As Tuas Zonas Erroneas

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Índice

Introdução — Uma declaração pessoal 9

I Assumir o controlo de si mesmo 16

II Primeiro amor 41

III Não precisa da aprovação dos outros 65

IV Libertar­‑se do passado 94

V As emoções inúteis — Culpa e Preocupação 111

VI Explorando o desconhecido 145

VII Quebrar a barreira das convenções 171

VIII A armadilha da justiça 202

IX Acabar com a procrastinação — já 217

X Declare a sua independência 232

XI Despedir­‑se da raiva 255

XII Retrato de uma pessoa que eliminou todas


as zonas erróneas 270

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Toda a teoria do universo está infalivelmente
dirigida para um único indivíduo — Você.
W alt W hitman

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Introdução
— Uma Declaração
Pessoal

U m orador estava diante de um grupo de alcoólicos,


determinado a demonstrar­‑lhes, de uma vez por todas,
que o álcool era um mal incomparável. Sobre a mesa tinha
colocado aquilo que pareciam ser dois recipientes idênticos
com um líquido transparente. Anunciou que um continha
água e que o outro estava cheio de álcool puro. Colocou um
pequeno verme no recipiente e toda a gente o viu a nadar para
a parede do recipiente e, aí chegado, rastejar simplesmente
para a borda do copo. A seguir ele pegou no mesmo verme e
colocou­‑o no recipiente com álcool. O verme desintegrou­‑se
diante dos olhos de todos. «Cá está» disse o orador. «Qual é
a moral?» Uma voz ao fundo da sala disse bem claro: «Estou a
ver que se bebermos álcool nunca teremos vermes.»
Este livro contém muitos «vermes» — ou seja, o leitor vai
escutar e compreender exatamente aquilo que quer escutar,
com base em muitos dos seus próprios valores, crenças,
preconceitos e história pessoal. O comportamento derrotista
e as maneiras de o ultrapassar são áreas de abordagem sen‑
sível. Olhar profundamente para si mesmo, com o objetivo
de mudar, pode ser algo que diz que está interessado em
conseguir, porém, muitas vezes, o seu comportamento diz

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AS TUAS ZONAS ERRÓNEAS

o contrário. Mudar é difícil. Se for como a maioria das outras


pessoas, todas as fibras do seu ser irão resistir ao esforço que
terá de fazer para eliminar os pensamentos que sustentam
as suas sensações e os seus comportamentos para se enga‑
nar a si mesmo. Todavia, apesar dos «vermes», acho que vai
gostar deste livro. Eu adoro­‑o! E adorei escrevê­‑lo.
Embora não acredite que a saúde mental deva ser tratada
de uma forma ligeira, também não defendo a noção de que
deve ser um assunto tratado sem humor, cheio de termos
impenetráveis. Tentei evitar as explicações intrincadas, em
grande parte porque não acredito que «ser feliz» seja uma
questão complicada.
Ser saudável é um estado natural, e os meios para alcançar
esse estado estão ao alcance de cada um de nós. Acredito
que uma mistura sensata de esforço, pensamento claro,
humor e autoconfiança são os ingredientes para uma vida
proveitosa. Não acredito em fórmulas fantasiosas nem em
excursões históricas ao seu passado para descobrir que foi
«severamente treinado a largar as fraldas» e que uma outra
pessoa é responsável pela sua infelicidade.
Este livro destaca uma abordagem agradável para alcançar
a felicidade — uma abordagem que se baseia na responsa‑
bilidade e no compromisso consigo mesmo, além de um
apetite pela vida e de um desejo de ser tudo aquilo que deci‑
dir ser neste momento. É uma abordagem descomplicada,
uma abordagem de senso comum. Se for um ser humano
saudável e feliz, poderá dar por si a pensar, «eu podia ter
escrito este livro». E terá razão. Não precisa de possuir um
currículo profissional em aconselhamento e um doutora‑
mento em terapia para compreender os princípios de uma
vida proveitosa. Eles não se aprendem numa sala de aulas
nem num livro. Aprendem­‑se quando nos empenhamos
na nossa própria felicidade e fazemos alguma coisa para
a tornar realidade. Isto é algo em que eu trabalho todos os

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INTRODUÇÃO — UMA DECLARAÇÃO PESSOAL

dias, ao mesmo tempo que ajudo outros a fazerem escolhas


semelhantes.
Cada capítulo deste livro está escrito como uma sessão
de aconselhamento. Esta abordagem tem como objetivo for‑
necer o máximo de oportunidades de autoajuda possível.
Exploramos uma zona errónea em particular, ou um tipo
de comportamento autodestrutivo, e examinamos os ante‑
cedentes históricos para esse comportamento na nossa cul‑
tura (e consequentemente em si mesmo). A ênfase está em
ajudá­‑lo a compreender porque é que está preso nesta zona
de autoderrota. Em seguida, detalhamos os comportamentos
específicos que se incluem nesta zona errónea. Os tipos de
comportamentos de que estamos a falar são ações do dia a
dia que podem parecer perfeitamente aceitáveis, mas que,
na realidade, são nocivos à sua própria felicidade. Não apre‑
sentamos exemplos de casos clínicos com graves perturba‑
ções emocionais, mas sim as mensagens neuróticas diárias
que todos nós transmitimos. Depois de olharmos para os
comportamentos da zona errónea, passamos a examinar as
razões para nos agarrarmos a um comportamento que não
nos faz felizes. Isto implica examinar duramente o sistema
de apoio psicológico erigido por si para manter um compor‑
tamento de autoderrota, em vez de o abandonar. Esta secção
é uma tentativa para responder às perguntas: «O que é que
eu obtenho com o meu comportamento?» e «porque é que
persisto, uma vez que isto é prejudicial para mim?». Quando
examinar cada zona errónea, irá sem dúvida notar que cada
uma das secções sobre as «recompensas» têm mensagens
semelhantes. Irá descobrir que as razões para manter um
comportamento neurótico são bastante constantes em todas
as zonas erróneas. No fundo, é mais seguro apegar­‑se a uma
reação aprendida, mesmo que seja autodestrutiva. Além disso,
podemos eliminar a necessidade de mudarmos e assumir‑
mos as responsabilidades se mantivermos as zonas erróneas

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AS TUAS ZONAS ERRÓNEAS

intactas. Estas recompensas de segurança e de confiança serão


evidentes ao longo de todo o livro. Irá começar a ver que o seu
sistema de manutenção psicológica trabalha no sentido de
aliviar a sua culpa e evitar a oportunidade de mudar. O facto
de manter muitos comportamentos de autoderrota pelas
mesmas razões, só torna o crescimento global mais acessível.
Elimine essas razões e irá erradicar as suas zonas erróneas.
Cada capítulo conclui com algumas estratégias diretas
para eliminar o comportamento auto­‑anulador. Este formato
é exatamente aquilo que compõe uma sessão de aconse‑
lhamento, isto é, a exploração da dificuldade e onde é que
ela emerge, um olhar sobre o comportamento derrotista,
a perceção sobre o «Porquê» do comportamento e estratégias
concretas para eliminar a área problemática.
Ocasionalmente, esta estratégia pode parecer­‑lhe repe‑
titiva. Isso é um bom sinal — um sinal de pensamento
produtivo. Já sou terapeuta há muitos anos. Eu sei que o
pensamento produtivo — um pensamento que pode alterar
um comportamento autodestrutivo — não ocorre só por
alguma coisa ser dita. A perceção tem de ser repetida, e repe‑
tida novamente, e repetida mais uma vez. Só então, quando
for plenamente aceite e compreendida, é que começamos a
alterar o comportamento. É por esta razão que alguns temas
têm de ser repisados repetidamente nas páginas deste livro,
tal como têm de ser abordados repetidamente em sucessivas
sessões de aconselhamento.
Existem dois temas centrais que se desenrolam ao longo
das páginas deste livro. O primeiro envolve a sua capacidade
de fazer escolhas a respeito das suas próprias emoções.
Comece por examinar a sua vida à luz das escolhas que fez
ou deixou de fazer. Isto coloca em si toda a responsabilidade
por aquilo que é e por aquilo que sente. Tornar­‑se mais feliz
e mais produtivo significa tornar­‑se mais ciente das escolhas
que tem ao seu dispor. CADA UM DE NÓS É A SOMA TOTAL

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INTRODUÇÃO — UMA DECLARAÇÃO PESSOAL

DAS NOSSAS ESCOLHAS, e eu estou apenas suficientemente


«adiantado» para acreditar que, com a devida motivação
e esforço, podemos ser tudo aquilo que escolhermos.
O segundo tema que será enfatizado nestas páginas é o
de assumir o comando dos seus momentos presentes. Esta
é uma frase que irá reaparecer muitas vezes. Esta é uma parte
essencial para eliminar as suas zonas erróneas e criar a sua
felicidade. Só existe um momento em que experimentamos
alguma coisa, e esse momento é agora. No entanto, desper‑
diçamos muito tempo a matutar nas experiências passadas
ou futuras. Transformar o presente em realização total é
a chave para uma vida proveitosa. Virtualmente, todos os
comportamentos derrotistas (zonas erróneas) são esforços
para viver num momento diferente do atual.
A escolha e o viver no presente serão repisados em quase
todas as páginas deste livro. Com uma leitura atenta, em
breve começará a colocar a si mesmo questões que nunca lhe
ocorreram. «Porque é que eu decidi sentir­‑me preocupado
neste momento?» e «Como é que eu posso dar um uso mais
produtivo aos meus momentos presentes?» são as pergun‑
tas internas de uma pessoa que se está a afastar das zonas
erróneas, em direção à autoconfiança e à felicidade.
Este livro termina com um breve retrato de uma pessoa
que eliminou todas as zonas erróneas e que está a viver num
mundo emocional controlado internamente, e não externa‑
mente. As 25 perguntas que se seguem designam­‑se a medir
a sua capacidade para escolher a felicidade e a satisfação. Leia
as questões tão objetivamente quanto possível e avalie­‑se a
si mesmo e à forma como vive o seu presente. As respostas
«Sim» indicam domínio pessoal e escolhas efetivas.

1. Acredita que a sua mente é realmente sua? (Capítulo I)


2. É capaz de controlar os seus próprios sentimentos?
(Capítulo I)

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AS TUAS ZONAS ERRÓNEAS

3. A sua motivação vem do interior e não do exterior?


(Capítulo VII)
4. Está livre da necessidade de aprovação? (Capítulo III)
5. Estabelece as suas próprias regras de conduta para si
mesmo? (Capítulo VII)
6. Está livre do desejo de justiça e de imparcialidade?
(Capítulo VIII)
7. Consegue aceitar­‑se a si mesmo e evitar queixar­‑se?
(Capítulo II)
8. Está livre da necessidade de culto aos heróis? (Capítulo
VIII)
9. Você é mais de agir do que de criticar? (Capítulo IX)
10. Aprecia o misterioso e o desconhecido? (Capítulo VI)
11. Consegue evitar descrever­‑se a si mesmo em termos
absolutos? (Capítulo IV)
12. Consegue gostar de si o tempo todo? (Capítulo II)
13. Consegue criar as suas próprias raízes? (Capítulo X)
14. Eliminou todas as suas relações de dependência?
(Capítulo X)
15. Eliminou todas as atribuições de culpas e de defeitos
da sua vida? (Capítulo VII)
16. Está livre de alguma vez se sentir culpado? (Capítulo V)
17. É capaz de evitar preocupar­‑se com o futuro? (Capí‑
tulo V)
18. Consegue dar e receber amor? (Capítulo II)
19. Consegue evitar a raiva imobilizante na sua vida?
(Capítulo XI)
20. Eliminou a procrastinação como estilo de vida?
(Capítulo IX)
21. Aprendeu a fracassar produtivamente? (Capítulo VI)
22. Consegue apreciar as coisas espontaneamente, sem
ter um plano? (Capítulo VI)
23. Consegue apreciar o humor e fazer humor? (Capí‑
tulo XI)

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INTRODUÇÃO — UMA DECLARAÇÃO PESSOAL

24. Os outros tratam­‑no da forma como quer ser tratado?


(Capítulo X)
25. É motivado pelo seu potencial de crescimento, e não
pela necessidade de reparar as suas deficiências?
(Capítulo I)

A qualquer momento da sua vida pode escolher dizer


sim a todas as questões acima se estiver disposto a rejeitar
muitos «deveria» e «tenho de» que aprendeu ao longo da
vida. A verdadeira escolha é decidir ser livre ou manter­‑se
acorrentado às expetativas que os outros têm a seu respeito.
Uma amiga minha, a Doris Warshay, depois de ouvir uma
das minhas palestras, escreveu­‑me um poema que intitulou
Novas Direções.

Eu quero ir tão longe quanto puder ir,


Quero alcançar a felicidade que há na minha alma,
E transformar os limites que conheço,
E sentir o crescimento da minha mente e do meu
espírito.

Eu quero viver, existir, «ser»


E ouvir as verdades que estão dentro de mim.

Confio que este livro o irá ajudar a eliminar quaisquer


«vermes» ou «barreiras» que o possam estar a impedir de
ter experiências novas e belas, e de descobrir e escolher os
seus novos rumos.

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I
Assumir o controlo
de si mesmo

A essência da grandeza é a capacidade de escolher


a realização pessoal nas circunstâncias em que
os outros escolhem a loucura.

D ê uma olhadela por cima do ombro. Irá reparar numa


companheira constante. À falta de um nome melhor,
chame­‑lhe A­‑Sua­‑Própria­‑Morte. Pode recear este visitante
ou usá­‑lo em proveito próprio. A escolha é sua.
Sendo a morte uma proposta tão eterna e a vida tão incri‑
velmente breve, pergunte a si mesmo: «Devo evitar fazer
as coisas que quero realmente fazer?» «Devo viver a minha
vida como os outros querem que eu viva?» «É importante
acumular coisas?» «Ir adiando é uma maneira de viver?»
O mais provável é que as suas respostas se possam resu‑
mir a algumas palavras: Vive… Sê tu mesmo… Desfruta…
Ama.
Podemos recear a nossa morte, improdutivamente, ou
usá­‑la para nos ajudar a viver produtivamente. Escute‑
mos as palavras de Ivan Ilitch, de Tolstói, enquanto espera
pela grande niveladora, contemplando um passado que foi

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ASSUMIR O CONTROLO DE SI MESMO

completamente dominado pelos outros, uma vida em que


ele abandonou o controlo de si mesmo para se encaixar
num sistema.

«“E se toda a minha vida foi um erro?”» Ocorreu­


‑lhe que aquilo que antes parecera perfeitamente
impossível, como o facto de ele não ter passado a
sua vida como deveria ter passado, podia afinal ser
verdade. Ocorreu­‑lhe que os impulsos que mal se
notavam, e que ele imediatamente suprimira, podia
ser a realidade, enquanto o resto era falso. E os seus
deveres profissionais e toda a organização da sua vida
e da sua família, e todos os seus interesses sociais e
oficiais podiam ter sido falsos. Tentou justificar a si
mesmo todas essas coisas, mas subitamente sentiu a
fragilidade daquilo que estava a defender. Não havia
nada para defender…»

Da próxima vez que estiver a contemplar uma decisão


e estiver a debater se deve ou não assumir o controlo, para
fazer a sua própria escolha, faça a si mesmo uma pergunta
importante: «Quanto tempo é que eu vou estar morto?»
Diante dessa perspetiva eterna, pode agora fazer a sua pró‑
pria escolha e deixar as preocupações, os medos, a culpa e
a questão de poder permitir­‑se a isso para aqueles que vão
viver para sempre.
Se não começar a dar estes passos, pode prever que vai
viver a vida inteira como os outros lhe dizem que deve viver.
Certamente, uma vez que a sua passagem pela Terra é tão
breve, deveria pelo menos ser agradável para si. Em suma,
a vida é sua; faça com ela aquilo que você quer.

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AS TUAS ZONAS ERRÓNEAS

A felicidade e o seu Q.I.

Assumir o controlo de si mesmo implica pôr de parte alguns


mitos muito prevalentes. No topo da lista está a noção de
que a inteligência se mede pela capacidade de resolver pro‑
blemas complexos; ler, escrever e fazer cálculos a determi‑
nados níveis; e resolver equações abstratas rapidamente.
Esta visão da inteligência pressupõe uma educação formal
e uma grande literacia enquanto verdadeiros parâmetros da
realização pessoal. Encoraja um tipo de snobismo intelectual
que trouxe consigo alguns resultados desmoralizadores.
Acabamos por acreditar que a pessoa que tem mais títulos
académicos, que é um sábio em qualquer tipo de disciplina
académica (matemática, ciência, um enorme vocabulário,
uma boa memória para factos supérfluos, um grande lei‑
tor) é «inteligente.» No entanto, os hospitais psiquiátricos
estão a abarrotar de pacientes que têm todas as devidas
credenciais de erudição — assim como de muitos que as
não têm. Um verdadeiro barómetro da inteligência é uma
vida produtiva e feliz, vivida a cada dia e a cada momento
presente, todos os dias.
Se for feliz, se viver cada momento para tudo aquilo
que vale a pena, então é uma pessoa inteligente. Resolver
problemas é um acessório útil para a sua felicidade, mas se
souber que, apesar da sua incapacidade para resolver uma
preocupação em particular, continua a conseguir escolher
aquilo que o faz feliz, ou pelo menos a recusar escolher a
infelicidade, então é inteligente. É inteligente porque possui
a derradeira arma contra o grande E.N. Sim — o Esgota‑
mento Nervoso.
Talvez se surpreenda ao saber que o esgotamento ner‑
voso é uma coisa que não existe. Os nervos não se esgotam.
Se abrirmos o corpo humano à procura dos nervos esgotados,
nunca os descobriremos. As pessoas «inteligentes» não

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ASSUMIR O CONTROLO DE SI MESMO

têm EN porque têm o controlo de si mesmas. Elas sabem


escolher a felicidade em vez da depressão, porque sabem
lidar com os problemas das suas vidas. Repare que eu não
disse resolver os problemas. Em vez de medirem a inteligên‑
cia com base na sua capacidade para resolver o problema,
medem­‑na com base na sua capacidade para se manterem
felizes e meritórias, quer o problema seja resolvido quer não.
Pode começar a considerar­‑se verdadeiramente inteligente
com base naquilo que decide sentir diante de circunstâncias
desafiantes. As lutas da vida são bastante semelhantes para
todos nós. Toda a gente que se envolve com outros seres
humanos em qualquer contexto social tem dificuldades
semelhantes. Desacordos, conflitos e compromissos fazem
parte daquilo que significa ser humano. Do mesmo modo,
o dinheiro, o envelhecimento, a doença, a morte, os desastres
naturais e os acidentes são eventos que colocam problemas
virtualmente a todos os seres humanos. Mas algumas pessoas
são capazes de os enfrentar, de evitar o desânimo paralisante
e a infelicidade apesar destas ocorrências, enquanto outras
colapsam, tornam­‑se inertes ou tem um EN. Aqueles que
reconhecem os problemas como uma condição humana e
que não medem a felicidade pela ausência de problemas
constituem o tipo mais inteligente de seres humanos que
conhecemos; e também os mais raros.
Aprender a ter o controlo total de si mesmo vai envolver
um processo de raciocínio completamente novo, o que se
pode mostrar difícil porque há demasiadas forças na nossa
sociedade a conspirar contra a responsabilidade individual.
Tem de confiar na sua capacidade intrínseca de sentir emo‑
cionalmente aquilo que decidir sentir a qualquer altura da
sua vida. Esta é uma noção radical. Provavelmente cresceu
convicto de que não consegue controlar as suas emoções;
que a raiva, o medo e o ódio, assim como o amor, o êxtase
ou a alegria são coisas que lhe acontecem. O indivíduo não

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AS TUAS ZONAS ERRÓNEAS

controla estas coisas, ele aceita­‑as. Quando surgem eventos


tristes, sentimos tristeza, naturalmente, e esperamos que
surjam alguns eventos felizes que nos façam sentir melhor
muito em breve.

Escolher como se vai sentir

Os sentimentos não são apenas emoções que lhe acontecem


a si. Os sentimentos são reações que decide ter. Se estiver no
comando das suas emoções, não precisa de escolher reações
de derrota. Depois de aprender que pode sentir aquilo que
escolher sentir, estará na estrada para a «inteligência» —
uma estrada onde não há desvios que levem ao E.N. Esta
estrada será nova porque irá ver uma determinada emoção
como uma escolha e não como uma condição de vida. Isto
é o verdadeiro corpo e alma da liberdade pessoal.
Através da lógica pode combater o mito de que não domina
as suas emoções. Usando um simples silogismo (uma fór‑
mula de lógica em que temos uma premissa maior, uma
premissa menor e uma conclusão baseada na concordância
entre as duas premissas), pode iniciar o processo de estar ao
comando de si mesmo, tanto ao nível do pensamento como
das emoções.

Lógica — Silogismo
Premissa maior: Aristóteles é um homem.
Premissa menor: Todos os homens têm pelos faciais.
Conclusão: ARISTÓTELES TEM PELOS FACIAIS.

Ilógica — Silogismo
Premissa maior: Aristóteles tem pelos faciais.
Premissa menor: Todos os homens têm pelos faciais.
Conclusão: ARISTÓTELES É UM HOMEM.

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ASSUMIR O CONTROLO DE SI MESMO

É evidente que temos de ter o cuidado, quando empre‑


gamos a lógica, de que as premissas maiores e menores
concordem. No segundo exemplo, Aristóteles pode ser um
macaco ou uma toupeira. Aqui tem um exercício de lógica
que pode pôr fim, para sempre, à noção de que não podemos
controlar o nosso mundo emocional.

Premissa maior: Eu posso controlar os meus pensamentos.


Premissa menor: Os meus sentimentos vêm dos meus pen‑
samentos.
Conclusão: Eu posso controlar os meus sentimentos.

A sua premissa maior é clara. Tem o poder de pensar


naquilo que escolher para ocupar a sua cabeça. Se alguma
coisa simplesmente surge na sua mente (porque escolheu
colocá­‑la lá, apesar de poder não saber porquê), continua a ter
o poder de a fazer desaparecer, e por isso continua a controlar
o seu mundo mental. Eu posso dizer­‑lhe, «Pense num antí‑
lope cor­‑de­‑rosa», e você pode torná­‑lo verde, transformá­‑lo
num papa­‑formigas, ou pensar simplesmente noutra coisa
qualquer se assim o decidir. Ninguém mais controla o que
entra na sua mente sob a forma de pensamentos. Se não acre‑
dita nisto, responda simplesmente a esta pergunta: «Se não
controla os seus pensamentos, quem é que os controla?» É o
seu cônjuge, o seu chefe ou a sua mãe? Se eles controlam
aquilo que pensa, mande­‑os fazer terapia e você irá sentir­
‑se melhor instantaneamente. Mas nós sabemos que não é
assim. Você, e só você, é que controla o seu aparelho pen‑
sante (tirando em tipos extremos de lavagem cerebral ou de
experiências de condicionamento, que não fazem parte da
sua vida). Os seus pensamentos são seus, unicamente seus
para guardar, mudar, partilhar ou contemplar. Mais ninguém
consegue entrar na sua cabeça e apoderar­‑se dos seus pensa‑
mentos tal como os experiencia. Controla, de facto, os seus

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AS TUAS ZONAS ERRÓNEAS

pensamentos e o seu cérebro é seu, para usar da forma que


determinar.
A premissa menor dificilmente é discutível se examinar‑
mos as evidências, assim como o próprio senso comum.
Não podemos ter um sentimento (emoção) sem primeiro ter
tido um pensamento. Sem o cérebro e a nossa capacidade de
«sentir» desaparece. Um sentimento é uma reação física a
um pensamento. Se chorarmos, corarmos ou aumentarmos
o batimento cardíaco, ou qualquer de uma lista interminável
de potenciais reações emocionais, primeiro recebemos um
sinal do nosso centro do pensamento. Quando o centro do
pensamento está danificado ou sofreu um curto­‑circuito, não
conseguimos experimentar reações emocionais. Com certos
tipos de lesões no cérebro, não conseguimos sequer expe‑
rimentar dor física, podendo fritar literalmente a mão no
lume do fogão sem qualquer sensação de dor. Sabemos que
não podemos anular o centro de pensamento e experimen‑
tar qualquer sentimento no seu corpo. Portanto a premissa
menor está baseada na verdade. Todos os sentimentos que
temos foram precedidos por um pensamento, e sem um
cérebro não podemos ter sentimentos.
A sua conclusão é também inescapável. Se controlamos
os nossos pensamentos, e os sentimentos vêm dos pensa‑
mentos, então somos capazes de controlar os nossos próprios
sentimentos. E controlamos os sentimentos trabalhando nos
pensamentos que os precedem. Em suma, acreditamos que
as coisas ou as pessoas nos tornam infelizes, mas isto não
é rigoroso. Tornamo­‑nos infelizes a nós mesmos por causa
dos pensamentos que temos a respeito das pessoas ou das
coisas na nossa vida. Tornar­‑se uma pessoa livre e saudável
implica aprender a pensar de maneira diferente. Quando
conseguirmos mudar os nossos pensamentos, os nossos
novos sentimentos irão começar a surgir e teremos dado
o primeiro passo na estrada para a liberdade pessoal.

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ASSUMIR O CONTROLO DE SI MESMO

Para olharmos para o silogismo de um ponto de vista


mais pessoal, vamos considerar o caso do Cal, um jovem
executivo que passa a maior parte do tempo em agonia
pelo facto de o seu chefe achar que ele é estúpido. O Cal
está muito infeliz porque o seu chefe tem uma fraca opi‑
nião sobre ele. Mas se o Cal não soubesse que o seu chefe
acha que ele é estúpido, seria infeliz? Claro que não. Como
é que poderia estar infeliz por uma coisa que não sabia?
Então, aquilo que o chefe pensa ou deixa de pensar não o
está a fazer infeliz. O que o Cal pensa é que o faz infeliz.
Além disso, o Cal faz­‑se infeliz a si mesmo ao convencer­‑se
de que aquilo que outra pessoa pensa é mais importante do
que aquilo que ele próprio pensa.
Esta mesma lógica aplica­‑se a todos os eventos, coisas e
pontos de vista pessoais. Não é a morte de alguém que o deixa
infeliz; não se pode ficar infeliz antes de saber da morte, por
isso não é a morte, mas sim aquilo que se diz a si mesmo
sobre o acontecido. Os furacões não são deprimentes só
por si; a depressão é unicamente humana. Se está deprimido
por causa de um furacão, está a dizer a si mesmo algumas
coisas que o deprimem. Isto não quer dizer que se deva iludir
a si mesmo e apreciar o furacão, mas pergunte a si mesmo:
«Porque é que eu hei de escolher a depressão? Ela vai ajudar­
‑me a ser mais eficaz a lidar com isto?»
Tendo crescido numa cultura que lhe ensinou que não é
responsável pelos seus sentimentos, embora a verdade silogís‑
tica diga que sempre foi, aprendeu uma série de frases para
se defender do facto de controlar realmente os seus senti‑
mentos. Aqui está uma breve lista de frases feitas que já usou
muitas vezes. Examine a mensagem que elas transmitem.

• «Feriste os meus sentimentos.»


• «Fazes­‑me sentir mal.»
• «Não posso evitar sentir­‑me assim.»

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AS TUAS ZONAS ERRÓNEAS

• «Sinto­‑me simplesmente irritado, não me peças para


explicar porquê.»
• «Ele põe­‑me doente.»
• «As alturas assustam-me.»
• «Estás a embaraçar­‑me.»
• «Ela deixa­‑me excitado.»
• «Fizeste­‑me fazer figura de parvo em público.»

A lista é potencialmente interminável. Cada frase con‑


tém a mensagem intrínseca de que não é responsável pela
maneira como se sente. Agora reescreva a lista para que
fique correta, refletindo o facto de controlar a forma como
se sente e que os seus sentimentos vêm dos pensamentos
que tiver a respeito de qualquer coisa.

• «Feri os meus sentimentos por causa das coisas que


disse a mim mesmo a respeito da tua reação.»
• «Fiz­‑me sentir mal a mim mesmo.»
• «Eu posso evitar sentir­‑me assim, mas escolhi ficar
perturbado.»
• «Decidi ficar irritado porque normalmente consigo
manipular os outros com a minha raiva, porque eles
pensam que eu os controlo.»
• «Ponho­‑me doente a mim mesmo.»
• «Assusto­‑me a mim mesmo em sítios altos.»
• «Estou a embaraçar­‑me a mim mesmo.»
• «Excito­‑me a mim mesmo sempre que estou ao pé
dela.»
• «Fiz figura de parvo por levar mais a sério as tuas opi‑
niões a meu respeito do que as minhas próprias opiniões,
e por acreditar que os outros iriam fazer o mesmo.»

Talvez considere as frases da primeira lista meras figuras de


retórica que, na verdade, não significam grande coisa, apenas

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ASSUMIR O CONTROLO DE SI MESMO

fórmulas que se tornaram clichés na nossa cultura. Se este


é o seu raciocínio, então pergunte a si mesmo porque é que
as frases da segunda lista não se transformaram em clichés.
A resposta está na nossa cultura, que ensina o pensamento
da primeira lista e desencoraja a lógica da segunda lista.
A mensagem é clara como água. Cada um de nós é a
pessoa responsável pela maneira como se sente. Cada um
de nós sente aquilo que pensa, e pode aprender a pensar de
maneira diferente a respeito de qualquer coisa — se o decidir
fazer. Pergunte a si mesmo se há uma recompensa suficiente
no facto de estar infeliz, desanimado ou magoado. A seguir
comece a examinar, em profundidade, o tipo de pensamentos
que o estão a levar a esses sentimentos debilitantes.

Aprender a não ser infeliz:


uma tarefa árdua

Não é fácil pensar de maneiras novas. Cada um de nós está


acostumado a um certo tipo de pensamentos e aos pensa‑
mentos debilitantes que se seguem. Desaprender todos os
hábitos de pensamento assimilados até agora requer bastante
trabalho. A felicidade é fácil, mas aprender a não ser infeliz
pode ser difícil.
A felicidade é uma condição natural de sermos humanos.
A prova está bem à vista quando olhamos para as crianças.
Aquilo que é difícil é desaprender todos os «deveria» e os
«tenho de» que assimilou no passado. Assumir o comando
de si mesmo começa pela autoconsciência. Preste atenção
a si mesmo quando disser coisas como «Ele feriu os meus
sentimentos». Lembre­‑se do que está a fazer no momento em
que o faz. O novo pensamento requer que tenha consciência
do velho pensamento. Habituou­‑se a padrões mentais que
identificam as causas dos seus sentimentos como estando

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AS TUAS ZONAS ERRÓNEAS

fora de si mesmo. Gastou milhares de horas a reforçar esse


tipo de pensamento e vai precisar de equilibrar a balança com
milhares de horas de pensamento novo, um pensamento que
assume a responsabilidade pelos seus próprios sentimentos.
É duro, muito duro; mas e daí? Com certeza isso não é razão
para deixar de o fazer.
Lembre­‑se, em retrospetiva, de quando estava a aprender a
conduzir um automóvel de mudanças manuais. Foi confron‑
tado com aquilo que parecia um problema inultrapassável.
Três pedais mas só dois pés para os acionar. Primeiro ficou
ciente da complexidade da tarefa. Levantar a embraiagem
devagar, ups, demasiado depressa, mais umas sacudide‑
las, carregar no acelerador ao mesmo tempo que levanta a
embraiagem, usar o pé direito para o travão, mas também
é preciso carregar na embraiagem senão vai sacudir outra
vez. Um milhão de sinais mentais: sempre a pensar, a usar
o cérebro. O que é que eu faço? Estar ciente, e depois, ao fim
de milhares de tentativas, de erros e de novos esforços, vem
o dia em que se mete no carro e conduz. Sem parar, sem
sacudidelas e sem pensar. Conduzir com mudanças manuais
tornou­‑se uma segunda natureza, e como é que você con‑
seguiu? Com grande dificuldade. Pensando, recordando
e trabalhando muito no momento presente.
É capaz de regular a sua mente quando se trata de realizar
tarefas físicas, tais como ensinar as suas mãos e os seus pés
a coordenarem­‑se para conduzir um automóvel. No mundo
emocional, apesar de menos conhecido, o processo é idêntico.
Aprendeu os seus hábitos de agora ao reforçá­‑los ao longo de
toda a vida. Fica automaticamente infeliz, zangado, magoado
e frustrado porque aprendeu a pensar dessa maneira há
muito tempo. Aceitou o seu comportamento e nunca se
deu ao trabalho de o desafiar. Mas pode aprender a não ficar
infeliz, zangado, magoado ou frustrado, tal como aprendeu
a sentir todas essas coisas autodestrutivas.

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ASSUMIR O CONTROLO DE SI MESMO

Por exemplo, aprendeu que ir ao dentista é uma expe‑


riência desagradável e associada à dor. Sempre sentiu que é
desagradável e até diz coisas a si mesmo, como «odeio aquela
broca». Mas todas essas reações são aprendidas. É possível
fazer toda a experiência funcionar a seu favor e não contra
si, decidindo tornar este procedimento agradável e excitante.
Se realmente decidisse usar o seu cérebro, poderia fazer
o som da broca representar uma bela experiência sexual e,
de cada vez que surgisse o som do brrrrrr, poderia treinar
a sua mente para visualizar o momento mais orgástico da sua
vida. Poderia pensar algo completamente diferente a respeito
daquilo a que costumava chamar dor e decidir sentir uma
coisa nova e prazerosa. Seria muito mais excitante e grati‑
ficante assumir o controlo e dominar o seu próprio mundo
dentário do que apegar­‑se às antigas imagens e suportá­‑lo
simplesmente.
Talvez continue cético. Pode dizer algo como «Eu posso
pensar em tudo o que quiser, mas vou continuar a ficar
infeliz quando ele começar a brocar». Pense novamente nas
mudanças manuais. Quando é que acreditou que conseguiria
conduzir? Um pensamento torna­‑se uma convicção quando
trabalha nele, não quando o experimenta uma única vez e
usa a sua incapacidade inicial como motivo para desistir.
Assumir o controlo de si mesmo envolve mais do que tentar
simplesmente experimentar novos pensamentos feitos à
medida. Requer a decisão de ser feliz e de desafiar e destruir
todo e qualquer pensamento que cria em si uma infelicidade
que o imobiliza.

Escolher — A sua liberdade fundamental

Se ainda acredita que ser infeliz não resulta de uma escolha


sua, tente imaginar esta sucessão de eventos. De cada vez

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AS TUAS ZONAS ERRÓNEAS

que fica infeliz, é sujeito a um tratamento qualquer que acha


desagradável. Talvez seja fechado num quarto, sozinho, por
longos períodos de tempo, ou, pelo contrário, forçado a entrar
num elevador apinhado, onde terá de ficar durante dias. Pode
ser privado de alimentos ou obrigado a comer um prato que
acha particularmente desagradável. Ou talvez seja torturado
— fisicamente torturado por outras pessoas, em vez de ser
mentalmente torturado por si próprio. Imagine que era
sujeito a qualquer um destes castigos até fazer desaparecer
os seus sentimentos de infelicidade. Quanto tempo é que
acha que ia continuar a apegar­‑se a eles? O mais provável é
que assumisse rapidamente o controlo. Por isso a questão
não é se consegue controlar os seus sentimentos, mas sim
se está disposto a isso. O que é que precisa de suportar
antes de fazer essa escolha? Algumas pessoas escolhem
enlouquecer em vez de assumir o controlo. Outras desistem
simplesmente e sucumbem a uma vida de tristeza porque
os dividendos de piedade que recebem são maiores do que
a recompensa de serem felizes.
A questão aqui é a sua própria capacidade para escolher
a felicidade, ou pelo menos para não escolher a infelicidade
em qualquer momento da sua vida. Talvez seja uma noção
surpreendente, mas é algo que deve considerar cuidadosa‑
mente antes de a rejeitar, uma vez que descartá­‑la é desistir
de si mesmo. Rejeitar é acreditar que não é o leitor, mas sim
outra pessoa qualquer, que o controla a si. Mas escolher ser
feliz poderá ser mais fácil do que algumas coisas que dia‑
riamente confundem a sua vida.
Tal como é livre para escolher a felicidade em vez da infe‑
licidade, também é livre para escolher um comportamento
que o deixe realizado em vez de um comportamento der‑
rotista, entre a infinidade de acontecimentos da vida quoti‑
diana. Se conduz nos tempos que correm, provavelmente
vê­‑se muitas vezes preso no trânsito. Fica irritado, pragueja

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ASSUMIR O CONTROLO DE SI MESMO

contra os outros condutores, ralha com os seus passageiros,


descarrega os seus sentimentos sobre qualquer pessoa ou
qualquer coisa que lhe apareça à frente? Justifica o seu com‑
portamento dizendo que o trânsito o deixa sempre irritado,
que simplesmente fica descontrolado num engarrafamento?
Se é assim, está acostumado a pensar determinadas coisas a
seu respeito e a respeito da maneira como se comporta no
trânsito. Mas e se decidisse pensar de maneira diferente?
E se decidisse usar a sua mente de uma maneira produtiva?
Levará algum tempo, mas pode aprender a falar consigo de
novas maneiras, para se habituar a um novo comportamento
que pode incluir assobiar, cantar, ligar um gravador para ditar
cartas ou até estabelecer um adiamento de 30 segundos à
sua raiva. Não terá aprendido a gostar do trânsito, mas terá
aprendido a praticar novos pensamentos, ainda que devagar,
ao princípio. Terá decidido não ficar desconfortável. Terá esco‑
lhido ir substituindo as velhas emoções de autoderrota por
sentimentos e por hábitos saudáveis, em passos lentos e
progressivos.
Pode mesmo escolher tornar qualquer experiência agra‑
dável e desafiante. Festas aborrecidas e reuniões de trabalho
são terreno fértil para escolher novas sensações. Quando der
por si entediado, pode fazer a sua mente funcionar de formas
estimulantes, mudando de assunto com uma observação
pertinente, escrevendo o primeiro capítulo do seu livro ou
trabalhando em novos planos que o irão ajudar a evitar estas
situações no futuro. Usar ativamente a sua mente significa
avaliar as pessoas e os eventos que lhe causam mais dificul‑
dades e a seguir decidir empreender novos esforços mentais
para os fazer funcionar a seu favor. Num restaurante, se nor‑
malmente se irrita quando é mal atendido, pense primeiro
em motivos para decidir não se irritar com alguém, ou com
alguma coisa, quando as coisas não correm da forma como
gostaria. É demasiado valioso para se deixar irritar pelos

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AS TUAS ZONAS ERRÓNEAS

outros, especialmente por alguém que tem tão pouca impor‑


tância na sua vida. Em seguida pense em estratégias para
mudar a situação, ou vá­‑se embora, ou qualquer outra coisa.
Mas não se deixe perturbar. Use o seu cérebro para que ele
trabalhe a seu favor e acabará por ter o hábito fantástico de
não ficar perturbado quando as coisas correm mal.

Escolher a saúde em vez da doença

Também pode escolher eliminar alguns padecimentos


físicos que não tenham origem numa qualquer disfunção
orgânica conhecida. Alguns achaques comuns, que muitas
vezes não têm origem em nenhuma doença fisiológica,
incluem as dores de cabeça, as dores nas costas, as úlceras,
a hipertensão, as urticárias, as erupções cutâneas, as cãibras,
as dores passageiras e coisas semelhantes.
Uma vez tive uma paciente que jurava ter uma dor de
cabeça todas as manhãs durante os últimos quatro anos.
Todas as manhãs, às 6h45, ela esperava que a dor surgisse e
a seguir tomava os seus comprimidos para as dores. Estava
também sempre a dizer aos amigos e aos colegas de trabalho
o quanto estava a sofrer. Foi sugerido à paciente que ela
queria ter as dores de cabeça e que as tinha escolhido de
facto como um meio para repararem nela e como forma
de receber compaixão e pena. Foi­‑lhe também sugerido
que ela poderia aprender a não desejar isto para si mesma
e treinar para fazer as dores de cabeça passarem de um
ponto situado no centro da sua testa para um dos lados da
cabeça. Ela iria aprender que controlava a dor de cabeça
fazendo­‑a mudar de sítio. Na primeira manhã, acordou às
6h30 e ficou na cama à espera da dor de cabeça. Quando a
dor surgiu, ela foi capaz de a fazer mudar de local na sua
cabeça, através do pensamento. Tinha escolhido algo novo

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ASSUMIR O CONTROLO DE SI MESMO

para si mesma e acabou por deixar de optar completamente


pelas dores de cabeça.
Há uma crescente quantidade de provas que sustentam
a noção de que as pessoas até escolhem coisas como tumo‑
res, gripe, artrite, doenças cardíacas, «acidentes» e mui‑
tas outras enfermidades, incluindo o cancro, que sempre
foram consideradas coisas que simplesmente acontecem às
pessoas. Ao tratarem pacientes considerados «terminais»
alguns investigadores estão a começar a acreditar que aju‑
dar o paciente a não querer a doença, sob qualquer forma,
pode ser um meio de atenuar o assassino interno. Algumas
culturas tratam a dor desta maneira, dominando completa‑
mente o cérebro e tornando o autocontrolo um sinónimo
de controlo cerebral.
O cérebro, que é composto por dez mil milhões de com‑
ponentes funcionais, tem capacidade de armazenagem
suficiente para aceitar dez factos novos a cada segundo.
Estima­‑se, por baixo, que o cérebro humano pode armazenar
uma quantidade de informação equivalente a cem triliões
de palavras e que todos nós usamos apenas uma minúscula
fração deste espaço de armazenamento. É um instrumento
poderoso que leva consigo para onde quer que vá, e pode
escolher dar­‑lhe algumas utilizações fantásticas que nunca
considerou até agora. Tenha isto em mente à medida que
avança pelas páginas deste livro, e tente escolher novas
maneiras de pensar.
Não se precipite a chamar charlatanice a este controlo.
A maioria dos médicos tem visto pacientes que escolhe‑
ram uma maleita física para a qual não há nenhuma causa
fisiológica conhecida. Não é invulgar nos indivíduos que
ficam misteriosamente doentes quando são confronta‑
dos com qualquer tipo de circunstância difícil, ou que
evitam a enfermidade quando esta é simplesmente «im‑
possível» nessa altura, adiando os efeitos, talvez mesmo

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AS TUAS ZONAS ERRÓNEAS

a febre, até o grande evento ter terminado, e só então se


vão abaixo.
Conheço o caso de um homem de 36 anos encurralado
num casamento horrível. No dia 15 de janeiro decidiu que
iria deixar a mulher no dia 1 de março. No dia 28 de fevereiro
desenvolveu uma febre de 40 graus e começou a vomitar
incontrolavelmente. Isto tornou­‑se um padrão recorrente:
de cada vez que ele tomava coragem, tinha uma gripe ou
um ataque de indigestão. Ele estava a fazer uma escolha.
Era mais fácil estar doente do que encarar a culpa, o medo,
a vergonha e o desconhecido que viriam da separação.
Preste atenção aos anúncios que vemos e ouvimos na
televisão.
«Eu sou um corretor da bolsa… por isso pode imaginar
a tensão e as dores de cabeça que eu tenho. Tomo esta pas‑
tilha e o mal­‑estar desaparece.» Mensagem: Você não pode
controlar a forma como se sente quando tem um certo tipo
de emprego (professores, executivos, pais), por isso confie
noutra coisa para fazer isso por si.
Todos os dias somos bombardeados com mensagens
como esta. A implicação é clara. Nós somos prisioneiros
indefesos que têm de ter alguém, ou alguma coisa, que faça
as coisas por nós. DISPARATE. Só nós podemos melhorar
a nossa parte e fazer­‑nos felizes a nós mesmos. Depende de
si assumir o controlo da sua própria mente e treinar para se
sentir e para se comportar da maneira que escolher.

Evitar a imobilidade

Quando considerar o seu potencial para escolher a felicidade,


tenha em mente a palavra imobilidade como o indicador das
emoções negativas na sua vida. Pode acreditar que por vezes
vale a pena ter sentimentos como a raiva, a hostilidade,

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ASSUMIR O CONTROLO DE SI MESMO

a timidez e outros semelhantes, e por isso quer apegar­‑se a


eles. Avalie até que ponto fica de algum modo imobilizado
pelo sentimento.
A imobilização pode ir da inatividade total a uma ligeira
indecisão e hesitação. A sua raiva impede­‑o de dizer, sentir
ou fazer alguma coisa? Se assim for, você está imobilizado.
A sua timidez impede­‑o de falar com as pessoas que quer
conhecer? Se assim for, você está imobilizado e a perder
experiências que são suas por direito. O seu ódio e o seu
ciúme estão a ajudá­‑lo a criar uma úlcera ou a subir a sua
tensão arterial? Isso impede­‑o de trabalhar com eficiência no
emprego? É incapaz de dormir ou de fazer amor por causa
de um sentimento negativo no momento presente? Tudo
isto são sinais de imobilização. Imobilização: Um estado,
ligeiro ou grave, onde não funcionamos ao nível que gos‑
taríamos de funcionar. Se os sentimentos o deixam neste
estado, não precisa de procurar mais nenhuma razão para
se ver livre deles.
Aqui está uma breve lista de algumas situações nas quais
pode estar imobilizado. Vão dos menores aos maiores estados
de imobilidade.

Você está imobilizado quando…


Não consegue falar carinhosamente com o seu cônjuge
ou com os seus filhos, embora tenha vontade de o
fazer.
Não consegue trabalhar num projeto que lhe interessa.
Não faz amor, mas gostaria de fazer.
Fica o dia todo sentado em casa a matutar.
Não pratica golfe, ténis ou outra atividade agradável por
causa de uma sensação corrosiva que não o larga.
Não consegue meter conversa com alguém que o atrai.
Evita falar com alguém quando se apercebe de que um
simples gesto iria melhorar o vosso relacionamento.

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AS TUAS ZONAS ERRÓNEAS

Não consegue dormir porque alguma coisa o está a


incomodar.
A sua raiva impede­‑o de pensar claramente.
Diz qualquer coisa abusiva a alguém que ama.
Tem tremuras no rosto ou está tão nervoso que não
consegue agir como queria.

A imobilização abrange uma vasta área. Virtualmente,


todas as emoções negativas resultam em algum grau de
imobilização, e só isto é uma razão sólida para as eliminar
completamente da sua vida. Talvez agora esteja a pensar nas
ocasiões em que uma emoção negativa pode trazer alguma
vantagem, como gritar a uma criança em tom zangado para
enfatizar que não quer que ela brinque na rua. Se o tom zan‑
gado é apenas um recurso para enfatizar e funciona, então
adotou uma estratégia saudável. No entanto, se grita com
os outros, não para salientar uma questão, mas sim porque
está internamente perturbado, então está a imobilizar­‑se a
si mesmo e está na altura de trabalhar em novas escolhas,
que o ajudem a atingir o objetivo de evitar que o seu filho
brinque na rua, sem experimentar sentimentos dolorosos.
Para mais sobre comportamentos coléricos e de «pavio­‑curto»
ver o Capítulo XI.

A importância de viver
no momento presente

Uma maneira de combater a imobilidade, por ligeira que seja,


é aprender a viver no momento presente. Viver no momento
presente, entrar em contacto com o seu «agora», está no
cerne da vida produtiva. Se pensar bem nisso, constatará que
na verdade não existe outro momento em que alguma vez
possa viver. O agora é tudo o que existe e o futuro é apenas

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ASSUMIR O CONTROLO DE SI MESMO

outro momento presente para viver quando lá chegar. Uma


coisa é certa; não podemos vivê­‑lo enquanto ele não ocorrer.
Contudo, o problema aqui é o facto de vivermos numa cultura
que desvaloriza o presente. Poupe para o futuro! Considere
as consequências. Não seja hedonista. Pense no amanhã.
Planeie a sua reforma.
Evitar o momento presente é quase uma doença na nossa
cultura, e nós estamos continuamente a ser condicionados
para sacrificar o presente em função do futuro. Levada até
à sua conclusão lógica, esta atitude não é meramente evitar
desfrutar agora, mas sim evitar a felicidade para sempre.
Quando o futuro chega, torna­‑se o presente, e nós temos de
o utilizar para nos prepararmos para o futuro. A felicidade é
algo para o amanhã, e por isso nos escapa sempre.
A doença de evitar o momento presente assume muitas
formas. Aqui estão quatro exemplos típicos deste compor‑
tamento evasivo.
A Sra. Sally Forth decide ir para a mata para absorver a
natureza e entrar em contacto com os seus momentos pre‑
sentes. Enquanto está na mata deixa a sua mente vaguear e
foca­‑se em todas as coisas que deveria estar a fazer em casa:
os miúdos, as compras, a casa, as contas, estará tudo bem?
Outras vezes a sua mente dá um salto em frente, para todas
as coisas que ela terá de fazer quando sair da mata. Lá se vai
o presente, ocupado por eventos passados e futuros, e aquela
rara oportunidade para se deleitar no momento presente
naquele ambiente natural está perdida.
A menina Sandy Shore vai para as ilhas para se divertir
e passa as férias todas estendida ao sol — não pelo prazer
de sentir o sol no seu corpo, mas por antecipação daquilo
que os seus amigos irão dizer quando ela regressar com
um bronzeado magnífico. A sua mente está num momento
futuro, e quando esse momento futuro chegar, ela ir­‑se­‑á
lamentar por já não poder estar na praia a apanhar sol.

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