Filhos Do Divórcio
Filhos Do Divórcio
Filhos Do Divórcio
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O presente projeto está estruturado em dois grandes capítulos constituídos por
um enquadramento teórico e um projeto de estudo empírico. No enquadramento teórico
será apresentada uma contextualização do conceito de família e conjugalidade, do
divórcio na sua vertente sociológica e um breve enquadramento legal, bem como o
impacto deste em filhos adultos de casais divorciados. Todas as temáticas serão
abordadas tendo por base os vários autores que refletiram acerca desta temática. No
projeto de estudo empírico serão apresentadas as questões de investigação que
orientarão a pesquisa, seguindo-se a exposição detalhada da metodologia a utilizar.
“A Família continua a ser a célula básica,o grande mediador cultural, a essencial matriz biológica e
afetiva para o desenvolvimento harmonioso da criança e a realização do adulto.”
Leandro (1989, cit. por Severino, 2012).
Falar sobre família nos dias de hoje é certamente diferente do que falariamos no
século passado. A família dita tradicional, de acordo com Nazareth (2005, cit. por
Severino, 2012), teria por objetivo último, assegurar a transmissão de vida, dos bens e
dos nomes, sendo uma época em que os casamentos seriam arranjados e celebrados
em idades muito jovens.
Por volta do séc. XIX, a família moderna adjetiva-se pelo romance, troca mútua de
sentimentos e procura do bem-estar dos filhos.
As famílias contemporâneas estão associadas aos movimentos femininos, à
contraceção bem como à afirmação da mulher no mercado de trabalho. O casamento é
hoje a expressão do sentimento ao invés do património. Em Portugal, os padrões de vida
de casal e em família sofreram algumas mutações a partir da segunda metade do século
passado, especialmente com o pós 25 de abril de 1974, após a conquista do direito à
igualdade pelas mulheres. Nas décadas de 50 e 60, o casamento representava um ritual
de passagem marcado por uma cerimónia católica, estando depois do casamento
reservado ao homem o papel de providenciar o sustento da casa e à mulher a função de
educadora e doméstica. A partir do final da década de 60, o casamento sofreu uma
marcada alteração, passando a configurar um contrato civil (Sampaio, 2012).
Roussel (1992, cit. por Sampaio, Cruz, & Carvalho, 2011) defende a teoria de que
nos tempos atuais não será possível falar de família senão no plural, em torno das
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famílias. Além da variedade quantitativa, é ao nível da estrutura e da natureza das
dinâmicas familiares que se veem refletidas as principais transformações. Cada família
evidencia-se como um dos lugares privilegiados de construção social da realidade nas
suas dimensões de espaço físico, relacional e simbólico, com uma trajetória própria,
envolvendo diferentes estruturas englobantes com as oportunidades estratégicas,
legítimas ou não, que decorrem de processos de interação e troca onde cada indivíduo
se encontra localmente inserido.
O modelo idealizado de família, constituído pelo pai, pela mãe e pelos filhos, dá
espaço para novos modelos familiares. Atualmente encontramos famílias monoparentais,
adotivas, famílias chefiadas por mulheres e por homens, famílias dissolvidas e
reconstruídas. Esta pluralidade familiar manifesta-se nas transformações sociais e
culturais (Severino, 2012).
De acordo com Kaloustian (1988, cit. por Scaliante, 2012), a família é o lugar
indispensável para a garantia da sobrevivência e da proteção integral dos seus membros.
Desempenha um papel fundamental na educação formal e informal, e é um espaço onde
serão transmitidos os valores éticos, e onde se aprofundam os laços de solidariedade. A
família tem como primordial função o desenvolvimento e a proteção dos seus membros,
bem como a socialização, adequação e transmissão cultural, satisfazendo as
necessidades mais elementares dos seus membros, protegendo-os do exterior e
facilitando um desenvolvimento coerente e estável.
Tal como os indivíduos que a compõem, a família insere-se num contexto
evolutivo, ou seja, nasce, cresce e amadurece, reproduzindo-se em novas famílias
podendo ser identificados diversos momentos de transição. Na perspetiva do sociólogo
Duvall (1977, cit. por Silva, 2011) existirão oito estádios nessa evolução: 1) Casais sem
filhos, onde é estabelecida a relação conjugal entre o casal, que se pretende satisfatória,
bem como uma preparação para a parentalidade; 2) Famílias com recém-nascidos; 3)
Famílias com crianças em idade pré-escolar; 4) Famílias com crianças em idade escolar,
marcadas por um ajustamento às exigências de desenvolvimento das crianças,
nomeadamente a nível da promoção de estimulação, responsabilidade escolar; 5)
Famílias com filhos adolescentes; 6) Famílias com jovens adultos; 7) Casal na meia-
idade; e 8) Envelhecimento.
Com o passar dos anos, foi atribuído um novo significado ao casamento,
diretamente relacionado com fatores sociais, já que vivemos hoje numa sociedade cada
vez mais individualista. Simultaneamente, a vida marcadamente urbana e industrial, e o
envolvimento da mulher no mercado de trabalho, aparecem aliados a uma maior
necessidade material e, consequentemente, a um aumento das exigências em relação ao
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casamento (Coontz, 2005; Féres-Carneiro, 2001; Goldenberg, 2000; Jablonski, 1999;
Preuss, 1999; Thornton, 1989, & Thistle, 2006, cit. por Silva, 2011).
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propiciam a continuidade da trama familiar. A relação conjugal preenche necessidades de
suporte, segurança, proteção, intimidade, carinho, comunicação, estabilidade e sexo.
O casamento é desta forma, um ato de escolha, sendo o cônjuge o único
elemento da família que resulta de uma escolha. É no seio da família que se inicia o
processo de socialização, sendo especialmente as relações com os pais e irmãos, que
constituirão as primeiras experiências relacionais, que moldarão as relações sociais
posteriores. Com a família inicia-se um novo sistema, marcado pela presença de redes
de relações internas e externas. O casamento propicia um sentido de identidade pessoal
e social aos cônjuges, quer pelo sentimento de pertença, quer pela relação com o outro e
até consigo próprio. É nesta fase que será necessário um ajustamento aos hábitos e
costumes, aos papéis e funções e se estabelecem novas redes de relações sociais
(Severino, 2012).
Torres (1996) categoriza a conjugalidade em três padrões de referência: o
casamento institucional; o casamento fusional e o casamento associativo. Assim sendo,
no tipo institucional, os sujeitos investem no casamento como um meio privilegiado de
obtenção de felicidade e realização pessoal. O papel materno representa uma
componente fundamental nessa relação. Para as mulheres deste grupo, o casamento
reveste-se de um investimento simbólico afetivo e material totalizador, como componente
decisiva na construção das suas identidades individuais e sociais. No tipo fusional os
sujeitos apresentam características de insistência na exclusividade e perpetuidade do
laço conjugal, a escolha do modo da relação privilegia o nós, casal, em detrimento do eu,
individual. Por sua vez, no casamento associativo os sujeitos são na sua maioria mais
jovens, e a troca relacional afetiva possui o valor mais elevado. É porém neste grupo,
segundo a autora, que surgem as taxas mais elevadas de divórcio, pelo compromisso se
tornar mais permeável aos conflitos e crises conjugais.
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longo da sua vida está em permanente construção e formação, prosseguindo diversas
transformações normativas e não normativas. Porém, nestas fases de mudança, o
conflito e a falta de comunicação instalam-se e a quebra dos casamentos pode acontecer
(Severino, 2012).
A forma como os pais abordam as suas divergências, e não necessariamente a
presença do conflito na sua relação, é que poderá apresentar-se como um aspeto crítico
para a adaptação dos filhos. Em situações de antagonismo, os pais podem em alguns
casos, recorrer a diferentes estratégias para gerir e resolver os seus conflitos. Nesse
sentido, o conflito interparental pode ser considerado destrutivo, quando é pautado pela
agressão, física ou verbal, ou até construtivo, quando os pais colaboram para chegar a
um compromisso que resolva construtivamente a situação de divergência (Goeke-Morey,
Cummings, & Papp, 2007, cit. por Silva, 2012).
O conflito interparental durante o processo de separação conjugal parece
acarretar consigo consequências negativas para os filhos, podendo ser um dos fatores
com mais influência no seu normal desenvolvimento, especialmente a curto prazo. Este
conflito envolve controlo e exigências, mais expressão de afeto negativo e menos
expressão de emoções positivas e dificuldade dos ex-cônjuges em resolverem os seus
problemas de modo construtivo (Lewis, Johnson-Reitz, & Wallerstein, 2004, cit. por Rego,
2008).
Estudos revelam (Amato, & Keith, 1991; Buchanan, & Heiges, 2001; Cummings,
& Davies, 1994, 2002; Emery, 1982, 1988; Forehand, Neighbors, Devile, & Armistead,
1994; Grych, Raynor, & Fosco, 2004; Schick, 2002; Woodward et al., 2000; Zill et al.,
1993, cit. por Moura, & Matos, 2008) que o conflito interparental frequente e intenso tem
sido mais recentemente identificado como uma dimensão-chave do sistema familiar, que
se encontra associado a uma grande variabilidade de problemas nas crianças e
adolescentes, prejudicando o seu funcionamento psicológico e o relacionamento com as
figuras parentais, independentemente da estrutura familiar em que estão inseridos. O
conflito interparental poderá estar assim associado a problemáticas comportamentais,
emocionais, académicos, sociais, do funcionamento familiar, uma baixa autoestima e
autoconceito, perceções negativas quanto às relações românticas e ao casamento, entre
outros (Cummings, & Davies, 2002; Emery, 1982, 1988, cit. por Moura, & Matos, 2008.)
Touzard (1975, cit. por Oliveira, 2002) refere que o impacto do conflito
frequentemente começa por ser intrapessoal antes de se tornar interpessoal. Muitos
conflitos que surgem ao longo da vida do casal e da família podem ser resolvidos das
mais diversas formas, umas muito negativas até outras com algum sucesso. Humphreys
(2000, cit. por Oliveira, 2002) afirma que o conflito pode ser uma forma criativa dentro da
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família se é encarado como oportunidade para a mudança e sinal para os membros
familiares de que algum processo de cura é necessário.
O conflito interparental pode ser particularmente prejudicial quando os filhos
sentem que são apanhados no meio desse conflito e das revelações negativas que os
pais lhes fazem. Estas revelações normalmente envolvem informação negativa sobre o
outro progenitor. Este tipo de comportamento por parte dos pais contribui para que os
filhos experienciem uma tensão de dualidade, lealdade-deslealdade, pois na tentativa de
serem leais aos dois progenitores acabam por ser desleais a ambos. Os filhos parecem
reagir tipicamente ao conflito interparental recusando-se a falar sobre o assunto,
mudando de tópico ou dando respostas evasivas (Golish, & Caughlin, 2002, cit. por Rego,
2008).
É considerado o fator de risco com maior impacto no ajustamento dos filhos ao
divórcio dos pais, manifestado por vezes pela raiva, pela hostilidade, a desconfiança, a
linguagem agressiva, a agressão física criando desta forma um ambiente familiar de
stress. Este ambiente não é propício ao adequado desenvolvimento dos filhos, causando
impactos negativos ao seu ajustamento psicológico (Raposo, et al., 2011).
Assim, a investigação no conflito interparental tem apontado para a importância da
redefinição de fronteiras entre pais e filhos no funcionamento familiar positivo (Lewis,
Johnson-Reitz, & Wallerstein, 2004, cit. por Rego, 2008). Apesar do desacordo que possa
existir entre os pais estes devem esforçar-se por manter uma fronteira firme entre as suas
dificuldades conjugais e o seu papel parental, evitando expor os seus filhos a esses
problemas. Quando os pais têm a capacidade de controlar e dirigir os seus sentimentos
negativos para vias que não envolvam os filhos e têm motivação mútua para manterem a
sua parentalidade de forma funcional, os filhos podem ter a sensação de que existe o
conflito mas que o seu funcionamento não é comprometido por ele.
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entanto, a ser radicalmente modificado com a celebração da Concordata, em 1940, entre
a Santa Sé e a República Portuguesa, que veio estabelecer a proibição do divórcio para
todos os casamentos católicos que se viessem a celebrar depois de agosto de 1940. O
Código Civil de 1966 manteve essa proibição, restringindo, ainda, a possibilidade de
divórcio para os restantes casamentos ao eliminar o divórcio litigioso com base em
causas objetivas e ao abolir o divórcio por mútuo consentimento (Gomes, Fernando, &
Oliveira, 2010).
A Revolução de 25 de abril de 1974 introduziu modificações significativas no
contexto sociopolítico português levando à assinatura de um protocolo adicional à
Concordata, que teve como principal objetivo permitir o divórcio, quer para os
casamentos civis, quer para os casamentos católicos. Fruto de conceções que não
correspondiam já à realidade social e política da sociedade portuguesa, nem aos
imperativos da Constituição da República Portuguesa de 1976, o Código Civil foi objeto
de uma profunda reforma (Reforma do Código Civil de 1977), que teve importantes
reflexos em matéria de família, desde logo, consagrando o princípio da igualdade de
direitos e deveres dos cônjuges no casamento (Gomes, Fernando, & Oliveira, 2010). Foi
assim elaborada a 25 de abril de 1976, a Constituição da República Portuguesa, cujo art.º
36.º confere os mesmos direitos e deveres aos cônjuges em relação aos filhos e no art.º
68.º a paternidade e a maternidade (Severino, 2012).
A Nova Lei do Divórcio, Lei nº 61/2008 de 31 de outubro fez incidir as alterações
principais no regime do divórcio litigioso, agora designado de "divórcio sem
consentimento de um dos cônjuges", não trazendo alterações substanciais ao regime do
divórcio por mútuo consentimento. Destaca-se, em primeiro lugar, a eliminação da culpa
como fundamento do divórcio sem o consentimento do outro cônjuge. A reforma veio
alterar os pressupostos do divórcio, abolindo o divórcio fundado na violação culposa dos
deveres conjugais, embora mantenha o catálogo desses deveres no art.º 1672.º do
Código Civil. Assim, o divórcio sem consentimento do outro cônjuge pressupõe que
apenas seja invocado um dos fundamentos previstos no artigo 1781.º do Código Civil,
sendo estes: “a) A separação de facto por um ano consecutivo; b) A alteração das
faculdades mentais do outro cônjuge, quando dure há mais de um ano e, pela sua
gravidade, comprometa a possibilidade de vida em comum; c) A ausência, sem que do
ausente haja notícias, por tempo não inferior a um ano; d) Quaisquer outros factos, que
independentemente da culpa dos cônjuges, mostrem a rutura definitiva do casamento.”
Nesta senda, o divórcio e a separação conjugal atualmente obedecem a um
processo legal mais ou menos complexo, de acordo com a constituição da família e a
vontade dos cônjuges. A existência de filhos menores implica que o processo seja
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desenvolvido, tendo em conta o interesse do menor, não significando a rutura conjugal,
uma rutura parental (Severino, 2012).
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poderá ser analisado como um fator isolado, mas sim como fazendo parte de um
conjunto de transformações na sociedade, na vida familiar e conjugal. A história do
divórcio está estritamente ligada às leis implementadas e, consequentemente, sentidas
as alterações na estrutra familiar. Pela sua enorme relevância no campo emocional,
psicológico, biológico e social, assiste-se hoje a novas conceções familiares (Severino,
2012).
A exigência de um amor absoluto, o individualismo bem como o narcisismo, as
dificuldades financeiras e especialmente, as vicissitudes da comunicação entre os casais,
contribuem em larga escala para a crise no casamento. O divórcio surge muitas vezes
como tentativa de solução para um casal em sofrimento que, em alguns casos, precipita
novas crises, das quais os filhos são as maiores vítimas (Sampaio, 2012).
Durante anos assumiu-se que o stress seria o elemento primordial para a
dissolução do casamento. Karney e Bradbury (1995, cit. por Martins, 2010) colocam a
hipótese de que os problemas conjugais e consequentemente o divórcio emergem a
partir da combinação de vulnerabilidades duradouras (traços de personalidade, como
neuroticíssimo, a família de origem turbulenta), de eventos stressantes que ocorram no
decorrer da vida do casal e a baixos níveis de processos adaptativos (a incapacidade de
empatia e apoio do parceiro, hostilidade e poucas habilidades de resolução de
problemas).
A vida adulta surge marcada pelo desempenho de papéis que derivam da
concretização de tarefas familiares, profissionais, sociais e politicas com forte ligação ao
desenvolvimento do seu eu e à dimensão cognitiva dos indivíduos. Considerado um
longo período de desenvolvimento, o desempenho nas tarefas vai sofrendo modificações
dependendo do momento da vida adulta em que o individuo se encontra (Marchand,
2001, cit. por Fonseca, 2008).
Nenhum cônjuge é imune às consequências do divórcio ou separação, nem
mesmo o cônjuge que tomou a iniciativa. Surgem com frequência efeitos físicos e
psicológicos. A experiência pode ser acompanhada por sentimentos como culpa,
ansiedade, fracasso, abandono, insegurança, rejeição, entre outros (Ribeiro, Sampaio, &
Amaral, 1991, cit. por Azevedo, 2011). Torres (1996, cit, por Azevedo, 2011) defende que
o divórcio sugere mal-estar e sofrimento e que os processos de rutura conjugal são
emocionalmente dolorosos. Conclui ainda que a rutura conjugal é reveladora da caixa
negra que é o casamento. Nela estão inscritas várias dimensões da vida pessoal e social,
significando largas vezes o fim de uma promessa, de um projeto, da partilha de um ciclo
de vida.
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2.2. Possíveis fatores encadeadores do divórcio
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competência para mediar conflitos surgidos no âmbito das relações familiares (Severino,
2012).
Com a reforma da lei do divórcio de 2008, a mediação assume novos contornos
no âmbito do novo regime jurídico do divórcio. Partilhando a tendência internacional de
informalização da justiça, a mediação familiar afirma-se na lei como mecanismo de
composição extrajudicial dos litígios no âmbito das relações familiares, tendo-lhe sido
dedicada uma disposição autónoma (Gomes, Fernando, & Oliveira, 2010).
A mediação familiar é entendida na perspetiva de Ribeiro (1999, cit. por Severino,
2012), como um processo que é solicitado ou pedido pelas partes em litígio, que ocorra
graças à intervenção de uma terceira pessoa e visa o acordo entre as partes. A mediação
é assim, uma nova forma de pensar os problemas, uma forma tolerante face às
dificuldades, cuja ajuda de um profissional promove a gestão pacífica dos conflitos. Para
Jenassi (2002, cit. por Severino, 2012) a mediação familiar utilizada por casais com filhos,
fornece as ferramentas necessárias para resolver não somente os conflitos do presente
mas igualmente possibilita a criação de uma estrutura para resolver os do futuro.
Autores como Wagner, Falcke e Meza (1997, cit. por Brito, 2007) defendem que
as consequências do processo de divórcio nos filhos vão diminuindo à medida que este
fenómeno se está a tornar, a cada dia, mais comum e aceitável. Outros autores como
Giddens (1999, cit. por Brito, 2007) compreendem que o aumento do número de famílias
divorciadas pode não apresentar uma correlação direta com os factos que atingem os
filhos. Reconhece este autor que os efeitos do divórcio na vida dos filhos serão sempre
de difícil avaliação, porque não se sabe totalmente o que teria acontecido se os pais
estivessem juntos.
Este é o acontecimento da vida que está classificado em segundo lugar, entre
quarenta e três circunstâncias traumáticas, na classificação de stress listado na Escala
de Reajustamento Social de Holmes e Rahe (1967, cit. por Herbert, 1999), como um dos
acontecimentos mais adversos da vida das crianças.
Num estudo realizado por Wallerstein (1991, cit. por Hart, 1996), no que diz
respeito às consequências do divórcio a longo prazo, verificou-se que números
significativos de crianças sofrem durante anos dificuldades psicológicas e sociais após a
separação dos pais, sendo que essas dificuldades continuaram na vida adulta dessas
crianças. Concluiu que estas crianças sofreram problemas de angústia intensa,
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depressão, dificuldades sociais, problemas na obtenção de sucesso e na formação de
relacionamentos duradouros. Um outro estudo longitudinal realizado na Finlândia mostrou
que filhos de pais divorciados tinham menor rendimento escolar, menos educação,
apresentavam comportamentos de risco elevados e maior número de experiências
negativas (Hart, 1996).
Para qualquer relação interpessoal, os indivíduos trazem consigo memórias de
relações passadas e expectativas sobre relações futuras, não sendo as relações
românticas exceção, pelo que estudar a influência das relações passadas, nas relações
presentes e futuras é tão importante. São vários os autores que referem a importância
que a família de origem e as suas regras, papéis familiares, padrões de comunicação e
clima relacional, têm no desenvolvimento do indivíduo, e na forma como este se
perceciona a si próprio, aos outros e às relações que estabelece, ao formarem, na
infância, aquele que constitui o papel de fundo para todas as relações que vai criar ao
longo da sua vida (Canavarro, 1999, cit. por Lopes, 2008).
Uma relação conjugal implica a herança de aspetos comunicacionais da família de
origem, os quais operam para manter a continuidade da família. Em termos sistémicos,
as experiências na família de origem modelam o adulto ao nível social e sabe-se que as
relações parentais ou fraternas influenciam o estilo comunicacional do adulto na relação
conjugal (Alarcão, 2000).
A decisão de um divórcio na família tem impacto em todos os seus elementos,
especialmente nos filhos. O momento da separação é um momento de dor em que os
pais devem assumir como principal função torná-la o menos dolorosa possível para os
filhos. Para estes, é um momento de rutura onde são experimentados sentimentos de
perda e readaptação a uma nova realidade. Mesmo que uma criança não tenha passado
pelo divórcio dos pais, certamente conhece ou acompanhou familiares ou amigos que
viveram essa experiência. Contudo, só uma criança que viveu esta experiência é que
poderá ter a tranquilidade para afirmar que o divórcio pode ser “bom ou mau”, preferindo
ter os pais separados e ter de viver parcialmente sem um deles (Silva, 2012).
Um outro aspeto centra-se no sentimento de culpa pelo divórcio dos pais,
sentimento este, que pode emergir especialmente nas crianças mais novas, sendo este
sentimento também encarado como forma de encontrar explicações para o
acontecimento. Medo de abandono e ansiedade de separação relativamente aos pais
também são sentimentos comuns. Insegurança, irrequietude, maior exigência na relação,
regressões, nomeadamente no que diz repeito ao comportamento, aos padrões do sono
e no controlo dos esfíncteres, revolta, queixas somáticas bem como a diminuição no
redimento escolar são várias das possíveis reações que poderão surgir num processo de
divórcio. O impacto verdadeiramente negativo no bem-estar emocional e afetivo da
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criança, está diretamente ligado a relações de conflito e destrutivas, independentemente
de os pais viverem juntos ou separados (Silva, 2012).
A literatura aponta para o facto de que crianças de famílias divorciadas estarem
em maior risco de apresentar problemas de ajustamento. De acordo com Amato e Keith
(cit. por Raposo, Figueiredo, Lamela, Nunes-Costa, Castro, & Prego, 2010) as crianças
filhas de pais divorciados, quando comparadas com crianças que vivem em famílias
intactas, exibem indicadores de menor bem-estar, incluindo baixo rendimento escolar,
desajustamento psicológico, autoconceito, relações sociais e menor qualidade de
relacionamento com o pai e a mãe. Mais recentemente, Amato (cit. por Raposo et al.,
2010) sinaliza, ainda, que as crianças que crescem com pais casados, têm menor
probabilidade de experienciar uma grande variedade de problemas cognitivos,
emocionais e sociais, não somente durante a infância, mas também na idade adulta.
Amato e Keith (cit. por Raposo et al., 2010), tomando em consideração os
processos familiares e outras variáveis mediadoras, realçam a presença de cinco fatores
associados ao pior ajustamento da criança ao divórcio dos pais como sendo: dificuldades
da criança (como o temperamento e a idade); diminuição da seguranca financeira no
período que segue à dissolução conjugal; quadros psicopatológicos nos pais,
especialmente depressão; coparentalidade conflituosa e intensidade, tonalidade e
frequência do conflito interparental antes e após a separação. O divórcio não implica
forçosamente maior impacto numa dada idade, mas sim efeitos diferentes de acordo com
o estádio de desenvolvimento da criança. Contudo, quando se isola o nível
desenvolvimental de outras variáveis moderadoras, observa-se que quanto mais elevado
e integrado o nível de desenvolvimento da criança, melhores os índices de adaptação à
separação dos pais.
Por sua vez Hart (1996) defende que o divórcio parental poderá ser prejudicial
para os filhos de acordo com: o colapso da estrutura familiar onde a criança sentir-se-á
sozinha e assustada; a diminuição da capacidade dos pais para cuidar dos filhos; o facto
de o divórcio gerar conflitos de lealdade nos filhos; a incerteza do futuro que provoca uma
profunda insegurança, uma vez que depender de apenas um dos progenitores irá criar
muita ansiedade; a ira e o ressentimento entre os pais, que prevalece na maioria dos
divórcios e cria um medo intenso na criança; a ansiedade e preocupação da criança por
causa dos pais, especialmente com a mãe, em casos em que é o pai que vai embora;
quando a família muda, a criança pode perder um dos pais, um lar, uma escola, vizinhos,
amigos e esta mudança pode representar a perda de tantas coisas que uma depressão
profunda é quase inevitável nos filhos, bem como a queda económica após a separação.
O divórcio dos pais poderá assim afetar o desenvolvimento dos filhos e colocá-los
em risco de desenvolver dificuldades a nível comportamental e emocional a menos que
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estejam presentes determinados fatores moderadores que os protejam desses riscos e
de efeitos mais nocivos (Amato, 2001, cit. por Rego, 2008). A severidade e duração dos
efeitos negativos dependem de um conjunto de fatores protetores de natureza
demográfica, pessoal, interpessoal e contextual que combinados irão determinar o grau
de resiliência ou vulnerabilidade da criança ou do adolescente após a separação dos
pais. Outra consequência do divórcio dos pais para as crianças é a proximidade reduzida
com os pais, uma vez que muitas crianças perdem o contacto com os pais após o
divórcio.
Embora haja consenso de que o divórcio tenha potencial para causar sérios
danos, de acordo com Hart (1996), o apoio adequado dado pelos pais poderá preservar
os filhos proporcionando-lhes uma vida rica e significativa.
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Study avaliou crianças nascidas na primeira semana de março de 1958 até perfazerem
33 anos. O estudo documentou um efeito transgeracional do divórcio parental nas suas
uniões. Um divórcio parental antes dos filhos completarem 20 anos de idade aumenta o
risco de separação futura entre 40% a 90%. Após o controlo de variáveis como a idade
de união, o tipo de união, entre outras, o risco de separação manteve-se
significativamente elevado, cerca de 16% para mulheres e 41% para homens (Kiernan &
Cherlin, 1999, cit. por Azevedo, 2011).
Aparentemente a transmissão intergeracional do divórcio parece derivar
essencialmente nas diferenças das variáveis demográficas entre jovens adultos filhos de
pais separados. Esta pode não ser a realidade em muitos casos, na medida em que o
rompimento conjugal acarreta experiências distintas para pais e filhos, com
consequências que não devem ser analisadas de forma unificada (Azevedo, 2011).
Wallerstein, Lewis e Blakeslee (2002, cit. por Brito, 2007) realizaram, nos Estados
Unidos, um vasto estudo longitudinal com filhos de pais separados, acompanhando-os
até à fase adulta, concluindo que a noção de que haveria uma “felicidade expansiva”,
como conceituam, seria um dos mitos a respeito do divórcio. Por meio das pesquisas que
empreenderam, observaram que, com a separação dos pais, dificuldades de nova ordem
podem surgir para os filhos, com repercussões a longo prazo.
Igualmente num estudo levado a cabo por Fincham, Hall e Rodrigues (2006, cit.
por Severino, 2012), concluíram que filhos de pais divorciados representam um maior
número de separações. Indivíduos cujos pais se divorciaram, também são mais
suscetíveis a ter opiniões favoráveis do divórcio, comparativamente com indivíduos cujos
pais permaneceram casados.
Embora a ligação entre o divórcio parental e atitudes favoráveis dos filhos em
relação ao divórcio seja consistente na literatura, há relativamente poucos estudos que
verifiquem o efeito das atitudes dos jovens adultos para o divórcio face à visão dos seus
pais. A pesquisa sugere que filhos e filhas reagem ao divórcio de forma distinta, portanto,
as condições que cercam o divórcio podem influenciar de forma diferente mediante o
género. Conclui assim que filhos são mais suscetíveis do que as filhas para responder ao
conflito parental, agindo agressivamente (Chase-Lansdale, & Hetherington, cit. por
Martins, 2010).
Kapinus (2004, cit. por Martins, 2010) indica também que os adultos, que
passaram pelo divórcio dos seus pais, têm maior tendência a atitudes favoráveis ao
divórcio, embora isso seja mais verificável para o género feminino. Já Axinn e Thornton
(1996, cit. por Martins, 2010) concluíram que as mulheres que possuem atitudes
favoráveis ao divórcio não são mais, nem menos inclinadas para se virem a casar. Por
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outro lado, homens que têm atitudes favoráveis ao divórcio optam menos pelo
casamento.
Outros estudos (Amato, 1999, cit. por Fonseca, 2008) têm assim mostrado que
adultos que passaram pelo divórcio dos pais podem apresentar maiores dificuldades em
manter relacionamentos estáveis, podendo estes terminar também em divórcio, caso a
adaptação ao divórcio dos progenitores não seja bem-sucedida.
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posteriores da vida da criança ou adolescente (Rusbult, Wieselquist, Foster, & Witcher,
1999, cit. por Fonseca, 2008). Fatores interpessoais como o conflito conjugal dos pais e o
relacionamento pais-filhos, parecem influenciar as representações dos filhos face às
relações conjugais (Fine, & Harvey, 2006, cit. por Fonseca, 2008).
Vários são então os fatores que têm sido propostos como variáveis explicativas
para a transmissão do divórcio como sendo: fatores demográficos; fatores exógenos ao
casamento (família e sistemas de suporte, alternativas ao casamento e barreiras do
divórcio); fatores endógenos ao casamento (felicidade, interação e conflitos conjugais) e
valores individuais e atitudes (atitudes face ao divórcio e expectativas de casamento)
(Booth, & Amato, 2001).
18
4. Plano de Investigação
A questão de estudo foi elaborada com base numa revisão da literatura. Trata-se
de um tema atual, bem como foi referido na revisão bibliográfica, devido ao problemático
crescente número de divórcios (Silva, 2012) bem como ao reduzido número de estudos
nesta área e a necessidade premente de aumentar o conhecimento acerca destas
questões. O presente projeto assenta na seguinte questão de estudo:
Qual a perceção do adulto face ao processo de divórcio dos pais ocorrido durante
a sua infância?
19
4.3. Amostra
4.4. Instrumentos
Segundo Bogdan e Biklen (1982, cit. por Almeida & Freire, 2003), os dados
qualitativos referem-se aos materiais em bruto, recolhidos diretamente da realidade.
Estes podem incluir informações registadas diretamente por quem conduz o estudo,
como sendo transcrições de entrevistas ou notas de observação, ou documentos
elaborados por outros indivíduos. De acordo com McMillan e Schumacher (1989) as
técnicas de recolha de dados mais utilizadas pelo investigador qualitativo, são a
observação participativa, a entrevista etnográfica e consulta de documentos.
Na perspetiva dos autores supracitados, a entrevista permite contactar
diretamente com a população-alvo, possibilitando uma eficaz recolha de dados e
minimizando o risco de obter respostas omissas. Esta técnica permite ainda, captar os
significados dos participantes, de acordo com o modo como os indivíduos concebem o
seu mundo, bem como a forma como interpretam acontecimentos importantes da sua
vida.
Para a realização do presente projeto e devida recolha de informação,
procedemos à elaboração de uma entrevista semiestruturada composta por questões de
resposta aberta. Este é um tipo de entrevista que à medida que se desenvolve vai-se
adaptando ao entrevistado e permite a otimização do tempo disponível. A utilização da
entrevista torna-se necessária quando se trata de recolher dados válidos sobre as
crenças, as opiniões, bem como as ideias dos sujeitos (Lessard-Hébert, Goyette, &
Boutin, 2008, cit. por Severino, 2012).
A construção da mesma teve como objetivo obter informação e explorar os
significados que a experiência do divórcio dos pais teve para os inquiridos, relativamente
ao tipo de relações existentes com e entre os seus progenitores no período pós-divórcio,
bem como as influências na escola e nas aprendizagens.
20
A elaboração do guião de entrevista teve por base a literatura relacionado com a
questão de estudo. Por forma a verificar a eficácia da entrevista, surge a necessidade de
a mesma ser aplicada a uma amostra reduzida de indivíduos, com o objetivo de
identificar perguntas-problema que justifiquem algum tipo de alteração na sua construção,
assegurarmos a qualidade e a razoabilidade da sua ordenação, assim como a
possibilidade de corresponder aos objetivos pretendidos (Pardal & Correia, 1995).
O guião de entrevista (ver Anexo 1) elaborado para o presente projeto, encontra-
se dividido em cinco blocos como sendo: i) Legitimação da entrevista – onde se
pretende proceder a um enquadramento do estudo em questão, abordar aspetos relativos
à confidencialidade bem como as formas de registo a ser utilizadas; ii) Caracterização
sociodemográfica – onde são exploradas as características sociodemográficas do
inquirido (idade, sexo, profissão, habilitações literárias, estado civil e ainda a idade em
que ocorreu o divórcio dos pais); iii) Avaliação do quotidiano pessoal – introdução de
questões mais específicas relacionadas com o processo de divórcio (ver Anexo 1); iv)
Avaliação do quotidiano social e escolar- onde se pretende explorar a influência do
divórcio na escola e nas aprendizagens (ver Anexo 1); e no último bloco: v) Conclusão
da entrevista – onde se pretende agradecer a disponibilidade e colaboração do inquirido,
bem como recolher algum aspeto que não tenha sido abordado no decorrer da entrevista.
21
Tabela 1 – Resultados da avaliação do teste-piloto
Resultados
Questões Critérios de Avaliação 1 2 3 4 5
Nº 1 - Recorda-se da primeira vez Compreensão - - - 40% 60%
que lhe falaram do divórcio? Pertinência - 20% 20% - 60%
Clareza - - - - 100%
Dificuldade na resposta 80% - 20% - -
22
pela totalidade dos inquiridos no seu valor máximo “bastante” nas questões nº 3 e 9.
Podemos também confirmar, que para o presente critério, o valor “nem muito, nem
pouco” também foi bastante pontuado. Não se verifica contudo, nenhuma indicação no
item “nada”.
Relativamente ao critério clareza 100% dos inquiridos classificou as questões nº1,
2, 4, e 9 como sendo “bastante” claras. Nas restantes questões conseguimos analisar
através da Tabela 1, que a mesma obteve resultados, na sua maioria, no item 4 “muito” e
no item 5 “bastante”. O item “nada”, não foi apontado em nenhuma questão, no que diz
respeito à clareza da mesma.
Por último, no que respeita ao critério dificuldade de resposta, podemos
constatar que na sua grande maioria, os inquiridos não tiveram dificuldades em
responder às questões efetuadas, tendo sido maioritariamente selecionado o item “nada”,
pela maioria dos inquiridos.
Numa análise global à avaliação do pré-teste do guião de entrevista, podemos
concluir que este é na sua maioria “bastante” compreensível, pertinente, claro e de fácil
resposta.
De modo a tornar o instrumento o mais preciso possível, consideramos retirar a
palavra “pares” na questão número 8, de acordo com sugestão dada pela totalidade dos
inquiridos, substituindo-a por amigos/colegas (ver Anexo 3).
Um dos constrangimentos à aplicação do instrumento prendeu-se com o facto de
o tema ser de resposta difícil para alguns inquiridos no que diz respeito ao seu cariz
emocional.
4.5. Procedimentos
23
diversas categorias e subcategorias, que descrevem o conteúdo dessas mensagens,
tendo como finalidade inferir, concluir e efetuar deduções lógicas e justificadas referentes
à origem do objeto de estudo.
5. Resultados
Dimensão Nº de referências
Avaliação do quotidiano pessoal 45
Avaliação do quotidiano social e escolar 19
Total 64
24
No decorrer da análise de conteúdo efetuada, podemos verificar que surgiram
duas dimensões, que foram construídas por forma a conseguirmos ir ao encontro dos
objetivos do presente estudo. Podemos também verificar na análise efetuada, que as
unidades de conteúdo foram referidas sessenta e quatro vezes, correspondendo as
mesmas ao total, ou seja 100%. Deste modo, verificamos que a dimensão “Avaliação do
quotidiano pessoal” foi referida quarenta e cinco vezes (70,31%) e a dimensão “Avaliação
do quotidiano social e escolar” dezanove vezes (29,69%).
A partir da dimensão “Avaliação do quotidiano pessoal” surgem sete categorias e
através destas, surgem dezoito subcategorias (ver Tabela 3).
25
Na categoria “Explicação do processo” os inquiridos referiram-na cinco vezes
(11,11%), contudo, da mesma surgem três subcategorias: “Grupo de pares”, referido uma
vez; “A mãe sem explicação”, duas vezes e “A mãe explicando com clareza o problema”,
igualmente duas vezes.
A terceira categoria definida - “Perceção do processo” - foi referida seis vezes
(13,33%), repartindo-se por três subcategorias: “Alívio com o terminar dos conflitos”,
referida duas vezes; “Sentimentos de tristeza”, referida três, e por fim a terceira
subcategoria “Abandono”, referida por apenas um dos inquiridos.
Por sua vez, a categoria “Relação filho-pais” foi a segunda mais referida
(15,55%), dando lugar a quatro subcategorias: “Conflituosa com ambos os progenitores”;
“Conflituosa com a mãe (guarda de facto) e harmoniosa com o pai”; “Conflituosa com o
pai e harmoniosa com a mãe (guarda de facto) ” e “Inexistente com o pai”, tendo sido a
terceira subcategoria a mais referida (quatro vezes).
Posteriormente, na categoria “Relação pais após o divórcio”, os inquiridos
referiram-na cinco vezes (11,11%), tendo a totalidade dos mesmos respondido em
consenso, gerando apenas uma subcategoria: “Inexistente”.
Na seguinte categoria, “Guarda de facto”, verificam-se os mesmos resultados da
categoria anterior (11,11%) e também a presença de apenas uma subcategoria: “Mãe”.
Por fim, a última categoria, “Mudanças no processo de divórcio,” foi a mais que
apresentou maior número de referências por parte dos inquiridos, dozes vezes (26,66%),
tendo sido também a que gerou mais subcategorias.
A Tabela 4 refere-se às categorias inerentes à dimensão “Avaliação do quotidiano
social e escolar”, tendo resultado da mesma, duas categorias: “Relacionamento com os
pares” e “Influência na escola e nas aprendizagens”.
26
Verificamos que a primeira categoria apresentada - “Relacionamento com os
pares” - foi referida nove vezes (47,37%) e a categoria “Influência escola e nas
aprendizagens” dez vezes (52,63%).
Resultante da primeira categoria, foram criadas quatro subcategorias: “Nunca”;
“Discriminação”; “Sentimentos de tristeza por não ter uma família igual” e “Maior atenção
e carinho”, tendo sido esta última subcategoria a mais referida pelos inquiridos (quatro
vezes).
Por fim, na última categoria da entrevista elaborada, surgem igualmente quatro
subcategorias: “Não teve influência”; “Baixo rendimento escolar”; “Problemas de
concentração” e “Menor vigilância e acompanhamento”. A subcategoria “Baixo
rendimento escolar” foi a que apresentou um maior número de referências.
27
CONCLUSÃO
28
Härkönen, 2008, cit. por Azevedo, 2011). Daí a importância de se minimizarem os efeitos
de um processo que se assombraria inevitável. O facto de podermos compreender o
modo como este processo foi vivido poderá ajudar na intervenção a ser feita no decorrer
de todo o processo.
Compreendamos assim, que reconhecer e identificar possibilidades de
consequências desagradáveis para os filhos após a separação dos pais, se torna o
primeiro passo para o desenvolvimento de mecanismos de apoio às famílias, tornando-se
especialmente urgente e necessário aliviar as consequências do divórcio e os seus
percursores, quer para as crianças, quer para os pais.
O desenvolvimento deste projeto permitiu aprofundar o tema e esperamos assim
que num estudo mais alargado possamos corroborar o que a literatura aponta.
29
BIBLIOGRAFIA
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27 (1), 32-45.
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filhos de pais separados (Dissertação de mestrado). Obtido de
http://hdl.handle.net/10451/888.
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Avaliação. Coimbra: Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
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Cristão.
30
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Consulta Psicológica, 12, 115 – 130.
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Editores.
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conjugal (Dissertação de mestrado). Obtido de http://hdl.handle.net/10451/713.
Sampaio, D., Cruz, H., & Carvalho, M. (2011). Crianças e Jovens em Risco. A Família no
centro da intervenção. Cascais: Principia.
31
Legislação consultada:
32
ANEXOS
33
ANEXO 1
34
TEMA:
Perceção do adulto face ao processo de divórcio dos pais ocorrido durante a sua infância.
OBJETIVOS GERAIS:
35
Educação de Viseu)
Habilitações literárias;
Estado Civil;
Idade em que ocorreu o divórcio dos pais;
36
IV. Avaliação do - Sentiu que seria tratado de forma diferente pelos Tempo médio: 5 a 15 minutos
quotidiano social - Analisar a influência na escola e nas seus pares por ser filho de pais separados?
e escolar aprendizagens; - Identifica algum tipo de influência do processo de Exploração de informações relevantes para
divórcio experienciado, nas suas aprendizagens os objetivos da entrevista, respeitando as
escolares? reações dos sujeitos à medida que estes
elaborarem o seu discurso
37
ANEXO 2
38
n.º _____
Idade:
Profissão:
Habilitações Literárias:
Estado civil:
Relativamente à avaliação da entrevista considera que: (1 = Nada; 2 = Pouco; 3; Nem muito nem pouco; 4 = Muito; 5 = Bastante).
Clareza 1 2 3 4 5
Dificuldade na resposta 1 2 3 4 5
39
- Como e quem lhe explicou Compreensão 1 2 3 4 5
o divórcio?
Pertinência 1 2 3 4 5
Clareza 1 2 3 4 5
Dificuldade na resposta 1 2 3 4 5
Clareza 1 2 3 4 5
Dificuldade na resposta 1 2 3 4 5
Clareza 1 2 3 4 5
Dificuldade na resposta 1 2 3 4 5
Clareza 1 2 3 4 5
Dificuldade na resposta 1 2 3 4 5
40
- A quem foi atribuída a sua Compreensão 1 2 3 4 5
guarda? Como se
relacionava com o outro Pertinência 1 2 3 4 5
progenitor?
Clareza 1 2 3 4 5
Dificuldade na resposta 1 2 3 4 5
Dificuldade na resposta 1 2 3 4 5
Dificuldade na resposta 1 2 3 4 5
Dificuldade na resposta 1 2 3 4 5
41
ANEXO 3
42
TEMA:
Perceção do adulto face ao processo de divórcio dos pais ocorrido durante a sua infância.
OBJETIVOS GERAIS:
VI. Legitimação da - Apresentar o entrevistador - Enquadramento e objetivo da entrevista Tempo médio: 5 minutos
entrevista - Comunicar ao entrevistado o objetivo - Confidencialidade
da entrevista, bem como informar - Formas de registo/pedido de autorização Cumprimento ao entrevistado
relativamente à importância da sua
colaboração Comunicar ao entrevistado o contexto em
- Garantir a confidencialidade e o que a entrevista irá ser dinamizada (projeto
anonimato do entrevistado de investigação inserido no mestrado
“Intervenção Psicossocial de Crianças e
43
Jovens em Risco”, da Escola Superior de
Educação de Viseu)
Habilitações literárias;
Estado Civil;
Idade em que ocorreu o divórcio dos pais;
44
- Na sua opinião o que poderia ter sido diferente pensamento do/a entrevistado/a, tendo
no processo de divórcio dos seus pais? como referência o seu quadro de valores
IX. Avaliação do - Sentiu que seria tratado de forma diferente pelos Tempo médio: 5 a 15 minutos
quotidiano social - Analisar a influência na escola e nas seus amigos/ colegas de escola por ser filho de
e escolar aprendizagens; pais separados? Exploração de informações relevantes para
- Identifica algum tipo de influência do processo de os objetivos da entrevista, respeitando as
divórcio experienciado, nas suas aprendizagens reações dos sujeitos à medida que estes
escolares? elaborarem o seu discurso
45
ANEXO 4
CRONOGRAMA
46
CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
Tarefas Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai.
Apresentação do tema do projeto à
orientadora
Pesquisa e revisão bibliográfica
Análise crítica do material
Redação preliminar do texto
Elaboração das questões e objetivos de
estudo
Seleção da população-alvo
Elaboração do guião de entrevista
Aplicação dos instrumentos
Análise de conteúdos e resultados
Entrega do Projeto para discussão
Entrega do Projeto Final
47