Teoria E Prática Da Pedagogia Social, Da Mediação Intercultural E Da Intervenção Social
Teoria E Prática Da Pedagogia Social, Da Mediação Intercultural E Da Intervenção Social
Teoria E Prática Da Pedagogia Social, Da Mediação Intercultural E Da Intervenção Social
TEORIA E PRÁTICA
DA PEDAGOGIA SOCIAL,
DA MEDIAÇÃO INTERCULTURAL
E DA INTERVENÇÃO SOCIAL
centro de
investigação em
qualidade de vida
Edições Afrontamento .
Título: Teoria e Prática da Pedagogia Social, da Mediação Intercultural e da Intervenção Social
Organizadores: Ricardo Vieira, Victória Pérez de Guzmán, José Carlos Marques, Pedro Silva,
Ana Maria Vieira, Cristóvão Margarido, Rui Matos e Rui Santos
© 2023, Organizadores e Edições Afrontamento
Revisão: Ana Arqueiro
Capa: Edições Afrontamento / Departamento gráfico
Edição: Edições Afrontamento, Lda.
Rua de Santa Catarina, 895, 2.° D.° – 4000-455 – Porto
www.edicoesafrontamento.pt / [email protected]
Colecção: Textos / 197
N.° edição: 2212
ISBN: 978-972-36-2029-0
Depósito legal: 523577/23
Impressão e acabamento: Rainho & Neves, Lda. / Santa Maria da Feira
[email protected]
Distribuição: Companhia das Artes – Livros e Distribuição, Lda.
[email protected]
Setembro de 2023
Este trabalho foi financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a
Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto «UIDB/04647/2020» do CICS.NOVA – Centro Interdiscipli-
nar de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa.
CAPÍTULO 1
EPISTEMOLOGIA, MEDIAÇÃO INTERCULTURAL
E PEDAGOGIA SOCIAL
Introdução
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Teoria e prática da pedagogia social, da mediação intercultural e da intervenção social
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Epistemologia, mediação intercultural e pedagogia social
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mais do que procurar minorar tensões existentes entre indivíduos ou grupos, tra-
ta-se de promover relações interpessoais positivas, impulsionadoras de actividade,
de criatividade e de solidariedade. . . . Indissociável do sentido transformador evi-
denciado anteriormente, a mediação pedagógica é necessariamente optimista e
ambiciosa. Nessa medida, ela demarca-se das práticas de simples assistência ou
ajuda humanitária. (p. 72)
Por outro lado, como vimos, quando se fala de mediação, surge, tanto nos
discursos como nos manuais, o grande dogma da neutralidade. A ideia de que
é possível o profissional social ser neutro. Contudo, a única forma de ser neutro
é estar morto, como nos lembra Torremorel (2008). A necessária empatia que
o mediador intercultural tem de desenvolver com as partes envolvidas,
enquanto interventor social, não lhe permite a neutralidade axiológica. Rela-
tivamente a esta questão da neutralidade, que é um dos aspetos mais polémicos
da mediação, fomos assistindo, mais recentemente, à convocação do conceito
de imparcialidade, em vez do de neutralidade, embora alguns autores conti-
nuem a considerar tal atitude como uma abstração. Há, ainda, autores que,
em vez de falarem em imparcialidade – não tomar partido por ninguém –,
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ou seja, tomar partido por todos. Pensamos que esta ideia é especialmente estimu-
lante, uma vez que fez evoluir um debate que estancou no ponto de saber se é, ou
não, possível ser neutro e imparcial, quando é bem evidente que “os mediadores
desempenham, inevitavelmente, um papel influente no desenrolar do conflito”
(Folger e Jones, 1997: 305).
O conceito de multiparcialidade evoca, simultaneamente, independência e
empatia. O mediador, pessoa independente em relação aos actores do conflito e ao
resultado do mesmo, pode adoptar atitude empáticas – já não neutrais – constru-
toras de confiança, incorporando uma carga de sinal positivo no desenvolvimento
do processo mediado. Segundo esta óptica, actuar como se fôssemos neutros seria
bastante pobre. (Torremorell, 2008, p. 24)
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situação conflituosa para facilitar uma tomada de decisões conjunta liderada pelos
protagonistas. (p. 84)
como uma tentativa de trabalhar com o outro e não contra o outro, procurando
uma via pacífica para enfrentar os conflitos num ambiente de crescimento, acei-
tação, aprendizagem e respeito mútuo. . . . A mediação, além do mais, procura
equidade e compromisso informado superando a violência, e a exclusão é inte-
grada num amplo movimento personalizador de coesão social. (Torremorell,
2008, p. 85)
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Em busca de conclusões
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não pode tomar a parte da cultura hegemónica sob pena de estar a desenvolver
um assimilacionismo disfarçado de neutralidade. Como foi referido, a auto-
nomização, o empoderamento e a ‘advocacia’ dos desfavorecidos implicam
um mediador intercultural que se demarque da imparcialidade, mas também
das simples práticas de assistencialismo e de ajuda humanitária. A Mediação
Intercultural, como prática da Pedagogia Social, posiciona-se numa perspetiva
preventiva, educadora, construtora de terceiros lugares e de interculturalidade,
em busca da transformação das relações sociais desiguais.
Depois de distinguirmos a mediação clássica, assente na resolução de con-
flitos de cariz interindividual, nascida na Escola de Negócios da Universidade
de Harvard, nos Estados Unidos da América, apresentámos a Mediação Inter-
cultural não só como uma prática de negociação de conflitos em grupos e
sociedades multiculturais, mas, também, como paradigma de intervenção
socioeducativa, preventiva, transformadora, reabilitadora, emancipadora e
capacitadora. Como uma pedagogia social ou mesmo uma antropologia apli-
cada na busca da intercompreensão e da hermenêutica multitópica para a
construção de terceiras culturas, fundamentais à construção da intercultura-
lidade e da convivência entre diferentes.
Sublinhámos a necessidade de os educadores, em geral, o educador social,
em particular, e todos os interventores sociais agirem de forma mediadora e
empoderadora, pondo em prática Pedagogias Sociais apoiadas na Mediação
Intercultural (Caride, 2016) e seus pilares fundamentais, de que a escuta ativa
é fundamento, mas em que a neutralidade/imparcialidade/equidistância
precisa de ser questionada por forma a que a intervenção social seja socioe-
ducativa, feita com o outro, a partir da sua lógica e cultura local, o que implica
tomar a parte e é exatamente o oposto do distanciamento e da pretensa, mas
impossível, neutralidade.
A Mediação Intercultural, como prática da Pedagogia Social, tal como é
aqui assumida, posiciona-se numa perspetiva preventiva, educadora, cons-
trutora de terceiros lugares e de terceiras culturas, mas, também, de transfor-
mação das relações sociais com vista à construção de sociedades e de selves
mais interculturais (Vieira, 2014).
Referências bibliográficas
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