqueles tidos fora do casamento, não
havendo, assim, ilegitimidade de filhos tidos fora do casamento. Também se previu a igualdade
de gênero, bem como o reconhecimento da união estável como forma de organização familiar
(FONSECA, 2005; PEREIRA, 2011).
Permeada por essas mudanças é que se constitui a família contemporânea ou pós-
moderna, na qual passa a ser admissível o rompimento entre os pares; ou seja, o casamento não
é considerado mais um pacto familiar indissolúvel. No momento em que o afeto, o
companheirismo, os desejos e os objetivos em comum estejam em discordância, é possível
romper o casamento (CÚNICO; ARPINI, 2013; PEREIRA, 2011; ROUDINESCO, 2003;
SPENGLER, 2012).
Esses novos direitos adquiridos pelas mulheres trouxeram à tona comportamentos
sociais que revelaram novas configurações familiares e, frente à possibilidade de divórcios,
separações e recomposições conjugais, o exercício da maternidade e da paternidade implicaram
em novas funções, as quais não mais apresentam uma ideia fixa de pai provedor e de mãe
incumbida da família e dos cuidados domésticos. O novo cenário conduziu a uma maior
igualdade de tarefas e responsabilidades entre os membros da família (GRZYBOWSKI, 2002;
RAMIRES, 1997; ROUDINESCO, 2003; SILVA, 2010; SOARES, 2008; WAGNER, 2002).
Diante dessa nova estruturação familiar, com mães ocupadas profissionalmente e não
dedicadas exclusivamente ao lar, alterou-se também o papel exercido pelo homem no contexto
da família, tanto na dinâmica dos cuidados com a casa quanto no exercício da paternidade,
sendo, assim, necessária sua dedicação aos filhos, bem como às tarefas domésticas (CREPALDI
et al. 2006; OLIVEIRA; PELLOSO, 2004; RAMIRES, 1997; SOUZA; BENETTI, 2009;
VIEIRA et al., 2014). Assim, as transformações ocorridas nas famílias repercutiram para um
novo delineamento dos papeis maternos e paternos na contemporaneidade.
Diferentemente do modelo tradicional de paternidade, o pai da atualidade, nessa
estrutura familiar contemporânea ou pós-moderna, é demandado socialmente para que exerça
uma paternidade mais implicada e ativa no que se refere à convivência e aos cuidados com os
filhos (BOSSARDI; VIEIRA, 2010; GOMES; RESENDE, 2004; RAMIRES, 1997). Os
estudos que buscam definir as funções paternas na família e no desenvolvimento infantil,
contudo, não apresentam um consenso do que predomina como característica na paternidade de
hoje. Bossardi e Vieira (2010) indicam que a diferença da paternidade pós-moderna para a
moderna consiste em uma manifestação mais explícita de sentimentos dos pais com os filhos,
assim como um contato físico mais próximo e íntimo.

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O modelo de paternidade contemporâneo é chamado, segundo Bolze e Crepaldi (2015),
de emergente. Nele, identifica-se que há uma pluralidade de modos de ser pai e isso não pode
ser entendido apenas com base na sua relação com a família de origem: “O jeito de ser pai será
sempre muito particular de cada um e estará relacionado à história de vida, a características
individuais e a processos familiares, às necessidades que surgirem pelo caminho, ao contexto
social e à cultura” (BOLZE; CREPALDI, 2015, p. 40).
O novo pai – termo também utilizado para referir-se ao pai contemporâneo e que será
adotado para designá-lo neste trabalho – deseja reformular a sua experiência vivida na infância,
considerando-se mais feliz e realizado com o ativo envolvimento no cuidado e educação dos
filhos. A sua ausência é apontada em prejuízos no processo de ensino-aprendizagem, no
desenvolvimento moral e na formação da identidade de gênero (GOETZ; VIEIRA, 2009;
RAMIRES, 1997; SILVA; PICCININI, 2007; VIEIRA et al., 2014). Diante dessas novas
atribuições, Staudt e Wagner (2008) indicam que muitos homens passaram a vivenciar a
paternidade de forma distinta do modelo constituído na relação com o seu próprio pai.
As autoras ainda salientam que, apesar dessa nova estruturação de papéis, muitos
homens ainda não se envolvem tão ativamente em tarefas domésticas e de cuidado com os
filhos. Indicam que isso está associado a crenças relacionadas ao fato de o cuidado estar
vinculado ao gênero feminino. Além disso, é evidenciado o aspecto biológico da mulher, uma
vez que a relação com os filhos se estabelece já no ventre materno e apenas sua fisiologia é apta
a amamentar. Relaciona-se a gestação e a lactação, por serem exclusividade da mulher, à
condição instintiva e natural de estar mais bem preparada para desempenhar a função do cuidar.
Bossardi e Vieira (2015) também trazem essa perspectiva, salientando, por sua vez, que as
marcas biológicas femininas, ao estabelecer relação mãe-bebê, reforçam socialmente o papel
da mulher como cuidadora.
Diante disso, salienta-se que, apesar das especificidades fisiológicas femininas, o
homem pode, sim, desempenhar um papel ativo nos cuidados com os filhos. Cabe, portanto,
sustentar esse lugar de efetiva participação, o que implica na revisão de crenças e valores que
pautam e permeiam nossa cultura (CÚNICO; ARPINI, 2013; STAUDT; WAGNER, 2008).
Nesse sentido, para que se realize um bom ajustamento quanto às tarefas e às funções familiares,
é necessário que os cônjuges consigam compartilhar responsabilidades enquanto pais,
implicando num envolvimento conjunto e de reciprocidade dos pais na educação dos filhos
(BOSSARDI; VIEIRA, 2015).

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Há diversas teorias que buscam compreender o papel do pai: a perspectiva sistêmica
visa observar o fenômeno por meio de uma abordagem integral e contextualizada; a teoria
psicanalítica se orienta na compreensão psíquica simbólica do sujeito; a perspectiva
evolucionista integra o percurso filogenético e ontogenético. Além disso, há a perspectiva
geracional, ou seja, observando-se as continuidades e as distinções nos papeis de uma geração
para a outra, numa mesma família. Sob essa ótica, considerando o comportamento paterno,
Bolze e Crepaldi (2015) reforçam que há uma tendência a se reproduzir os modelos aprendidos
na infância. Destacam, contudo, que a participação mais ativa da mulher no mercado de trabalho
conduziu os homens a papeis mais participativos na esfera familiar, o que, de certo modo, levou
a uma descontinuidade nos padrões geracionais tradicionais. Indicam, em contrapartida, a
dificuldade que se tem em romper padrões, especialmente os modelos geracionais negativos
(BOLZE; CREPALDI, 2015).
Em pesquisa realizada pelas autoras, elas identificaram que a maior parte dos pais3
afirmou agir com seus filhos de modo semelhante ao comportamento recebido na infância por
seus pais. Eles expuseram que a inspiração paterna está relacionada ao zelo, a explicações sobre
o que é certo e o que é errado, além do respeito a outras pessoas. O fator de primazia apontado
por esses pais está no incentivo à educação, o qual indicam reforçar com seus filhos.
Maternar é o verbo utilizado na designação do exercício da paternidade atual, quando o
homem se comporta para cuidar e atender às necessidades da criança (RAMIRES, 1997). Abade
e Romanelli (2018) sinalizam que o maternar não se configura como intuição feminina, mas
está vinculado a aprendizados sociais e culturais construídos com base em normas que são
modificadas de acordo com o contexto histórico. Nessa perspectiva, o pai pode aprender a
desempenhar seu papel como cuidador do mesmo modo que ele é aprendido pela mãe.
O conceito trazido pelos autores vem ao encontro da abordagem apresentada por
Ramires (1997), a qual indica que a maternidade e a paternidade transcendem o aspecto
biológico, alcançando um estatuto psicológico e social. O ato de gestar, dar à luz ou amamentar
não garantem a experiência da maternagem, assim como as peculiaridades do gênero masculino
não estão vinculadas à capacidade do cuidar, podendo exercer, assim, também, na plenitude, a
maternagem.
As mudanças nas configurações familiares têm despertado o interesse de pesquisadores
sobre a participação paterna nos cuidados dos filhos. Embora ainda seja pouco explorada a

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O termo pais, quando se referir ao pai e mãe, será indicado no texto, no formato a seguir: pais (pai e mãe); caso
não haja indicação, a acepção da palavra designa pai ou pais – relativo à paternidade.

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atuação do pai no cotidiano das crianças na primeira infância, há autores como Bossardi e Vieira
(2010) e Fleck e Wagner (2003) que trazem em seus estudos a importância dos pais na
constituição psíquica da criança, especialmente dos bebês, e que se apresentam tão capazes
quanto as mães de exercerem as funções de cuidado e educação.
Bossardi e Vieira (2015) esclarecem que o cuidado paterno pode ser entendido tanto por
fatores ligados a aspectos evolutivos quanto culturais. Entre os evolutivos estão a oportunidade
de acasalamento, a certeza de paternidade e a sobrevivência da prole. Já aspectos culturais
integram a própria necessidade e vontade de equalizar as funções maternas e paternas.
Sinalizam, no entanto, que o investimento parental não é desempenhado igualmente pelo pai e
pela mãe, uma vez que há diferenças estabelecidas por fatores culturais e contextuais: “Fatores
como idade, sexo e número de filhos, satisfação conjugal, experiências estressantes na infância
e condições de vida são atrelados à intensidade desse investimento” (BOSSARDI; VIEIRA,
2015, p. 22).
A literatura indica que o pai da atualidade, ou o novo pai, como abordam Goetz e Viera
(2009), não apresenta, em geral, um modelo específico, mas, sim, há coexistência entre o
modelo de pai tradicional e o modelo de pai contemporâneo. Tal característica é entendida pelos
autores como positiva, uma vez que o modelo tradicional, de pai provedor, o qual proporciona
segurança e autoridade, se soma aos aspectos emocionais do pai contemporâneo, que se
caracteriza pelo envolvimento afetivo com os filhos e com a esposa, assim como atua de forma
mais ativa nas tarefas do lar (BENCZIK, 2011; FREITAS; COELHO; SILVA, 2007;
GABRIEL; DIAS, 2011; RAMIRES, 1997).
Esse novo pai, contudo, que tem o papel de provedor e, ao mesmo tempo, participativo
nas atividades de casa e engajado emocionalmente com a família, embora seja identificado
como o pai ideal, nem sempre consegue sustentar essa condição (BELTRAME; BOTTOLLI,
2010). Por conta da intensa carga horária de trabalho, por exemplo, muitos pais referem não
conseguir exercer um papel tão ativo na divisão das tarefas de cuidados dos filhos com a esposa.
Sob essa ótica que se torna importante compreender os aspectos que caracterizam o
envolvimento paterno. Tal conceito é abordado nas pesquisas de Lamb et al. (1985), os quais o
estruturam sob três dimensões de avaliação com base no comportamento do pai, são elas:
interação, acessibilidade à criança e responsabilidade. A primeira envolve a interação do pai de
forma direta com o filho – ao cuidar, brincar e envolver-se em atividade de lazer; a segunda
consiste na disponibilidade desse para com o filho para possíveis interações entre ambos; a
terceira refere-se ao pai responsabilizar-se pelo cuidado, ou seja, o pai como principal cuidador

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da criança. Esse compromisso paterno, no qual há um maior envolvimento emocional e com as
demandas de rotina do filho, é indicado por Vieira et al. (2014) como um fator de proteção para
o desenvolvimento da criança.
Nesse sentido, Parke (1996 apud CASTOLDI; GONÇALVES; LOPES, 2014)
apresenta, em seu estudo, os elementos que podem contribuir para o envolvimento paterno com
o filho: questões internas do pai, como, por exemplo, experiências próprias da sua paternidade;
contexto sociocultural; qualidade da relação conjugal; percepções sobre o seu papel como pai,
assim como a percepção da esposa sobre a atuação do marido na função paterna. Tais fatores
são identificados pela autora como itens que influenciarão no comportamento do pai quanto à
participação nos cuidados do filho ou até mesmo na condição de principal cuidador.
Bolze e Crepaldi (2015) indicam, com base em seus estudos, que há três fatores
principais aos quais os pais devem se atentar ao terem o intuito de desenvolver a atividade
paterna com qualidade. O primeiro está em buscar manter uma relação cordial com sua família
de origem; o segundo consiste no empenho que deve ter para que consiga estabelecer uma
relação conjugal na qual haja uma comunicação aberta, bem como possibilidades construtivas
para a resolução de conflitos; o terceiro fator está no engajamento na vida da criança desde o
período gestacional, acompanhando de perto todas as fases desenvolvimentais do bebê.
Em estudos sobre a participação paterna, o pai tem se mostrado como principal fonte de
apoio social para a mãe, e tal característica está estabelecida desde a gestação até os cuidados
com o bebê após o nascimento (RAPOPORT; PICCININI, 2006; SILVA; PICCININI, 2007).
A participação paterna aparece como uma forma de proteção para a mãe, pois, ao se sentir
segura, ela consegue estabelecer um bom vínculo com o bebê. Esse apoio é percebido diante
das manifestações de carinho, encorajamento e assistência recebidos por parte do parceiro.
O apoio conjugal é apontado, inclusive, como uma influência indireta no bem-estar
psicológico e no comportamento de ambos, enquanto pais (pai e mãe). Acredita-se que diante
do apoio, conselhos e assistência oferecidos pelo parceiro, a tendência é que o cônjuge não sinta
de forma tão estressora os eventos adversos vivenciados em suas vidas (RAPOPORT;
PICCININI, 2006). Os autores sinalizam que o engajamento paterno pode ser prejudicado se
houver situações oriundas de fortes conflitos conjugais e isso pode comprometer relações
futuras da criança com amigos, familiares e cônjuge. Nesse sentido, a relação dos pais (pai e
mãe) também afeta e ajuda a regular o comportamento social das crianças. Os relacionamentos
íntimos em sua adultez estão ligados à experiência que tiveram com a família de origem
(BOLZE; CREPALDI, 2015).

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A participação paterna como fonte de apoio para a mãe também foi avaliada como uma
influência positiva no desenvolvimento do apego entre mãe e bebê (RAPOPORT; PICCININI,
2006). Destaca-se que, conforme Castoldi, Gonçalves e Lopes (2014), a mãe se sente amparada
pelo companheiro quando o pai tem o papel de provedor no sustento familiar, sendo o principal
responsável pelas despesas da casa, o que é visto, pela mulher, como um pai que possui
envolvimento e comprometimento com seus filhos e esposa. Tal perspectiva vem ao encontro
das abordagens sobre o “novo pai”, o qual, mesmo tendo caraterísticas próprias do modelo
contemporâneo, mantém aspectos que ainda estão pautados no modelo tradicional.
O estudo qualitativo realizado por Krob, Piccinini e Silva (2009), voltado ao
comportamento dos pais no período gestacional até o segundo mês de vida do bebê, trouxe
resultados que evidenciaram que quando o pai não sentia, por parte da esposa, uma abertura
para tomada de uma posição frente aos cuidados do filho e/ou se sentia em desaprovação, tendia
a não estabelecer uma relação de cuidado, exercendo assim uma relação tradicional com o bebê.
Tal aspecto remete aos conceitos de envolvimento paterno abordados por Lamb et al. (1985),
em especial o que ele designa como disponibilidade, na medida em que o sentimento de
desaprovação da esposa no exercício da paternidade do marido pode inibir uma interação mais
intensa entre pai e filho.
Castoldi, Gonçalves e Lopes (2014), ao também investigarem o comportamento dos
pais4 em período gestacional até o primeiro ano de vida do bebê, apontaram que, a partir das
aquisições motoras que o bebê tem, o pai tende a engajar-se mais nos cuidados com o filho,
buscando uma construção de vínculo entre pai-bebê. O pai, ao notar que o bebê já possui certa
firmeza de movimentos, sente-se mais confortável a desempenhar as tarefas de cuidado.
Em relação aos sentimentos paternos frente à experiência de se tornar pai, o estudo de
Gonçalves et al. (2013) indicou que a experiência frente à paternidade era demarcada por
satisfação e sentimentos positivos. Tal pesquisa, concentrada em bebês até o terceiro mês de
vida, apresentou pais que manifestaram desejo de participar ainda mais da vida dos filhos,
embora tenham destacado que o cotidiano de cuidado com os filhos pode ser bastante cansativo.
Frente a esse cenário, ao se considerar essa nova organização social, a qual impacta
diretamente na dinâmica familiar, identifica-se a necessidade de trazer a figura paterna para o
centro das investigações. Ao se entender seu posicionamento e os aspectos que caracterizam
essa nova conjuntura, torna-se possível atuar, enquanto psicóloga, de forma mais assertiva, na

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O termo pais neste estudo abrange a função materna e paterna. Nesta investigação, apenas se trouxe os resultados
referentes ao pai.
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medida em que se reconhece as demandas do núcleo familiar no contexto atual. Com base nessa
premissa, definiu-se como objetivo desta investigação compreender, a partir do olhar do novo
pai, o exercício da paternidade na família contemporânea.

Método
Delineamento
Desenvolveu-se um estudo de caráter exploratório-descritivo, de abordagem qualitativa.
Participantes
Participaram do estudo três pais, os quais foram acessados por conveniência
(SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013). O perfil de participantes determinados para esta
investigação consistiu em pais que se ocupassem diariamente dos cuidados dos filhos, dividindo
e auxiliando nas tarefas de alimentação, troca de fraldas, hábitos de higiene, participando
ativamente das decisões referentes ao filho. A família deveria residir em Porto Alegre/RS ou
região metropolitana. Os critérios de exclusão foram: o pai ter idade inferior a 18 anos e/ou
possuir patologias ou outros comprometimentos que impedissem a participação nos
procedimentos da pesquisa.
Os participantes receberam nomes fictícios para preservar suas identidades. Na Tabela
1, apresenta-se a descrição dos participantes.
Tabela 1 – Dados dos participantes
Pai A – Arthur Pai B – Bruno Pai C – Carlos
37 anos 33 anos 34 anos
Advogado; pós-graduado Advogado; pós-graduado Empresário; pós-graduado
Casado com Ana há 5 anos Casado com Bárbara há 1 Casado com Cristiane há 4
ano anos
Primeiro filho do casal Primeiro filho do casal Primeiro filho do casal
Bebê Ângelo – 1 ano e 3 Bebê Bento – 5 meses Bebê Caio –1 mês e 7 dias
meses
Fonte: Elaborado pela autora.

Instrumentos e procedimentos de coleta de dados e éticos


A proposta deste estudo foi divulgada por meio de uma postagem de um folder digital,
nas redes sociais da autora, a qual também foi compartilhada por suas redes de contatos. Dessa
forma, obteve-se a manifestação inicial por parte dos interessados em participar da pesquisa.

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Posteriormente, realizou-se contato telefônico, a fim de explicar os objetivos da investigação,
reforçar a garantia quanto aos direitos de sigilo e do caráter voluntário em participar do estudo,
assim como verificar os critérios de inclusão e exclusão da pesquisa. Esse primeiro
procedimento definiu-se como entrevista de triagem e para qual se utilizou a Ficha de Triagem.
A partir disso, marcou-se um encontro presencial com o participante no consultório de
atendimento clínico particular da pesquisadora. Na ocasião, primeiramente realizou-se a
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e, a seguir, preencheu-se a
Ficha de Dados Sociodemográficos para se obter dados gerais sobre o pai.
Por último, realizou-se uma entrevista semiestruturada, com base no Roteiro de
Entrevista Semiestruturada, com vistas a descrever e avaliar a relação do entrevistado com o
seu pai, a forma como percebe o exercício da paternidade na família contemporânea, bem como
o redimensionamento do papel paterno e seus sentimentos diante da sua atuação de pai. Além
desses aspectos, foram abordadas ao longo da entrevista perguntas relacionadas ao período
gestacional da esposa, o envolvimento paterno nos cuidados com o filho, a compreensão do pai
a respeito dos estados mentais do bebê e questões referentes ao relacionamento conjugal do
casal. Essas questões não foram analisadas neste trabalho. As entrevistas foram gravadas e
posteriormente transcritas.
Salienta-se que o projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da
UNISINOS, sob o nº CAAE CAAE 90968418.8.0000.5344, o qual obteve aprovação
(Resolução 2.719.548), pois cumpriu com as exigências éticas e metodológicas esperadas de
uma pesquisa que envolve seres humanos.

Procedimento de análise dos dados


Para análise dos dados deste estudo realizou-se uma avaliação individual dos dados
obtidos em cada caso. Foram utilizados, para isso, a Ficha de Dados Sociodemográficos, a fim
de confirmação de dados pessoais dos participantes e de caracterização dos participantes, e o
Roteiro de Entrevista Semiestruturada, o qual propiciou uma análise de forma global,
qualitativamente, sobre o conteúdo das falas dos participantes.
Nessa perspectiva, elegeu-se duas categorias de análise: a percepção do entrevistado
sobre o exercício da paternidade, para entender de que forma ele compreende o seu papel
paterno, bem como seus sentimentos em relação ao seu lugar de pai; e a percepção do
entrevistado sobre a paternidade na condição de filho, para compreender a atuação do pai do
entrevistado, verificando as influências que o modelo exerce na sua atuação como pai.

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Resultados e discussão
Descrição dos participantes
Arthur, 37 anos, é casado há 5 anos com Ana, 35 anos; são pais de Ângelo, de 1 ano e 3
meses, fruto de uma gravidez muito desejada e planejada por ambos. Arthur relatou que sempre
desejou ser pai, narrando com alegria a lembrança do momento em que realizaram o exame
para detecção da gravidez, bem como a felicidade que sentiram quando de seu resultado.
O participante Bruno, de 33 anos, casou-se há 1 ano com Bárbara, 25 anos, quando
soube da gravidez de Bento. O filho do casal tem 5 meses. Bruno relata que seu relacionamento
com Bárbara estava em estágio inicial, quando souberam que teriam um filho; apesar de ele
desejar ser pai, conta que a notícia o deixou surpreso. Para Bruno, o período gestacional de
Bárbara fez com que o relacionamento se intensificasse.
Carlos, 34 anos, é casado há 4 anos com Cristiane, 33 anos. A união dos dois resultou
no nascimento de Caio, com 1 mês e 7 dias. Carlos relata que a vontade maior de ter um filho
partiu dele, afirmando que Cristiane nunca manifestou claramente o seu desejo em tornar-se
mãe. Houve muito planejamento do casal para a concretização da gravidez, destacando a
conclusão de etapas consideradas importantes para a vida profissional de ambos.

Percepção dos entrevistados sobre o exercício da paternidade


Em relação à categoria percepção do entrevistado sobre o exercício da paternidade, o
desejo de tornar-se pai foi referido por todos os participantes. No caso de Arthur e Carlos, o
desejo tornou-se um planejamento de vida para o casal e uma espera, a qual foi repleta de
expectativas. A confirmação da gravidez trouxe sentimentos de “alegria”, “felicidade”,
“concretização de desejo” e, no caso de Bruno, inicialmente, “surpresa”, pois se encontrava em
início de relacionamento com a companheira, quando souberam que seriam pais. Os
participantes atribuíram ao desejo de tornarem-se pais a postura participativa: “Eu sempre quis
ter filho, então nada mais justo que eu me fazer presente” (Bruno, 33 anos).
A postura participativa dos pais iniciou já no período gestacional das esposas, ficando
claro o empenho físico e emocional ao longo de todo o período da gestação. Arthur relata que
esteve ativamente presente no período de gestação de Ana, acompanhando-a em consultas
médicas, auxiliando-a em atividades de organização da casa e da rotina do casal. Relembra,
inclusive, as duas últimas semanas que antecederam o nascimento de Ângelo, quando Arthur
passou a levar a esposa até o local de trabalho.

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Apresenta dados da sua participação na rotina do casal em prol da gravidez: “Assim, no
dia a dia, tu ia percebendo que as coisas tavam indo bem. A saúde da Ana tava boa [...] E eu
me envolvi também; eu gosto de cozinhar, então ela me dava a lista do que ela precisava comer
e eu ia no supermercado, aí eu fazia as coisas pra ela comer...” (Arthur, 37 anos). Destaca-se
que tal apoio por parte do pai, já no período gestacional, reflete-se de forma muito importante
para a mãe, fazendo com que ela se sinta mais amparada e segura, encorajando-a a exercer o
seu papel – isso irá influenciar positivamente no vínculo a ser constituído com o bebê
(RAPOPORT; PICCININI, 2006; SILVA; PICCININI, 2007).
Arthur deixa bem explícito em sua narrativa o quanto as suas expectativas iam crescendo
na medida em que o tempo gestacional ia passando, demostrando seu engajamento ao longo de
toda a gestação, expondo uma conduta, de fato, participativa. Identifica-se também seu
envolvimento emocional, ao explicitar sua angústia e expectativa quanto à saúde do bebê.
No diálogo, se evidencia as preocupações que os pais tinham em razão dos cuidados a
serem desempenhados com os filhos. Bruno, por sua pouca experiência com bebês,
questionava-se: “se ele ficar doente, o que eu vou fazer? [...] se eu tiver que trocá-lo, o que eu
vou fazer? [...] e se ele chorar de noite?...”. Na mesma perspectiva, Arthur narra: “existia assim,
no início, aquela ansiedade, como que vou passar a ser pai, tanto eu ser pai quanto se eu ia
conseguir entender o que o Ângelo queria”.
Arthur narra sobre a primeira noite, como a dificuldade materna em amamentar, assim
como sua atuação ao tentar acalmar Ângelo, mantendo-o no colo. Traz à lembrança a primeira
troca de fraldas e resgata, pela memória sensorial, de que pegava na barriguinha de Ângelo, a
qual, por seu tamanho, preenchia a sua mão – e que hoje seu filho cresceu. Fala, com
entusiasmo, de suas primeiras condutas como pai: “eu pegava ele todo desajeitado”.
Os elementos reforçam as inseguranças que muitos pais têm em cuidar de bebês; as
crenças estão vinculadas ao fato de o cuidado de crianças pequenas estar associado a melhores
desempenhos das mulheres, segundo Staudt e Wagner (2008), o qual é reforçado, ainda, pela
condição da gestação e do amamentar, visto que são funções de exclusividade da mulher. Isso
leva a crer que a mulher se encontra mais apta a desempenhar os cuidados de recém-nascidos.
Carlos, ao ser questionado sobre a sua atuação paterna, relatou que se sentia tranquilo.
Conta que, por insistência da esposa, eles participaram de um curso preparatório para pais antes
do nascimento de Caio:
“Eu nunca tive nenhum receio, acho também que pro homem é mais fácil, né, a
mulher, que acaba sofrendo todas essas mudanças no corpo e pro homem talvez não
tenha tanta, seja natural, não tenha tanta preocupação. Eu sabia que a hora que ele

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fosse nascer eu ia dar meu jeito, né, ia procurar informação, ia fazer as coisas darem
certo, mas assim, não tive assim nenhuma preocupação de perde sono, né”.

Os elementos apresentados vem ao encontro das considerações de Staudt e Wagner


(2008), mencionadas anteriormente, sobre a ideia de aptidão feminina para a maternidade:
Carlos parece reforçar essa crença, não se sentindo preocupado pelo nascimento do filho, pois
sua esposa saberia conduzir os cuidados e, quando ele fosse solicitado, caso não soubesse,
buscaria informação. Manifesta, inclusive que, logo após o nascimento de Caio, buscou
informações a respeito do bem-estar do bebê e montou uma rotina de cuidados para o casal.
O relato de Arthur revela um comportamento que Ramires (1997) designa de maternar,
uma vez que indica desempenhar atividades de cuidado com o filho, sendo sensível, responsivo
e afetuoso nas ações com ele. Traz detalhadamente episódios dos primeiros meses de vida de
Ângelo, de como lidava com os problemas gastrointestinais do bebê, e de como sabia conduzir
a situação para acalmá-lo: “ele tinha problema na barriga, gases, eu sabia o jeitinho que ele
parava, ficava um pouquinho melhor, acalmava ele”. A lembrança de Arthur é permeada por
sentimentos afetivos, demonstrando ser um pai carinhoso, amoroso e atencioso – elementos
essenciais para que se construa a personalidade do filho.
As condutas de maternar também são percebidas na postura de Bruno, ao expor a forma
como auxilia a esposa nos cuidados do filho: “eu ajudo a trocá-lo, eu ajudo a dar banho, ajudava
a pegar ele pra colocar no seio, na hora de mamar... dou uma nanadinha pra ele dormir, essas
coisas...”. A conduta sensível e o envolvimento emocional do pai ao cuidar de seus filhos são
destacados como um fator de proteção para o seu desenvolvimento. Crianças que têm
experiências positivas com o pai apresentam melhores níveis de desempenho escolar, melhores
habilidades sociais, são mais empáticas (RAMIRES, 1997; SILVA; PICCININI, 2007; VIEIRA
et al., 2014).
Os pais mostraram-se satisfeitos em participar ativamente das tarefas de cuidado dos
filhos. Carlos manifestou explicitamente isso: “eu queria ter uma participação nos primeiros
dias, no crescimento dele, né”. Bruno destaca o seu envolvimento nos cuidados de Bento como
sendo uma obrigação e dever de todo o pai que quer ser presente na vida do filho: “foi um
negócio de obrigação, de dever, porque acima de tudo eu amo muito ele, meu filho. Então, não
tinha como ser diferente”. Os dados corroboram as evidências citadas nos estudos de Ramires
(1997), Silva e Piccinini (2007) e Vieira et al. (2014), que indicam o desejo de o pai estar
ativamente envolvido nos cuidados e na educação dos filhos.

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Para Bruno, a chegada de Bento representou uma nova tomada de papéis, de novos
planejamentos de vida, sendo necessária uma adequação em razão do novo integrante da
família. Pelo fato da pouca experiência com bebês por parte do casal, Bruno destaca que: “a
gente tá aprendendo um com o outro a sermos pais do Bento”.
Arthur narrou a rotina que fora construída pelo casal para cuidar e acolher o filho e que
“tudo foi sempre em conjunto”, ou seja, o casal reestruturou-se em prol da criança. Os relatos
demonstram a condição, citada por Bossardi e Vieira (2015), de coparentalidade, uma vez que
na entrevista deixa claro o diálogo e a organização coletiva do casal frente às demandas do
filho.
A coparentalidade apresenta-se como uma característica da família contemporânea,
sendo observada também nos outros dois casos, os quais indicaram uma negociação de
responsabilidades entre os casais. A reestruturação na vida profissional dos participantes
demonstra uma postura cooperativa, além de se revelarem cientes das mudanças sociais
ocorridas nas últimas duas décadas. A família contemporânea redimensionou os papéis materno
e paterno, não havendo mais uma hierarquia familiar, sendo divididas tanto as tarefas de
cuidado dos filhos e da casa quanto as despesas financeiras. O pai passa a participar dos
cuidados dos filhos e da casa, e a mãe, a colaborar financeiramente com as despesas da família
(CÚNICO; ARPINI, 2013; PEREIRA, 2011; ROUDINESCO, 2003; SPENGLER, 2012).
Nos casos pesquisados, somente a esposa de Bruno não exercia atividades profissionais
antes de engravidar; entretanto, mesmo assim, ele remanejou seus horários de trabalho para que
pudesse estar mais presente na vida do filho, participando e desempenhando cuidados. Nos
outros dois casos, as esposas são funcionárias públicas, o que conduziu Arthur, advogado, e
Carlos, empresário, que modificassem suas rotinas laborais, pela flexibilidade de seus horários.
As readequações de tarefas por parte dos pais, como nos dados apresentados acima, refletem o
atual modelo de família contemporânea ou pós-moderna (BOSSARDI; VIEIRA, 2010;
GOMES; RESENDE, 2004; RAMIRES, 1997).

Percepção do entrevistado sobre a paternidade na condição de filho


Na categoria percepção do entrevistado sobre a paternidade na condição de filho, todos
os entrevistados destacam diferenças no papel exercido por eles e seu progenitor. Percebeu-se,
nos relatos, aspectos próprios da questão intergeracional, a qual leva em conta o período
histórico e, por sua vez, o social que influencia no comportamento do indivíduo.

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A descrição que os participantes fizeram de seus pais evidencia as características do
modelo tradicional de paternidade (BOSSARDI; VIEIRA, 2010; GOMES; RESENDE, 2004;
RAMIRES, 1997). Atribuem, inclusive, que a maneira como seus pais desempenhavam suas
funções paternas justificava-se pelos próprios padrões comportamentais da época, distinguindo-
se da atualidade, como se pode verificar, por exemplo, pelo relato de Arthur (37 anos): “o
contexto de vida também é diferente, então, nesse sentido, eu faço coisas muito diferentes que
o pai fazia. Eu trabalho e eu também cuido das coisas do meu filho, eu limpo fralda, dou banho...
tudo isso com certeza meu pai não fazia”. Seu depoimento revela que suas atitudes são
condizentes com o modelo de paternidade contemporânea, também designada, segundo Bolze
e Crepaldi (2015), de emergente. Isso porque realiza um papel mais ativo e engajado, inclusive
emocionalmente, nos cuidados com o filho.
Também ficaram claros, pelos depoimentos, aspectos que evidenciam o lugar de
autoridade que o pai ocupava na relação com os filhos. Arthur relata: “o pai nunca bateu nos
filhos, mas ele tinha uma maneira de lidar, assim... ele sabia como passar que tava brabo”. Tal
aspecto é característico da paternidade tradicional, que além de servir como um modelo de
poder e autoridade, também desempenha uma função educadora e disciplinadora (BENCZIK,
2011; FREITAS; COELHO; SILVA, 2007; GABRIEL; DIAS, 2011; RAMIRES, 1997).
Na narrativa de Carlos, percebe-se a evidência de ligação da paternidade ao ato de
educar, instituindo regras e limites aos filhos: “E eu também sempre fui mais cobrado pelo meu
pai que pela minha mãe, ela tinha o jeito dela de estimular, mas era o meu pai que cobrava, que
cobrava mesmo, enfim, de fala[r] tu não estuda, como tá tuas provas”. A narrativa acima
demonstra a preocupação que o pai de Carlos tinha com seu desempenho escolar, e isso pode
ser entendido como instituir ao filho uma perspectiva de vida futura, garantindo-lhe segurança.
Os depoimentos dos participantes evidenciam as transformações da paternidade
tradicional para a contemporânea. No contexto atual, o pai apresenta-se ativo nos cuidados dos
filhos e do lar, dividindo as tarefas com a esposa, abandonando os padrões da paternidade
tradicional, em que o pai basicamente apresentava-se como a figura de autoridade e era
responsável pelo sustento do lar. Salienta-se que a esposa de Arthur e Carlos desempenham
atividades profissionais, contribuindo financeiramente com as despesas da família.
Ao resgatar os aspectos emocionais que envolveram a relação dos entrevistados com o
pai, Arthur a caracteriza como um vínculo repleto de afeto e carinho: “[...] lembro dele brincar,
jogar bola e ele cuidava, tinha um carinho pelos filhos. Por mim, meus irmãos. Era uma pessoa
muito carinhosa”. Lembra de estar mais próximo do pai, quando mais velho – em torno de 6, 7

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anos. Seu relato apresenta a participação do pai por meio de brincadeiras e contatos afetivos,
deixando claro que os cuidados em relação aos filhos e à casa eram de responsabilidade da mãe:
“provavelmente ele nunca trocou uma fralda, nunca tenha dado um banho”.
Tal vínculo foi descrito por Bruno da mesma forma: “Meu pai tinha um pouco de medo
pelo que minha mãe fala, tinha receio de me trocar, enfim, era um pouco inseguro nesse ponto.
Ele ficava mais para as atividades interativas de brincar e essas coisas, de levar passear, de levar
pra lá e pra cá” (Bruno, 34 anos). As evidências mostram que os pais dos participantes não
tiveram um envolvimento tão ativo em relação à divisão de tarefas nos momentos iniciais de
suas vidas, comportamento contrário à paternidade desempenhada por eles com seus filhos.
Avaliando-se a paternidade sob um enfoque geracional, a tendência é que o homem
repita as condutas de seu pai, pois esse é o modelo aprendido na sua relação com seu genitor.
Nas dinâmicas familiares, contudo, em que a mulher tem também se ocupado de atividades
profissionais, em muitos casos podendo se ausentar do trabalho profissional somente no período
da licença-maternidade, o pai tem sido convocado a estar mais presente na sua relação com os
filhos, dividindo também as tarefas de organização do lar com a esposa.
Pode-se perceber que, apesar de os pais dos participantes não terem estabelecido uma
divisão de tarefas para os cuidados dos filhos nos momentos iniciais de suas vidas, os pais
entrevistados descrevem que, em outra etapa de seu desenvolvimento, passaram muito tempo
com seus pais, devido às atividades profissionais de suas mães. Bruno explicita essa condição:
“a partir dos 7-8 anos, ela começou a trabalhar fora, eu lembro de passar maior parte do tempo
com ele”.
No relato de Carlos, o envolvimento do pai aparece um pouco mais cedo, pois a mãe era
funcionária pública:
“Depois que minha mãe voltou da licença, nós tivemos creche, eu fui bem pequeno,
minha irmã também. Acho que com 4, 5 meses já, depois teve uma época que tinha
uma moça que ajudava meio turno que ficava com a gente, fazia comida. E quem
conseguia vir dar almoço pra mim e pra minha irmã, levar na escola, era meu pai”.

A esposa de Carlos também é funcionária pública, condição relacionada por ele como
similiar à sua história de vida enquanto filho. Indica também que o desejo de ter um filho era
mais presente em seu pai que em sua mãe, evocando nisso também semelhanças na sua vida e
de seus genitores. Aponta-se para a semelhança – embora não descrita por ele –, de, assim como
seu pai ter sido solicitado a envolver-se mais ativamente nos cuidados dos filhos em razão da
profissão de sua mãe, ele também vive essa mesma situação, por conta da atividade profissional
de sua esposa. Observa-se que Carlos deseja viver o modelo de relação experienciada com seu

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pai: “não sei se vou fazer muito diferente não. Depende da evolução dele, porque as coisas são
muito diferentes hoje”.
As autoras Bolze e Crepaldi (2015) afirmam que o comportamento de desejar repetir
padrões vividos em suas relações de infância com seus pais é referenciada pela maioria dos
pais, principalmente ao se tratar de aprendizagens relacionadas a valores e limites. As
evidências anteriormente apresentadas corroboram com a abordagem das autoras, uma vez que
os participantes afirmam desejar seguir aspectos do modelo de seus pais. Bruno indica que
deseja manter atitudes como: “brincadeiras, o carinho, o amor” em sua relação com o filho.
Os relatos dos entrevistados podem estar associados a uma transição em curso da
geração anterior. Com a inserção da mulher no mercado de trabalho, o pai passa a ser convocado
a exercer uma paternidade mais participativa. Além do fato de os participantes descreverem o
vínculo com seus pais como afetuoso, o que representaria uma característica do pai
contemporâneo.
Arthur foi o participante que mais elencou diferenças de comportamento na sua relação
com o pai:
“[...] eu acho que faço muita coisa diferente, eu acho assim, diferente, mas não que
não tenha coisas que ele tenha me passado, o pai era um paizão, eu lembro que ele
tinha uma máquina fotográfica e aí quando fazia um dia bonito, em domingo, ele ia lá
e ficava tirando foto da gente. Eu tenho muita foto da gente, ele me pegando no colo.
Então eu sinto que isso eu posso dizer que é um pouco parecido com o trato do pai”.

Nesse caso, torna-se necessário ressaltar que o participante Arthur é alguns anos mais
velho que os demais participantes, contou ser o filho mais novo de seus pais, sendo um filho
“temporão”, além de a família de Arthur residir no interior. Com isso, conclui-se que o modelo
familiar e paterno vivido por Arthur pode ter sido diferente dos demais participantes, além de
destacar que aspectos culturais – no caso, específicos de cidade do interior, também podem ter
interferir nos padrões de ser pai e de ser mãe, conforme abordagem apresentada por Bossardi e
Vieira (2015).
Avalia-se que todos os participantes demonstraram possuir uma relação saudável com
seus pais, os quais podem ser considerados presentes e ativos. Arthur e Bruno, devido ao
falecimento paterno ainda no período que estavam na adolescência, tiveram experiências junto
de seus pais por um tempo menor que Carlos. A partir dos dados apresentados pelos
entrevistados, pode-se perceber que mesmo essa presença física estando precocemente ausente
para Arthur e Bruno, a representação psíquica de suas relações com os pais é significativamente
positiva, tanto que eles reproduzem a postura presente e participativa para com seus filhos.

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Retoma-se que a conclusão apresentada a respeito da vivência dos participantes com
seus progenitores, avaliando-os como pais presentes, considera a abordagem interjecional, que
se orienta em entender como o modelo paterno é visto em cada época histórica e busca
compreender os atributos estabelecidos como de responsabilidade ao homem e ao pai de
família.
A partir das relações experienciadas, os participantes têm conseguido reproduzir os
comportamentos aprendidos e também se inserirem no cenário da atualidade, o qual se
configura com novas demandas, as quais exigem ao pai da atualidade um comportamento mais
próximo de sua esposa, auxiliando-a e colaborando nas tarefas de cuidado dos filhos e do lar –
referindo-se ao cuidado dos filhos, já nos momentos iniciais de vida do bebê. Conforme Goetz
e Viera (2009), é justamente essa soma de aspectos do pai tradicional – que é provedor,
desempenha uma figura de autoridade e garante segurança e o envolvimento afetivo – com as
características participativas do pai contemporâneo que tornam eficaz a postura paterna nos dias
de hoje.

Considerações finais
Ao se considerar o objetivo deste estudo, qual seja, compreender, a partir do olhar do
novo pai, o exercício da paternidade na família contemporânea, levou-se em conta os fatores
que envolvem e caracterizam o pai da atualidade e a dinâmica social que abrange as relações
familiares. Nesse sentido, identificou-se que os pais entrevistados reconhecem aspectos
diferentes exercidos por eles com os seus filhos em relação à paternidade vivenciada com o seu
progenitor, referindo que eles vêm desempenhando ativamente atividades de cuidado com os
filhos desde o momento do nascimento deles. Esse fato é destacado como uma mudança de
conduta e pensamento frente aos filhos, em relação ao modo como foram cuidados pelos seus
pais. Os depoimentos revelam características que são consideradas próprias do novo pai, ou pai
contemporâneo.
Os entrevistados indicam suas perspectivas sob as duas categorias de análise: a
percepção do entrevistado na condição de filho e a percepção do entrevistado como pai. O relato
dos três participantes indica que sua referência paterna se configura como participativa, embora
reforcem a atuação da mãe como principal cuidadora, especialmente nos primeiros anos de vida.
Eles expõem momentos de envolvimento e afetividade do pai, no entanto reconhecem que o
contexto social da época reforçava um comportamento paterno oriundo dos moldes de uma

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estrutura familiar moderna, na qual o pai representava uma figura de autoridade e responsável
principal pelo sustento do lar.
Deve-se levar em conta que tais perspectivas são trazidas pelos depoentes, mesmo que
dois deles tenham tido uma mãe já inserida no mercado de trabalho. Isso sugere a jornada dupla
da mulher, aspecto esse que, atualmente, é um dos elementos de foco e análise no cenário atual
e que reforça a importância de o novo pai se perceber e de fato atuar para a construção de uma
nova base familiar. O molde familiar atual deve trazer o compartilhamento de tarefas entre mãe
e pai, assim como envolvimento emocional de ambos com suas crianças, possibilitando
formações psíquicas nos filhos que efetuarão, de fato, novos moldes nos papeis e estruturas
familiares, os quais, assim, conduzirão a uma efetiva mudança social.
Os entrevistados reconhecem sua nova postura no âmbito familiar, apontando a
necessidade e a importância de maior vinculação emocional com o filho, se comparado à
postura experienciada em sua própria infância. Manifestam, inclusive, sua satisfação em se
relacionar de modo mais efetivo e afetuoso nos cuidados e educação dos filhos. Reforçam que
já apresentavam o desejo de se tornarem pais e sinalizam que isso contribuiu para a sua efetiva
participação em cuidar dos filhos. Revelam sentirem-se aptos a desenvolverem com qualidade
o papel paterno.
Os resultados apontam que o compartilhamento de tarefas é fator considerado entre o
casal da família contemporânea, contudo é necessário que questões sociais venham ao encontro
desse novo molde familiar. Nesse sentido, faz-se necessário persistir na luta por uma educação
não sexista, que permita a desconstrução de crenças e valores sobre o comportamento de
homens e mulheres. Isso se estende ao mercado de trabalho e às leis que regem as diferenças
de trato entre os sexos quando do nascimento de um filho. Destaca-se, nesse aspecto, a licença-
paternidade. O pouco tempo de dispensa do trabalho para vivenciar a fase inicial do filho não
condiz com a necessidade da família contemporânea.
Considera-se que esta investigação contribuiu para dar voz aos pais e, assim,
compreender, através de seu próprio olhar, como eles têm percebido a sua atuação tanto nos
cuidados dos filhos quanto na família. Reforçando a importância desse lugar ativo do pai junto
aos filhos, intenciona-se estimular outros homens que, ao se tornarem pais, coloquem-se em
uma posição de compartilhamento dos cuidados de seus filhos, assim como estabeleçam uma
divisão nas tarefas do lar com suas esposas.
Destaca-se que, para uma compreensão mais aprofundada acerca do papel paterno na
família contemporânea, se faz necessário uma investigação mais abrangente, avaliando o

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exercício da paternidade em diversos contextos socioeconômicos. Espera-se que esse trabalho
contribua para as investigações sobre a paternidade e que estimule novas pesquisas a respeito
da temática.

WHO IS THE NEW FATHER? CONCEPTIONS ABOUT THE EXERCISE OF


PATERNITY IN THE CONTEMPORARY FAMILY

Abstract
The present study has as its theme the paternal role in the present time. For this, it was defined
as a general concept, from the new father’s perspective, the exercise of paternity in the
contemporary family. An exploratory-descriptive, qualitative approach was used. The three
fathers, residents of the city of Porto Alegre / RS and Metropolitan Region, received the
following instruments: Screening Sheet, Sociodemographic Data Sheet and Semistructured
Interview. With the data collected through the interview, an analysis was made of the content
of the participants' speeches. This analysis was developed based on two categories: the
interviewee's perception about the exercise of paternity and the interviewee's perception of
paternity as a child. The results pointed out that to be a father, actuality, differs from the
traditional models, because contemporary fathers exert a different posture with their children's
experience comparised with their own experience with their fathers. The contemporary father
is more envolved emotionally, more participatory and committed, dividing up childcare and
housework tasks with the wife. From the look of the father, those results were reached, and it
is possible to understand the exercise of paternity in the contemporary family.
Keywords: Fatherhood, New father, Contemporaneity, Family relationships.

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Data de recebimento: 03/10/2019


Data de aceite: 19/06/2020

Sobre as autoras:
Fernanda Torzeczki Trage é Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade do Vale do Rio
dos Sinos, São Leopoldo, RS, Brasil. Endereço Eletrônico: [email protected]

Tagma Marina Schneider Donelli é Professora Assistente do Programa de Pós-Graduação em


Psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS, Brasil. Endereço
eletrônico: [email protected]

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