Desempenho Empresas Com Covid
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iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_1223.html
Carta IEDI
Edição 1223
Publicado em: 15/09/2023
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Em primeiro lugar, porque as taxas de juros praticadas no país foram reduzidas
drasticamente, aliviando o custo financeiros deste maior endividamento. Vale lembrar
que o Banco Central manteve a taxa Selic em apenas 2% a.a. entre ago/20 e mar/21 e
que o governo federal estabeleceu programas como o Pronampe e o Preac, além de ter
reativado os tradicionais canais de concessão de crédito direcionado.
Já a margem líquida de lucro, subiu de 6,2% para 14,5% entre 2019 e 2021 para o total
das empresas, na esteira da queda dos juros e da reação da atividade econômica. Na
indústria exceto as quatro grandes foi de 5% para 10%, ou seja, subiu menos e ficou
abaixo do indicador para o total das empresas. Esta diferença cabe sobretudo às
grandes vinculadas a commodities, Petrobras, Vale, Braskem e Suzano.
Muito deste comportamento que vínhamos traçando até agora se perdeu foi se
revertendo ao longo de 2022, fazendo com que a situação no 1º trim/23 fosse bem
diferente.
A taxa básica de juros, a Selic, saltou de 4,25% a.a. em meados de 2021 para 13,75%
a.a. em meados de 2022, permanecendo neste patamar até muito recentemente
(ago/23). A taxa média de juros livremente pactuada no crédito bancário às empresas
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chegou a 21,6% a.a. na média do 1º trim/23, aumentando o custo financeiro das
empresas.
Como resultado, para o total das empresas, a margem líquida de lucro recuou de 15,6%
n 1º trim/22 para 9,3% no 1º trim/23 e o Ebtida/despesa financeira de 3,9% para 2,2%,
enquanto a despesa financeira líquida/receita operacional subiu de 2% para 5,1%.
Dois setores com mercados mais diretamente impactos pelos juros condicionaram a
piora da rentabilidade: nas empresas do comércio, que registraram margem líquida de
-0,5% no 1º trim/23 vis-à-vis 2,3% no 1º trim/22, e nas empresas industriais cuja margem
se reduziu para 1/3 no período.
Já o nível de endividamento avançou neste contexto de juros mais altos. Para o conjunto
das empresas analisadas, a relação entre endividamento líquido/capital próprio subiu de
62,9% no 1º trim/22 para 74,3% no 1º trim/23, chegando a 84,4% se forem excetuadas
as quatro grandes empresas anteriormente mencionadas. A participação das dívidas de
curto prazo aumentou cerca de 1,5 p.p. para ambos os agregados (para 17,1% e 18,6%,
respectivamente), puxada sobretudo pelas empresas de serviços.
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Introdução
As empresas não financeiras que operam no país sentiram em seus balanços o impacto
da pandemia no primeiro semestre de 2020. A paralisação das atividades econômicas e
o intenso aumento da incerteza provocaram queda abrupta de suas receitas de vendas,
gerando prejuízos consideráveis para o agregado do setor produtivo. As empresas não
financeiras que ainda estavam se recuperando da crise de 2015 e 2016 se viram
novamente acumulando prejuízos no início de 2020.
Entretanto, passado o choque inicial da pandemia, a reabertura, mesmo que parcial, dos
negócios e as medidas de política econômica para o enfrentamento da crise da Covid-19
– como o auxílio emergencial pago às famílias e os programas de crédito às empresas –
propiciaram a recuperação da lucratividade das empresas e permitiram a redução do
nível de seu endividamento, que permanecia elevado desde 2016.
Entretanto, à medida que as ações de política econômica foram sendo retiradas e que as
taxas de juros foram subindo, em um contexto de incertezas no cenário internacional e
as pressões inflacionárias, o enfraquecimento do mercado interno e o custo financeiro
em elevação esgotaram a tendência que vinha se produzindo.
Foram criadas, assim, mais três agregações: (i) indústria, exceto Petrobras, Vale,
Braskem e Suzano; (ii) serviços exceto energia elétrica; (iii) Total geral, exceto Petrobras,
Vale, Braskem e Suzano. A empresa OI e as Americanas não foram incluídas na amostra
por estarem em processo de recuperação judicial.
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Os indicadores selecionados buscam apresentar a evolução do desempenho financeiro
das empresas de capital aberto não financeiras, analisando a evolução da rentabilidade,
peso das despesas financeiras e grau e composição do endividamento. A ênfase desta
Carta IEDI será na evolução das empresas industriais, especialmente no agregado da
indústria exceto Petrobras, Braskem, Vale e Suzano, sendo que os demais agregados
serão pontuados na medida em que for necessário um contraponto ao desempenho
industrial. O período do estudo compreende 2019-2023, com ênfase nos trimestres de
2022 e no primeiro trimestre de 2023.
Desempenho da rentabilidade
Apesar de não ter contado com o mesmo volume dos recursos despendido no
enfrentamento da pandemia em 2020 – seja via auxílio emergencial ou programas de
crédito – as empresas não financeiras mantiveram, em 2021, a tendência de redução do
endividamento e de suas despesas financeiras, abrindo caminho para o incremento de
suas margens líquidas de lucro.
A melhora dos indicadores, após o choque inicia da Covid-19 em 2020, foi liderada pelas
empresas ligadas às cadeias de commodities, em geral intensivas em capital e, assim,
com processos produtivos mais bem adaptados às necessidades de distanciamento
social durante a pandemia.
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Além disso, as empresas desses setores contaram, em geral, com aumento das
exportações após 2020, melhoria dos preços de diversas commodities no mercado
internacional e com a redução da importação em alguns casos, favorecendo uma maior
capacidade de aumentar os lucros
Interessante notar, que assim como nas empresas industriais, no setor de serviço, as
empresas mais dependentes do consumo das famílias também obtiveram os piores
patamares de rentabilidade durante todo o período analisado (tabela 1 do anexo).
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Dois fatores foram determinantes para a recuperação das margens líquidas das grandes
empresas não financeiras em 2021.
1 O primeiro diz respeito ao crescimento das margens bruta de lucro, que possibilitou
a geração de expressivos recursos em caixa das companhias e garantiu parcela da
recuperação das margens operacionais de lucro.
Este quadro se alterou completamente em 2022 e no início de 2023, quando houve piora
nos indicadores de rentabilidade, de endividamento e aumento expressivo das despesas
financeiras em relação ao lucro operacional.
O combate à inflação pelo Banco Central elevou a Selic de 2% ao ano em jan/21 para
13,75% em jun/22, patamar que se manteve até ago/23. As pressões inflacionárias,
contudo, seguiram resilientes, em decorrência de turbulências internacionais, com novas
ondas de contágio pela Covid-19 e, posteriormente, pelos efeitos da guerra na Ucrânia,
iniciada em fev/22, e de rupturas nas cadeias de fornecimento.
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Em 2022, devido ao aumento dos preços de commodities devido à guerra na Ucrânia, as
maiores empresas do país, a Petrobras e a Vale, continuaram gerando enormes lucros
líquidos, de respectivamente, R$ 188 bilhões e R$ 96 bilhões, o que manteve a margem
líquida do agregado da indústria em 16,8%, praticamente no mesmo patamar elevado de
2021. Todavia, este não foi o contexto para as demais indústrias do país.
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Por categoria de uso, as indústrias de insumos básicos onde estão presentes as maiores
empresas ligadas ao segmento de commodities mantiveram elevada rentabilidade líquida
em 2022, na faixa de 20,0%. Em sentido inverso, as demais categorias reduziram as
margens líquidas de lucro, na comparação com 2021, para os seguintes patamares:
bens de consumo duráveis de 13,6% para 7,2%; construção civil de 9,0% para 1,6%;
bens de capital de 8,4% para 5,2%; e bens de consumo não duráveis de 6,6% para
4,1%.
Parte da menor rentabilidade líquida das empresas industriais não financeiras, em 2022,
adveio das quedas nas margens brutas e operacionais. A piora das condições
operacionais no contexto de dificuldades com fornecimento de matérias-primas
estratégicas, que elevou os custos diretos da produção, aliada à desaceleração dos
“preços de fábrica” (IPP/IBGE de +28,1% em 2021 e de apenas +4,4% em 2022),
impactou a rentabilidade de muitas empresas.
Na maioria dos setores industriais houve, entre 2021 e 2022, diminuição dos resultados
operacionais. Dos vinte setores acompanhados na indústria, dezoito deles registraram
redução na margem operacional de lucro, sendo que em oito esta margem se retraiu
acima de cinco pontos percentuais com destaque para: Siderurgia (-15,4 p.p.), Química
(-9,8 p.p.), Mineração (-8,7p.p.), Têxtil (-7,3%) e Material aeronáutico (-7,0 p.p.) (tabela 1
do anexo).
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anêmico para o PIB global em 2023” e n. 1217 “Exportações industriais mais fracas no 1º
sem/23”, as pressões financeiras se somaram às dificuldades operacionais nas
empresas industriais.
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Braskem e Suzano) ter caído para 0,9 no 1º trim/23, indicando que uma parte
considerável das empresas não financeiras estão com as despesas financeiras mais
elevadas que seu lucro operacional.
O dado aponta como a forte elevação da taxa de juros entre 2021 e 2022 levou parte das
empresas produtivas a uma situação de fragilização financeira semelhante à crise de
2015/2016. No setor de serviços este indicador também se reduziu, mas permaneceu
neste período na faixa de 1,5, isto é, acima da média de 1,4 registrada em 2022.
Outra informação relevante no 1º trim/23 aponta alguma recuperação para a maioria dos
setores na margem bruta de lucro, ainda que pequena. Isso pode estar indicando que
passou o pior momento para setor industrial no 4º trim/22.
Em resumo, pode-se concluir que apesar das oscilações na lucratividade das empresas
da amostra aqui avaliadas, a retração das margens de lucro concentra-se na indústria de
transformação e nas empresas de comércio, sendo que alguns setores industriais
apresentaram prejuízo líquido no começo de 2023.
A evolução das margens líquidas de lucro demonstrou como a elevação da taxa de juros,
mesmo tendo demorado alguns trimestres para afetar o setor privado, provocou a
retração generalizada da lucratividade líquida entre os setores analisados.
Endividamento
Entre 2019 e 2020, o indicador global de endividamento, que relaciona os capitais de
terceiros e o patrimônio líquido, subiu na indústria (excluídas a Petrobrás, Vale, Braskem
e Suzano) de 2,0% para 2,2%.
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Petrobras, Vale, Braskem e Suzano.
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Após a alta no grau de endividamento das grandes empresas de capital aberto em 2020,
houve redução em 2021, devido à reativação das atividades produtivas (protocolos de
segurança sanitária nas empresas e medidas de política econômica anticíclica) e à
redução da taxa básica de juros, Selic.
Este cenário se alterou em 2022 com a mudança da política monetária, que levou a uma
expressiva alta da taxa básica de juros (Selic) e menor geração de caixa nas empresas.
Isto se refletiu em novo aumento do grau de endividamento geral no agregado da
indústria exceto Petrobras, Vale, Braskem e Suzano: de 2,2%, em 2021, para 2,4%, em
2022, o maior patamar desde 2019.
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É importante ressaltar que esse aumento nas dívidas bancárias das grandes empresas
não financeiras, entre 2021 e 2022, não se concentrou em Petrobras, Vale, Suzano e
Braskem. As empresas industriais exceto estas quatro empresas acumularam 57,3% do
crescimento dos empréstimos bancários neste período, adicionando dívidas da ordem de
R$ 64,4 bilhões nos seus passivos em 2022, sendo R$ 50 bilhões de longo prazo (63%
do total) e R$ 14,2 bilhões de curto prazo (42,3% do total).
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Entre estes setores estão: alimentos (de 4,1% para 5,3%); minerais não metálicos (de
4,1% para 5,0%), metalurgia (de 3,2% para 4,1%) e química (de 4,2% para 4,7%) Esses
setores também foram, em geral, os que mais acumularam dívidas desde 2019,
mantendo o nível de endividamento alto no período posterior à crise sanitária, porém em
um cenário com custos financeiros bem mais elevados agora (tabela 2 do anexo).
A valorização do real ao longo de 2022 (de 7,3%, no final do período) e a piora das
condições, custo e oferta, no mercado financeiro internacional de crédito, fizeram que os
percentuais de endividamento em moeda estrangeira recuassem de 27,2% em, 2021,
para 21,2%, em 2022, no caso dos empréstimos de curto-prazo. Em relação aos
empréstimos de longo-prazo, a queda foi de 26,3% para 20,5%. Neste período, a
modalidade de financiamento que cresceu na composição foi a de debêntures.
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Custos financeiros
Durante a pandemia, a queda da taxa básica de juros e os programas especais de
crédito com juros baixos possibilitaram que as empresas de capital aberto ampliassem
seu endividamento, mas mantivesse sob controle o custo de suas dívidas.
Segundo o BCB, as taxas médias de juros cobradas pelos bancos às pessoas jurídicas
atingiram no começo de 2023 o maior patamar desde 2019, de 22,2% ao ano,
aumentando o custo financeiro das empresas. Além disso, os juros para as famílias
também subiram bastante, arrefecendo o dinamismo da demanda e condicionando
menores resultados operacionais para as empresas.
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Durante o aperto da política monetária, o indicador que mede a proporção dos custos
financeiros e a receita das empresas piorou para quase todos os setores. No caso das
empresas industriais exceto Petrobras, Vale, Braskem e Suzano, entre 2021 e 2022, as
despesas financeiras líquidas sobre a receita operacional subiram de 2,4% para 3,2%.
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A deterioração nas condições de pagamentos dos encargos dos empréstimos bancários
nas grandes empresas não financeiras se aprofundou no 1º trim/23. No último trimestre
de 2022, a proporção entre as despesas financeiras líquidas e a receita líquida de
vendas tinha alcançado 3,6% no agregado da indústria exceto Petrobras, Vale, Braskem
e Suzano, o maior nível no ano passado. Essa relação subiu para 3,9% no 1º trim/23.
A situação financeira das empresas no primeiro trimestre de 2023 leva a crer que pelos
próximos meses a prioridade de muitas será a redução do grau de endividamento e dos
custos financeiro, levando a mais um período de ajuste dos passivos das grandes
empresas de capital aberto.
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