Roteiro de Avaliação Psicológica No Hospital Geral
Roteiro de Avaliação Psicológica No Hospital Geral
Roteiro de Avaliação Psicológica No Hospital Geral
Introdução
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sendo desenvolvidas e aprofundadas, contextos específicos de atuação do Psi
cólogo dentro do Hospital Geral se transformaram em novas especialidades:
Psico-oncologia, Intensivismo, Cuidados Paliativos, Urgências e Emergências,
Geronto-psicologia ... Cursos de Especialização e linhas de programas de Mes
trado e Doutorado começaram a ser desenvolvidos. Muito se produziu e se
produz no macro campo da especialidade "Psicologia Hospitalar", ou como já
absorvemos: "Psicologia da Saúde", pois nossas práticas que se iniciaram origi
nariamente nas enfermarias dos hospitais transcenderam a estes em atividades
de Home Care, Programas de Saúde da Família, Ambulatórios Especializados,
Programas Comunitários principalmente no campo da Educação, Promoção
e Prevenção da Saúde e assim seguimos, pois as demandas sócio-sanitárias de
nossa população não param e, mais do que isso, se transformam.
Retomar o Roteiro de Avaliação Original e poder incrementar novas
contribuições é o objetivo desse capítulo. Aos colegas que o visitam pela primeira
vez, esperamos que continue sendo útil, aos que já o conhecem, esperamos po
der aprofundar e trazer algumas novas " luzes" à proposta original do material.
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A psicologia no contexto da saúde constitui-se como estratégia de
atuação da Psicologia: que agrega o conhecimento educacional, cientí
fico e profissional da disciplina Psicologia para utilizá-lo na promoção
e manutenção da saúde, na prevenção e no tratamento da doença, na
identificação da etiologia e no diagnóstico relacionado à saúde, à doen
ça e às disfunções, e no aperfeiçoamento do sistema político de saúde.
(MATARAZZO 1986)
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3. Fornecimento de dados sobre a estrutura psicodinâmica da per
sonalidade da pessoa.
Considerando, sobretudo, as perspectivas prognosticas da relação do
indivíduo com seu processo de adoecer e de tratamento. (tendências biofilias
ou necrófilas, que serão abordadas mais adiante).
5. História da pessoa.
Dentro de uma perspectiva que foi retomada de forma brilhante por
Danilo Perestrello (2), devemos lembrar sempre que de nada vale termos
diagnósticos e dados objetivos sobre a patologia, seu prognóstico e técnicas de
intervenção se não considerarmos que não tratamos de doenças, mas sim de
pessoas doentes e, nesse sentido, desconhecer-se a história da pessoa equivale
a negligenciar o próprio sentido de nosso trabalho. Dentro desse item de ava
liação uma importante coleta de informações pode nos dar as perspectivas das
relações ser-em-si e ser-no-mundo (Heidegger). Da mesma forma que em processos
outros de entrevista e coleta de informações sobre a pessoa a perspectiva de
nossa escuta possibilita a compreensão dos conteúdos latentes e manifestos das
queixas do paciente. Falamos aqui, por tanto, da consolidação da visão bio
psico social do indivíduo.
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Doenças de Adaptação, sem contar com quadros mais tradicionais como os
episódios dissociativos, tão comuns nas rotinas de Pronto Socorro. É igual
mente importante lembrar, que o tratamento muitas vezes pode desencadear
episódios confusionais como, por exemplo, o tropismo de alguns pacientes a
certo tipo de medicação, ou o procedimento terapêutico que se utiliza de re
cursos externos, que podem gerar situações de sofrimento metabólico, que, por
consequência, desencadeiam quadros confusionais (ex. hemodiálise, circulação
extracorpórea entre outros).
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resgatar a visão do indivíduo como um todo, um ser biopsicossocioespiritual
(fazemos questão de grafar como uma única palavra), que tem como princípio
básico da própria existência o direito inalienável à Dignidade e ao Respeito.
Optamos em fazer a apresentação do roteiro tópico por tópico e o leitor
terá a oportunidade de visualizar o modelo utilizado no hospital (tal como o
fazemos) no fim do presente capítulo.
O roteiro além dos dados de identificação contém 1 3 itens de avaliação,
a saber:
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fatores específicos da unidade de atendimento que a equipe julgue pertinente
constar na identificação.
Esse item de avaliação nos possibilita uma visão geral das condições emo
cionais do paciente, a partir da situação de doença e internação, as alterações
que o contexto provocou na pessoa etc.
Nesse tópico avaliamos oito subitens, que serão quantificados numa escala
com os dados (BOM), (REGULAR), (RUIM), (SEM DADOS). E dois itens
com identificação específica.
Os subitens são:
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sobre subformas de manifestações depressivas ou depressiviformes que podem
aparecer como sintomas de um quadro de base orgânico e/ou por efeito cola
teral de protocolo medicamentoso.
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Por outro lado, a utilização de determinados mecanismos pode mos
trar-se positiva, à medida em que ajuda o indivíduo a reorganizar-se frente à
doença e internação ou mesmo a enfrentar episódios específicos do processo
de tratamento. Nesses sentidos é que apresentamos no roteiro a identificação
das Defesas Predominantes como positivas ou negativas.
Cabe fazer um grifo especial à importância do momento de intervenção
psicológica no contexto de internação hospitalar, pois esse não tem as carac
terísticas de um processo psicoterápico no sentido tradicional, sendo assim, a
utilização de determinados mecanismos de defesa podem ser uma manobra
protetiva que o paciente lança mão e não deve ser desmobilizada.
Esse item avalia algumas das sequelas emocionais que por ventura o
paciente possa ter em relação a questões específicas que podem influenciar o
seu processo de internação, tratamento e relação com a doença.
Possui duas colunas de quantificação; PRESENTE ou AUSENTE, sendo
que a coluna PRESENTE se subdivide em Forte ou Leve.
Quanto aos subitens que serão avaliados temos:
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ou não a atual), e quais as impressões emocionais que ficaram dessa (s) vivên
cias. Obviamente, toda e qualquer experiência anterior correlata a que se vive
no momento é evocada como forma de se buscar mecanismos adaptativos a
situação nova de crise que se enfrenta. Experiências traumáticas e ou negativas
(vividas diretamente ou indiretamente pelo paciente podem ser forte fator de
influencia na sua relação com a internação atual).
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item tem especial importância na indicação de sinais e sintomas para diagnóstico
diferencial de estados maníacos, hipomaníacos ou depressivos.
Sempre devemos considerar o momento da avaliação e compará-lo
as respostas normais do indivíduo fora do contexto de doença e internação.
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aparecimento das doenças são múltiplos, e que a consolidação do paradigma
Biopsicossocial em saúde trouxe novas luzes à compreensão dos determinantes
que geram a instalação das doenças:
Determinantes da Saúde
F<>nt•.:
IFTF; �I<)r�
Conltolend�
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pacientes terminais, tais como as Kubler-Ross, Stedford e Ziegler entre outras.
Entretanto, esta avaliação psicológica pode ser utilizada com pacientes clínicos
(agudos e crônicos), cirúrgicos, ortopédicos, entre outros, posto que o processo
de elaboração de perdas e o luto advindo destas, ligadas ao processo de doença
(perda da saúde), hospitalização (perda da condição de pessoa- despessoalização)
e tratamento (sentimentos de invasão e agressão com a respectiva sensação de
impotência) são gerais a maioria das pessoas internadas e cada processo individual
acarretará outras perdas (que poderíamos classificar como mortes simbólicas),
levando o indivíduo a passar pelas fases abaixo descritas.
Ressaltamos que os estados psicológicos abaixo descritos são dinâmicos
e estão sujeitos as intercorrências, que a evolução da doença, o tratamento e a
vida do indivíduo apresentarem no decorrer do acompanhamento psicológico.
Assim, não há uma linearidade absoluta na evolução da elaboração da doença,
podendo ocorrer retorno ou coexistência das "fases" apresentadas.
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Nesse caso há o reconhecimento da possibilidade de não mais existir como
fato concreto e o desejo de dar continuidade a projetos futuros, indicando a
utilização de mais funções do ego para enfrentamento da crise e o início de
uma postura ativa em relação a esta. Há frequentemente a manifestação do
aspecto religioso, com a ocorrência de esperança que pode fortalecer o pa
ciente, porém a barganha pode ser realizada, também, com a equipe e com a
família para obtenção de satisfação como, por exemplo: burlar a dieta, no caso
dos diabéticos, renais crônicos, hepatopatas, etc., onde se observa formas de
sedução às quais equipe, paciente e família passam a manifestar.
Assim, cabe ao psicólogo avaliar a dimensão da negociação, o que é
desejado, os termos de troca e a habilidade de concretização. No caso das
promessas religiosas, estas tranquilizam o paciente? No caso da barganha com
a equipe: existe possibilidade de viabilizá-la? Nesta última, favorece muito, a
aproximação e contato interdisciplinar para estabelecimento de condutas uni
formes intraequipe e diálogo franco - dos limites e possibilidades impostos pela
doença e tratamento- com o paciente, sua família e a própria equipe de saúde.
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Tal forma de relacionamento pode se dar com os familiares, sendo pre
sente um desassossego, mágoa, irritação, abandono, acusações mútuas, distan
ciamento, em uma intensidade que se estende além do padrão de relação usual,
acompanhada da dificuldade em encarar algo (a doença, as agressões e invasões
ao corpo do paciente, as rotinas hospitalares, a morte, entre outras), que foge do
controle de ambos. Numa forma de evitar o contato com as frustrações geradas
por esta crise que fragiliza e estão, parcial ou totalmente, fora do controle de
ambos, denunciando limites novos a serem estabelecidos.
Pode-se observar e direcionar positivamente a agressividade, seu aspecto
construtivo, em prol do paciente, acolhendo-a, valorizando-a, dimensionando
sua magnitude, como movimento ativo de investimento em si mesmo, possi
bilitando a introjeção e não somente a projeção. Colaborando na organização,
ou seja, na percepção dos limites e utilidade de tal forma de se relacionar com
o meio. Orientar equipe, visando otimizar a relação, e a família na elaboração
da crise que se instalou a partir do adoecimento de um de seus membros.
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importante o conhecimento do tipo de doença apresentado - aguda, crônica,
terminal- que matizará o estado psicológico do paciente, podendo desencadear
atitude de desapego ou abandono. Na atitude de desapego, vemos uma eleição de
vínculos, tarefas, projetos, significativos para o paciente, que reforçam sua autoes
tima, com estabelecimento de prioridades e metas passíveis de serem atingidas que
estão ao seu alcance e lhe trazem satisfação. Na atitude de abandono, observa-se a
desistência frente ao mundo e vínculos significativos, onde o negativismo, próprio
da depressão patológica, suscita a não elaboração do processo de desligamento,
e embotamento de recursos egoicos para tal (vide Capítulo Acompanhamento
Psicológico a Pessoa Portadora de Doença Crônica deste livro).
A depressão é um estado que mobiliza tanto a equipe como os familiares,
visto o ensimesmamento que a acompanha e desperta no outro a lembrança
de sua própria finitude, denunciando os limites da atuação profissional - a
impotência - podendo ocasionar postura onipotente por parte da equipe com
o estabelecimento de condutas heroicas (mas altamente iatrogênicas), levan
do o profissional a oscilar entre o binômio quantidade - qualidade de vida. No
que se refere à família do paciente, observa-se a Angústia de Separação, que
necessita de elaboração, pois, pode resultar em comportamentos semelhantes
ao da equipe e os do paciente, em caso de doenças terminais ou insucesso no
tratamento, sendo importante à distinção do movimento dos familiares, se é
de desapego - com a elaboração e preparo para a morte do paciente, ou de
abandono com distanciamento e desistência do vínculo de forma abrupta, que
pode gerar um luto patológico posterior.
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de serem atingidas; e, não raro surge espaço para discussão e participação efe
tiva com e pelo paciente de forma criativa e flexível, minimizando a tensão
existente na relação paciente - equipe - família.
6 . Qyestionário específico
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é como uma viagem nas nuvens: só vemos o "aqui e nada mais": e para poder
avançar devemos alucinar um caminho. E a estes caminhos inventamos com
partes do caminho percorrido supondo que tem curvas e graus que se repetem.
De qualquer maneira, este futuro (o proj eto) é sempre uma plataforma que
avança nesse vazio de informação que temos sempre adiante ..."
Nesse sentido, o exercício de resgate da historicidade do paciente e fami
liares, proporciona o preparo para enfrentamento do futuro que no momento
de crise é totalmente incerto e imprevisível.
É composta por seis subitens relacionados abaixo:
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S. Houve algum fato marcante na vida da família ou na vida do paciente,
antes ou depois do aparecimento da doença? Em qual data?
Esta pergunta tem como objetivo a identificação de eventos psicossociais
que desencadeiam respostas adaptativas frente ao stress relacionado a perdas de
modo amplo dentro da rotina de vida do paciente bem como da família deste.
Tem o intuito de ampliar a compreensão da crise do adoecer, no que ocorreu
no universo vivencial, antes e/ou depois de instalada e que se somam a própria
doença e tratamento.
O leitor encontrará em anexo um rol de situações potencialmente de
sencadeadoras de stress a nível psicossocial a ser pesquisado com o entrevistado.
7. Avaliação psicossocial
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3. VIDA ADULTA: Rotina Diária, Situação Conjugal, Relações com
Parceiros, Contatos com Filhos, Vivências, Organização do Lar, Expectativa
de Vida.
4. CONTATOS SOCIAIS: Empregos, Amigos, Participação na Co
munidade, Lazer, Atividades.
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pelos Fatores Ambientais e Fatores Pessoais, possibilitou tornar alguns dos
eventos psicossociais codific áveis de modo universal proporciona ampliar a
compreensão do caso e auxilia na manutenção de condutas uniformes no
contexto clínico.
Toda Classificação da OMS passa por acompanhamento em revisões
constantes, há 16 anos da publicação da CIF, o desenvolvimento de estratégias
e instrumentos para aperfeiçoá-la é constante desde sua divulgação.
No decorrer dos anos a CIF vem se tornando mais acessível aos profis
sionais e usuários sendo interessante a reflexão de seu uso no contexto clínico
e de pesquisa.
A Classificação é ampla, de caráter interdisciplinar, requer familiaridade
e treinamento, porém fica aqui o convite para o leitor adentrar nessa senda de
conhecimento.
Gostaríamos de salientar que visão da OMS de integrar suas Classifi
cações, aparentemente tornou-se mais ágil devido ao avanço da tecnologia e
informática e globalização que otimiza a comunicação e divulgação de dados
epidemiológicos. No momento da revisão deste capítulo estamos aguardando
a divulgação da CID 1 1 - OMS e sua consequente "afinação" com as demais
classificações publicadas no século XXI. O Brasil faz parte dos países membros
que se empenham nessa tarefa.
8 . Exame psíquico
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O item que passamos a descrever possui nove subitens de avaliação mais
a repetição dos dados de identificação que vimos na abertura do Roteiro. A
repetição dos dados de identificação se deve ao fato de, como mencionamos
acima, esse Exame poder ser utilizado em separado. Os subitens que compõe
o exame são:
1. Consciência
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No estado de Turvação o paciente começa a manifestar compro
metimentos mais importantes . A latência observada no estado anterior
é bem maior, sendo que a pessoa começa a apresentar certa dificuldade
de entender os estímulos (sobretudo os que exigem ação interpretativa
intelectual), há um comprometimento mais intenso da motricidade fina
e a motricidade ampla começa a alterar-se também, passa a ser necessária
uma quantidade maior de vezes a se estimular o paciente para obter- se
respostas comportamentais.
Podemos observar esse estado (p/ ex.) em pessoas com um grau mais
intenso de intoxicação pelo álcool, ou quando a pessoa está sob efeito de drogas
psicoativas ansiolíticas (hipnóticas ou diazepínicas).
No estado de Obnubilacão o paciente praticamente perde a capaci
dade de verbalizar, suas respostas verbais são monossilábicas, tem grande
dificuldade de demonstrar compreensão aos estímulos que se lhe impõe.
A motricidade fina está totalmente comprometida e a ampla severamente
complicada. Não é capaz de articular frases e de responder a solicitações
mais sofisticadas, sobretudo as que exigem ação intelectual. Sua atenção
voluntária começa a apresentar fortes sinais de dispersividade e a atenção
involuntária mostra-se rebaixada. Podemos observar esse estado por ex. em
situações de choque, no estado crepuscular epiléptico ou em casos graves
de intoxicação pelo álcool.
Coma I ou Coma Vigil, muitas vezes chamado de "coma de olhos
abertos", nesse estado a capacidade de interação do indivíduo com o meio está
quase que absolutamente ausente, podemos observar flutuações na atenção
voluntária, que ora se manifesta com o paciente acompanhando com os olhos
movimentos e pessoas a sua volta, ora seu olhar é vago e aparentemente indife
rente ao que passa a sua volta, a atenção involuntária está ausente. Não é capaz
de verbalizar, e apenas eventualmente consegue responder perguntas simples
com "sim" ou "não" manifesto através de um tênue gesto de dedos ou piscar
de olhos, se houver por parte do entrevistador muita persistência. Obviamente
a ausência de atividade motora é notória.
Até essa fase descrita acima todas as capacidades de respostas autonômicas
estão preservadas, ou seja, os Reflexos Superficiais e Profundos não apresen
taram sinais de comprometimento. Destacaríamos entre os diversos reflexos
os seguintes:
Rt;flexo Palpebral: que consiste em contrair mais intensamente as pálpebras
quando, este de olhos fechados, tem seus cílios tocados por alguém ou quando
(de olhos abertos um objeto se aproxima dos olhos)
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Reacão à dor: se impomos ao paciente um estimulo doloroso, como por
ex. picá-lo com uma agulha, este procurará retirar a área que foi estimulada
de perto da agulha.
Estes dois reflexos descritos acima compõem os chamados Reflexos
Superficiais.
Rçflexos Ósteo-tendínosos: são os reflexos que manifestamos quando se
impõe uma ação mecânica específica sobre tendões de articulações Uoelho e
cotovelo), é o famoso" reflexo do martelinho" que todos conhecem.
Rçflexo Pupílar: consiste na resposta automática que a Í ris manifesta frente
à presença ou ausência de luz, contraindo-se ou dilatando-se, o que equivale
na observação a um aumento (midríase) ou diminuição (miose) das pupilas.
Rçflexo Oto-ocular: Uma resposta que durante muito tempo foi identifica
clara (quando ausente) de morte cerebral. Atualmente recursos mais sofisticados
podem dar uma melhor margem de avaliação para o médico, mas de qualquer
forma, a ausência deste reflexo é indicativo de grave lesão cerebral (descerebra
ção). O estímulo consiste em colocar-se no vestíbulo auditivo do paciente água
gelada ou quente, o choque térmico irá provocar como resposta um reflexo de
rotação dos olhos para o lado oposto ao do ouvido que recebeu o estímulo.
Os três reflexos descritos acima compõem o grupo dos Reflexos
profundos.
A partir do estado de Coma 11. vamos começar a identificar níveis de
comprometimento desses reflexos. No Coma 11 especificamente, a maioria das
respostas está integra, podendo haver leve comprometimento (lentificação) nos
chamados Reflexos Superficiais (Palpebral e Dor), sendo que os demais - se
mantém íntegros.
No Coma III, os reflexos superficiais desaparecem e começamos a notar
algum comprometimento nos reflexos profundos, que em muitos casos são
inclusive indicativos de dano cerebral.
No Coma IV, temos a completa ausência de capacidade responsiva por
parte do paciente. Essa ausência é um dos principais critérios de indicação
de Morte Cerebral, que atualmente é o critério utilizado para a indicação da
Morte Clínica do paciente.
Como pudemos observar na descrição dos diferentes graus de compro
metimento da consciência, o que temos é um processo de afunilamento desta,
que se agrava a cada novo estado na escala. Esse agravamento é mensurado pela
capacidade de respostas observáveis que o paciente emite. Em obras anteriores
(Psicologia Hospitalar Teoria e Prática - 2006 e Desafios Atuais das Práticas
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em Hospitais e nas Instituições de Saúde 2016) tivemos a oportunidade de
comentar as discrepâncias nos critério de conceituação de Consciência Clíni
ca e Consciência do Eu, observando inclusive, quando comentamos sobre o
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A Escala Glasgow compreende três itens de avaliação:
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2. Senso Percepção
(exterocepção e propriocepção).
Chamamos ao fenômeno desencadeador do evento perceptivo de Signifi
cante. Em condições normais de funcionamento dos órgãos do sentido o que será
captado por estes é a I.P.R . (Imagem Perceptiva Real), por exemplo, alguém
me mostra um quadrado azul e o que eu percebo e reconheço é um quadrado
azul, alguém me espeta com uma agulha e eu sinto dor e assim, sucessivamente.
Existe, portanto, coerência entre o estímulo dado e a percepção deste (Equi
valência entre o Significante e a interpretação sensorial deste com a respectiva
identificação do Significado), a imagem (e aqui o significado de "imagem" não
se restringe à visão, mas a qualquer percepção) é identificada com a realidade do
que foi exposto ao indivíduo. Obviamente o evento perceptivo assim como todos
os demais itens que avaliamos no Exame Psíquico não são estruturas estanques
e dissociadas umas das outras, para que houvesse a identificação do Significante
atribuindo-lhe um Significado houve também a interferência do Pensamento,
da Memória da Inteligência e assim por diante (Atividades Mentais Superiores).
O fenômeno perceptivo levado ao pé da letra é apenas o evento de apercepção
do Significante, nossos sentidos captaram-no e registram em algum ponto do
cérebro. As regiões cerebrais primordialmente responsáveis pelo evento percep
tivo são compostas pelo Arqui e Paleocortex (filogeneticamente estruturas mais
antigas e primitivas Fig 1), que compõe as chamadas Atividades Mentais Básicas,
mais à frente trataremos de descrever o evento perceptivo de forma esquemática.
Néo
córtex
AMS
Páleo
córtex Arqui
AMB córtex
AMB
Figura 1
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Nota: sobre as questões polêmicas ligadas a existência ou não de atividade
psíquica no paciente em coma sugerimos a leitura do tópico "O Paciente em
Coma no C.T.I.", no capítulo "Atendimento Psicológico no Centro de Terapia
Intensiva" publicado no livro "Psicologia Hospitalar: Teoria e Prática", Ed.
Thonsom Learning 2002, cap. 11, pp. 67-71 e "Os desafios e possibilidades
da atuação do psicólogo em Unidade de Terapia Intensiva Adulto" pp. 329-
349, no livro; "Desafios Atuais das Práticas em Hospitais e nas Instituições de
Saúde", Ed Escuta, SP, 2016.
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no Delirium Tremens), Alucinação Visual (presente por ex. nas intoxicações
por drogas psicoanalépticas), Alucinação Auditiva (presente por ex. nos surtos
Esquizofrênicos de subforma Paranóico Alucinatória), Alucinação Olfativa,
Alucinação Gustativa e Alucinação Cenestopática (ligada a propriocepção,
presente em muitos episódios psicóticos graves).
Os distúrbios senso-perceptivos podem aparecer também como sintomas
de diversos quadros centrais, associado a tumores, anóxia cerebral, Acidentes
Vasculares Cerebrais, Neurocisticercose, etc. A constatação isolada de um
distúrbio senso-perceptivo não é indicativa de nenhum quadro clínico em
particular, sempre a somatória de sinais e sintomas, mais a história clínica da
pessoa é que possibilitarão a equipe à determinação de diagnóstico.
No Roteiro o psicólogo encontrará espaços específicos para assinalar
as observações sobre as condições senso perceptivas do paciente, se normal,
se há a ocorrência de Ilusão ou Alucinações e qual subforma alucinatória o
paciente apresenta.
3. Pensamento
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acompanhada de "Verborragia" (fala ininterrupta e com prolixidade), j á
nos estados depressivos o u e m condições de fadiga esse pode apresentar seu
curso lentificado.
Forma: ao avaliarmos a Forma do Pensamento vamos identificar a sua
estrutura propriamente dita, ou seja, se ele possui ordenação: começo, meio e
fim. Em diversos distúrbios do pensamento o comprometimento da Forma é
indicativo de processo de alteração mental mais grave como, por exemplo, na
"Fuga de Ideias", muito frequente em alguns surtos esquizofrênicos. Podemos
ter também o fenômeno denominado "Salada de Palavras", que ocorre em
diversos episódios psicóticos, onde o discurso do paciente é ininteligível, em
ambos os casos os indicativos de alteração estão apontando para problemas mais
graves na estrutura mental do paciente.
Conteúdo: nesse componente avaliamos a substância do pensamento,
sua coerência, seu grau de concordância com a realidade. As alterações nessa
instância são extremamente indicativas de grave comprometimento do Juízo
de Realidade. Temos como principais alterações a Confusão Mental, própria
da ruptura psicótica, e de acordo com Sá ]r. : é " ... característico das doenças
mentais exógenas sintomáticas e tóxicas (sobretudo nas intoxicações agudas) e
nas doenças orgânico-cerebrais" e os Delírios.
No que tange aos Delírios, existem inúmeras classificações de "Tipos
de Delírio" de acordo com seu conteúdo específico. Destacamos os quatro
principais que são mais frequentemente observados no Hospital Geral:
- Delírio Religioso: cuj o conteúdo é nitidamente ligado a questões da
religiosidade do indivíduo. (Possessões demoníacas, imaginar-se um "Enviado
de Deus", etc)
- Delírio Persecutório: talvez a subforma delirante mais conhecida. O
discurso do paciente é notoriamente voltado a ideias de perseguição, o conteúdo
pode variar desde relatos aparentemente verossímeis, mas que não tem susten
tação se avaliada a realidade objetiva de vida do paciente, até ideias fantásticas
do tipo "extraterrestres querendo sequestrá-lo", etc . .
- Delírio d e Interpretação: o evento delirante manifesta-se a partir das
distorções que a pessoa cria quando interpreta fatos, relatos e eventos que
ocorrem em sua vida.
- Delírio de Referência: predomina no paciente a ideia de vergonha,
de que existe uma crítica permanente a atos que cometeu e que "Todos Co
mentam", tende a interpretar que todas as pessoas se referem a ele e que essas
referências são sempre de escárnio ou desvalorização.
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- Delírio Hipocondríaco: o tema delirante versa sobre a ameaça à saúde,
havendo a convicção que está doente, não existindo prova concreta de alteração
orgânica e, muitas vezes, com a eleição de doenças especiais tais como câncer,
AIDS, tumor cerebral, etc. Como forma delirante e estruturada, pode gerar
a busca de tratamento com o convencimento da equipe e eleição de conduta
clínica ou cirúrgica (17).
Em determinados tipos de doenças psicossomáticas o histórico pregresso
do paciente aponta para situações delirantes e/ou fóbicas ligadas a patologias
específicas, com especial ênfase para o câncer e as doenças cardíacas, antes do
surgimento do fenômeno de somatização.
As alterações do Pensamento, particularmente a Confusão Mental, Fuga
de Ideias e a Salada de Palavras, são consideradas Sintomas Primários de Psi
cose, que juntamente com distúrbios da Afetividade e da Consciência do Eu
vão possibilitar o diagnóstico de um quadro psicótico. (Comentaremos a cada
item supracitado os sinais específicos que se considera de ordem primária).
É fundamental que se saliente que Delírios e Alucinações (sintomas pro
dutivos) são classificados como Sintomas Secundários de Psicose, ou seja, podem
não aparecer necessariamente, mas a não ocorrência destes não significa igual
mente a não ocorrência do episódio psicótico. Esse fenômeno é muitas vezes
desconsiderado pelo psicólogo, o que pode levá-lo a só fazer um diagnóstico de
psicose quando da existência de sintomatologia exuberante, que é o caso dos
Delírios e Alucinações, e induzi-lo a um erro diagnóstico na medida em que,
como salientamos, os fatores determinantes de psicose, segundo a classificação
de Schneider e Sheldon (uma das mais tradicionais) considera os sintomas primá
rios (supra citados) como os predominantes para o diagnóstico e a ocorrência
dos sintomas secundários é relativa podendo ou não ocorrer.
No Roteiro de Avaliação temos uma grade de classificação dos distúrbios
de pensamento j á especificado se o distúrbio é de Curso, Forma ou Conteúdo
e que tipo de alteração foi identificada.
4. Linguagem I Comunicação
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no contexto de doença e internação, é extremamente importante. Nesse sentido
salientamos dois aspectos; o paciente que se comunica verbalmente e demonstra
discrepância entre o discurso e a postura corporal, e o paciente que, por razões
clínicas está impossibilitado de falar.
Todo o trabalho do psicólogo depende, em grande parte, daquilo que
o paciente nos informa. Essa informação, diferentemente daquela que os
demais colegas da equipe de saúde coletam, é a informação da relação da
pessoa com o momento vivido, suas dúvidas, angústias, ansiedades, medos,
fantasias, etc. Avaliamos, portanto, o discurso da pessoa doente e não o da
doença. Essa escuta particular irá se somar à escuta que os demais colegas
realizam de forma a proporcionar para a equipe uma leitura da pessoa como
um todo.
Avaliar Linguagem é avaliar não só o discurso ou a estrutura da fala do
paciente, mas sim, auscultar os diferentes significados do adoecer manifestos
por aquela pessoa em especiaL Gestos, forma de olhar, expressões faciais, pos
tura corporal demonstração de preocupação com a aparência, pudor, também
representam formas de comunicação.
Há alguns anos atrás ouvimos de uma colega psicóloga hospitalar uma
definição poética de nosso trabalho, e que gostaríamos de transcrever nesse
item, pois acreditamos que este, talvez, sintetize muito das ideias que se propõe
a definir o "Fazer" do Psicólogo Hospitalar.
5. Memória
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A Memória de Evocação é aquela que utilizamos toda vez que necessi
tamos buscar informações em nosso "arquivo", podemos chamá-la de Memória
de Fatos Passados.
A Memória de Fixação é a que utilizamos toda vez que assimilamos
algo novo (aprendizados, vivências, informações etc.). Fica claro entender que
uma depende da outra, e que essas duas por assim dizer, subformas, de memória
têm papel fundamental na vida do indivíduo.
Optamos por utilizar essa classificação, pois uma boa parte dos distúrbios
que observamos no hospital geral, naquilo que tange aos aspectos mnemônicos
do Aparelho Psíquico, manifestam alterações de uma ou outra subforma. Assim,
temos no Roteiro listadas as seguintes alterações:
Alteração da Memória de Fixação: A mais severa é a Amnésia Anterógrada,
caracterizada pela perda da capacidade de assimilar fatos novos. A pessoa apre
senta uma espécie de paralisação mnemônica no tempo, ou seja, do período
em que se instalou a lesão que provocou o distúrbio para frente esta irá apre
sentar grandes dificuldades ou até mesmo absoluta incapacidade de registrar e
consequentemente evocar fatos de sua história. Um dos quadros clínicos onde
podemos observar tal fenômeno é o do Estado de Psicose Alcóolica que gera a
Síndrome de Kossakov. Igualmente, nos estágios iniciais do Mal de Alzheimer
a memória de Fixação aparece como um dos primeiros sintomas da doença.
Indicamos ao leitor que queira se inteirar das características mais específicas
desse quadro a excelente narrativa de um desses casos apresentada na obra de
Oliver Sacks "O Homem que Confundiu Sua Mulher com um Chapéu", par
ticularmente o capítulo intitulado "O Marinheiro Perdido".
Ainda referente aos distúrbios da Memória de Fixação, temos quadros
mais frequente na realidade hospitalar onde o paciente apresenta dificuldades
de Fixação. Esse quadro está associado a diversas causas neuropsicológicas,
incluindo (para efeito do presente roteiro) alterações da atenção voluntá
ria e distúrbios da Consciência Clínica (a partir do estado de turvação),
bem como associado a estados de Stress e Fadiga, que não são prerrogativa
única de pessoas portadoras de algum tipo de patologia, mas de qualquer
indivíduo sadio.
43
As Amnésias Retrogradas podem ser de vários tipos. Destacamos a Amnésia
Retrograda Total, onde a história pregressa do indivíduo simplesmente desapa
rece de sua memória, e às Amnésias Retrogradas Parciais, onde temos a chamada
Amnésia Lacunar, onde uma parte da história do indivíduo é "apagada", podendo
as causas serem de etiologia física ou psíquica. No Campo da Amnésia Lacunar,
destacamos no Roteiro um caso específico que é o da Amnésia Pós-Traumática,
devido ao fato desta ocorrer com certa frequência nos hospitais, sobretudo
àqueles que tem unidade de traumatologia. Essa amnésia ocorre como resultado
de uma situação traumática aguda e intensa, um acidente automobilístico por
ex., e na narrativa do paciente o acidente é apagado de sua memória, às vezes,
todo ou parcialmente, e em alguns casos horas ou até mesmo todo o dia que
antecedeu ao acidente desaparecem dos registros mnemônicos evocáveis do
indivíduo. Os atuais estudos na área das neurociências apontam tanto para
fatores intrapsíquicos (mecanismos de defesa) quanto para fatores bioquímicas
(ação de neurotransmissores e catecolaminas produzidos ou lançados no S.N.C.
quando do evento traumático), como sendo os causadores do fenômeno. Sob
a ótica psicológica, eventos desse porte são amplamente apresentados em estu
dos de caso sendo que um dos mais conhecidos é o caso Ana O. descrito por
Freud em suas obras.
Além das Amnésias podemos ter distúrbios do que chamaremos de "Ve
locidade da Memória de Evocação", nesse caso temos a Hipomnésia, um quadro
de lentificação da capacidade evocativa, e a Hipermnésia a aceleração da capa
cidade evocativa, esse segundo caso é narrado por muitas pessoas que viveram
uma situação pessoal de morte iminente onde estas descrevem "Ter visto sua
vida passando de traz para frente como se fosse um filme em alta velocidade".
Em alguns casos de intoxicação por drogas psicoanalépticas e psicodislépticas
tanto um como outro fenômeno também são observados.
No Roteiro todos estes distúrbios estão listados em colunas já associadas
à memória de base (se de evocação ou fixação).
6. Inteligência /Cognição
ANÁLISE/DEDUÇÃO/CORRELAÇÃO/SÍNTESE/ASSOCIAÇÃO
44
São alvos de avaliação a inteligência verbal e a não verbal e há um item
relativo a distúrbios específicos da cognição que podem ocorrer em função de
comprometimentos centrais (por exemplo, alterações de prosodia por tumores
no hemisfério direito, etc.).
Z Consciência do "EU"
45
Esse rol de experiências tem como ponto de partida principal as vivências
corporais da criança, o que equivale dizer, que são as primeiras experiências
acerca de si mesma, pautadas, portanto, num Eu mais primitivo que denomi
namos "EU F Í SICO".
É a partir da organização senso-perceptiva e experiencial que a criança
descobre seus limites e dimensões, primeiramente corporais e motores que
iniciam um processo contínuo de desenvolvimento. O desenvolvimento neu
ro-psico-motor, cognitivo e afetivo vão então ocorrer de forma complementar.
É interessante ressaltar que as experiências vividas pela criança nesse período
irão influenciar todos os potenciais que ela manifesta, advindos de sua carga
hereditária e que esses processos formarão a base tanto da Consciência do Eu
quanto da Estrutura Afetiva que esse indivíduo terá para o resto de sua vida.
Temos então esquematicamente o seguinte processo:
Figura
G 2
I Figura
EU ....T.-. U
3 Figura
EU - TU
4
TU (FiEU)gura � � TU
EU.- TU EU .....-.. TU (EU) EU (TU) ----. TU (EU)
� +
Figura
�TU
5
Figura
6
TU (EU)
7
46
r.io só como um objeto, mas também como sujeito (não só a que dá, mas a
que também recebe) , (fig.6).
Essa triangulação de relações persiste e aos poucos os outros objetos (pai,
.1\"Õ etc.) vão também sendo "promovidos" à condição de sujeitos (Eus), (fig
1- É nesse momento de seu desenvolvimento, que ela passa a ser capaz de, por
comparação, identificar que os outros são "outros" para ela na medida em que
lhe dão coisas - carinho, alimentação, etc), mas a medida em que esses mes
mos "outros" recebem (uns dos outros) eles passam a ser sujeitos na relação, e
que ela que sempre foi sujeito representa para os outros um "outro", ou seja :
A criança se dá conta de que ela é um Eu somente para si mesma e que
cada pessoa é para si mesma um Eu, sendo que os outros para todos (não só
para ela) são Tu, inclusive ela para esses outros é também um Tu. Nasce por
cmto a Consciência do Eu, que podemos identificar na criança no momento
em que ela deixa de referir-se a si mesma na terceira pessoa ( o neném, - a
-
Marina - o Julinho) e passa a usar a palavra Eu, e seus derivativos - Meu, Mi
nha, etc. Estruturou-se a base do EU PSÍQUICO, que irá complementar a
estrutura do EU FÍSICO já mais bem formada, compondo então o EU (SELF)
47
como esse corpo (percebido e dimensionado) existe num espaço físico que é
seu meio de interação. A consciência corporal e espacial, passa a ser então in
corporada pela criança e essa vai, gradativamente, sofisticando essas capacidades
e estabelecendo relações cada vez mais complexas que estarão sempre ligadas
ao grau de estímulo e aprendizado a que é submetida.
Num determinado ponto desse processo, as interpretações perceptivas,
as vivências aprendidas e memorizadas, os conceitos morais, culturais e as in
terações afetivas (primordiais) da criança passam a dar forma também a noção
de Espaço Psicológico, onde, essa vai adquirindo a capacidade de perceber e
simbolizar seu lugar no mundo, nas diversas relações e sistemas que está inse
rida, e na própria relação consigo mesma.
Pari passu, a esse processo descrito acima, a noção de Tempo (mais sub
jetiva e sofisticada) começa igualmente a ter lugar. Primeiro a influência dos
ciclos circadianos (de base neurológica) auxiliam a criança a estabelecer uma
relação com o Tempo Físico, de uma forma mais concreta (dia e noite, por
ex.), aos poucos, noções simbolizadas por nossa cultura, em relação ao tempo,
são passadas para a criança (manhã, tarde, noite, horas, dias, meses, anos, etc).
Por serem conceitos mais subjetivos, eles ocorrem numa velocidade menor que
a da organização espacial. A criança, gradativamente incorpora esses conheci
mentos, e passa a ser capaz de simbolizar o Tempo Físico.
Entre os seis e sete anos, aproximadamente, é que nos tornamos capazes
de simbolizar o Tempo Psicológico. Adquirimos uma noção clara de nossa
finitude, a consciência da inexorabilidade e irreversibilidade da morte tem papel
primordial nesse contexto. Tornamo-nos capazes de ver a vida sobre uma ótica
de historicidade (passado, presente, futuro), tendo no passado a representação
mesma de nossa história (a bagagem de experiências e vivências que carregamos
e utilizamos p. exemplo). Identificamos nosso lugar na relação consigo mesmo
(ser-em-si) e com o mundo (ser-no-mundo) - Espaço Psicológico - e perce
bemos que é no presente (agora) que sou capaz de intervir e realizar a minha
história. Projeto-me para o futuro com as perspectivas e desejos de vir-a-ser
e com a angústia de saber que também virei-a-não-ser-mais. Estrutura-se,
portanto, a Consciência de Tempo Psicológico.
Como o leitor pode observar, a base de nossa identidade, da integridade
de nossa personalidade está alicerçada nessas estruturas. Não temos a pretensão,
e nem é proposta desse capítulo aprofundar e esgotar questões tão complexas
quanto às da formação da Consciência do Eu, nossa intenção é a de relembrar
elementos fundamentais desse processo para justificar a presença de determinados
aspectos de avaliação no Roteiro e de dar o devido destaque a esse componente
tão fundamental do aparelho psíquico.
48
Retomando o Roteiro, teremos no item Consciência do Eu uma lista
para assinalarmos as alterações observadas, a saber:
Normal, Alteração no "Eu Físico", Alteração no "Eu Psíquico", Ruptura
Psicótica, Estranheza de Si Mesmo, Despersonalização, Estranheza do outro,
Alterações na orientação Auto Psíquica (Tempo e Espaço Psicológicos) e Al
teração na Orientação Alo Psíquica (Tempo e Espaço Físicos).
Sublinhamos que no caso da pessoa hospitalizada, a identificação de Al
teração no Eu Físico é quase sempre presente, o grau desse comprometimento
e suas implicações sobre a estrutura da Consciência do Eu deverá ser avaliado
pelo psicólogo assistente, considerando os itens que indicamos.
Um exemplo relativamente simples, mas que, pode nos dar a dimensão
subjetiva dos impactos que a situação de internação hospitalar pode provocar
no Eu Físico.
8. Afetividade
49
pessoal que ele terá dos vínculos afetivos, de sua relação com o mundo de seu
autoconc;eito e de sua autoestima.
Para podermos entender de forma mais filosófica esse conceito, vamos
desenvolver uma ilustração disso:
50
Depressão:
Atualmente referimo-nos a D epressões, à medida que existem várias
subformas de manifestação desta. Destacaríamos as chamadas Depressões Pato
lógicas (Depressão Maior e Distimias DSM-V) e as Depressões Reativas (Luto
sem Complicação DSM-V).
No primeiro caso temos quadros psicopatológicos definidos da seguinte
forma (no que tange a sinais e sintomas):
51
D estacamos a seguir as principais subformas depressivas mais frequente
mente encontradas no hospital:
• Depressão de pós-operatório
• Depressão reativa de pós-parto "Blue" (não confundir com a de
pressão puerperal) a primeira está associada ao segundo grupo de sinais
e sintomas acima descritos, já a segunda pertence ao primeiro grupo
(depressão patológica) e é mais rara sua ocorrência.
• Depressão frente a situações críticas de morte iminente (Segundo
os conceitos desenvolvidos por Kubler-Ross(9), Stedeford(10)).
• Depressão como sintoma de processo de Angústia de Morte
(descrita abaixo)
• Depressão frente à perda definitiva de objetos (Amputações, Diag
nóstico de Doenças Crônicas etc.)
• Depressão por Stress Hospitalar (Ligada à fase de Exaustão dentro
dos critérios de Síndrome Geral de Adaptação de Selye e/ou ao quadro
de Hospitalismo de Spitz.
Mania
Quadro clássico caracterizado por um estado intenso de dação do hu
mor, pensamento acelerado, rebaixamento da autocrítica e da culpa, podendo
inclusive apresentar-se associado a delírios (predominantemente de grandeza)
Labilidade Afetiva
Caracteriza-se pela profunda fragilidade da capacidade de reação a eventos
que mobilizem o indivíduo (tanto positivos quanto negativos) via de regra, o
que se observa é uma exacerbação da reação, como choro fácil, ou explosões
de riso, desencadeadas por circunstâncias que não justificam a intensidade da
reação, embora justifiquem a reação.
Ambivalência Afetiva
As reações do indivíduo frente a eventos e vínculos são absolutamente
dúbias, chegando muitas vezes a ponto da bizarria, onde (por exemplo) com
portamentos literalmente opostos são manifestos ao mesmo tempo. (Rir e
chorar simultaneamente, ou como presenciamos certa vez a paciente em surto
intitulava-se "Uma Santa-Prostituta")
Angústia
Destacamos no roteiro duas subformas de angústia, a Existencial e a
de Morte.
52
A primeira se enquadra no rol de todos os processos de angustia que o
indivíduo pode enfrentar ao longo da vida. No contexto hospitalar as perdas,
os sentimentos de impotência, de abandono etc., são os mais frequentes desen
cadeadores desse processo. Já a Angústia de Morte está associada à vivência
específica da experiência de morte iminente. Julgamos importante ressaltar
que esse processo remonta a mais primeva e aterradora ameaça que o homem
pode enfrentar; a de sua aniquilação (a mais profunda, absoluta e irreversível
perda em sua existência) . É óbvio que pelas circunstâncias que muitas pessoas
são levadas a internação hospitalar esse fator está presente, mas em alguns casos
a experiência de morte se dá através do outro (colega de enfermaria, por ex.), e
que em sua condição fragilizada identifica-se projetivamente com a pessoa que
morreu independentemente de seu quadro clínico representar alto risco de vida.
A Angústia de Morte se instala a partir da vivência intensa de amea
ça a vida, e diferentemente dos processos de angústia que nos habituamos a
acompanhar em consultório, que evoluem gradativamente através do processo
terapêutico onde, as defesas e resistências vão sendo paulatinamente eliminadas,
na Angústia de Morte a pessoa vê-se repentinamente nesse estado, o que gera
uma condição emocional ainda mais fragilizada do que aquela que se apresen
ta num processo de Angústia Existencial. É de fundamental importância a
presença do psicólogo nesse momento, pois propiciar ao paciente um espaço
estruturado para a manifestação e elaboração dessa angústia pode ser inclusive
fator determinante entre a opção pela vida ou pela morte (no caso de uma
angústia desencadeada pela vivência de morte iminente, mas sem necessaria
mente persistir o risco de vida no paciente), e nos casos onde a inexorabilidade
da morte está ligada ao próprio prognóstico da doença, a possibilidade de en
frentamento dessa angústia para uma elaboração mais consistente do desapego
pode atenuar em muito o sofrimento emocional da pessoa.
Ansiedade
Destacamos duas subformas a Reativa e a Neurótica para que possamos
diferenciar aquela ansiedade que se manifesta pelas expectativas, medos, fan
tasias, que podem ocorrer à pessoa hospitalizada advindas da situação vivencial
concreta de doença, tratamento e internação (Reativa), daquela infundada
(objetivamente) própria dos processos neuróticos onde a sensação de ameaça
iminente, de "algo de errado", mas sem fatores exógenos desencadeantes é
manifesta pelo paciente.
O roteiro nesse subitem apresenta relação dos sintomas afetivos acima
descritos, com os respectivos espaços para que o psicólogo assistente possa
assinalar suas observações.
53
9. Motivação e Volição
Figura 8
54
existencial. Se o degrau de baixo não está satisfeito, não temos como ascender
ao próximo.
Como salientamos no início da descrição do item Exame Psíquico, esse
pode ser utilizado como integrante do Roteiro de Avaliação ou ser usado em
separado para avaliação específica do estado psicológico do paciente hospitali
zado. Procurou-se salientar os aspectos mais relevantes que se pode encontrar
nas condições de hospitalização e dar-se ao leitor um breve esboço sobre os
conceitos e definições dos diversos itens que são avaliados nesse Exame.
Como dissemos, não é nossa intenção aprofundar nesse capítulo os as
pectos psicodinâmicos e psicopatológicos que se aborda no Roteiro, mas sim
dar ao leitor parâmetros de compreensão dos diversos sinais, sintomas e outras
manifestações psicológicas, e fornecer (ao fim deste), um roteiro de estudos
para quem se interessar em aprofundar os estudos na área.
55
invasão imposta pela hospitalização e tratamento. Onde as relações estabelecidas
são permeadas por este matiz, estabelecendo contato com o outro de forma
ativa, porém, muitas vezes, desorganizada (essa manifestação foi discutida em
detalhe no item 5).
HOSTILIDADE: esta manifestação comportamental dá indício de
resposta impulsiva frente ao meio ambiente, direcionada as pessoas que tem
contato mais próximo ao paciente. Denotando, forma primitiva de estabele
cimento de contato, onde outro passa a ser solicitado ao contato de maneira
agressiva. Pode dar indício de descontrole sobre a impulsividade, bem como a
noção que a presença do outro é tida como invasiva ao paciente e a aparente
força proporcionada pela hostilidade pode indicar fragilidade, sendo uma forma
de reação reativa frente à situação ameaçadora.
FANTASIAS: demonstram a capacidade criativa do indivíduo no mundo
interno e externo, indicando uma das formas de trabalho mental, podendo ser
estruturadas com dados de realidade ou não, serem absolutamente fantásticas,
apontando para o comprometimento do Juízo de Realidade. Na situação de
hospitalização podem surgir relacionadas à expectativa diante de algum evento
desconhecido do repertório do indivíduo, tais como exames e procedimentos
técnicos, os quais o paciente procura fazer uma prospecção do futuro próximo
e estabelecer formas de reação frente ao mesmo, organizando-se, e adminis
trando a ansiedade.
FANTASIAS MÓRBIDAS: É a fantasia de conteúdo mórbido revela
temores relacionados à crise do adoecer, tratamento e hospitalização, conserva
as mesmas características descritas acima, e indica formas cognitivas de inter
venção a nível psicológico. A perniciosidade desse mecanismo repousa no fato
das elaborações fantásticas estarem associadas ao processo de doença, internação
e tratamento e/ou a equipe de saúde, sempre com conteúdos de características
destrutivas ou ameaçadoras.
FRUSTRAÇÃO: Reação normal do indivíduo diante de perdas ou
privação de prazer, no caso do doente hospitalizado observa-se este sentimento em
situações de recidiva de doenças crônicas, ou insucesso de condutas de tratamento,
e projetos de vida comprometidos pela perda da saúde. Ressaltamos que apesar de
ser frequentemente associada a estados depressivos, pode também, estar relacio
nada á fase de Revolta, nesse caso, ao contrário da característica passiva associada
à depressão, a manifestação é ativa, mobilizada pela energia subjacente a raiva.
IMPOTÊNCIA: Condição encontrada frente á impossibilidade de rea
ção à situação vivenciada na atualidade pela· pessoa. Encontra-se acompanhada
56
por autoestima rebaixada, sentimento de menos-valia. Note-se que é uma
manifestação psíquica sujeita também ao confronto com dados de realidade,
ou seja, pode haver discrepância entre a impotência apresentada e a magnitude
do evento externo.
INSEGURANÇA: sensação de perda de referências familiares, como
a impotência indica a fragilidade egoica, podendo estar presente em estados
ansiosos onde é possível identificar aspectos relacionados com a situação de
doença e hospitalização, ou em casos onde a característica da ansiedade é pró
pria de processos neuróticos, onde tal manifestação não encontra algo objetivo
que gere insegurança, surge de modo infundado e faz parte do humor basal
do indivíduo.
FRACASSO: como a frustração, o fracasso aponta a insatisfação, porém,
esta é direcionada a si próprio, com rebaixamento da autoestima, e sentimento
claro de menos-valia, podendo indicar estado depressivo ou Depressão Maior,
de acordo com a intensidade do mesmo.
REGRESSÃO: considera-se seu aspecto comportamental de retorno
a uma forma de se relacionar com o meio ambiente, do ponto de vista de
maturidade emocional. Sendo importante observar o uso e constância de tal
forma de funcionamento, se é circunstancial a algum evento ou procedimento
de tratamento ou se é pertinente a comprometimento das funções avaliadas
no Exame Psíquico indicando quadros psicopatológicos mórbidos tais como
Demências, Psicoses Endógenas ou Exógenas.
DEPENDÊNCIA: esta manifestação psíquica indica a busca de forta
lecimento egoico através da identificação projetiva estabelecida com um outro
considerado potente. Onde o indivíduo faz uso de tal relação para enfrentamen
to da situação ameaçadora, passando a delegar a esse outro (equipe de saúde,
família) a resolução dos passos de tratamento ou da própria vida, assumindo a
postura passiva sem a reflexão a respeito das implicações dos eventos que ocor
rem a sua volta. D estacamos que a D rogadicção deve ser assinalada no Exame
Psíquico, item 8 desta avaliação, e, portanto, distinta da descrição realizada
acima. É importante salientar que as condições despessoalizantes impostas pela
hospitalização são fator desencadeante de sentimentos regressivos, dada à im
posição de dependência e a atitude infantilizadora que muitas vezes é imposta
ao paciente, criando uma situação onde a capacidade de ser determinante de
sua história é substituída por uma vivência real de ser determinado.
CONFORMISMO: comportamento preenchido pela passividade
falta de questionamento, resignação frente ao evento da doença, tratamento
57
e hospitalização. Podendo acompanhar o estado depressivo e aparentar Acei
tação da crise que se instalou, porém, tem por característica a falsa adaptação
à situação atual, que muitas vezes encobre dúvidas, medos, fantasias mórbidas
entre outras coisas, gerando desconforto psíquico intenso.
PROJEÇÃO: mecanismo de defesa, onde ocorre a projeção de conteúdos
do mundo interno do indivíduo, os quais não consegue integrar na consciência
e reconhecer como seus e, portanto, pertencentes a seu sel( Revela fragilida
de· da estrutura egoica podendo estar relacionado com comprometimento da
personalidade ao nível de ruptura psicótica, quando acentuada, ou ser circuns
tancial e moderada frente a um evento estressar e passível de reorganização e
percepção do mesmo. Pode-se observar ainda o recurso que tal mecanismo
oferece no uso de objetos intermediários para elaboração tais como técnicas
.. gráficas, colagem, entre outros.
ISOLAMENTO: esta manifestação é aqui considerada como uma forma
de retirada, de retraimento do indivíduo quanto ao convívio social. Conside
ramos então, sob esse prisma, que a hospitalização pode gerar tal condição, por
condutas de tratamento (ex. Unidade de Isolamento, UTI, etc.), bem como as
sequelas geradas ao nível de Esquema Corporal (Alopécia, Mutilações, Osto
mias, etc.) que ocasionam a "morte social", onde a pessoa passa a ser excluída
do convívio social e a assumir a condição de paciente, ou daquele que está
próximo da morte, ocasionando o distanciamento entre a pessoa doente e o
meio social e consequente troca afetiva.
DESAMPA RO : consideramos esta manifestação em relação a seu
espectro institucional gerado pela hospitalização. Esta implica na perda de
referenciais significativos na vida do indivíduo, desde sua rotina de vida,
seus hábitos, costumes, perda da autonomia, do controle sobre seu destino,
passando a ter que incorporar em seu repertório novas regras de organização.
Desprovido de seus referenciais, pode-se ver que a adaptação exigida na hos
pitalização, com o distanciamento de vínculos significativos, horários rígidos
de visita de familiares podem suscitar a ocorrência da falta de esteio a nível
psicológico, colaborando para instalação de depressão reativa de natureza
ambiental significativa, sendo também foco de intervenção para minimização
do estado de desamparo.
PÂNICO: estado psicológico onde há prevalência da resposta impulsiva
frente à situação ameaçadora, muitas vezes com a utilização de mecanismos de
defesa insatisfatórios para administração da angústia que a acompanha. Podendo
chegar à resposta comportamental de fuga hospitalar, frente ao descontrole sobre
a situação de hospitalização e tratamento. É necessária a avaliação dos recursos
58
passíveis de serem administrados (medicamentosos ou não) para diminuição do
limiar da ansiedade que neste estado assume a intensidade alta.
DESCONFIANÇA: manifestação psíquica relacionada à tentativa de
manter o controle ativo frente à situação percebida como ameaçadora. Esta
pode ser relacionada à situação nova, desconhecida e nunca experienciada pela
pessoa, muito comum nas internações hospitalares. Devemos ressaltar que a
desconfiança pode surgir como manifestação de quadros psicopatológicos de
ordem endógena ou exógena onde ocorre alteração à nível de Juízo de Reali
dade (particularmente nos casos de delírio persecutório), e desta forma a crítica
em relação à percepção encontra-se comprometida.
59
profundamente graves e angustiantes, podendo gerar então o sentimento de
ambiguidade.
HOSPITALISMO + (positivo): Consideramos esta manifestação com
portamental como positiva, quando ocorre a adaptação à internação e à rotina
hospitalar, de forma a substituir aspectos carentes do indivíduo, de maneira
a reforçar sua autoestima nos vínculos afetivos estabelecido com a equipe de
saúde, em detrimento dos vínculos familiares e grupos sociais nos quais está
inserido. Pode-se observar que de acordo com as condições socioeconômicas
de nosso país, no que se refere à moradia e condições básicas de sobrevivência
de nossa população, o hospital pode representar um "serviço de hotelaria",
oferecendo: alimentação, local para dormir, em condições melhores do que
muitos pacientes estão acostumados a ter, atenção e cuidados, etc, criando
condições de vida que levam o paciente a preferir ficar hospitalizado a voltar
a enfrentar as penúrias sociais a que está submetido.
HOSPITALISMO - (Negativo): esta manifestação comportamental
é aqui considerada nos termos descritos por Spitz, que tem em seu boj o a
questão do desamparo, atingindo de forma aguda a estrutura de personalidade
podendo colaborar com a manutenção de estados depressivos. Gostaríamos de
ressaltar que a permanência prolongada, ou as internações subsequentes fazem
agravar o estado de hospitalismo no adulto, que apesar de ter mecanismos de
defesa estruturados, está sujeito à falência dos mesmos e a desenvolver atitude
de rejeição a instituição hospitalar.
Nota: Os termos; positivo e negativo são utilizados, nesses casos, para
identificar a interpretação exacerbada que o paciente tem em relação a sua
hospitalização, sendo que nos dois casos os sentimentos em questão são per
niciOsos ao mesmo.
STRESS PSICORGÂ NICO: Stress identificado comumente após exi
gência física ou psicológica com alteração em ambas as esferas do indivíduo.
Podendo ser observado em pós-operatório, pós-quimioterapia, diálise,
etc.; bem como em situações de alteração do ciclo circadiano, traumas
psicológicos como nas perdas abruptas, vivências traumáticas, internação
em U.T. I . , etc. Reportamos o leitor aos trabalhos sobre Síndrome Geral
de Adaptação de Selye.
AGITAÇÃO PSICOMOTORA: Comportamento observado onde há
ocorrência de movimentos que fogem ao controle voluntário do indivíduo,
podendo ser resultante de alterações orgânicas ou psicológicas, dando indício
de alteração psicopatológica ou neurológica no mesmo.
60
AGRESSIVIDADE AUTO DIRIGIDA: manifestação da pulsão agres
siva direcionada ao próprio indivíduo, podendo ser comportamental como a
automutilação ou verbal com autorreferência e autodepreciação.
AGRESSIVIDADE ALO DIRIGIDA: manifestação da pulsão agressiva
direcionada ao meio ambiente, podendo estar presente a agressão fisica ou verbal.
MEDO REAL: emoção ligada a um evento do mundo interno, que
afete a autoestima, ou ao mundo externo sendo o mesmo sujeito ao Juízo de
Realidade. A vivência da possibilidade de morrer é um exemplo do contato
com o medo, presente na hospitalização, sendo importante à identificação dos
mecanismos adaptativos utilizados pelo paciente, se há paralisação ou desen
cadeia o movimento de autopreservação.
MEDO FANTASMÁTICO: emoção ligada a evento do mundo interno
ou externo que não está sujeito ao Juízo de Realidade, não há identificação
clara do objeto ameaçador, este é indiferenciado, desencadeando mecanismos
primitivos de enfrentamento, sendo presente à ansiedade de característica psi
cótica, intensa e confusional.
COMPORTAMENTO F ÓBICO: Atitude de evitação ou franca fuga
de situação, objeto ou ser, que desencadeia ansiedade incontrolável e temor
intenso. De acordo com Helmchen o temor é reconhecido intelectualmente
como " . . .impróprio, exagerado, não fundamentado e se acompanha de expe
riência subj etiva de resistência interna, que se lhe opõe. A consciência (insight)
do caráter mórbido pode ser total, parcial ou temporária. As fobias induzem a
determinados atos, as chamadas condutas de fuga".
SENSAÇÃO DE PUNIÇÃO: na vigência do tratamento pode ser ob
servada a sensação de punição ou castigo relacionada à doença onde há uma
prevalência de sentimento de auto referência, que poderá ser susceptível de
elaboração caso seja um estado depressivo reativo ou, caso sej a uma depressão
Maior, estará relacionada a uma forma específica de auto referência não sus
ceptível a intelectualização e a dados de realidade.
SENSAÇÃO DE ABANDONO: característica do desamparo, podendo
ser real, por distanciamento de familiares ou da própria equipe de saúde, de
notando dificuldade de comunicação e troca afetiva com o paciente, afetando
a autoestima de forma significativa, bem como a aderência ao tratamento.
LIMITAÇÃO DE ATIVIDADES: pode ser ocasionada pela própria
doença ou tratamento, com déficit temporário ou definitivo de locomoção,
postura!, de comunicação. Proporcionando campo para a passividade frente à
hospitalização e a vida.
61
CONFLITOS QUANTO A PRIVACIDADE: alteração na condição
de intimidade, podendo ser devido à despessoalização gerada pela internação,
como relacionada á história da pessoa, com a perda da sensação de particula
ridade e acompanhada de sensação de invasão.
PRIVAÇÃO DA LIBERDADE: manifestação pertinente à internação
com a imersão em regras e rotinas as quais o indivíduo não pode transpor sem
estar suj eito a sanções da instituição.
PERDA DA AUTONOMIA: a doença, hospitalização e tratamento
ocasionam a perda do controle sobre o destino da pessoa, que pode ser percebida
como total ou parcial, variando para compreensão do fenômeno a interrelação
entre os limites e possibilidades reais impostos pela crise do adoecer e a forma
de elaboração da doença e a flexibilidade existente na equipe de saúde e famí
lia, ou seja, se é incentivado ou não o exercício da autonomia e condição de
agente sobre sua própria vida no que concerne ao paciente assistido por esta.
ESQUEMA CORPORAL MODIFICADO: alteração concreta no
corpo do indivíduo, em que está implicada a consciência corporal e a repre
sentação psíquica do mesmo. Presente nas cirurgias mutilatórias, ostomias,
CAPD, Cateteres, etc. Importante observar e intervir na elaboração da perda ou
alteração ocasionada pela doença e tratamento, visando auxiliar na reconstrução
do corpo modificado e seu significado na autoestima e retorno à vida diária.
CONFLITOS NA Á REA DA SEXUALIDADE: conflitos pregressos
ou posteriores à situação de hospitalização doença e tratamento, apontam para
a questão da identidade sexual e sexuada e para a condição de ser e estar no
mundo, à busca de prazer e vínculos significativos com parceiro afetivo-sexual
e amoroso. Importante observar a intensidade de conflitos que a doença pode
estar impondo neste item e vice-versa.
INDÍCIOS DE SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA E/OU ABUSO: pro
fissionais das áreas de Saúde e Educação estão obrigados a avisar às secretarias
municipais e estaduais sobre qualquer caso de violência sexual identificado. A
notificação compulsória consta da Portaria 1 04 do Ministério da Saúde, publicada
no dia 26 de janeiro/201 1.
Com a inclusão dos casos de agressão doméstica e sexual, o texto agora é
composto por uma lista de 45 itens, no qual constam doenças, agravos e eventos
selecionados de acordo com critérios de magnitude, potencial de dissemina
ção, transcendência, vulnerabilidade, disponibilidade de medidas de controle
e compromissos internacionais com programas de erradicação, entre outros
fatores. Cabe buscar protocolo específico para preenchimento e notificação.
(Dados na bibliografia: Ministério Público) - FICHA DE NOTIFICAÇÃO
62
COMPULSÓRIA DE CASOS SUSPEITOS OU CONFIRMADOS DE
MAUS-TRATOS OU ABUSO SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADO
LESCENTES
1 2 . Conduta
1 3. Síntese
63
A partir da síntese de diversas avaliações é possível desenvolver relatórios
de encaminhamento, pareceres, etc.
I. Introdução
64
trabalham na rede pública, sendo essa determinação aplicada em toda a cadeia
de serviços de assistência - de Postos de Saúde e Ambulatórios a Hospitais de
Especialidade vinculados à Rede SUS.
No entanto, alguns fatores ainda contribuem para uma série de dificul
dades na utilização desse manual (CID - 10). De um lado ressalte-se que, não
obstante aos esforços que são sistematicamente feitos, para um adequado enqua
dramento e definição de sinais e sintomas para a classificação e codificação dos
Transtornos Mentais, a subjetividade e, não raro similaridade destes, ainda é alvo
de confusões e conflitos no campo acadêmico de definição, e mesmo devido
ao desconhecimento, por parte de um grupo significativo dos profissionais de
saúde, da nosografia, psicodinâmica, multifatoriedade e multicausalidade desses
quadros. Por outro lado, há uma incipiente formação, em inúmeros cursos,
em que se incluem vários de Psicologia, na adequada capacitação do estudante,
para entender identificar, diagnosticar e intervir por sobre estes transtornos. A
somatória desses fatores acaba por criar algumas dificuldades no que se refere
a um adequado uso da CID - 10.
Em se tratando da Psicologia Hospitalar, há de se considerar que a, ainda
nascedoura, estruturação de teorias e métodos dessa especialidade em Psicolo
gia apresenta carências de referenciais teóricos, e muitas vezes, vemos severas
confusões conceituais ocorrendo, uma vez que é bastante comum se tentar
fazer uma transposição direta de modelos aplicados a Hospitais Psiquiátricos
ou da Clínica tradicional para uma prática que tem importantes especificida
des e diferenças se comparada àquelas, das quais busca "emprestado" os ditos
referenciais.
No entanto, todos esses obstáculos, não podem ser vistos como pontos
intransponíveis, ao contrário, podemos considerar que é exatamente a carên
cia de metodologias mais específicas que pode, em muitos sentidos, facilitar
a utilização de referenciais de classificação e estatística como os que são apre
sentados em manuais como a CID - 10, uma vez que há uma clara afinidade
na tentativa que a aplicação desses materiais propõe, e as necessidades que o
dia-a-dia do Psicólogo Hospitalar apresenta.
O Hospital Geral é uma instituição que recebe fortes influências do
modelo biomédico cartesiano, dentro de uma visão nomotética das Ciências
da Saúde, e como tal está fortemente alicerçado em normas, métodos, códigos,
que buscam orientar as condutas e procedimentos que são executados nesse tipo
de instituição. Não se trata aqui de se apregoar o abandono da visão singular da
Pessoa Enferma, tão pouco o de desvalorizar os aspectos subjetivos e íntimos
que cada paciente constrói a partir de sua história com o processo doença-in
ternação-tratamento, mas sim, o de aproximar ambos modelos (nomotético e
65
idiográfico) tornando-os complementares e não antagônicos. Sob esse aspecto
acreditamos que a prática diária de atenção singularizada a pessoa enferma pode
e deve ser adequada ao uso de codificações de suas manifestações psíquicas e
comportamentaís, de forma a podermos construir uma importante ponte que
marque de forma indelével a transição (construção) que parte do referencial
biomédico para o biopsicossocial.
66
Psicólogo pode ter por base as regras estatísticas de incidência e prevalência de
_
sinais e sintomas preconizados pela CID - 10, mas que, a leitura qualiquanti
uriva das manifestações do paciente (discurso, postura, histórico de vida, etc.),
sio nossa principal ferramenta de compreensão da pessoa em seu momento
particular de sofrimento.
A CID - 10 define uma série de categorias de transtornos mentais, di
ndidos em subgrupos, os de maior incidênci� no Hospital Geral estão abaixo
listados e na sequência do presente texto tratar-se-á de discuti-los estabele
cendo-se relação teórica entre a classificação nosográfica e os fundamentos das
reorias psicológicas.
Recomenda-se ao leitor que acompanhe a leitura tendo em mãos a
CID - 10, de maneira a poder estabelecer as relações discutidas.
67
Memória Global (Fixação e Evocação), até desembocar (em evolução mais ou
menos rápida) no Transtorno Demencial codificado em F 00.
O Codificador F OS - Delirium, não induzido por álcool e outras
substâncias psicoativas, deve ser considerado em diversas situações associadas
a comprometimentos de SNC, tais como Encefalopatia Hepática, Endocardíte
Bacteriana e alguns tipos de Câncer, considera-se que os transtornos classifi
cados como Psicoses Exógenas Sintomáticas e algumas subformas de Psicoses
Exógenas Tóxicas fazem parte desse grupo de codificação (vide texto de apoio
em anexo C e D). Observe-se, como especifica nota abaixo, que a codificação
de Delirium, deve receber atenção especial, uma vez que esse quadro aparece
associado a outros com perspectivas de classificação mais objetivas.
O grupo codificado sob F 06 (de .O a 9) - Transtornos mentais
.
68
Uma primeira consideração a se fazer nesse bloco de codificações, é a de
se ater, principalmente no Hospital Geral, à perspectiva de incidência em grau
relativamente elevado de Transtornos Afetivos do Humor (orgânico) - F
06.3 os quadros infecciosos particularmente, podem desencadear alterações do
humor (sobretudo depressivas) ocorrência relativamente frequente em UTI,
Unidades de MI, Isolamento (sobretudo nos pacientes imunodeprimidos -
em uso de drogas antirrejeição e portadores sintomáticos do HIV). Para essas
situações a pesquisa de histórico pregresso, a avaliação do grau de crítica do
paciente em relação a seu estado mórbido (específico e global), e a ausência de
correlação com processo de Angústia de Morte, devem ser consideradas para
a classificação nesse eixo. É de extrema importância, particularmente para o
trabalho do Psicólogo Hospitalar, considerar a inexistência ou pouca efetivida
de de fatores emocionais graves desencadeando o processo depressivo, para se
utilizar a classificação F 06.3. Em todos aqueles casos em que a gravidade das
variáveis psicossociais as quais o paciente enfrenta estiverem presentes, deve-se
pensar primeiro num transtorno do grupo F 30 - F 39, para posteriormente
se considerar o fator orgânico como principal desencadeante do fenômeno
afetivo. (Vide texto de apoio B).
Outra consideração importante se deve ao fato de que nas situações es
pecíficas de Avaliação Psicológica do paciente hospitalizado em Hospital Geral,
termos tima incidência muito grande de transtornos associados, principalmente
devido a circunstâncias vivenciais que afetam a esfera afetiva da pessoa, dado ao
alto grau de sofrimento determinado pelo processo doença-internação- trata
mento. Sendo assim, a utilização dos codificadores de Transtornos Afetivos do
Humor, deve ser acompanhada sempre, por parte do Psicólogo Hospitalar, de
avaliação qualitativa, principalmente se for considerado o fato de que aqueles
transtornos classicamente classificados nos grupos das chamadas "Doenças
Mentais", são de incidência muito baixa no Hospital Geral, e, ainda mais, se
comparados às demandas de Hospitais Psiquiátricos e Unidades de Saúde Mental.
Os transtornos classificados em F 3 0 (de .O a .9) apresentam maior
incidência nos subgrupos F 30.0 (Hipomania), F30.1 (Mania sem sintomas
Psicóticos). Os quadros hipomaníacos normalmente aparecem associados a
alterações determinadas por interação medicamentosa e/ou compondo quadro
mais amplo com agitação psicomotora e intensa ansiedade. Tanto nesse, como
em outros casos onde a sintomatologia for mista, é importante avaliar-se qual
o quadro de base, e o mais importante dentro da avaliação global do paciente
e, a partir daí considerar-se os demais sinais e sintomas como patopláticos ou
complementares. Note-se que nem sempre o sintoma mais exuberante é ne
cessariamente o principal.
69
Os transtornos do grupo F 32 - Episódio Depressivo, tem importante
incidência no Hospital Geral, sendo anteriormente classificado no grupo das
chamadas Depressões Reativas (ou menores, ou ainda no DSM V - Luto sem
complicação). Note-se que de F 32.0 a F 32.9 temos uma gama importante
de sub formas nas quais podem ser incluídos os quadros de Depressão de Pós
Operatório, Depressão Reativa Puerperal (não confundir com o Transtorno
Depressivo Puerperal) *, os Estados Depressivos associados a Luto por per
das (objetivas e simbólicas), nos quais incluem-se os quadros de amputações,
diagnóstico de enfermidade crônica e/ou grave, perdas funcionais, e na classi
ficação do Roteiro de Avaliação Psicológica (Sebastíaní e Fongaro) o quadro de
Hospitalismo Negativo como visto neste capítulo, além obviamente da fase
Depressiva associada ao processo de enfrentamento da morte originariamente
preconizada por Kubler Ross. Esses episódios podem evoluir na dependência
dos fatores vivenciais, de estresse intermitente e da sobreposição de intercor
rências e/ou agravamento do estado clínico de base do paciente, para aqueles
classificados nos subgrupos F 33 (Transtorno Depressivo Recorrente) e F 34
(Transtornos Persistentes do Humor). Observe sempre a avaliação diferencial
para o descarte de fatores exógenos (orgânicos, farmacológicos) que possam
concorrer para a instalação do Episódio Depressivo. (Vide texto de apoio B)
70
para a busca da mais adequada classificação, uma vez que pode haver enquadres
mais específicos em outros grupos (como p. ex: F 3 0 - F 39). Cabe ressaltar
que nas unidades Pediátricas, dado muitas vezes à precariedade de condições
de coleta de informações, o subgrupo F 43 . 2 é muito utilizado.
Os Transtornos listados no grupo F 43 como por Ex. F 43.1 (Transtor
no de Estresse Pós-traumático) podem ser encaixados em diversas situações
em Pronto Socorro, UTI, Unidades Cirúrgicas, Unidades de Ortopedia e
Traumatologia entre outras, no entanto deve-se sempre considerar que essa
codificação tende a uma generalização do quadro do paciente, carregando uma
importante falha, no que tange a qualificação mais arguta do fenômeno psico
lógico que o paciente apresenta, esse mesmo raciocínio se aplica a codificação
F 43.2 (Transtorno de Ajustamento), que, no caso do Hospital Geral pode
aparecer com intensa frequência. Há que se considerar o fato de: Isolamento, a
perda da Autonomia, o desconhecido, as intercorrências próprias da evolução
de um processo patológico, sej am impostas pela patologia propriamente dita,
u por outras variáveis que cercam a essa (reação medicamentosa, sentimentos
de invasão e agressão pela manipulação determinada pelos procedimentos e/
ou aparelhos intra e extra corpóreo) dentre outras, constituem-se em estímulos
estressantes intermitentes que podem levar gradativamente o paciente à Falência
Adaptativa, criando assim todas as condições para a instalação de F 43.2 (0,
1, 2, 3, 4, 5, 8) além de F 43.8 e F 43 .9. Todas as alterações (transtornos)
determinados a partir de Síndrome Geral de Adaptação, sobretudo àquelas
derivadas da Fase de Esgotamento (Selye, Sebastiani 2) vão encontrar critérios
de codificação predominantemente nesses subgrupos, incluindo-se aqui os
estudos mais recentes de Burnout.
Como já foi abordado acima, muitas vezes (na utilização da CID - 10)
deve-se utilizar mais de um codificador para se buscar uma descrição diag
nóstica mais precisa. Nesses casos, o critério de Eixos utilizado pelo DSM V
mostra-se mais eficiente, no entanto a adoção desse manual de codificação
no Brasil é menor, principalmente na rede hospitalar pública. Recomenda-se,
por tanto, que quando houver possibilidade de desenvolvimento de normas de
utilização de critério diagnóstico baseado na CID - 10, onde se possa utilizar
codificadores complementares, que assim se proceda, sempre estabelecendo
como quadro principal (ou o mais importante no momento da avaliação) o
primeiro código a ser apresentado.
Exemplo: F 32.2 e F 43.21 (Episódio depressivo grave sem sintomas
psicóticos, associados à Reação a estresse grave e transtornos de ajustamento
com reação depressiva prolongada). Nesse exemplo classifica-se o quadro
de base (F 32.2 - Episódio depressivo grave ...) e identifica-se no diagnóstico
71
complementar os vetores que desencadearam o quadro de base (F 43.21 de
terminado por Reação a Estresse Grave e transtornos ...)
Nota: É importante relembrar, sempre, que mesmo utilizando-se um
critério codificador que procura ser mais objetivo, como o caso da CID - 10, o
adequado levantamento de dados do paciente e a pesquisa, sempre que possível,
da História da Pessoa, devem ser contemplados.
É exatamente na busca de aprofundar estas informações que foi desenvol
vida a CIF, como mencionado anteriormente, fator que reforça a importância
das leituras qualiquantitativas na pesquisa diagnóstica.
No grupo dos Transtornos codificados por F 40 (Transtornos Fóbico
-ansiosos), merecem destaque; F 40.2 Fobias específicas, que podem aparecer
decorrentes de Sequelas Psicológicas ou Psico-orgânicas associadas a vivências
traumáticas anteriores (intensas e predominantemente intermitentes por largo
período) como por ex., em pacientes submetidos a Q.T. e pacientes transplanta
dos em fase de readaptação à vida pós transplante (ênfase nos quadros de IRC,
onde comportamentos novos têm de ser readquiridos, sendo estes antagônicos
aos que anteriormente se apresentavam, e que quando emitidos provocavam
intenso sofrimento ao paciente). Já o subgrupo F 40.8 e F 40.9 (Outros trans
tornos Fóbico-ansiosos e, Transtorno fóbico-ansioso, não especificado)
devem ser considerados com· atenção, pois só se classifica nessa codificação
quadros fóbicos (dentro do contexto hospitalar) quando da ausência de qualquer
outro dado mais específico de classificação das manifestações o paciente. Sem
pre é válido relembrar que a intensa ansiedade (que, via de regra, acompanha
como pródromo, os quadros fóbicos) tem múltiplos e permanentes fatores de
desencadeamento presentes nas situações de Doença-Internação-Tratamento.
Especificamente em Pronto Socorro deve-se levar em conta ocorrência
de quadros de Transtorno de Pânico, atendidos em episódio agudo (queixas
pré-cordiais, lipotímias, sensação de sufocamento, sudorese intensa, mas com
achados clínicos pouco significativos pra justificar o quadro do ponto de vista
orgânico), a pesquisa de história pregressa, a avaliação de comportamento, soma
do às baixas evidências clínicas, geralmente são suficientes para um Diagnóstico
Breve, e o consequente atendimento emergencial do paciente e orientação para
tratamento mais específico (psico e farmacoterápico), recomenda-se nesses casos
a codificação F 41 .0 ou F 40 (.01, .2 ou .9) dependendo das características
patoplásticas que complementam o quadro geral e das condições de uma pes
quisa mais específica do paciente.
O subgrupo F 41 (.1 a .9), somente deve ser utilizado em dois casos:
Na ausência de maiores dados que permitam uma qualificação mais
adequada das manifestações psíquicas do paciente ou;
72
Como codificador complementar a um quadro de base, se a exuberância
Jo transtorno ansioso assim o exigir.
Em F 44, temos subgrupos de classificação de Transtornos Dissociativos
(conversivos) que remontam às classificações clássicas de Quadro de Neurose
Conversiva Histérica, em suas diferentes subformas. Note-se que nesses casos
�rar-se-á trabalhando por sobre um diagnóstico clássico de transtorno neu
rótico, que apresenta incidência significativa em Hospitais Gerais, sobretudo
em unidades de Pronto-Socorro. (Vide texto de apoio A)
A utilização do termo "dissociativo" nesses casos (F 44.0, F 44.1, F 44.2,
F 44.4, F 44.6, F 44.7, F 44.8 e F 44.9) está associada às manifestações neu
rovegetativas dos sintomas classificados, com pouca ou nenhuma influência da
inrencionalidade do paciente (inconscientes), mas não se associa o termo a pro
cesso despersonalizante, ou de desrealização. Há, portanto, considerável higidez
nas funções mentais de pensamento Quízo de Realidade), Consciência do Eu, e
73
nossa sociedade, e a evolução dos serviços hospitalares (incluindo-se os hospi
tais públicos) que prestam serviços especializados às pessoas portadoras desses
transtornos. Unidades de Psiquiatria e/ou Saúde Mental, Gastroenterologia,
Endocrinologia e, mais recentemente programas interdisciplinares de atendi
mento ao portador de Transtornos Alimentares, são as instâncias de serviço
hospitalar que mais se utilizarão desse grupo de classificação. Na grande maioria
desses serviços a presença do Psicólogo é considerada como peça imprescindível
para o êxito dos tratamentos.
Grupo F 51 - Transtornos não-orgânicos do sono; os transtornos do
sono constituem-se atualmente em uma subespecialidade da neurologia, que
vem crescendo na medida dos avanços das pesquisas sobre neurotransmissores,
funções cerebrais e da própria neuropsicologia, nesse sentido, existem diversas
classificações contempladas pela CID, sob código inicial G 47. É fundamental
que se ressalte aqui, que a incidência de transtornos não orgânicos do sono
podem estar associados a quadros depressivos graves, sendo a queixa de alteração
dos mecanismos de sono-vigília, muitas vezes, o sinal prodrômico que leva o
paciente em busca de ajuda médica. Outros fatores ligados a mecanismos psico
lógicos (predominantemente) podem contribuir para alterações do sono, sendo
estes relativamente frequentes no Hospital Geral, sobretudo aqueles associados à
ansiedade intensa, sentimento de perda de controle, medo, isolamento, angústia
de morte dentre outros. Mais uma vez se ressalta a importância de codificação
múltipla (sempre que possível) quando da utilização desse grupo diagnóstico.
O Grupo F 53 Transtornos mentais e de comportamento associados
-
74
rar-se os quadros hipocondríacos (F 45.2) onde F 55 aparecerá também como
diagnóstico complementar.
Os Grup os F 54 e F 59 devem ser evitados, sempre que possível, como
codificadores de transtornos mentais, uma vez que incluem uma gama inde.,.
finida e dissociada de sinais e sintomas, provocando, não raro, uma estigma
tização maior do paciente, e dificultando, para a equipe de saúde "não psi", a
compreensão melhor do quadro apresentado.
� NÊMETON
ESTl.r"llOS E PESQUISAS
PSICÓLOGO.................................... MÉDICO................................... .
SERVIÇO/DEPTO ......................... DIAG.MÉDICO ........................... .
AUTO CONCEITO ( )
AUTO ESTIMA ) ( ) )
ANSIEDADE ( ) ( ) ( )
DEPRESSÃO ( ) ( ) ( )
75
DEFESAS PREDOMINANTES ) POSITIVAS ( ) NEGATIVAS
RUPTURA PSIC Ó TICA ) SIM ( ) NÃO
OBS: ...................................................................................................
76
OBS: ...................................................................................................
77
ANTES DEPOIS
DESEMPREGO ( ) ( )
MUDANÇA DE CASA ( ) (
MUDANÇA DE ESCOLA ( )
NASCIMENTO DE IRMÃO ( ) ( )
HOSPITALIZAÇÕES NA FAM Í LIA ) ( )
ACIDENTES DOM É STICOS ) ( )
ACIDENTES DE TRÂ NSITO ( ) ( )
VIAGENS )
MUDANÇAS DE EMPREGO ( ( )
BRIGAS FAMILIARES ( ) ( )
DIFICULDADES ECONÔMICAS ( ) ( )
INDICADORES DE VIOLÊ NCIA D OM É STICA ( ( )
OUTROS . . . . . . . . . . . . . . . . . . .............. . . . . . .............. ( ) ( )
7. AVALIAÇÃO PSICOSSOCIAL
1 . INFÂ NCIA - (COMPOSIÇÃO FAMILIAR, RELAÇÃO COM OS
PAIS, VIVÊ NCIAS, AC ONTECIMENTOS RELEVANTES)
78
3 . VIDA ADULTA - (ROTINA DIÁ RIA, SITUAÇÃO CONJUGAL,
RELAÇ ÕES COM PARCEIROS, CONTATO COM FILHOS, VI
VÊ NCIAS, ORGANIZAÇÃO DO LAR, EXPECTATIVAS DE VIDA)
IDENTIFICAÇÃO:
NOME ...................................................................................N°............ .
IDADE ..... SEXO ....... EST.CIVIL. ............. RELIGIÃO .................... .
DATA INTERNAÇÃO ..... ./..... ./. . . . . .
PSIC ÓLOGO .................................... MÉDICO................................... .
SERVIÇO/DEPTO ......................... DIAG.MÉDICO ........................... .
DATA . . . . ./. . . . ./..... .
2 . SENSO PERCEPÇÃO
) NORMAL ( ) ALUCINAÇÃO OLFATIVA
) ILUSÃO ( ) ALUCINAÇÃO GUSTATIVA
) ALUCINAÇÃO VISUAL ( ) ALUCINAÇÃO TACTIL
( ) ALUCINAÇÃO AUDITIVA ( ) ALUCINAÇÃO CENESTOPÁTICA
79
3. PENSAMENTO
) NORMAL
) DELÍRIO DE INTERPRETAÇÃO
4. LINGUAGEM:
OBS: ...................................................................................................
) NORMAL ( ) AFASIA
) DISLALIA ( ) ECOLALIA
) DISARTRIA ( ) OUTRAS : ............................................................ .
5. MEMÓRIA :
) NORMAL
) DIFICULDADES DE FIXAÇÃO
) HIPOMNÉ SIA
) HIPERMNÉ SIA
80
6. INTELIGÊNCIA/ COGN IÇÃO:
) NORMAL
) ALTERAÇÃO NA INTELIGÊNCIA VERBAL
) ALTERAÇÃO NA INTELIGÊNCIA NÃO VERBAL
) ALTERAÇ ÕES COGNITIVAS ESPECÍ FICAS. QUAL: .............. .
7. CONSCIÊNCIA D O EU :
) NORMAL
) ALTERAÇÃO NO EU F Í SICO
( ) ALTERAÇÀO NO EU PS ÍQUICO
) RUPTURA PSIC Ó TICA
) ALTERAÇÃO NA ORIENTAÇÃO AUTOPSÍ QUICA:
) ESTRANHEZA DE SI MESMO
) DESOR. TEMPO PSICOLÓ GICO
) DESOR. ESPAÇO PSICOLÓ GICO
) ALTERAÇÃO NA ORIENTAÇÃO ALO-PSÍ QUICA:
) ESTRANHEZA DO OUTRO
) DESOR. TEMPO F Í SICO
) DESOR. ESPAÇO F Í SICO
) DESPERSONALIZAÇÃO
8. AFETIVIDADE (HUMOR)
) NORMAL
) DEPRESSÃO ( ) MAIOR ( ) REATIVA
) MANIA ( ) LEVE ( ) MODERADA ( ) AUMENTADA
) LABILIDADE AFETIVA
) AMBIVALÊNCIA AFETIVA
) AMORFISMO AFETIVO
) ANGÚSTIA ( ) DE MORTE ( ) EXISTENCIAL
) ANSIEDADE ( ) REATIVA ( ) NEURÓ TICA
81
9. MOTIVAÇÃO E VOLIÇÃO
) DESEJA E OPERACIONALIZA (Normal)
) DESEJA E NÃO OPERACIONALIZA
) NÃO DESEJA
CULPA ( ) ) ( )
NEGAÇÃO ( ) ( ) ( )
RAIVA ( ) ( ) ( )
HOSTILIDADE ( ) ( ) ( )
FANTASIAS ( ) ) ( )
FANTASIAS M ÓRBIDAS ( ) ( ) ( )
FRUSTRAÇÃO ( ) ( ) ( )
IMPOTÊ NCIA ( ) ) ( )
INSEGURANÇA ( ) ( )
FRACASSO ( )
REGRESSÃO ( ) )
DEPENDÊ NCIA ( ) ( )
CONFORMISMO ( ) ( )
PROJEÇÃO ) ( ) ( )
ISOLAMENTO ( ) ( ) )
DESAMPARO ( ) ( ) ( )
PÂ NICO ( ) ( ) ( )
DESCONFIANÇA ( ) ( ) ( )
DESPESSOALIZAÇÃO ( ( ) ( )
ESPERANÇA ( ) ( ) )
AMBIGUIDADE ( ) ( ) ( )
82
S/ DADOS MODERADA ACENTUADA
HOSPITALISMO + ( ) ( ) ( )
HOSPITALISMO - ( ) ( ) ( )
AGITAÇÃO PSICOMOTORA ( ) ( ) ( )
AGRESSIVIDADE AUTODIRIGIDA ( ( ) ( )
AGRESSIVIDADE ALODIRIGIDA ( ) ( ) ( )
MEDO REAL ( ) ( ) ( )
MEDO FANTASMÁTICO ( ) ( ) ( )
COMPORTAMENTO F ÓBICO ( ) ( ) ( )
SENSAÇÃO DE PUNIÇÃO ( ) ( ) ( )
SENSAÇÃO DE ABANDONO ( ) ( ) ( )
LIMITAÇÃO DE ATIVIDADES ( ) ( ) ( )
PRIVAÇÃO DA LIBERDADE ( ) ( ) ( )
PERDA DA AUTONOMIA ( ) ( ) ( )
CONFLITOS C/ SEXUALIDADE ( ) ( ) ( )
83
1 1 . FOCOS PRINCIPAIS :
12. CONDUTA:
13. SÍ NTESE :
� NÊMETON
ESTUDOS :E PESQUISAS
Sim Não
01. Consciente
02. Contatuante )
03. Orientado ( ) ( )
04. Receptivo ao atendimento ( ) ( )
05. Conhecimento do diagnóstico ( ) ( )
06. Entendimento do diagnóstico ( ( )
07. Conhecimento do tratamento ( ) ( )
08. Entendimento do tratamento ( ) ( )
84
Bom Regular Ruim/Frágil
09. Aderência ao tratamento ( ) ( ) ( )
10. Relação com a doença ( ) ( ) ( )
11. Relação com o tratamento ( ( ) ( )
1 2 . Relação com a hospitalização( ) ( )
85
18. Manifestações psíquicas e comportamentais
S. Memória: Normal ( )
Alt. Fixação ( Alt. Evocação ( )
86
!. 8 . Afetividade: Normal ( ) D epressão ( )
Ansiedade ( Labilidade ( )
Ambivalência ( Amorfismo (
Angústia ( ) Mania ( )
22. Focos:
23. HD:
87