Dermatite Atópica Canina - Relato de Caso: Resumo
Dermatite Atópica Canina - Relato de Caso: Resumo
Dermatite Atópica Canina - Relato de Caso: Resumo
1 Graduando de Medicina Veterinária do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos - UNIfeob.
2 Professora Ms. da Faculdade de Medicina Veterinária do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos
– UNIfeob, nas disciplinas de clínica médica de pequenos animais, semiologia veterinária e medicina preventiva - São
João da Boa Vista - SP.
RESUMO: A dermatite atópica canina é uma doença de pele de origem genética que ocorre
em resposta a uma reação de hipersensibilidade à antígenos do ambiente, caracterizada por
prurido intenso e lesões auto-induzidas e avermelhadas na pele, podendo levar a infecções
secundárias. Algumas raças são mais acometidas; o diagnóstico na maioria das vezes é
presuntivo e pode ser fechado por meio de testes alérgicos específicos. A terapia pode se
prolongar por toda vida do animal. Um animal macho da espécie canina da raça labrador com
cinco anos de idade deu entrada no hospital veterinário devido a afecção cutânea grave onde
foram realizados exame físico,raspado de pele e lâmpada de wood e foi solicitado cultura de
pelame afim de se chegar a um diagnostico conclusivo. Entretanto, apenas a cultura do pelame
foi positiva para dermatófito.Foi realizado o tratamento para dermatofitose com o xampu a base
de: clorexidine 2%, miconazol 3%,troca de ração devido a suspeita de hipersensibilidade
alimentar, uso de ectoparasiticidas pela suspeita de Dermatite Alérgica a Picada de Pulga e o
tratamento com antibiótico (cefalexina) pela presença de infecção bacteriana secundária.
Devida a persistência da dermatopatia foi diagnosticada como atópica por exclusão de outras
suspeitas.
INTRODUÇÃO
A atopia canina é uma doença de origem genética, na qual o cão se torna alérgico a antígenos
ambientais, ocorrendo uma reação imunológica mediada pela imunoglobulina E (Ig E)
(HALLIWELL, 2006; DEBOER, 2004). Sendo a segunda afecção cutânea mais diagnosticada
em cães, apresenta uma casuística inferior apenas à dermatite alérgica à picada de pulga
(BIRCHARD e SHERDING, 2003; PRÉLAUD, 2005 apud VIEIRA, 2008; GRIFFIN, 2001 apud
ZANON et al., 2008). A ocorrência desta enfermidade é estimada em 10% da população canina
(HILLIER E GRIFFIN, 2001 apud VIEIRA, 2008), podendo, também, acometer gatos, entretanto
com menor frequência que cães (BIRCHARD, e SHERDING, 2003). Segundo Silva et al.,
(2005) a sensibilização dos animais atópicos por ácaros de poeira ocorre nos primeiros anos
de vida, sendo necessário alguns cuidados ambientais contínuos específicos, como utilização
de capas, protetores de colchões e travesseiros.
Segundo Birchard e Sherding (2003) esta doença afeta cães de ambos os sexos, entretanto a
cadela apresenta uma incidência ligeiramente maior que os cães machos. Existem algumas
raças que apresentam predisposição genética para esta afecção, como por exemplo, Shar Pei,
West Highland White Terrier, Scoth Terrier, Lhasa Apso, Shih Tzu, Fox Terrier de Pêlo Duro,
Dálmata, Pug, Setter Irlandês, Boston Terrier, Golden Retriever, Boxer, Setter Inglês, Labrador,
Schnauzer Miniatura, Pastor Belga e Buldog Inglês. Esta enfermidade pode acometer outras
raças, porem com menor frequência (GRIFFIN, 2001)
O objetivo deste trabalho é descrever um caso de Dermatite Atópica Canina diagnosticado no
Hospital Veterinário Octavio Bastos em São João da Boa Vista – SP.
Os sinais clínicos começam a aparecer entre seis meses a sete anos, mas em 70% dos casos
o cão desenvolve os sinais entre um e três anos de idade (BIRCHARD e SHERDING, 2003.
Porém, existem cães que podem apresentar atopia antes dos seis meses de idade como é o
caso das raças Shar Peis, Akitas e Golden Retrivers. (ZANON et al, 2008). A doença se inicia,
geralmente, como uma dermatopatia sazonal pruriginosa, com sinais mais intensos no verão e
Anais do 12º Encontro Acadêmico de Produção Científica do Curso de Medicina Veterinária - ENAVET –
UNIfeob – São João da Boa Vista, SP, 2011, ISSN 1982-0151
outono, entretanto o problema pode se tornar não sazonal (BIRCHARD, 2003). No exame
físico, 60 a 70% dos cães apresentam lesões cutâneas visíveis como eritema, pápulas,
descamação, alopecia, hiperpigmentação e liquenificação (BIRCHARD, 2003). O sinal clínico
mais característico é o prurido, que leva o animal a se esfregar, coçar e lamber-se. As áreas de
prurido mais comuns são focinho, orelhas, extremidades e/ou ventre, podendo também
apresentar uma combinação destas áreas (GRIFFIN & DEBOER, 2001 apud VIEIRA, 2008;
BIRCHARD e SHERDING, 2003). Esse prurido intenso leva a diversas lesões como alopecia,
edema, liquenificação, hiperpigmentação das regiões perioculares, perilabiais, interdigitais,
ventrais, axilares e antebraquiais do corpo. Este quadro pode ainda ser acompanhado de
outros sinais como otite externa, piodermite e dermatite seborreica (BIRCHARD e SHERDING,
2003).
Além dos sinais clínicos, existem testes específicos para diagnosticar a atopia que são o Teste
Intradérmico (TAID), Teste Radioalergoals (TRAS) e Ensaio Imunoabsorvente Ligado a Enzima
(ELISA) (BIRCHARD e SHERDING, 2003).
Segundo Prélaud et al., (1998) apud Vieira (2008) existem alguns critérios a serem
considerados para o diagnostico desta doença; estes são divididos em primários e
secundários, sendo que deve se ter presente pelo menos três características primarias e três
secundarias para o diagnostico, à saber:
- Primária: prurido com envolvimento facial e/ou digital; liquenificação da zona flexora
do tarso e/ou da zona extensora do carpo; dermatite crônica ou recidivante; história individual
ou familiar de atopia e/ou predisposição rácial.
- Secundária: inicio dos sintomas antes dos três anos de idade; eritema facial e queilite;
conjuntivite bacteriana; piodermite superficial estafilocócica; hiperhidrose (secreção sudorípara
excessiva); teste intradérmico positivo a alergenos ambientais; níveis elevados de IgE
alérgeno-específica; níveis elevados de IgG alérgeno-específica.
Normalmente o diagnostico definitivo da dermatite atópica não ocorre na primeira consulta, leva
em média dois meses para ser dado (SILVA, 2005). Além disso, pode ser confundida com
outros problemas de pele como alergia alimentar, alergia a picada de pulga (DAPP), piodermite
superficial, sarna sarcóptica, sarna notoédrica (em gatos), dermatite por malassezia,
demodiciose, dermatofitose, hipersensibilidade a parasitas intestinais (raro) entre outras, sendo
necessário fazer o diagnostico diferencial para estas doenças (BIRCHARD e SHERDING,
2003).
TRATAMENTO
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A suplementação com ácidos graxos essenciais e anti-histamínicos ajuda na redução do
prurido, além de permitir a diminuição da dose de corticóides (BIRCHARD e SHERGING,
2003).
RELATO DE CASO
Um animal da espécie canina, macho, 5 anos de idade, da raça labrador, com 46kg de peso
corporal, foi encaminhado ao Hospital Veterinário “Dr. Vicente Borelli”, pertencente ao curso de
Medicina Veterinária do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos (HOVET),
localizado em São João da Boa Vista, São Paulo, devido a um problema de pele.
A proprietária relatou que o animal apresentava problemas de pele há cerca de um ano, tendo
sido tratado com cefalexina, glicocorticóides e vitaminas E, A e B. Entretanto, após este
tratamento o animal apresentou pouca melhora.
As lesões se iniciaram há nove meses, começando com uma pequena lesão na base da cauda
que depois se espalhou pelo corpo, e há cinco meses havia apresentado otite. Ele apresentava
prurido intenso e generalizado, mas principalmente entre os coxins; segundo o proprietário o
cão virava as patas para coçar a face palmar, e parava de comer pra se coçar. O animal vivia
dentro de casa, saía apenas para caminhar uma vez ao dia, convivia com outro cão que não
apresentava nenhuma sintomatologia; dormia em chão coberto por um edredom, higienizado
com álcool perfumado e produto de limpeza de uso doméstico (Veja®); alimentava-se de ração,
carne crua, cenoura e biscoito para cães. Devido a dermatopatia, a vacina V10 estava
atrasada, mas a antirrábica estava em dia. O animal havia sido castrado a pouco mais de dois
anos e o proprietário negava presença de ectoparasitas, dando banhos mensais no cão com
xampu contra pulgas.
No exame físico o animal estava agitado e ofegante, apresentava a pelagem espessa com
prurido intenso, alopecia parcial generalizada, alopecia periocular, caspas, crostas e prepúcio
edemaciado. Teve-se como suspeita clínica dermatopatia atópica canina, DAPP,
hipersensibilidade alimentar, dermatofitose (Microsporum, Trichophyton entre outros) e
dermatopatias causadas por ácaros (escabiose e demodiciose).
Os exames complementares realizados foram: raspado de pele para a pesquisa de ácaro,
lâmpada de Wood e coleta de pelame para cultura e pesquisa de dermatófitos. O raspado de
pele foi negativo para ácaros, e lâmpada de Wood negativa, mantendo a suspeita clínica de
dermatopatia atopica canina, DAPP, hipersensibilidade alimentar e dermatofitose.
O tratamento prescrito para o animal foi cefalexina 2mg/kg a cada 12 horas durante 30 dias
(para combater infecções bacterianas secundárias); prednisolona 20mg/kg (Dermacorten®) a
cada 24 horas durante 10 dias, ranitidina 1,6 mg/kg a cada 12 horas durante 30 dias; e ácidos
graxos essenciais (Allerdog plus ES®) duas cápsulas a cada 24 horas durante 30 dias, via oral.
Para uso tópico foi utilizado o fipronil (Frontiline plus® pipeta) a cada 20 dias; xampu a base de:
clorexidine 3%,aloevera 2%, sulfeto de selênio 1%, Hidroviton 1% e xampu não iônico qsp
(500ml) dar banho a cada sete dias. E para uso ambiental foi receitado produto à base de
deltametrina (Butox®) na diluição de 1 ml em 4 litros de água.
No retorno após 34 dias, o animal apresentou melhora nas áreas de lesão, diminuição no
prurido (ele ainda virava as patas para coçar, mas com menos freqüência, e já não para de
comer para se coçar) e ganho de peso (1,2 kg). A proprietária relatou que havia retirado os
produtos de limpeza e o edredom, e trocado a ração para K&S® frango e cereais. A cultura de
pelame colhido na primeira consulta deu positivo para dermatófito. Devido a isso, foi receitado
xampu a base de: clorexidine 2%, Miconazol 3% além de manter os medicamentos receitados
anteriormente.
No retorno seguinte, após 55 dias, a proprietária relatou que trocou a ração para Royal Canin®,
e que houve uma grande melhora no quadro de prurido, mas o animal ainda continuava
coçando um pouco ao redor dos olhos. Os medicamentos haviam terminado e ela continuava
apenas com o banho uma vez por semana. Ainda havia áreas de alopecia nos membros, na
região ventral e na base da cauda, e presença de crostas principalmente na ponta da cauda.
Durante o exame clínico foi realizado um exame oftalmológico e diagnosticado uma conjuntivite
devido à coceira ao redor dos olhos. Foi receitado novamente Allerdog plus ES ®, duas
cápsulas a cada 24 horas durante 30 dias; e para o uso oftalmológico: clorafenicol colírio, uma
gota três vezes ao dia durante sete dias.
Em um terceiro retorno, após 83 dias, a proprietária relatava melhora no quadro tanto da pele,
quanto do problema oftalmológico. Ela continuava usando o xampu e medicamentos receitados
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na consulta anterior. Foi feita nova cultura de pelame com resultado negativo para fungos. Foi
receitado para uso tópico Eritrex® creme nos locais de lesão uma vez ao dia durante trinta dias
e retornar se necessário.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta dermatopatia foi encontrada em um animal da espécie canina, da raça labrador, que de
acordo com Bichard e Sherding (2003); Prélaud (2005) apud Vieira (2008); Griffin (2001) apud
Zanon et al. (2008) é a espécie mais acometida, e ainda segundo (1) é uma das raças
predispostas a esta afecção.
O principal e mais característico sintoma da atopia canina é o prurido, que leva o animal a se
esfregar, coçar e lamber-se, levando a diversas lesões (BICHARD e SHERDING, 2003), como
encontrado neste relato, onde o animal apresentava lesões generalizadas por
autotraumatismo. Segundo Prélaud et al. (1998) apud Vieira (2008) pelo menos três
características primárias e três secundárias devem estar presentes para o diagnostico desta
doença; no caso relatado, o animal apresentou prurido intenso, envolvimento facial e digital,
liquenificação da zona flexora do tarso e da zona extensora do carpo, dermatite crônica e
recidivante, eritema facial e piodermite superficial, dando destaque ao envolvimento de grande
prurido na região interdigital confirmando a afirmação dos autores.
Segundo Silva (2005) esta doença não é diagnosticada na primeira consulta, podendo ser
confundida com outros problemas de pele, conforme citado anteriormente. Neste caso, devido
aos exames complementares negativos (raspado de pele e lâmpada de wood) e à persistente
dermatopatia, mesmo após o tratamento da infecção secundária por fungo, troca de
alimentação, e o uso de ectoparasiticidas, as suspeitas de DAPP, hipersensibilidade alimentar,
sarnas e dermatofitose foram eliminadas; além disso houve boa resposta à terapia instituída,
levando ao diagnóstico clinico de atopia canina.
Embora sejam necessários alguns testes alérgicos específicos para se obter um diagnóstico
preciso, as evidências clínicas e a exclusão de algumas dermatopatias por meio dos testes de
triagem da pele são ferramentas importantes nos casos de atopia canina.
REFERÊNCIAS
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