Assia

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

DO MARANHÃO – IFMA
CAMPUS SÃO RAIMUNDO DAS MANGABEIRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU EM
INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO

OS IMPACTOS SOCIAIS, COGNITIVOS E AFETIVOS SOBRE A


GERAÇÃO DE ADOLESCENTES CONECTADOS ÀS TECNOLOGIAS
DIGITAIS

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Orientador(a)
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Resumo

O presente trabalho objetiva discutir, mediante o olhar


psicopedagógico, as consequências do uso indiscriminado de tecnologias
digitais pelos adolescentes. Trata se de um estudo bibliográfico, de caráter
exploratório, sobre o tema. Para tanto, formulou-se a seguinte questão
norteadora: De que forma o uso das tecnologias digitais afetam os
adolescentes em âmbito social, afetivo e educacional? Assim, verificou-se
um conjunto expressivo de pesquisas sobre o tema. De acordo com dados
do Comitê Gestor da Internet no Brasil (2014), cerca de 81% dos
adolescentes fazem uso da internet todos os dias, evidenciando a
abrangência do uso das tecnologias digitais e mostrando a importância da
investigação científica sobre temas correlatos.
O texto apresenta as informações coletadas e sistematizadas em
seções que tratam das implicações afetivas, principalmente na relação com
a família; sociais, abordando questões que afetam as relações sociais reais
e virtuais; e cognitivas, destacando as funções cerebrais modificadas e os
efeitos para a aprendizagem. Como principais resultados destacam-se: os
conflitos familiares, decorrentes do distanciamento e da ausência de diálogo;
a predominância de relações superficiais e de falsa intimidade e a ilusão de
que tudo é possível; dificuldades de aprendizagem decorrentes da
dependência da internet, transtornos de ansiedade e déficit de atenção

Palavras-chave: Adolescência, Cognição, Família, Psicopedagogia,


Tecnologias Digitais

Abstract
The following paper has the objective of discuss, by the
psychopedagogic insight, the consequences of the indiscriminate use of
digital technologies by the teenagers. It’s a bibliographic study, with an
exploratory bias, about the theme. Therefore, it was formulated the following
guiding question: In which way the use of digital technologies affects the
teenagers in a social, affective an educational scope? Thus, it was found an
expressive amount of research about the theme. According with the data of
the Manager Committee of internet in Brazil (2014), around 81% of the
teenagers uses internet every day, showing the comprehensiveness of the
use of digital technologies, and showing the importance of the scientific
investigation about related themes.
The text presents the information’s collected and systemized in
sections, that feature the affective implications, mainly in family relation;
social, approaching questions that affect the real and virtual social relations;
and cognitive, highlighting the changed cerebral functions and the effects in
learning. As principal results stand out: the family conflict, caused by
detachment and lack of dialogue; the prominence of superficial relations and
false intimacy and the illusion that everything is possible; obstacles in
learning because of the internet dependency, anxiety disorders and attention
deficit

Key-words: Adolescence, Cognition, Family, Psych pedagogy, Digital

Technologies

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, se discute sobre os impactos do uso excessivo das


tecnologias digitais pelos adolescentes, levantando questionamentos sobre
os seus benefícios ou malefícios para o desenvolvimento social, cognitivo e
afetivo.
É notável que os adolescentes lideram o ranking de uso de celulares
e internet. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), em seu último censo realizado em 2010, e do Comitê Gestor da
Internet no Brasil (CGI. Br), realizado em 2014, notou-se que dentre um
conjunto de 34,1 milhões de pessoas, entre 10 e 19 anos de idade, existente
no país, cerca de 81% fazem uso da internet todos os dias, evidenciando
como a internet está inserida nos lares brasileiros e o seu poder de
persuasão.
É imprescindível observar que a tecnologia é apontada como um meio
facilitador na questão do ensino, porque os professores podem utilizar para
pesquisas, fontes ilustrativas, vídeos educativos etc. Além disso, o mercado
de trabalhos e as relações sociais estão a cada dia mais articulados por
processos mediados por tecnologias digitais. Entretanto, vários estudiosos
estão abordando o modo como o uso excessivo dessas tecnologias afeta os
adolescentes de forma social, afetiva e cognitiva. Assim, o presente estudo,
tem como objetivo discutir, mediante o olhar psicopedagógico, as
consequências do uso indiscriminado de tecnologias digitais pelos
adolescentes.
Essa pesquisa é do tipo bibliográfico, sendo desenvolvida a partir de
outros estudos já produzidos sobre o tema. O texto está dividido em três
seções, que contemplam as informações relevantes para responder ao
questionamento levantado, criando uma linha de pensamento, que aborda o
problema proposto, quais sejam: a influência da tecnologia sobre os
adolescentes no ambiente familiar, em que retrata questões sobre
afetividade, a relação dos adolescentes com a família juntamente com as
tecnologias digitais; Sua vida no espaço real e virtual, apresentando como a
tecnologia interfere nas relações dentro e fora do ambiente virtual; O que se
perde e que se ganha na cognição, mostrando os problemas causados pelo
excesso de uso das tecnologias digitais.
O interesse por essa temática surgiu a partir de uma observação no
estágio supervisionado do curso de Psicopedagogia, em que se notou que o
uso excessivo das 4 tecnologias digitais por adolescentes, poderia estar
prejudicando o processo de aprendizagem. A partir deste fato, teve-se a
curiosidade de entender com mais profundidade o assunto.

2 FAMÍLIA, ADOLESCÊNCIA E TECNOLOGIAS DIGITAIS.


O ser humano, ao longo de toda a sua vida, é influenciado e influencia
o seu meio, cria laços familiares, profissionais e amistáveis, assim gerando a
sua identidade, buscando distinguir o que é certo ou errado. Porém, suas
escolhas são feitas, principalmente, sobre o embasamento familiar. Na
adolescência, é que suas escolhas são desenvolvidas, buscando seu
espaço diante do mundo. O atual conceito de família está ligado à
afetividade como elemento principal; através das relações de afeto,
desenvolvemos as melhores capacidades, reativamos habilidades natas,
transformamos nossa personalidade e retificamos nossos traços de caráter
que precisam ser realinhados. Os pais têm o dever de educar e criar os
filhos sem negar-lhes a atenção necessária para a formação da
personalidade (CHALITA, 2001).

[...] a família tem a responsabilidade de formar o caráter, de


educar para os desafios da vida, de perpetuar valores éticos e
morais. Os filhos se espelhando nos pais e os pais
desenvolvendo a cumplicidade com os filhos. [...] A preparação
para a vida, a formação da pessoa, a construção do ser são
responsabilidades da família. É essa a célula mãe da sociedade,
em que os conflitos necessários não destroem o ambiente
saudável. (CHALITA, 2001, p. 20).

Os filhos, por muitas vezes, utilizam os exemplos familiares como


espelho. O ambiente familiar é de extrema influência na formação da
identidade de cada ser, portanto, os valores, os objetivos, os ensinamentos
são adquiridos a partir do meio em que a criança está inserida. Segundo Lev
Vygotsky (1986), na ausência do outro, o homem não se constrói homem,
pois, para ele, apenas as funções biológicas e psicológicas elementares, não
são suficientes para promover um ambiente de aprendizado completo;
necessitando assim do meio.
Neste contexto, a família é um fator que determina o desenvolvimento
do indivíduo, operando uma forte influência desde a sua vida infantil para a
adulta, sendo também, responsável pelos primeiros contatos afetuosos. É na
família que se encontra todo o referencial de costumes, crenças e valores. É
nela que a criança inicia sua jornada de vida, desenvolve seus estágios de
aprendizagem piagetianos, dando continuidade na fase da adolescência,
período este que marca um estado de transição do indivíduo, evoluindo de
um estado de intensa dependência para uma condição de autonomia
pessoal.
A adolescência pode se dizer que é um evento previsível, que
apresenta grande impacto na vida familiar, além de ser considerada como
uma crise importante no contexto da família. (KALINA, 1999, TALLÓN; cols,
1999). É uma fase marcada por mudanças evolutivas rápidas e intensas nos
sistemas biológicos, psicológicos e sociais. (MARTURANO, ELIAS;
CAMPOS, 2004).

[...] esse ciclo corresponde a um período de descobertas


dos próprios limites, de questionamentos dos valores, das
normas familiares e de intensa adesão aos valores e normas do
grupo de amigos. Nessa medida, é um tempo de rupturas e
aprendizados, uma etapa caracterizada pela necessidade de
integração social, pela busca da autoafirmação e da
independência individual e pela definição da identidade sexual
(SILVA; MATTOS, 2004, p. 34).
Sendo assim, a adolescência é uma fase em que o sujeito se
encontra na busca da identidade. Surge à necessidade de responder a
diversas dúvidas, que levam os adolescentes a agirem e pensarem com
intuito de traçar planos e tomar decisões a fim de encontrar o seu lugar na
sociedade. Entretanto, muitas vezes, devido a essas necessidades, o
adolescente apresenta reações impactantes em relação às autoridades em
geral, principalmente dos pais ou responsáveis, sendo uma etapa, na qual
as regras costumam ser questionadas ou negadas.
Nessa etapa do desenvolvimento, o indivíduo passa por
momentos de desequilíbrios e instabilidades extremas, sentindo-
se muitas vezes inseguro, confuso, angustiado, injustiçado,
incompreendido por pais e professores, o que pode acarretar
problemas para os relacionamentos do adolescente com as
pessoas mais próximas do seu convívio social. Entretanto, essa
crise desencadeada pela vivência da adolescência é de
fundamental importância para o desenvolvimento psicológico
dos indivíduos. (DRUMMOND, 1998 apud PRATTA, 2007, p.
253).
Dessa maneira, esse é um processo no qual o adolescente passa por
grandes transformações, principalmente no que se refere à comunicação no
contexto familiar. Por isso, é de grande importância à comunicação entre os
pais e os filhos.
A literatura ressalta ainda que o aumento desses conflitos geralmente
está acompanhado de uma diminuição na proximidade do convívio,
principalmente em relação ao tempo que adolescentes e pais passam juntos
(STEINBERG; MORRIS, 2001, p. 52).
Segundo Alves (2011, p. 25),
[...] é importante que pais e mães atentem-se ao mundo
frequentado por seus filhos – seja ele real ou virtual.
Acompanhar e encontrar, desde os primeiros passos digitais dos
filhos, oportunidades de tornar a tecnologia uma aliada no
estreitamento das relações familiares é mandatório para pais e
mães que não desejam viver em mundos totalmente diferentes
dos seus filhos no futuro.
As tecnologias digitais usadas de forma inadequada e excessiva
entram como catalisação para alterar a forma como o convívio familiar é
tratado. Elas abrem uma lacuna nas relações familiares, deixando pais e
filhos em mundos totalmente diferentes. Para Velloso (2014), chamam-se de
Novas Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação1 às tecnologias e
métodos para comunicar surgidas no contexto da Revolução
Informacional2 , Considera-se que o advento destas novas tecnologias (e a
forma como foram utilizadas por governos, empresas, indivíduos e setores
sociais), possibilitou o surgimento da sociedade da informação.
A forma de como essas tecnologias digitais foram inseridas no
contexto familiar, vem alterando o formato que a família se reúne,
evidenciando que o diálogo e a participação na vida dos adolescentes é
bastante importante. Segundo Dumazedier (1994), a conversação não
morreu, mas mudou, incluindo então um terceiro grupo, o dos atores,
apresentadores e estrelas da televisão, novos convidados da noite.
De acordo com uma entrevista concedida pelo jornal americano New
York Times, Steven Paul Jobs, criador da Apple, entre outros3 , declarou
não permitir que os filhos usassem aparelhos tecnológicos, mesmo sendo
máquinas de sua própria invenção, surpreendendo o entrevistador Nick
Bilton (Jornalista britânico, especialista na área da tecnologia). Bilton (2010)
relata que em várias entrevistas feitas com os renomados líderes de
potências mundiais na área da tecnologia digital, eles apresentaram opiniões
semelhantes à de Jobs. Exemplos como Chris Anderson, Alex
Constantinople e Evan Williams, que mencionaram em entrevistas, os limites
de tempo, o controle de todos os aparelhos digitais, além das restrições
impostas, compartilhando assim da mesma ideia, sob a alegação dos riscos
das tecnologias digitais, dentre os quais incluem exposição a conteúdo
prejudicial, como pornografia, bullying, vício nos aparelhos, problemas
sociais, cognitivos e afetivos.
Dessa maneira, podemos enfatizar a importância de negociar regras e
limites com os adolescentes. Porém, é fácil nos depararmos com o fato de
que a maioria dos responsáveis faz exatamente o contrário, permitindo que
os adolescentes, ultrapassem o tempo limite de uso das tecnologias digitais.

3 O ADOLESCENTE E A VIDA NO ESPAÇO REAL E VIRTUAL

Com a crescente entrada da tecnologia digital no cotidiano do ser


humano, novos problemas sociais e comportamentais surgem. Diante desse
cenário, o acesso fácil e irracional dos meios tecnológicos pode acarretar
uma dependência digital. Segundo Schwartz (2005 apud NARDON, 2006), a
internet está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas,
principalmente na vivência dos jovens. Os adolescentes como camada social
que é mais susceptível às transformações das tecnologias digitais herdam
assim a facilidade de adquirir um vício. Dessa forma, a tecnologia torna-se
um fator de isolamento social, comprometendo a capacidade de socialização
dos adolescentes, que não conseguem mais distinguir a realidade do mundo
virtual.
De acordo com Nardon (2006), é na adolescência que o convívio
social se amplia, com a participação nos diferentes grupos, aos quais os
adolescentes pertencem, como: escola, esportes, cursinhos, lazer, entre
outros. Porém, nem sempre é assim, o que deveria ser uma relação de
afetividade e encontro com grupos do mesmo interesse, fica em alguns
casos a mercê da comunicação digital. Lévy (2000, p. 214) “reconhece que
há dependentes na internet que passam horas em frente ao computador,
participando de salas de bate-papo, de jogos on-line ou até mesmo,
surfando interminavelmente de página em página”. Esse autor, também
afirma que no presente, os adolescentes estão trocando as conversas
pessoais socializadoras por um mundo virtual em que se comunicam através
de chats, mensagens instantâneas, blogs, jogos online e redes sociais,
partilhando de uma nova cultura, na qual a interação se dá apenas por
meios eletrônicos.
Para Piaget, o “ser social” é justamente aquele que consegue
relacionar-se com seus semelhantes da forma equilibrada. Evidenciando,
dessa forma, que o ser humano necessita de convívio social. Nardon (2006)
expõe que os adolescentes, que estabelecem um bom relacionamento
social, têm mais possibilidades de construírem um bom desenvolvimento
psicossocial. O uso contínuo da internet faz com que não se desenvolvam
com plenitude, podendo ter dificuldades na vida adulta. Nesse sentido, o uso
desmoderado da internet pode acarretar uma confusão do real com o virtual.
As tecnologias digitais vêm alterando a forma das pessoas de interagir,
inibindo a interação física e gerando um comodismo, podendo causar
problemas sociais como a separação do indivíduo do convívio social,
chegando à solidão e à depressão.
Pelo fato dos adolescentes estarem permanentemente interligados
nas redes digitais, a distância real entre as pessoas, seja afetiva ou
socialmente, se torna progressivamente presente no cotidiano da sociedade.
Esse afastamento social se agrava na evolução da dinâmica entre os seres
humanos, sendo foco principal de estudo de muitos pesquisadores.
O tempo gasto na vida online vem causando, desde
meados de 2008, algumas discussões e correntes contra a
chamada hiperconexão ininterrupta, que vão da hipótese sobre a
diferença do funcionamento do cérebro das pessoas que
passam tempo em demasia na internet, descrita no livro
Geração Superficial de Nicholas Carr (2010), passando pela
“iDisorder”, de Larry Rosen (2012), que defende que a obsessão
por gadgets causa transtornos psiquiátricos na população
mundial. (BURGOS, 2013 apud NETO, 2013, p. 95).
Um estudo sobre o uso excessivo da tecnologia por adolescente
apontou que eles podem desenvolver características narcisistas7 , ter
comportamento antissocial, tendências agressivas, manias, distúrbios do
sono, ansiedade, depressão, problemas na linguagem escrita e transtornos
de atenção e aprendizagem, sendo essas umas das disfunções mais
comuns entre esses usuários. Os problemas, segundo a pesquisa do Dr.
Larry Rosen , foram observados entre os mais de 1 mil adolescentes
entrevistados para o trabalho.
Sendo assim, os adolescentes dessa era digital em constante relação
com as tecnologias digitais correm o risco de ficarem dependentes da
conexão permanente. Essa postura pode provocar vários distúrbios,
perturbações e vícios, relacionados com essa overdose virtual.

4 O QUE SE GANHA E SE PERDE COGNITIVAMENTE?


A tecnologia sempre afetou o homem, desde a introdução dos rádios
e televisores nos lares, o que contribuiu para diversas mudanças de hábitos.
Nos últimos anos, essas alterações vêm se tornando mais visíveis,
principalmente quando se observa os adolescentes. Eles estão em maior
contato com o mundo digital, gerando assim diversos problemas, devido a
estarem sempre dividindo a sua atenção entre o mundo real e o virtual.
Dados do Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGIbr (2014),
apresentam que o nível de frequência de uso da internet por adolescentes
para determinadas atividades como a troca de mensagens instantâneas, é
bem superior ao uso para pesquisas escolares.

Figura 1 – Proporção de crianças e adolescentes, por frequência de


uso da internet, para cada atividade realizada no último mês.
Tornando mais sólido o fato de que os adolescentes são os mais
propícios a serem afetados pelo uso intenso de tecnologias digitais. O uso
individual da internet dentro do quarto está cada vez mais consolidado,
devido ao individualismo em que as famílias estão vivenciando. Esses dados
comprovam que o uso diário da tecnologia, sobretudo da internet, está mais
para o uso de mensagens instantâneas (75%) e redes sociais (56%), via
aplicativos de celulares e computadores, deixando para a quinta posição o
uso para pesquisas escolares (21%).
Números estes que evidenciam o uso excessivo dessas tecnologias
como um fator preocupante para o desenvolvimento cognitivo, podendo
trazer consequências como: isolamento social, falta de interesse nos
estudos e ansiedade (YOUNG, 1998). Essa forma de interferência da
tecnologia no cotidiano dos adolescentes pode exercer influência no seu
desenvolvimento educacional, alterando a sua cognição, termo empregado
para fazer referência aos mecanismos cognitivos individuais e distribuídos,
inerentes às atividades em colaboração que envolve percepção, atenção,
memória, linguagem e raciocínio, atividades cujas origens são culturais
(TOMASELLO 1999; CALL, 1997). Em outras palavras, cognição é o ato ou
processo da aquisição de conhecimento, sendo também um procedimento
pelo qual o ser humano interage com seus semelhantes e com o meio em
que vive, sem perder a sua identidade existencial.
O poder exercido pelas tecnologias digitais sobre os adolescentes
afeta a cognição, devido ao fato das estimulações audiovisuais e emocionais
estarem em sua atividade máxima. O grande volume de dados recebidos
pelo cérebro, na forma de texto, imagens e vídeos, pode fazer com que a
memória de trabalho fique saturada, ocasionando uma sobrecarga cognitiva.
Segundo Cánovas (2015), em nenhum momento, é permitido ao cérebro
ativar a sua memória de longo prazo, toda essa informação não gera
conhecimento.
O acesso à informação não é garantia que disso resulte
conhecimento e, muito menos aprendizagem. Para que tal
ocorra, é necessário que, frente às informações apresentadas,
as pessoas possam reelaborar o seu conhecimento, visando
uma nova construção. Esta construção deverá estar alicerçada
em parâmetros cognitivos que envolvam a auto regulação,
aspectos motivacionais, reflexão e criticidade frente a um fluxo
de informações que se atualizam permanentemente.
(CASTELLS, 2003, p. 129).
A crescente detecção desses transtornos mostra como é preocupante
a forma com que as tecnologias digitais estão afetando os adolescentes,
sendo necessário ter o cuidado para que sua utilização não interfira nos
processos relacionados à aprendizagem. Deixando de forma clara seus
limites, pois com o uso excessivo pode-se ganhar muitos problemas e perder
habilidades funcionais para a construção do conhecimento.

5 METODOLOGIA
Entendemos por metodologia o processo pelo qual se pode alcançar
um determinado objetivo. Como afirma Minayo (2011, p. 16), “a metodologia
inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas que
possibilita a construção da realidade e o sopro divino do potencial criativo do
investigador”.
A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento
de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios
escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de
web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma
pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o
que já se estudou sobre o assunto. (FONSECA, 2002, p. 32).
O presente estudo caracteriza-se como uma revisão de literatura,
levantando o conhecimento atual veiculado na literatura especializada
acerca dos impactos sociais, cognitivos e afetivos sobre a geração de
adolescentes conectados às tecnologias digitais, a partir de um processo de
coleta e análise de dados bibliográficos. As fases da metodologia
encaminham a pesquisa com o interesse de responder a pergunta inicial que
deu origem ao trabalho. As fontes utilizadas para a elaboração do estudo
foram publicações relevantes sobre a temática, reunidas em livros, artigos
de periódicos científicos, teses, dissertações, relatórios e revistas, listados
nas referências.
Assim, a pesquisa foi desenvolvida nas seguintes etapas, segundo
Salvador (1986) apud Lima; Mioto (2007, p.41):
• Busca e seleção de fontes em bases de dados digitais: Google
Acadêmico, Periódicos Capes, Bibliotecas Digitais da CAPES e do IBICT; 17
• Leitura exploratória de todo o material selecionado (leitura rápida
que objetiva verificar se a obra consultada é de interesse para o trabalho);
• Leitura seletiva (leitura mais aprofundada das partes que realmente
interessam);
• Registros das informações extraídas das fontes em instrumento que
específico elaborado para atender aos propósitos da pesquisa (autores, ano,
método, resultados e conclusões).
O estudo conseguiu reunir 20 textos publicados, compondo um
conjunto de 10 livros/capítulos de livros, 5 artigos e 3 materiais de revista ou
da web. O texto foi elaborado a partir da sistematização das informações em
um esquema de tópicos que organizam a discussão e encaminham uma
linha de pensamento para guiar o leitor a um melhor entendimento sobre o
assunto. O resultado final busca responder ao problema proposto sobre os
impactos sociais, cognitivos e afetivos sobre a geração de adolescentes
conectados às tecnologias digitais.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

É interessante nesta etapa da pesquisa elaborar a análise e


discussão das informações apresentadas na revisão de literatura, com
auxílio do método comparativo a fim de consolidar os pressupostos teóricos,
através de pesquisas e dados sobre o tema. O qual buscou discutir os
impactos sociais, cognitivos e afetivos sobre a geração de adolescentes
conectados às tecnologias digitais. Foram abordados assuntos relacionados
ao uso excessivo da tecnologia digital pelos adolescentes e de que modo
prejudicam o sujeito em estudo.
Dessa forma, evidencia-se a importância de sistematizar os
resultados em três tópicos: Família, Adolescência e Tecnologias Digitais:
No qual foi enfatizado a forma como as tecnologias digitais afetam o diálogo
dentro do ambiente familiar e no fator social. Destacando a importância da
comunicação familiar, com base nos textos de Chalita (2001), observamos
que é essencial promover um ambiente seguro e comunicativo para ter um
local propício à formação saudável de um adolescente. Observando as
ideias de Kalina, Tallón; Cols (1999), Marturano, Elias & Campos, Silva,
Mattos (2004), Pratta (2007), vemos que a adolescência é uma fase do ser
humano, marcadas por mudanças, conflitos, em que é facilmente
influenciado pelo 18 meio, alterando suas interações afetivas, portanto uma
fase em que o diálogo se torna importante em sua vida. Entretanto, com o
intenso acesso à tecnologia digital, não só esse diálogo face a face vem
sendo substituído pela comunicação mediada por tecnologias, como também
a interação social do sujeito com os grupos aos quais pertence. Hanaver
(2005) é bem persuasivo ao afirmar que as tecnologias estão fazendo com
que os adolescentes não saiam de casa, para ficar na frente do computador.
Morris e Steinberg (2001) ressaltam que o aumento entre os conflitos
afetivos está associado à diminuição da proximidade entre os entes
familiares, esta lacuna existente entre os integrantes da família pode ser
devido ao excesso de tempo gasto nas tecnologias digitais.
O adolescente e a vida no espaço real e virtual: No qual foi
abordada a temática de como se tornou a vida do adolescente no mundo
real e virtual. Nesta temática, foi visto que Nardon (2006) afirma que é na
adolescência que o convívio social se amplifica pela participação em grupos
distintos em sua vida, e que um bom relacionamento social implica em um
bom desenvolvimento psicossocial. Porém, isso não está acontecendo. Levy
(2000) e Fonte (2008) falam que os adolescentes estão trocando as
conversas pessoais pelo mundo virtual. Entretanto, essas conversas geram
uma falsa intimidade e os contatos estabelecidos são de caráter superficial.
Eles ressaltam que os adolescentes não detém o controle sobre o próprio
acesso ao mundo digital em suas vidas, e isso os afeta, isolando-os do
convívio social real/presencial. Leitão & Costa (2005) e Rosen (2013)
mostram que a internet, quando usada de forma inadequada, está criando
uma geração que acredita poder ignorar os limites do mundo real, manter
seu anonimato, sentindo a sensação de poder fazer tudo.
O que se ganha e se perde cognitivamente: Evidenciam-se os
problemas causados pelo uso excessivo das tecnologias digitais e as
soluções propostas. Os dados sobre a frequência do uso diário da internet
por adolescentes, enfatizando que apenas uma pequena porcentagem
desse uso é destinada para atividades escolares. A partir dos textos de
Young (1998), Moraes (2005), Mattoso (2010), Paiva, Vieira e Costa (2015),
evidencia que o uso excessivo das tecnologias digitais é um fator
preocupante para o desenvolvimento cognitivo, social e afetivo dos
adolescentes, podendo trazer ainda consequências como o isolamento
social, a falta de interesse nos estudos, a ansiedade, os distúrbios de
atenção e a dependência. Tanto que esses problemas foram incluídos no
DSM-V, dada sua importância para o campo cientifico. 19 Para Castells
(2003), Cánovas e Rossi (2015) é evidente que a internet junto com as
tecnologias digitais trouxe grandes avanços para os mais diversos setores
social e educacional, proporcionando ao usuário o acesso a uma grande
gama de dados. Entretanto, toda essa informação não gera conhecimento.
Ela deve ser regulada e autocriticada, para poder gerar um conhecimento
bem alicerçado. Pois, o uso excessivo da tecnologia pode implicar no ganho
de muitos problemas e na perda de habilidades funcionais para a construção
do conhecimento, devido ao efeito imediatismo ela pode provocar diversos
malefícios como o estresse e a ansiedade. Para Carr (2011) a tecnologia
estressa as capacidades cognitivas, dessa forma enfraquecendo a
compreensão nos processos de aprendizagem.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante as etapas desta pesquisa pôde-se observar que diante do


cenário atual, o contato com as tecnologias digitais é constante e intenso no
cotidiano das pessoas, em especial no grupo entre 11 e 17 anos de idade. A
rede de informações é um recurso extremamente potente. Ela transformou
as comunicações interpessoais, a partir das famílias, desde a inserção do
rádio e da TV e, posteriormente, com a invenção do computador e da
internet, principalmente a partir do surgimento das redes sociais virtuais. A
relação de aproximação entre os entes familiares foi modificada.
Essa relação constitui a base para um bom desenvolvimento
cognitivo, social e afetivo, dos adolescentes, que nesta fase é de suma
importância à afetividade e atenção dada pelos parentes, para gerar um
ambiente em que os problemas sejam tratados de forma aberta e saudável,
além de criar um espaço favorável para a construção de conhecimentos.
Mesmo com todos os anunciados benefícios gerado pelas tecnologias
digitais, é evidente a preocupação com os problemas sociais e
comportamentais, principalmente, os que afetam os adolescentes.
Este grupo que é bastante influenciável, devido a estar em maior
contato com essas tecnologias e encontrar-se em uma idade de intensas
transformações biológicas e psicológicas. Evidenciou-se que o uso
excessivo das tecnologias digitais acarreta diversos problemas, tais como:
isolamento social, narcisismo, depressão, ansiedade, dependência etc.
Verificou-se no campo cognitivo, que o uso excessivo das tecnologias
digitais pode provocar diversas patologias que relacionadas com o excesso
de informações não processadas que terminam por não gerar conhecimento.
Temos assim, um conjunto de problemas que precisa ser considerado nos
estudos do campo da Psicopedagogia.
Nessa lacuna, cabe a inserção do psicopedagogo, como pesquisador
ou profissional, em busca de compreender os processos psicognitivos,
relacionados a essas problemáticas. O foco da ação desse profissional volta-
se para uma perspectiva de atuação preventiva e prognóstica, de modo a
orientar condutas adequadas para os problemas surgidos no processo de
aprendizagem.
A partir deste estudo, foi possível observar que as tecnologias digitais
usadas de forma consciente não provocam problemas para o sujeito. Porém,
deve-se ter o cuidado de não ficar subalterno ao mundo tecnológico. Sendo
assim, diante do que foi estudado, cabe ao psicopedagogo tentar elaborar
estratégias para orientar aos pais ou responsáveis e profissionais da
educação, a tomar decisões que irão contribuir para o desenvolvimento
social, cognitivo e emocional dos adolescentes, dando importância à
construção de um ambiente mais propício ao diálogo, tanto no espaço
familiar quanto no espaço escolar. Mostrando ainda que o caminho a seguir
não é a proibição e, sim, o uso consciente dessas tecnologias.
Pois, para se ter um desenvolvimento cognitivo, social e afetivo,
saudável é preciso equilibrar a relação entre a interação virtual e a interação
social realizada por meio de atividades lúdicas e esportivas e laços afetivos.
A contribuição da pesquisa consiste em ser um ponto de partida para uma
leitura introdutória e dar subsídio para trabalhos futuros, por tratar-se de um
estudo de caráter exploratório. Em pleno século XXI, é improvável não estar
em contato frequente com as tecnologias digitais. Por isso, faz-se necessário
dar grande importância ao tema discutido, visando outros trabalhos na área.

REFERÊNCIAS
ALVES, M. Família Plugada: Tecnologia, Pais e Filhos. São Paulo.
2011. Disponível em: <
http://www.sapientia.pucsp.br//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1 3295>
Acesso em: 12. maio. 2016.

CÁNOVAS, G. Cariño he conectado a los niños. Ed. Mensajero.


España. Bilbão. 2015. Traduzido: Google tradutor.

CARR, N. A geração superficial: o que a internet está fazendo com os


nossos cérebros. Tradução de Mônica Gagliotti Fortunato Friança. Rio de
Janeiro: Agir, 2011. p. 312. ISBN 978-85-220-1005-9 Disponível em: <
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